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Ana em Veneza

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afligidos de melancolia, espetÉculos violentos, acidentes, assassinatos”<br />

(STAROBINSKI, 1989, p. 122), anunciando que a modernidade nÜo sâ<br />

representa uma mÉquina de promessas futuras e de inovaÄÜo, mas<br />

tambÇm leva consigo a melancolia. A modernidade Ç o t<strong>em</strong>po que tudo<br />

devora e nada perdoa, n<strong>em</strong> mesmo seus filhos. De acordo com <strong>Ana</strong><br />

Luiza Andrade: “Sobretudo, a pintura de Goya anteciparia a passag<strong>em</strong><br />

do pensamento clÉssico ao moderno, o ser humano entre o seu ser finito<br />

e a suspensÜo do devir, coincidente ao impasse foucaultiano do hom<strong>em</strong><br />

moderno e seu duplo (...)” (ANDRADE, 1998, p. 148).<br />

Nesse contexto Ç possàvel pensar o personag<strong>em</strong> Alberto<br />

Nepomuceno como um melancâlico, um saturnino. SÜo vÉrios os<br />

indàcios que comprovam tal assertiva, segundo uma descriÄÜo do<br />

narrador: “Alberto Nepomuceno voltou-se, agora com distraàda<br />

melancolia, para o enorme espelho belga que preenchia toda a parede<br />

diante dele” (TREVISAN, 1998, p. 17). O protagonista se autodenomina<br />

como um trÉgico e afirma:<br />

Sou mesmo um trÉgico. OuÄa tudo o que eu<br />

compus, Ç tÜo triste! Foi o melhor que pude dar<br />

de mim, a tristeza. AtÇ as minhas Valsas<br />

humorásticas, onde brinco com o Danâbio azul e<br />

Chopin, sÜo antes de tudo filhas da nostalgia.<br />

Mas se quiser um ex<strong>em</strong>plo acabado, basta ouvir a<br />

minha Sinfonia para saber como a tristeza estÉ<br />

presente <strong>em</strong> mim. E a angÖstia, o medo a<br />

incerteza. A Sinfonia exprime mais do que tudo o<br />

que fiz. è a dor de buscar definiÄÅes impossàveis.<br />

Porque dâi. Cada gesto, cada mÖsculo, cada<br />

segundo. Tudo dâi. (TREVISAN, 1998, p. 30)<br />

Essa busca do protagonista difàcil de ser definida revela-se como<br />

mais um traÄo do quadro da melancolia: “Tenho a impressÜo de que nÜo<br />

consegui definir um projeto claro” (TREVISAN, 1998, p.43). A<br />

indefiniÄÜo do objeto pode ser chamada tambÇm de indefiniÄÜo da<br />

Coisa. A Coisa Ç segundo Julia Kristeva nÜo o objeto, mas sim o que<br />

Freud chamava de Coisa com letra maiÖscula e diz: “O depressivo<br />

narcàsico estÉ de luto, nÜo de um Objeto, mas da Coisa” (KRISTEVA,<br />

1989, p.19). Susana Kampff Lages, <strong>em</strong> seu livro Walter Benjamin:<br />

traduÖÇo e melancolia, acrescenta ç noÄÜo de objeto e diz: “o Önico<br />

modo possàvel de lidar com ele Ç por meio de uma incorporaÄÜo<br />

canibalàstica, com a qual o melancâlico procura desmentir a realidade do

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