Ana em Veneza
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nesse ànterim que JoÜo SilvÇrio Trevisan insere Alberto Nepomuceno,<br />
<strong>em</strong> busca de seu espaÄo na histâria da mÖsica brasileira. Ele nos leva ç<br />
reflexÜo atravÇs de sua singularidade, nos leva- ç porta do pensamento<br />
atravÇs de caminhos sinuosos.<br />
Pod<strong>em</strong>os relacionar a singularidade e o sacrifàcio ç morte como<br />
sâ ela sendo singular e Önica ao nÜo utilizar artifàcios, particulares ou<br />
universais. Ela prâpria Ç o que filâsofo francÑs Gilles Deleuze entende<br />
por repetiÄÜo, nÜo representa uma generalidade. A definiÄÜo de<br />
repetiÄÜo para Deleuze Ç o contrÉrio daquilo que entend<strong>em</strong>os por<br />
“repetiÄÜo” e daquilo que se compreende ordinariamente por “repetiÄÜo”<br />
sob a concepÄÜo da generalizaÄÜo e generalidade. A repetiÄÜo nÜo estÉ<br />
ligada, para Deleuze, ç reproduÄÜo do mesmo e do s<strong>em</strong>elhante, mas ç<br />
produÄÜo da singularidade e do diferente. Para isso nos val<strong>em</strong>os de<br />
Deleuze a respeito da ideia de singularidade <strong>em</strong> seu livro DiferenÖa e<br />
repetiÖÇo:<br />
Nossa vida moderna Ç tal que, quando nos<br />
encontramos diante das repetiÄÅes mais<br />
mecánicas, mais estereotipadas, fora de nâs e <strong>em</strong><br />
nâs, nÜo cessamos de extrair delas pequenas<br />
diferenÄas (...) a tarefa da vida Ç fazer que<br />
coexistam todas as repetiÄÅes num espaÄo <strong>em</strong> que<br />
se distribui a diferenÄa. (DELEZE, 2006, p.16)<br />
è na diferenÄa que pod<strong>em</strong>os encontrar o singular. Estendendo o<br />
pensamento sobre a repetiÄÜo deleuziana <strong>em</strong> seu livro LÉgica do sentido<br />
t<strong>em</strong>os: “Se a repetiÄÜo existe, ela exprime, ao mesmo t<strong>em</strong>po, uma<br />
singularidade contra o geral, uma universalidade contra o particular, um<br />
notÉvel contra o ordinÉrio, uma instantaneidade contra a variaÄÜo, uma<br />
eternidade contra a permanÑncia (...) a repetiÄÜo Ç a transgressÜo”<br />
(DELEUZE, 2006, p.21). A generalidade pressupÅe uma substituiÄÜo de<br />
termos. Ao contrÉrio, a repetiÄÜo deleuziana representa singularidade,<br />
<strong>em</strong> que impossibilita essa troca de termos. Ela Ç insubstituàvel, assim<br />
como Alberto Nepomuceno.<br />
O posicionamento de JoÜo SilvÇrio Trevisan nos impÅe atravÇs de<br />
suas reflexÅes sobre a singularidade do mÖsico Alberto Nepomuceno<br />
uma virada transgressora s<strong>em</strong>elhante ao que Deleuze propÅe <strong>em</strong> seu<br />
comum e o desejo (e a angÖstia) do ser-comum que os fundamentalismos instrumentalizam<br />
crescent<strong>em</strong>ente.