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Actriz de cristal - Fonoteca Municipal de Lisboa

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Música<br />

Mark Lanegan<br />

sabia quem<br />

ela era nos<br />

Belle &<br />

Sebastian,<br />

Isobel<br />

Campbell não<br />

o conhecia dos<br />

Screaming<br />

Trees: confiou<br />

em quem lhe<br />

disse que<br />

aquela era a<br />

voz americana<br />

<strong>de</strong> que ela<br />

precisava<br />

Duos ele e ela<br />

Ao longo da história da música, os duos têm sido espaço<br />

<strong>de</strong> encenação, drama em representação.<br />

Os duos têm um lugar respeitável<br />

na história da música popular.<br />

Porque a Humanida<strong>de</strong> ainda<br />

é a Humanida<strong>de</strong>, complexa e<br />

contraditória, complementar<br />

e maravilhosa, os duetos que<br />

juntam um homem e uma mulher<br />

servem como espelho refl ector<br />

<strong>de</strong> relações banais, amplifi cando<br />

<strong>de</strong>sgostos paralisantes e eufóricas<br />

palpitações.<br />

Por mais impressionante que seja<br />

a fusão das vozes <strong>de</strong> Art Garfunkel<br />

e Paul Simon, por mais que os<br />

Everly Brothers nos maravilhassem<br />

com as suas <strong>cristal</strong>inas harmonias<br />

vocais, nunca seria, a uns e outros,<br />

possível atingir o pathos e a tensão<br />

sensual <strong>de</strong> Serge Gainsbourg e<br />

Jane Birkin em “Je t’aime (moi<br />

non plus)”, o idílio apaixonado<br />

<strong>de</strong> Johnny e June Cash em<br />

“Jackson” ou o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sugestão<br />

do erotismo psicadélico <strong>de</strong> “Some<br />

velvet morning”, cantado por Lee<br />

Hazlewood e Nancy Sinatra.<br />

O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sugestão do par<br />

torna-se ainda mais evi<strong>de</strong>nte se<br />

excluirmos da equação encontros<br />

ocasionais, como o <strong>de</strong> Nick Cave<br />

com Kylie Minogue em “Where<br />

the wild roses grow” ou o <strong>de</strong><br />

Freddie Mercury e Montserrat<br />

Caballé no épico “Barcelona”. Por<br />

mais impacto que venham a ter er<br />

na memória colectiva, existem m<br />

ali, ligados a uma música e a<br />

Os duetos que<br />

juntam um homem<br />

e uma mulher servem m<br />

como espelho<br />

reflector <strong>de</strong> relações<br />

banais<br />

uma imagem específi ca, mas não<br />

fora <strong>de</strong>las. Tornam mais difícil<br />

efabular. E efabular é gran<strong>de</strong><br />

parte do que faz da pop pop. Não<br />

é preciso ser tão radical quanto<br />

Lee Hazlewood que, <strong>de</strong>scontente<br />

com os primeiros takes <strong>de</strong> “These<br />

boots are ma<strong>de</strong> for walking”, terá<br />

dito a Nancy Sinatra para “cantar<br />

como uma miúda <strong>de</strong> 16 que fo<strong>de</strong><br />

camionistas” – Nancy respon<strong>de</strong>u<br />

“consigo fazer isso”. A verda<strong>de</strong> é<br />

que, das inocências adolescentes<br />

<strong>de</strong> Sonny & Cher (“I got you babe”<br />

e o mundo é bonito assim), a Ike<br />

& Tina Turner transformando<br />

uma carta <strong>de</strong> amor, “I’ve been<br />

loving you too long”, original <strong>de</strong><br />

Otis Redding, em impressionante<br />

explosão hormonal, um duo é um<br />

espaço <strong>de</strong> encenação, um drama em<br />

representação.<br />

Nesse sentido, Isobel Campbell<br />

e Mark Lanegan são perfeitos<br />

em “Hawk”. Ela da voz frágil e<br />

discreta, ele do tom grave que se<br />

impõe; ela soprando harmonias<br />

leves como o ar, ele chegando até<br />

nós com o peso <strong>de</strong> uma vida <strong>de</strong><br />

excessos e sabedoria. Ela do sorriso o<br />

beatífi co, sorrindo ao mundo, ele<br />

da expressão rígida, <strong>de</strong>sconfi ada.<br />

Ouvi-los os dois, assim reunidos e<br />

assim contrastados, transforma as<br />

canções num espaço <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong> e<br />

a que ace<strong>de</strong>mos – simulado, claro<br />

está, mas isso, como sabemos, faz<br />

parte do jogo. M.L.<br />

Casos<br />

exemplares<br />

do par<br />

na história<br />

da pop:<br />

a inocência<br />

adolescente <strong>de</strong><br />

Sonny & Cher,<br />

a fórmula indie<br />

dos<br />

She & Him,<br />

o erotismo<br />

psicadélico <strong>de</strong><br />

Nancy Sinatra<br />

e Lee<br />

Hazlewood,<br />

a tensão sexual<br />

<strong>de</strong> Serge<br />

Gainsbourg<br />

e Jane<br />

Birkin<br />

e a explosão<br />

hormonal <strong>de</strong><br />

Ike & Tina<br />

Turner<br />

© Kai von Rabenau<br />

teatro<br />

Patrícia Portela<br />

A Colecção Privada<br />

<strong>de</strong> Acácio Nobre<br />

10 a 18 Setembro (excepto dia 13)<br />

terça a sábado 21h30 | domingo 19h00 | 12€ /

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