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Actriz de cristal - Fonoteca Municipal de Lisboa

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Neste ensaio sobre<br />

o amor, a erudição<br />

habitual em Pascal<br />

Bruckner resvala<br />

para o senso comum<br />

ar<strong>de</strong>ntes, que magoámos, que mal<br />

amámos, um enorme<br />

reconhecimento; eles fizeram <strong>de</strong> nós<br />

o que nós somos, e um pouco da sua<br />

essência continua entranhada na<br />

nossa carne”.<br />

Outra distinção entre o antigo e o<br />

novo regime da vida amorosa: on<strong>de</strong><br />

antes havia códigos e valores, agora<br />

impera uma cartografia <strong>de</strong><br />

pormenores: “Um pequeno senão<br />

po<strong>de</strong> virar-se contra nós ou então<br />

jogar a nosso favor, a ida<strong>de</strong>, a<br />

estatura, o aspecto, o vestuário, a voz<br />

(...). Quem não viveu essas<br />

reviravoltas instantâneas em que se<br />

passa do gostar ao não gostar só por<br />

causa <strong>de</strong> um pormenor, <strong>de</strong> uma<br />

careta, <strong>de</strong> um jeito <strong>de</strong> rir?”<br />

Nesta nova economia, em que o<br />

negócio amoroso é mais liberal, os<br />

feios também participam, e muito<br />

activamente. O preço é escutarem as<br />

confidências dos amantes, e dos seus<br />

<strong>de</strong>sgostos, abandonados que foram<br />

por quem era mais bonito. Ou talvez<br />

não: “Encontramos (...) na Internet<br />

‘sites’ <strong>de</strong> apreciadores <strong>de</strong> obesos e <strong>de</strong><br />

velhos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> provecta,<br />

gerontófilos inveterados que<br />

<strong>de</strong>nunciam o seu apetite pelos corpos<br />

<strong>de</strong>libitados ou envelhecidos.<br />

Extraordinária tendência que não<br />

<strong>de</strong>ixa ninguém <strong>de</strong> fora!”<br />

Pela mostra <strong>de</strong> citações, o leitor já<br />

terá notado que a confusão <strong>de</strong><br />

Bruckner não é menor do que a dos<br />

amantes. Bruckner, que faz parte <strong>de</strong><br />

uma geração <strong>de</strong> intelectuais com<br />

uma espantosa erudição, escreve<br />

sobre tanta coisa… até <strong>de</strong>rrapar no<br />

senso comum e estatelar-se no nãoimporta-o-quê.<br />

Há elegância na<br />

flui<strong>de</strong>z, no discorrer, as citações são<br />

abundantes e as anedotas ilustrativas<br />

generosas, mas o discurso é circular,<br />

contraditório, e a estrutura<br />

inexistente (apesar da aparente<br />

arrumação).<br />

A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise <strong>de</strong><br />

Bruckner é semelhante à <strong>de</strong> alguém<br />

que observa os estilhaços <strong>de</strong> um<br />

vidro partido e em todos vê reflexos<br />

da realida<strong>de</strong>. Tudo acaba por ficar<br />

resumido a generalida<strong>de</strong>s. A uma<br />

graciosa conversa <strong>de</strong> “bistrot”.<br />

Nota sobre o tradutor:<br />

provavelmente até faria boa figura,<br />

não se <strong>de</strong>sse o caso <strong>de</strong> o trabalho <strong>de</strong><br />

revisão ter sido esquecido.<br />

OLIVIER HANIGAN<br />

Isabel<br />

Coutinho<br />

Ciberescritas<br />

É assim<br />

Vale a pena navegar no<br />

“site” das Odyssey por<br />

causa das informações<br />

úteis sobre os livros<br />

Edições Odyssey<br />

http://www.<br />

odysseyeditions.<br />

com/<br />

The Wylie Agency<br />

http://www.<br />

wylieagency.<br />

com/<br />

Os e-books do senhor<br />

Wylie<br />

que eles se apresentam: “As edições<br />

Odyssey são uma empresa <strong>de</strong> publicação <strong>de</strong><br />

e-books <strong>de</strong>stinada a levar clássicos <strong>de</strong> fi cção<br />

e <strong>de</strong> não-fi cção para os leitores a uma escala<br />

global.”<br />

Quando chegamos agora ao “site” das Odyssey, somos<br />

informados <strong>de</strong> que os seus autores disponíveis são Saul<br />

Bellow, Jorge Luis Borges, William S. Burroughs, Louise<br />

Erdrich, Norman Mailer, Oliver Sacks e Evelyn Waugh.<br />

Há um mês não era assim.<br />

Tudo começou quando Andrew Wylie, o mais famoso<br />

agente literário norte-americano, que representa cerca<br />

<strong>de</strong> 700 autores, abriu um “site” on<strong>de</strong> disponibilizou<br />

20 títulos, antigos, <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> catálogo, <strong>de</strong> alguns dos<br />

mais importantes autores que agencia. Estavam lá obras<br />

como “O Complexo <strong>de</strong> Portnoy”, <strong>de</strong> Philip Roth, “A<br />

Cida<strong>de</strong>la Branca”, <strong>de</strong> Orhan Pamuk, “Filhos da Meia-<br />

Noite”, <strong>de</strong> Salman Rushdie, “London Fields”, <strong>de</strong> Martin<br />

Amis, a trilogia do Coelho, <strong>de</strong> John Updike, e “Lolita”,<br />

<strong>de</strong> Nabokov.<br />

No “site”, estes livros podiam ser comprados através<br />

<strong>de</strong> um “link” que nos enviava para a loja Kindle da<br />

Amazon. Os eBooks não podiam ser adquiridos em<br />

mais sítio nenhum, nem noutro formato. Andrew Wylie<br />

tinha feito um acordo exclusivo com a empresa norteamericana.<br />

Isso enfureceu muita gente, porque o formato<br />

Kindle só po<strong>de</strong> ser lido em aparelhos comercializados<br />

pela Amazon ou, então, com a ajuda da aplicação <strong>de</strong>sta<br />

empresa para telemóveis como o iPhone e o Blackberry<br />

ou para computadores (PC ou Mac) que tiverem instalado<br />

o programa disponibilizado gratuitamente. As obras<br />

fi cariam à venda exclusivamente na loja Kindle durante<br />

dois anos a 9,99 dólares (o preço normal seria 15) e<br />

assim era excluída a leitura<br />

em qualquer outro aparelho.<br />

Quem não fi cou nada contente<br />

com isto foi a editora norteamericana<br />

Random House.<br />

Enviou à Amazon uma carta a<br />

contestar o direito <strong>de</strong> Andrew<br />

Wylie po<strong>de</strong>r ven<strong>de</strong>r estes<br />

títulos alegando que estavam<br />

sujeitos a contratos activos<br />

com ela. O passo seguinte foi ameaçar Andrew Wylie<br />

consi<strong>de</strong>rando-o um “concorrente directo”: não iriam<br />

fazer nenhum negócio <strong>de</strong> direitos para língua inglesa<br />

com a sua agência até que a questão estivesse resolvida.<br />

Wylie <strong>de</strong>fendia-se dizendo que os contratos dos direitos<br />

<strong>de</strong>stes livros tinham sido assinados antes <strong>de</strong> 2000,<br />

altura em que ainda não havia uma cláusula específi ca<br />

para os direitos digitais. Um mês <strong>de</strong>pois, Andrew Wylie<br />

e o grupo editorial Random House sentaram-se a uma<br />

mesa e chegaram a acordo quanto aos direitos <strong>de</strong><br />

e-books <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> catálogo. O agente literário, e agora<br />

editor, retirou do “site” da Odyssey vários dos e-books<br />

disponíveis. Ficaram só sete livros dos 20 anteriores.<br />

Apesar disso, vale a pena navegar no “site” das Odyssey<br />

por causa das informações úteis sobre os livros que<br />

ven<strong>de</strong>m. Por exemplo, na secção do e-book “The<br />

Adventures of Augie March”, <strong>de</strong> Saul Bellow, é possível<br />

ler um excerto, um texto <strong>de</strong> Philip Roth sobre Bellow e<br />

ainda ver páginas do manuscrito. O mesmo acontece com<br />

outras obras. Estão lá pedaços dos manuscritos <strong>de</strong> Louise<br />

Erdrich, Oliver Sacks e Norman Mailer, entre outros.<br />

isabel.coutinho@publico.pt<br />

(Ciberescritas já é um blogue http://blogs.publico.pt/<br />

ciberescritas)<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

www.fch.ucp.pt<br />

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 33

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