Actriz de cristal - Fonoteca Municipal de Lisboa
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cruzam orquestrações próximas<br />
<strong>de</strong> Lee Hazlewood, memórias <strong>de</strong> velhas<br />
histórias folk, blues-rock <strong>de</strong> electricida<strong>de</strong><br />
exposta e perigo iminente,<br />
po<strong>de</strong> ser visto como a inspirada concretização<br />
do seu fascínio pela música<br />
americana - soa realmente a obra<br />
<strong>de</strong> alguém que tem aquela música a<br />
correr-lhe nas veias.<br />
Em estúdio com os rapazes<br />
Foi uma união curiosa, a <strong>de</strong> Mark Lanegan<br />
a Isobel Campbell. Ela não o<br />
conhecia, e até hoje não ouviu uma<br />
música que fosse dos Screaming Trees<br />
– foi Eugene Kelly, dos Vaselines,<br />
que lhe disse que a voz <strong>de</strong> Lanegan<br />
era i<strong>de</strong>al para algumas das suas canções.<br />
Já ele tinha uma vaga noção <strong>de</strong><br />
quem ela era, mas conhecê-la não era<br />
importante: gostou das canções que<br />
ouviu e, pouco <strong>de</strong>pois, propôs-lhe<br />
que gravassem um álbum.<br />
Lanegan, 45 anos, tem fama <strong>de</strong> ser<br />
homem austero e <strong>de</strong> poucas palavras,<br />
metido consigo mesmo. De Campbell,<br />
34 anos, continua a guardar-se a imagem<br />
<strong>de</strong> rapariga tímida com sorriso<br />
envergonhado. Tendo isto em perspectiva,<br />
não impressiona a reacção<br />
ao primeiro álbum enquanto duo,<br />
“Ballad Of The Broken Seas” (2006).<br />
“A bela e o monstro”, titulou-se mundo<br />
fora, comparando-os a Lee Hazlewood<br />
e Nancy Sinatra e colocando<br />
Isobel no papel da adorável mulher<br />
frágil e Lanegan no <strong>de</strong> homem duro<br />
envolto em escuridão. Estaria tudo<br />
muito bem, não se <strong>de</strong>sse o caso <strong>de</strong><br />
Isobel, a adorável Isobel ser, na realida<strong>de</strong>,<br />
quem tudo orquestrou. De certa<br />
forma, a escuridão <strong>de</strong>le era <strong>de</strong>la,<br />
que escreve as letras e compõe as canções.<br />
Lanegan é um instrumento nas<br />
suas mãos – um óptimo instrumento,<br />
diga-se, trabalhado com mestria.<br />
Assim sendo, não nos <strong>de</strong>ixemos<br />
iludir pela imagem. Logo em 2006,<br />
16 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon<br />
em entrevista à webzine “Popmatters”,<br />
Campbell dizia isto: “Talvez as<br />
mulheres que surgem como compositoras<br />
tenham <strong>de</strong> ser duras. Por vezes,<br />
temos simplesmente <strong>de</strong> lutar<br />
mais”. E disparava “eu tenho tomates,<br />
à minha maneira”, para concluir por<br />
PRÉMIO LUSO-ESPANHOL<br />
DE ARTE E CULTURA<br />
Apresentação <strong>de</strong> Candidaturas<br />
O Gabinete <strong>de</strong> Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais<br />
do Ministério da Cultura informa que <strong>de</strong>corre até ao dia 8 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2010<br />
o prazo para apresentação <strong>de</strong> candidaturas à 3.ª Edição do Prémio Luso-<br />
Espanhol <strong>de</strong> Arte e Cultura.<br />
As candidaturas <strong>de</strong>vem ser instruídas com todos os elementos que permitam<br />
a sua apreciação <strong>de</strong> acordo com o Regulamento do Prémio, disponível para<br />
consulta em www.gpeari.pt<br />
As candidaturas <strong>de</strong>vem ser enviadas por via electrónica para info@gpeari.pt<br />
ou, não sendo possível, ser entregues no Gabinete <strong>de</strong> Planeamento, Estratégia,<br />
Avaliação e Relações Internacionais, cujos contactos são:<br />
Av. Conselheiro Fernando <strong>de</strong> Sousa, 21 A<br />
1070-072 <strong>Lisboa</strong><br />
Telefone: 213241930<br />
“Po<strong>de</strong> parecer<br />
estranho, visto ser<br />
uma rapariga da<br />
Escócia, mas sou<br />
apaixonada por soul,<br />
country e blues.<br />
É essa música que me<br />
corre nas veias, é essa<br />
música que me excita”<br />
fim: “Estão sempre a escrever sobre<br />
eu ser muito querida. Nunca escreveriam<br />
isso sobre um homem”.<br />
Quatro anos <strong>de</strong>pois, quando a<br />
“Ballad Of The Broken Seas” já suce<strong>de</strong>u<br />
“Sunday At Devil Dirt” (2008),<br />
quando <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sse chega “Hawk”,<br />
ainda falamos <strong>de</strong> Hazlewood e Sinatra<br />
– é inevitável. Ela separa as águas:<br />
“I<strong>de</strong>ntifico-me mais com Lee Hazlewood<br />
do que com Nancy Sinatra. A<br />
Nancy Sinatra só cantava, eu sou um<br />
pouco mais complexa. Estou sempre<br />
no estúdio a trabalhar com os rapazes.”<br />
Fica por aqui. Não vale a pena<br />
repisar um assunto que já <strong>de</strong>via estar<br />
resolvido na cabeça <strong>de</strong> toda a gente.<br />
Ainda se irrita quando alguns se<br />
surpreen<strong>de</strong>m com o facto <strong>de</strong> ser ela,<br />
a pequena loura escocesa, ex-vocalista<br />
dos Belle & Sebastian, o cérebro<br />
por trás dos discos com Mark Lanegan,<br />
mas Isobel tem “mais que fazer”.<br />
Teve mais que fazer enquanto gravava<br />
“Hawk”. “Trabalhei no álbum alguns<br />
anos e o Mark esteve lá seis ou<br />
sete dias a gravar as vozes. O resto do<br />
tempo estive por minha conta, a preparar<br />
tudo o que era necessário” Não<br />
é queixume. Ela gosta do processo,<br />
<strong>de</strong> se entregar sozinha à moldagem<br />
das canções. E continua a ter muito<br />
que fazer agora. Está a terminar um<br />
álbum a editar proximamente com a<br />
cantora folk americana Victoria<br />
Williams, cronista do Sul: “É das pessoas<br />
mais incríveis com que já colaborei.<br />
É tão bom trabalhar com uma<br />
mulher, principalmente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter<br />
gravado com tantos homens. Dá-me<br />
algum equilíbrio”, sorri.<br />
Depois disso, talvez se entregue a<br />
um sonho antigo. “Gostava <strong>de</strong> procurar<br />
vocalistas para gravar um álbum<br />
soul, um álbum soul a sério. Sou gran<strong>de</strong><br />
fã da Betty Lavette e sei que há<br />
mais cantoras como ela à espera <strong>de</strong><br />
serem trabalhadas.”<br />
Isobel, claro, sabe como fazê-lo.<br />
“Quero compor as canções e pô-las<br />
em estúdio. Sentir-me-ia no céu”. A<br />
pequena escocesa ao volante, a comandar<br />
as operações. Não precisa <strong>de</strong><br />
um bigo<strong>de</strong> imponente como o <strong>de</strong> Lee<br />
Hazlewood.