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Actriz de cristal - Fonoteca Municipal de Lisboa

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estúdio”, prossegue Olson. “Só queria<br />

fazer música numa certa onda. É<br />

geralmente assim que faço discos:<br />

trago pessoas à minha casa. Desta<br />

vez trouxe mais gente”. Apesar da<br />

dimensão, os Gayngs não são uma<br />

rebaldaria. “Toda a gente pô<strong>de</strong> dar<br />

os seus dois cêntimos, mas eu é que<br />

<strong>de</strong>cidi on<strong>de</strong> os gastar”, diz. Pedaços<br />

<strong>de</strong> horas e horas <strong>de</strong> gravações (muitos<br />

sintetizadores, um ou outro solo<br />

<strong>de</strong> saxofone, essa suposta heresia, e<br />

cânticos <strong>de</strong> veludo, tudo coisas que<br />

os 25 Gayngs não po<strong>de</strong>m fazer nas<br />

suas bandas originais sob pena <strong>de</strong><br />

serem olhados <strong>de</strong> soslaio) foram <strong>de</strong>pois<br />

editados e seleccionados por<br />

Olson - o estúdio foi um instrumento,<br />

arte que os 10cc levaram a níveis<br />

impensáveis até então.<br />

É fácil qualificar o objectivo inicial<br />

<strong>de</strong> “Relayted”, fazer um disco inspirado<br />

por “I’m not in love”, como<br />

uma piada. Durante décadas, o punk<br />

e a posterior “intelligentsia” indie<br />

baniram o “magnum opus” dos 10cc<br />

do grupo <strong>de</strong> canções que é <strong>de</strong>sejável<br />

ouvir. Mas em 1975, quando foi lançado,<br />

foi uma verda<strong>de</strong>ira revolução<br />

e permanece até hoje um objecto<br />

fascinante, a meio caminho entre a<br />

pop <strong>de</strong>clarada e a experimentação.<br />

A canção assenta em 256 (sim, 256)<br />

camadas <strong>de</strong> vozes guardadas em “loops”<br />

<strong>de</strong> fita analógica, que a mesa<br />

<strong>de</strong> mistura do estúdio transformou<br />

numa massa etérea (hoje, obter o<br />

efeito exige apenas uns cinco minu-<br />

tos num programa informático <strong>de</strong><br />

criação musical; nos anos 70, fechou<br />

a banda em estúdio durante três semanas<br />

a gravar vozes).<br />

“Relayted” está longe <strong>de</strong> ser uma<br />

piada, e Ryan Olson garante que não<br />

há ponta <strong>de</strong> cinismo ou <strong>de</strong> jogo irónico<br />

no disco (a excepção, reconhece,<br />

é “Last prom on Earth”, dona das linhas<br />

<strong>de</strong> sintetizador mais pirosas e<br />

divertidas <strong>de</strong> 2010). Na linha do que<br />

Noah Lennox disse ao Ípsilon, os<br />

Gayngs recusam a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> prazer culpado.<br />

Nenhum prazer é culpado.<br />

69 batidas por minuto<br />

Para um produtor, como Olson, “é<br />

muito interessante” e “inspirador<br />

perceber o quão longe eles [os 10cc]<br />

foram na altura”. Mas “Relayted” é<br />

também reflexo da evolução tecnológica.<br />

“Não foi como se tivéssemos<br />

que gravar 256 vozes; tenho um efeito<br />

<strong>de</strong> teclado [que faz o mesmo]”,<br />

exemplifica. Para além da aura soft<br />

rock, há também pisca<strong>de</strong>las <strong>de</strong> olho<br />

à contemporaneida<strong>de</strong> r&b (o omnipresente<br />

“auto-tune” também faz<br />

aqui uma perninha) e à soul <strong>de</strong> um<br />

D’Angelo, como que se os Gayngs<br />

explorassem o fio condutor <strong>de</strong> uma<br />

certa pop bala<strong>de</strong>ira e romântica.<br />

“Estou interessado em várias eras<br />

<strong>de</strong> estúdio. Inspiro-me em produtores<br />

dos anos 50 e 40. Aqueles rapazes<br />

tinham <strong>de</strong> fazer coisas loucas<br />

para chegar a um som. A forma como<br />

usavam apenas um microfone<br />

“A i<strong>de</strong>ia não foi fazer<br />

um álbum para fo<strong>de</strong>r,<br />

mas acho que<br />

[Relayted] se<br />

transformou nisso,<br />

a julgar pelo que ouvi<br />

nas mensagens com<br />

<strong>de</strong>masiada<br />

informação que tenho<br />

recebido”<br />

Ryan Olson<br />

Ryan Olson, o cérebro por trás da<br />

operação <strong>de</strong> reanimação <strong>de</strong> “I’m not in<br />

love”, e da transformação do clássico <strong>de</strong><br />

1975 num dos acontecimentos <strong>de</strong> 2010<br />

para que toda a banda soasse incrível...”,<br />

aponta.<br />

A única regra imposta foi - aí, sim -<br />

uma piada. Todas as canções <strong>de</strong> “Relayted”<br />

têm as mesmas batidas por<br />

minuto: o curioso número 69. A referência<br />

não é inocente, ou não fossem<br />

estas canções verda<strong>de</strong>iros monumentos<br />

à libido. Ryan explica: “A i<strong>de</strong>ia não<br />

foi fazer um álbum para fo<strong>de</strong>r, mas<br />

acho que se transformou nisso, a julgar<br />

pelo que ouvi nas mensagens com<br />

<strong>de</strong>masiada informação que tenho recebido”.<br />

Terá “I’m not in love” as mesmas<br />

batidas por minuto? “Acho que<br />

não. Ainda não vi isso, é uma coisa<br />

que <strong>de</strong>via saber [risos]. Deve estar<br />

perto. Estou curioso, acho que<br />

vou ver isso agora”.<br />

Para além das mensagens<br />

dos fãs, os Gayngs<br />

receberam já dois si-<br />

GRAHAM TOLBERT<br />

Os Gayngs são 25 músicos<br />

(“rappers” como POS, rapazes<br />

da folk como Bon Iver)<br />

sob a infl uência dos 10cc<br />

nais <strong>de</strong> aprovação. O primeiro veio<br />

<strong>de</strong> Kevin Godley, um dos 10cc, que<br />

pediu para entrar no teledisco <strong>de</strong><br />

“Cry” (versão dos Godley & Creme,<br />

um projecto <strong>de</strong> dois 10cc), <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

ter consi<strong>de</strong>rado o tratamento que os<br />

Gayngs fizeram à canção “assombrado”.<br />

O segundo foi mais inesperado<br />

e veio <strong>de</strong> Prince, que protagonizou<br />

uma misteriosa aparição na parte<br />

lateral do palco durante um concerto<br />

do grupo em Minneapolis. “Ele<br />

estava a tocar guitarra, mas não estava<br />

ligada. Fui falar com ele e perguntei<br />

se queria tocar. Ele disse que<br />

sim, expliquei-lhe que havia uma<br />

pausa na última canção e que ele<br />

podia entrar. Mas quando começámos<br />

a ultima canção ele <strong>de</strong>sapareceu”,<br />

conta.<br />

“Relayted” não é um ponto final<br />

na vida dos Gayngs. “Planeamos fazer<br />

um novo disco, mas vai <strong>de</strong>morar<br />

algum tempo, não <strong>de</strong>ve acontecer<br />

nos próximos anos”, revela. Enquanto<br />

isso não anda, a banda prepara-se<br />

para lançar uma versão <strong>de</strong> “One more<br />

try”, <strong>de</strong> George Michael, um espectro<br />

que habita várias canções <strong>de</strong><br />

“Relayted”, e algumas remisturas. O<br />

monumento meloso do ex-Wham!<br />

po<strong>de</strong> muito bem ser o ponto <strong>de</strong> partida<br />

para um segundo álbum. “É algo<br />

que quero fazer há sete anos:<br />

prestar um gran<strong>de</strong> tributo a George<br />

Michael”.<br />

Ver crítica <strong>de</strong> discos na pág. 39 e segs.<br />

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 19

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