Carnaúba dos Dantas Portalegre Entrevista - Fundação Jose Augusto
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Francisco José Alencar de Paiva<br />
(Graduado em História pela UERN e mestrando do PRODEMA-UERN)<br />
Cultura popular e<br />
desenvolvimento<br />
sustentável<br />
Numa época em que a maioria <strong>dos</strong><br />
seres humanos preocupa-se cada<br />
vez mais com as questões ecológicas,<br />
repensando práticas e hábitos destrutivos,<br />
onde preservação e conservação são<br />
palavras que estão no centro de muitas<br />
discussões, cabe um questionamento sobre<br />
a preservação da cultura popular como fator<br />
de desenvolvimento sustentável, frente à<br />
massificação cada vez mais acelerada.<br />
Uma economia humana seria o título<br />
de uma organização econômica e social,<br />
onde o termo humano esteja com todas<br />
as suas características respeitadas, uma vez<br />
que, a essência desse termo trás variadas e<br />
complexas faces: como a natural, por sua<br />
ligação inquestionável com a natureza,<br />
social por seu caráter gregário por definição,<br />
espiritual, por ser uma necessidade<br />
humana, cultural, porque tudo que<br />
fazemos é cultura e a variedade de culturas<br />
é o grande patrimônio da humanidade;<br />
estando a cultura para o ser humano,<br />
como a biodiversidade para a natureza. A<br />
preservação da biodiversidade é de extrema<br />
importância para a continuidade da vida<br />
em toda sua plenitude e para qualquer<br />
projeto de desenvolvimento sustentável.<br />
A preservação da identidade cultural <strong>dos</strong><br />
povos constitui a única salvação do grande<br />
patrimônio da humanidade, ou seja, sua<br />
variedade cultural, frente à massificação<br />
que a sociedade de consumo nos impõe.<br />
Sabemos que o que resulta de um processo<br />
de degradação <strong>dos</strong> organismos vivos do<br />
solo é a desertificação, assim também<br />
ocorre com a destruição <strong>dos</strong> costumes,<br />
hábitos e cultura de uma região; torna<br />
seu povo estéril, e essa esterilidade de<br />
expressão e de produção cultural, reflete<br />
enormemente na sua produção material.<br />
Vejamos o nosso sertanejo que quase<br />
não mais produz gêneros alimentícios ou<br />
utensílios com matéria-prima local ou<br />
com valores culturais do sertão. Hoje se<br />
importa de tudo, veja-se a extinção das<br />
feiras semanais das cidades sertanejas, as<br />
que sobrevivem, se assim podemos chamar,<br />
pois sobreviver significa ainda viver, e na<br />
sua essência essas feiras estão mortas, pois<br />
de regional, de produção local, quase ou<br />
nada têm. O comum são os importa<strong>dos</strong><br />
de baixa qualidade, de quase nenhuma<br />
utilidade para a região no sentido de<br />
sustentabilidade econômica.<br />
Sabemos que entramos num campo vasto,<br />
onde novos interesses e conceitos como<br />
globalização entrariam nessa discussão, mas<br />
entendemos que tudo isso está relacionado<br />
com o tema desse artigo, pois como pensar<br />
em desenvolvimento sustentável num<br />
cenário como esse, ou ainda, como criar<br />
um pensamento de cultura regional, se esse<br />
sistema em vigor prima pela massificação.<br />
Vivemos num mundo de vizinhos<br />
virtuais e moramos ao lado de estranhos,<br />
consumimos de longe e pra mais longe vão<br />
nossas riquezas.<br />
Desenvolvimento sustentável e<br />
movimentos de cultura popular estão<br />
intimamente relaciona<strong>dos</strong> à produção<br />
material local. Um país ou região que perde<br />
seus valores culturais, não pode pensar em<br />
desenvolvimento sustentável, pois o que<br />
vai produzir de sustentável se não valoriza<br />
suas potencialidades? Só se defende aquilo<br />
de que se gosta, ou em outras palavras, é<br />
preciso conhecer para respeitar e valorizar,<br />
só assim a utilização <strong>dos</strong> recursos naturais<br />
será de forma correta e o bem comum será<br />
prioritário. Portanto, isso também leva<br />
ao desenvolvimento de uma consciência<br />
favorável à preservação da cultura local.<br />
Quando o meio ambiente nada diz, ou nada<br />
significa de concreto para as populações<br />
que nele vivem, os recursos naturais não<br />
representam nenhuma alternativa de<br />
sustentabilidade. Pensar sustentabilidade é<br />
respeitar o meio ambiente em que se vive,<br />
em suas especificidades naturais, sociais e<br />
culturais. É dentro desse pensamento que<br />
o incentivo aos valores locais surge como<br />
única saída, pois quem participa da vida<br />
social supera o individualismo, sai do<br />
egoísmo para pensar no desenvolvimento<br />
do grupo.<br />
Muitos processos naturais apresentam<br />
um movimento cíclico, por exemplo, a<br />
água, assim também é a cultura: nasce<br />
da alma do povo e volta para fertilizar<br />
sua existência, portanto sustentabilidade<br />
da vida humana em toda sua diversidade<br />
implica valorização da cultura popular de<br />
cada região. Talvez fosse o caso de se criar<br />
uma lista das manifestações que estão se<br />
perdendo no esquecimento, da mesma<br />
forma que ecologistas divulgam listas<br />
com animais e vegetais ameaça<strong>dos</strong> de<br />
extinção.<br />
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