Carnaúba dos Dantas Portalegre Entrevista - Fundação Jose Augusto
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Beto Vieira<br />
A arte de viver da arte<br />
Por David Clemente<br />
Fotos: Acervo do autor<br />
Algumas dezenas de livros<br />
empoeira<strong>dos</strong> sobre uma estante<br />
enferrujada que transpira poesia; um<br />
grupo de bonecos de espuma; um trio de<br />
tambores; uma dupla de bolas circenses<br />
de acrílico; um casal de atores; uma<br />
radiola e muita criatividade. Tudo isso é<br />
o grupo de teatro Trotamun<strong>dos</strong>, formado<br />
pelo ator Beto Vieira (Luiz Humberto da<br />
Silva) e a atriz Ana Celina, sua esposa.<br />
O Vieira vem do sobrenome da mãe<br />
do ator. “Já que no mundo artístico<br />
existe a possibilidade de ter um novo<br />
nome, resolvi homenagear minha mãe”,<br />
esclarece o ator.<br />
Com seus 40 anos de idade – completa<strong>dos</strong><br />
em julho –, <strong>dos</strong> quais 20 dedica<strong>dos</strong> ao<br />
teatro, Beto é um laborioso ator que<br />
além de viver da arte, vive a arte. Ele<br />
conta que antes de 1984 não pensava<br />
em ser ator, mas não nega a importância<br />
que o folclore exerceu na sua formação<br />
cultural. Sobretudo no ano de 1979,<br />
quando morou em Caruaru/PE, e teve<br />
muito contato com o Boi de Reis e o<br />
Teatro de Bonecos. Em 1983, mudouse<br />
para Natal, onde estudou na antiga<br />
Escola Técnica Federal do RN (ETFRN),<br />
atualmente Centro Federal da Educação<br />
Tecnológica do RN (CEFET).<br />
Com os conhecimentos que ganhou,<br />
começou a trabalhar como técnico<br />
agropecuário em um sítio de Macaíba/<br />
RN, em 1983. No ano seguinte<br />
foi convidado pelo grupo de teatro<br />
Liberdade, de Macaíba, para participar<br />
do FESTA - Festival de Teatro Amador -<br />
que ocorreu em Natal. No FESTA, Beto<br />
conheceu o teatrólogo Luiz Maurício<br />
Carvalheira, que ministrou oficina<br />
de uma semana sobre a história do<br />
teatro. Apenas os sete dias corri<strong>dos</strong> para<br />
acumular novos conhecimentos, foram<br />
suficientes para desenvolver curiosidade<br />
e modificar a visão que o rapaz, então<br />
com 20 anos, tinha do que ocorria ao seu<br />
redor.<br />
Durante o mesmo festival, o grupo<br />
Liberdade montou um esquete e em 1984<br />
foi a primeira vez que Beto Vieira entrou<br />
no Teatro Alberto Maranhão (TAM).<br />
Desde então, trajou-se de uma postura<br />
profissional e não mais largou o prazer<br />
de interpretar. Ele também participou,<br />
ainda no festival, de uma assembléia<br />
promovida pela Federação Norte-Rio-<br />
Grandense do Teatro. Convite feito e<br />
aceito, passou a integrar a Federação.<br />
Beto considera que foi uma atitude<br />
precoce, já que não era, ainda, grande<br />
conhecedor da arte. Mesmo assim, a<br />
oportunidade lhe possibilitou contato<br />
com artistas, freqüentar congressos e<br />
outros festivais e fazer cursos volta<strong>dos</strong><br />
para sua nova paixão.<br />
O grupo Liberdade foi o primeiro<br />
a acolher o ator, onde permaneceu<br />
por menos de um ano e saiu porque<br />
finalizou seu trabalho no sítio e teve que<br />
retornar para Natal. O grupo chamado<br />
“Toca Fole Bole Briga Come Tapioca<br />
Molhada no Beco da Quarentena”, ou<br />
simplesmente “Toca Fole” foi o segundo<br />
por onde Beto passou. Com esses atores<br />
não houve uma montagem de espetáculo,<br />
sua importância se deu porque havia<br />
muitas reuniões para estudo, o que<br />
serviu para desenvolver o lado leitor do<br />
interpretador.<br />
No início de 1985 o grupo “Alegria<br />
Alegria” ressurgiu (no começo de 1984,<br />
um ano depois da estréia, o grupo quase<br />
foi extinto). No novo quadro de atores<br />
constava o nome de Beto Vieira. A<br />
intenção <strong>dos</strong> artistas na primeira fase era<br />
formar uma companhia circense, como<br />
a idéia não pegou, a partir da segunda<br />
fase, somaram o teatro e prevalece até<br />
hoje como um <strong>dos</strong> principais grupos<br />
de Natal. Na companhia <strong>dos</strong> atores do<br />
“Alegria Alegria”, ajudou a popularizar o<br />
teatro de rua, participou de campanhas<br />
de saúde, quebrou preconceitos e levou<br />
o nome do RN para o resto do Brasil e<br />
exterior.<br />
Em março de 1994 foi preso, junto com<br />
outros atores, devido uma apresentação<br />
em frente ao Palácio Potengi, na época<br />
Palácio do Governo, acusado de ofender<br />
o governador José Agripino. Depois de<br />
30 horas presos, foram liberta<strong>dos</strong>. Pazes<br />
feitas com o Estado, seis meses depois<br />
o RN esteve em Portugal com a mesma<br />
peça. Portugal ainda recebeu a visita de<br />
Beto Vieira por mais duas vezes. Do<br />
outro lado do mar, fez contato com o<br />
grupo português “Marionetes de Lisboa”<br />
e planeja retorno em breve para passar<br />
uma temporada.<br />
Novas montagens<br />
Em 1999 saiu do grupo “Alegria Alegria”<br />
e, junto com sua esposa, fundou o<br />
Trotamun<strong>dos</strong>. “Eu queria trabalhar com<br />
teatro, pois de outra forma não seria<br />
feliz”, explica o ator. O Trotamun<strong>dos</strong><br />
existe há apenas 4 anos e meio, mas há<br />
uma década são casa<strong>dos</strong>. É com orgulho<br />
que fala do enteado Vinícius, 14 anos.<br />
“Não fui eu que o adotei. Ele que me<br />
nomeou como pai e isso é maravilhoso”.<br />
Nos últimos meses, Beto e Ana Celina<br />
trabalham de 8 a 12 horas por dia<br />
para montar uma peça. Atualmente,<br />
três espetáculos estão prontos e um<br />
em andamento. “Uma farsa no boi?!”,<br />
“Cascudo: Canta lá que eu conto cá” e<br />
“E o palhaço quem é?” estão concluí<strong>dos</strong><br />
e à disposição para serem contrata<strong>dos</strong>.<br />
“Sete notas de cordel em cena” é a<br />
próxima estréia do grupo. Trata-se de<br />
uma apresentação de rua, mas que pode<br />
ser levada para qualquer lugar. O texto,<br />
todo em linguagem de cordel, é do poeta<br />
mossoroense Antônio Francisco, dirigido<br />
por Nonato Santos, também de Mossoró,<br />
e musicado por Dudu Campos, Nazinho<br />
Viana e Zelito Coringa.<br />
A principal atuação do grupo de teatro<br />
é em Natal, mas o Trotamun<strong>dos</strong> já<br />
percorreu cidades como Mossoró,<br />
Macaíba e Ipanguaçú. E foi viajando que<br />
Beto e Ana Celina se conheceram, em um<br />
“Encontro de Teatro Popular”, em Icapuí-<br />
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