Carnaúba dos Dantas Portalegre Entrevista - Fundação Jose Augusto
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<strong>Carnaúba</strong> <strong>dos</strong> <strong>Dantas</strong> - Terra do Monte do Galo e de grandes músicos<br />
Benedito Figueiredo<br />
Maria Ieda Medeiros Manoel Matias<br />
Arte muda a vida de i<strong>dos</strong>os<br />
O CVVida atende mais de 200 i<strong>dos</strong>os. Além de Gertrude<br />
<strong>Dantas</strong>, outros tantos estão ocupa<strong>dos</strong> com o trabalho<br />
artístico. Luciana de Medeiros <strong>Dantas</strong>, coordenadora do<br />
centro, comenta que as atividades envolvem desde as oficinas<br />
de artes até o fornecimento de refeições às terças e quintasfeiras.<br />
“Isso aqui é muito bom, ela é mesmo que uma mãe<br />
para nós”, diz Benedito Marins de Figueiredo, 85 anos.<br />
Benedito trabalhou recentemente como ator principal em<br />
“A Força”, curta metragem produzido pelos cineastas Buca<br />
<strong>Dantas</strong> e Teotônio Roque. Natural de Pirpirituba (PB), o<br />
ator mora em <strong>Carnaúba</strong> desde 1940. Já Manoel Matias<br />
<strong>dos</strong> Santos, 68 anos, é violeiro e repentista. Natural de<br />
Pilões (PB), aprendeu a tocar ainda menino e foi violeiro<br />
profissional. Por fim, Maria Ieda da Silva Medeiros, a Dona<br />
Dadí, 66 anos, impressiona a to<strong>dos</strong> com suas bonecas de<br />
pano ricas em detalhes. Maria Ieda aprendeu a fazer bonecas<br />
ainda criança, e ao completar 50 anos, começou a fazer<br />
também bonecos de mamulengo. Já recebeu pedi<strong>dos</strong> de<br />
várias cidades do Nordeste. “Faço o boneco, desenvolvo a<br />
brincadeira e faço a história”.<br />
A mulher que “chorou” muitos mortos<br />
O antigo costume <strong>dos</strong> seridoenses<br />
de entoar incelências, herdado <strong>dos</strong><br />
portugueses e já extinto em <strong>Carnaúba</strong><br />
<strong>dos</strong> <strong>Dantas</strong>, sobrevive na memória de<br />
Maria de Lourdes <strong>Dantas</strong>, 81 anos.<br />
Católica fervorosa, a carnaubense já<br />
“chorou muitos defuntos” e ainda canta<br />
o bendito de São José completo.<br />
As incelências, cantigas fúnebres para<br />
rezar os defuntos durante os velórios,<br />
eram entoadas por cantadeiras, em<br />
uníssono, sem acompanhamento<br />
instrumental e com frases rimadas<br />
em série de doze. Ao lado do defunto,<br />
geralmente colocado dentro de uma<br />
rede, Maria de Lourdes acompanhava<br />
o cântico puxado pelas duas cantadeiras<br />
mais velhas. “Era da boca-da-noite até de<br />
manhã. Não era eu sozinha, não”.<br />
“Naquele tempo morria muito anjinho<br />
(criança). A incelência para os anjinhos<br />
era diferente. A gente batizava também,<br />
para não morrer pagão”, diz, enquanto<br />
puxa pela memória o início do canto.<br />
“Doze incelências<br />
É doze espadas de dor<br />
Transpassou Jesus no peito<br />
Sua mãe sentindo a dor”.<br />
Segundo Maria de Lourdes, desde o<br />
falecimento de Ana Laurentina de<br />
Araújo, falecida segundo conta em 1956,<br />
as incelências e benditos começaram a<br />
desaparecer. “Era ela quem orientava”.<br />
Acostumada a freqüentar a missa de xale<br />
e véu de linho branco, Dona Maria de<br />
Lourdes não parece acostumada com os<br />
novos tempos. “A minha sobrinha, <strong>Jose</strong>fa<br />
<strong>Dantas</strong>, também cantava, mas acabou há<br />
uns 30 anos ou mais”.<br />
A antiga cantadeira lembra de ter recebido<br />
uma visita do historiador e folclorista<br />
Deífilo Gurgel “há uns seis anos”. Desde<br />
então, não cantava o bendito de São<br />
José, mas mesmo assim, ainda é capaz<br />
de lembrar toda a composição. “Minha<br />
mãe foi quem ensinou, o final é assim:<br />
quem rezar este bendito / sexta-feira<br />
da Paixão / ganha muitas indulgências<br />
/ tem milhares de perdão / oferecendo<br />
este bendito / ao senhor daquela cruz /<br />
patriarca São José / e o menino Jesus”.<br />
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