A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
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da tarefa de mudar nossa forma de analisar e pensar, ou para apreendermos a complexa realidade<br />
africana na sua totalidade. Mas foi um início. Entrevistamos atores governamentais, atores<br />
privados, acadêmicos, organizações sociais, sindicais, ambientais e populares, representantes<br />
de organismos internacionais em Angola e Moçambique. Procuramos compreender e escutar<br />
esses atores, a partir de seus diferentes lugares de atuação, levantando nas entrevistas sua visão<br />
e percepção sobre a inserção do Brasil em seus respectivos países. As entrevistas foram realizadas<br />
por meio de um roteiro semi-estruturado dividido em três blocos temáticos. O primeiro<br />
procurava mapear os projetos e ações representativos do Brasil nos dois países, identificando<br />
os arranjos institucionais que dão corpo e operacionalizam esses projetos (em especial com<br />
relação ao financiamento), bem como as percepções dos atores com relação aos mesmos.<br />
tendo em vista que o Brasil atua nesses países em competição ou em cooperação com as<br />
potências tradicionais (Europa, EuA, Japão) e com as chamadas “emergentes”, especialmente<br />
a China, o segundo bloco procurava captar a percepção que os atores locais tinham do Brasil<br />
com relação a essas outras potências (similitudes e diferenças). Assim, procuramos saber dos<br />
atores entrevistados quais os principais países que investem em Angola/em Moçambique e<br />
se eles percebem concorrência entre os projetos desses atores com os do Brasil. Afinal, o que<br />
diferencia os projetos envolvendo atores brasileiros e os de outros países?<br />
Finalizamos o roteiro com duas perguntas que procuravam dar conta das perspectivas futuras<br />
da atuação do Brasil na África. Assim, imaginando a próxima década, solicitamos aos entrevistados<br />
que indicassem como projetam a atuação futura do Brasil na África tendo em vista<br />
as tendências atuais e que citassem os campos que considera estratégicos para a atuação do<br />
Brasil tendo em vista o desenvolvimento do seu país.<br />
Angola e Moçambique são dois países muito diferentes, apesar de guardarem elementos comuns.<br />
Ambos passaram pela colonização portuguesa, por lutas pela independência tardias,<br />
por guerras civis prolongadas e por tentativas de construção de Estados no modelo socialista<br />
soviético. Em ambos os países, chama atenção a forte influência que o passado colonial e a<br />
guerra civil ainda exercem no contexto político e social atual, em particular, na força de coerção<br />
e controle exercido pelo Estado e, em contrapartida, no pouco espaço que é relegado no<br />
cenário político à críticas e ao protagonismo das organizações da sociedade civil.<br />
Como em boa parte das colônias africanas, Portugal não permitia, durante o regime colonial,<br />
atividade política independente. Nesse contexto, qualquer iniciativa organizativa como sindicatos,<br />
associações juvenis, étnicas ou regionais, bem como partidos políticos, eram encaradas<br />
como forças potencialmente desestabilizadoras e, por isso, sistematicamente suprimidos. Parte<br />
desse sentimento, como veremos ao longo da pesquisa, permanece. Para além da herança<br />
colonial, identificam-se pelo menos três fatores políticos no contexto atual de Angola e Moçambique<br />
que obstaculizam o fortalecimento de uma sociedade civil mais ativa e com maior<br />
espaço de reivindicação no cenário político nacional. São eles: resquícios da forma de partido<br />
marxista-leninista predominante nesses países após a independência; a conformação de um<br />
sistema presidencialista que dá amplos poderes ao presidente; e um sistema de clientelismo e<br />
apadrinhamentos encrustado em todas as esferas da vida social (AMuNdSEN & ABREu, 2007).<br />
Entretanto, não obstante as semelhanças, ambos os países apresentam diferenças fundamentais.<br />
O elemento que mais chamou atenção se relaciona com a forma diferenciada com a qual o<br />
Estado, em cada um dos países, intervém na economia com o objetivo de organizar e planejar