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A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS

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46<br />

amortecedor de conflitos. Segundo representante da uNACA:<br />

“A unaca mobiliza os camponeses para que saiam de suas fazendas nas áreas de<br />

desapropriação. Saem para dar lugar a grandes fazendas de cultivo de cereais que<br />

são interesse “público”. São importantes para o desenvolvimento do país. São projetos<br />

públicos, do governo, com participação de empresas, algumas brasileiras. São<br />

projetos de expropriação com justa indenização para os camponeses que deixam<br />

suas pequenas terras” (informação verbal 107 ).<br />

Conforme já mencionado, em Angola é raro encontrar organizações da chamada sociedade civil<br />

que não sejam um braço do próprio governo. Existem algumas, como por exemplo a AdRA (Ação<br />

para desenvolvimento Rural e Ambiente), uma antiga organização que mantém um diálogo com<br />

o governo, apesar de também apresentar uma postura crítica. Mas esses grupos encontram pouco<br />

espaço para expressão de suas críticas e em muitas situações acabam ficando isoladas e asfixiadas.<br />

Na sociedade angolana, há uma massa de população pobre que não está organizada. Não<br />

houve nenhuma menção a questões ambientais relacionadas ao petróleo, por exemplo. Conflitos<br />

latentes, como no caso da Vale em Moçambique, não apareceram nas entrevistas.<br />

Moçambique conta, por sua vez, com uma sociedade civil mais organizada, seja mediante organizações<br />

sociais, sindicatos e centros de pesquisa com pensamento e prática mais críticas, seja com<br />

a atuação de ONGs internacionais (como a WWF, Greenpeace) ou de agências de cooperação dos<br />

países centrais. Ainda assim, nesse contexto, o medo, repressão e práticas de espionagem do governo<br />

foram mencionados com frenquência tanto nas entrevistas em Angola como em Moçambique.<br />

Com relação às atividades da Vale, além dos conflitos trabalhistas mencionados acima, os principais<br />

conflitos sociais têm sido relacionados à remoção de famílias de agricultores, que ocupavam<br />

a área da mina de Moatize. A Vale nos últimos anos enfrentou muitos conflitos com as comunidades<br />

que foram transferidas com o seu projeto em Moatize. Falta de informações claras, ausência<br />

de um entendimento da cultura local no momento de elaboração dos projetos de assentamentos,<br />

fixação das famílias em áreas onde não podem exercer atividades agrícolas (maxambra) e<br />

com pouco acesso à água, assentamento das famílias em áreas muito distantes dos centros urbanos<br />

e distritos - foram problemas relatados nas entrevistas e por nós vivenciados em visita ao<br />

reassentamento “25 de setembro” em Moatize.<br />

A Vale dividiu as famílias rurais em dois reassentamentos: 25 de setembro (195 famílias) e Catemi<br />

(mais de 1000). Segundo relatos de algumas lideranças dos reassentados, no momento de elaboração<br />

e implementação dos projetos pela Vale, as famílias não tiveram nenhuma informação<br />

sobre indenização e jamais tiveram direito a nenhum acordo escrito. Hoje, elas vivenciam muitos<br />

problemas relacionados às casas que foram construídas, como a ocorrência de rachaduras, má<br />

qualidade da obra, tamanho incompatíveis com o número de familiares, falta de segurança (uma<br />

chave abria várias portas), incompatibilidade com costumes locais, para citar alguns (informação<br />

107 - Entrevista com representante da união Nacional dos Camponses de Angola (uNACA).

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