A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
7<br />
“modelo brasileiro de desenvolvimento” para países africanos, precisaríamos dar um passo atrás<br />
e compreender as diferentes dimensões da atuação do Brasil em Moçambique e Angola.<br />
Para dar conta da complexidade das relações de um Brasil que procura ser “solidário” e “parceiro”<br />
dos países africanos e que, ao mesmo tempo, disputa geopoliticamente com outras potências o<br />
acesso a recursos e mercados, expandimos nosso trabalho de mapeamento para o tripé investimento,<br />
financiamento e cooperação. Nosso objetivo com a pesquisa, portanto, passou a ser<br />
a realização de um mapeamento dos investimentos, financiamentos e políticas de cooperação<br />
do Brasil em Angola e Moçambique 2 , de seus impactos e de suas implicações para a instauração<br />
e fomento de um processo de desenvolvimento econômico e social, a partir da leitura realizada<br />
pelos atores locais que atuam e vivem nesses países.<br />
Neste sentido, ampliamos o trabalho para abarcar a diversidade de atores brasileiros, que hoje<br />
compõem a política internacional do Brasil nesses países. Para além do BNdES, incluímos na análise<br />
o Ministério de Relações Exteriores (MRE ou Itamaraty), a Agência Brasileira de Cooperação<br />
(ABC, que é parte do MRE), a EMBRAPA e a FIOCRuZ (dois atores estatais das áreas de agricultura<br />
e saúde, que encabeçam as políticas de “cooperação para o desenvolvimento”), as empresas<br />
multinacionais brasileiras (que atuam desde 1970 e que intensificam sua inserção na última década<br />
3 ), a Agência de Promoção da Exportação e Investimento (APEX, que tem sua representação<br />
africana em Angola e é parte do Ministério de Indústria, desenvolvimento e Comércio, MdIC),<br />
bem como outros ministérios como o MdIC (com a organização de missões empresarias e participação<br />
em feiras de negócios), o Ministério do desenvolvimento Social e Combate à Fome<br />
(MdS) e o Ministério do desenvolvimento Agrário (MdA). todos esses atores, na medida em que<br />
avançam na sua atuação na África, conformam distintos arranjos institucionais 4 que mobilizam e<br />
articulam, de diferentes maneiras, o tripé “investimento, financiamento e cooperação”.<br />
A análise do modelo exportado ou não, assim, ficará para uma próxima pesquisa e dependerá da<br />
análise mais focada da atuação brasileira em determinados setores e campos de atuação. todavia,<br />
o trabalho aqui realizado nos oferece importantes pistas para avançar nessa análise.<br />
INTRODUÇãO: A ATUALIDADE DAS RELAÇõES BRASIL - ÁfRICA<br />
O projeto de pesquisa situa-se na atualidade das relações entre Brasil e África 5 . Com o governo<br />
Lula, a África ganhou relevância sem precedentes na política externa brasileira, voltando-se para<br />
outros países e regiões do Sul global. Segundo Sombra Saraiva (2010), a ampliação da agenda<br />
brasileira para a África, a partir de 2003, refletiu a combinação de mudanças ideológicas e estratégicas<br />
inauguradas com o governo Lula. A “volta” da África à política brasileira se daria sobre<br />
novas bases, ultrapassando parcialmente o discurso culturalista tradicional e legitimando-se na<br />
2 - A escolha dos países a serem pesquisados foi pautada por dois elementos principais. Em primeiro lugar, foi motivada pelo fato de<br />
serem países de língua portuguesa e com certas proximidades culturais que facilitariam o trabalho de pesquisa e viagem a campo. O<br />
segundo foi pela representatividade que ambos os países têm nos instrumentos de atuação do Brasil na África: Angola é o principal<br />
destino dos investimentos brasileiros e Moçambique é o principal destino das políticas de cooperação.<br />
3 - Essa expansão se faz acompanhada da nova ênfase dada na política externa do governo Lula para as relações Sul-Sul e, em particular,<br />
para o continente africano.<br />
4 - Mobilizando, em muitas situações, outros atores internacionais como a Organização das Nações unidas para a Alimentação e a Agricultura<br />
(FAO), o Banco Mundial e outras agências de cooperação como a japonesa e a norte-americana.<br />
5 - Muitos artigos, relatórios e notícias têm tratado do papel político e econômico, bem como das perspectivas de atuação do Brasil e<br />
de suas empresas em países da África Subsaariana, em particular, nos países lusófonos (WHItE, 2010; IPEA e BANCO MuNdIAL, 2011;<br />
StOLtE, 2012; SARAIVA; 2012). As relações do Brasil com a África são históricas, incluindo conexões, identidades culturais e padrões<br />
conformados ao longo do tempo com experiências do Brasil na África e da África no Brasil, cujas origens datam do século XVI.