A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
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Estado inibidas. Em 2004/2005 foi lançado o PdR, o Programa de desenvolvimento<br />
Rural que permitiu (...) facilitar o acesso a insumos agrícolas. Há uma outra iniciativa<br />
mais recente de 2009, que é o crédito agrícola de campanha. Alguns até chegaram<br />
aos agricultores. Foi uma das iniciativas que podiam efetivamente ajudar o agricultor”<br />
(informação verbal 135 ).<br />
Nesse sentido, ainda que identifiquem que as ações de apoio do governo angolano e da cooperação<br />
brasileira e chinesa se concentrem em maior parte no apoio à produção intensiva de larga<br />
escala, a leitura desses atores é que não haveria de imediato um conflito, posto que boa parte<br />
da população dos países se concentraria nas metrópoles. Contudo, ainda segundo entrevistas,<br />
esse não é o quadro esperado para o médio e longo prazo, quando se espera uma ampliação e<br />
acentuação dos conflitos fundiários derivados do crescimento desses projetos de agricultura de<br />
larga escala.<br />
“O que está acontecendo nesse momento, grosso modo, é que grande parte das<br />
concessões de terra ainda não foram cercadas. Nós temos muitos casos em que<br />
existe uma fazenda, e dentro dela existem 4 ou 5 aldeias. As pessoas estão a trabalhar,<br />
mas o problema ainda não é patente porque ainda não se concretizou. Em<br />
alguns casos por causa de financiamento e da pessoa que tem o título não ter dinheiro<br />
e etc. Aí o conflito ainda não se concretizou. (...) O que temos observado é<br />
que isso é um problema a prazo. Ainda não se cumpre a lei [de terra] e o dia que<br />
isso for feito vai por em choque as populações. A disputa por espaço existente ainda<br />
não é tão violenta, porque em alguns casos umas famílias saem de uma zona e<br />
vão ocupar outra zona. (...) Eu não penso que sejam coisas incompatíveis. O que eu<br />
estou a dizer é que, nas circunstâncias atuais do nosso país, o Estado deveria ter um<br />
outro tipo de mobilização para a agricultura familiar. O que sobrevive na prática<br />
é o nosso agricultor abandonado à sua sorte, sem políticas de apoio, na base da<br />
subsistência (informação verbal 136 ).<br />
Além do que se prevê, do que está por vir, existe também aquilo que se espera e que se sonha.<br />
Muitos entrevistados focaram na educação, na formação de lideranças, em ciência e tecnologia.<br />
Falou-se na humanização dos serviços e investimento no capital humano. “Por muito tempo<br />
os financiamentos externos serviram para apoios diretos de sobrevivência, e quando pedimos para<br />
o aumento da cidadania, a recessão da Europa e, consequentemente, os financiamentos fecharam<br />
essa possibilidade” (informação verbal 137 ). É necessário, portanto, que haja investimentos para a<br />
cidadania, e não somente para uma sobrevivência.<br />
O processo de cidadania e democratização perpassa a maior parte dos entrevistados. O Brasil é<br />
visto como aquele que desenvolveu uma “tecnologia do diálogo”, que é mais do que o resultado<br />
em si (o “salto de modernização”), mas sim um processo que seria necessário aprender e adaptar<br />
à realidade local: “Nós angolanos é que temos que procurar outros Brasis” 138 .<br />
135 - Entrevista com representante da AdRA (Angola).<br />
136 - Entrevista com o representante de AdRA (Angola).<br />
137 - Entrevista com um funcionário da Secretaria de direitos Humanos em Luanda.<br />
138 - Entrevista com o representante de AdRA (Angola).