A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
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nidades movimentadas, por exemplo, não podem fazer a maxamba (agricultura de<br />
pequeno porte) e são localizadas após o reassentamento em áreas muito distantes,<br />
nas quais o acesso à cidade é dificultado. As famílias que antes pertenciam a uma<br />
só comunidade são separadas, divididas e isso tem causado muitos impactos” (informação<br />
verbal 105 ).<br />
Situações como essa têm criado conflitos crescentes com a Vale. Aumenta o número de críticos à<br />
atuação da empresa e cético quanto à capacidade da mesma de gerar processos que beneficiem<br />
as populações locais nos territórios, onde são instalados seus projetos. um trabalhador de uma<br />
empresa prestadora de serviço para a Vale em tete afirma:<br />
“A Vale encontra-se num momento de conflito com a população de tete. Por exemplo,<br />
semanas atrás apareceu um corpo com a cabeça decepada na linha férrea da<br />
Vale. Ela abriu um inquérito para apurar, contudo já entende que aquilo não foi<br />
acidente, mas a ação de algum grupo que se opõe às ações da empresa. Na época<br />
o presidente do Conselho de Administração da Vale estava visitando Moçambique.<br />
um dos motivos para o acirramento dos conflitos foi a experiência de reassentamento<br />
que a Vale teve com as comunidades. As famílias foram enganadas de que<br />
receberiam casas. Apresentaram para essas famílias um modelo e, quando foram<br />
receber as casas verdadeiras, não tinham nada que ver com aquilo. Enganaram as<br />
pessoas. Agora estão refazendo as casas em Cateme por meio da empresa Seta.<br />
quando entregaram as casas houve conflito, eles deram cestas básicas para acalmar<br />
os ânimos, mas continuam na mesma hoje em dia. Nas manifestações contra<br />
os reassentamentos, seguranças privados que não usam armas não foram mobilizados,<br />
mas a própria Guarda/Polícia da República. Intervenção muito rápida. Bateram<br />
nas pessoas” (informação verbal 106 ).<br />
e - A implantação desses projetos tem tido problemas (conflitos sociais, ambientais, trabalhistas<br />
ou com governos locais)? Quais? Como têm sido solucionados?<br />
Há diferenças entre Angola e em Moçambique na existência de conflitos gerados por projetos<br />
envolvendo atores brasileiros. Em Angola, as críticas estão restritas a grupos mais informados e<br />
qualificados da sociedade, conformados por intelectuais, acadêmicos e outros grupos da sociedade<br />
civil. Seu principal ponto de crítica está relacionado ao ciclo de endividamento e de comprometimento<br />
dos recursos naturais no médio e longo prazo, e ao excessivo pacote de benefícios<br />
fiscais concedidos pelo governo aos grandes projetos. Nesse sentido, esses projetos seriam<br />
importantes para o desenvolvimento do país, mas condicionam o modelo de desenvolvimento a<br />
ser implantado por gerações futuras.<br />
um segundo conflito que, segundo as entrevistas, estaria crescendo, seria a desapropriação e<br />
remoção de famílias de suas terras derivadas da instalação desses grandes projetos. Contudo,<br />
em Angola, esse seria um processo que ainda estaria por vir, tendo em vista que nas situações<br />
nas quais foi necessária a remoção de famílias, o governo contou com a atuação da uNACA,<br />
confederação de camponeses, que pela sua capilaridade, acabou funcionando com instrumento<br />
105 - Entrevista com representante do SINtICIM em tete.<br />
106 - Entrevista com representante de empresa que presta serviço à Vale em tete.