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A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS

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42<br />

“Angola... são várias Angolas. Mas em termos dos cidadinos [Luanda], há duas muito<br />

bem demarcadas. Os modernos [ricos]... existem duas cidades sobrepostas e<br />

que não se comunicam. Meus irmãos.. (...) no setor do petróleo... eles não me entendem<br />

(...) é um outro mundo. A Angola dele e a Angola que eu vivo são mundos<br />

diferentes” (informação verbal 96 ).<br />

Há, portanto, uma Angola mais restrita, de empresários ligados ao setor petrolífero e de outros<br />

recursos minerais como o diamante e de construção civil, que vivem em condomínios de luxo construídos<br />

pelos brasileiros, circulam em shopping center e hotéis altamente luxuosos. E uma Angola<br />

com o maior número de angolanos, que vive em grande parte do mercado informal (em especial as<br />

mulheres, as zungueiras), de bancas e feiras livres espalhadas pela cidade e que circulam pelas ruas<br />

a pé e em lotações (candongueiros) e ônibus. O espaço construído da capital, Luanda, retrata essa<br />

diferenciação, contemplando lado a lado, ruas e edificações luxuosas vizinhas e ruas com esgoto<br />

a céu aberto, carentes de todo o tipo de serviços. Nesse sentido, a ampliação dos investimentos e<br />

financiamento de países desenvolvidos ou “emergentes”, e em alguma medida também a cooperação,<br />

vem contribuindo com um processo acentuado de concentração das riquezas.<br />

Alguns atores entrevistados destacam que o processo vivenciado por esses países, ainda que<br />

traga risco de impactos econômicos sociais e ambientais grandes e, talvez, irreversíveis, também<br />

abriria possibilidades para novas dinâmicas econômicas. Haveria um potencial de gerar desenvolvimento<br />

nos seus respectivos países, desde que acompanhado dos instrumentos corretos<br />

para transformar os fluxos de investimentos em benefícios para o país. Por exemplo, no caso de<br />

Angola, o ponto positivo levantado tem sido a contribuição com a reconstrução do país:<br />

“As principais empresas brasileiras que estão aqui trabalham nas infra-estruturas.<br />

Angola precisa dessas infraestruturas. Então o que fazem eu avalio como positivo.<br />

Positivo porque são empresas que estão a erguer a Angola. Angola estava totalmente<br />

sem estradas, sem nada. Só a Odebrecht era difícil erguer Angola da forma<br />

que estava destruída. Por isso a Angola recorreu mais a outras empresas. Formouse<br />

uma concorrência perfeita aqui” (informação verbal 97 ).<br />

um professor da universidade Lúrio faz, por outro lado, ponderações:<br />

“Seguramente o país precisa [destes investimentos]. Porque nós não encontramos<br />

denominadores econômicos para nos posicionarmos no mercado e no mundo global.<br />

Mas, por exemplo, a soja produzida (no projeto Pro-Savana) será exportada in<br />

natura para ser processada no Japão. Se não houver a possibilidade de criar uma<br />

agroindústria local derivada desses projetos, aí sim eu acho que é mal. São os meus<br />

dois pontos: primeiro o problema de desestruturar todo o sistema produtivo e segundo<br />

de não gerar uma agroindústria [dinâmicas] local. teria que ser criada uma<br />

cadeia de valor, e dar mais valor ao produto que a gente tem (informação verbal 98 ).<br />

A falta de preparação e, muitas vezes, a corrupção no governo, fazem com que as negociações<br />

com as empresas sejam realizadas sem levarem em conta os benefícios para o país e para o desenvolvimento.<br />

Segundo esse professor:<br />

96 - Entrevista com professora da universidade Agostinho Neto.<br />

97 - Entrevista com representante da ANIP, Angola<br />

98 - Entrevista com professor da universidade Lúrio (Nampula).

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