A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
40<br />
diferentemente do Brasil, as atividades de responsabilidade social empresarial ainda são vistas<br />
como um ponto positivo ou amenizador dos impactos negativos relacionados com a atuação<br />
das empresas brasileiras, bem como uma contrapartida da empresa aos contratos fechados com<br />
o governo angolano. Esta reação talvez possa ser melhor compreendida se incorporamos na análise<br />
o contexto social, econômico e político angolano que inclui um Estado centralizador, uma<br />
sociedade extremamente desigual e o baixo acesso a serviços de saúde, saneamento, energia<br />
etc. A iniciativa privada e as atividades de responsabilidade social empresarial, nesse sentido,<br />
são interpretadas como substitutas da ação do Estado e fatores amenizadores das carências em<br />
serviços públicos.<br />
Já em Moçambique, além de uma grande assimetria em capacidade de negociação entre os<br />
governos dos países e as multinacionais, o incentivo a projetos em conjunto com o capital estrangeiros<br />
são vistos como um “mal necessário” para a transferência tecnológica e de know how,<br />
capitais até então escassos.<br />
“A ideia da exploração de carvão é que nós sairemos ganhando. O carvão é uma<br />
riqueza que estava subexplorada. O investimento é bem-vindo, o país não possui<br />
tecnologia para explorar o carvão. Assim, há um processo de absorção de tecnologias,<br />
como o carvão e as termelétricas. Acho que os investimentos são necessários.<br />
Mas percebe-se [como vêm sendo feitos] que não há uma ligação e uma articulação<br />
entre eles. E muito menos entre os investimentos e os empresários locais. A<br />
chegada da Vale representou a chegada de muito dinheiro que ficou concentrada<br />
em muito pouca gente” (informação verbal 92 ).<br />
Assim, o diagnóstico mais recorrente dos entrevistados é que o principal desafio posto aos governos<br />
de Angola e de Moçambique seria a diversificação de suas economias. Os investimentos<br />
e empresas estrangeiras, mais do que produzir para o mercado interno e gerar empregos, teriam<br />
o potencial de contribuir com a transferência de tecnologia, com a diversificação do país e com<br />
a formação de uma classe de empresários e de trabalhadores nacionais. A promessa de transferência<br />
de tecnologias e de qualificação de trabalhadores, contudo, muitas vezes esbarraria na<br />
extração de recursos naturais (minerais e agrícolas) a um baixo custo produtivo para a exportação<br />
sob a forma de commodities. Além disso, a diversificação e o investimento em setores considerados<br />
prioritários, como a formação de um grupo de empresas<br />
de construção civil ou de siderúrgicas locais, constantes nos planos<br />
de investimento oficiais, esbarrariam na atratividade “não oficial” das<br />
atividades que possuem um retorno rápido, e que não são estruturantes.<br />
A definição dos investimentos prioritários, assim, acabaria<br />
dependendo de fatores como a quantidade propinas, corrupção e<br />
comissões derivadas (informação verbal 93 ).<br />
Para boa parte dos entrevistados, as atividades das empresas multinacionais<br />
nesses países se caracterizaria por ser um processo puro<br />
de acumulação primitiva do capital, com base na exploração desenfreada<br />
de recursos minerais, e na criação de encaves econômicos<br />
que não necessariamente têm se desdobrado em processos de<br />
desenvolvimento (que contemplem a distribuição das benesses do<br />
92 - Entrevista com Agência de desenvolvimento Local de tete.<br />
93 - Entrevista com professor da universidade Católica de Angola e com professor da universidade<br />
Politécnica em Maputo.