A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS
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dos seus governos gerarem receitas tributárias. O círculo vicioso significa, portanto, que o orçamento<br />
segue futuramente dependendo de doações, ao passo que se torna cada vez mais necessária<br />
a busca de novas formas de endividamento para garantir o funcionamento da economia,<br />
algumas lastreadas em recursos minerais. Assim,<br />
“Como as empresas recebem muitas isenções fiscais, a arrecadação tributária do<br />
governo moçambicano recai principalmente sobre o Imposto sobre Valor Agregado<br />
(consumo), o que diante de um mercado interno cada vez mais reduzido, cria<br />
um círculo vicioso que torna o orçamento sempre dependente de doações externas.<br />
Em outras situações, também, o governo moçambicano emite dívida interna<br />
para pagar outras dívidas externas (informação verbal 81 ). “<br />
“Se todos pagassem os impostos de forma justa, a arrecadação tributária seria suficiente<br />
para dar conta do orçamento (informação verbal 82 ).<br />
O grupo de doadores G19 coloca condicionalidades associadas às doações. Eles compõem grupos<br />
de trabalho dentro da própria burocracia estatal moçambicana, determinando onde deve ser<br />
alocado o dinheiro doado. Conforme mencionado em entrevista com representantes da união<br />
Europeia, as intervenções se dão pelo estabelecimento de indicadores e metas que devem ser<br />
cumpridos pelo governo moçambicano para o acesso aos recursos doados.<br />
“Os países do G19 naturalmente em certas circunstâncias impõem coisas aos ministérios.<br />
Evidente, não é? Impõem certo tipo de decisões ou recusam dar dinheiro<br />
para certos benefícios, estão em cima dos ministérios por conta das auditorias fiscais,<br />
pressionam a governação. Mas já concluíram que essa estratégia de apoiar diretamente<br />
o orçamento do Estado não é uma boa estratégia, não teve grande sucesso<br />
por razões diversas. No Ministério da Agricultura, por exemplo, no primeiro período<br />
se traduziu em reforço institucional, em gabinetes, em carros e nessas coisas e não<br />
atingiu o objetivo final que era a apoio à produção etc.” (informação verbal 83 ).<br />
As opiniões com relação a esse tipo de interferência política dividem os atores. de um lado,<br />
alguns destacam que, como toda interferência política, essas condicionalidades colocam em<br />
risco a soberania do governo moçambicano no estabelecimento de suas políticas nacionais,<br />
bem como na definição das prioridades. de outro, representantes dos govero moçambicano e<br />
da cooperação internacional defendem que as metas de combate à corrupção e o estabelecimento<br />
de mecanismos de aperfeiçoamento da governança e da transparência são necessárias.<br />
Ancorados num processo de crescimento da economia, das suas imensas reservas de petróleo,<br />
e, principalmente do fácil acesso a créditos oferecidos por países emergentes, em particular a<br />
China, Angola tem ampliado imensamente sua capacidade de negociação e de barganha frente<br />
aos países europeus e organismos financeiros multilaterais. As entrevistas chamam atenção para<br />
o empréstimo do governo chinês sem condicionalidades em 2004 como um “divisor de águas”<br />
nesse processo. Segundo a avaliação de um professor da universidade Católica de Angola:<br />
81 - Entrevista com o Grupo Moçambicano da dívida.<br />
82 - Entrevista com professor da universidade Politécnica em Maputo<br />
83 - Ibid.