27.05.2013 Views

80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL

80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL

80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>80</strong> ANOS DE AUTORITARISMO: UMA LEITURA POLÍTICA DO PROCESSO…<br />

405<br />

a pretensão <strong>do</strong> autor está irremediavelmente comprometida, está votada<br />

ao insucesso certo. Em tais circunstâncias não faz senti<strong>do</strong> que a petição<br />

tenha seguimento; <strong>de</strong>ixá-la avançar é <strong>de</strong>sperdício manifesto, é praticar<br />

actos judiciais em pura perda» 61 .<br />

Para o nosso autor, este <strong>de</strong>ver conferi<strong>do</strong> ao juiz <strong>de</strong> logo <strong>de</strong> começo,<br />

inaudita altera parte, <strong>de</strong>itar abaixo a acção era <strong>uma</strong> providência <strong>de</strong> protecção<br />

e benefício <strong>do</strong> autor e que não brigava com o princípio da integral tutela<br />

jurisdicional <strong>de</strong> todas as situações jurídicas subjectivas. Os advoga<strong>do</strong>s,<br />

porém, dispensavam este paternalismo e logo alertaram que o<br />

in<strong>de</strong>ferimento liminar era perigoso e que podia causar ao autor prejuízos<br />

irreparáveis, podia fazer-lhe per<strong>de</strong>r o próprio direito ou as garantias que<br />

tivesse. Mais <strong>uma</strong> vez per<strong>de</strong>ram os advoga<strong>do</strong>s e o in<strong>de</strong>ferimento liminar<br />

manteve-se firme até hoje, pese embora o princípio constitucional da<br />

tutela jurisdicional efectiva (artigo 20.º, n. 1 CRP) 62 .<br />

Não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser minucioso na análise da reforma, recordarei ainda<br />

mais quatro pontos culminantes:<br />

61 Ibi<strong>de</strong>m.<br />

62 O in<strong>de</strong>ferimento liminar manteve-se no Código <strong>de</strong> 39 (artigo 491.º), na reforma<br />

<strong>de</strong> 61 (artigo 474.º) e está previsto no actual artigo 234.º-A, embora num contexto<br />

em que a intervenção liminar <strong>do</strong> juiz queda atenuada. Eugenia Ariano Deho<br />

critica vigorosamente este po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> juiz, também previsto no Código <strong>de</strong> Processo<br />

Civil peruano <strong>de</strong> 1993, por si consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> em antinomia com o direito <strong>de</strong> acção<br />

e ao processo. «A petição judicial, se efectivamente é a acção concretizada, não<br />

<strong>de</strong>veria ser admitida ou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> o ser pelo juiz. A petição judicial <strong>de</strong>veria<br />

somente «comunicar-se», «notificar-se», ou utilizan<strong>do</strong> a espanholissíma expressão<br />

«trasladarse» ao <strong>de</strong>manda<strong>do</strong>. Que isso se faça por intermédio <strong>do</strong> juiz (…), por<br />

intermédio <strong>de</strong> «auxiliar jurisdicional» (…) ou por obra <strong>do</strong> próprio autor é <strong>uma</strong><br />

questão a <strong>de</strong>cidir. Todavia, o certo é que não <strong>de</strong>veria haver filtros para alguém<br />

po<strong>de</strong>r levar outra pessoa a juízo», «Sobre el po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>l juez <strong>de</strong> «sofocar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> su<br />

nacimiento las pretensiones fatalmente con<strong>de</strong>nadas al fracaso», Problemas Del<br />

Processo Civil, Jurista editores, Lima, 2003: <strong>80</strong>. Permita-se-me acrescentar que me<br />

parece preferível um sistema em que a citação se faça pelo próprio autor, porquanto<br />

a citação or<strong>de</strong>nada pelo juiz ou feita oficiosamente pela secretaria adapta-se melhor<br />

à i<strong>de</strong>ia que, <strong>uma</strong> vez inicia<strong>do</strong> o processo, é o juiz o <strong>do</strong>minus a quem pertence a<br />

cadência e o ritmo <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da causa. Neste senti<strong>do</strong>, Giovanni Ver<strong>de</strong>,<br />

Profili <strong>de</strong>l Processo Civile, 2, Jovene, Napoli, 2000: 3-4.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!