80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL
80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL
80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>80</strong> ANOS DE AUTORITARISMO: UMA LEITURA POLÍTICA DO PROCESSO…<br />
385<br />
A reforma <strong>de</strong> 1926 representa <strong>uma</strong> mudança <strong>de</strong> paradigma no processo<br />
civil português, a substituição <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo liberal e garantista <strong>de</strong> oitocentos,<br />
ou melhor da concepção individualista <strong>do</strong> processo, pelo mo<strong>de</strong>lo «social»<br />
e autoritário e pela concepção publicística que ainda hoje nos regem,<br />
pese embora o 25 <strong>de</strong> Abril e a Constituição <strong>de</strong>mocrática e republicana<br />
<strong>de</strong> 19768 .<br />
O «fascismo português», aliás como as outras experiências históricas<br />
similares, tem com a história prece<strong>de</strong>nte e com a sucessiva <strong>uma</strong> relação<br />
<strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> ruptura.<br />
Sem prejuízo <strong>de</strong> ser possível reconduzir, nas suas gran<strong>de</strong>s linhas, a<br />
factores e matrizes comuns as várias experiências <strong>do</strong> fascismo histórico,<br />
estes elementos <strong>de</strong> fractura e <strong>de</strong> articulação apresentam, consoante os<br />
casos, manifestações diversas.<br />
O processo civil não foge àquela relação. Ao contrário <strong>do</strong> que aconteceu<br />
em Espanha, por exemplo, em que a ditadura franquista não produziu um<br />
código <strong>de</strong> processo civil, continuan<strong>do</strong> a vigorar a Ley <strong>de</strong> Enjuiciamiento<br />
Civil <strong>de</strong> 1881, a ditadura em Portugal trouxe consigo <strong>uma</strong> solução <strong>de</strong><br />
continuida<strong>de</strong>, nesta específica área <strong>do</strong> direito.<br />
O caso português representa um exemplo <strong>do</strong> sucesso prematuro da<br />
orientação publicística, ou melhor ainda autoritária, no processo civil.<br />
Basta pensar que as correntes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e os princípios <strong>do</strong>utrinais que<br />
enformaram a nossa legislação processual, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1926, só obtiveram<br />
consagração em Itália 14 anos <strong>de</strong>pois e, no Brasil, <strong>de</strong> Getúlio Vargas,<br />
com o Código <strong>de</strong> Processo <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1939.<br />
Com o presente texto preten<strong>de</strong>-se dar a conhecer, nas suas linhas<br />
gerais, como ganhou corpo e acabou por se impor a i<strong>de</strong>ologia autoritária<br />
no processo civil português, como ela <strong>de</strong>smereceu o passa<strong>do</strong>, reagiu<br />
contra o regime <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> anterior e continuou a ser reproduzida<br />
mesmo após a queda <strong>do</strong> «Esta<strong>do</strong> Novo» e a restauração da <strong>de</strong>mocracia.<br />
8 Sobre o processo civil «social», como instrumento <strong>de</strong> justiça autoritária, cfr. o<br />
artigo anteriormente cita<strong>do</strong> <strong>de</strong> Montero Aroca.