80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL
80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL
80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>80</strong> ANOS DE AUTORITARISMO: UMA LEITURA POLÍTICA DO PROCESSO…<br />
415<br />
Subestima-se, hoje, o papel <strong>de</strong>ste Ministro na feitura <strong>do</strong> Código <strong>de</strong><br />
1939, imputan<strong>do</strong> - o em exclusivo àquele professor <strong>de</strong> Coimbra. Ora esta<br />
imputação é sobretu<strong>do</strong> verda<strong>de</strong>ira para a Reforma <strong>de</strong> 1926. Não se <strong>de</strong>ve,<br />
na verda<strong>de</strong>, esquecer que:<br />
1) o Decreto n.º 21.694, cujos princípios foram transpostos para o<br />
novo Código, é da inteira responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Ministro;<br />
2) Manuel Rodrigues nunca ce<strong>de</strong>u em questões <strong>de</strong> princípio, mesmo<br />
quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>rrota<strong>do</strong> na Comissão Revisora e conseguiu sempre levar avante<br />
as suas i<strong>de</strong>ias;<br />
3) o texto <strong>de</strong>finitivo é sobretu<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> quatro<br />
revisões, feitas por Manuel Rodrigues em íntima colaboração com Alberto<br />
<strong>do</strong>s Reis, <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> projecto saí<strong>do</strong> das sessões <strong>de</strong> <strong>uma</strong> Comissão<br />
Revisora, on<strong>de</strong> aqueles também tiveram <strong>uma</strong> parte activa e <strong>de</strong>terminante84<br />
;<br />
4) a última palavra, em termos técnicos e i<strong>de</strong>ológicos, sempre coube<br />
ao Ministro, o qual, como bom «Zé Povinho <strong>de</strong> capelo e borla» 85 , não se<br />
amedrontava facilmente.<br />
codice di procedura civile portoghese», Rivista di Diritto Processuale Civile,1936, I:<br />
277-281.<br />
84 Alberto <strong>do</strong>s Reis relata que, ten<strong>do</strong> fica<strong>do</strong> concluí<strong>do</strong>s os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sta Comissão em<br />
Agosto <strong>de</strong> 1938, nada se progrediu até Janeiro <strong>de</strong> 1939, data a partir da qual<br />
«começou o Ministro a fazer a sua revisão; e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> essa data até ao dia 31 <strong>de</strong> Maio<br />
não levantou mais a mão, liman<strong>do</strong> e retocan<strong>do</strong>, n<strong>uma</strong> ânsia febril e apaixonada <strong>de</strong><br />
fazer <strong>do</strong> Projecto <strong>uma</strong> obra, tanto quanto possível, perfeita», «O novo Código <strong>de</strong><br />
processo civil», op. cit.: 17. Foram tantas as alterações introduzidas no trabalho<br />
saí<strong>do</strong> da Comissão Revisora que até mesmo para um seu membro se tornava difícil<br />
emitir opinião perante a versão <strong>de</strong>finitiva <strong>do</strong> Código. Como nos diz Barbosa <strong>de</strong><br />
Magalhães «as alterações, quer na sistematização das matérias, quer na<br />
regulamentação <strong>de</strong> certos institutos, quer em muitos <strong>do</strong>s seus preceitos, foram tão<br />
gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pois que foi revisto (<strong>uma</strong> única vez) pela Comissão, que só com um<br />
estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>mora<strong>do</strong> po<strong>de</strong>remos formar <strong>de</strong>finitivamente a nossa opinião [sobre a<br />
versão <strong>de</strong>finitiva <strong>do</strong> Código]», «O novo Código <strong>de</strong> Processo Civil», Gazeta da<br />
Relação <strong>de</strong> Lisboa, ano 53.º (1939): 33.<br />
85 Marcello Caetano, As minhas memórias …, op. cit.: 106. O «Zé Povinho», figura<br />
típica criada por Rafael Bordalo Pinheiro, representa caricaturalmente o português<br />
médio, como John Bull personificava o inglês médio.