80 Anos de autoritarismo: uma leitura política do ... - EGACAL
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<strong>80</strong> ANOS DE AUTORITARISMO: UMA LEITURA POLÍTICA DO PROCESSO…<br />
383<br />
No artigo intitula<strong>do</strong> «Nueva vuelta a Portugal» (3.7.1935) Unamuno<br />
<strong>de</strong>fine o «Esta<strong>do</strong> Novo» como um «fascismo <strong>de</strong> cátedra»: «a ditadura <strong>do</strong><br />
núcleo que representa Oliveira Salazar é <strong>uma</strong> ditadura académico-castrense<br />
ou, se se preferir, bélico-escolástica. Ditadura <strong>de</strong> generais —ou<br />
coronéis— e <strong>de</strong> catedráticos, com <strong>uma</strong> ou outra gota eclesiástica» 2 .<br />
De entre os professores que integraram a elite restrita que controlava<br />
o po<strong>de</strong>r no «Esta<strong>do</strong> Novo», tiveram papel <strong>de</strong> relevo os da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Coimbra, particularmente os da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, a cujo corpo<br />
<strong>do</strong>cente pertencia o próprio Salazar.<br />
Dois <strong>de</strong>les —José Alberto <strong>do</strong>s Reis (1875-1955) e Manuel Rodrigues<br />
Júnior (1889-1946)— foram os principais responsáveis pelas mais profundas<br />
reformas operadas no século passa<strong>do</strong> na área da justiça,<br />
<strong>de</strong>signadamente a civil. Figuras eminentes <strong>do</strong> regime, eram ambos, mais<br />
radical embora o segun<strong>do</strong>, profundamente anti<strong>de</strong>mocráticos e antiindividualistas<br />
e partilhavam no essencial as mesmas i<strong>de</strong>ias conserva<strong>do</strong>ras,<br />
o estatismo, o corporativismo e o nacionalismo3 .<br />
José Alberto <strong>do</strong>s Reis, autor material da reforma <strong>de</strong> processo civil e<br />
comercial <strong>de</strong> 1926 e <strong>do</strong> Projecto que <strong>de</strong>u origem ao Código <strong>de</strong> Processo<br />
Civil <strong>de</strong> 1939, foi professor e amigo pessoal <strong>de</strong> Salazar com quem se<br />
correspon<strong>de</strong>u até ao fim da vida. Por sua iniciativa, Salazar foi feito<br />
<strong>do</strong>utor em direito administrativamente, sem prestação <strong>de</strong> provas académicas4<br />
. Foi presi<strong>de</strong>nte da Assembleia Nacional durante 12 anos, em três<br />
legislaturas sucessivas, <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1934 até Novembro <strong>de</strong> 1945,<br />
vogal vitalício <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1933, e membro da União<br />
Nacional, a cuja Junta Consultiva presidia por ocasião da sua morte.<br />
Manuel Rodrigues Júnior, discípulo <strong>do</strong> primeiro, foi Ministro da Justiça<br />
e <strong>do</strong>s Cultos no primeiro governo constituí<strong>do</strong> após o Movimento <strong>de</strong> 28<br />
2 Em Portugal, os artigos <strong>de</strong> Unamuno estão reproduzi<strong>do</strong>s, em apêndice, na obra <strong>de</strong><br />
João Medina, Salazar em França, Ática, Lisboa, 1977: 107 ss.<br />
3 Sobre o pensamento <strong>de</strong> José Alberto <strong>do</strong>s Reis cfr. o meu, Direito Processual Civil,<br />
As origens em José Alberto <strong>do</strong>s Reis, Quid Juris, Lisboa, 2002.<br />
4 Manuel Augusto Rodrigues (org.), A Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra no Século XX, Actas<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito (1911-1919), Vol. I, Publicações <strong>do</strong> Arquivo da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Coimbra, Coimbra, 1991: 332 e 346.