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grupo escolar solon de lucena - Centro de Educação - Universidade ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA<br />

CENTRO DE EDUCAÇÃO<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO<br />

VÍVIA DE MELO SILVA<br />

GRUPO ESCOLAR SOLON DE LUCENA: UM NOVO MODELO<br />

DE ESCOLARIZAÇÃO PRIMÁRIA PARA A CIDADE DE<br />

CAMPINA GRANDE-PB (1924-1937)<br />

João Pessoa – PB<br />

Setembro <strong>de</strong> 2009


VÍVIA DE MELO SILVA<br />

GRUPO ESCOLAR SOLON DE LUCENA: UM NOVO MODELO<br />

DE ESCOLARIZAÇÃO PRIMÁRIA PARA A CIDADE DE<br />

CAMPINA GRANDE-PB (1924-1937)<br />

Dissertação apresentada ao Programa <strong>de</strong><br />

Pós-Graduação em <strong>Educação</strong> (Stricto<br />

Sensu), do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> – CE, da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba – UFPB,<br />

como um dos requisitos para a obtenção do<br />

título <strong>de</strong> mestre em educação.<br />

Área <strong>de</strong> Concentração: <strong>Educação</strong>.<br />

Linha <strong>de</strong> Pesquisa: História da <strong>Educação</strong>.<br />

Orientador: Prof. Dr. Wojciech Andrzej<br />

Kulesza<br />

João Pessoa – PB<br />

Setembro <strong>de</strong> 2009<br />

2


S586g<br />

SILVA, Vívia <strong>de</strong> Melo.<br />

Grupo <strong>escolar</strong> Sólon <strong>de</strong> Lucena: um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>escolar</strong>ização primária para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>-<br />

Pb(1924-1937)/ Vivia <strong>de</strong> Melo Silva. – João Pessoa, 2009.<br />

140f. :il.<br />

Orientador: Wojciech Andrzej Kulesza.<br />

Dissertação (Mestrado) – UFPb - CE<br />

1. Escolas. 2. Grupo <strong>escolar</strong> – Sólon <strong>de</strong> Lucena .3. Arquitetura<br />

<strong>escolar</strong>.<br />

UFPb/BC CDU: 373 (043)<br />

3


VÍVIA DE MELO SILVA<br />

GRUPO ESCOLAR SOLON DE LUCENA: UM NOVO MODELO DE<br />

ESCOLARIZAÇÃO PRIMÁRIA PARA A CIDADE DE CAMPINA GRANDE-PB<br />

(1924-1937)<br />

APROVADA EM: 03 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2009<br />

BANCA EXAMINADORA<br />

________________________________________<br />

Prof. Dr. Wojciech Andrzej Kulesza – DME/PPGE<br />

Orientador<br />

________________________________________<br />

Prof. Dr. Antônio <strong>de</strong> Pádua Carvalho Lopes – PPGED/UFPI<br />

Examinador<br />

________________________________________<br />

Prof. Dr. Antonio Carlos Ferreira Pinheiro – DME/PPGE<br />

Examinador<br />

________________________________________<br />

Prof. Dra. Maria Lúcia da Silva Nunes – DME/PPGE<br />

Examinador - suplente<br />

João Pessoa – PB<br />

Setembro <strong>de</strong> 2009<br />

4


DEDICATÓRIA<br />

Aos meus pais, Vilma e Naldo, que muito me<br />

ajudaram para essa realização.<br />

5


AGRADECIMENTOS<br />

Primeiramente a DEUS, que é o caminho, a verda<strong>de</strong> e a vida; quem,<br />

incomparavelmente, guiou-me nesse transcurso <strong>de</strong> impasses e perspectivas.<br />

Aos meus pais, Vilma e José Dnaldo, que sempre me <strong>de</strong>ram forças nos<br />

momentos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s, contribuindo para o meu crescimento.<br />

Às minhas irmãs, Vídina e Virna, que sofreram e comemoraram comigo nos<br />

momentos turbulentos e <strong>de</strong> vitórias.<br />

Ao meu amor, pelo gran<strong>de</strong> apoio, compreensão e incentivo.<br />

A todos da minha família pela assistência durante os <strong>de</strong>safios que encarei. De<br />

modo particular, a minha avó Doranice e a Fátima pelo gran<strong>de</strong> apoio.<br />

Ao professor e orientador Wojciech Andrzej Kulesza, pela orientação,<br />

disponibilida<strong>de</strong> e por ter confiado no meu trabalho.<br />

Aos professores do curso <strong>de</strong> Mestrado do PPGE-UFPB que integram a linha<br />

<strong>de</strong> pesquisa História da <strong>Educação</strong>.<br />

Á professora Melânia Mendonça Rodrigues, orientadora do período da<br />

graduação em Pedagogia na UFCG, gran<strong>de</strong> incentivadora <strong>de</strong>ssa realização.<br />

Aos colegas da turma 28 do mestrado e doutorado pelos inesquecíveis<br />

momentos <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimentos e, <strong>de</strong> modo especial, a Daniella<br />

Suassuna companheira nas horas <strong>de</strong> aflição e conquistas.<br />

Ao <strong>grupo</strong> <strong>de</strong> estudo coor<strong>de</strong>nado pelo prof. Antonio Carlos F. Pinheiro, pelo<br />

espaço <strong>de</strong> importantes discussões sobre a educação <strong>escolar</strong> na República.<br />

Aos professores, Antônio <strong>de</strong> Pádua Carvalho Lopes, Antonio Carlos Ferreira<br />

Pinheiro e Maria Lúcia da Silva Nunes, por aceitarem o nosso convite para<br />

integrar a banca avaliadora <strong>de</strong>sse trabalho, bem como pelas relevantes<br />

observações no momento da qualificação.<br />

Á coor<strong>de</strong>nação e todos os funcionários do PPGE/UFPB, pela atenção,<br />

compreensão e atendimento prestado durante esse curso.<br />

6


Aos funcionários dos arquivos, on<strong>de</strong> estive coletando dados, pela recepção e<br />

pelo auxílio sempre fornecido.<br />

E a TODOS que <strong>de</strong> algum modo participaram, incentivaram e acreditaram<br />

nessa realização.<br />

7


RESUMO<br />

O presente estudo se inscreve no campo da História da <strong>Educação</strong>, mais<br />

precisamente nas pesquisas sobre instituições <strong>escolar</strong>es. Tem como objetivo<br />

principal colaborar com a constituição <strong>de</strong> um conhecimento sobre a história do<br />

primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, o Grupo Escolar Solon<br />

<strong>de</strong> Lucena (GESL). Para tal estudo, trabalhamos com o recorte temporal que<br />

vai 1924 até 1937. O primeiro ano por tratar-se da fundação da instituição em<br />

estudo e, o segundo, por ser o ano que, em Campina Gran<strong>de</strong>, é fundado o<br />

segundo <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Em âmbito específico, nosso estudo procurou discutir a<br />

implantação, arquitetura e as festas <strong>escolar</strong>es do GESL. Os principais<br />

procedimentos metodológicos adotados foram: análise bibliográfica e análise<br />

documental. Como fontes, utilizamos principalmente jornais, revistas,<br />

mensagens <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado, almanaque da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, fotos e publicações <strong>de</strong> memorialistas. A pesquisa se <strong>de</strong>senvolveu a<br />

partir dos referenciais propugnados principalmente por Bencostta (2005),<br />

Chartier (1990), Certeau (2008), Ginzburg (1989), Faria Filho (2000),<br />

Magalhães (2004), Pinheiro (2002), Souza (1998), entre outros. Dentre as<br />

várias observações, nesse estudo, pu<strong>de</strong>mos concluir que o referido <strong>grupo</strong><br />

<strong>escolar</strong> foi implantado em 1924, último ano do governo do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado<br />

Solon <strong>de</strong> Lucena. Sobre a arquitetura do prédio do GESL verificamos que<br />

possui qualida<strong>de</strong>s estéticas associadas ao ecletismo, <strong>de</strong>stacando-se como<br />

uma pomposa construção em Campina Gran<strong>de</strong>. Quanto às festas <strong>escolar</strong>es,<br />

percebemos que eram imbuídas <strong>de</strong> significados e eram práticas que<br />

promoviam a abertura do referido <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> para a cida<strong>de</strong> como um todo.<br />

Palavras-chave: Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena; arquitetura <strong>escolar</strong>, festas<br />

<strong>escolar</strong>es e Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

8


RÉSUMÉ<br />

Présente étu<strong>de</strong> il s'inscrit dans le champ <strong>de</strong> l'Histoire <strong>de</strong> l'Éducation, plus<br />

précisément dans les recherches sur <strong>de</strong>s institutions scolaires. Il a comme<br />

objectif principal collaborer avec la constitution d'une connaissance sur l'histoire<br />

<strong>de</strong> premier groupe scolaire <strong>de</strong> la ville <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, Grupo Scolaire<br />

Solon <strong>de</strong> Lucena (GESL). Pour cela étu<strong>de</strong>, nous travaillons avec le découpage<br />

séculier qui va 1924 jusqu'en 1937. Première année s'agir <strong>de</strong> la fondation <strong>de</strong><br />

l'institution dans étu<strong>de</strong> et, comme, être l'année qui, dans Campina Gran<strong>de</strong>, est<br />

établie second groupe écolier. Dans contexte spécifique, notre étu<strong>de</strong> il a<br />

cherché à discuter l'implantation, l'architecture et les fêtes scolaires <strong>de</strong> GESL.<br />

Les principales procédures méthodologiques adoptées ont été : analyse<br />

bibliographique et analyse documentaire. Comme <strong>de</strong>s sources, nous utilisons<br />

principalement <strong>de</strong>s journaux, revues, messages du prési<strong>de</strong>nt d'état, almanach<br />

<strong>de</strong> la ville <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, photos et publications <strong>de</strong> memorialistes. La<br />

recherche s'est développée à partir <strong>de</strong>s référentiels préconisés principalement<br />

par Bencostta (2005), Chartier (1990), Certeau (2008), Ginzburg (1989), Faria<br />

Filho (2000), Magalhães (2004), Pinheiro (2002), Souza (1998), entre autres.<br />

Parmi les plusieurs commentaires, dans cette étu<strong>de</strong>, nous avons pu conclure<br />

que rapporté groupe écolier a été implanté en 1924, <strong>de</strong>rnière année du<br />

gouvernement du prési<strong>de</strong>nt d'état Solon <strong>de</strong> Lucena. Sur l'architecture <strong>de</strong><br />

l'immeuble <strong>de</strong> GESL nous vérifions qui possè<strong>de</strong> <strong>de</strong>s qualités esthétiques<br />

associés à l'éclectisme, en se détachant comme une pompeuse construction<br />

dans Campina Gran<strong>de</strong>. Combien aux fêtes scolaires, nous percevons elles<br />

qu'étaient doués imbuídas <strong>de</strong> significations et étaient <strong>de</strong>s pratiques qui<br />

promouvaient l'ouverture du mentionné groupe scolaire pour la ville dans<br />

l'ensemble.<br />

Palavras-chave: Groupe Scolaire Solon <strong>de</strong> Lucena ; architecture scolaire ;<br />

fêtes scolaires et Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

9


LISTA DE FOTOGRAFIAS<br />

Foto 1 – Solon Barbosa <strong>de</strong> Lucena..................................................................47<br />

Foto 2 - Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena..........................................................63<br />

Foto 3 - Comércio Velho <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (Antigo Mercado Público)........64<br />

Foto 4 – Fachada Grupo Escolar Tomás Min<strong>de</strong>lo............................................68<br />

Foto 5 - Fachada Grupo Escolar Isabel Maria das Neves................................71<br />

Foto 6 - Fachada Grupo Escolar Solón <strong>de</strong> Lucena...........................................73<br />

Foto 7 – Vestíbulo.............................................................................................74<br />

Foto 8 - Aspecto do frontão triangular...............................................................74<br />

Foto 9 - Elemento <strong>de</strong>corativo da parte superior do vestíbulo...........................75<br />

Foto 10 - Detalhes das janelas laterais ............................................................75<br />

Foto 11 - Elemento <strong>de</strong>corativo na platibanda...................................................75<br />

Foto 12 - Elemento <strong>de</strong>corativo superior............................................................75<br />

Foto 13 - Fachada Grupo Escolar Professor Batista Leite................................76<br />

Foto 14 - Planta baixa do edifício do GESL......................................................82<br />

Foto 15 - Missa Campal em ação <strong>de</strong> graça à inauguração do GESL...............91<br />

Foto 16 - Evoluções dos alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu<br />

Parahybano........................................................................................................93<br />

Foto 17 - Alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano..................93<br />

Foto 18 - População <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> prestigiando a inauguração do<br />

GESL.................................................................................................................95<br />

Foto 19 - A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> em festa na inauguração do GESL...96<br />

10


LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 1 - Distribuição dos <strong>de</strong>z primeiros <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es do estado da<br />

Paraíba conforme or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> criação..................................................................51<br />

11


SUMÁRIO<br />

RESUMO...........................................................................................................08<br />

RÉSUMÉ...........................................................................................................09<br />

LISTA DE FOTOGRAFIAS...............................................................................10<br />

LISTA DE TABELAS.........................................................................................11<br />

1- INTRODUÇÃO..............................................................................................14<br />

1.1 – Traços <strong>de</strong> uma trajetória: da experiência na monitoria em História da<br />

<strong>Educação</strong> ao mestrado nesse campo <strong>de</strong> pesquisa...........................................14<br />

1.2 – Anunciação da problemática e objetivos da pesquisa..............................18<br />

1.3 – Fontes e procedimentos metodológicos...................................................21<br />

1.4– Campo da História no qual se insere essa pesquisa................................24<br />

CAPÍTULO 2 - GRUPO ESCOLAR: UM NOVO MODELO DE ESCOLA<br />

PRIMÁRIA.........................................................................................................29<br />

2.1 – O i<strong>de</strong>ário educacional republicano e a implantação <strong>de</strong> uma nova escola<br />

primária no Brasil: os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.............................................................29<br />

2.2 – A regulamentação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba: o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> número<br />

873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917......................................................................37<br />

2.2.1 - A regulamentação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na Paraíba..............40<br />

2.2.2 - Surgem novos atores para a educação <strong>escolar</strong>: director, porteiro e<br />

servente.............................................................................................................44<br />

2.3 – O governo Solon <strong>de</strong> Lucena e a implantação do Grupo Escolar <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong>...............................................................................................47<br />

CAPÍTULO 3 – URBANIZAÇÃO E ARQUITETURA ESCOLAR, ELEMENTOS<br />

DE MODERNIZAÇÃO: O CASO DO GRUPO ESCOLAR SOLON DE<br />

LUCENA..............................;.............................................................................56<br />

3.1 – A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />

Lucena...............................................................................................................56<br />

12


3.2 – A breve construção do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong>...............................................................................................................62<br />

3.3 – Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba: um projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização para as<br />

cida<strong>de</strong>s...............................................................................................................66<br />

3.4 – Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena: espaço <strong>de</strong> educar e civilizar as<br />

crianças?............................................................................................................78<br />

CAPÍTULO 4 – INAUGURAÇÃO, COMEMORAÇÕES E EXPOSIÇÕES<br />

ESCOLARES: MOMENTOS DE FESTA DO GRUPO ESCOLAR SOLON DE<br />

LUCENA PARA A SOCIEDADE CAMPINENSE..............................................86<br />

4.1 – Campina Gran<strong>de</strong> em festa: a inauguração do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />

Lucena...............................................................................................................88<br />

4.1.1 - O discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel na solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração<br />

do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>................................................................................................98<br />

4.2 – Datas comemorativas no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena....................102<br />

4.3 – Festa <strong>de</strong> inauguração do cinema educativo do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />

Lucena.............................................................................................................106<br />

4.4 – Exposições <strong>escolar</strong>es: momentos <strong>de</strong> divulgar trabalhos <strong>escolar</strong>es à<br />

comunida<strong>de</strong> campinense................................................................................109<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................113<br />

REFERÊNCIAS...............................................................................................117<br />

ANEXOS.........................................................................................................126<br />

13


1 - INTRODUÇÃO<br />

1.1 – Traços <strong>de</strong> uma trajetória: da experiência na monitoria em História da<br />

<strong>Educação</strong> ao mestrado nesse campo <strong>de</strong> pesquisa<br />

A presente investigação originou-se da minha participação no Programa<br />

<strong>de</strong> Monitoria 1 do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>s da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong> (UFCG). Nesse programa, como estudante do curso <strong>de</strong> Pedagogia,<br />

ingressei, via processo <strong>de</strong> seleção, como monitora das disciplinas <strong>de</strong> História<br />

da <strong>Educação</strong> I e História da <strong>Educação</strong> II, nas quais, durante três anos,<br />

acompanhei seis turmas <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> Pedagogia vinculados ao Programa<br />

Estudante Convênio Re<strong>de</strong> Pública (PEC-RP) 2 .<br />

A minha função como monitora, fundamentalmente, consistia em<br />

acompanhar e auxiliar os alunos matriculados nas disciplinas já citadas. Esse<br />

acompanhamento e auxílio eram voltados às leituras propostas pela professora<br />

que ministrava a disciplina, como também, às ativida<strong>de</strong>s sugeridas no <strong>de</strong>correr<br />

do curso <strong>de</strong> História da <strong>Educação</strong> I ou História da <strong>Educação</strong> II. Além disso,<br />

posso <strong>de</strong>stacar que cabia ao monitor sugerir leituras complementares aos<br />

alunos, no sentido <strong>de</strong> facilitar a compreensão dos mesmos sobre <strong>de</strong>terminada<br />

temática, bem como, planejar a disciplina junto ao professor orientador.<br />

É mister <strong>de</strong>stacar, também, que era atribuído ao monitor participar <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investigação junto ao professor orientador. Sendo assim,<br />

ingressei nas discussões <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> pesquisa vinculado ao Programa <strong>de</strong><br />

Licenciatura (PROLICEN) da UFCG, coor<strong>de</strong>nado pela mesma professora que<br />

me orientava na monitoria. O referido projeto, apesar <strong>de</strong> não possuir como<br />

objetivo central um estudo acerca da História da <strong>Educação</strong>, percorria caminhos<br />

1 O Programa <strong>de</strong> Monitoria da UFCG, <strong>de</strong> acordo com a resolução <strong>de</strong> n° 02/1996, tem como<br />

objetivo <strong>de</strong>spertar nos alunos o interesse pela carreira docente, promover a cooperação<br />

acadêmica entre discentes e docentes e minorar problemas crônicos <strong>de</strong> repetência, evasão e<br />

falta <strong>de</strong> motivação comuns em muitas disciplinas.<br />

2 Instituído em 1997, o Programa Estudante Re<strong>de</strong> Pública (PEC-RP) trata-se <strong>de</strong> um convênio<br />

firmado entre Prefeituras e Universida<strong>de</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> subsidiar a formação <strong>de</strong><br />

professores que estão há muito tempo em salas <strong>de</strong> aulas sem formação superior. Neste<br />

Programa, ingressam nos cursos <strong>de</strong> licenciatura, através <strong>de</strong> vestibular específico, professores<br />

em efetivo exercício do magistério nas re<strong>de</strong>s municipais e estaduais <strong>de</strong> ensino.<br />

14


ligados a este campo <strong>de</strong> investigação, especificamente sobre a História da<br />

<strong>Educação</strong> brasileira. Portanto, tal ativida<strong>de</strong> acadêmica possibilitou-me<br />

aprimorar teoricamente minha experiência <strong>de</strong> estudo na área e a <strong>de</strong>spertar<br />

meu interesse para a pesquisa em História da <strong>Educação</strong>.<br />

Com esses atributos direcionados ao monitor, é evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong><br />

do mesmo possuir uma consi<strong>de</strong>rável proprieda<strong>de</strong> dos temas trabalhados na<br />

disciplina monitorada. Em outros termos, é fundamental que o monitor tenha<br />

uma maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura e compreensão da área em que irá atuar<br />

enquanto tal, para melhor acompanhar e auxiliar os estudantes. Então, a partir<br />

<strong>de</strong>sse trabalho <strong>de</strong> leituras, <strong>de</strong>spertei, cada vez mais, para estudar a História da<br />

<strong>Educação</strong>.<br />

Quero <strong>de</strong>stacar que no transcorrer <strong>de</strong>ssa experiência <strong>de</strong> três anos <strong>de</strong><br />

monitoria trabalhei com a perspectiva do ensino <strong>de</strong> História da <strong>Educação</strong> que<br />

rompe com os enfoques tradicionais <strong>de</strong> seqüenciação cronológico-linear e com<br />

a dicotomia entre os âmbitos internacional e nacional. A experiência <strong>de</strong> ensino<br />

<strong>de</strong> que fiz parte, pautava-se em uma abordagem integradora e transversal dos<br />

conteúdos, na qual buscávamos refletir criticamente sobre a produção<br />

historiográfica que era selecionada para a disciplina. Dessa forma, tive a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorar a minha postura <strong>de</strong> estudiosa da História da<br />

<strong>Educação</strong>.<br />

Com relação ao foco do estudo trabalhado em História da <strong>Educação</strong> I e<br />

História da <strong>Educação</strong> II, a escola pública foi <strong>de</strong>finida como tema central. Então,<br />

<strong>de</strong>ssa temática, em História da <strong>Educação</strong> I acompanhei estudos sobre a<br />

gênese e a expansão da escola pública, especificamente na Paraíba. Nesse<br />

momento, comecei a vislumbrar um interessante e fértil campo <strong>de</strong> investigação<br />

para enveredar. Já em História da <strong>Educação</strong> II a ênfase recaiu no magistério<br />

da educação infantil e do ensino fundamental, focalizando o estudo sobre o<br />

trabalho docente na História Educacional.<br />

Como meu interesse <strong>de</strong> pesquisa surge exatamente <strong>de</strong>ssa experiência<br />

<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>senvolvida no interior da disciplina <strong>de</strong> Historia da <strong>Educação</strong> I, qual<br />

seja, sobre a investigação da gênese e a expansão da escola pública,<br />

15


especificamente na Paraíba, abro parênteses para <strong>de</strong>stacar, <strong>de</strong> forma breve,<br />

tal experiência.<br />

A investigação <strong>de</strong>sse aspecto no âmbito da disciplina <strong>de</strong> História da<br />

<strong>Educação</strong> I orientou-se, primeiramente, para a busca <strong>de</strong> informações<br />

referentes à primeira escola instalada nos municípios em que as estudantes<br />

matriculadas na disciplina trabalhavam como professoras ou residiam. No<br />

levantamento inicial realizado por elas, pretendia-se aquilatar o cumprimento,<br />

pelos po<strong>de</strong>res públicos municipais, do papel social do Estado, expresso, aqui,<br />

na garantia do direito à educação para todos os munícipes. Nos casos em que<br />

a instalação da primeira escola tivesse cabido à iniciativa particular, pretendia-<br />

se, na seqüência, direcionar a coleta <strong>de</strong> dados para a instalação da primeira<br />

escola pública nesses municípios. Nesse estudo foi observado que a primeira<br />

escola criada nas primeiras décadas do século XX, na gran<strong>de</strong> maioria dos<br />

municípios investigados, foi particular, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma iniciativa das famílias<br />

ricas ou da própria professora. Além disso, foi <strong>de</strong>stacado que a totalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssas escolas, até a década <strong>de</strong> 1920, funcionava em casas ou outras<br />

instalações improvisadas e que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es foram o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

organização predominantemente adotado pelas escolas públicas, a partir da<br />

década <strong>de</strong> 1920 nos municípios estudados 3 .<br />

No percurso <strong>de</strong>ssa experiência, tive também a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

inscrever-me em eventos científicos na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação oral.<br />

Nesses eventos, tais como: II Colóquio Internacional Políticas e Práticas<br />

Curriculares: Impasses, Tendência e Perspectivas; IV Encontro da Anpae-PB;<br />

A Conferência Internacional, <strong>Educação</strong>, Globalização e Cidadania: novas<br />

perspectivas da Sociologia, 18º Encontro <strong>de</strong> Pesquisa Educacional Norte e<br />

Nor<strong>de</strong>ste (EPENN) entre outros, pu<strong>de</strong> expor o que vinha produzindo, como<br />

também, foi um espaço propício para observar como a temática que me<br />

interessa estava sendo abordada por diferentes pesquisadores, e a partir<br />

<strong>de</strong>ssas abordagens melhorar o meu foco <strong>de</strong> estudo.<br />

Então, durante todas essas experiências frente à monitoria <strong>de</strong> História<br />

da <strong>Educação</strong>, passei a interessar-me pelo estudo da História da <strong>Educação</strong> do<br />

3 Aroeiras, Assunção, Boqueirão, Esperança, Itatuba, Fagun<strong>de</strong>s entre outros.<br />

16


município <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s-PB. O motivo da escolha <strong>de</strong>ste município <strong>de</strong>veu-se à<br />

carência <strong>de</strong> estudos que tratassem exclusivamente <strong>de</strong>ssa História em<br />

Fagun<strong>de</strong>s, minha cida<strong>de</strong> natal.<br />

Concluindo no ano <strong>de</strong> 2007 o curso <strong>de</strong> Pedagogia e, consequentemente,<br />

a participação no Programa <strong>de</strong> Monitoria, tive, <strong>de</strong> fato, a convicção <strong>de</strong> querer<br />

ingressar em um Mestrado na área da História da <strong>Educação</strong>. Então, iniciei a<br />

organizar minhas idéias e formular meu projeto, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a História<br />

da <strong>Educação</strong> do município <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s-PB.<br />

Ao ingressar no Mestrado (2008), com o projeto <strong>de</strong> pesquisar a história<br />

do primeiro Grupo Escolar <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s, iniciei o processo <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados,<br />

já que dispomos <strong>de</strong> um tempo limitado para concluir nossas dissertações e<br />

porque, na maioria das pesquisas em História da <strong>Educação</strong>, as fontes<br />

encontram-se fragmentadas, limitadas e <strong>de</strong>sorganizadas, ou muitas vezes,<br />

perdidas. Portanto, faz-se necessário tempo e disponibilida<strong>de</strong> para coletar um<br />

número suficiente para a produção histórico-educacional.<br />

Então, com o levantamento dos dados, <strong>de</strong>parei-me com a precarieda<strong>de</strong><br />

e quase inexistência <strong>de</strong> fontes sobre o Grupo Escolar que tomei como objeto<br />

<strong>de</strong> investigação. Visitando o arquivo da escola, on<strong>de</strong> funcionou o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />

focalizado, os arquivos da Prefeitura e da Câmara <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s, do Estado,<br />

como a Fundação Espaço Cultural (FUNESC) e o Instituto Histórico e<br />

Geográfico da Paraíba (IHGP), quase nada foi encontrado, durante cinco<br />

meses, sobre o Grupo Escolar <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s.<br />

Envolvida, portanto, pelos sentimentos <strong>de</strong> angústia e preocupação,<br />

resolvi junto ao orientador focalizar uma outra instituição <strong>escolar</strong>, que<br />

aten<strong>de</strong>sse ao meu objetivo primitivo da pesquisa, qual seja a investigação<br />

sobre a história <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. O escolhido, agora, foi o primeiro <strong>grupo</strong><br />

<strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>smembrado o município<br />

<strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s, o <strong>de</strong>nominado Solon <strong>de</strong> Lucena.<br />

O motivo da escolha por esse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong>veu-se a duas principais<br />

questões: a primeira, por i<strong>de</strong>ntificar na historiografia educacional paraibana<br />

nenhum estudo que tratasse, especificamente, <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. A<br />

segunda, porque durante as visitas à maioria dos arquivos mencionados<br />

17


anteriormente, encontrei fontes para uma investigação histórica <strong>de</strong>ssa<br />

instituição, o que me <strong>de</strong>spertou curiosida<strong>de</strong> e interesse.<br />

1.2 – Anunciação da problemática e objetivos da pesquisa<br />

Na História da <strong>Educação</strong> brasileira, estudos sobre instituições <strong>escolar</strong>es<br />

vêm ganhando espaço como importante prática para recuperar questões<br />

inerentes à compreensão do processo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização no Brasil. Dentre esses<br />

estudos, <strong>de</strong>stacam-se as pesquisas sobre <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.<br />

Sanfelice (2007) afirma que toda instituição <strong>escolar</strong> merece ser objeto <strong>de</strong><br />

investigação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do grau <strong>de</strong> relevância na socieda<strong>de</strong>, uma vez que,<br />

para o autor, embora inserida em um contexto maior, cada instituição<br />

apresenta sua história e respon<strong>de</strong> aos múltiplos <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> forma<br />

singular.<br />

Portanto, compartilhamos com esse autor da compreensão <strong>de</strong> que o<br />

estudo <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada instituição permite <strong>de</strong>svendar parte <strong>de</strong> sua<br />

singularida<strong>de</strong>, assim como, aspectos inexplorados na História da <strong>Educação</strong>.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos importante <strong>de</strong>stacar que estamos compreen<strong>de</strong>ndo que<br />

realizar um estudo na área da História da <strong>Educação</strong> pressupõe <strong>de</strong>svincular-se<br />

<strong>de</strong> abordagens historiográficas que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a história dos “vencedores”, dos<br />

“heróis”, das “verda<strong>de</strong>s” e, sobretudo, <strong>de</strong> uma história global/total.<br />

Nóvoa ao apresentar a obra História da Pedagogia <strong>de</strong> Franco Cambi<br />

(1999), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> os estudos da História da <strong>Educação</strong>, salientando que:<br />

18<br />

A História da <strong>Educação</strong> fornece aos educadores um conhecimento<br />

do passado coletivo da profissão, que serve para formar a sua<br />

cultura profissional. Possuir um conhecimento histórico não implica<br />

ter uma ação mais eficaz, mas estimula uma atitu<strong>de</strong> crítica e<br />

reflexiva.<br />

A História da <strong>Educação</strong> amplia a memória e a experiência, o leque<br />

<strong>de</strong> escolhas e <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas, o que permite um<br />

alargamento do repertório dos educadores e lhes fornece uma visão<br />

da extrema diversida<strong>de</strong> das instituições <strong>escolar</strong>es no passado. Para<br />

além disso, revela que a educação não é um ‘<strong>de</strong>stino’, mas uma<br />

construção social, o que renova o sentido da ação quotidiana <strong>de</strong><br />

cada educador (NÓVOA, 1999, p. 13).


Desse modo, é perceptível que o estudo da História da <strong>Educação</strong><br />

contribui para reconstituir uma historicida<strong>de</strong> do processo educativo, e em<br />

particular, da educação <strong>escolar</strong>, tendo em vista o contexto no qual se insere.<br />

Saviani (2007), tratando das instituições educativas, sintetiza o conceito<br />

da seguinte forma:<br />

19<br />

[...] são, portanto, necessariamente sociais, tanto na origem, já que<br />

<strong>de</strong>terminadas pelas necessida<strong>de</strong>s postas pelas relações entre os<br />

homens como no seu próprio funcionamento, uma vez que se<br />

constituem como um conjunto <strong>de</strong> agentes que travam relações entre<br />

si e com a socieda<strong>de</strong> à qual servem (SAVIANI, 2007, p. 5).<br />

A<strong>de</strong>mais, o mesmo autor explicita que estudar a história <strong>de</strong> uma<br />

instituição <strong>escolar</strong> pressupõe reconstruí-la historicamente, razão por que o<br />

pesquisador não constrói seu objeto enquanto tal, pois “o que lhe cabe<br />

construir é o conhecimento do objeto e não o próprio objeto. E construir o<br />

conhecimento do objeto não é outra coisa senão reconstruí-lo no plano do<br />

pensamento” (SAVIANI, 2007, p.15).<br />

Para Magalhães (2004), a investigação <strong>de</strong> uma instituição educativa<br />

configura-se como objeto “epistêmico”. Esta configuração elaborada pelo<br />

referido autor se estrutura, conforme o mesmo, na historiografia da escola e da<br />

<strong>escolar</strong>ização, na instituição educativa como totalida<strong>de</strong> em organização e <strong>de</strong>vir,<br />

na análise institucional como matriz conceitual interdisciplinar e na pedagogia<br />

institucional como mo<strong>de</strong>lo científico e orgânico-funcional.<br />

O autor antes citado reforça que o estudo <strong>de</strong> uma instituição educativa<br />

[...] diz respeito à cultura material e simbólica, quer dizer, às<br />

condições materiais e <strong>de</strong> funcionamento, à gramática <strong>escolar</strong> e à<br />

<strong>escolar</strong>ização, e refere-se à representação, à apropriação das<br />

aprendizagens e à qualificação e reconhecimento da mais-valia<br />

educacional pelos <strong>grupo</strong>s, indivíduos e organizações.<br />

(MAGALHÃES, 2004, p.112)<br />

É pertinente explicitar, segundo o autor citado, que é possível distinguir<br />

duas orientações para os que trabalham com a história <strong>de</strong> instituições<br />

<strong>escolar</strong>es:<br />

A primeira <strong>de</strong>ssas abordagens é uma resposta à interpelação sobre<br />

o estatuto da escola no quadro mais amplo da educação e da<br />

instrução.


20<br />

[...]A segunda linha <strong>de</strong> orientação científica visa à construção da<br />

escola como um objeto historiográfico específico. (MAGALHÃES,<br />

2004, P.120)<br />

Portanto, nossa investigação toma essa segunda orientação proposta<br />

por Magalhães para <strong>de</strong>senvolver esta pesquisa.<br />

Ainda consi<strong>de</strong>ramos relevante <strong>de</strong>stacar que, segundo Pinheiro (2009), o<br />

estudos das instituições <strong>escolar</strong>es po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidos, pelo menos, em<br />

duas perspectivas, sendo a primeira a história <strong>de</strong> uma única instituição e, a<br />

segunda, <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> instituições. Sendo assim, por focalizarmos um<br />

único <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> informamos que estamos enveredando na primeira<br />

perspectiva.<br />

Como ponto <strong>de</strong> partida para a discussão da história dos <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es, os estudos <strong>de</strong> Pinheiro (2002) <strong>de</strong>monstram que estes constituíam,<br />

na História da <strong>Educação</strong> brasileira, um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização <strong>escolar</strong>,<br />

no qual o objetivo inicial consistia em reunir em um suntuoso prédio várias<br />

ca<strong>de</strong>iras isoladas, sob uma superintendência administrativa e técnica.<br />

Acerca dos estudos sobre os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, Souza e Faria Filho<br />

(2006) explicitam que emergiram na década <strong>de</strong> 1990, como movimento<br />

renovador no campo da História da <strong>Educação</strong>:<br />

A história dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es emerge nos anos 90 como fruto do<br />

movimento <strong>de</strong> renovação dos estudos em história da educação e na<br />

confluência <strong>de</strong> duas temáticas <strong>de</strong> investigação para os quais se<br />

voltaram os historiadores: a história das instituições educativas e o<br />

interesse pela cultura <strong>escolar</strong>. Po<strong>de</strong>-se dizer que essa história<br />

significou uma re<strong>de</strong>scoberta do ensino primário investigado com<br />

base em novas abordagens e interpelações epistemológicas e<br />

explorado numa multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temas e objetos. (SOUZA; FARIA<br />

FILHO, 2006, p. 22)<br />

Relativo às perguntas norteadoras <strong>de</strong>ssa investigação, ressaltamos que<br />

as principais foram: quando foi implantado o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

em Campina Gran<strong>de</strong>? Qual a motivação para esta implantação? O que<br />

representou a arquitetura do prédio <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> para a referida cida<strong>de</strong>? Até<br />

que ponto a construção do mesmo <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> coincidiu com o avanço<br />

urbano <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>? Como foi organizado o espaço interno <strong>de</strong>ssa


instituição? Que representativida<strong>de</strong> possuía as festas <strong>escolar</strong>es da referida<br />

instituição? Qual o sentido das festivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>?<br />

A partir <strong>de</strong> tais reflexões, a presente dissertação tem como objetivo geral<br />

colaborar com a constituição <strong>de</strong> um conhecimento sobre a história do primeiro<br />

<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />

Lucena (GESL). Para tal estudo, escolhemos trabalhar com o recorte temporal<br />

que vai 1924 até 1937. O primeiro ano por tratar-se da fundação da instituição<br />

em estudo e, o segundo, por ser o ano que, em Campina Gran<strong>de</strong>, é fundado o<br />

segundo <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> 4 . Portanto, escolhemos investigar o GESL enquanto<br />

único novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária em Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

De modo específico, essa pesquisa tem os seguintes objetivos:<br />

a) Investigar historicamente aspectos do processo <strong>de</strong> implantação do<br />

GESL, atentando para a instauração <strong>de</strong>ssa nova organização <strong>escolar</strong> no<br />

Brasil e a regulamentação do mesmo mo<strong>de</strong>lo no estado da Paraíba;<br />

b) Analisar aspectos da arquitetura <strong>escolar</strong> do GESL e relacioná-los com o<br />

processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e urbanização da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, assim como observar o investimento arquitetônico que esse<br />

<strong>grupo</strong> teve, tendo em vista os <strong>de</strong>mais espaços <strong>de</strong>stinados a serem<br />

<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba;<br />

c) Discutir “práticas simbólicas” 5 como comemorações, exposições e<br />

festas, <strong>de</strong> um modo geral, instauradas no/pelo GESL.<br />

1.3 – Fontes e procedimentos metodológicos<br />

O levantamento das fontes <strong>de</strong> nossa pesquisa foi realizado em alguns<br />

arquivos situados em João Pessoa e em Campina Gran<strong>de</strong>, já que a intenção<br />

consistiu em coletar o maior número <strong>de</strong> fontes possíveis para propiciar um<br />

4 O Grupo Escolar Clementino Procópio, cuja construção acabou em 1937. Neste ano é<br />

mencionado no jornal “A voz da Borborema” que no distrito <strong>de</strong> Galante, pertencente à Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, também foi construído um outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />

5 Terminologia citada por Souza (1998).<br />

21


melhor trabalho, no sentido <strong>de</strong> ter a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> selecionar os documentos<br />

mais a<strong>de</strong>quados ao nosso objetivo <strong>de</strong> investigação.<br />

Na capital João Pessoa, os documentos foram pesquisados junto aos<br />

seguintes arquivos: Arquivo Histórico da Fundação Espaço Cultural (FUNESC);<br />

Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba (IHGP); Instituto do Patrimônio<br />

Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP) e no Setor das Escolas<br />

Extintas da Inspetoria Técnica <strong>de</strong> Ensino, local em que funcionou o antigo<br />

Grupo Escolar Santo Antônio.<br />

Paralelo a essa pesquisa, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> nosso locus <strong>de</strong><br />

investigação compreen<strong>de</strong>u os locais: Arquivo das Escolas Extintas da 3ª<br />

Região <strong>de</strong> Ensino; Arquivo do Museu Histórico <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e Arquivo<br />

da Biblioteca Pública. A<strong>de</strong>mais, realizamos uma pesquisa no arquivo da Escola<br />

Estadual Solon <strong>de</strong> Lucena (incorporação do antigo GESL). Visitamos também,<br />

nessa busca <strong>de</strong> fontes, o prédio do antigo <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em questão, on<strong>de</strong><br />

funciona hoje o setor administrativo da Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba e o<br />

Museu <strong>de</strong> Arte Assis Chateaubriand.<br />

Realizado o itinerário antes relatado, obtivemos as seguintes fontes:<br />

jornais <strong>de</strong> circulação no Estado da Paraíba, como A União e outros <strong>de</strong><br />

produção e publicação em Campina Gran<strong>de</strong>, a saber: O Século e A Voz da<br />

Borborema; Revistas: Era Nova e Tudo, sendo a primeira <strong>de</strong> produção<br />

estadual e a segunda, suplemento dominical do jornal Diário da Borborema <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong>; almanaque da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>; mensagens <strong>de</strong><br />

presi<strong>de</strong>ntes do Estado, fotos e publicações <strong>de</strong> memorialistas locais.<br />

Além <strong>de</strong>sses documentos, também subsidiou nossa pesquisa produções<br />

monográficas <strong>de</strong> temática afim.<br />

Para nosso trabalho com as fontes, baseamo-nos no conceito <strong>de</strong><br />

“documento/monumento” elaborado por Jacques Le Goff. Para este historiador<br />

francês, os documentos e os monumentos são materiais da memória coletiva e<br />

da história. O primeiro, conforme Le Goff (1996, p. 535) “escolha do<br />

historiador”, e o segundo, o monumento, “é tudo aquilo que po<strong>de</strong> evocar o<br />

passado, perpetuar a recordação [...]”. As fontes coletadas também foram<br />

consi<strong>de</strong>radas em nossa pesquisa como “indícios” (GINZBURG, 1989), já que<br />

22


epresentam um sinal, uma pista, uma expressão, uma versão do que foi a<br />

realida<strong>de</strong> do GESL.<br />

Nesse sentido, estamos compartilhando com o “paradigma indiciário”<br />

formulado por Ginzburg, que o caracteriza como a “[...] capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, a partir<br />

<strong>de</strong> dados aparentemente negligenciáveis, remontar a uma realida<strong>de</strong> complexa<br />

não experimentável diretamente [...]” (GINZBURG, 1989, p.152).<br />

Também estamos enten<strong>de</strong>ndo os documentos como elaborações do<br />

passado não direcionadas ao historiador, mas para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s<br />

específicas do momento no qual foram produzidos. Compreen<strong>de</strong>mos, portanto,<br />

que os documentos estão marcados pelo seu tempo e são utilizados por nós<br />

historiadores para contribuir com a formulação <strong>de</strong> conhecimentos sobre um<br />

dado objeto, no nosso caso, do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong>.<br />

É crucial também evi<strong>de</strong>nciar que compartilhamos com a noção <strong>de</strong> que<br />

todo documento selecionado para o trabalho do historiador é composto <strong>de</strong><br />

certo grau <strong>de</strong> parcialida<strong>de</strong>. Em outras palavras, “documento algum é neutro, e<br />

sempre carrega consigo a opinião da pessoa e/ou do órgão que o escreveu [ou<br />

o formulou]” (BACELLAR, 2005, p.63).<br />

Frisamos, ainda, que no <strong>de</strong>correr da dissertação procuramos conservar<br />

a escrita original dos textos utilizados como fontes para evitarmos problemas<br />

<strong>de</strong> traduções com expressões já abolidas ou substituídas nas normas da língua<br />

portuguesa atual. Portanto, as reportagens <strong>de</strong> jornais e revistas, as mensagens<br />

<strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado entre outros textos estão transcritos do mesmo modo<br />

que foram escritos em sua época.<br />

Quanto aos nossos procedimentos, foi realizado, em linhas gerais,<br />

fotografias dos documentos encontrados nos arquivos pesquisados e a<br />

digitalização dos mesmos.<br />

Paralelo à digitalização procuramos salientar os aspectos mais evi<strong>de</strong>ntes<br />

nas fontes encontradas. Assim, durante a digitalização realizamos também a<br />

categorização, elegendo como principais categorias em nosso estudo: a<br />

23


implantação do GESL; a arquitetura <strong>escolar</strong> e as festas <strong>escolar</strong>es. Tal<br />

categorização foi fundamental para a organização da nossa produção escrita.<br />

No momento da escrita, a leitura crítica das produções científicas da<br />

área não só foi importante para fundamentar nosso estudo, mas principalmente<br />

para subsidiar um melhor tratamento e análise das fontes. Portanto, os<br />

procedimentos metodológicos que, fundamentalmente, adotamos foram:<br />

análise bibliográfica e análise documental.<br />

1.4 – Campo da História no qual se insere essa pesquisa<br />

Para a discussão do campo da história no qual se situa esta pesquisa,<br />

alguns elementos das teorias <strong>de</strong> Michel <strong>de</strong> Certeau e Roger Chartier nos<br />

apontam um respaldo para nossa pesquisa histórico-educacional. É,<br />

fundamentalmente, a operação historiográfica construída por Certeau e a<br />

categoria representação elaborada por Chartier que tomaremos como ponto<br />

seguro em nosso fazer histórico.<br />

Esses teóricos receberam influências da chamada Nova História,<br />

perspectiva que surge com a influência da revista dos Annales d’Histoire<br />

Économique et Sociale, organizada por Lucien Febvre e Marc Bloch no ano <strong>de</strong><br />

1929 (LE GOFF,1998).<br />

Para Burke (1992), a Nova História foi como uma reação contra o<br />

<strong>de</strong>nominado paradigma tradicional que consi<strong>de</strong>ra a história voltada apenas à<br />

política, como narrativa dos acontecimentos, história dos gran<strong>de</strong>s feitos dos<br />

consi<strong>de</strong>rados heróis, tendo por base única documentos escritos oficiais, e a<br />

história apontada como a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma dada realida<strong>de</strong>.<br />

Essa inovada perspectiva da História Nova é sintetizada por Le Goff do<br />

seguinte modo:<br />

24<br />

[...] a história nova foi <strong>de</strong>finida pelo aparecimento <strong>de</strong> novos<br />

problemas, <strong>de</strong> novos métodos que renovaram domínios tradicionais<br />

da história [...] e, principalmente talvez, pelo aparecimento do campo<br />

da história <strong>de</strong> novos objetos, em geral reservados, até então, à<br />

antropologia [...]. Eu <strong>de</strong>finirei, ao mesmo tempo, pelos novos<br />

<strong>de</strong>senvolvimentos das suas orientações nos últimos cinqüenta anos<br />

e por perspectivas inéditas. (LE GOFF, 1998, p. 44)


É <strong>de</strong>ssa nova perspectiva que emergem no campo da História novos<br />

enfoques como elucidam Burke (1992), no livro organizado por ele intitulado A<br />

escrita da história: novas perspectivas, e Cardoso e Vainfas (1997) em<br />

Domínios da História: ensaios <strong>de</strong> teoria e metodologia. Dentre os novos<br />

enfoques apresentados por esses pesquisadores estão: a história vista <strong>de</strong><br />

baixo, a história urbana, a história oral e a história cultural.<br />

Tratando <strong>de</strong>sses novos enfoques e, especificamente, da história cultural,<br />

Chartier (1991) ressalta que as mudanças produzidas no trabalho histórico,<br />

nesses últimos anos, foram possibilitadas pelo distanciamento que as próprias<br />

práticas <strong>de</strong> pesquisa tomavam em relação aos princípios e procedimentos<br />

forjados, principalmente, pelo marxismo e estruturalismo.<br />

O projeto <strong>de</strong> uma história global/total, a <strong>de</strong>finição territorial dos objetos<br />

<strong>de</strong> pesquisa e o primado conferido ao recorte social foram, segundo o autor<br />

antes citado, os essenciais princípios que governaram o procedimento histórico<br />

há vinte ou trinta anos. Todavia, “este conjunto <strong>de</strong> certezas abalou-se<br />

progressivamente, <strong>de</strong>ixando o campo livre a uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens e<br />

compreensões” (CHARTIER, 1990, p.176).<br />

Mas, como salientamos anteriormente, é particularmente com os<br />

elementos já mencionados das teorias <strong>de</strong> Certeau e Chartier, que nos<br />

respaldamos nessa pesquisa e é essa reflexão que nos propomos a partir <strong>de</strong><br />

agora.<br />

Iniciamos, portanto, com a noção do real no fazer histórico apresentada<br />

por Certeau (2008). Para este teórico existem duas posições <strong>de</strong>sse real: uma<br />

que é “o real enquanto conhecido”, e a outra “o real enquanto implicado pela<br />

operação científica”. A primeira posição trata-se do que o historiador<br />

compreen<strong>de</strong> ou, nas palavras <strong>de</strong> Certeau, ressuscita <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

passada, e a segunda, está relacionada à problemática do historiador, aos<br />

procedimentos e modos <strong>de</strong> compreensão e à prática do sentido. Portanto,<br />

como sintetiza Certeau (2008, p. 45) “<strong>de</strong> um lado o real é o resultado da análise<br />

e, <strong>de</strong> outro, é o seu postulado”.<br />

25


Nesse sentido, são <strong>de</strong>ssas duas noções do real que nos apropriamos<br />

nessa pesquisa, pois o nosso objetivo não é apenas apresentar uma<br />

compreensão do que foi a realida<strong>de</strong> do GESL, nem mesmo elaborar,<br />

meramente, um conhecimento a partir do que <strong>de</strong>mandam instituições e <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>de</strong> pesquisadores que legitimam essa investigação, mas tentar fazer a<br />

interação <strong>de</strong>sses dois objetivos, já que como afirma Certeau (2008, p.45)<br />

“estas duas formas da realida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>m ser nem eliminadas nem reduzidas<br />

uma a outra. A ciência histórica existe, precisamente, na sua relação”.<br />

Quando Certeau discute essas noções da realida<strong>de</strong> no fazer histórico,<br />

indica-nos elementos que compõem o que ele <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “operação<br />

historiográfica”. Chamamos <strong>de</strong> elementos os três pontos da relação que<br />

caracteriza a história como uma operação. Esses pontos são: as práticas<br />

científicas, a escrita da história e um lugar social, o qual <strong>de</strong>ve está combinado<br />

aos dois primeiros elementos. Para Certeau,<br />

26<br />

Encarar a história como uma operação será tentar, <strong>de</strong> maneira<br />

necessariamente limitada, compreendê-la como a relação entre um<br />

lugar (um recrutamento, um meio, uma profissão, etc.),<br />

procedimentos <strong>de</strong> análise (uma disciplina) e a construção <strong>de</strong> um<br />

texto (uma literatura). É admitir que ela faz parte da ‘realida<strong>de</strong>’ da<br />

qual trata, e que essa realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser apropriada ‘enquanto<br />

ativida<strong>de</strong> humana’, ‘enquanto prática’. Nesta perspectiva, gostaria <strong>de</strong><br />

mostrar que a operação histórica se refere à combinação <strong>de</strong> um<br />

lugar social, <strong>de</strong> práticas ‘científicas’ e <strong>de</strong> uma escrita. (CERTEAU,<br />

2008, p. 66, grifos no original)<br />

Nesse sentido, concordamos e nos i<strong>de</strong>ntificamos com essa abordagem<br />

elaborada por Certeau, pois o mesmo, além <strong>de</strong> enfatizar na pesquisa histórica<br />

a inovação na escolha <strong>de</strong> um objeto <strong>de</strong> estudo, na sua problemática e<br />

procedimentos metodológicos, acrescenta a construção do discurso, ou seja,<br />

evi<strong>de</strong>ncia também a elaboração do texto, o qual organiza as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

sentidos da pesquisa. E é importante frisar que tudo isso que integra a<br />

operação histórica está relacionado entre si e com um lugar social, que<br />

implica um meio <strong>de</strong> elaboração circunscrito por <strong>de</strong>terminações<br />

próprias: uma profissão liberal, um posto <strong>de</strong> estudo ou <strong>de</strong> ensino,<br />

uma categoria <strong>de</strong> letrados etc. Encontra-se, portanto, submetido a<br />

opressões, ligada a privilégios, enraizada em uma particularida<strong>de</strong>.<br />

(CERTEAU, 1979, p. 18)


Ainda consi<strong>de</strong>ramos oportuno explicitar que, como Certeau, a obra<br />

valorativa no âmbito da história é<br />

27<br />

[...] aquela que é reconhecida como tal pelos seus pares. Aquela que<br />

po<strong>de</strong> se situar num conjunto operatório. Aquela que representa um<br />

progresso, em relação ao estatuto atual dos ‘objetos’ e dos métodos<br />

históricos, e que, ligada ao meio no qual é elaborada, torna<br />

possíveis, a partir daí, novas pesquisas. (CERTEAU, 1979, p.23)<br />

Concernente à categoria representação, formulada na perspectiva <strong>de</strong><br />

Chartier, a elegemos porque lidamos com elaborações produzidas em outros<br />

momentos históricos, com finalida<strong>de</strong>s próprias para sua época. Melhor<br />

esclarecendo, trabalhamos com textos publicados em jornais e revistas,<br />

mensagens <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>ntes, fotografias, entre outras fontes, que quando<br />

produzidos procuravam aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>terminados objetivos do período. Portanto,<br />

estamos explorando formas <strong>de</strong> representação da realida<strong>de</strong> do GESL para<br />

construir um conhecimento acerca <strong>de</strong>ssa instituição. E esse conhecimento<br />

científico que elaboramos é também para nós uma forma <strong>de</strong> representação, já<br />

que não há reprodução fiel da realida<strong>de</strong> do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em foco.<br />

É crucial <strong>de</strong>stacarmos que essas formas <strong>de</strong> representação <strong>de</strong> uma<br />

realida<strong>de</strong> (reportagens, mensagens <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>ntes, fotografias e etc.) estão<br />

sendo vistas por nós, como já mencionamos em outro momento, como<br />

percepções não neutras.<br />

O que nos levou a eleger tal categoria para a realização da nossa<br />

pesquisa foi, além do que apontamos anteriormente, o trabalho com<br />

documentos elaborados por diferentes <strong>grupo</strong>s sociais, como: redatores <strong>de</strong><br />

jornais, memorialistas, presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> estado, fotógrafos etc., pois, como<br />

<strong>de</strong>staca Chartier (1990), as representações do mundo social são sempre<br />

<strong>de</strong>terminadas pelos interesses <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s que as forjam.<br />

Segundo o autor acima citado, a representação refere-se à pedra<br />

angular <strong>de</strong> uma abordagem em nível <strong>de</strong> história cultural, uma vez que<br />

Mais do que o conceito <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>, ela [a representação]<br />

permite articular três modalida<strong>de</strong>s da relação com o mundo social:<br />

em primeiro lugar, o trabalho <strong>de</strong> classificação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação que<br />

produz as configurações intelectuais múltiplas, através das quais a<br />

realida<strong>de</strong> é contraditoriamente construída pelos diferentes <strong>grupo</strong>s;<br />

seguidamente, as práticas que visam fazer reconhecer uma<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social, exibir uma maneira própria <strong>de</strong> estar no mundo,


28<br />

significar simbolicamente um estatuto e uma posição; por fim, as<br />

formas institucionalizadas e objectivadas graças às quais uns<br />

‘representantes’ (instâncias colectivas ou pessoas singulares)<br />

marcam <strong>de</strong> forma visível e perpetuada a existência do <strong>grupo</strong>, da<br />

classe ou da comunida<strong>de</strong>. (CHARTIER, 1990, p.23)<br />

Então, foi com base nas discussões travadas até aqui que organizamos<br />

nossa dissertação em quatro capítulos, cada um com subdivisões.<br />

Além <strong>de</strong>ssa introdução, o capítulo que se segue inicia uma discussão<br />

acerca dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es como uma nova organização do ensino primário<br />

no Brasil, especificando a relação entre o i<strong>de</strong>ário educacional republicano e a<br />

implantação <strong>de</strong>ssa nova organização do ensino em alguns estados brasileiros.<br />

Realizamos também uma leitura sobre a regulamentação <strong>de</strong>ssa organização<br />

<strong>escolar</strong> no estado da Paraíba, com análise <strong>de</strong> alguns aspectos do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong><br />

número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917 e, fechando esse capítulo, refletimos<br />

sobre a implantação do GESL.<br />

A arquitetura do GESL e a discussão concernente à relação escola e<br />

cida<strong>de</strong> compuseram, fundamentalmente, o terceiro capítulo. Portando,<br />

realizamos inicialmente uma reflexão sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, em<br />

seguida, discutimos acerca da construção do prédio do referido <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />

Além disso, observamos que o mesmo foi construído no momento que<br />

Campina Gran<strong>de</strong> estava em consi<strong>de</strong>rável processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização.<br />

Observamos também que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba constituíram um<br />

projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização para as cida<strong>de</strong>s. E finalizando o mesmo capítulo,<br />

discutimos o GESL como espaço que educa e civiliza.<br />

No quarto e último capítulo o foco da discussão foi as festas <strong>escolar</strong>es<br />

realizados no/pelo GESL. Portanto, a solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração, algumas<br />

datas comemorativas, a festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantação do Cinema Educativo e<br />

algumas exposições <strong>escolar</strong>es <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> foram refletidas no que<br />

concerne especialmente aos sentidos instituídos e à representação pelos<br />

indivíduos que <strong>de</strong>las participavam.


CAPÍTULO 2 – GRUPO ESCOLAR: UM NOVO MODELO DE ESCOLA<br />

PRIMÁRIA<br />

Nesse capítulo, procuramos <strong>de</strong>senvolver uma discussão sobre os<br />

<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es como uma nova organização do ensino primário no Brasil,<br />

estabelecendo uma relação entre o i<strong>de</strong>ário educacional republicano e a<br />

implantação <strong>de</strong>ssa nova organização do ensino em alguns estados brasileiros.<br />

É nosso objetivo também, realizar uma reflexão sobre a regulamentação <strong>de</strong>sse<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária na Paraíba, focando alguns aspectos do<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917. Por fim, buscamos<br />

discutir sobre a implantação do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, o<br />

GESL.<br />

2.1 - O i<strong>de</strong>ário educacional republicano e a implantação <strong>de</strong> uma nova<br />

escola primária no Brasil: os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />

Des<strong>de</strong> o final do oitocentos e, principalmente, durante a primeira meta<strong>de</strong><br />

do século XX, o <strong>de</strong>bate sobre a construção da nacionalida<strong>de</strong> brasileira,<br />

mediante a instrução pública, ganhou visibilida<strong>de</strong> nos discursos <strong>de</strong> intelectuais<br />

do período, como por exemplo, nas idéias <strong>de</strong> Benjamin Constant, Manoel<br />

Bomfim e Rui Barbosa. É no discurso <strong>de</strong> intelectuais como esses e políticos da<br />

época que a educação <strong>escolar</strong>izada voltada a toda população do Brasil,<br />

consagra-se como um dos elementos principais para possibilitar a configuração<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, bem como, o <strong>de</strong>senvolvimento do país, em termos,<br />

principalmente, sócio-econômicos.<br />

Em 1890, Benjamin Constant lança sua reforma do ensino,<br />

contemplando o ensino primário e o secundário. Essa reforma, embora voltada<br />

ao Distrito Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> acordo com Saviani (2007, p.165) “po<strong>de</strong>ria constituir-se<br />

em referência para a organização do ensino nos estados”.<br />

Benjamin Constant tinha como princípios básicos, voltados à educação<br />

<strong>escolar</strong>izada, a liberda<strong>de</strong> e laicida<strong>de</strong> do ensino. Este positivista <strong>de</strong>fendia<br />

também o ensino obrigatório, <strong>de</strong>stacando a necessida<strong>de</strong> da escola preparar<br />

novas opiniões e costumes para propiciar um suposto <strong>de</strong>senvolvimento<br />

29


nacional. Essa idéia po<strong>de</strong> ser percebida no seguinte trecho escrito por<br />

Nogueira e Lima, quando tratam do i<strong>de</strong>al republicano <strong>de</strong> Benjamin Constant:<br />

30<br />

A obrigatorieda<strong>de</strong> do ensino é uma das muitas panacéias inventadas<br />

para sanar males que não comportam remédio legal e que só po<strong>de</strong>m<br />

ser <strong>de</strong>belados pela modificação gradual e lenta das opiniões e dos<br />

costumes. (NOGUEIRA; LIMA, 1936, p. 131)<br />

Seguindo a mesma idéia <strong>de</strong> educação <strong>escolar</strong> como possibilida<strong>de</strong> para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma nação Manoel Bomfim em sua obra A América Latina:<br />

males <strong>de</strong> origem, publicada em 1903, ao discutir o problema da nacionalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> paises sul-americanos assinala a instrução popular como meio essencial e<br />

indispensável ao progresso <strong>de</strong> um país. Segundo Bomfim,<br />

É pela difusão da instrução, criando um meio intelectual mais largo e<br />

mais elevado, tornando novos campos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>safoguem os espíritos <strong>de</strong> combatentes e ardorosos - é por esse<br />

meio que se obterá a transformação <strong>de</strong>ssas lutas: elevando<br />

suficientemente o nível intelectual das populações, porque não se<br />

prestam a quanto levante a caudilhagem prepara, porque não vão<br />

bestialmente atrás <strong>de</strong> todo o ambicioso que as convida para assaltar<br />

o governo, pronto a espingar<strong>de</strong>á-la <strong>de</strong>pois. Enquanto não <strong>de</strong>rem à<br />

massa popular essa instrução, continuando a pesar sobre as<br />

socieda<strong>de</strong>s esta influência nefasta do passado, as lutas materiais<br />

persistirão, concorrendo para fazer estas nacionalida<strong>de</strong>s cada vez<br />

mais infelizes [...]. (BOMFIM, 1993, p.283)<br />

Sendo assim, fica claro que para Bomfim é, sobretudo, por meio da<br />

educação e da conscientização da população que um país po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-<br />

se ou usando suas palavras, po<strong>de</strong> sair da posição <strong>de</strong> “parasitado”.<br />

Esse autor ainda reforça a idéia <strong>de</strong> educação como meio para o<br />

progresso <strong>de</strong> uma nação, usando a metáfora <strong>de</strong> instrução popular como<br />

remédio para salvar um país da doença <strong>de</strong>nominada atraso. Todavia, Bomfim<br />

esclarece que a instrução popular não é a única forma <strong>de</strong> alcançar o progresso<br />

<strong>de</strong> uma nação, mas o “meio principal” para atingi-lo (BOMFIM, 1993).<br />

Em uma mesma linha <strong>de</strong> raciocínio, Rui Barbosa aponta a educação<br />

para o povo brasileiro como condição necessária para a superação dos males<br />

que afligiam a nação, do ponto <strong>de</strong> vista econômico, político e social. Ou seja, a<br />

educação seria o elemento indispensável para a transformação da nação.<br />

Transformação esta que venceria a ignorância da população, possibilitando a


evolução e mo<strong>de</strong>rnização do país (NASCIMENTO, 1997). Essa concepção está<br />

ilustrada no seguinte discurso <strong>de</strong> Rui,<br />

31<br />

A chave misteriosa das <strong>de</strong>sgraças que nos afligem é esta, é só esta:<br />

a ignorância popular, mãe da servilida<strong>de</strong> e da miséria. Eis a gran<strong>de</strong><br />

ameaça contra a existência constitucional e livre da nação, eis o<br />

formidável inimigo, o inimigo intestino, que se asila nas entranhas do<br />

País. Para o vencer releva instauremos o serviço da <strong>de</strong>fesa nacional<br />

contra a ignorância, serviço a cuja frente incumbe ao parlamento a<br />

missão <strong>de</strong> colocar-se intransigentemente à tibieza dos nossos<br />

governos e cumprimento do seu supremo <strong>de</strong>ver para com a pátria...<br />

A educação geral do povo é exatamente, na mais literal acepção da<br />

palavra, o primeiro elemento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, a mais <strong>de</strong>cisiva condição <strong>de</strong><br />

superiorida<strong>de</strong> militar e a maior <strong>de</strong> todas as forças produtivas.<br />

(BARBOSA, 1947, p. 121-122)<br />

Desse modo, a educação consagra-se como mister para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da nação brasileira.<br />

Tratando dos pareceres <strong>de</strong> Rui Barbosa, Machado (2004) salienta que<br />

nesses o republicano <strong>de</strong>fendia a educação <strong>escolar</strong>izada, voltada a toda<br />

população, como espaço <strong>de</strong> formação da inteligência popular, a qual, nas<br />

idéias do próprio Rui, era fundamental para a reconstituição do caráter<br />

nacional. Especificando a idéia <strong>de</strong> educação proposta por Rui a autora acima<br />

mencionada cita que:<br />

A educação, para Rui Barbosa, po<strong>de</strong>ria contribuir para promover a<br />

transformação do país em diversas instâncias. Ele propõe a<br />

educação técnica e científica com vistas na preparação do escravo<br />

liberto e do trabalhador nacional para o trabalho agrícola e,<br />

principalmente, industrial. Preocupa-se também com a preparação<br />

do homem para exercer a cidadania, participar como cidadão<br />

esclarecido da vida política do país; país este <strong>de</strong>mocrático. O<br />

sufrágio universal estava diretamente ligado à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

instrução. (MACHADO, 2004, p.76)<br />

Frente a essa citação fica evi<strong>de</strong>nte a idéia <strong>de</strong> Rui <strong>de</strong> que é papel da<br />

educação <strong>escolar</strong>izada formar homens para promoverem mudanças no Brasil;<br />

mudanças <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, histórica e econômica, ou seja, para Rui “a escola<br />

foi colocada [...] como condição <strong>de</strong> progresso” (MACHADO, 2004, p.77).<br />

A partir do exposto, concernente às idéias <strong>de</strong> Benjamin Constant,<br />

Manoel Bomfim e Rui Barbosa, foi possível perceber uma concordância no que<br />

tange ao papel da educação <strong>escolar</strong>. Essa concordância, apontada<br />

anteriormente, refere-se ao i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> uma educação que tinha o propósito <strong>de</strong>


ser disseminada a todo povo brasileiro como forma <strong>de</strong> assegurar uma<br />

transformação que, grosso modo, na visão <strong>de</strong>sses e outros pensadores da<br />

época, propiciaria o progresso. Portanto, a idéia era civilizar, moralizar, educar<br />

e regenerar a socieda<strong>de</strong> para assim formar uma nação adiantada.<br />

No interior <strong>de</strong>sse contexto, no qual permeia a idéia <strong>de</strong> construção/<br />

transformação da nação brasileira como projeto eminentemente educacional,<br />

sobressai o objetivo <strong>de</strong> difundir o ensino a toda população.<br />

32<br />

[...] Por todas as regiões do país verificam-se semelhanças nas<br />

representações e nas práticas discursivas em torno da importância<br />

política e social da instrução pública vinculada às expectativas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico, <strong>de</strong> progresso, <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e <strong>de</strong><br />

manutenção do regime republicano [...]. (SOUZA E FARIA FILHO,<br />

2006, p.29)<br />

Esse objetivo <strong>de</strong> difusão da educação <strong>escolar</strong>izada à população em<br />

massa, <strong>de</strong> acordo com Saviani (2004), é proposto, a priori, para ser <strong>de</strong>ixado<br />

sob a responsabilida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r Central, que teria a tarefa <strong>de</strong> organizar e<br />

manter integralmente escolas em todo território brasileiro, principalmente no<br />

ensino primário.<br />

Contudo, nesse momento, a responsabilida<strong>de</strong> do ensino primário ficou a<br />

cargo único dos estados fe<strong>de</strong>rativos, aos quais cabia legislar e promover esse<br />

nível <strong>de</strong> ensino. Isso po<strong>de</strong> ser observado no seguinte citação:<br />

Essa realida<strong>de</strong> [do privilégio do ensino secundário e superior em<br />

<strong>de</strong>trimento da expansão do ensino primário] foi consagrada<br />

legalmente com a Constituição <strong>de</strong> 1891, que reafirmou a<br />

<strong>de</strong>scentralização <strong>escolar</strong>, já <strong>de</strong>finida em 1834, cabendo agora aos<br />

estados a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter e legislar sobre o ensino<br />

primário e o ensino profissional. A oligarquia cafeeira, na <strong>de</strong>fesa dos<br />

princípios do fe<strong>de</strong>ralismo e da autonomia dos estados, <strong>de</strong>sobrigavase<br />

<strong>de</strong> propor políticas educacionais nacionais, consolidando-se as<br />

enormes diferenças entre as regiões e perpetuando a precarieda<strong>de</strong><br />

do ensino primário. (ZOTTI, 2004, p.68)<br />

Aos estados, portanto, ficou a incumbência <strong>de</strong> criar e instituir suas<br />

próprias leis, evi<strong>de</strong>ntemente, respeitando a lei suprema, a Constituição <strong>de</strong><br />

1891. Para elucidar essa política <strong>de</strong>scentralizada <strong>de</strong>stacamos o que é<br />

<strong>de</strong>terminado no artigo 63 da citada lei “Cada Estado reger-se-á pela<br />

Constituição e pelas leis que adotar respeitados os princípios constitucionais da<br />

União” (BRASIL, 1891).


Desse modo, observamos certa omissão quanto à obrigação do po<strong>de</strong>r<br />

central com o ensino primário e percebemos que “[foram] os estados que<br />

[ficaram para] enfrentar a questão da difusão da instrução mediante a<br />

disseminação das escolas primárias” (SAVIANI, 2004, p.22-23).<br />

Então, sob a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada estado brasileiro, a escola<br />

primária vai sendo disseminada primeiramente nas regiões que melhor podiam<br />

oferecê-la, como foi o caso do estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Com ritmos e especificida<strong>de</strong>s próprias entre as regiões, essa<br />

disseminação, situada entre o fim do Império e a primeira meta<strong>de</strong> da<br />

República, inaugura o novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensino primário no Brasil: o dos <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es.<br />

Esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização do ensino, conforme Souza (2004),<br />

recebeu influência da organização <strong>escolar</strong> instalada em paises consi<strong>de</strong>rados<br />

civilizados, como Estados Unidos e vários paises europeus, citando alguns,<br />

Alemanha, França e Portugal.<br />

A primeira implantação <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> ensino primário<br />

no Brasil foi no estado <strong>de</strong> São Paulo, que, segundo Souza (1998), data do ano<br />

<strong>de</strong> 1893. Essa implantação <strong>de</strong>correu da organização do sistema público <strong>de</strong><br />

ensino, introduzido pelos republicanos naquele estado.<br />

Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, portanto, passaram a caracterizar um novo mo<strong>de</strong>lo<br />

organizacional <strong>de</strong> ensino que corroborava as idéias <strong>de</strong> disseminação do ensino<br />

em massa. Idéias essas difundidas, como já citamos, por intelectuais e políticos<br />

da época para possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento nacional e assim aten<strong>de</strong>r a um<br />

dos objetivos do novo regime implantado no país, a República. Nesse sentido,<br />

33<br />

Tratava-se <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização do ensino elementar mais<br />

racionalizado e padronizado com vistas a aten<strong>de</strong>r um gran<strong>de</strong> número<br />

<strong>de</strong> crianças, portanto, uma escola a<strong>de</strong>quada à <strong>escolar</strong>ização em<br />

massa e às necessida<strong>de</strong>s da universalização da educação popular.<br />

Ao implantá-lo, políticos, intelectuais e educadores paulistas<br />

almejavam mo<strong>de</strong>rnizar a educação e elevar o país ao patamar dos<br />

paises mais <strong>de</strong>senvolvidos. (SOUZA, 2006, p. 35)<br />

Assim como no estado <strong>de</strong> São Paulo, outros estados brasileiros<br />

incorporaram esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organizar o ensino primário.


No estado do Maranhão, <strong>de</strong> acordo com Motta (2006, p. 144), “os <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es foram instituídos inicialmente no município <strong>de</strong> São Luís - capital do<br />

estado - pela Lei Estadual n°323, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1903”. No mesmo ano<br />

(1903), esse mo<strong>de</strong>lo é também implantado no Paraná, especificamente em<br />

Curitiba, a partir da qual se esten<strong>de</strong> às <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s paranaenses (SAVIANI,<br />

2007).<br />

Em 1902, conforme Faria Filho (2000), o inspetor do ensino <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais ao fazer uma viagem a São Paulo fica <strong>de</strong>slumbrado com a organização<br />

das escolas primárias do estado. A partir <strong>de</strong> então leva a proposta ao estado<br />

<strong>de</strong> Minas Gerais, que em 1906 a<strong>de</strong>re, <strong>de</strong> fato, ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es,<br />

construindo e implantando em Belo Horizonte o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, tendo<br />

da mesma forma como em São Paulo, o objetivo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizar a educação e,<br />

consequentemente, promover a melhoria do estado <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

No Rio Gran<strong>de</strong> do Norte e no estado do Espírito Santo, o primeiro <strong>grupo</strong><br />

<strong>escolar</strong> é instalado em 1908 (SAVIANI, 2007). Esses também foram<br />

amplamente influenciados pelo sucesso da implantação do mo<strong>de</strong>lo em São<br />

Paulo.<br />

Em Santa Catarina, a instalação do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> data do ano<br />

<strong>de</strong> 1911. Como po<strong>de</strong>mos verificar na seguinte citação:<br />

34<br />

A reforma da instrução catarinense autorizada em 1910 e levada a<br />

efeito em 1911 sob o comando <strong>de</strong> Orestes Guimarães é tida como a<br />

mais importante reforma do ensino <strong>de</strong>sse estado, consi<strong>de</strong>rando-se<br />

aquelas empreendidas ao longo do século. Não causa surpresa a<br />

constatação <strong>de</strong> que o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> catarinense tenha como<br />

origem o Collegio Municipal <strong>de</strong> Joinville, o qual, após reformas para<br />

adaptação, foi inaugurado em 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1911 com o nome<br />

<strong>de</strong> Grupo Escolar Conselheiro Mafra. (SILVA, 2006, p.347)<br />

No mesmo ano (1911) em que foi inaugurado em Santa Catarina o<br />

primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> é também implantado em Sergipe esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

ensino primário (SAVIANI, 2007).<br />

No estado do Mato Grosso, a implantação <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensino foi<br />

realizada no ano <strong>de</strong> 1910. De acordo com Reis (2006), a instauração dos<br />

<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es daria base ao objetivo da presidência em industrializar o


estado a partir <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>rnização no sistema <strong>escolar</strong>. Reis afirma que a<br />

presidência do Mato Grosso observou que,<br />

35<br />

[...] para proce<strong>de</strong>r a essa reforma e conseguir atingir sua meta,<br />

<strong>de</strong>veria mo<strong>de</strong>rnizar o sistema <strong>escolar</strong>. Ao perceber a precarieda<strong>de</strong><br />

da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino, Pedro Celestiano [presi<strong>de</strong>nte do estado]<br />

realizou uma reforma no ensino primário quatro dias após sua posse<br />

no governo, começando pela implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />

mediante um regulamento promulgado nas primeiras décadas do<br />

século XX. (REIS, p.205)<br />

No estado do Piauí, segundo Lopes (2006a), os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es são<br />

criados legalmente em 1910 pela reforma da educação. No entanto, esse autor<br />

afirma que é apenas em 1922 que, <strong>de</strong> fato, é implantado o primeiro <strong>grupo</strong><br />

<strong>escolar</strong> nesse estado.<br />

[...] a implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, no Piauí, foi antecedida<br />

pela implantação das escolas reunidas, no período <strong>de</strong> 1905 a 1922.<br />

Em 1922, temos, como marco divisório, a criação do Grupo Escolar<br />

Miranda Osório, em Parnaíba, pelo que representou <strong>de</strong> diferenciação<br />

em relação às escolas reunidas situadas na capital, Teresina,<br />

fundadas em 1910. (LOPES, 2006a, p.82)<br />

Na Paraíba, a inauguração do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> data do ano <strong>de</strong><br />

1916, na atual capital João Pessoa. Todavia, o i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> criar este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

ensino remonta a anos anteriores,<br />

[...] a idéia <strong>de</strong> criar <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es como instituição autônoma<br />

remonta a 1908, quando o presi<strong>de</strong>nte do estado, em mensagem<br />

enviada à Assembléia legislativa, ressaltou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar<br />

uma reforma na instrução pública, apontando a importância <strong>de</strong><br />

criação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es para a ‘mo<strong>de</strong>rna educação’.<br />

(PINHEIRO, 2002, p.127)<br />

Nesse estado, a expansão dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es apresentou um<br />

consi<strong>de</strong>rável ritmo, que Pinheiro (2002), consi<strong>de</strong>rou um “crescimento<br />

permanente” que vai principalmente <strong>de</strong> 1916 a 1929.<br />

Então, como pu<strong>de</strong>mos observar nessa breve síntese sobre a<br />

implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es em alguns estados do Brasil, o mo<strong>de</strong>lo foi<br />

ganhando espaço e se configurando como principal escola <strong>de</strong> ensino primário<br />

no período já mencionado. Essa implantação, conforme Vidal (2006) percorreu<br />

todo território nacional, embora com ritmos diferenciados.


Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es foram criados com o objetivo <strong>de</strong> reunir em um só<br />

prédio várias salas <strong>de</strong> aulas, ou seja, reunir as chamadas ca<strong>de</strong>iras isoladas ou<br />

escolas isoladas. Todavia, o objetivo <strong>de</strong>sse novo mo<strong>de</strong>lo não se limitava<br />

somente a esse propósito. Propiciaram a organização do ensino em sistema<br />

seriado, divisão do trabalho <strong>escolar</strong> (diretor, professor, porteiro, faxineira entre<br />

outros funcionários), possível homogeneida<strong>de</strong> com o agrupamento dos alunos<br />

em classes conforme o nível <strong>de</strong> conhecimento, racionalização curricular,<br />

controle e distribuição or<strong>de</strong>nada do tempo e conteúdos (SOUZA, 2004).<br />

Portanto, os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es compreen<strong>de</strong>ram uma mo<strong>de</strong>rnização<br />

educacional no Brasil, já que propiciaram a superação da organização precária<br />

das ca<strong>de</strong>iras isoladas. Todavia, essa mo<strong>de</strong>rnização ultrapassou o âmbito<br />

educacional, haja vista que “[...] os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es [...] marcaram a nova<br />

feição urbana em pleno processo <strong>de</strong> mudança [nos centros urbanos] e<br />

serviram, por conseguinte, para embelezar a cida<strong>de</strong> e dar-lhe novo ar <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> [...]” (PINHEIRO, 2002, p.147).<br />

Além disso, essa nova institucionalização da escola primária tinha em<br />

foco o compromisso com os i<strong>de</strong>ais republicanos e com as perspectivas <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização da socieda<strong>de</strong> brasileira. Por isso, segundo Souza e Faria Filho<br />

(2006), as propostas para o ensino, nessa nova organização <strong>escolar</strong>, lançadas<br />

por políticos, intelectuais, reformadores e profissionais da educação pública,<br />

contemplavam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> civilização da nação, moralização dos<br />

costumes, disciplinarização da classe trabalhadora e inculcação <strong>de</strong> valores<br />

cívico-patrióticos.<br />

Nesse sentido, consi<strong>de</strong>ramos que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es corroboraram o<br />

i<strong>de</strong>ário republicano educacional, já que além <strong>de</strong> serem implantados<br />

concomitante com a efervescência <strong>de</strong>sses i<strong>de</strong>ais, apresentavam como um dos<br />

objetivos principais difundir o ensino primário à população em geral, através <strong>de</strong><br />

uma mo<strong>de</strong>rna organização <strong>escolar</strong>.<br />

36


2.2 – A regulamentação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba: o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong><br />

número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917<br />

A política <strong>de</strong>scentralizadora instituída no advento da República teve um<br />

dos resultados a elaboração <strong>de</strong> várias reformas em âmbito estadual, a saber: a<br />

reforma Caetano <strong>de</strong> Campos iniciada em 1890 no estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

(SAVIANI, 2004); a Reforma no ano <strong>de</strong> 1906 em Minas Gerais, durante a<br />

presidência <strong>de</strong> João Pinheiro da Silva (GONÇALVES, 2006); a lei Estadual 323<br />

<strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1903 no Maranhão (MOTTA, 2006); o regulamento <strong>de</strong> 1910<br />

em Mato Grosso (SILVA, 2006); a Reforma da Instrução Primária no governo<br />

Camillo <strong>de</strong> Hollanda na Paraíba em 1917 (MELLO, 1996), entre outras que<br />

integraram o conjunto <strong>de</strong> reformas estaduais, iniciadas no ano <strong>de</strong> 1890 até fins<br />

da década <strong>de</strong> 1920, no Brasil.<br />

Veiga (2007) ao tratar da educação <strong>escolar</strong>izada no Brasil no regime<br />

republicano <strong>de</strong>staca esse conjunto <strong>de</strong> reformas estaduais como um<br />

representativo movimento na história educacional do Brasil. Caracterizando tais<br />

reformas, a citada autora afirma que:<br />

37<br />

Essas reformas compõem um segundo movimento na estrutura<br />

educacional. Antes da criação do ministério foram reformas<br />

marcadamente estaduais, com <strong>de</strong>staque para a introdução do ensino<br />

laico, característica unificadora da escola republicana, pela<br />

separação da Igreja e o Estado; as reformas que criaram os <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es no início da República e as realizadas nas décadas <strong>de</strong><br />

1920 e 1930, ao introduzirem os <strong>de</strong>bates e métodos da Escola Nova,<br />

a organização dos institutos <strong>de</strong> educação e fundação das primeiras<br />

universida<strong>de</strong>s. De 1930 a 1970 as reformas tiveram cunho nacional,<br />

pelo estabelecimento das diretrizes a ser seguidas por todos os<br />

estados. (VEIGA, 2007, p.238-239)<br />

Consi<strong>de</strong>rando a discussão acima <strong>de</strong>stacada e a relevância <strong>de</strong> cada uma<br />

das reformas estaduais, selecionemos para discussão a Reforma da Instrução<br />

Primária do estado da Paraíba (1917). A opção por discutir essa reforma se<br />

justifica pela própria relevância que a mesma teve no âmbito da educação<br />

<strong>escolar</strong>izada no mencionado estado, assim como, pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r os primórdios da regulamentação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba,<br />

visto que essa reforma foi a principal em matéria <strong>de</strong> regulamentação <strong>de</strong>sta<br />

nova organização do ensino primário no referido estado.


Discutiremos a partir <strong>de</strong> agora alguns trechos da referida reforma que é<br />

referendada na História da <strong>Educação</strong> da Paraíba como a “maior obra [...] em<br />

matéria <strong>de</strong> instrução publica” (MELLO, 1996, p.83) para o início do século XX.<br />

Reforma que foi a principal a regulamentar os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es no estado da<br />

Paraíba, como já observado por Paiva, Lima e Pinheiro (2006, p. 5774):<br />

38<br />

A reforma implicou, entre outras medidas e que foram<br />

sacramentadas em forma <strong>de</strong> lei na implementação <strong>de</strong> um novo<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização <strong>escolar</strong> – os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es. Após a<br />

criação do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, foi introduzida na instrução<br />

primária paraibana uma série <strong>de</strong> modificações e inovações na<br />

estrutura administrativo-pedagógica do ensino, contribuindo <strong>de</strong>sta<br />

forma para o surgimento <strong>de</strong> novos sujeitos da educação.<br />

Essa reforma foi sancionada no governo do Dr. Francisco Camillo <strong>de</strong><br />

Hollanda, mediante o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917.<br />

Veio substituir principalmente o regulamento <strong>de</strong> número 241, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 1904, baixado pelo então presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Estado José Peregrino <strong>de</strong> Araújo<br />

(1900-1904). Nesse regulamento <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1904,<br />

procurou o Presi<strong>de</strong>nte dar uma orientação mais consentânea às<br />

coisas do ensino, visando melhorar as condições financeiras do<br />

professorado e incentivando-o ao cumprimento dos <strong>de</strong>veres, com o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> medidas que melhor garantissem sua nobilitante<br />

missão (MELLO, 1996, p.76).<br />

Ainda concernente a esse antigo regulamento, foi divulgado no Jornal A<br />

União do ano <strong>de</strong> 1917, mais precisamente na matéria intitulada “Reforma da<br />

Instrucção”, o atraso com o qual era regida a instrução primária na Paraíba,<br />

principalmente quando comparada a outras unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração.<br />

Verificamos esse <strong>de</strong>svendamento no seguinte trecho:<br />

O regulamento vigente promulgado em 1904, moldado nas leis que<br />

vigoravam, não teve em conta elementos indispensaveis ao<br />

progresso pedagogico, já então postos em pratica com gran<strong>de</strong><br />

efficiencia em unida<strong>de</strong>s mais adiantadas da fe<strong>de</strong>ração. (Jornal A<br />

UNIÃO, 04/08/1917, p.01).<br />

De acordo como Mello (1996), os presi<strong>de</strong>ntes que suce<strong>de</strong>ram José<br />

Peregrino <strong>de</strong> Araújo procuraram a seus modos melhorar a situação da<br />

educação do estado. Mesmo, em muitos casos, não sendo através <strong>de</strong> atos<br />

concretos, ora por falta <strong>de</strong> recursos financeiros e ora por <strong>de</strong>ixar esse âmbito


para segundo plano, os administradores buscavam apontar as necessida<strong>de</strong>s<br />

que tal setor requeria, como foi o caso do presi<strong>de</strong>nte Walfredo Leal (1906-<br />

1908):<br />

39<br />

Na exposição feita ao passar o governo a seu substituto, lembra o<br />

Mons. Walfredo Leal a necessida<strong>de</strong> da criação <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />

no Estado, ‘reforma esta que tão largos e fundos benefícios tem<br />

produzidos nos Estados que a introduziram, com o mais proveitoso<br />

dos sistemas <strong>de</strong> ensino, até hoje conhecidos’(MELLO, 1996, p.78)<br />

Assim, consi<strong>de</strong>rando as iniciativas tomadas pelos presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> estado<br />

no que tange à Instrução Primária, durante a Primeira República na Paraíba, é<br />

possível pensar que o regulamento <strong>de</strong> número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1917 possibilitou, oficialmente, a inauguração <strong>de</strong> novos ares no âmbito da<br />

instrução primária paraibana. Isso porque tal regulamento, <strong>de</strong>ntre outros<br />

aspectos, procurou legitimar um inovado mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola e regulamentou a<br />

introduziu novos atores educacionais, através da distribuição <strong>de</strong> outros serviços<br />

no processo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização.<br />

Para Frago (2001), as reformas no âmbito educacional são planos<br />

legalmente organizados para mudar as escolas, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrigir<br />

problemas sociais e educativos percebidos. Assim, digamos que essa reforma<br />

foi constituída mediante um diagnóstico do que vinha sendo a educação<br />

<strong>escolar</strong>izada paraibana. Ou, talvez, conforme Garcia (1995, p.224), para “a<br />

consolidação, a nível, político-institucional, das orientações emanadas dos<br />

<strong>grupo</strong>s dominantes na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte”.<br />

Atinente à elaboração da reforma em questão, o então presi<strong>de</strong>nte do<br />

estado, Francisco Camillo <strong>de</strong> Hollanda expressa em Mensagem apresentada a<br />

Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, em 1° <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1917, o<br />

seguinte:<br />

A instrucção publica tem sido o objeto principal dos meus cuidados,<br />

pois, como sabeis, é da resolução <strong>de</strong>sse magno problema que <strong>de</strong>riva<br />

directamente o aperfeiçoamento dos povos [...] Para tornar effectivo<br />

o meu pensamento <strong>de</strong> governo, neste particular, nomeei ultimamente<br />

uma comissão dos nossos pedagogos mais competentes para me<br />

formularem uma reforma do ensino publico em geral, e estou certo<br />

<strong>de</strong> prestar o melhor serviço à nossa terra se conseguirmos a<br />

introducção dos methodos didacticos e pedagogicos tão<br />

proficuamente experimentados no Estado <strong>de</strong> S. Paulo, que é o<br />

paradigma nacional nessa relevante matéria <strong>de</strong> instruccção publica.<br />

(ESTADO DA PARAHYBA DO NORTE, 1917, p.08-09)


A partir <strong>de</strong>ssa preocupação <strong>de</strong> melhorar a instrução pública na Paraíba,<br />

o citado presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado forma uma comissão para a elaboração da<br />

reforma que viria a ser sancionada pela lei n° 873 <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917,<br />

composta por sete membros: “professores José Francisco <strong>de</strong> Moura, Manuel<br />

Tavares Calvacanti, Odilon Coutinho, Alci<strong>de</strong>s Bezerra, Celso Affonso Pereira,<br />

José Gomes Coelho e José Fructuoso Dantas” (ESTADO DA PARAHYBA DO<br />

NORTE, 1917, p. 24).<br />

A elaboração <strong>de</strong>sse regulamento compreen<strong>de</strong>u aproximadamente sete<br />

meses, e está composto <strong>de</strong> 309 artigos, distribuídos em 16 Capítulos, cujos<br />

respectivos títulos são: Do curso primario; Do ensino particular; Da<br />

classificação das escolas; Do provimento das escolas; Do pessoal docente, dos<br />

seus direitos e <strong>de</strong>veres, vencimentos, faltas e licenças; Da matricula das aulas<br />

e exames; Do codigo disciplinar; Do material da escripturação <strong>escolar</strong>; Das<br />

escolas complementares; Dos jardins da infancia; Do ensino nocturno; Da<br />

direcção e inspecção do ensino; Das caixas <strong>escolar</strong>es e do fundo <strong>escolar</strong>; Da<br />

secretaria <strong>de</strong> instrucção publica; Da estatistica <strong>escolar</strong> e Disposições geraes.<br />

Entre os capítulos acima citados analisaremos, preferencialmente, os<br />

que tratam da criação e <strong>de</strong> alguns aspectos do funcionamento dos <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es, quais sejam dos novos serviços no âmbito <strong>de</strong>ssa instituição.<br />

2.2.1 – A regulamentação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na Paraíba<br />

Como já mencionado, o mo<strong>de</strong>lo dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, como uma nova<br />

organização do ensino primário no estado da Paraíba, é regulamentado<br />

principalmente pela Reforma Camillo <strong>de</strong> Hollanda.<br />

É necessário <strong>de</strong>stacar que a intenção <strong>de</strong> implementar essa nova<br />

organização <strong>escolar</strong> na Paraíba remonta ao ano <strong>de</strong> 1908, como já observamos<br />

no início <strong>de</strong>sse capítulo.<br />

Conforme Pinheiro (2006), os estímulos para a criação <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es nesse estado, durante os anos finais da primeira década do século<br />

40


XX não só motivou o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado, mas também os administradores<br />

municipais e os responsáveis diretos pela instrução pública. É, portanto, em<br />

meio a toda essa motivação <strong>de</strong> criar <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba que,<br />

41<br />

[...] em setembro <strong>de</strong> 1911, a diretoria Geral da Instrução Pública<br />

elaborou e encaminhou ao presi<strong>de</strong>nte do Estado um projeto <strong>de</strong><br />

reforma da instrução primária, que dava nova estrutura<br />

organizacional <strong>escolar</strong> paraibana <strong>de</strong>stacando, <strong>de</strong>ntre outros, os<br />

seguintes aspectos: ‘divisão do ensino em elementar e<br />

complementar; o ensino será ministrado em escolas isoladas e<br />

<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es; as disciplinas professoradas nas escolas serão<br />

distribuidas por quatro annos, sendo o curso complementar praticado<br />

no último anno e somente nos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es’. (PINHEIRO, 2006,<br />

111)<br />

Portanto, acreditamos que foi a partir <strong>de</strong>sse encaminhamento realizado<br />

pela Diretoria Geral da Instrução Pública que se teve, no estado da Paraíba,<br />

uma das primeiras tentativas <strong>de</strong> regulamentar os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.<br />

Segundo Mello (1996), na Paraíba alguns homens se <strong>de</strong>stacaram na<br />

<strong>de</strong>fesa da implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, sendo um <strong>de</strong>sses Francisco<br />

Xavier Filho 6 , quando diretor da Instrução Pública do Estado. Para o autor<br />

citado, foi particularmente no ano <strong>de</strong> 1912, através da seguinte proposta, que<br />

ficou bastante explícita essa <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Xavier Filho,<br />

Ainda em 1912, no final da administração, o esforçado Diretor<br />

propunha:<br />

a) nova regulamentação do ensino, contendo o que há <strong>de</strong> mais<br />

mo<strong>de</strong>rno e adaptável às nossas condições;<br />

b) instituição <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, pelo menos nas se<strong>de</strong>s dos<br />

municípios;<br />

c) construção <strong>de</strong> edifícios, com arquitetura mo<strong>de</strong>sta, mas específica;<br />

d) mobiliário conveniente e aparelhos <strong>de</strong> ensino;<br />

e) fiscalização das escolas, praticada por pessoal <strong>de</strong> competência<br />

técnica (MELLO,1996, p.81).<br />

Para Kulesza (2005), Xavier Filho estava informado sobre as<br />

transformações educacionais que ocorriam no sul do país e foi por isso que,<br />

em 1913, realizou uma excursão ao su<strong>de</strong>ste para conhecer in loco as escolas<br />

públicas daquela região, especificamente, as do estado <strong>de</strong> São Paulo. A<br />

intenção <strong>de</strong>sse diretor da Instrução pública, ressalta o referido autor, era<br />

6 Conforme Kulesza (2005) Francisco Xavier Filho foi entre outros cargos que ocupou diretor do<br />

Liceu Paraibano, Prefeito da Capital, fundador em 1905 do Instituto Histórico e Geográfico da<br />

Paraíba e Diretor da Instrução Pública do Estado a partir do ano <strong>de</strong> 1908.


implantar na Paraíba a prática educacional que vinha dando tão certo naquele<br />

estado.<br />

Esse fato, <strong>de</strong> pessoas envolvidas diretamente com a educação <strong>de</strong> um<br />

estado sair para observar como estava se dando a organização do ensino em<br />

outra região, particularmente em São Paulo, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tentar<br />

implantar em seu estado foi salientado por vários outros estudiosos, como, a<br />

título <strong>de</strong> exemplo, Faria Filho (2000), ao estudar a educação pública primária<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte na década <strong>de</strong> 1920. Salientemos, portanto, a<br />

<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>sse fato contada por este estudioso:<br />

42<br />

Ao realizar uma viagem ‘comissionada’ ao Rio <strong>de</strong> Janeiro e a São<br />

Paulo, o inspetor técnico do Ensino, Estevam <strong>de</strong> Oliveira, resi<strong>de</strong>nte<br />

em Juiz <strong>de</strong> Fora e <strong>de</strong> formação militar, ficou <strong>de</strong>slumbrado com o<br />

espetáculo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, civismo, disciplina, serieda<strong>de</strong> e competência<br />

que disse observar nas instituições <strong>de</strong> instrução primária da capital<br />

paulista.<br />

Corria o ano <strong>de</strong> 1902 e fazia menos <strong>de</strong> uma década que havia sido<br />

criado em São Paulo (no Brasil) o primeiro estabelecimento do tipo<br />

que tanto impressionara nosso inspetor: o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />

Acostumado que estava com a forma <strong>de</strong> organização do ensino<br />

primário através das escolas isoladas, Estevam <strong>de</strong> Oliveira passou,<br />

então, a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r ardorosamente a adoção dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />

como a forma mais mo<strong>de</strong>rna e eficiente <strong>de</strong> organizar a instrução.<br />

(FARIA FILHO, 2000, p.27)<br />

Como pu<strong>de</strong>mos observar a tentativa <strong>de</strong> criar e regulamentar <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es na Paraíba remonta respectivamente aos anos <strong>de</strong> 1908 e 1911. Mas,<br />

quanto à regulamentação <strong>de</strong>ssa nova organização do ensino primário, é<br />

fundamentalmente a partir da reforma instaurada no ano <strong>de</strong> 1917, no governo<br />

Camillo <strong>de</strong> Hollanda, que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, enquanto novo mo<strong>de</strong>lo,<br />

recebem contornos mais visíveis para sua melhor efetivação.<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> é apresentado nessa reforma <strong>de</strong> 1917 como<br />

parte integrante do ensino elementar, o qual podia ser ministrado em escolas<br />

isoladas, escolas reunidas e <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.<br />

O ensino elementar, segundo a reforma <strong>de</strong> 1917, podia ser implantado<br />

no estado da Paraíba tanto em cida<strong>de</strong>s como em vilas e povoados. Todavia,<br />

para que se criasse esse ensino era imprescindível que uma <strong>de</strong>terminada<br />

localida<strong>de</strong> possibilitasse uma freqüência <strong>escolar</strong> <strong>de</strong>, no mínimo, trinta alunos.


A<strong>de</strong>mais, esse ensino apresentava a seguinte categorização, conforme o Art.<br />

18 do mesmo regulamento:<br />

43<br />

As escolas elementares serão assim classificadas:<br />

a) – escolas <strong>de</strong> primeira categoria, situadas <strong>de</strong>ntro do perímetro<br />

urbano da capital;<br />

b) – escolas <strong>de</strong> segunda categoria, as das cida<strong>de</strong>s;<br />

c) – escolas <strong>de</strong> terceira categoria, as das villas;<br />

d) – escolas <strong>de</strong> quarta categoria, as das povoações. (Parahyba do<br />

Norte, Estado da. 1917).<br />

Assim, é possível vislumbrar nessa classificação uma suposta<br />

hierarquização do ensino elementar em relação à localização geográfica. Em<br />

outros termos, on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento - urbano, populacional, econômico<br />

entre outros - fosse ascen<strong>de</strong>nte, mais inclusas nas primeiras classificações<br />

ficavam as escolas elementares.<br />

Então, sendo um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola das localizações urbanizadas, os<br />

<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es <strong>de</strong>veriam ser criados nos lugares que apresentassem três<br />

escolas públicas em funcionamento, pois como observa Pinheiro (2002), os<br />

mesmos compreendiam uma nova organização <strong>escolar</strong>, no qual o objetivo<br />

inicial consistia em reunir em um suntuoso prédio várias ca<strong>de</strong>iras isoladas, sob<br />

uma superintendência administrativa e técnica. Sendo assim, os <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es, possivelmente, compunham a primeira e segunda categoria do<br />

ensino elementar antes classificado, ou seja, eram implantados na capital e em<br />

cida<strong>de</strong>s com um <strong>de</strong>senvolvimento sócio-econômico consi<strong>de</strong>rável.<br />

É regulamentado nessa Reforma, através do art. 38 § 1º, que os <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es <strong>de</strong>veriam constitui-se, primeiramente, <strong>de</strong> uma escola mista inicial e<br />

outras duas para cada sexo. Essa <strong>de</strong>terminação po<strong>de</strong> ser percebida como uma<br />

orientação para que a transição <strong>de</strong> um antigo mo<strong>de</strong>lo, as escolas isoladas,<br />

para um novo, os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, não fosse brusca e tumultuada, no que<br />

tange principalmente ao cotidiano <strong>escolar</strong>.<br />

Detalhando essa reflexão concernente à transição <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo para<br />

outro, foi publicado no jornal A União, o seguinte trecho:<br />

Vae ficar prevista e <strong>de</strong>terminada a fusão das escolas isoladas em<br />

escolas reunidas e <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es <strong>de</strong> accôrdo com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>las e o augmento da população interessada. Não<br />

teremos, portanto, um substituição tumultuaria, a exemplo do que se<br />

tentou em outros Estados, com manifesto prejuiso para o ensino.


44<br />

Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es hão <strong>de</strong> surgir naturalmente como uma<br />

conseqüência da evolução e um resultado do progresso. Para isto<br />

foram tomadas pela comissão sabias e pru<strong>de</strong>ntes resoluções. (Jornal<br />

A UNIÃO, 19/08/1917, p.01)<br />

Assim, também po<strong>de</strong>mos observar que a então Reforma procurou estar<br />

atenta, no processo <strong>de</strong> substituição <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo para o outro, com as<br />

condições financeiras, pois “seria oneroso aos cofres públicos [construir e<br />

manter <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es]” (PAIVA, LIMA E PINHEIRO, 2006, P. 5774).<br />

Analisando essa transição, Pinheiro (2002) nos indica que a substituição<br />

das ca<strong>de</strong>iras isoladas para os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es marcou um “lento processo” na<br />

Paraíba. Conforme esse autor, na substituição <strong>de</strong>sse primeiro mo<strong>de</strong>lo para o<br />

último, em muitos casos, passava-se pelas escolas reunidas, referendada pelo<br />

citado autor como “instituições transitórias”.<br />

Sobre a implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es nas cida<strong>de</strong>s paraibanas, era<br />

<strong>de</strong>terminado no art. 40 daquela Reforma que, “a creação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />

[seria] feita por <strong>de</strong>creto do govêrno, logo que na localida<strong>de</strong> exista predio<br />

apropriado pertencente ao Estado, ou seja offerecido pelas municipalida<strong>de</strong>s ou<br />

particulares” (PARAHYBA, 1917).<br />

Então, <strong>de</strong>ntre outros critérios, como o número <strong>de</strong> alunos e <strong>de</strong><br />

funcionários, para se criar um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> era, essencialmente, necessário<br />

possuir prédios a<strong>de</strong>quados para a implantação e funcionamento <strong>de</strong> tal<br />

organização <strong>de</strong> ensino, já que esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola não tinha<br />

condições <strong>de</strong> funcionar em salas <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> professoras e galpões como<br />

ocorriam com as escolas e ca<strong>de</strong>iras isoladas.<br />

2.2.2 - Surgem novos atores para a educação <strong>escolar</strong>: diretor, porteiro e<br />

servente<br />

Anunciando e <strong>de</strong>terminando novos atores para a escola, a reforma <strong>de</strong><br />

1917, mais precisamente no art. 43, explicita que “o pessoal administrativo dos


<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es compor-se-á <strong>de</strong> um director, um porteiro e um servente”<br />

(PARAHYBA, 1917).<br />

Nesse sentido, com uma nova estrutura arquitetônica e outras<br />

necessida<strong>de</strong>s administrativo-pedagógicas, a implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />

faz exigir esses novos cargos, além <strong>de</strong> uma inovação para o próprio professor<br />

que agora terá que lidar com uma nova organização <strong>escolar</strong>: um sistema<br />

seriado, com divisão do trabalho <strong>escolar</strong>, possível homogeneida<strong>de</strong> com o<br />

agrupamento dos alunos em classes conforme o nível <strong>de</strong> conhecimento,<br />

racionalização curricular, controle e distribuição or<strong>de</strong>nada do tempo e<br />

conteúdos (SOUZA, 2004).<br />

Sobre o cargo <strong>de</strong> diretor, é ressaltado primeiramente na então reforma,<br />

no art. 44, como se efetiva a nomeação do mesmo. Vejamos,<br />

45<br />

O cargo <strong>de</strong> director <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> será <strong>de</strong> nomeação do govêrno<br />

e <strong>de</strong>vera recahir em professor diplomado pela Escola Normal, com<br />

vitalicieda<strong>de</strong> no ensino primario e comprovada aptidão.<br />

§ 1º - Este logar po<strong>de</strong>rá ser occupado por um dos professores<br />

effectivos com exercicio no <strong>grupo</strong>, o qual perceberá, além dos seus<br />

vencimentos, a gratificação constante da tabella annexa.<br />

§ 2º - Na capital, po<strong>de</strong>rão também ser incumbidos da direcção dos<br />

<strong>grupo</strong>s o inspector geral do Ensino e professores <strong>de</strong> pedagogia da<br />

Escola Normal, competindo-lhes, além dos seus vencimentos, a<br />

gratificação dos § anterior.<br />

§ 3º - Nos casos <strong>de</strong>ste art. e do § 1º, os directores serão<br />

conservados enquanto bem servirem. (PARAHYBA, 1917).<br />

Diante <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>terminação, po<strong>de</strong>mos supor que tal cargo era <strong>de</strong><br />

confiança, já que era uma escolha realizada pelo representante maior do <strong>grupo</strong><br />

político que estava no po<strong>de</strong>r.<br />

Quanto ao papel do diretor <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, são elencados no<br />

regulamento, art. 46, doze itens salientando o que compete ao mesmo. Dentre<br />

as <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong>stacam-se: fiscalizar e dirigir tecnicamente o ensino por<br />

meio das leis que estavam vigentes e do programa oficial; distribuir os alunos<br />

nas classes, fiscalizar a freqüência dos professores e adjuntos; anotar as faltas<br />

dos <strong>de</strong>mais funcionários do <strong>grupo</strong>; organizar as folhas <strong>de</strong> pagamentos mensais<br />

e encaminhá-las ao inspetor <strong>escolar</strong>; receber e aplicar as verbas <strong>de</strong>stinadas ao


expediente do <strong>grupo</strong> que se responsabiliza com compra <strong>de</strong> livros; prestar<br />

contas ao diretor geral da instrução pública entre outras funções.<br />

Concernente ao porteiro, foi <strong>de</strong>finido que seria nomeado pelo presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> Estado através <strong>de</strong> uma proposta do diretor do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Ao mesmo, era<br />

apresentado o seguinte papel:<br />

46<br />

Art. 49 - São <strong>de</strong>veres do porteiro:<br />

1º - abrir diariamente as portas do edifício antes da hora <strong>de</strong>signada<br />

para inicio dos trabalhos lectivos e fechal-as após o encerramento;<br />

2º - cumprir fielmente o que lhe fôr recommendado pelo director;<br />

3º - respon<strong>de</strong>r pelo asseio do estabelecimento e pela guarda e<br />

conservação do mobiliário <strong>escolar</strong>;<br />

4º - receber e expedir toda correspon<strong>de</strong>ncia official. (PARAHYBA,<br />

1917).<br />

Nesse sentido, fica bastante elucidado nesse trecho do regulamento o<br />

quanto era preciso um novo ator para responsabilizar-se pelo momento <strong>de</strong> abrir<br />

e <strong>de</strong> fechar as portas do prédio <strong>escolar</strong>; controlar o trabalho dos professores;<br />

preservar o mobiliário da escola, entre outras funções acima citadas, pois com<br />

toda a organização do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> não po<strong>de</strong>ria o professor<br />

assumir esses <strong>de</strong>veres, porque estava voltado, exclusivamente, a sua sala <strong>de</strong><br />

aula. O diretor também não po<strong>de</strong>ria assim atuar, uma vez que ficaria<br />

<strong>de</strong>sfalcada a administração e organização do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Então, para o bom<br />

funcionamento <strong>de</strong>ssa instituição a atuação do porteiro era indispensável.<br />

Assim como o porteiro, o servente também era escolhido pelo diretor do<br />

<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Todavia, sua contratação <strong>de</strong>pendia da aprovação do diretor<br />

geral da instrução pública.<br />

O <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>sse novo ator da educação <strong>escolar</strong> consistia em “conservar o<br />

edifício em completo asseio, atten<strong>de</strong>ndo às or<strong>de</strong>ns do director e porteiro e às<br />

recommendações dos professores” (PARAHYBA, Art. 51, 1917).<br />

O servente, portanto, ficava mais incumbido <strong>de</strong> manter a higiene do<br />

edifício <strong>escolar</strong> e esse podia ser homem ou mulher, conforme o parágrafo único<br />

do Art. 50 da reforma.


2.3 – O governo Solon <strong>de</strong> Lucena e a implantação do Grupo Escolar <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong><br />

Consi<strong>de</strong>ramos que antes <strong>de</strong> tratarmos sobre o governo Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

é importante realizar uma rápida biografia do mesmo.<br />

De acordo com o memorial da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (1996), Solon<br />

<strong>de</strong> Lucena era natural <strong>de</strong> Bananeiras-PB. Filho do senhor Virgínio <strong>de</strong> Melo e da<br />

senhora Amélia Barbosa <strong>de</strong> Lucena e primo em 2º grau <strong>de</strong> Epitácio Pessoa.<br />

Foto 1: Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

Fonte: Arquivo do Museu Histórico <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

Solon <strong>de</strong> Lucena era professor em Bananeiras e logo após o ano <strong>de</strong><br />

1912, em apenas oito anos, foi presi<strong>de</strong>nte da Assembléia Legislativa, secretário<br />

geral, <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral, presi<strong>de</strong>nte do estado e chefe do partido ao qual era<br />

ligado, <strong>de</strong>nominado na época <strong>de</strong> Partido Epitacista. Confirmando essa<br />

passagem <strong>de</strong> Solon em alguns cargos <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, Leite (1979) relata:<br />

47<br />

Seu ingresso na política ocorreu em 1912, quando <strong>de</strong>sistiu no quarto<br />

ano <strong>de</strong> direito, para <strong>de</strong>dicar-se à arte do bem comum. Foi, todavia,<br />

após a cisão <strong>de</strong> 1915, quando da formação do Partido Walfredista,<br />

que Solon <strong>de</strong> Lucena passou a comandar a política no brejo,<br />

reunindo elementos prestigiosos dos colégios eleitorais <strong>de</strong><br />

Bananeiras, Araruna, Caiçara, Serraria e Guarabira, sob a ban<strong>de</strong>ira<br />

do Partido Epitacista. Daí à Assembléia Legislativa foi um passo.<br />

Suas qualida<strong>de</strong>s morais e intelectuais aliados ao superior domínio da


48<br />

palavra, tornaram-no em breve, <strong>de</strong>tentor da confiança do colegiado.<br />

Eleito Presi<strong>de</strong>nte da casa, eventualmente chegou à Presidência do<br />

Estado em substituição ao Antônio Pessoa, entregando o governo a<br />

Camilo <strong>de</strong> Holanda. Este <strong>de</strong> imediato, convida-o para Secretário do<br />

Governo, cargo do qual se afastou por ter sido eleito <strong>de</strong>putado<br />

fe<strong>de</strong>ral.<br />

Aquele curto período <strong>de</strong> governo, fora, todavia, suficiente para<br />

revelar suas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> administrador emérito (LEITE, 1979, p.<br />

17-18)<br />

Conforme Trigueiro (1982), Solon foi um dos raros<br />

presi<strong>de</strong>ntes/governadores do estado da Paraíba até a década <strong>de</strong> 1970 que não<br />

possuía diploma <strong>de</strong> curso superior, embora, como observamos na citação<br />

antece<strong>de</strong>nte, tenha cursado a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito do Recife sem chegar a<br />

diplomar-se. O mesmo autor afirma que Solon era consi<strong>de</strong>rado inteligente, com<br />

fama <strong>de</strong> excelente orador e lí<strong>de</strong>r.<br />

Solon <strong>de</strong> Lucena assumiu pela primeira vez a presidência do estado da<br />

Paraíba no ano <strong>de</strong> 1916, mais precisamente nos últimos meses do quatriênio,<br />

por causa do afastamento do Coronel Antônio Pessoa, como já <strong>de</strong>stacado por<br />

Leite. De 1920 até 1924, Solon assume novamente a presidência do estado e<br />

no último ano <strong>de</strong> sua administração por efeito <strong>de</strong> sérios problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

fica menos comprometido com o serviço público. Faleceu quando ainda moço,<br />

com apenas <strong>de</strong> 49 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, em 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1926.<br />

Sobre o governo Solon na Paraíba, Trigueiro relata que:<br />

Solon era figura austera e comportou-se no governo com perfeita<br />

respeitabilida<strong>de</strong>. Não sei se terá sido mais feliz do que os outros na<br />

direção dos negócios políticos. Uma coisa, porém, é certa: foi ele o<br />

único que não teve qualquer atrito com Epitácio, a quem obe<strong>de</strong>cia<br />

com absoluta lealda<strong>de</strong>. Nunca se ouviu falar que, entre os dois,<br />

houvesse surgido qualquer <strong>de</strong>sentendimento sobre o mais<br />

insignificante problema partidário. (TRIGUEIRO, 1982, p.65)<br />

Em conseqüência <strong>de</strong>ssa relação, que consi<strong>de</strong>ramos pacífica, com o<br />

então presi<strong>de</strong>nte da república, Epitácio Pessoa, o governo Solon foi percebido<br />

da seguinte maneira:<br />

De Solon, sempre se disse que era bom político, mas ninguém lhe<br />

teria dado o título <strong>de</strong> bom administrador. De um lado, era ofuscada<br />

pela presença do governo fe<strong>de</strong>ral, com execução <strong>de</strong> um fabuloso<br />

programa <strong>de</strong> obras, que cobria todo território do Estado. De outro, as<br />

obras realizadas na Capital se apresentavam como obras da<br />

Prefeitura, então exercida por Walfredo Gue<strong>de</strong>s Pereira,


administrador enérgico e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> visão, que fez da nossa antiga<br />

Filipea uma nova cida<strong>de</strong>. (TRIGUEIRO, 1982, p.65)<br />

Trigueiro (1982) salienta ainda que no interior do estado a obra <strong>de</strong> maior<br />

<strong>de</strong>staque do governo Solon <strong>de</strong> Lucena foi a construção <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, sendo o mesmo edificado e inaugurado no último<br />

ano <strong>de</strong> seu governo, 1924.<br />

Na capital, conforme o autor antes citado, tal governo foi consi<strong>de</strong>rado<br />

operoso, já que <strong>de</strong>u visibilida<strong>de</strong> aos serviços <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água e<br />

construção <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgotos.<br />

Quanto à instrução pública, afirma Mello (1996) que o governo Solon <strong>de</strong><br />

Lucena apresentou notáveis benefícios, como:<br />

49<br />

Continuaram as edificações <strong>escolar</strong>es no interior. Em Guarabira,<br />

Borborema, Princesa, Sousa, Campina Gran<strong>de</strong> e Areia foram<br />

adquiridos ou construídos prédios adaptados ao funcionamento <strong>de</strong><br />

<strong>grupo</strong>s e ca<strong>de</strong>iras isoladas.<br />

Em quase todos os municípios foram criadas escolas rudimentares;<br />

auxiliou a manutenção <strong>de</strong> um colégio municipal, em Bananeiras;<br />

equiparou à Escola Normal o Colégio <strong>de</strong> Cajazeiras e o <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora das Neves, da Capital; auxiliou o Colégio ‘Oswaldo Cruz’,<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itabaiana. Doou, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> convenientemente<br />

mobiliado, à Associação dos Empregados no Comércio, o suntuoso<br />

edifício da Aca<strong>de</strong>mia ‘Epitácio Pessôa’, e promoveu meios junto aos<br />

po<strong>de</strong>res fe<strong>de</strong>rais, <strong>de</strong> modo levar por diante obras meritórias, como o<br />

Patronato Agrícola ‘Vidal Negreiros’, em Bananeiras, inaugurado na<br />

sua administração. (MELLO, 1996, p. 85)<br />

Todavia, o próprio Solon <strong>de</strong> Lucena apresentava uma gran<strong>de</strong><br />

insatisfação com a situação educacional do estado, <strong>de</strong>vido a questões, como<br />

por exemplo, a falta <strong>de</strong> interesse dos jovens paraibanos com a instrução e a<br />

carência <strong>de</strong> recursos financeiros para investir na área, como po<strong>de</strong>mos observar<br />

nessa longa colocação do presi<strong>de</strong>nte em sua mensagem apresentada a<br />

Assembléia Legislativa do Estado:<br />

É ainda um problema a resolver esse da instrucção publica em<br />

nosso Estado. Apesar dos esforços continuados <strong>de</strong> todas as<br />

administrações, do govêrno Castro Pinto, aos nossos dias, as<br />

reformas têm sido meras reformas <strong>de</strong> papel, sem finalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>sejada, ficando muito aquem das exigências <strong>de</strong> uma organização<br />

precisa e efficiente. Gastando quasi a quinta parte das verbas<br />

previstas nos orçamentos annuaes; com 255 ca<strong>de</strong>iras disseminadas<br />

por todo o Estado, um Lyceu e uma Escola Normal, é força<br />

confessar que ainda não possuímos um systema <strong>escolar</strong> na altura<br />

das necessida<strong>de</strong>s da nossa população infantil. E não sómente da


população infantil, senão também da mocida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>stina aos<br />

cursos superiores das escolas profissionaes do paiz.<br />

50<br />

O regimen dos preparatorios parcellados não produziu o resultado<br />

que se teve em vista, por isso mesmo que a benevolência<br />

generalizada é um dos maiores estimulos ao abandono dos livros e a<br />

maior dos nossos males actuaes. A mocida<strong>de</strong> não procura as<br />

escolas no empenho <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, senão na dôce aspiração <strong>de</strong><br />

passar ou, o que é o mesmo, conquistar certificados <strong>de</strong> preparatórios<br />

mal feitos e peor estudados. (ESTADO DA PARAHYBA, 1924, p.10).<br />

Diante disso, o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado fez o seguinte apelo, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a<br />

função da escola como meio essencial para o <strong>de</strong>senvolvimento da nação:<br />

[...] É preciso mudar <strong>de</strong> rumo. Mas isto não será obra <strong>de</strong> um<br />

govêrno, no pequeno espaço <strong>de</strong> um quadriennio, senão uma<br />

conquista <strong>de</strong> gerações. A escola <strong>de</strong>ve ser o pórtico da vida<br />

profissional e, nessa situação, precisa aparelhar o indivíduo que por<br />

ella venha a passar, dos elementos essenciaes e indispensáveis às<br />

altas conquistas do espírito e do saber. É necessário que a escola<br />

forme o homem, tendo em vista os interesses superiores da pátria.<br />

(ESTADO DA PARAHYBA, 1924, p.11).<br />

Nessa escrita <strong>de</strong> Solon, percebemos que naquele momento, no ano <strong>de</strong><br />

1924, na visão do presi<strong>de</strong>nte a educação <strong>escolar</strong> paraibana caminhava fora do<br />

que se <strong>de</strong>sejava na época - formar homens para edificar a pátria - já que o<br />

mesmo afirma que era preciso mudar <strong>de</strong> direção, “mudar <strong>de</strong> rumo” nesse<br />

âmbito. Assim, po<strong>de</strong>mos pensar através da citação acima, que na Paraíba no<br />

ano <strong>de</strong> 1924 o i<strong>de</strong>ário conclamado principalmente na transição do Império para<br />

a República, o da instrução pública como elemento principal para possibilitar a<br />

configuração da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional e o <strong>de</strong>senvolvimento da nação, ainda não<br />

estava consolidado.<br />

Como adiantado acima, foi nesse governo, precisamente no último ano,<br />

que foi implantado o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>-PB. Esse<br />

<strong>grupo</strong> criado, inicialmente, com o nome <strong>de</strong> Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />

através do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> nº. 1.317 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1924 no governo Solon<br />

<strong>de</strong> Lucena, como <strong>de</strong>terminava o regulamento da instrução primário do estado<br />

do ano <strong>de</strong> 1917, visto anteriormente, recebe, posteriormente, o nome <strong>de</strong> Grupo<br />

Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena em homenagem ao presi<strong>de</strong>nte do estado Solon <strong>de</strong><br />

Lucena, foi construído, conforme os estudos <strong>de</strong> Pinheiro (2002), após a oitava<br />

edificação ou adaptação <strong>de</strong> prédios <strong>de</strong>stinados a <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es no estado.<br />

A Tabela que segue especifica melhor essa informação:


Tabela 1 - Distribuição dos <strong>de</strong>z primeiros <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es do estado da<br />

Paraíba conforme or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> criação<br />

Nome Localização Ano<br />

Grupo Escolar Thomaz Min<strong>de</strong>llo <strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> da<br />

Parahiba 7<br />

Grupo Escolar Epitácio Pessoa <strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> da<br />

Parahiba<br />

1916<br />

1918<br />

Grupo Escolar Padre Ibiapina Itabaiana 1918<br />

Grupo Escolar Padre Rolim _ 1918<br />

Grupo Escolar Antonio Pessoa <strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> da<br />

Parahiba<br />

1920<br />

Grupo Escolar Antonio Pessoa Umbuzeiro 1920<br />

Grupo Escolar Isabel Maria das<br />

Neves<br />

<strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> da<br />

Parahiba<br />

1921<br />

Grupo Escolar Guarabira 1923<br />

Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />

Lucena<br />

<strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong><br />

Grupo Escolar Pedro II Jaguaribe, na cida<strong>de</strong> da<br />

Parahiba<br />

Fonte: Pinheiro, Antonio Carlos F. (2002).<br />

1924<br />

1925<br />

Vale <strong>de</strong>stacar que a idéia da criação do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina<br />

Gran<strong>de</strong> remonta o ano <strong>de</strong> 1923, já que em mensagem apresentada a<br />

Assembléia Legislativa do Estado o presi<strong>de</strong>nte Solon <strong>de</strong> Lucena, relatando<br />

seus feitos, <strong>de</strong>staca o seguinte:<br />

7 Atual capital João Pessoa.<br />

51<br />

Entretanto, não me <strong>de</strong>scurei da instrucção primaria e secundaria do<br />

Estado. Creei mais 12 escolas rudimentares em diversos municípios;<br />

dotei a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Guarabira, uma das mais prosperas do Estado, <strong>de</strong><br />

um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>; provi na Escola Normal a organização <strong>de</strong> um<br />

gabinete <strong>de</strong> physica e chimica e historia natural; reformei,<br />

apparelhando-o convenientemente; fiz construir um amplo pavilhão<br />

no jardim da Escola Normal para recreio das creanças do <strong>grupo</strong>


52<br />

mo<strong>de</strong>lo; levantei a planta <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> que pretendo construir<br />

em Campina Gran<strong>de</strong>; dotei a Escola <strong>de</strong> Commercio com uma se<strong>de</strong><br />

que honra a Parahyba e, certamente, virá a ser um dos maiores<br />

incitantes a essa promissora instituição, e levei o meu estimulo a<br />

quantos se <strong>de</strong>dicam ao magistério, premiando os esforços dos que,<br />

pelos seus méritos, conquistam os primeiros postos, nos concursos<br />

regulamentares. (ESTADO DA PARAHYBA, 1923, p.49, grifo meu).<br />

Sobre a legalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação do GESL, é relevante salientar que foi<br />

através do Decreto nº. 1.317 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1924, assinado pelo<br />

presi<strong>de</strong>nte do estado Solon <strong>de</strong> Lucena, que oficialmente se assegurou a<br />

implantação <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola primária em Campina Gran<strong>de</strong>. Vejamos o<br />

que <strong>de</strong>termina esse <strong>de</strong>creto:<br />

Decreto nº. 1.317 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1924<br />

Crea um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />

Solon Barbosa <strong>de</strong> <strong>lucena</strong>, presi<strong>de</strong>nte do Estado da Parahyba do<br />

Norte, tendo em vista o officio sob n.º1.453, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong><br />

setembroexpirante, que lhe foi dirigido pela directoria geral da<br />

Instrucção Publica, usando da attribuição que lhe confere o art. 36, §<br />

1º, da constituição Estadual e na conformida<strong>de</strong> do regulamento que<br />

baixou com o <strong>de</strong>creto sob nº. 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917.<br />

DECRETA:<br />

Art. 1º - Fica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, creado um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, ao qual ficam incorporadas as ca<strong>de</strong>iras do ensino publico<br />

primario existentes naquella cida<strong>de</strong>, a saber: do sexo feminino, do<br />

sexo masculino e mista.<br />

Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrario.<br />

O Secretario do Estado faça publicar o presente <strong>de</strong>creto, expedindo<br />

as or<strong>de</strong>ns e comunicações necessárias.<br />

Palácio do govêrno do Estado da Parahyba do Norte, em 30<strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1924- 36º da Proclamação da Republica. (ESTADO DA<br />

PARAHYBA, 1924).<br />

Conforme po<strong>de</strong>mos observar a partir do citado <strong>de</strong>creto, no GESL,<br />

inicialmente, <strong>de</strong>veriam funcionar a ca<strong>de</strong>ira do sexo feminino, a ca<strong>de</strong>ira do sexo<br />

masculino e a ca<strong>de</strong>ira mista daquela cida<strong>de</strong>. Portanto, como não existia,<br />

oficialmente, seriação nas ca<strong>de</strong>iras isoladas, supomos que essas ao<br />

integrarem o GESL foram, gradativamente, tornando-se as séries nesse <strong>grupo</strong>.<br />

Logo, consi<strong>de</strong>ramos que em seu primeiro ano <strong>de</strong> funcionamento as classes<br />

não possuíam seriação.


No anuário <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1925, é <strong>de</strong>stacado que essas<br />

ca<strong>de</strong>iras estavam assim distribuídas quando passaram a integrar o GESL: a<br />

mista, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> da professora efetiva Isaura Chagas Vianna e a<br />

adjunta efetiva Julieta Cor<strong>de</strong>iro Barbosa; a do sexo feminino, ministrada pela<br />

professora efetiva Jacintha Dantas e a adjunta efetiva Celecina Dantas e,<br />

finalmente, a do sexo masculino, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do professor efetivo<br />

Mario Gomes, o qual foi nomeado diretor do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> e a adjunta Antonia<br />

Agra. Como não é nosso objetivo discutir a história <strong>de</strong> vida dos que integraram<br />

o corpo docente do GESL, não especificaremos nesse estudo tal informação.<br />

Atinente à motivação para a implantação <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em<br />

Campina Gran<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ramos como indícios os seguintes: o número <strong>de</strong><br />

alunos matriculados no ensino primário da cida<strong>de</strong>, pois como observado no<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> n° 873 <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917 era um dos requisitos para a<br />

construção <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es nas localida<strong>de</strong>s paraibanas; o crescimento<br />

populacional e urbano <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e a possível reivindicação da elite<br />

campinense.<br />

Sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>staca o Anuário <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> antes mencionado, que até 1924 não<br />

existia um prédio que pu<strong>de</strong>sse comportar os alunos matriculados nas ca<strong>de</strong>iras<br />

isoladas que se instalavam nas regiões mais centrais do município. Conforme<br />

este anuário, “até aquelle tempo [1924] não [possuíam] nenhum<br />

estabelecimento publico <strong>de</strong> ensino, que pu<strong>de</strong>sse acceitar matricula <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

80 alumnos” (ANUÁRIO DE CAMPINA GRANDE, 1925, p.50).<br />

É importante especificar, conforme esse anuário, que já no início do ano<br />

<strong>de</strong> 1925 o GESL matriculou 210 alunos, sendo a freqüência diária <strong>de</strong>, no<br />

mínimo, 150 estudantes. Por isso, consi<strong>de</strong>ramos que o número <strong>de</strong> alunos<br />

matriculados no ensino primário tenha sido um indício para essa implantação,<br />

pois antes da fundação do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> o número <strong>de</strong> crianças já <strong>de</strong>manda um<br />

local maior para esse ensino. Esse indício nos leva a pensar que a estatística<br />

<strong>de</strong> crianças em ida<strong>de</strong> <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong> era bem consi<strong>de</strong>rável no<br />

período.<br />

53


Todavia, é relevante <strong>de</strong>stacar que a criação <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> não fez<br />

extinguir as ca<strong>de</strong>iras isoladas em Campina Gran<strong>de</strong>, pois, conforme Pinheiro<br />

(2002), no ano <strong>de</strong> 1926 este município apresentava um número <strong>de</strong> 16 ca<strong>de</strong>iras<br />

isoladas e/ou escolas rudimentares e elementares. Portanto, como especifica o<br />

autor citado, esses mo<strong>de</strong>los do ensino primário, ca<strong>de</strong>iras isoladas e <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es, passaram a coexistirem na Paraíba, e, nesse caso, em Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, especificamente a partir <strong>de</strong> 1924.<br />

Com relação à possibilida<strong>de</strong> da implantação do GESL ter sido motivada<br />

também pelo o crescimento populacional e urbano <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>,<br />

consi<strong>de</strong>ramos importante <strong>de</strong>stacar que nesse período essa cida<strong>de</strong> já era<br />

consi<strong>de</strong>rada um importante centro urbano e comercial do agreste paraibano,<br />

como po<strong>de</strong>remos observar mais <strong>de</strong>talhadamente no próximo capítulo. Nessa<br />

cida<strong>de</strong>, conforme Almeida (1978), em 1925, a população contabilizava<br />

aproximadamente 9.000 habitantes e cerca <strong>de</strong> 2.500 casas. Portanto, po<strong>de</strong>mos<br />

dizer que era uma cida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rada urbanizada que <strong>de</strong>manda uma<br />

instituição <strong>de</strong> ensino primário a<strong>de</strong>quada ao seu <strong>de</strong>senvolvimento sócio-<br />

econômico.<br />

Concernente à possível reivindicação da elite campinense na<br />

implantação <strong>de</strong>sse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária para Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, é pertinente explicitar que, segundo Sousa (2007), na década <strong>de</strong> 1920<br />

um <strong>grupo</strong> <strong>de</strong> letrados, formados pelos filhos da elite campinense que<br />

estudavam na capital ou em Recife, reivindicavam para essa cida<strong>de</strong> um projeto<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e urbanida<strong>de</strong>. Esses campinenses, conforme o autor citado,<br />

tinha a percepção <strong>de</strong> que<br />

54<br />

[...] Campina estava assumindo ares <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> progressista, que<br />

necessitava crescer também em estética, com ruas calçadas e<br />

alinhadas, casas e edificações mo<strong>de</strong>rnas, praças e logradouros<br />

agradáveis e o fim dos sinuosos e anti-higiênicos becos. (SOUSA,<br />

2007, p.127)<br />

Além <strong>de</strong>ssa reivindicação, <strong>de</strong> acordo com o autor mencionado, os<br />

letrados buscavam <strong>de</strong>stacar “a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus habitantes aparecerem na<br />

cena pública com comportamentos e atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> civilida<strong>de</strong> e urbanida<strong>de</strong>”<br />

(SOUSA, 2007, p.127). Portanto, a implantação <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> po<strong>de</strong>ria


ter sido uma das reivindicações conclamadas por esses campinenses para<br />

suprir essa necessida<strong>de</strong>, uma vez que o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> além <strong>de</strong> fazer parte do<br />

projeto <strong>de</strong> embelezamento das cida<strong>de</strong>s, como po<strong>de</strong>remos observar no próximo<br />

capítulo, propunha a formação do cidadão civilizado.<br />

55


CAPÍTULO 3 – URBANIZAÇÃO E ARQUITETURA ESCOLAR, ELEMENTOS<br />

DA MODERNIZAÇÃO: O CASO DO GRUPO ESCOLAR SOLON DE LUCENA<br />

[...] O espaço comunica; mostra a quem sabe ler, o emprego que o ser<br />

humano faz <strong>de</strong>le mesmo. Um emprego que varia em cada cultura; que é<br />

um produto cultural específico, que diz respeito não às relações<br />

interpessoais – distâncias, território pessoal, contatos, comunicação,<br />

conflitos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r –, mas também a liturgia e ritos sociais, à simbologia das<br />

disposições dos objetos e dos corpos – localização e posturas –, à sua<br />

hierarquia e relações.<br />

Todas essas questões po<strong>de</strong>m ser referidas ao âmbito da escola como lugar, à<br />

sua configuração arquitetônica e à or<strong>de</strong>nação espacial <strong>de</strong> pessoas e objetos,<br />

<strong>de</strong> usos e funções que têm lugar em tal âmbito.<br />

56<br />

Antônio Viñao Frago (1998)<br />

Nesse capítulo, buscamos analisar aspectos da arquitetura <strong>escolar</strong> do<br />

GESL e relacioná-los com o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e urbanização da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, assim como observar o investimento arquitetônico<br />

que esse <strong>grupo</strong> teve, tendo em vista os <strong>de</strong>mais espaços <strong>de</strong>stinados a serem<br />

<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba.<br />

Nesse sentido, procuramos respon<strong>de</strong>r, principalmente, as seguintes<br />

perguntas: O que representou a arquitetura do prédio <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> para a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>? Até que ponto a construção do mesmo <strong>grupo</strong><br />

coincidiu com o avanço urbano <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>? E como foi organizado o<br />

espaço interno <strong>de</strong>ssa instituição?<br />

3.1 – A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

Indica a historiografia paraibana que o primeiro indício <strong>de</strong> povoamento<br />

no local on<strong>de</strong> hoje se situa a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> foi o al<strong>de</strong>amento dos<br />

índios Ariús, fixados por Teodósio <strong>de</strong> Oliveira Ledo 8 . De acordo com Uchõa<br />

(1964), esse lugar tinha na época o nome <strong>de</strong> sítio das Barrocas que,<br />

8 Teodósio <strong>de</strong> Oliveira Lêdo veio da Bahia com sua família no ano <strong>de</strong> 1664 para explorar uma<br />

sesmaria que lhe havia sido concedida ao longo do Rio Paraíba. Era sobrinho <strong>de</strong> Antônio <strong>de</strong><br />

Oliveira Lêdo, primeiro Capitão-mor da Infantaria <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>nanças a Pé do Sertão da Paraíba. A<br />

Teodósio suce<strong>de</strong>u o irmão, Constantino <strong>de</strong> Oliveira Lêdo, na missão <strong>de</strong> continuar a exploração<br />

na Paraíba.


posteriormente, recebeu o nome <strong>de</strong> Rua das Barrocas e, logo em seguida, do<br />

Oriente.<br />

Conforme a Fundação Movimento Brasileiro <strong>de</strong> Alfabetização (MOBRAL,<br />

1984), em 1769 esse povoamento iniciado com os índios Ariús foi elevado à<br />

condição <strong>de</strong> freguesia, recebendo a invocação <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />

Conceição. Depois <strong>de</strong> vinte e um anos, complementando essa fundação, em<br />

1790, é transformado em vila nos termos da Carta Régia <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1766, com o nome <strong>de</strong> Vila Nova da Rainha que, mais tar<strong>de</strong>, viria a se tornar a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

A localização geográfica da Vila Nova da Rainha possibilitou o<br />

crescimento populacional <strong>de</strong>ssa localida<strong>de</strong> e fez com que passasse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

século XVIII “a ser ponto obrigatório <strong>de</strong> ligação entre o litoral e os sertões,<br />

transformando-se em autêntico entreposto <strong>de</strong> comércio, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>spontavam as<br />

transações <strong>de</strong> gado e farinha” (MOBRAL, 1984, p.39).<br />

Em 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1864, a vila é elevada à categoria <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. A lei<br />

provincial que assegurou essa transformação foi a <strong>de</strong> nº. 127, assinada pelo<br />

presi<strong>de</strong>nte Sinval Odorico <strong>de</strong> Moura. Vejamos tal lei citada por Elpídio <strong>de</strong><br />

Almeida em livro sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>:<br />

LEI N. 127<br />

De 11<strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1864.<br />

57<br />

Sinval Odorico <strong>de</strong> Moura, Bacharel Formado em Ciências Jurídicas e<br />

sociais pela Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Olinda, Oficial da Imperial Or<strong>de</strong>m da Rosa,<br />

e Presi<strong>de</strong>nte da Província da Paraíba do Norte: Faço saber a todos<br />

os seus habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial resolveu,<br />

e eu sanciono a Lei seguinte:<br />

Art. Único – A Vila <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> fica elevada a categoria <strong>de</strong><br />

cida<strong>de</strong>, conservando a mesma <strong>de</strong>nominação, e revogadas as<br />

disposições em contrário.<br />

Mando portanto a todas as autorida<strong>de</strong>s, a quem o conhecimento e<br />

execução da presente Resolução pertencer, que a cumpram e façam<br />

cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém. O<br />

secretário <strong>de</strong>sta Província a faça imprimir, publicar e correr.<br />

Palácio do Governo da Paraíba, em 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1864.<br />

Sinval Odorico <strong>de</strong> Moura (conforme ALMEIDA, 1978, p. 132-133).<br />

Ainda no período monárquico, Campina já era dita como um dos<br />

principais núcleos urbanos do interior paraibano:


58<br />

Campina, na primeira meta<strong>de</strong> do século XIX, já se <strong>de</strong>stacava como<br />

um dos principais núcleos urbanos do interior. <strong>Centro</strong> comercial,<br />

cujas feiras <strong>de</strong> gado e cereais atraiam tropeiros das áreas limítrofes,<br />

foi impulsionado pelo incremento da produção algodoeira (GURJÃO,<br />

1994, p. 23-24)<br />

Consi<strong>de</strong>rada como pólo <strong>de</strong> atração dos tropeiros viajantes e<br />

comerciantes das regiões mais próximas, Campina Gran<strong>de</strong> “<strong>de</strong>spertou ao<br />

ascen<strong>de</strong>r das luzes do século XX como um já promissor centro comercial e<br />

industrial, produzindo e comercializando as principais manufaturas da época:<br />

algodão e sisal” (BARBOSA, 1999, p. 28).<br />

Reforçando esse crescimento <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, em 1907 é<br />

implantado o ramal da Great Western of Brazil Railway Company Ltda. Com<br />

essa implantação,<br />

[à cida<strong>de</strong>] passou a afluir praticamente a totalida<strong>de</strong> da produção do<br />

Agreste e do Sertão, que era transportada, através da estrada <strong>de</strong><br />

ferro para Recife. Campina Gran<strong>de</strong> consolidou-se como centro<br />

polarizador da produção algodoeira <strong>de</strong> um vasto espaço regional,<br />

que incluía inclusive ligações com áreas do RN [Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte] e CE [Ceará] (GONÇALVES, 1999, p. 34)<br />

Para a autora acima citada, a construção da ferrovia veio modificar a<br />

aparência da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, pois “sem eliminar o tradicional<br />

burro, o trem trouxe maior velocida<strong>de</strong> no escoamento das mercadorias e<br />

facilida<strong>de</strong> na locomoção das pessoas” (GONÇALVES, 1999, p.35).<br />

Donne (1979), em um trabalho sobre as teorias que tem a cida<strong>de</strong> como<br />

análise, <strong>de</strong>staca que os meios <strong>de</strong> transporte são um dos motivos <strong>de</strong> expansão<br />

urbana e crescimento da cida<strong>de</strong>. Para ela,<br />

Os meios <strong>de</strong> transporte representam um parâmetro válido para se<br />

estabelecer a amplitu<strong>de</strong> do sector <strong>de</strong> influência <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>.<br />

Cida<strong>de</strong>s servidas por auto-estradas, núcleos ferroviários importantes<br />

e aeroportos, estabelecem um sector <strong>de</strong> influência que tem uma<br />

irradiação que vai além do hinterland regional, chegando ao território<br />

nacional, internacional, mundial. (DONNE, 1979, p.101)<br />

Concordando com a estudiosa citada, consi<strong>de</strong>ramos que a implantação<br />

da estrada <strong>de</strong> ferro promoveu um acelerado crescimento à Campina Gran<strong>de</strong>,<br />

pois esta cida<strong>de</strong> ficou “convertida no mais importante centro urbano <strong>de</strong> todo<br />

interior nor<strong>de</strong>stino, [compondo] com o algodão, comércio e via férrea, o tripé


esponsável pelo progresso” (ARRUDA, 1997 p.162). Des<strong>de</strong> 1907 comboieiros<br />

do sertão paraibano e <strong>de</strong> estados vizinhos passaram a procurá-la com a<br />

finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> embarcar mercadorias.<br />

Segundo Nascimento (1997), a implantação <strong>de</strong>ssa estrada em Campina<br />

Gran<strong>de</strong> veio respon<strong>de</strong>r a uma antiga reivindicação da população daquela<br />

localida<strong>de</strong> que, ressentia-se da falta <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> transportes eficientes para<br />

escoar os produtos que ali chegavam. Para essa estudiosa, a estrada <strong>de</strong> ferro<br />

além <strong>de</strong> acelerar o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da cida<strong>de</strong> e sua articulação com<br />

o restante do país, também promoveu uma mudança na rotina dos<br />

campinenses, como se po<strong>de</strong> perceber na seguinte citação:<br />

59<br />

A rotina da população foi <strong>de</strong>finitivamente alterada, a partir daquele<br />

dia [2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1907]. A estação ferroviária tornou-se o principal<br />

local <strong>de</strong> reunião das pessoas que para lá se dirigiam com a intenção<br />

<strong>de</strong> enviar ou receber mercadorias, como também, para saber as<br />

notícias do Recife e do restante do país. A ida à estação ferroviária<br />

fazia parte do cotidiano da população (NASCIMENTO, 1997, p. 35)<br />

Após essa implantação, a cida<strong>de</strong> passou por acelerado processo <strong>de</strong><br />

crescimento e mo<strong>de</strong>rnização. Vieram as acomodações <strong>de</strong> lojas, indústrias e<br />

diversas outras instalações necessárias a uma cida<strong>de</strong> em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Algumas <strong>de</strong>ssas instalações foram: em 1918, chegada do automóvel em<br />

Campina Gran<strong>de</strong>; 1920, instalação da luz elétrica; 1923, fundação da Loja<br />

Maçônica “Regeneração Campinense” e inauguração da Agência do Banco do<br />

Brasil; 1924, inauguração do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina; 1925,<br />

implantação do novo mercado público. (CÂMARA, 1947)<br />

Abordando especificamente a relação cida<strong>de</strong> e arquitetura em Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, Carvalho, Queiroz e Tinem (2007) nos indicam que durante o período<br />

<strong>de</strong> 1907 até 1935 houve um crescimento significativo, nesta cida<strong>de</strong>, em termos<br />

<strong>de</strong> edificações urbanas. Segundo estes estudiosos, em 1907 o número <strong>de</strong><br />

prédios era <strong>de</strong> 731. Já em 1935, esse número cresceu para 5.897 edificações.<br />

Com certeza, po<strong>de</strong>mos inferir que esse crescimento esteve relacionado à<br />

chegada da estrada <strong>de</strong> ferro.


Esse <strong>de</strong>senvolvimento em Campina Gran<strong>de</strong>, após o ano <strong>de</strong> 1907, é<br />

<strong>de</strong>stacado também nos versos <strong>de</strong> José Alves Sobrinho, publicados no livro<br />

“História <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> em versos”:<br />

[...]Em novecentos e sete<br />

Foi o ano que chegou<br />

A re<strong>de</strong> Ferroviária<br />

O progresso acelerou,<br />

A cida<strong>de</strong> evoluiu<br />

O ambiente mudou<br />

Campina Gran<strong>de</strong> tornou-se<br />

Mais progressista em ação<br />

Criou gran<strong>de</strong>s armazéns<br />

E <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> algodão<br />

Que comprava e exportava<br />

Para todo o sul da nação.<br />

Foi em mil novecentos<br />

E <strong>de</strong>zoito outro advento,<br />

Dessa vez o automóvel<br />

Trazendo contentamento<br />

Era sinal <strong>de</strong> riqueza<br />

Luxo e <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Em 17 ou vinte<br />

Chegou em nossa cida<strong>de</strong><br />

A nova iluminação<br />

Mesmo a eletricida<strong>de</strong>,<br />

Que até ali era gás<br />

E <strong>de</strong> pouca clarida<strong>de</strong>.<br />

Foi em mil e novecentos<br />

E <strong>de</strong>zesseis nesse ano<br />

Inaugurado o açu<strong>de</strong><br />

De Bodocongó no plano<br />

Da administração<br />

Do coronel Cristiano.<br />

Chega em mil novecentos<br />

E vinte e três, em abril<br />

A gran<strong>de</strong> primeira Agência<br />

Do bom Banco do Brasil<br />

José Arraes <strong>de</strong> Alencar<br />

Foi o agente gentil.<br />

E em mil novecentos<br />

E vinte e seis, novo alento<br />

O presi<strong>de</strong>nte do Estado<br />

Saneou Campina Gran<strong>de</strong><br />

Isto foi <strong>de</strong> muito agrado<br />

Vindo <strong>de</strong> Puxinanã<br />

O líquido tão esperado.<br />

Construiu duas barragens<br />

Entre o lajedo e a chã<br />

60


Dali nasceu o povoado<br />

Com inspiração louca<br />

On<strong>de</strong> hoje é cida<strong>de</strong><br />

De nome Puxinanã<br />

Também nesse mesmo ano<br />

Teve início o calçamento<br />

Da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />

Com gran<strong>de</strong> contentamento<br />

Praça Epitácio Pessoa<br />

Teve esse melhoramento. [...] (SOBRINHO, [199-])<br />

Com base em Chartier (1990), po<strong>de</strong>mos dizer que para esse<br />

memorialista a representação do mundo, nesse caso <strong>de</strong>limitada à Campina<br />

Gran<strong>de</strong> no início do século XX, foi <strong>de</strong>terminada pelos seus interesses, ou pelo<br />

que o poeta consi<strong>de</strong>rava marco para a história <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong>, já que alguns<br />

acontecimentos consi<strong>de</strong>rados por nós relevantes para a referida cida<strong>de</strong> ficaram<br />

fora <strong>de</strong>sse registro, por exemplo, a implantação do GESL.<br />

Essas implantações em Campina Gran<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> modo especial a do<br />

GESL, confirmam o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização que aquela cida<strong>de</strong> estava<br />

passando.<br />

De acordo com Sousa (2007), a instalação <strong>de</strong> diversos equipamentos<br />

urbanos e instituições foram dando um caráter mo<strong>de</strong>rno à Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

Para este autor, nos anos seguintes ao <strong>de</strong> 1924 o melhoramento continuou<br />

nessa cida<strong>de</strong>, pois em 1925 foi inaugurada a primeira fábrica <strong>de</strong> sabão; em<br />

1926, iniciada a construção do hospital Pedro I e fundada a Associação<br />

Comercial; em 1928, a instalação das primeiras fábricas têxteis; entre outras<br />

implantações.<br />

Para Pimentel (1958) é, precisamente, a partir <strong>de</strong> 1930 que essa cida<strong>de</strong><br />

aumentou substancialmente seu movimento comercial, já que foi quando<br />

entraram em tráfego normal os caminhões transportadores <strong>de</strong> cargas, que<br />

“relevante e incontáveis serviços prestaram a Campina Gran<strong>de</strong> no tocante ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento” (MOBRAL, 1984, p.44).<br />

Destacando o crescimento <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, principalmente em<br />

termo comercial, a Fundação Movimento Brasileiro <strong>de</strong> Alfabetização (MOBRAL,<br />

1984, p.45) ressaltou o seguinte:<br />

61


62<br />

Em 1936, Campina Gran<strong>de</strong> já era a principal cida<strong>de</strong> do interior<br />

Nor<strong>de</strong>stino e <strong>de</strong>stacava-se pelo seu intenso comercio <strong>de</strong> algodão, na<br />

condição privilegiada <strong>de</strong> terceira praça algodoeira no mercado<br />

mundial. Contava com 14.575 prédios e uma população <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />

100.000 habitantes, possuía aproximadamente 15 indústrias, 5<br />

estabelecimentos bancários, além <strong>de</strong> colégios, cinemas, clubes, etc.<br />

Então, ratificando o que diversos estudiosos (SOUZA, 1998; FARIA<br />

FILHO, 2000; PINHEIRO, 2002) <strong>de</strong>monstraram quanto aos contextos nos quais<br />

se implantavam <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, pu<strong>de</strong>mos observar que na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong> não foi diferente, pois esta apresentava certo <strong>de</strong>staque no<br />

interior paraibano em termos urbanos, comerciais e sociais e, portanto, já<br />

<strong>de</strong>mandava a construção <strong>de</strong> uma nova organização da escola primária pública<br />

naquele tempo.<br />

3.2 – A breve construção do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong><br />

O GELS, conforme o Almanach <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (1934), começou a<br />

ser construído no dia 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1924, na então consi<strong>de</strong>rada principal<br />

avenida da cida<strong>de</strong>, a Floriano Peixoto. Sobre essa localização, a revista “Tudo”,<br />

suplemento dominical do Diário da Borborema, em matéria sobre as ruas <strong>de</strong><br />

Campina Gran<strong>de</strong> assim situa a Floriano Peixoto “Ali está o 1° Grupo Escolar <strong>de</strong><br />

Campina, o Solon <strong>de</strong> Lucena, com sua história” (REVISTA TUDO, 08/01/1984,<br />

p.07).<br />

Essa localização do GESL, na consi<strong>de</strong>rada principal rua <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> confirmar o que alguns estudiosos, a saber: Souza (1998), Faria<br />

Filho (2000), Pinheiro (2002), verificaram quanto às construções dos primeiros<br />

<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es em alguns estados brasileiros. Tais estudiosos observaram<br />

que este novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária era majoritariamente edificado<br />

nos locais mais urbanizados das cida<strong>de</strong>s. Po<strong>de</strong>mos visualizar a disposição<br />

<strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> na seguinte foto:


Foto 2: Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena (à esquerda na fotografia).<br />

Fonte: Arquivo do Museu Histórico <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

A foto apresentada anteriormente foi publicada no Anuário <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong> do ano <strong>de</strong> 1982, no espaço <strong>de</strong>nominado “Fatos e fotos do passado”.<br />

Provavelmente, foi tirada no final da década <strong>de</strong> 1920, pois po<strong>de</strong>mos observar a<br />

rua que foi ponto <strong>de</strong> referência para o fotógrafo ainda não estava calçada. Essa<br />

foto, possivelmente, tinha o objetivo <strong>de</strong> registrar algum aspecto da rua em<br />

evidência, visto que não se percebe ninguém no momento. Esse aspecto,<br />

supostamente, po<strong>de</strong>ria ser o Cine Fox que se vê a direita, ou o próprio Grupo<br />

<strong>escolar</strong>, à esquerda, situado na rua Floriano Peixoto que se localiza<br />

horizontalmente para quem observa do ponto on<strong>de</strong> se registrou a fotografia.<br />

O <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> foi edificado no local on<strong>de</strong> funcionava o antigo mercado<br />

público da cida<strong>de</strong>, chamado “comércio velho”, à Praça Floriano Peixoto. Esse<br />

mercado,<br />

63<br />

[...] foi consi<strong>de</strong>rado na época uma construção suntuosa, e abrigou a<br />

loja <strong>de</strong> fazendas do cel. Alexandrino Cavalcanti e alguns quiosques<br />

que foram <strong>de</strong>saparecendo aos poucos. Vizinho a ele morou, até<br />

1926, Mestre Hermínio, um sapateiro remendão que teve sua época<br />

como artista e como político. O comercio velho era uma espécie <strong>de</strong><br />

cortiço: acolhia as famílias dos pequenos comerciantes e na, frente,<br />

ciganos armavam tendas e ficavam ocupando a parte aberta do


64<br />

prédio, formada em arcos. Foi abaixo esse prédio em janeiro <strong>de</strong><br />

1924, comprado pelo governo do Dr. Solon <strong>de</strong> Lucena. (PIMENTEL,<br />

1958, p.23-24)<br />

Vejamos imagem <strong>de</strong>sse mercado antigo:<br />

Foto 3: Comércio Velho <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (Antigo Mercado Público)<br />

Fonte: Arquivo do Museu Histórico <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />

A construção do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em foco ter sido justamente no local do<br />

antigo mercado público nos leva a pensar que, estrategicamente, o <strong>grupo</strong><br />

<strong>de</strong>veria ser em um lugar <strong>de</strong> fácil acesso às famílias campinenses que iriam<br />

matricular suas crianças. Assim, nada melhor do que ser no ponto on<strong>de</strong> era o<br />

mercado, pois estava situado no centro da cida<strong>de</strong> e, basicamente, todos<br />

moradores o freqüentavam.<br />

Um outro motivo que po<strong>de</strong> justificar a construção do GESL no lugar on<strong>de</strong><br />

se localizava o Mercado Velho refere-se ao fato da busca <strong>de</strong> negar o passado,<br />

uma vez que o prédio <strong>de</strong>sse mercado era uma edificação do período imperial.<br />

(CARVALHO; QUEIROZ, 2003).


A edificação do prédio <strong>de</strong>stinado ao GESL ficou sob a responsabilida<strong>de</strong><br />

da firma “Cunha e Di Lascio”, tendo à frente o engenheiro <strong>de</strong> origem italiana<br />

“Hermenegildo Di Lascio”.<br />

A construção <strong>de</strong>sse prédio transcorreu <strong>de</strong> forma acelerada, como indica<br />

o seguinte trecho da notícia “Edifícios <strong>escolar</strong>es no interior”, escrita no jornal A<br />

União:<br />

65<br />

Vimos hontem, em mãos do engenheiro contractante Hermenegildo<br />

Di Lascio duas photographias do novo edifício, mandado construir<br />

em Campina Gran<strong>de</strong> pelo o sr. dr. Solon <strong>de</strong> Lucena, presi<strong>de</strong>nte do<br />

Estado.<br />

As obras, que apenas contam dois mezes <strong>de</strong> construcção,<br />

encontram-se muitíssimo a<strong>de</strong>antadas, sendo que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> trinta<br />

dias será iniciada a cobertura do tecto. (Jornal A UNIÃO, 12/03/1924,<br />

p.01).<br />

Ainda indicando essa agilida<strong>de</strong> na construção do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> o mesmo<br />

jornal <strong>de</strong>staca, “completavam-se ante-hotem três mezes que se trabalha na<br />

prefalada obra, sendo provável que antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>correr outro tempo egual seja o<br />

prédio entregue ao governo” (Jornal A UNIÃO, 09/04/1924, p.01).<br />

Se, por um lado, pu<strong>de</strong>mos observar através da imprensa estadual a<br />

rapi<strong>de</strong>z com a qual edificavam o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>, mandado<br />

construir pelo governo Solon <strong>de</strong> Lucena, por outro, foi possível perceber a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> findar essa construção por parte da firma, para apresentar<br />

gran<strong>de</strong> competência e eficácia, como também, por interesse do governo, para<br />

terminar o quadriênio com a obra inaugurada.<br />

Conforme o que foi publicado no jornal antes mencionado, o prédio do<br />

<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> apresenta 26 metros e 70 centímetros <strong>de</strong><br />

frente por 36 metros <strong>de</strong> fundo, sendo que sua frente, seu fundo e uma das<br />

laterais, à esquerda, dava acesso a três ruas.<br />

Po<strong>de</strong>mos afirmar que a construção do referido <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> perdurou<br />

apenas nove meses. Sobre isso Carvalho e Queiroz (2003) explicam:<br />

O <strong>grupo</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena foi construído em apenas 9 meses,<br />

durante o ano <strong>de</strong> 1924. A rapi<strong>de</strong>z da construção é símbolo não<br />

somente do progresso técnico, mas da nova função que o Estado<br />

assume diante da <strong>de</strong>manda que surge, bem como indicativo da<br />

prosperida<strong>de</strong> do município. (CARVALHO; QUEIROZ, 2003, p.31).


Quanto à aceitabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o prédio do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> ter sido construído<br />

naquela localização, Barbosa (1999), citando um trecho <strong>de</strong> um documento da<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, explicita que, para alguns vereadores,<br />

a construção do prédio <strong>escolar</strong> naquele local foi um erro, pois alegam que os<br />

responsáveis na época <strong>de</strong>veriam ter aproveitado terrenos mais amplos para ter<br />

um melhor funcionamento da instituição, longe <strong>de</strong> barulhos. Além disso, ainda<br />

conforme o referido autor, o objetivo dos vereadores em apresentar como<br />

incorreta essa construção era <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a ampliação <strong>de</strong> uma rua que era<br />

transversal à Rua Floriano Peixoto, <strong>de</strong>nominada Maciel Pinheiro, local <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

foi tirada a Foto 2 apresentada anteriormente.<br />

3.3 – Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba: um projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização para<br />

as cida<strong>de</strong>s<br />

Rompendo com a estrutura arquitetônica e espacial das escolas<br />

isoladas, as construções dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es acompanhavam todo um<br />

requinte que as <strong>de</strong>ixavam em <strong>de</strong>staque nas cida<strong>de</strong>s, uma vez que a escola<br />

além <strong>de</strong> ter sido <strong>de</strong>fendida como símbolo do saber, dada à importância<br />

estabelecida à educação <strong>escolar</strong>izada na época, seguia o processo <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização e urbanização das cida<strong>de</strong>s. Sobre essa questão, Nunes (1994,<br />

p.180), em um estudo sobre a relação escola e cida<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro, faz a<br />

seguinte colocação:<br />

66<br />

O paradigma ‘mo<strong>de</strong>rno’ esboçado na socieda<strong>de</strong> brasileira na<br />

passagem do século XIX para o XX configurou-se, com clareza, nas<br />

décadas <strong>de</strong> 1920 e 1930. Coube aos educadores brasileiros, nesse<br />

momento, gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> pela discussão do tema da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e dos projetos políticos que lhe diziam respeito, a partir<br />

<strong>de</strong> certa visão <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> povo brasileiros. Ao trabalhar nos<br />

maiores e mais importantes centros urbanos do país, li<strong>de</strong>rando as<br />

famosas reformas <strong>de</strong> instrução pública, eles criaram não só a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estruturar um campo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação dos<br />

educadores, mas, sobretudo, interferiram na or<strong>de</strong>nação simbólica<br />

das cida<strong>de</strong>s, armando novas representações do urbano e do seu<br />

papel profissional <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le.


Confirmando essa proposta mo<strong>de</strong>rnizadora, que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />

passaram a instaurar nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos, Faria Filho em seu estudo<br />

sobre os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es em Belo Horizonte ressalta que:<br />

67<br />

[...] o fato <strong>de</strong> os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es ocuparem não apenas os<br />

‘melhores prédios’, mas também aqueles mais centrais <strong>de</strong>nota, além<br />

da importância atribuída aos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na composição do<br />

<strong>de</strong>senho urbanístico da cida<strong>de</strong>, um esforço por <strong>de</strong>monstrar a<br />

centralida<strong>de</strong> que o lugar da educação <strong>escolar</strong> <strong>de</strong>veria representar no<br />

interior da cida<strong>de</strong>, como projeção política da or<strong>de</strong>m social que se<br />

queria impor ao conjunto da população, particularmente aos pobres<br />

(FARIA FILHO, 2000, p 42)<br />

Nesse sentido, os prédios construídos ou adaptados para serem <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es em cida<strong>de</strong>s mais <strong>de</strong>senvolvidas nas primeiras décadas da República<br />

se tornaram parte integrante do novo or<strong>de</strong>namento urbano. Esses edifícios<br />

“planejados para que se <strong>de</strong>stacassem em meio aos <strong>de</strong>mais prédios,<br />

provocando a admiração daqueles que os observassem” (REIS, 2006b, p.77)<br />

instituíram uma nova cultura, a da monumentalida<strong>de</strong> dos prédios <strong>escolar</strong>es,<br />

com uma estruturação específica do espaço, adaptado às funções peculiares<br />

do ensino.<br />

No estado da Paraíba, segundo Pinheiro (2002), a criação <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es acompanhou o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong>sse estado. Para este<br />

autor,<br />

[...] Apesar <strong>de</strong> a Paraíba não ter o mesmo nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

econômico dos estados <strong>de</strong> São Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Minas Gerais<br />

e nem mesmo <strong>de</strong> Pernambuco e Bahia, a criação <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es esteve no bojo do processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização do estado. É<br />

evi<strong>de</strong>nte que as preocupações com a formação do cidadão e o<br />

fortalecimento da república estiveram também presentes, embora <strong>de</strong><br />

forma secundária, nos discursos da elite paraibana, que enfatizavam<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização não só da capital, mas também das<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interior. (PINHEIRO, 2002, p.149)<br />

Então, originando uma nova organização da instrução primária, os<br />

<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba acompanharam também a propaganda<br />

republicana <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização das cida<strong>de</strong>s que tinha como lema principal a<br />

superação do atraso mediante o progresso.


Explicitando essa nova feição urbana, instaurada com as adaptações e<br />

as construções <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, passamos, a partir <strong>de</strong> agora, a observar<br />

algumas <strong>de</strong>ssas edificações. Iniciemos com o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> do estado<br />

que foi implantado em 1916, como já observamos em outro momento. Este<br />

<strong>grupo</strong> que recebeu o nome <strong>de</strong> Thomas Min<strong>de</strong>llo, conforme Pinheiro (2006), foi<br />

comprado pela presidência do estado e, por conseguinte, adaptado para<br />

funcionar como primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da Paraíba, localizado na capital<br />

paraibana, no antigo centro comercial, ao lado da Praça Aristi<strong>de</strong>s Lobo.<br />

Vejamos a fotografia da fachada <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong>:<br />

Foto 4: Fachada Grupo Escolar Tomás Min<strong>de</strong>lo<br />

Fonte: Relatório do diretor do ensino primário ao secretario do interior e segurança pública,<br />

1934.<br />

Apesar da imagem estar um pouco embaçada, po<strong>de</strong>mos observar a<br />

suntuosida<strong>de</strong> nos acabamentos <strong>de</strong>sse prédio. De acordo com Mello (2006),<br />

este <strong>grupo</strong> foi uma construção projetada pelo arquiteto italiano Pascoal Fiorillo,<br />

arquiteto que também projetou na capital paraibana o segundo prédio da<br />

Escola Normal.<br />

68


Sobre os elementos formais da arquitetura <strong>de</strong>sse edifício, Pinheiro<br />

(2008) cita que o prédio tem o formato <strong>de</strong> “V” e predomina em sua composição<br />

o estilo eclético.<br />

O ecletismo enquanto atitu<strong>de</strong>, comportamento ou estilo arquitetônico<br />

está sendo compreendido por nós “como uma corrente cultural caracterizada<br />

pela reutilização mais ou menos livre do vocabulário formal <strong>de</strong> estilos do<br />

passado” (SILVA, 1987, p.180). Em outros termos, é a utilização simultânea <strong>de</strong><br />

duas ou mais tendências arquitetônicas em uma edificação.<br />

Conforme Fabris (1987), o termo arquitetura eclética é usado em<br />

referência aos estilos surgidos durante o século XIX que exibiam combinações<br />

<strong>de</strong> elementos que podiam vir da arquitetura clássica, medieval, renascentista,<br />

barroca e neoclássica. Para esse estudioso tal estilo arquitetônico, do ponto <strong>de</strong><br />

vista técnico, aproveitou avanços da engenharia do século XIX, sendo um<br />

exemplo a utilização <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> ferro forjado em construções.<br />

É importante sabermos que no Brasil, o ecletismo durante a passagem<br />

do século XIX para o XX é a corrente dominante na arquitetura e nos planos <strong>de</strong><br />

(re)urbanização das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s (FABRIS, 1987), como po<strong>de</strong>remos<br />

observar no caso <strong>de</strong> alguns <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es construídos na Paraíba na<br />

primeira meta<strong>de</strong> do século XX.<br />

Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es que suce<strong>de</strong>ram ao Thomas Min<strong>de</strong>llo foram<br />

regulamentados pelo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917, que<br />

discutimos no capítulo anterior. Conforme já visto neste regulamento, a<br />

construção dos prédios para <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es só era assegurada na Paraíba<br />

para a capital e cida<strong>de</strong>s que possibilitassem uma freqüência <strong>escolar</strong> acima <strong>de</strong><br />

trinta alunos.<br />

Portanto, as localida<strong>de</strong>s com maior número <strong>de</strong> alunos matriculados no<br />

ensino primário e, provavelmente, com o <strong>de</strong>senvolvimento em ascensão foram<br />

privilegiadas para a implantação <strong>de</strong>sse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização <strong>escolar</strong><br />

primária. Sobre essa questão, Bencostta (2005, p.97) observa que as<br />

administrações dos estados tinham “no urbano o espaço privilegiado para a<br />

[edificação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es], em especial, nas capitais e cida<strong>de</strong>s<br />

prósperas economicamente”.<br />

69


Outros prédios, então, passaram a ser construídos na Paraíba,<br />

perfazendo edificações <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nas cida<strong>de</strong>s.<br />

Na capital Cida<strong>de</strong> da Parahyba e no município <strong>de</strong> Umbuzeiro, por<br />

exemplo, em 1920 foram inaugurados dois novos prédios <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.<br />

Nesse mesmo ano, na citada capital, também se findava a construção <strong>de</strong> um<br />

outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, como expressou o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado Camillo <strong>de</strong><br />

Hollanda em mensagem encaminhada a Assembléia Legislativa do Estado em<br />

1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1920:<br />

70<br />

Já está terminada a construcção do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> ‘Antônio Pessoa’,<br />

situado à avenida Beaurepaire Rhoan, aqui no município da capital,<br />

<strong>de</strong>vendo ser inaugurado nos primeiros dias <strong>de</strong>ste mez [sic].<br />

Também está em vias <strong>de</strong> conclusão, o outro <strong>grupo</strong> <strong>de</strong> egual [sic]<br />

nome no município <strong>de</strong> Umbuzeiro.<br />

Na avenida João Machado, ultima-se a construcção do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />

‘Isabel Maria das Neves’, edificado pela doação testamentária do<br />

saudoso parahybano Alípio Machado. (PARAHYBA DO NORTE,<br />

Estado da. 1920, p.13)<br />

Sobre a arquitetura do prédio <strong>de</strong>stinado a ser o Grupo Escolar Isabel<br />

Maria das Neves, Pinheiro (2008) ressalta que:<br />

O prédio apresenta linhas suntuosas do ecletismo, com forte<br />

inspiração no neocolonial (beiral do telhado a vista), todavia, é<br />

singelamente <strong>de</strong>corado com guirlandas o que remete às influências<br />

do art nouveau. Constituído <strong>de</strong> dois pavimentos, com elevado pédireito.<br />

Em todos os seus lados, a escola, possui amplas janelas,<br />

favorecendo ótima iluminação interna e circulação do ar. (PINHEIRO,<br />

2008, p.26)<br />

Alguns <strong>de</strong>sses elementos arquitetônicos po<strong>de</strong>m ser observados na<br />

seguinte imagem:


Foto 5: Fachada Grupo Escolar Isabel Maria das Neves<br />

Fonte: Fonte: Relatório do diretor do ensino primário ao secretario do interior e segurança<br />

pública, 1934.<br />

Em 1921, o jornal “O Educador”, veículo <strong>de</strong> comunicação paraibano,<br />

voltado particularmente à educação, publicou em novembro o relatório do<br />

diretor <strong>de</strong> instrução pública do período, João Alci<strong>de</strong>s Bezerra Cavalcanti. Nesse<br />

relatório, um dos aspectos ressaltados pelo diretor foi a orientação para<br />

construção <strong>de</strong> prédios <strong>escolar</strong>es. Segue o norteamento feito por ele para as<br />

edificações:<br />

71<br />

a) em terreno sêcco e permeável;<br />

b) numa area nunca inferior a 1.000 m² ;<br />

c) fora do alinhamento das ruas;<br />

d) longe do ruído das officinas;<br />

e) inteiramente livres <strong>de</strong> quaisquer outros edificios e <strong>de</strong> modo que os<br />

raios solares tangenciando a parte superior dos vãos das janellas e<br />

portas cheguem ao extremo opposto do piso;<br />

f) com um apparelho sanitário e um lavatório pelo menos, para cada<br />

<strong>grupo</strong> <strong>de</strong> 30 alumnos;<br />

g) expostos ao nascente;<br />

h) com elevação nunca inferior a 0,60 m e o piso perfeitamente<br />

impermeabilizado e livre <strong>de</strong> restas que concorra para o accumulo <strong>de</strong><br />

sugida<strong>de</strong>s;<br />

i) com cantos das pare<strong>de</strong>s e alizares tanto inferiores como<br />

superiores arredondados;<br />

j) com distribuição <strong>de</strong> luz unilateral ou bilateral, neste ultimo caso a<br />

luz <strong>de</strong>ve ser indirecta num dos lados;<br />

k) com tres salas para as escolas isoladas, seis para as escolas<br />

reunidas e nove para os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, cada uma com<br />

capacida<strong>de</strong> para trinta alumnos;


72<br />

l) com janellas e caixilhos dispostos <strong>de</strong> forma que abertas aquellas<br />

não <strong>de</strong>terminem perda <strong>de</strong> espaço interior;<br />

m) com material <strong>de</strong> lei;<br />

n) com um compartimento pra a directoria e archivo.<br />

o) com area <strong>de</strong>scoberta para recreio;<br />

q) com fossa aseptica, nas localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> não houver esgotto.<br />

(Jornal O EDUCADOR, 14/11/1921, p.02)<br />

Observamos que as <strong>de</strong>terminações para construções <strong>de</strong> prédios<br />

<strong>escolar</strong>es além <strong>de</strong> apresentarem características que os i<strong>de</strong>ntifiquem como<br />

suntuosos e imponentes edifícios <strong>de</strong>stacam também preceitos higiênicos a<br />

serem respeitados.<br />

De acordo com Pinheiro (2006), o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> Isabel Maria da Neves<br />

(figura 5) foi uma das edificações que seguiu mais rigorosamente essas<br />

normatizações e orientações arquitetônicas estipuladas pela direção geral da<br />

instrução pública do estado.<br />

Em 1924, como salientamos anteriormente, em Campina Gran<strong>de</strong> se<br />

constrói e inaugura o GESL que, foi projeto do arquiteto italiano Hermenegildo<br />

Di Lascio 9 . De acordo com Aguiar e Octávio (1987), esse arquiteto foi quem<br />

também projetou na capital as praças do Carmo e Aristi<strong>de</strong>s Lobo e os edifícios<br />

da Associação Comercial, Grupo Escolar Isabel Maria das Neves, Escola <strong>de</strong><br />

Aprendizes Artífices e outras construções.<br />

A edificação do GESL foi uma evidência monumental para Campina<br />

Gran<strong>de</strong> que, estava em processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e urbanização, como<br />

pu<strong>de</strong>mos observar anteriormente. Vejamos, então, a fachada <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong><br />

<strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>:<br />

9 Conforme Mello (2006), Hermenegildo Di Lascio fixou-se na Paraíba mediante a<br />

intermediação <strong>de</strong> um parente chamando Pascoal Florentino que tinha se instalado no Recife.


Foto 6: Fachada Grupo Escolar Solón <strong>de</strong> Lucena<br />

Fonte: Relatório do diretor do ensino primário ao secretario do interior e segurança pública,<br />

1934.<br />

Sobre esse prédio, construído com o fim <strong>de</strong> ser o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />

<strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, é necessário informar, com base em Negrão (2008), que<br />

essa edificação apresenta sua principal fachada voltada para uma das mais<br />

antigas ruas <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, a Floriano Peixoto, como vimos em outro<br />

momento.<br />

Concernente às características <strong>de</strong> edificação da referida construção, a<br />

autora citada nos indica que sua planta é em forma <strong>de</strong> “U”, com um pátio<br />

central, on<strong>de</strong> se localiza hoje um jardim. Para a mesma autora, “a arquitetura<br />

do prédio possui qualida<strong>de</strong>s estéticas associadas ao ecletismo” (NEGRÃO,<br />

2008, p.10).<br />

Aprofundando um pouco a arquitetura <strong>de</strong>sse prédio, que foi tombado<br />

como patrimônio histórico em 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1997, pelo Instituto do<br />

Patrimônio Histórico e Arquitetônico do Estado da Paraíba (IPHAEP), é<br />

importante citarmos o que a arquiteta Ruth Nina Vieira Levy <strong>de</strong>staca em um<br />

73


texto sobre os elementos formais <strong>de</strong>sse prédio. Esse texto foi apresentado no<br />

momento do tombamento do mesmo (1997) e publicado em um folheto <strong>de</strong><br />

divulgação do Museu <strong>de</strong> Arte Assis Chateaubriand, instituição que hoje ocupa<br />

tal prédio. Vejamos tal especificação:<br />

arquiteta:<br />

Foto 7: Vestíbulo<br />

Fonte: INPHAEP<br />

74<br />

Predominam na composição do prédio horizontalida<strong>de</strong> e simetria. A<br />

fachada principal divi<strong>de</strong>-se em três corpos. O central on<strong>de</strong> há um<br />

vestíbulo, é <strong>de</strong>nominado por um pórtico que possui duas colunas<br />

lisas, encimadas por um frontão triangular com relevos no tímpano.<br />

Os corpos laterais, que são levemente recuados em relação ao<br />

central, possuem cada um, duas janelas <strong>de</strong> verga reta encimadas<br />

por frontões triangulares. Uma cimalha corre por toda a fachada na<br />

altura <strong>de</strong>stes frontões. Duas pilastras separam os corpos da fachada,<br />

sendo esta arrematada por cunhais nas extremida<strong>de</strong>s. Nas fachadas<br />

laterais janelas semelhantes às da fachada principal se repetem,<br />

aparecendo também algumas portas. Platibandas encimados por<br />

movimentos <strong>de</strong>corativos – vasos e cartelas- escon<strong>de</strong>m o telhado.<br />

Uma balaustrada aparece na lateral esquerda do edifício. Assim,<br />

temos um exemplar arquitetônico tardio on<strong>de</strong> aparecem vários dos<br />

elementos característicos do vocabulário clássico, mas on<strong>de</strong> a<br />

sobrieda<strong>de</strong> e o rigor formal do neoclassicismo estão quebrados pela<br />

introdução <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong>corativos ecléticos que aparecem,<br />

sobretudo, na ornamentação das janelas. (MUSEU DE ARTE ASSIS<br />

CHATEAUBRIAND, 2008, p.01)<br />

Algumas fotografias po<strong>de</strong>m ilustrar <strong>de</strong>terminados elementos citados pela<br />

Foto 8: Aspecto do frontão triangular<br />

Fonte: INPHAEP


Foto 9:Elemento <strong>de</strong>corativo da parte<br />

superior do vestíbulo<br />

Fonte: INPHAEP<br />

Foto 11: Elemento <strong>de</strong>corativo na platibanda<br />

Fonte: INPHAEP<br />

Foto 10: Detalhes das janelas laterais<br />

Fonte: INPHAEP<br />

Foto 12: Elemento <strong>de</strong>corativo superior<br />

Fonte: INPHAEP<br />

75


As fotografias antes apresentadas exibem alguns dos elementos que<br />

po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>stacar as qualida<strong>de</strong>s construtivas do prédio do GESL. Tratam <strong>de</strong><br />

elementos que <strong>de</strong>ixam, até hoje, a edificação em evidência como uma bonita,<br />

imponente, trabalhada, arejada construção. Por exemplo, na foto 7 o vestíbulo<br />

bem expressa a imponência do referido prédio <strong>escolar</strong> e na foto 10, por sua<br />

vez, po<strong>de</strong>mos observar que as janelas possivelmente garantiam iluminação e<br />

ventilação a<strong>de</strong>quadas à instituição.<br />

Um outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> que merece <strong>de</strong>staque no projeto <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização das cida<strong>de</strong>s paraibanas é o do município <strong>de</strong> Souza, criado pelo<br />

<strong>de</strong>creto número 1.525 <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1928. Observemos a fachada<br />

principal <strong>de</strong>ste prédio:<br />

Foto 13: Fachada Grupo Escolar Professor Batista Leite<br />

Fonte: Fonte: Relatório do diretor do ensino primário ao secretario do interior e segurança<br />

pública, 1934.<br />

Po<strong>de</strong>mos ressaltar a partir <strong>de</strong>ssa fotografia do Grupo Escolar Professor<br />

Batista Leite o possível respeito a algumas das orientações para construção <strong>de</strong><br />

prédios <strong>escolar</strong>es apresentadas anteriormente, a saber, uma edificação que<br />

provavelmente apresenta alinhamento fora do das ruas, é livre <strong>de</strong> edificações<br />

76


aos arredores do mesmo, evi<strong>de</strong>ncia janelas que possibilitam uma boa<br />

passagem <strong>de</strong> vento e raios solares, entre outras características que o tornam<br />

uma linda e pomposa edificação.<br />

Então, não temos dúvidas que as construções que mencionamos até<br />

aqui acompanharam os preceitos <strong>de</strong> “Templos <strong>de</strong> Civilização” (SOUZA, 1998),<br />

“Palácios do saber” (FARIA FILHO, 2000) e símbolos imponentes para as<br />

cida<strong>de</strong>s.<br />

Assim, concordamos com o que Buffa e Pinto (2002) salientam sobre as<br />

edificações <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es no início da República:<br />

77<br />

Impossível não distinguir, com clareza, na paisagem da cida<strong>de</strong>, um<br />

edifício imponente on<strong>de</strong> funcionava um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> construído nas<br />

primeiras décadas do período republicano. Situados em regiões<br />

nobres, esses edifícios marcam, <strong>de</strong>finitivamente, pela imponência e<br />

localização, seu significado no tecido urbano. Não se trata <strong>de</strong> mero<br />

acaso. Os terrenos foram estrategicamente escolhidos e os projetos<br />

judicialmente <strong>de</strong>senvolvidos. [...].Em bairros da capital e em cada<br />

cida<strong>de</strong> do interior do Estado on<strong>de</strong> foi implantado, o Grupo Escolar,<br />

símbolo <strong>de</strong> uma cultura leiga e popular, integrava o núcleo urbano<br />

composto pela Prefeitura, os correios, casa bancária, praça central e<br />

Igreja matriz. Ao mesmo tempo, distinguia-se das residências, das<br />

casas comerciais e dos <strong>de</strong>mais edifícios que constituem a cida<strong>de</strong>.<br />

(BUFFA; PINTO, 2002, p. 43)<br />

Portanto, observamos que, na Paraíba, pelo menos a partir das<br />

edificações <strong>escolar</strong>es que exploramos, essa distinção no cenário urbano foi<br />

principalmente impressa nas fachadas dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es que se<br />

<strong>de</strong>stacavam suntuosamente nas localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> eram construídos, chamando<br />

a atenção das pessoas e provavelmente fazendo com que houvesse interesse<br />

por parte das famílias em matricular seus filhos nesse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola.<br />

Além disso, <strong>de</strong> certa forma, po<strong>de</strong>mos explicitar que, os primeiros <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es <strong>de</strong>sse estado foram projetados nas regiões mais <strong>de</strong>senvolvidas e<br />

centrais das cida<strong>de</strong>s, como foi o caso do GESL em Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

Nesse sentido, concordando com Sales (2000, p.39), consi<strong>de</strong>ramos que<br />

os prédios <strong>escolar</strong>es, no nosso caso <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, são signos 10 , já que<br />

os mesmos possuem “uma linguagem própria”, sendo sua produção e seus<br />

efeitos “reflexos da cultura produzida em <strong>de</strong>terminado contexto social e<br />

histórico”.<br />

10 Para Sales (2000), o signo se refere à emissão <strong>de</strong> mensagens.


3.4 – Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena: espaço <strong>de</strong> educar e civilizar as<br />

crianças?<br />

É possível pensar a estrutura física <strong>de</strong> um lugar como espaço que educa<br />

e civiliza? Um espaço físico <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> po<strong>de</strong> influenciar na educação<br />

dos alunos matriculados? Teria alguma diferença ensinar e apren<strong>de</strong>r em um<br />

espaço como um galpão ou em um lugar com salas <strong>de</strong> aulas, pátio para<br />

recreio, banheiros?<br />

Essas perguntas nos levaram à seguinte discussão. Primeiramente,<br />

pensar a ativida<strong>de</strong> humana, especificamente a ação educativa como<br />

requerente <strong>de</strong> um espaço próprio para acontecer.<br />

Segundo Frago (1998), o ato <strong>de</strong> ensinar e o <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, ou seja, a<br />

educação institucionalizada necessita <strong>de</strong> um espaço para se realizar e esse<br />

espaço enquanto ocupado e utilizado supõe a sua constituição enquanto lugar,<br />

uma vez que<br />

78<br />

o espaço se projeta ou se imagina; o lugar se constrói. Constrói-se ‘<br />

a partir do fluir da vida’ e a partir do espaço como suporte; o espaço,<br />

portanto, está sempre disponível e disposto para converter-se em<br />

lugar, para ser construído. (FRAGO, 1998, p.61)<br />

Reportando-nos à epígrafe que selecionamos para iniciar este capítulo e<br />

pensando na escola enquanto lugar, colocamo-nos como enten<strong>de</strong>dores <strong>de</strong>sse<br />

lugar como uma construção social, revestido <strong>de</strong> símbolos, signos e vestígios da<br />

condição e das relações sociais <strong>de</strong> e entre aqueles que o<br />

constituem/constituíram e o ocupam/ocuparam. Isso significa dizer, segundo<br />

Frago (1998), que o espaço <strong>escolar</strong>, como qualquer outro, jamais é neutro, pois<br />

o mesmo<br />

foi historicamente o resultado da confluência <strong>de</strong> diversas forças ou<br />

tendências. Algumas mais amplas <strong>de</strong> caráter social, como a<br />

especialização ou segmentação das diversas tarefas ou funções<br />

sociais e a autonomia das mesmas, umas em relação às <strong>de</strong>mais. E<br />

outras mais específicas em relação ao âmbito educativo, como a<br />

profissionalização do trabalho docente. Da mesma maneira que para<br />

ser professor ou mestre não servia qualquer pessoa, tampouco<br />

qualquer edifício ou local servia para ser uma escola. O edifício<br />

<strong>escolar</strong> <strong>de</strong>via ser configurado <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong>finido e próprio,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> qualquer outro, em um espaço também a<strong>de</strong>quado<br />

para tal fim. Isso implicava seu isolamento ou separação. Também<br />

sua i<strong>de</strong>ntificação arquitetônica enquanto tal. Alguns signos próprios.


E, no fundo, recolocar as relações entre o interno e o externo, aquilo<br />

que se situa fora. (FRAGO, 1998, p.73)<br />

É importante ainda ressaltarmos, com base em Souza (1998), que como<br />

uma construção social o lugar <strong>escolar</strong>, especialmente dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es,<br />

ostentaram representações políticas, intelectuais e sociais. Tornaram-se<br />

verda<strong>de</strong>ira apologia à República e à cultura urbana. Como exemplificação<br />

<strong>de</strong>ssa simbologia, a citada autora <strong>de</strong>staca que nas fachadas alguns dos<br />

símbolos são emblemáticos, como “a <strong>de</strong>nominação atribuída ao patrono revela<br />

um tributo à memória <strong>de</strong> importantes autorida<strong>de</strong>s políticas” (SOUZA, 1998,<br />

p.134).<br />

Consi<strong>de</strong>ramos que a escola como lugar é <strong>de</strong>finida juntamente com a<br />

constituição do espaço social e cultural da mesma. Nesse sentido, as formas<br />

que constituem a escola “ten<strong>de</strong>m a ser físicas e humanas a uma só vez”<br />

(SOUZA, 1998, p. 123).<br />

Para Frago (1998), a escola, por ser um lugar constituído, po<strong>de</strong> variar no<br />

tempo para alunos e professores. Historicamente, po<strong>de</strong>mos relembrar vários<br />

tipos <strong>de</strong> escolas: a escola a domicílio, baseada em preceptores, as escolas<br />

isoladas, as rurais, as escolas seriadas. Acreditamos que cada um <strong>de</strong>sses<br />

lugares <strong>escolar</strong>es, constituídos a partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada concepção,<br />

formava um tipo <strong>de</strong> aluno como também requeria um <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong><br />

professor.<br />

Se tomarmos como exemplo as escolas isoladas ou ca<strong>de</strong>iras isoladas<br />

próprias <strong>de</strong> uma época, po<strong>de</strong>remos observar que suas características físicas<br />

são: funcionamento em salas <strong>de</strong> visita <strong>de</strong> casas particulares, salões <strong>de</strong> casas-<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> engenho, alpendres <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> sítios, entre outros locais. Esse<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>escolar</strong> expressa, <strong>de</strong> certa forma, a importância que se dava à<br />

instrução primária no período <strong>de</strong> sua expansão, isto é, explicita o sentido da<br />

educação na época.<br />

Segundo a análise <strong>de</strong> Pinheiro (2002), as ca<strong>de</strong>iras isoladas no estado da<br />

Paraíba traziam uma série <strong>de</strong> constrangimentos, tanto aos professores e sua<br />

família como aos alunos que ali passavam a conviver no momento das aulas.<br />

Este constrangimento, conforme o referido autor, era <strong>de</strong>corrente, na maioria<br />

79


das vezes, <strong>de</strong> confusões que aconteciam entre a professora e seu esposo, aos<br />

ouvidos dos alunos. Sendo assim, o aluno que se formava nesse tipo <strong>de</strong> escola<br />

era obrigado a conviver com tais situações que podiam pesar negativamente<br />

na sua formação.<br />

Diferentemente, as escolas seriadas, reportando-nos exclusivamente<br />

aos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, apresentavam outras características físicas que,<br />

consequentemente possibilitavam outra formação aos alunos, em comparação<br />

à das ca<strong>de</strong>iras isoladas. Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, imbuídos <strong>de</strong> toda uma<br />

simbologia do novo regime político, <strong>de</strong>marcavam novos espaços e nova<br />

disposição <strong>escolar</strong> para, assim, condizer com os objetivos republicanos, a<br />

saber, educar, civilizar e moralizar o povo brasileiro.<br />

Para Souza (1998), os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es foram as edificações que<br />

melhor expressaram a escola como lugar. Observemos o dizer <strong>de</strong>sta autora:<br />

80<br />

[...] os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es foram os estabelecimentos <strong>de</strong> ensino mais<br />

representativos <strong>de</strong>ssa conformação da escola como lugar. [...] Dessa<br />

forma, os edifícios dos primeiros <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es pu<strong>de</strong>ram sintetizar<br />

todo o projeto político atribuído à educação popular: convencer,<br />

educar, dar-se a ver! O edifício escola torna-se portador <strong>de</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>ntificação arquitetônica que o diferencia dos <strong>de</strong>mais edifícios<br />

públicos e civis ao mesmo tempo em que o i<strong>de</strong>ntifica como um<br />

espaço próprio - lugar específico para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e do<br />

trabalho docente (SOUZA, 1998, p. 123)<br />

É crucial ainda <strong>de</strong>stacarmos que, como lugar específico com<br />

características próprias, a instituição <strong>escolar</strong> “leva consigo sua convivência<br />

como território por aqueles que com ele se relacionam” (FRAGO, 2005, p.17).<br />

Esse território está relacionado às <strong>de</strong>marcações que compõem o lugar <strong>escolar</strong>,<br />

ou seja, a sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados alunos e seu professor, o<br />

pátio, a sala da direção e outras <strong>de</strong>pendências físicas.<br />

Então, é respaldada nesses pressupostos explicitados acima que<br />

tomamos o espaço-lugar do GESL como um ambiente que educa, moraliza,<br />

incute valores, civiliza, enfim, como lugar <strong>de</strong> formação do cidadão republicano.<br />

Iniciemos, portanto, sabendo que esse <strong>grupo</strong> foi criado com o objetivo <strong>de</strong><br />

incorporar as ca<strong>de</strong>iras do ensino primário existentes na época em Campina<br />

Gran<strong>de</strong>. Então, como já observado em outro momento <strong>de</strong> nosso estudo, pela


incorporação das ca<strong>de</strong>iras do sexo feminino, do sexo masculino e da mista<br />

<strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong>.<br />

Nesse sentido, se o objetivo era agrupar as ca<strong>de</strong>iras antes<br />

mencionadas, não po<strong>de</strong>ria ser o prédio <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> uma construção<br />

pequena ou muito pequena. Essa construção <strong>de</strong>veria ter capacida<strong>de</strong> para<br />

aten<strong>de</strong>r todos os alunos daquelas ca<strong>de</strong>iras, que como supomos anteriormente,<br />

girava em torno <strong>de</strong> 80 crianças.<br />

É informado no Anuário <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1925 que o GESL<br />

apresentava as seguintes <strong>de</strong>pendências físicas no projeto original: seis salões<br />

(salas <strong>de</strong> aulas); duas gran<strong>de</strong>s áreas para recreio, uma sala on<strong>de</strong> se instalava<br />

o gabinete da diretoria e outra sala para a secretaria. Complementa este<br />

anuário que cada sala <strong>de</strong> aula comportava em média 40 alunos, portanto, salas<br />

bastante amplas.<br />

Para melhor analisarmos o espaço <strong>escolar</strong> do GESL tomaremos por<br />

base uma planta baixa do prédio da referida instituição. Contudo, é importante<br />

salientarmos que esta planta foi elaborada por uma arquiteta que estudou a<br />

então edificação no ano <strong>de</strong> 2008. Portanto, não se trata da planta original, mas<br />

uma planta que <strong>de</strong>marca traços originais da construção.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos importante <strong>de</strong>stacar que a planta original não foi<br />

encontrada por nós. Daí a alternativa <strong>de</strong> trabalhar com a da arquiteta Ana G.<br />

Negrão. Vejamos então essa planta:<br />

81


Foto 14: Planta baixa do edifício do GESL<br />

Fonte: NEGRÃO, Ana Gomes (2008)<br />

82


Po<strong>de</strong>mos visualizar nessa planta baixa que o edifício do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />

constituía uma construção térrea formado por um único pavimento que,<br />

apresentava simetria na sua edificação, especialmente na parte interior.<br />

Observemos, primeiramente, a configuração da entrada <strong>de</strong>sse prédio.<br />

Temos nessa planta três espaços abertos: um maior que fica no centro e dois<br />

menores, um do lado esquerdo e outro do lado direito. Não sabemos por que a<br />

arquiteta que elaborou essa planta marcou esse espaço central como<br />

passagem, pois até atualmente esse local é fechado, tendo o edifício,<br />

exclusivamente, a passagem do lado esquerdo e a do lado direito. Essa<br />

configuração <strong>de</strong> duas entradas que dão acesso direto às alas do prédio, indica-<br />

nos que possivelmente se organizavam a entrada dos alunos no <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />

conforme o sexo, pelo menos nos primeiros anos <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong>ssa<br />

instituição, ou seja, <strong>de</strong>limitava-se a passagem <strong>de</strong> meninas para uma porta e a<br />

<strong>de</strong> meninos para outra. Suponhamos isso porque, segundo Buffa e Pinto<br />

(2002) e Faria Filho (2000), a configuração da maioria dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />

nas primeiras décadas do regime republicano apresentava entradas<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes para meninos e para meninas.<br />

No centro do pavimento é possível observarmos uma espécie <strong>de</strong> jardim.<br />

Esse jardim, conforme documento emitido pelo INPHAEP no momento do<br />

tombamento (1997) do edifício, consistia <strong>de</strong> um pátio no período em que<br />

funcionava o GESL. Esse pátio, assim como os espaços que ficavam ao fundo<br />

da edificação, on<strong>de</strong> recentemente se construiu a se<strong>de</strong> da reitoria da<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba (UEPB), e ao lado direito, eram<br />

supostamente utilizados para o momento <strong>de</strong> diversão e <strong>de</strong>scanso dos alunos<br />

do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, <strong>de</strong>marcado pelo recreio. Esses últimos espaços que<br />

<strong>de</strong>stacamos tratavam-se das duas gran<strong>de</strong>s áreas já referidas por nós,<br />

mencionadas pelo Anuário <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> do ano <strong>de</strong> 1925.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos importante enfatizar que esse pátio, conforme observado<br />

em algumas edições do Jornal “O Século” e “Voz da Borborema” serviam<br />

83


também para as festas cívicas da escola, como também para alguns eventos<br />

da socieda<strong>de</strong> civil campinense, como reuniões do Grêmio Renascença 11 .<br />

Esse pátio, como a calçada do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, as duas áreas para recreio<br />

e os corredores, referem-se ao que Souza (1998) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “lugares<br />

comuns na escola”. É lugar comum porque é nesses espaços que alunos <strong>de</strong><br />

diferentes ida<strong>de</strong>s e níveis <strong>de</strong> conhecimento se relacionam, ou pelo menos se<br />

encontram, bem como se <strong>de</strong>param com outros professores.<br />

Sendo assim, o pátio configura-se como espaço <strong>de</strong> encontro por<br />

excelência <strong>de</strong> meninos e meninas e professores e professoras. Professores por<br />

que estes, juntamente com os porteiros e/ou bedéis, no momento do recreio<br />

<strong>de</strong>veriam ficar vigiando os alunos para que se evitasse a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. Além<br />

disso, o pátio “[consistia] o único lugar <strong>de</strong>ntro da escola on<strong>de</strong> os corpos<br />

[podiam] se movimentar com maior liberda<strong>de</strong> sem chocar com os móveis e com<br />

as fronteiras imediatas” (SOUZA, 1998, p.144).<br />

As salas <strong>de</strong> aulas dispostas em forma retangular, aos nossos olhos,<br />

foram apropriadas para facilitar o controle do professor em relação aos seus<br />

alunos, como também, proporcionar a concentração dos mesmos em uma<br />

única extremida<strong>de</strong>, isto é, no lado on<strong>de</strong> estava o professor e o quadro-negro.<br />

Além disso, essa disposição ajuda a organização dos móveis da sala <strong>de</strong> aula,<br />

como ca<strong>de</strong>iras e mesa do professor.<br />

Segundo Souza (1998), essa configuração das salas <strong>de</strong> aulas para as<br />

escolas primárias, especificamente <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, tinha como objetivo aten<strong>de</strong>r<br />

o princípio da racionalida<strong>de</strong> funcional e a critérios disciplinadores. Por isso, o<br />

apartamento retangular tornou-se o espaço mais apropriado para aula.<br />

As salas da direção e da secretaria, as quais ficavam localizadas aos<br />

lados do hall <strong>de</strong> entrada do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, indica-nos a importância que tinham<br />

esses lugares, ou mais precisamente as pessoas que os ocupavam, na<br />

instituição. Localizadas nas primeiras salas do edifício, a direção e a secretaria,<br />

11 Conforme o Anuário <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> do ano <strong>de</strong> 1925, o Grêmio Renascença era uma<br />

socieda<strong>de</strong> que tinha por finalida<strong>de</strong> distrair seus membros e promover a sociabilida<strong>de</strong> entre os<br />

mesmos.<br />

84


e principalmente a primeira, <strong>de</strong>monstravam com essa fixação estar à frente da<br />

escola, ou seja, comandá-la.<br />

Um outro lugar que consi<strong>de</strong>ramos relevante <strong>de</strong>stacar é a acomodação<br />

dos banheiros. Estes se localizavam fora do pavimento do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, ou<br />

seja, não ficavam próximos às salas <strong>de</strong> aulas. Os banheiros do GESL foram<br />

edificados na área aberta que ficava do lado esquerdo <strong>de</strong>ssa instituição,<br />

conforme se po<strong>de</strong> perceber na planta apresentada anteriormente (imagem 14).<br />

Acreditamos que essa acomodação estava baseada nos princípios higiênicos<br />

que eram propagados na época, assim como nas orientações apresentadas<br />

pelo diretor da instrução pública concernentes às edificações <strong>de</strong> prédios<br />

<strong>escolar</strong>es.<br />

É crucial explicitarmos que diferentemente da maioria dos <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es construídos na primeira meta<strong>de</strong> do século XX no Brasil o GESL não<br />

apresentava um muro que o separava da rua. Por isso, po<strong>de</strong>mos fazer duas<br />

suposições: uma que o terreno on<strong>de</strong> foi construído o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> não foi<br />

suficiente para edificar o muro, pois se o construísse podia sair do alinhamento<br />

da rua e outra que, provavelmente, a relação escola cida<strong>de</strong> era <strong>de</strong> forma direta<br />

sem a fronteira física <strong>de</strong> um muro. Assim sendo, teria mais trabalhos os<br />

professores e, principalmente, o porteiro com as prováveis fugas dos alunos, se<br />

é que existiam.<br />

Acreditamos que a organização espacial do GESL instaurou uma nova<br />

cultura <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>. A cultura do espaço próprio para cada<br />

momento <strong>escolar</strong>: o espaço da aula <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada turma, o espaço da<br />

resolução <strong>de</strong> problemas <strong>escolar</strong>es, o espaço da <strong>de</strong>scontração e brinca<strong>de</strong>iras, o<br />

espaço das festas, o espaço dos professores conversarem e assim por diante.<br />

Espaços estes envolvidos pela dialética do individual e do coletivo, da or<strong>de</strong>m e<br />

da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. Portanto, construções sociais revestidas <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ologia que<br />

pairava na época e que, conseqüentemente, refletiam a idéia <strong>de</strong> civilizar,<br />

moralizar e educar a população, principalmente as crianças matriculadas.<br />

85


CAPÍTULO 4 – INAUGURAÇÃO, COMEMORAÇÕES E EXPOSIÇÕES<br />

ESCOLARES: MOMENTOS DE FESTA DO GRUPO ESCOLAR SOLON DE<br />

LUCENA PARA A SOCIEDADE CAMPINENSE<br />

Por freqüentar um e outro campo, o historiador apren<strong>de</strong>u a levar em<br />

consi<strong>de</strong>ração a armadura que a ritualização dá à existência humana, mesmo<br />

que seja uma ritualização anônima, <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> regulamentação explicita<br />

ou <strong>de</strong> coesão coerente.<br />

86<br />

Mona Ozouf (1976)<br />

É comum se pensar as festas como momentos <strong>de</strong> comemoração,<br />

<strong>de</strong>scontração, solenida<strong>de</strong>, nos quais pessoas se confraternizam, trocam<br />

experiências, atuam diferentemente, preparam-se totalmente, observam,<br />

alegram-se em torno <strong>de</strong> algo, como uma data que marca um acontecimento.<br />

Todavia, consi<strong>de</strong>ramos importante pensar as festas também como<br />

espaços <strong>de</strong> múltiplos significados e/ou interesses, ou seja, como momentos,<br />

por exemplo, nos quais alguém ou um <strong>grupo</strong> requer reconhecimento da<br />

população por algo realizado, <strong>de</strong> inculcar sentidos nas pessoas, <strong>de</strong> disseminar<br />

valores e crenças, <strong>de</strong> fazer exaltação a uma <strong>de</strong>terminada personagem.<br />

Ressaltando essa discussão Cândido (2007, p.13) explicita que<br />

As festas para diferentes socieda<strong>de</strong>s no <strong>de</strong>correr da história da<br />

humanida<strong>de</strong>, como por exemplo, nas socieda<strong>de</strong>s primitivas [...] foram<br />

momentos <strong>de</strong>dicados exclusivamente à manifestação da felicida<strong>de</strong><br />

coletiva por algum acontecimento humano (nascimentos, mortes,<br />

aniversários) ou da natureza (plantação, colheitas, mudanças das<br />

estações climáticas), expressaram algum ritual, passagem do tempo,<br />

homenagens aos <strong>de</strong>uses, <strong>de</strong>ntre outras funções. No caso das<br />

socieda<strong>de</strong>s republicanas, a festa, principalmente a cívica,<br />

representou um momento para a reconstrução do imaginário político<br />

e social dos cidadãos, com o principal objetivo <strong>de</strong> disseminar os<br />

valores associados ao novo regime, celebrar a conquista do governo<br />

pelo povo, o nascimento ‘florescimento’ <strong>de</strong> um novo período.<br />

Nesse sentido, além <strong>de</strong> expressarem significados e interesses<br />

diversificados as festas, <strong>de</strong> um modo geral, também<br />

representaram/representam a cultura <strong>de</strong> povos distintos <strong>de</strong> momentos<br />

históricos variados.


De acordo com Ozouf (1976, p. 216-217), o tema festa pouco foi<br />

consi<strong>de</strong>rado nos estudos dos historiadores em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes terem “se<br />

preocupado conscientemente mais com os trabalhos e os esforços dos homens<br />

do que com os seus divertimentos ou, como se queira, com as suas diversões”.<br />

Para essa historiadora, “a história da festa será a história <strong>de</strong> um fenômeno em<br />

gran<strong>de</strong> parte cego para a história”.<br />

Todavia, po<strong>de</strong>mos dizer que estamos avançando no sentido <strong>de</strong> surgirem<br />

estudos sobre a história das festas. E focando, particularmente, a história da<br />

educação, digamos que a escassez <strong>de</strong>sses estudos po<strong>de</strong> estar sendo<br />

superada com a iniciativa <strong>de</strong> alguns pesquisadores, como Souza (1998) no<br />

livro “Templo <strong>de</strong> civilização: a implantação da escola primária graduada no<br />

estado <strong>de</strong> São Paulo (1890-1910)”, especificamente no capítulo intitulado como<br />

“Templos <strong>de</strong> espetáculos e ritos” e a iniciativa <strong>de</strong> muitos outros, conforme<br />

po<strong>de</strong>mos averiguar a partir <strong>de</strong> trabalhos publicados em anais <strong>de</strong> eventos 12 .<br />

<strong>escolar</strong>es<br />

Souza (1998, p.241) no referido estudo evi<strong>de</strong>ncia que as festas<br />

87<br />

[...] constituíram momentos especiais na vida da escola pelos quais<br />

ela ganhava ainda maior visibilida<strong>de</strong> social e reforçava sentidos<br />

culturais compartilhados. [Elas] po<strong>de</strong>m ser [vistas] como práticas<br />

simbólicas que, no universo <strong>escolar</strong>, tornaram-se uma expressão do<br />

imaginário sociopolítico da República.<br />

Um outro exemplo <strong>de</strong>ssa iniciativa <strong>de</strong> estudo sobre festa <strong>escolar</strong><br />

importante <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>stacado é o texto <strong>de</strong> Lopes (2006b) que trata das<br />

festivida<strong>de</strong>s <strong>escolar</strong>es na primeira República no Piauí. Esse estudioso explicita<br />

como as festas no âmbito <strong>escolar</strong> caracterizavam-se diversamente e com<br />

ritualida<strong>de</strong>s variadas. Além disso, o referido autor ressalta que, no mencionado<br />

período, as festas <strong>escolar</strong>es eram momentos da escola se abrir para a cida<strong>de</strong><br />

“ocupando seus espaços ou sendo ocupada pela população” (LOPES, 2006b,<br />

p. 4366).<br />

12 Conferir anais do VI Congresso Luso-brasileiro <strong>de</strong> História da <strong>Educação</strong>, dos 18º e 19º<br />

Encontro <strong>de</strong> Pesquisadores da <strong>Educação</strong> do Norte e Nor<strong>de</strong>ste (EPENN) e do V Congresso<br />

Brasileiro <strong>de</strong> História da <strong>Educação</strong>.


Consi<strong>de</strong>ramos necessário especificar, nessa reflexão, que estamos<br />

tratando as festas <strong>escolar</strong>es como integrantes da cultura <strong>escolar</strong>, entendida por<br />

nós como<br />

88<br />

[...] um conjunto <strong>de</strong> normas que <strong>de</strong>finem conhecimentos a ensinar e<br />

condutas a inculcar, e um conjunto <strong>de</strong> práticas que permitem a<br />

transmissão <strong>de</strong>sses conhecimentos e a incorporação <strong>de</strong>sses<br />

comportamentos; normas e práticas coor<strong>de</strong>nadas a finalida<strong>de</strong>s que<br />

po<strong>de</strong>m variar segundo as épocas (finalida<strong>de</strong>s religiosas,<br />

sociopolíticos, ou simplesmente <strong>de</strong> socialização). (JULIA, 2001, p.<br />

10)<br />

Então, é com base nessas reflexões que procuramos, neste capítulo,<br />

discutir as festas <strong>escolar</strong>es do GESL, focando especificamente o que<br />

representavam; qual o sentido da festa <strong>de</strong> inauguração; datas comemorativas e<br />

exposições <strong>escolar</strong>es.<br />

4.1 – Campina Gran<strong>de</strong> em festa: a inauguração do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />

Lucena<br />

A inauguração do GESL <strong>de</strong>u-se no dia 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1924,<br />

praticamente duas semanas após o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> sua criação, mencionado no<br />

segundo capítulo. Essa inauguração apresentou uma repercussão estadual,<br />

sendo notícia nos principais veículos <strong>de</strong> comunicação escritos da Paraíba,<br />

como po<strong>de</strong>mos constatar a seguir:<br />

A inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>u ensejo a<br />

que se realizassem na importante cida<strong>de</strong> do interior festas muito<br />

brilhantes, verda<strong>de</strong>iramente inéditas naquelle núcleo on<strong>de</strong> se<br />

concentra a civilização do nosso hinterland. Motivo <strong>de</strong> intenso<br />

regosijo para a população campinense, a entrega do novo<br />

estabelecimento <strong>de</strong> ensino assumiu um aspecto acima <strong>de</strong> toda<br />

expectativa.<br />

Desta capital, numerosas foram as pessoas que se transportaram a<br />

formosa cida<strong>de</strong> serrana, com o fito especial <strong>de</strong> estarem presentes as<br />

solenida<strong>de</strong>s alli realizadas.<br />

Em nome do sr. dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, presi<strong>de</strong>nte do Estado, seguiu<br />

com aquelle <strong>de</strong>stino, em trem especial da meia-noite, o sr. <strong>de</strong>. Álvaro<br />

<strong>de</strong> Carvalho, secretario do governo. O illustre auxiliar da<br />

administração foi acompanhado por varias personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staque <strong>de</strong> nosso meio e um representante <strong>de</strong>ste jornal. (Jornal A<br />

UNIÃO, 12/10/1924, p.02).<br />

Revestiu-se do maior brilhantismo a festivida<strong>de</strong> com que Campina<br />

Gran<strong>de</strong> commemorou a inauguração do Grupo Escolar, mandado


89<br />

construir naquella florescente cida<strong>de</strong> sertaneja pelo govêrno do sr.<br />

Dr. Solon <strong>de</strong> Lucena.<br />

A cerimônia foi presidida pelo sr. Dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho, então<br />

secretario do Estado, tendo o tiro <strong>de</strong> Guerra 165, <strong>de</strong>sta capital<br />

(Lyceu) realisado conjuntamente com os collegios locaes exercícios<br />

militares. (REVISTA ERA NOVA, novembro <strong>de</strong> 1924, p.24).<br />

Esses trechos nos indicam que a inauguração do GESL foi uma festa<br />

grandiosa que mobilizou a elite paraibana, representada pelo secretário do<br />

estado Álvaro <strong>de</strong> Carvalho 13 , alunos e professores do Liceu Paraibano, Colégio<br />

Diocesano e colégios da localida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> uma participação significativa da<br />

população campinense.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos que o motivo da repercussão estadual no que tange à<br />

inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> estava ligado, <strong>de</strong>ntre outros fatos, ao <strong>de</strong> que<br />

para a Paraíba era um avanço implantar outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, principalmente<br />

em uma cida<strong>de</strong> interiorana. Portanto, digamos que essa criação significava<br />

para o estado a fundação <strong>de</strong> mais um “templo <strong>de</strong> civilização” (SOUZA, 1998).<br />

Além disso, tal repercussão po<strong>de</strong> ser lida como uma forma <strong>de</strong> políticos<br />

aproveitarem esse momento para divulgar seus trabalhos e,<br />

consequentemente, serem, por muito tempo, lembrados principalmente pela<br />

socieda<strong>de</strong> campinense.<br />

Portanto, po<strong>de</strong>mos supor que, mesmo não estando presente na<br />

solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração, Solon <strong>de</strong> Lucena, a partir <strong>de</strong> seus representantes,<br />

apropriou-se <strong>de</strong>ste ensejo para se auto<strong>de</strong>finir como benfeitor na organização<br />

do novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>. E vale<br />

<strong>de</strong>stacar que não queremos com essa observação negar a sua contribuição ao<br />

ensino primário do mencionado município, mas ressaltar que tal inauguração<br />

fez parte <strong>de</strong> um processo que, provavelmente, envolvia propostas, <strong>de</strong>mandas<br />

locais e reivindicações. Todavia, po<strong>de</strong>mos dizer que o sentido da apropriação<br />

possivelmente tomada pelo governo do estado foi alcançado em Campina<br />

Gran<strong>de</strong>, como se po<strong>de</strong> observar no seguinte telegrama enviado pelo Conselho<br />

Municipal <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> ao presi<strong>de</strong>nte Solon <strong>de</strong> Lucena, publicado no jornal A<br />

13 Álvaro <strong>de</strong> Carvalho além <strong>de</strong> ser secretário do governo Solon <strong>de</strong> Lucena, governou o estado<br />

entre 26 <strong>de</strong> julho e 4 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1930. Foi vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> João Pessoa, li<strong>de</strong>rança<br />

intelectual no Lyceu como professor <strong>de</strong> Línguas, crítico literário, ensaísta.


União, na matéria intitulada como “Inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina<br />

Gran<strong>de</strong>”:<br />

90<br />

C. Gran<strong>de</strong>, 13 – Dr. Solon <strong>de</strong> Lucena – Parahyba – Conselho<br />

Municipal <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> communica v. exc. Inauguração solenne<br />

hontem realizada <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> com quem vosso operaso governo<br />

quiz distingui Campina Gran<strong>de</strong>. Festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>correu ambiente<br />

geraes sympathias sendo nome v. exc. acclamando como gran<strong>de</strong><br />

bemfeitor Campina. Nome Conselho povo levamos v. exc. affirmação<br />

agra<strong>de</strong>cimentos fazendo votos vossa felicida<strong>de</strong> pessoal. Saudações<br />

respeitosas – Juvino Do O., prefeito; Mario Cavalcanti <strong>de</strong> Queiroz,<br />

vice-presi<strong>de</strong>nte. (Jornal A UNIÃO, 15/10/1924, p.02)<br />

Atinente ao motivo da não participação do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado naquela<br />

inauguração, são indícios que ele estava com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> governo mais<br />

urgentes que o impossibilitava <strong>de</strong> estar presente e/ou po<strong>de</strong>ria estar com grave<br />

problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Indicamos isso com base, primeiro, no jornal A União, cuja<br />

matéria intitulada “Os alumnos do Lyceu Parahybano: sua excursão à Campina<br />

Gran<strong>de</strong>. A visita do tiro <strong>de</strong> Guerra 165 ao sr. presi<strong>de</strong>nte do estado” ressalta que<br />

dias após a inauguração do GESL os alunos que tinham solicitado transporte<br />

para ir à Campina Gran<strong>de</strong> foram agra<strong>de</strong>cer pessoalmente ao presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

estado, o qual mal os recebeu <strong>de</strong>vido à sobrecarga <strong>de</strong> tarefas, e, em segundo<br />

lugar, a colocação <strong>de</strong> Trigueiro (1982, p.67) que <strong>de</strong>fine Solon <strong>de</strong> Lucena como<br />

quem “sempre fora doente, sem que se soubesse exatamente <strong>de</strong> que moléstia.<br />

Era muito magro e <strong>de</strong> cor biliosa. Quando no governo, vivia frequentemente<br />

acamado, às voltas com a medicina caseira”.<br />

Sobre a solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração do GESL, o jornal antes citado<br />

<strong>de</strong>screve minuciosamente toda cerimônia na matéria “A inauguração do Grupo<br />

Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>: as brilhantes festa realizadas naquella cida<strong>de</strong>”. A<br />

programação seguiu os seguintes passos, conforme apresentado no jornal (A<br />

UNIÃO, 15/10/1924, p.02):<br />

• Benção do edifício, ministrado pelo monsenhor Salles, bispo resignatário<br />

do Maranhão;<br />

• Ás 15 horas em ponto, cerimônia inaugural do Grupo Escolar;<br />

• Discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel;


• Declaração da inauguração por Álvaro <strong>de</strong> Carvalho e entrega das<br />

chaves ao nomeado diretor Mario Gomes da Silva;<br />

• Encerramento da sessão solene no pátio interno do <strong>grupo</strong>;<br />

• Apresentações dos tiros <strong>de</strong> guerra do Collegio Diocessano e do Lyceu<br />

Parahybano.<br />

Alguns <strong>de</strong>sses momentos po<strong>de</strong>m ser observados nas fotografias<br />

publicadas na revista Era Nova (novembro <strong>de</strong> 1924). Vejamos, por exemplo, na<br />

foto 15, que se segue, o momento da benção que foi iniciado no Largo da<br />

Matriz, ou seja, em um espaço que ficava em frente da Catedral <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora da Conceição e do Paço Municipal 14 , na mesma rua do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />

Foto 15: Missa Campal em ação <strong>de</strong> graça à inauguração do GESL<br />

Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />

14 Construção iniciada em 1877, inaugurada em 1879 e <strong>de</strong>molida em 1942. Nesse prédio,<br />

funcionaram o Conselho Municipal <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e o Tribunal do Júri.<br />

91


Nessa fotografia, po<strong>de</strong>mos observar como a população estava<br />

participativa naquele momento <strong>de</strong> inauguração. E é possível ainda notar como<br />

as pessoas se prepararam para essa ocasião, vestiam-se bem e<br />

<strong>de</strong>monstravam, a partir <strong>de</strong> suas posturas, bastante atenção àquele momento<br />

sagrado <strong>de</strong> benção ao <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> que passaria a funcionar em Campina<br />

Gran<strong>de</strong>.<br />

Um aspecto nos chamou atenção nessa fotografia, qual seja as crianças<br />

vestidas <strong>de</strong> forma padronizada posicionadas em fila na frente do Paço<br />

Municipal. Partindo da abordagem <strong>de</strong> Ginzburg (1989), o que po<strong>de</strong>ria ser esse<br />

indício? Po<strong>de</strong>mos perceber que eram todas meninas. Elas <strong>de</strong>monstram<br />

estarem vestidas quase iguais, com vestido <strong>de</strong> cor clara, provavelmente<br />

branco, arranjos no cabelo e sapatos claros em combinação com o vestido.<br />

Essa representação po<strong>de</strong> nos indicar que naquele momento se realizou<br />

também a primeira comunhão <strong>de</strong> algumas crianças. Por essa informação não<br />

estar presente em nenhum outro documento coletado, supomos que eram<br />

meninas <strong>de</strong> alguma ca<strong>de</strong>ira isolada feminina ou <strong>de</strong> outra instituição. Essa<br />

situação, segundo Lopes (2006b), resgatava a relação entre ensino laico e<br />

religião católica que se disseminava no país, no momento, em um ambiente <strong>de</strong><br />

acaloradas discussões.<br />

Um outro momento importante <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>stacado durante a inauguração<br />

do GESL foi a participação dos tiros <strong>de</strong> guerra do Lyceu Parahybano e do<br />

Collegio Diocessano. A foto 16 e a 17 que apresentaremos a seguir são<br />

bastante representativas <strong>de</strong>ssa ocasião.<br />

92


Foto 16: Evoluções dos alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano<br />

Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />

Foto 17: Alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano<br />

Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />

Na primeira fotografia, tirada <strong>de</strong> um ângulo que mostra os alunos se<br />

apresentando, po<strong>de</strong>mos observar como a população estava presente,<br />

93


prestigiando aquelas evoluções. Na segunda, por sua vez, po<strong>de</strong>mos dizer que<br />

a intenção era registrar os alunos bem posicionados em frente do GESL.<br />

Todavia, percebemos que alguns estavam mais a vonta<strong>de</strong>, inclusive<br />

conversando.<br />

Nessa ocasião, po<strong>de</strong>mos supor que os alunos do Collegio Diocessano e<br />

do Lyceu Parahybano aproveitaram o ensejo para apresentar da melhor forma<br />

possível o que lhes foi ensinado, já que isso po<strong>de</strong>ria lhes proporcionar<br />

reconhecimento. A<strong>de</strong>mais, seria uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer a instituição<br />

da qual faziam parte, bem como, distinguir o trabalho realizado pelos que os<br />

disciplinaram.<br />

Essa apresentação do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano foi<br />

representada da seguinte forma na matéria “A inauguração do Grupo Escolar<br />

<strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> as brilhantes festas realizadas naquella cida<strong>de</strong>” do jornal A<br />

União:<br />

94<br />

Os tiros <strong>de</strong> guerra do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano<br />

que se haviam transportado, em trens expressos, a linda cida<strong>de</strong><br />

sertaneja, <strong>de</strong>sfilaram em garbosa parada e fizeram evoluções<br />

diversas assistidas por uma verda<strong>de</strong>ira multidão.<br />

Os alumnos do Collegio Diocessano realizaram ainda <strong>de</strong>moradas<br />

provas <strong>de</strong> gymnastica sueca, sempre com a maior correcçcão e<br />

disciplina. A presença, entuhusiasmo e o garbo militar <strong>de</strong>sses<br />

rapazes, os do Lyceu e os do Collegio Diocessano, muito<br />

concorreram para o gran<strong>de</strong> realce <strong>de</strong> que a festa se revestiu.(Jornal<br />

A União, 14/10/1924, p.02).<br />

Diferentemente do que foi registrada nas fotos 16 e 17, este jornal<br />

<strong>de</strong>staca a disciplina e precisão na apresentação dos alunos do Collegio<br />

Diocessano e do Lyceu Parahybano. O mesmo periódico retrata esse momento<br />

como o gran<strong>de</strong> realce da festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração. Assim, fica evi<strong>de</strong>nte que<br />

“as representações [...] são sempre <strong>de</strong>terminadas pelos interesses <strong>de</strong> <strong>grupo</strong><br />

que as forjam” (CHARTIER, 1990, p.17).<br />

A institucionalização das festivida<strong>de</strong>s que celebravam a inauguração ou<br />

aniversário <strong>de</strong> instituições <strong>escolar</strong>es, segundo Cândido (2007), visava<br />

<strong>de</strong>monstrar o <strong>de</strong>senvolvimento e o progresso das escolas públicas<br />

republicanas aos professores, alunos, pais e toda população, para que não<br />

ficassem dúvidas quanto à qualida<strong>de</strong> das mesmas. Consi<strong>de</strong>ramos que o


objetivo era mesmo impressionar a população não só com a arquitetura, mas<br />

com as festas, que era o principal espaço em que o povo po<strong>de</strong>ria conhecer a<br />

escola e, esta, por sua vez, mostrar-se à cida<strong>de</strong>. Vejamos as seguintes fotos<br />

que bem expressam essa situação da festa chamar a atenção da população.<br />

Foto 18: População <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> prestigiando a inauguração do GESL<br />

Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />

95


Foto 19: A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> em festa na inauguração do GESL<br />

Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />

Digamos que não só a população campinense se preparou para a<br />

inauguração do seu primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, vestindo-se bem, mas também a<br />

cida<strong>de</strong>, principalmente a rua Floriano Peixoto, que como po<strong>de</strong>mos observar<br />

nas fotos acima estava bem <strong>de</strong>corada em real clima <strong>de</strong> comemoração. Na foto<br />

18, possivelmente estava acontecendo alguma evolução dos alunos da capital<br />

ou outra apresentação, pois as pessoas <strong>de</strong>monstravam estar atentas a uma<br />

única direção, qual seja à frente do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Já na foto 19 a disposição<br />

das pessoas indica-nos que se estava nos fins da festivida<strong>de</strong>, visto que muitas<br />

evi<strong>de</strong>nciaram estar saindo para diferentes direções, talvez suas casas.<br />

Durante a cerimônia <strong>de</strong> inauguração outro fato nos chamou atenção. Foi<br />

registrado pela revista Era Nova (ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924) e<br />

96


se refere à atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leonel Coelho 15 em distribuir na ocasião um poema, no<br />

qual fazia uma homenagem a Vidal <strong>de</strong> Negreiros. Seguem os versos:<br />

Vidal <strong>de</strong> Negreiros<br />

Gênio da guerra! O teu nome aureolado<br />

Dos brasileiros vibra na memória,<br />

Quanto dos Guararapes, forte brado<br />

Conta teus feitos perennaes, na Historia.<br />

Contempla e estuda o historiador laureado,<br />

Entre os heróes, os feitos <strong>de</strong> victoria:<br />

E, a percorrer os livros do passado,<br />

Diz que teu nome, só, supera em glória.<br />

Sejas tu, pois, o exemplo <strong>de</strong> civismo;<br />

De amor à Pátria; bravura e <strong>de</strong> heroísmo;<br />

Valor, justiça, glória e <strong>de</strong> façanha;<br />

Vulto immortal, oh! Albatroz da Guerra,<br />

Tu, que venceste o batavo, em campanha,<br />

Só pelo amor da Brasileira Terra!<br />

97<br />

Em homenagem ao immortal guerreiro e ao<br />

tiro 165, para estimulo ao patriotismo, à<br />

justiça e à bravura dos jovens brasileiros:<br />

Parahyba-outubro-1924<br />

Leonel Coelho<br />

Esse poema <strong>de</strong>ixa bastante claro a intenção <strong>de</strong> Leonel Coelho que era<br />

homenagear Vidal <strong>de</strong> Negreiros 16 , mas qual o sentido <strong>de</strong>sta homenagem nessa<br />

ocasião? Sem dúvidas, como o próprio poeta explicita estimular o patriotismo, a<br />

justiça e a bravura <strong>de</strong> todos os jovens que participavam daquela solenida<strong>de</strong>. O<br />

estímulo a isso foi apontado pelo poeta a partir da figura <strong>de</strong> Vidal, consi<strong>de</strong>rado<br />

herói <strong>de</strong>sbravador por muitos paraibanos. Portanto, digamos que o intuito era<br />

fazer com que os jovens tomassem como exemplo <strong>de</strong> vida o dito herói. Além<br />

disso, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dizer que essa atitu<strong>de</strong> indica a intenção <strong>de</strong> se<br />

15 Poeta paraibano.<br />

16 Vidal <strong>de</strong> Negreiro era paraibano filho <strong>de</strong> Francisco Vidal e Catarina Ferreira. Destacou-se na<br />

expulsão dos holan<strong>de</strong>ses do território brasileiro na primeira meta<strong>de</strong> do século XVII e se<br />

enquadrou na arte da guerra, não só pela sua bravura, mas também pela serieda<strong>de</strong> e<br />

segurança nos seus planos. Foi consi<strong>de</strong>rado um guerreiro.


exaltar a referida personagem da história paraibana para continuar a heroicizá-<br />

la.<br />

Observamos, portanto, que o sentido da festa <strong>de</strong> inauguração do GESL<br />

variou conforme as pessoas que organizaram, apresentaram e participaram,<br />

pois as mesmas se aproveitaram diversamente <strong>de</strong>ssa festivida<strong>de</strong>, procurando<br />

aten<strong>de</strong>r objetivos próprios dos mais diferentes, como foram os casos dos<br />

alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano, do governo estadual e<br />

do poeta Leonel Coelho.<br />

4.1.1 - O discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel na solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />

O discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel proferido na cerimônia <strong>de</strong><br />

inauguração do GESL foi publicado na íntegra pelo jornal A União. Este<br />

discurso apresentou inúmeras discussões interessantes ao nosso estudo, a<br />

saber: reconhecimento e elogio ao presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado Solon <strong>de</strong> Lucena;<br />

escolha da data <strong>de</strong> inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, homenagens à figuras da<br />

história, especificida<strong>de</strong>s da nova organização da escola primária, i<strong>de</strong>ário<br />

republicano <strong>de</strong>ntre outras questões.<br />

No discurso, o presi<strong>de</strong>nte Solon <strong>de</strong> Lucena, que estava perto <strong>de</strong> terminar<br />

seu mandato, foi amplamente elogiado pelo <strong>de</strong>putado Generino Maciel. Para<br />

ele, Solon <strong>de</strong> Lucena ao chegar ao po<strong>de</strong>r estadual possibilitou um consi<strong>de</strong>rável<br />

avanço à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, sendo um <strong>de</strong>sses avanços a fundação<br />

<strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Esse feito, conforme o discurso do referido <strong>de</strong>putado,<br />

<strong>de</strong>veria ficar sempre guardado na memória da população campinense.<br />

Observemos essa colocação no seguinte trecho <strong>de</strong> seu discurso:<br />

98<br />

O nosso Grupo Escolar, cuja inauguração solenne ora fazemos<br />

neste edifício <strong>de</strong> discreta belleza e austeras linhas architectonicas,<br />

<strong>de</strong>vemol-o, <strong>de</strong> todo, á justiceira clarividência do administrador<br />

irreprochavel cujo nome illibado nossas máes, nossas esposas,<br />

nossas filhas, ou nossas noivas guardam zelosamente, como<br />

sacerdotizas do bem, no branco sacrário da gratidão. Porque,<br />

senhores, o dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, <strong>de</strong>ntro da Republica,<br />

indubitavelmente, é o primeiro que, chefiando o po<strong>de</strong>r executivo<br />

estadual, tudo fez pela harmonia <strong>de</strong> nossa impávida gente dandonos<br />

ainda este templo, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> partirão para o futuro, re<strong>de</strong>mptos


99<br />

pelas fulgurações do ensino básico, os que no tempo hão <strong>de</strong> ser os<br />

continuadores do nosso nome e nossa personalida<strong>de</strong>. (Jornal A<br />

UNIÃO,16/10/1924, p.02)<br />

Acreditamos que, sem dúvidas, era papel <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>putado fazer tais<br />

elogios à Solon <strong>de</strong> Lucena e seu governo, pois que sentido teria convidá-lo se<br />

não fosse para ele exaltar a ação do presi<strong>de</strong>nte nessa empreitada à cida<strong>de</strong>.<br />

Porém, esses elogios po<strong>de</strong>m nos indicar a posição dos campinenses,<br />

especificamente os representantes daquele povo, na reivindicação do <strong>grupo</strong><br />

<strong>escolar</strong> para a cida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>mos perceber que o <strong>de</strong>putado coloca a população<br />

como <strong>de</strong>vedores da ação única do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado, Solon <strong>de</strong> Lucena.<br />

Portanto, <strong>de</strong>ixa-nos a enten<strong>de</strong>r que tal fundação partiu meramente do governo<br />

estadual.<br />

No que se refere à data <strong>de</strong> inauguração do GESL, Generino Maciel nos<br />

<strong>de</strong>ixou a enten<strong>de</strong>r que tal data (12 <strong>de</strong> outubro) se revestia do simbolismo da<br />

chegada <strong>de</strong> Colombo ao Continente Americano. Este <strong>de</strong>putado aproveitou o<br />

momento para homenagear Cristóvão Colombo, portanto, lembrar/relembrar a<br />

ação <strong>de</strong>ste homem na chegada a América à população que naquela ocasião<br />

participava. Vejamos um trecho do seu discurso:<br />

No plano primitivo <strong>de</strong>sta mo<strong>de</strong>stíssima palestra, com que lhe venho<br />

perturbar, exmas. Senhoras minhas e meus senhores, a formosura<br />

do festival ora a realisar-se, entrava, por alvitre attendivel da<br />

amiza<strong>de</strong> fidalga e honrosíssima que a esta triouma me arrasta, a<br />

resolução <strong>de</strong> algo vos dizer sobre o 12 <strong>de</strong> outubro. Falar-vos-ia,<br />

portanto, se persistisse no intento da aventura nautica do Genovez,<br />

da sua immarcessivel gloria, das penas que soffreu o re<strong>de</strong>vivo<br />

navegador, das ingratidões que o afflingiram e <strong>de</strong> toda a magnífica<br />

epopéa em que seus feitos e sua existência planetária se<br />

transfiguraram. Recordar-vos-ia, assim sua perigrinação inefficaz á<br />

pátria immortal <strong>de</strong> Nun’ Álvares, on<strong>de</strong> o scepticismo d’el-rei não lhe<br />

<strong>de</strong>u guarida no pétreo ninho <strong>de</strong> Sagres, <strong>de</strong> que partiriam, mais tar<strong>de</strong>,<br />

no bojo escuro das naus blindadas, as sementes alvas da<br />

colonisação lusa em procura dos continentes ignotos; e lembrar-vosia<br />

<strong>de</strong>pois, a arrancada semi pascional do visionário impertinente á<br />

terra em que nascera on<strong>de</strong> supplicaria, <strong>de</strong>bate com lagrimas na<br />

adustez da faxe requeimada do calor do pranto emotivo o auxilio<br />

imprescindível á realisação do i<strong>de</strong>al que o suffocava; e, em seguida<br />

<strong>de</strong>ter-me-ia, comvosco, pacientemente, na corte <strong>de</strong> Castelia, por<br />

on<strong>de</strong>, outr’ora, na sua altuada loucura psychica campeara o cid da<br />

legenda heróica , restaurando o epicismo complexo da varonilida<strong>de</strong><br />

daquelle povo em cujas artérias o sangue allienigina, <strong>de</strong> cem raças<br />

diversas, não diluiria a pertinácia victoriosa do velho e sempre moço<br />

sangue latino. (Jornal A UNIÃO,16/10/1924, p.02)


100<br />

Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos dizer que a data escolhida para a inauguração<br />

do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> não foi <strong>de</strong>finida por um acaso, mas a partir <strong>de</strong> um marco,<br />

consi<strong>de</strong>rado para os que a <strong>de</strong>limitaram importante e significativo ao momento.<br />

Digamos que isso era comum acontecer na <strong>de</strong>limitação das datas <strong>de</strong><br />

inauguração <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, pois, por exemplo, no Piauí para inaugurar<br />

um <strong>de</strong>terminado <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> esperaram uma data que tivesse certa<br />

representação para aquele fato. Vejamos isso na seguinte citação:<br />

É ainda exemplar, nesse aspecto, o modo como o prédio do Grupo<br />

Escolar Miranda Osório <strong>de</strong> Parnaíba realizou sua inauguração em<br />

1927. Mesmo esta escola tendo sido instalada em junho, foi<br />

aguardada uma data que simbolicamente representasse o<br />

patriotismo, as mudanças <strong>de</strong>sejadas para a educação municipal e<br />

autonomia <strong>de</strong> Parnaíba, <strong>de</strong>stacando-se sua ação educacional, em<br />

matéria <strong>de</strong> melhoramentos municipais, para ser inaugurada<br />

solenemente a escola. Esta data foi 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1927.<br />

(LOPES, 2006b, p.4367)<br />

Desse modo, po<strong>de</strong>mos dizer que a data <strong>de</strong> inauguração <strong>de</strong> instituições<br />

<strong>escolar</strong>es era revestida <strong>de</strong> todo um significado, principalmente quando ela<br />

coincidia com alguma data já comemorada em nível internacional, nacional,<br />

estadual ou municipal.<br />

No discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel consi<strong>de</strong>ramos também<br />

interessante ressaltar a importância que ele <strong>de</strong>u à escola. Vejamos<br />

Templo se tem chamado a Escola e ella o é, realmente, pelo bem<br />

que presta a socieda<strong>de</strong>. Officina, a escola educa e instrúe. Educar é<br />

fazer que o caracter se purifique, libertando-o <strong>de</strong> falhas removíveis,<br />

ou então lhe evi<strong>de</strong>nciando as virtu<strong>de</strong>s innatas em <strong>de</strong>trimento das<br />

taras que porventura a afetam; instruir é adaptar a intelligencia a<br />

comprehensão <strong>de</strong> todos os fenômenos. Ali, por certo a ethica do<br />

coração; aqui, na verda<strong>de</strong>, a esthetica do espírito. (Jornal A<br />

UNIÃO,16/10/1924, p.02)<br />

Nessa colocação po<strong>de</strong>mos vislumbrar o i<strong>de</strong>ário republicano educacional,<br />

já que o <strong>de</strong>putado <strong>de</strong>staca a escola como lugar das crianças se purificarem em<br />

relação aos problemas da socieda<strong>de</strong>. Portanto, é possível perceber,<br />

implicitamente nessa fala, a idéia da escola como regeneradora da nação.<br />

O <strong>de</strong>putado expõe, ainda, os <strong>de</strong>safios que terão os professores no novo<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária, <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, alertando que


101<br />

O convívio <strong>de</strong> professores eleva a conclave, para o sacerdócio em<br />

comum, a obrigação <strong>de</strong> todos. O templo, em vez <strong>de</strong> capela humil<strong>de</strong>,<br />

é já vasta cathedral em cujas naves rumoteja o ciclar das preces.<br />

Preces <strong>de</strong> civismo disciplinado moralmente, ante a imagem da pátria<br />

e que se murmuram pelos que serão os homens do amanhã.<br />

Eis o <strong>de</strong>ver dos mestres que aqui vem exequir a teologia das<br />

respectivas fucções. O dos alumnos se emoldura na obediência e<br />

applicação. As duas feições do instituto lhe emprestam logicamente,<br />

valor <strong>de</strong> seminário, no sentido clássico do termo. Plantar-se-á, pois,<br />

neste campo. Que se adube o terreno, a fim <strong>de</strong> que a semente não<br />

se perca no areial da indiferença.<br />

A divisão do trabalho se impõe. São, porém, consi<strong>de</strong>rações geraes<br />

em que não recalcitro. Confiamos nós na competência dos<br />

cultivadores da seara: e seremos os fiscaes <strong>de</strong> sua tarefa,<br />

coadjuvando-os posto que <strong>de</strong> longe, com os nossos applausos ou os<br />

alertando com as nossas respeitosas observações. (Jornal A UNIÃO,<br />

16/10/1924, p.02)<br />

Nos fins <strong>de</strong> seu discurso Generino Maciel reforça o i<strong>de</strong>ário republicano,<br />

<strong>de</strong>stacando especificamente a necessida<strong>de</strong> da obediência, disciplina, civismo<br />

para que a nação funcione harmoniosamente. Segue abaixo um trecho que<br />

bem expressa esse posicionamento do <strong>de</strong>putado:<br />

A obediência faz a harmonia. A tudo presi<strong>de</strong>m leis que se obe<strong>de</strong>cem.<br />

Olhae o universo. O sol, centro do nosso systema planetário,<br />

enca<strong>de</strong>l-se ao concreto cósmico sem um só gesto <strong>de</strong> rebellião.<br />

Contra elle, a seu torno, nunca se revoltaram os astros, que o<br />

acompanham em sua trajetória. Há imensos soes na amplidão dos<br />

espaços. E todos elles gyram obedientes aquella força que lhes<br />

presi<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>stinos. Obediência é amor.<br />

E o amor é que move as estrellas harmonicamente; e pôe o gorgeio<br />

das aves na doçura dos ninhos.<br />

Somente quem não ama é <strong>de</strong>sobediente. Apren<strong>de</strong>i a obe<strong>de</strong>cer,<br />

principalmente no lar e na escola, aos genitores e aos mestres.<br />

Todo crime, todo <strong>de</strong>lito, toda infracção, é uma <strong>de</strong>sobediência. Quem<br />

<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce ao professor, quem <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce aos paes, quem<br />

<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce as auctorida<strong>de</strong>s dá a primeira passada para o abysmo.<br />

A anarchia é uma <strong>de</strong>sobediência generalizada: evital-a!<br />

Para cumprir sua missão, o Brasil precisa <strong>de</strong> que lhe obe<strong>de</strong>ça, hoje<br />

mais do que nunca, os mandamentos cívicos <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> nacional.<br />

E na escola que se principia a fazel-o. (Jornal A UNIÃO,16/10/1924,<br />

p.02)<br />

Em linhas gerais, po<strong>de</strong>mos dizer que o <strong>de</strong>putado aproveitou o espaço<br />

dado a ele para em seu discurso enaltecer o governo, relembrar figuras<br />

consi<strong>de</strong>radas importantes como Cristóvão Colombo, reforçar o i<strong>de</strong>ário<br />

republicano <strong>de</strong> regeneração da nação e, principalmente, estimular o civismo e<br />

patriotismo, além, logicamente, <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> do novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>escolar</strong>ização primária.


4.2 – Datas comemorativas no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

102<br />

As datas comemorativas sejam elas internacionais, nacionais,<br />

municipais ou voltadas especificamente à instituição <strong>de</strong> ensino, também foram<br />

momentos dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es festejarem e se abrirem à cida<strong>de</strong>. Momentos<br />

em que se buscava reforçar ensinamentos que proporcionassem legitimida<strong>de</strong><br />

ao i<strong>de</strong>ário republicano <strong>de</strong> nacionalismo e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. A esse respeito é<br />

pertinente a seguinte citação:<br />

Os i<strong>de</strong>ais da República, nacionalismo e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> estiveram<br />

presentes quase que intrinsecamente no espaço e cotidiano <strong>escolar</strong><br />

<strong>de</strong> diversas instituições, <strong>de</strong>ntre estas, <strong>de</strong>stacam-se os <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es, uma vez que, o Estado, ao tornar as datas cívicas uma<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>escolar</strong>, fez da escola primária um instrumento que<br />

contribuísse para a construção e manutenção <strong>de</strong> uma memória<br />

nacional. (PAIVA, LIMA, PINHEIRO, 2007, p.01, grifos no original)<br />

Nesse sentido, as festas <strong>escolar</strong>es além <strong>de</strong> terem sido estratégias para<br />

tornar visível a escola, também instituíam práticas que objetivavam regenerar a<br />

nação, já que era bastante comum no cotidiano <strong>de</strong>ssa instituição a busca em<br />

formar cidadãos cívicos que exaltassem o país, a bravura <strong>de</strong> homens tidos<br />

como heróis, acontecimentos consi<strong>de</strong>rados louváveis da história, como a<br />

<strong>de</strong>scoberta da América e a proclamação da república, entre outros.<br />

Para Gallego e Cândido (2006, p.4268),<br />

as instituições <strong>escolar</strong>es integram esse projeto mo<strong>de</strong>rnizador e<br />

difun<strong>de</strong> valores [republicanos], a exemplo do calendário <strong>escolar</strong> que,<br />

ao eleger e selecionar datas a serem festejadas, homens a serem<br />

consi<strong>de</strong>rados heróis, indica o que <strong>de</strong>ve ser lembrado, e,<br />

consequentemente produz esquecimentos. Heróis e mitos foram<br />

criados e cultivados, era necessário <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar emoção, encontrar<br />

símbolos dos fatos que <strong>de</strong>sejava recordar e provocar sentimentos<br />

para que as crianças a<strong>de</strong>rissem a eles com paixão. Era preciso fazer<br />

com que o povo amasse a pátria, seus heróis, comemorassem a era<br />

republicana: hinos, hasteamento da ban<strong>de</strong>ira, pavilhão <strong>escolar</strong>, as<br />

músicas cujas letras faziam menção à pátria constituíram ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>cisivas na constituição da memória coletiva oficial.<br />

A partir dos jornais que tivemos acesso, observamos que no GESL<br />

muitas datas eram celebradas com uma programação revestida <strong>de</strong> civismo. Um<br />

exemplo disso foi o 12 <strong>de</strong> outubro, data que se comemora o chamado<br />

<strong>de</strong>scobrimento da América, aniversário do referido <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> e o dia da


criança. Na matéria intitulada como “O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

commemora a data com brilhantes festas”, do jornal O Século, é <strong>de</strong>stacado o<br />

seguinte <strong>de</strong>ssa comemoração conjunta:<br />

103<br />

A data do <strong>de</strong>scobrimento da America teve entre nos uma<br />

brilhantíssima commemoração, por parte do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />

Lucena e <strong>de</strong>mais escolas e collegios <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />

Sendo essa data do anniversario da inauguração do mo<strong>de</strong>lar<br />

estabelecimento com que o saudoso Presitente Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

dotou a nossa terra, o seu illustre director Prof. Mario Gomes,<br />

organisou um programma commemorativo para que aquelle dia não<br />

passasse <strong>de</strong>spercebido.<br />

Logo pela manhã, a Associação <strong>de</strong> Escotiros do Grupo, prestou<br />

continência à ban<strong>de</strong>ira, que foi hasteada na fachada do<br />

estabelecimento, seguindo-se uma passeata militar, em que<br />

tomaram parte o Instituto Pedagogico, Gynnasio Campinense e<br />

diversos outras escolas publicas e particulares da cida<strong>de</strong>.<br />

As 13 horas, houve logar no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena uma<br />

sessão cívica presidida pelo prof. Mario Gomes que pronunciou uma<br />

conferencia allusiva à data, relembrando o feito <strong>de</strong> Colombo, a obra<br />

maravilhosa <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena e fazendo ver que naquelle dia<br />

tambem se commemorava o Dia da creança.<br />

Às 18 horas, em palco armado no recreio da secção feminina do<br />

Grupo, alumnos do estabelecimento levaram à scena um<br />

entretenimento theatral que agradou plenamente a uma numerosa<br />

assistência presente. (Jornal O SECÚLO, 13/10/1928, p.04)<br />

Po<strong>de</strong>mos pon<strong>de</strong>rar a partir <strong>de</strong>sse trecho que tal data foi tomada pela<br />

autorida<strong>de</strong> do GESL para reforçar na memória dos alunos, e,<br />

consequentemente, da comunida<strong>de</strong> local o dito gran<strong>de</strong> feito <strong>de</strong> Colombo, assim<br />

como, do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado Solon <strong>de</strong> Lucena. É possível perceber, ainda,<br />

nessa representação um tímido <strong>de</strong>staque quanto ao dia das crianças. Esse<br />

tímido <strong>de</strong>staque, para nós, está relacionado ao fato <strong>de</strong> que naquele momento<br />

era mais importante enfatizar conhecimentos que tivessem relação mais direta<br />

com os i<strong>de</strong>ários republicanos.<br />

Esse trecho do jornal também <strong>de</strong>ixa claro como esse momento <strong>de</strong><br />

comemoração era revestido <strong>de</strong> civismo: hasteamento da ban<strong>de</strong>ira nacional,<br />

continência à mesma e lembrança aos gran<strong>de</strong>s feitos consi<strong>de</strong>rados relevantes<br />

da data (<strong>de</strong>scobrimento da América, a pessoa <strong>de</strong> Colombo e Solon <strong>de</strong> Lucena).<br />

Para Horta (1994), o civismo como constituinte do conhecimento que as<br />

instituições <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>veriam passar, po<strong>de</strong>ria ser atribuído à crença no papel<br />

moralizador da escola, que imperava nos meios educacionais do país, nas


primeiras décadas do período republicano. Conforme esse autor, <strong>de</strong>ntre os<br />

principais papéis incumbidos à escola naquele período estava a formação do<br />

cidadão capacitado para engran<strong>de</strong>cer a pátria e, assim, possibilitar a<br />

regeneração da nação.<br />

104<br />

No recorte da matéria “O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena commemora a<br />

data com brilhantes festas”, mencionado acima, po<strong>de</strong>mos também observar<br />

que momentos como esses <strong>de</strong> comemoração foram apropriados pelos<br />

professores e alunos para divulgarem seus trabalhos, ou melhor, para<br />

<strong>de</strong>monstrar aos que ali iam prestigiar parte do que se ensinava e se aprendia<br />

naquela instituição.<br />

Nessa mesma matéria um acontecimento nos chamou a atenção, trata-<br />

se do “modo in<strong>de</strong>licado por que diversos moços <strong>de</strong> nossa melhor socieda<strong>de</strong><br />

estavam se portando, a ponto <strong>de</strong> ser preciso a intervenção da pôlicia” (Jornal O<br />

SÉCULO, 13/10/1928, p.04). Isso, a partir do paradigma indiciário <strong>de</strong> Ginzburg<br />

(1989), é uma importante indicação <strong>de</strong> que esses momentos não só se<br />

revestiam <strong>de</strong> disciplina e obediência, mas que existiam comportamentos que<br />

transgrediam os objetivos da maioria das festas <strong>escolar</strong>es, embora que nesse<br />

caso transpareça que os jovens não eram alunos do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />

Outra data <strong>de</strong>stacada nos jornais locais comemorada pelo GESL foi o<br />

dia 19 <strong>de</strong> novembro, o dia da ban<strong>de</strong>ira nacional. Esta data, conforme o jornal O<br />

Século, foi comemorada com um caráter bastante patriótico com hasteamento<br />

da ban<strong>de</strong>ira, canto do hino nacional e da ban<strong>de</strong>ira do Brasil. Nessa mesma<br />

data do ano <strong>de</strong> 1928, o diretor resolveu comemorar também o encerramento do<br />

ano letivo, tendo como objetivo maior, nessa festa, ajudar o Hospital Pedro I<br />

cuja fundação fazia pouco tempo em Campina Gran<strong>de</strong>. Essa <strong>de</strong>cisão do diretor<br />

do GESL po<strong>de</strong> ser percebida no seguinte citação “o professor Mario Gomes<br />

encerrou o anno <strong>de</strong> trabalhos no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena realisando no<br />

dia da ban<strong>de</strong>ira, uma encantadora festa em beneficio do Hospital Pedro I”<br />

(Jornal O SÉCULO, 24/101928).<br />

No jornal O Século é ressaltado que para angariar auxílio para o Hospital<br />

Pedro I os alunos do GESL realizaram apresentações teatrais no Cine-Teatro


Apolo, já que o espaço era maior e mais a<strong>de</strong>quado às apresentações dos<br />

discentes.<br />

105<br />

Em 1937, o Jornal A Voz da Borborema <strong>de</strong>staca a comemoração do dia<br />

12 <strong>de</strong> outubro no GESL e mostra que nesse ano o foco da comemoração foi no<br />

dia da criança ao invés do <strong>de</strong>scobrimento da América e do feito <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong><br />

Lucena, diferentemente do que ocorrera nessa data no ano <strong>de</strong> 1928,<br />

apresentado anteriormente. Nessa ocasião, procurou-se discutir sobre a<br />

relação criança e escola, a partir da palestra <strong>de</strong> um pediatra campinense.<br />

Vejamos uma representação <strong>de</strong>ssa ocasião:<br />

O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena, à frente illustre director e todo<br />

corpo docente e dicente, commemorou com brilhantismo a data,<br />

realisando uma sessão cívica, durante a qual foram cantados pelos<br />

orpheão do Grupo Hymnos Patrióticos e <strong>escolar</strong>es.<br />

O illutre pediatra campinense Dr. Henio Azevedo, expressamente<br />

convidado realisou um interessante palestra sobre a creança na<br />

escola, disertando com segurança e conhecimentos technicos sobre<br />

questões <strong>de</strong> hygiene e psychologia infantil, a qual agradou<br />

plenamente a toda a assistência presente.<br />

A sessão cívica, foi presidida pelo Cônego Costa e secretariado pela<br />

prof. Arbetina Ramos Amorim, sentando-se à mesa o prof. Loureiro,<br />

Sr. Olegario Azevedo e Drs. José Reys, Luiz Gomes Peixe e Henio<br />

Azevedo.<br />

Encerrando as festivida<strong>de</strong>s o cônego Costa fez um calorosa<br />

dissertação sobre a data, fazendo menção especial ao papel da<br />

creança como cellula mater da humanida<strong>de</strong>, evocando a palavra do<br />

Cristo, quando elle pedia que <strong>de</strong>ixassem chegar a si asa<br />

creançinhas.(Jornal A VOZ DA BORBOREMA, 13/10/1937, p.06)<br />

Observamos que o caráter cívico estava bem apresentado nessa<br />

comemoração, pois, como em outras ocasiões, os hinos patrióticos foram<br />

cantados, reforçando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor à pátria. Mas, o que mais nos<br />

chamou atenção foi o silêncio quanto ao <strong>de</strong>scobrimento da América e ao<br />

aniversário do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, com <strong>de</strong>staque ao dito feito <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena.<br />

Além disso, a própria dimensão <strong>de</strong>ssa comemoração, já que aparentava estar<br />

voltada apenas à comunida<strong>de</strong> <strong>escolar</strong> e não à cida<strong>de</strong> como um todo.<br />

Vale <strong>de</strong>stacar que estamos enten<strong>de</strong>ndo esse silêncio na perspectiva<br />

elaborada por Certeau (2008, p.95) <strong>de</strong> que a escrita historiográfica dá lugar à<br />

falta e que o relato histórico “reconhece uma presença da morte no meio dos<br />

vivos”.


106<br />

Esse silêncio e essa dimensão da festa em comemoração ao dia 12 <strong>de</strong><br />

outubro do ano <strong>de</strong> 1937, <strong>de</strong>ixado aperceber na matéria do jornal citado, po<strong>de</strong>m<br />

ter relação ao que Gallego e Cândido (2006, p. 4270) observaram no estado <strong>de</strong><br />

São Paulo, a saber: que as festas <strong>escolar</strong>es após certa organização do ensino<br />

público passaram a ser contestadas até como “causas perturbadoras do<br />

ensino, sem nenhuma utilida<strong>de</strong> para o fim da educação”. Segundo essas<br />

autoras, essas críticas quanto às festivida<strong>de</strong>s <strong>escolar</strong>es se fundamentavam no<br />

argumento <strong>de</strong> que as festas já haviam cumprido o seu papel que era tornar<br />

visível o <strong>de</strong>senvolvimento das primeiras escolas republicanas. Para as<br />

estudiosas antes mencionadas,<br />

Se as festas foram importantes em um primeiro momento para a<br />

consolidação dos i<strong>de</strong>ais republicanos e para dar visibilida<strong>de</strong> à escola<br />

pública, em um momento posterior esse objetivo é contestado e ela<br />

obtém outros sentidos que não os mobilizados inicialmente. Po<strong>de</strong>-se<br />

atribuir essa mudança do papel das festas à própria assimilação<br />

<strong>de</strong>ssas na cultura <strong>escolar</strong> que estava se configurando no período<br />

estudado. Ao fazerem parte <strong>de</strong> um modo cada vez mais interiorizado<br />

no cotidiano <strong>escolar</strong>, observa-se que ao se alcançar os objetivos<br />

explicitados não é mais necessário marcar as ‘novida<strong>de</strong>s’.<br />

(GALLEGO; CÂNDIDO, 2006, p.4271)<br />

Portanto, observamos que as festas em comemoração a algumas datas<br />

no GESL variaram conforme o objetivo, a motivação, as pessoas e o momento<br />

sócio-histórico. Elas foram constituintes <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> características e<br />

rituais, os quais extrapolavam o sentido <strong>de</strong> solenida<strong>de</strong> para o <strong>de</strong> aprendizagem<br />

<strong>de</strong> conteúdos, valores, normas e comportamentos consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>quados<br />

naquele período.<br />

4.3 – Festa <strong>de</strong> inauguração do cinema educativo do Grupo Escolar Solon<br />

<strong>de</strong> Lucena<br />

A institucionalização do Cinema Educativo foi consi<strong>de</strong>rada um marco <strong>de</strong><br />

inovação nos recursos utilizados nas escolas. Como um meio auxiliar <strong>de</strong> ensino<br />

e uma tecnologia veiculadora <strong>de</strong> saberes e valores, este recurso esteve<br />

atrelado à otimização do trabalho docente, bem como, à mo<strong>de</strong>rnização do<br />

ensino.


107<br />

Conforme a matéria “Cinema educativo: uma abordagem histórica” da<br />

revista Comunicação e <strong>Educação</strong> (1995), esse recurso foi <strong>de</strong>batido e <strong>de</strong>fendido<br />

por muitos intelectuais paulistas e cariocas, como Lourenço Filho, Fernando <strong>de</strong><br />

Azevedo, Roque Pinto, Jonathas Serrano e outros, durante as décadas <strong>de</strong><br />

1920 e 1930 no Brasil.<br />

Para Monteiro (2006), alguns dos principais <strong>de</strong>fensores e incentivadores<br />

do Cinema educativo no Brasil durante as décadas antes mencionadas foram:<br />

Jonathas Serrando, Venâncio Filho e Joaquim Canuto M. <strong>de</strong> Almeida.<br />

Conforme essa autora, a partir das obras “Cinema e educação” (1930) e<br />

“Cinema contra cinema” (1931), sendo a primeira <strong>de</strong> Serrano e Venâncio Filho<br />

e a segunda <strong>de</strong> Almeida, esses intelectuais não apenas <strong>de</strong>monstravam a<br />

importância <strong>de</strong>sse novo recurso na educação <strong>escolar</strong>izada, mas alertavam<br />

sobre a possibilida<strong>de</strong> do cinema educativo ser usando tanto para o bem como<br />

para o mal na formação das crianças e jovens. A mesma autora ressalta que foi<br />

Joaquim Almeida quem mais <strong>de</strong>stacou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fiscalização e censura<br />

nos filmes que fossem passados nas escolas. Isso, para que o objetivo do<br />

cinema educativo fosse, <strong>de</strong> fato, realizado.<br />

Os estados do Rio <strong>de</strong> Janeiro, na época Distrito Fe<strong>de</strong>ral, e o <strong>de</strong> São<br />

Paulo foram, segundo Monteiro (2006), os pioneiros na implantação <strong>de</strong>sse<br />

novo recurso <strong>de</strong> ensino. Conforme ela,<br />

Em 21 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1928, Fernando <strong>de</strong> Azevedo, quando diretor da<br />

Diretoria <strong>de</strong> Instrução Pública na Reforma da <strong>Educação</strong> que<br />

promoveu no Distrito Fe<strong>de</strong>ral, introduziu o Cinema Educativo nos<br />

artigos nº.633 a 635.<br />

São Paulo, frente a toda essa efervescência, não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstrar seu interesse em fazer parte dos <strong>grupo</strong>s que utilizavam<br />

as novida<strong>de</strong>s tecnológicas. Portanto, em 1931, no período <strong>de</strong> 22 a<br />

28 <strong>de</strong> junho, realizava-se a Exposição Preparatória do Cinema<br />

Educativo, no Instituto Pedagógico, por iniciativa da Diretoria Geral<br />

<strong>de</strong> Ensino. (MONTEIRO, 2006, p. 11 e 15)<br />

Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos dizer que o cinema educativo ficou sendo<br />

percebido como um aliado para a promoção da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> do ensino. Além<br />

disso, conforme Monteiro (2006), tal recurso tornava possível uma prática<br />

<strong>escolar</strong> nos mol<strong>de</strong>s pretendidos pelo movimento dos escolanovistas, os quais<br />

<strong>de</strong>stacavam que


108<br />

[...]a escola <strong>de</strong>ve utilizar, em seu proveito, com a maior amplitu<strong>de</strong><br />

possível, todos os recursos formidáveis, como a imprensa, o disco, o<br />

cinema e o rádio, com que a ciência, multiplicando-lhe a eficácia,<br />

acudiu à obra <strong>de</strong> educação e cultura e que assumem, em face das<br />

condições geográficas e da extensão territorial do país, uma<br />

importância capital.(MANIFESTO DOS PIONEIROS DA ESCOLA<br />

NOVA, 1932)<br />

Então, como uma mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ao ensino, o cinema educativo foi<br />

implantado em Campina Gran<strong>de</strong> pela primeira vez no GESL, mais<br />

precisamente no dia 1º <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1937.<br />

A consi<strong>de</strong>rada responsável por esse feito foi uma professora do referido<br />

<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, Apolônia Amorim 17 , que, com o apoio e indicação do governo<br />

paraibano, foi ao Rio <strong>de</strong> Janeiro para conhecer in loco esse novo recurso em<br />

plena utilização, e assim, ajudar melhor na implantação e funcionamento do<br />

cinema educativo em Campina Gran<strong>de</strong>. Vejamos como o jornal local “A Voz da<br />

Borborema” representou esse momento na matéria intitulada por “Inaugura-se,<br />

No Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena, <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, o Cinema Educativo”:<br />

Realisou-se no dia 1 do corrente, a inauguração do Cinema<br />

Educativo, emprehendimento e iniciativa <strong>de</strong> alta importância<br />

pedagógica, que vem merecendo, da illustre educadora campinense<br />

Apolonia Amorim, a mais carinhosa attenção.<br />

A professora Apolonia Amorim, que, ha meses passados, fora ao Rio<br />

<strong>de</strong> janeiro afim <strong>de</strong> se por em contacto com os centros educacionaes<br />

mais a<strong>de</strong>antados do Sul do paiz e estudar os meios <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong>s para o conhecimento e adaptação do systema <strong>de</strong><br />

Cinema Educativo empregado nas escolas públicas, essa abnegada<br />

preceptora vem <strong>de</strong> positivar, agora, em nosso meio, após, acurados<br />

estudos, a realisação <strong>de</strong>ssa palpitante objectivo, installando, no<br />

Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, um bem feito<br />

aparelho <strong>de</strong> Cinema Educativo.(Jornal A VOZ DA BORBOREMA<br />

03/10/1937, p.06)<br />

Esse momento foi celebrado com muita festivida<strong>de</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>,<br />

mais precisamente no GESL. Diversas pessoas se reuniram junto ao corpo<br />

docente e discente <strong>de</strong>ssa instituição para comemorar esta conquista.<br />

17 Segundo Rodrigues, Gaudêncio e Almeida Filho (1996), Apolônia Amorim era natural <strong>de</strong><br />

Barra <strong>de</strong> Santana, município do interior paraibano. Era consi<strong>de</strong>rada uma mulher à frente do seu<br />

tempo, pois foi um das fundadoras do Jardim <strong>de</strong> Infância <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, professora do<br />

GESL, entusiasta <strong>de</strong> João Pessoa e da Aliança Liberal e integrante do “Comitê Feminino Clara<br />

Camarão”.


109<br />

De acordo com a matéria do jornal antes mencionado, tal comemoração<br />

teve início às 18 horas naquela instituição, sendo presidida pelo diretor do<br />

<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> e pela professora Apolônia Amorim, que “<strong>de</strong>monstrou,<br />

francamente, a efficiencia <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>rno methodo pedagógico, que [foi]<br />

entroduzido nos estabelecimentos <strong>de</strong> ensino da cida<strong>de</strong>” (Jornal A VOZ DA<br />

BORBOREMA 03/10/1937, p.06).<br />

Nessa comemoração, além dos discursos em <strong>de</strong>fesa do Cinema<br />

Educativo para o ensino foram realizadas sessões <strong>de</strong> alguns filmes, bem como,<br />

“exhibido innumeras enscenações e perspectivas <strong>de</strong> caracter histórico e<br />

educacional” (Jornal A VOZ DA BORBOREMA 03/10/1937, p.06). Po<strong>de</strong>mos<br />

dizer que isso se tratava <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>monstração da utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse recurso aos<br />

que prestigiavam esse evento.<br />

Então, concordando com Lopes (2006b, p. 4366) quando o mesmo<br />

ressalta que “as festas <strong>escolar</strong>es traziam, ainda, as marcas das novida<strong>de</strong>s<br />

curriculares e das transformações pedagógicas da escola”, observamos que no<br />

GESL estas mudavam <strong>de</strong> sentido e motivação conforme o seu objetivo, sendo,<br />

particularmente, nesse caso da inauguração do cinema educativo, uma prática<br />

<strong>de</strong> divulgar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r um novo recurso pedagógico. Acrescentamos ainda, <strong>de</strong><br />

reconhecer o empenho da professora Apolônia Amorim, a atuação do governo<br />

e o avanço no uso <strong>de</strong> recursos pedagógicos no GELS.<br />

4.4 – Exposições <strong>escolar</strong>es: momentos <strong>de</strong> divulgar trabalhos <strong>escolar</strong>es à<br />

comunida<strong>de</strong> campinense<br />

As exposições <strong>escolar</strong>es, compondo também os momentos <strong>de</strong><br />

festivida<strong>de</strong>s das instituições <strong>de</strong> ensino, expressavam o empenho, <strong>de</strong>dicação,<br />

habilida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong> e trabalho <strong>de</strong> muitos professores e alunos. Tratava-se<br />

<strong>de</strong> outra prática imbuída <strong>de</strong> significados nas escolas.<br />

Para Souza (1998, p.261) as exposições <strong>escolar</strong>es:<br />

Representavam um momento <strong>de</strong> exposição pública do trabalho e das<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas na escola. Por meio <strong>de</strong>las as famílias dos<br />

alunos e a população em geral tomavam ciência da qualida<strong>de</strong> do


110<br />

trabalho <strong>de</strong>senvolvido nos estabelecimentos <strong>de</strong> ensino. Fonte <strong>de</strong><br />

orgulho <strong>de</strong> professores, alunos e familiares, a exposição <strong>de</strong>notava o<br />

capricho, o <strong>de</strong>svelo, a habilida<strong>de</strong>, o esforço, o empenho e a<br />

<strong>de</strong>dicação dos alunos e professores.<br />

Então, como em outros momentos festivos as exposições <strong>escolar</strong>es<br />

eram, <strong>de</strong> fato, ocasiões das escolas romperem com as fronteiras dos muros,<br />

pare<strong>de</strong>s e portões e se abrir à cida<strong>de</strong> para que esta pu<strong>de</strong>sse conhecer parte do<br />

que se ensina nas mesmas. Fazer aparecer a qualida<strong>de</strong> do ensino, digamos<br />

que po<strong>de</strong>ria ser um dos principais objetivos das exposições <strong>escolar</strong>es.<br />

Nas exposições, geralmente, era apresentado os trabalhos dos alunos<br />

que foram feitos nas disciplinas <strong>de</strong> caráter mais prático, como na disciplina <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senho e trabalhos manuais.<br />

Expressando uma das exposições <strong>escolar</strong>es do GESL, o jornal A Voz da<br />

Borborema, mais precisamente na matéria “Exposição <strong>de</strong> trabalhos, <strong>de</strong>senhos<br />

e <strong>de</strong>cupagens no Grupo Solon <strong>de</strong> Lucena” <strong>de</strong>screve o que um dos<br />

representantes do referido jornal observa em um <strong>de</strong>sses momentos:<br />

Gentilmente acompanhados da professora Ambrosina Mello, uma<br />

das mais <strong>de</strong>dicadas educadoras daquelle estabelecimento <strong>de</strong><br />

ensino, visitamos a exposição dos trabalhos em <strong>de</strong>senho e agulha<br />

do 1° anno A, que obe<strong>de</strong>ce à direcção das competentes professoras.<br />

Liliosa Barros, Ambrosina Mello, Anna Leiros e Eulina Malheiros.<br />

Franca admiração merecem os preciaveis trabalhos dos alumnos do<br />

1° anno B, dirigidos pelos professoras Albertina Ramos Amorim e<br />

Herothi<strong>de</strong>s Oliveira.<br />

Os trabalhos do 2° anno, classe que tem à sua frente as illustres<br />

educadoras Cycilia <strong>de</strong> Oliveira, Silvia Henriques, Aline Moura e Nair<br />

Carvalho, Attestam, <strong>de</strong> maneira realmente animadora, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos alumnos <strong>de</strong>sse grau e capacida<strong>de</strong> educacional<br />

<strong>de</strong> que é portador daquelle corpo docente.<br />

Deixou-nos, sobremodo enthusiasmados, a magnífica exposição dos<br />

trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cupagem, <strong>de</strong>senho, pintura e agulha esforçadas<br />

preceptoras Cizena Galvão, espírito activo e illustrado, e, igualmente,<br />

do 3° anno, que é orientado pela intelligente professora Octilia<br />

Sampaio, duas educadoras que honram, pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho, o magistério publico parahybano.<br />

O 5° anno, que é lecionado pela illustre docente Apolônia Amorim,<br />

exemplo <strong>de</strong> esforço e <strong>de</strong>dicação pelo ensino e pela instrucção entre<br />

nós, tal classe nos chamou, curiosamente, a attenção em face da<br />

efficiencia dos trabalhos manuaes que ali se vêm bem alinhados e<br />

or<strong>de</strong>nados executados pelo seu corpo discente. (Jornal A VOZ DA<br />

BORBOREMA, 16/10/1937, p. 01)


111<br />

A partir <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>scrição fica claro o <strong>de</strong>staque que se dava à atuação<br />

dos docentes. Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos pensar que um dos gran<strong>de</strong>s objetivos<br />

<strong>de</strong>ssas exposições era evi<strong>de</strong>nciar, principalmente, o trabalho que os<br />

professores <strong>de</strong>senvolviam no interior <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s <strong>escolar</strong>es. Portanto,<br />

nessa ocasião a evidência era dada pelo que os alunos apren<strong>de</strong>ram nas<br />

disciplinas.<br />

Além disso, po<strong>de</strong>mos perceber no trecho do jornal acima referendado<br />

que por se tratar <strong>de</strong> um ensino com um sistema seriado, cada professor ou<br />

<strong>grupo</strong> <strong>de</strong> professores ficava responsável <strong>de</strong> mostrar o que sua turma estava<br />

realizando. Algumas turmas <strong>de</strong>stacavam apenas os trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos e<br />

agulha, como foi o caso do 1º ano A. Outras, por sua vez, além <strong>de</strong><br />

apresentarem esses trabalhos, mostravam a pintura e a <strong>de</strong>cupagem, como foi<br />

a turma do 3º ano. Assim, po<strong>de</strong>mos supor que quanto mais elevada a série<br />

maior era o conteúdo <strong>de</strong> aprendizagem para se mostrar nas exposições<br />

<strong>escolar</strong>es.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos bastante significativo na citação acima o fato <strong>de</strong> que para<br />

o 1º ano existia uma divisão, qual seja: 1º ano A e 1º ano B. Observamos que<br />

isso não é repetido nos anos seguintes. Nesse sentido, essa informação po<strong>de</strong><br />

nos indicar que o número <strong>de</strong> alunos matriculados no 1º ano era tão superior<br />

que se fazia preciso uma divisão. Além disso, po<strong>de</strong> nos evi<strong>de</strong>nciar que,<br />

provavelmente, existia uma consi<strong>de</strong>rável reprovação ou <strong>de</strong>sistência a partir do<br />

2º ano do primário, já que uma única turma era suficiente para comportar os<br />

alunos <strong>de</strong>ssa série em diante. Não é nosso objetivo, nesse momento, discutir<br />

as causas que levavam a essa situação, porém consi<strong>de</strong>ramos bastante<br />

pertinente abrir esses parênteses.<br />

Voltando às exposições <strong>escolar</strong>es, geralmente, elas iniciavam com<br />

solenida<strong>de</strong> presidida pelo diretor da escola e seguia com apresentações <strong>de</strong><br />

cantos, teatro e poesias pelos alunos. Comumente, duravam mais <strong>de</strong> um dia<br />

para que familiares dos discentes, autorida<strong>de</strong>s em geral e população<br />

pu<strong>de</strong>ssem prestigiar os trabalhos dos professores e alunos. Esse foi o caso da<br />

referida exposição do GESL, que, segundo o jornal já mencionado, iniciou-se


no começo da semana, possivelmente, dia 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1937 e até o 16 do<br />

mesmo mês ainda estava em realização. Vejamos essa informação:<br />

112<br />

Estiveram em franca exposição <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros dias <strong>de</strong>sta<br />

semana, os trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, agulha e <strong>de</strong>cupagem<br />

confeccionados pelos alumnos do Grupo Solon <strong>de</strong> Lucena <strong>de</strong>sta<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Tendo o ensejo <strong>de</strong> visitar aquelle educandario presenciamos, ali, em<br />

todos as divisões <strong>de</strong> classe, as interessantes obras <strong>de</strong> arte tão bem<br />

manipuladas pelos nossos estudantes primários. (Jornal A VOZ DA<br />

BORBOREMA, 16/10/1937, p. 01)<br />

Então, digamos que o sentido da exposição <strong>escolar</strong> no GESL estava<br />

voltado, principalmente, para a divulgação dos trabalhos que se <strong>de</strong>senvolviam<br />

no interior das salas <strong>de</strong> aulas, portanto, expressavam uma parcela do cotidiano<br />

<strong>escolar</strong> <strong>de</strong>ssa instituição. A<strong>de</strong>mais, observamo-as como uma prática do diretor,<br />

professores e alunos procurarem mostrar, <strong>de</strong> forma figurativa e <strong>de</strong>monstrativa,<br />

a qualida<strong>de</strong> do ensino da instituição <strong>escolar</strong> a qual estavam representando<br />

para a cida<strong>de</strong> como um todo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

113<br />

Para Certeau (2008, p.94) enquanto a pesquisa é interminável, “o texto<br />

<strong>de</strong>ve ter fim”, pois é estruturado com <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> terminar. Então, é partindo<br />

<strong>de</strong>ssa proposição que, nesse momento, procuramos fechar nossa produção<br />

textual. Optamos, portanto, por retomar as discussões <strong>de</strong>senvolvidas em cada<br />

capítulo, enfatizando as questões que motivaram nossa investigação.<br />

No capítulo posterior a introdução, pu<strong>de</strong>mos observar que o i<strong>de</strong>ário<br />

republicano consistia em promover no país o progresso, a or<strong>de</strong>m, a<br />

regeneração da socieda<strong>de</strong>, a civilização das massas e o fortalecimento da<br />

nação, através do combate ao analfabetismo do povo brasileiro, ou seja, pela<br />

instrução pública. Assim, percebemos que, conforme esse i<strong>de</strong>ário, a difusão e<br />

a ampliação da oferta da educação <strong>escolar</strong> propiciariam um Brasil <strong>de</strong>senvolvido<br />

sócio-economicamente.<br />

Nesse sentido, verificamos que o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, como nova forma<br />

organizacional do ensino primário, tornou-se representante <strong>de</strong>sse i<strong>de</strong>ário, pois,<br />

como nos alertou Souza (1998), foi meio <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong> da ação política do<br />

Estado e propaganda do regime republicano.<br />

É válido ressaltar que foi nesse capítulo que procuramos respon<strong>de</strong>r às<br />

nossas duas primeiras questões <strong>de</strong> pesquisa, quais sejam: quando foi<br />

implantado o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena em Campina Gran<strong>de</strong>? E qual a<br />

motivação para esta implantação? A partir das reflexões que realizamos, tendo<br />

por referência as fontes coletadas, constatamos que foi, precisamente, no dia<br />

12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1924 que tal instituição foi implantada em Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

Quanto à motivação para essa implantação, verificamos, através <strong>de</strong><br />

“indícios” (GINZBURG, 1989), que foram motivos para essa instauração, a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um prédio <strong>escolar</strong> para comportar um número <strong>de</strong> alunos<br />

superior a 80 crianças; o processo <strong>de</strong> urbanização <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>manda uma instituição <strong>de</strong> ensino primário a<strong>de</strong>quada ao seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sócio-econômico, já que, como observamos, essa cida<strong>de</strong> já era consi<strong>de</strong>rada<br />

pólo comercial no agreste paraibano e apresentava no período cerca <strong>de</strong> 9.000


habitantes e a reivindicação da elite local por uma Campina Gran<strong>de</strong> civilizada,<br />

urbana e mo<strong>de</strong>rna.<br />

114<br />

No terceiro capítulo, chegamos à conclusão que os primeiros <strong>grupo</strong>s<br />

<strong>escolar</strong>es construídos na Paraíba acompanhavam todo um requinte que os<br />

<strong>de</strong>ixavam em <strong>de</strong>staque nas cida<strong>de</strong>s. Esse requinte foi observado por nós<br />

através <strong>de</strong> fotografias das fachadas <strong>de</strong> alguns dos primeiros <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />

edificados nesse estado. Essas fotografias <strong>de</strong>monstravam a monumentalida<strong>de</strong><br />

dos prédios <strong>escolar</strong>es.<br />

Analisando especificamente o prédio do GESL, constatamos que possui<br />

qualida<strong>de</strong>s estéticas associadas ao ecletismo e foi construído em uma das<br />

principais ruas <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, a Floriano Peixoto. Rua on<strong>de</strong> se localizava<br />

também o paço municipal e a Igreja católica Matriz.<br />

Pu<strong>de</strong>mos perceber, ainda, que a edificação do GESL aconteceu em<br />

passo acelerado, perdurando apenas nove meses, já que se iniciou em janeiro<br />

<strong>de</strong> 1924 e foi inaugurado em outubro <strong>de</strong>sse mesmo ano.<br />

O nosso principal objetivo, nesse terceiro capítulo, consistiu em<br />

respon<strong>de</strong>r às seguintes questões das nossas perguntas norteadoras <strong>de</strong><br />

investigação: O que representou a arquitetura do prédio <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> para a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>? Até que ponto a construção do mesmo <strong>grupo</strong><br />

coincidiu com o avanço urbano <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong>? E como foi organizado o espaço<br />

interno <strong>de</strong>ssa instituição? Verificamos que o GESL representou um avanço<br />

para essa cida<strong>de</strong>. Avanço no sentido <strong>de</strong> ter inaugurado mais um elemento da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> na aparência da cida<strong>de</strong>, bem como na <strong>escolar</strong>ização primária.<br />

No que concerne à segunda questão, antes explicitada, constatamos<br />

que naquele período a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> estava em gran<strong>de</strong> processo<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização com a inauguração <strong>de</strong> várias instituições e equipamentos <strong>de</strong><br />

urbanida<strong>de</strong>, a saber: chegada do automóvel em Campina Gran<strong>de</strong> (1918);<br />

instalação da luz elétrica(1920); inauguração da Agência do Banco do Brasil<br />

(1923); instauração do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> - GESL (1924); implantação do<br />

novo mercado público (1925); fundada a Associação Comercial (1926); a<br />

instalação das primeiras fábricas têxteis (1928), entre outras inaugurações.


Portanto, po<strong>de</strong>mos dizer que a criação do GESL estava integrando o avanço<br />

urbano da mencionada cida<strong>de</strong>.<br />

115<br />

Sobre a organização do espaço interno do GESL, verificamos que tinha<br />

as seguintes <strong>de</strong>pendências: seis salões (salas <strong>de</strong> aulas); duas gran<strong>de</strong>s áreas<br />

para recreio, uma sala on<strong>de</strong> se instalava o gabinete da diretoria e outra sala<br />

para a secretaria e banheiros.<br />

No quarto capítulo, foi possível uma discussão consentânea às<br />

festivida<strong>de</strong>s <strong>escolar</strong>es do GESL. Observamos que as festas <strong>escolar</strong>es<br />

caracterizavam momentos da escola se abrir para a cida<strong>de</strong> com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

divulgar seus trabalhos. Além disso, tornavam-se momentos revestidos <strong>de</strong><br />

significados, como <strong>de</strong> reforçar os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> civismo e patriotismo.<br />

Nesse capítulo, procuramos dar respostas aos nossos seguintes<br />

questionamentos: Que representativida<strong>de</strong> possuía as festas <strong>escolar</strong>es do<br />

GESL? E Qual o sentido das festivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong>? Percebemos que as<br />

festas <strong>escolar</strong>es eram representadas diversamente conforme os sentidos, ora<br />

era momento <strong>de</strong> se ressaltar o feito <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena para Campina Gran<strong>de</strong>,<br />

por exemplo, na inauguração da instituição, ora o empenho dos alunos e<br />

professores durante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma dada disciplina, como foi o<br />

caso das exposições <strong>escolar</strong>es. E, muitas vezes, representavam momentos <strong>de</strong><br />

aprendizagem <strong>de</strong> conteúdos, valores, normas e comportamentos consi<strong>de</strong>rados<br />

a<strong>de</strong>quados naquele período (saber cantar o hino da ban<strong>de</strong>ira, exaltar o feito <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>terminado herói, etc.).<br />

Quanto aos sentidos das festas, constatamos que variavam, pois como<br />

pu<strong>de</strong>mos ressaltar existiam as que celebravam a instituição, como foi o caso da<br />

festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração e aniversário do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, as que celebravam<br />

datas em comemoração a algum acontecimento consi<strong>de</strong>rado marcante na<br />

história, por exemplo, o <strong>de</strong>scobrimento da América. As que festejavam uma<br />

conquista do GESL, a festa <strong>de</strong> inauguração do cinema educativo e as que<br />

tinham como objetivo divulgar trabalhos <strong>de</strong> alunos, como foram as exposições<br />

<strong>escolar</strong>es.<br />

Pu<strong>de</strong>mos observar ainda, nesse capítulo, a partir do paradigma indiciário<br />

<strong>de</strong> Ginzburg (1989), que os indivíduos que participavam das festas se


posicionavam diversamente, procurando aten<strong>de</strong>r objetivos próprios, como<br />

foram os casos prováveis dos alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu<br />

Parahybano, do governo estadual e do poeta Leonel Coelho durante a<br />

solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração do GESL. Além <strong>de</strong>sses, houve o <strong>de</strong>putado<br />

Generino Maciel que aproveitou do momento <strong>de</strong> inauguração da instituição<br />

para enaltecer o governo, relembrar figuras consi<strong>de</strong>radas importantes como<br />

Cristóvão Colombo, reforçar o i<strong>de</strong>ário republicano <strong>de</strong> regeneração da nação e<br />

estimular o civismo e patriotismo.<br />

116<br />

Abrimos parênteses para <strong>de</strong>stacar, nesse momento, que nosso estudo é<br />

uma entre tantas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investigação sobre essa instituição <strong>escolar</strong>,<br />

já que esta se refere a um “complexo organizado” (MAGALHÃES, 2004, p.39).<br />

Portanto, muitos outros estudos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidos sobre o<br />

GESL, sendo alguns: relativo a cultura material <strong>escolar</strong>, a expansão da<br />

matriculas, currículo <strong>escolar</strong>, as práticas disciplinares <strong>de</strong>ssa instituição, entre<br />

outros.<br />

Vale <strong>de</strong>stacar, ainda, que o GESL funcionou no prédio que foi <strong>de</strong>stinado<br />

a ele durante trinta e dois anos, ou seja, do ano <strong>de</strong> 1924 até 1956, quando foi<br />

cedido pelo Estado ao Município para o funcionamento da Escola Politécnica,<br />

em seguida, à Fundação <strong>de</strong> Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FURNe) e<br />

à Reitoria da UEPB.<br />

Nesse sentido, consi<strong>de</strong>ramos necessário o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estudos<br />

que investiguem, ainda, a periodização que vai <strong>de</strong> 1937 até 1956. Além disso,<br />

procurar saber o que levou a mudança do GESL <strong>de</strong>sse prédio para outro, com<br />

estrutura arquitetônica menos elaborada do ponto <strong>de</strong> vista estético.


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Jornal A UNIÃO, Anno XXXII, nº. 58, pág. 1 / 2º quadrante, 1924.<br />

Jornal A UNIÃO, Anno XXXII, nº. 82, pág. 1 / 1º e 3º quadrantes, 1924.<br />

Jornal O Educador, Anno I, nº. 01, pág. 02 / 2º, 3º e 4º quadrantes, 1921.<br />

Jornal A UNIÃO, anno XXXII, nº. 227, pág. 02 / 2º quadrante, 1924.<br />

Jornal A UNIÃO, anno XXXII, nº. 228, pág. 02 / 3º quadrante, 1924.<br />

Jornal A UNIÃO, anno XXXII, nº. 229, pág. 02 / 1º, 2º,3º e 4º quadrantes, 1924.<br />

Jornal O SÉCULO, anno I, nº. 12, pág. 04 / 1º quadrante, 1928.<br />

Jornal A VOZ DA BORBOREMA, anno I, nº. 26, pág. 06 / 1º quadrante, 1937.


Jornal A VOZ DA BORBOREMA, anno I, nº. 27, pág. 01 / 2º quadrante, 1937.<br />

Jornal A VOZ DA BORBOREMA, anno I, nº. 36, pág. 06 / 3º quadrante, 1937.<br />

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Campinense, Ano II, 1934.<br />

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125<br />

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Livro do Município <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>. João Pessoa: UNIGRAF – União<br />

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MUSEU DE ARTE ASSIS CHATEAUBRIAND. Arte Brasileira: do século XIX<br />

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Campina Gran<strong>de</strong> Paraíba, 2008.<br />

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SOBRINHO, José Alves. História <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> em versos. 199-.


ANEXOS<br />

Anexo 1 - Decreto <strong>de</strong> criação do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

Decreto nº. 1.317 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1924<br />

Crea um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />

126<br />

Solon Barbosa <strong>de</strong> <strong>lucena</strong>, presi<strong>de</strong>nte do Estado da Parahyba do Norte,<br />

tendo em vista o officio sob n.º1.453, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> setembroexpirante, que lhe foi<br />

dirigido pela directoria geral da Instrucção Publica, usando da attribuição que<br />

lhe confere o art. 36, § 1º, da constituição Estadual e na conformida<strong>de</strong> do<br />

regulamento que baixou com o <strong>de</strong>creto sob nº. 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1917.<br />

DECRETA:<br />

Art. 1º - Fica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, creado um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>, ao qual<br />

ficam incorporadas as ca<strong>de</strong>iras do ensino publico primario existentes naquella<br />

cida<strong>de</strong>, a saber: do sexo feminino, do sexo masculino e mista.<br />

Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrario.<br />

O Secretario do Estado faça publicar o presente <strong>de</strong>creto, expedindo as or<strong>de</strong>ns<br />

e comunicações necessárias.<br />

Palácio do govêrno do Estado da Parahyba do Norte, em 30<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1924- 36º da Proclamação da Republica. (ESTADO DA PARAHYBA, 1924).<br />

SOLON BARBOSA DE LUCENA<br />

Presi<strong>de</strong>nte do Estado da Parahyba


Anexo 2 - JORNAL A UNIÃO<br />

João Pessoa, Anno XXXII, 12/03/1924 / nº 58 / pág 1 / 2º quadrante<br />

Edifícios Escolares no Interior<br />

127<br />

Vimos hontem, em mãos do engenheiro contractante Hermenegildo DI<br />

Laecio duas photographias do novo edifício, mandado construir em Campina<br />

Gran<strong>de</strong> pelo o sr. dr. Solon <strong>de</strong> Lucena, presi<strong>de</strong>nte do Estado.<br />

As obras, que apenas contam dois mezes <strong>de</strong> construcção, encontram-se<br />

muitíssimo a<strong>de</strong>antadas, sendo que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> trinta dias será iniciada a<br />

cobertura do tecto.<br />

O <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> me<strong>de</strong> 26m70 <strong>de</strong> frente por 36 metros <strong>de</strong> fundo, occupando<br />

o local em que se achava situado o antigo mercado, num dos ângulos da praça<br />

Floriano Peixoto.<br />

A distribuição <strong>de</strong> luz no edifício faz-se precisamente porque os seus flancos<br />

abrem para tres ruas diferentes.<br />

Também nos foi mostrada uma photographia <strong>de</strong> um outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> que<br />

está sendo construído em Areia, por uma commissão <strong>de</strong> pessoas,<br />

representativas, que daquella forma quizeram commemorar a passagem do<br />

primeiro centenário da nossa in<strong>de</strong>pendência política.<br />

As obras acham-se em via <strong>de</strong> conclusão e teem sido em parte financiadas<br />

pelo govêrno do Estado, que cumpre <strong>de</strong>st’arte o seu programma <strong>de</strong><br />

administração, no que concerne os fomento do ensino publico.<br />

João Pessoa, Anno XXXII, 9/4/1924 /nº 82 / pagina 1 / 1º e 3º<br />

quadrante<br />

O <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em construcção na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />

O sr. Hermenegildo Di Larcio, exibiu hotem em palcio, ao sr. dr. Álvaro<br />

<strong>de</strong> Carvalho, secretario <strong>de</strong> Estado, varias photographias do prédio em<br />

construcção, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>stinado a um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />

Mandado erigir pelo governo <strong>de</strong> exmo. sr. dr. Solon <strong>de</strong> Lucena, por<br />

contracto com a firma Cunha e Di Laecio, e dificios em construcção que e <strong>de</strong><br />

proporções amplas, já esta recebendo ma<strong>de</strong>iramento aéreo.<br />

Completavam-se ante-hotem três mezes que se trabalha na prefalada<br />

obra, sendo provável que antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>correr outro tempo egual seja o prédio<br />

entregue ao governo.<br />

É para louvar a marcha dos serviços, a qual vem em ano da<br />

competência profissional e da activida<strong>de</strong> do ilustre Hermenegildo Di Laecio.<br />

João Pessoa, Anno XXXII, 14 <strong>de</strong> outubro 1924 /nº 227 / pagina 2 / 2º<br />

quadrante


A inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />

As brilhantes festa realizadas naquella cida<strong>de</strong><br />

128<br />

A inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>u ensejo a que<br />

se realizassem na importante cida<strong>de</strong> do interior festas muito brilhantes,<br />

verda<strong>de</strong>iramente inéditas naquelle núcleo on<strong>de</strong> se concentra a civilização do<br />

nosso hinterland. Motivo <strong>de</strong> intenso regosijo para a população campinense, a<br />

entrega do novo estabelecimento <strong>de</strong> ensino assumiu um aspecto acima <strong>de</strong> toda<br />

expectativa.<br />

Desta capital, numerosas foram as pessoas que se transportaram a<br />

formosa cida<strong>de</strong> serrana, com o fito especial <strong>de</strong> estarem presentes as<br />

solenida<strong>de</strong>s alli realizadas.<br />

Em nome do sr. dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, presi<strong>de</strong>nte do Estado, seguiu com<br />

aquelle <strong>de</strong>stino, em trem especial da meia-noite, o sr. <strong>de</strong>. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho,<br />

secretario do governo. O illustre auxiliar da administração foi acompanhado por<br />

varias personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> nosso meio e um representante <strong>de</strong>ste<br />

jornal.<br />

O sr. dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho chegou ante-hontem, as 8 horas da manha,<br />

a campina Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> foi condignamente recebido pelo cel. Ernani Lauritzen<br />

, prefeito do município e outras pessoas influentes.<br />

Ás 15 horas em ponto, teve inicio a ceremonia inaugural do Grupo<br />

Escolar, achando-se disposta a mesa da sessão no largo pateo central do<br />

mesmo, ao ar livre, inteiramente repleto <strong>de</strong> senhoras , autorida<strong>de</strong>s e<br />

cavalheiros.<br />

Antes do acto da inauguração, teve logar a bençam do edifício,<br />

ministrado pelo monsenhor Salies, bispo resignatario do Maranhão. Depois,<br />

<strong>de</strong>clarando aberta a sessão, o sr. dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho, que a presidiu,<br />

representando o chefe do governo , <strong>de</strong>u a palavra ao <strong>de</strong>putado Generino<br />

Maciel. O fluente orador pronunciou uma longa allocução, dizendo dos intuitos<br />

do estabelecimento que aquelle momento se inaugurava, e realçando os<br />

benefícios que o mesmo traria a urgente cruzada da instrucção do pôvo.<br />

Reportou-se a data <strong>de</strong> doze <strong>de</strong> outubro, em que se commemora o<br />

<strong>de</strong>scobrimento da América, e esten<strong>de</strong>u-se em consi<strong>de</strong>rações sobre o evi<strong>de</strong>nte<br />

progresso intellectual <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, manifestado através da<br />

operosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escriptores, pedagogos, jornalistas e poetas. A cida<strong>de</strong> estava,<br />

pois, a merecer essa dádiva relevantissima do presi<strong>de</strong>nte Sólon <strong>de</strong> Lucena,<br />

disse o <strong>de</strong>putado Generino Maciel, que abordou em torno a s. exc. os mais<br />

opportunos e justos elogios.<br />

Após falou o sr. dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho, que <strong>de</strong>clarou inaugurado em<br />

nome do chefe fé do executivo , o edifício , cujas chaves entregou nesse<br />

momento ao respectivo director, professor Mario Gomes da Silva.<br />

O Grupo Escolar, situado num dos pontos centraes da cida<strong>de</strong>, é um<br />

bello e amplo prédio, <strong>de</strong> construcção muito elegante e apropositada. A sua<br />

fachada, ornamentada <strong>de</strong> altas colunmnas, foi alvo <strong>de</strong> um esmero todo<br />

especial do engenheiro constructor, apresentando aspecto agradável e<br />

suggestivo.<br />

O encarregado <strong>de</strong> sua edificação foi o architecto Hermenegildo Di<br />

Lascio, que <strong>de</strong>monstrou mais uma vez, os seus reconhecidos méritos<br />

profissionaes. O <strong>grupo</strong> compõe-se <strong>de</strong> dois pavilhões, um para cada sexo tendo


129<br />

seis amplas e em illuminadas salas <strong>de</strong> classe. Nelle funccionarão três ca<strong>de</strong>iras<br />

primarias: do sexo feminino, dirigida pela professora d. Jacintha Dantas ; mista<br />

pela professoras d. Isaura Chagas, e do sexo masculino, entregue a<br />

superintendência do próprio director. O engenheiro Di Lascio construiu ainda<br />

uma cisterna para captação <strong>de</strong> águas das chuvas , com capacida<strong>de</strong> para 5.000<br />

litros.<br />

No vestíbulo do edifício foi collocada uma placa <strong>de</strong> mármore com a<br />

seguinte inscripção: “ Ao dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, M. D. Presi<strong>de</strong>nte do Estado, a<br />

quem <strong>de</strong>ve a construcção <strong>de</strong>ste templo <strong>de</strong> saber civismo, Campina Gran<strong>de</strong>,<br />

neste mármore, eterniza o seu reconhecimento. I-XX-MCMXXIV.”<br />

Depois <strong>de</strong> encerrada a sessão inaugural assignada a acta respectiva,<br />

uma gentil menina campinense offereceu ao sr. secretario <strong>de</strong> estado um lindo “<br />

bouquet’ <strong>de</strong> flores.<br />

Campina Gran<strong>de</strong> apresentava um aspecto excepcional, pela gran<strong>de</strong><br />

affluencia <strong>de</strong> gente as sua ruas, que a noite tiveram a illminação reforçada.<br />

Os tiros <strong>de</strong> guerra do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano que<br />

se haviam transportado, em trens expressos, a linda cida<strong>de</strong> sertaneja,<br />

<strong>de</strong>sfilaram em garbosa parada e fizeram evoluções diversas assistidas por uma<br />

verda<strong>de</strong>ira multidão.<br />

Os alumnos do Collegio Diocessano realizaram ainda <strong>de</strong>moradas provas<br />

<strong>de</strong> gymnastica sueca, sempre com a maior correcçcão e disciplina. A presença,<br />

entuhusiasmo e o garbo militar <strong>de</strong>sses rapazes, os do Lyceu e os do Collegio<br />

Diocessano, muito concorreram para o gran<strong>de</strong> realce <strong>de</strong> que a festa se<br />

revestiu.<br />

Os <strong>de</strong>pultados Ernani Lauritzen e Generino Maciel estiveram<br />

incançaveis, provi<strong>de</strong>nciando para que aos hospe<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um dia não faltasse o<br />

conforto, recreações e as commodida<strong>de</strong>s que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina como<br />

centro <strong>de</strong> uma civilização <strong>de</strong>véras notavel, po<strong>de</strong> offerecer.<br />

O sr. dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho regressou a esta capital, hontem, às três<br />

horas da madrugada, no mesmo trem em que viajou <strong>de</strong> retorno o Collegio<br />

Diocessano.<br />

Na parada tomaram parte as alumnas do Instituto Pedagógico e do<br />

institulo S. Sebastião. As senhoritas pertencentes a esses reputados collegios,<br />

apresentaram-se <strong>de</strong>centemente uniformizadas.<br />

Assistiram as festas todas as escolas municipais e estadoaes.<br />

Logo após a inauguração, em Campina do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, s. exc. Sr.<br />

presi<strong>de</strong>nte do Estado recebeu estes <strong>de</strong>spachos <strong>de</strong> congratalações :<br />

C. Gran<strong>de</strong>, 12 – Exmo dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena – Presi<strong>de</strong>nte Estado - Parahyba –<br />

Tenho honra communicar vossencia acabo inaugurar edifício <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />

esta cida<strong>de</strong>. Cordiaes saudações – Álvaro <strong>de</strong> Carvalho, secretario <strong>de</strong> Estado<br />

C. Gran<strong>de</strong> 12 – Dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena - Parahyba – Inaugurando edifício<br />

<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> toda minha terra vivo enthusiasmo acclamando nome vossencia<br />

a quem eu caracter chefe local amigo todos tempos, leal testemunho minha<br />

gran<strong>de</strong> gratidão hypothecando mais uma vez solidarieda<strong>de</strong> absolua sua<br />

esclarecida actuação no governo Estado chefia partido Epitacista. Saudações<br />

cordiaes – Ernani Lauritzzen<br />

C. Gran<strong>de</strong> 12 – Dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena Presi<strong>de</strong>nte - Estado Parahyba –<br />

Honramo-nos communicar communicar neste momento entrega edifício <strong>grupo</strong><br />

<strong>escolar</strong> Campina Gran<strong>de</strong> um digno representante dando assim cumprimento


honrosa incumbência esperando ter sabido correspon<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sejos vossos e<br />

povo Campina. – Cunha Di Lascio.<br />

João Pessoa, Anno XXXII, 15 outubro 1924 / nº 228 / pagina 2 / 3º<br />

quadrante<br />

Inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />

130<br />

Ainda a propósito da inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>,<br />

o sr. presi<strong>de</strong>nte do Estado recebeu este telegramma <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento firmado<br />

pelo Conselho Municipal da referida cida<strong>de</strong>:<br />

“ C. Gran<strong>de</strong>, 13 – Dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena – Parahyba – Conselho Municipal<br />

<strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> communica v. exc. Inauguração solenne hontem realizada <strong>grupo</strong><br />

<strong>escolar</strong> com quem vosso operaso governo quiz distingui Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

Festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>correu ambiente geraes sympathias sendo nome v. exc.<br />

acclamando como gran<strong>de</strong> bemfeitor Campina. Nome Conselho povo levamos<br />

v. exc. affirmação agra<strong>de</strong>cimentos fazendo votos vossa felicida<strong>de</strong> pessoal.<br />

Saudações respeitosas – Juvino Do O., prefeito; Mario Cavalcanti <strong>de</strong> Queiroz,<br />

vice-presi<strong>de</strong>nte.”<br />

João Pessoa, Anno XXXII, 16/10/1924 / n.229 / pág 2 / 1º, 2º, 3º<br />

e 4º quadrante<br />

A inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />

O discurso do sr. <strong>de</strong>putado Generino Maciel<br />

Por occasião da inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>,<br />

motivo <strong>de</strong> brilhantes festas naquella importante cida<strong>de</strong> do interior, o sr.<br />

<strong>de</strong>putado Generino Maciel pronunciou o subseqüente discurso:<br />

Venho <strong>de</strong> minha irremediável obscurida<strong>de</strong>, pela <strong>de</strong>xtra generosa do gran<strong>de</strong><br />

estheta do coração que é monsenhor Milanez, sacerdote da fé que há dois mil<br />

annos jorra dos cimos do Calvário as bençams luminosas no amor sobre a<br />

superfície do planeta, minha infinita ânsia divinatória <strong>de</strong> paz e concórdia;<br />

venho, senhores e exmas. Senhoras minhas, da humilda<strong>de</strong> christã do meu<br />

tugúrio intellectual para a apotheose <strong>de</strong>sta sagrada hora, <strong>de</strong> enlevos e<br />

esperanças.<br />

N’alma, certo, me vibram todos os carrilhões do jubilo feliz e augusto.<br />

porque sou agora, na synthese <strong>de</strong> minha alegria, o symbolo da alegria do meu<br />

povo.<br />

Campina exulta.<br />

Éramos, até hontem, no Estado, a energia vital <strong>de</strong> que se extrahiam as<br />

melhores forças á actuação da engrenagem administrativa da Parahyba e que<br />

não tinha, comtudo, direito a nenhum gênero <strong>de</strong> recompensa. Nossa<br />

prosperida<strong>de</strong>, nosso progresso, nossa evolução, transformados em tantas<br />

outras jornadas civilizadoras, estavam a resultar inúteis ás <strong>de</strong>sejadas


131<br />

sympathias com que appellidavamos para esta flor da Borborema, que o grato<br />

aroma do labor honesto, perfuma as vistas dos nossos estadistas. Fitavam-selhe<br />

os olhos em outros horizontes. Para nós, apenas, a honraria irritante <strong>de</strong><br />

uma tabella tributária singular, com que ainda pagamos o luxo <strong>de</strong> sermos a<br />

metrópole commercial dos sertões; e o chamamento aos postos avançados<br />

para, na agitação política <strong>de</strong> pleitos eleitorais, garantirmos o triumpho<br />

indispensável das candidaturas indicadas, bem ou mal, ás caprochosas<br />

preferências das urnas plesbiterianas. Depois, nos dias tranqüilos, arrochos,<br />

abusos, clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>s... E a injustiça contra nossas aspirações <strong>de</strong> amparo<br />

aos próprios merecimentos, na tortura dos <strong>de</strong>senganos, campeando inerente,<br />

sem que, aqui <strong>de</strong>ntro, houvéssemos para quem appellar.<br />

Apprehen<strong>de</strong>mos a natureza do ar moral que respiramos: e não nos<br />

humilhamos. Fizemos da lealda<strong>de</strong> nossa flâmula do combate e, armados<br />

cavalheiros da coherencia ethica, nos puzemos em marcha para o porvir.<br />

Estávamos na Terra da Promissão. Mais hoje ou mais amanhã, haveríamos <strong>de</strong><br />

colher os sazonados fructos optimos <strong>de</strong> sua mesma fertilida<strong>de</strong>.<br />

Nunca esquecemos, porem, nos surtos <strong>de</strong> nossa abnegação, <strong>de</strong> clamamos<br />

pela victoria dos nossos direitos. Era como si os manes do solitário <strong>de</strong><br />

Koenisberg nos indicassem o rumo <strong>de</strong> nossos passos na arena da vida, ou as<br />

doutrinas <strong>de</strong> Picard se houvessem infiltrado em nosso eu collectivo,<br />

robustecendo-nos o espírito para a lucta incruenta.<br />

E, um dia, surgiu, para nós, o sol.<br />

A ascenção do senhor Solon <strong>de</strong> Lucena ao po<strong>de</strong>r foi, para os campinenses,<br />

o <strong>de</strong>albar límpido <strong>de</strong> um cyeto <strong>de</strong> altas, aprumadas equida<strong>de</strong>s. Para nós, os<br />

espesinhados, os trahidos, os menospresados, que convergiram, antanho,<br />

numa soficitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> carinhosa affeição, as benemerências da presi<strong>de</strong>nte a<br />

quem se <strong>de</strong>vem a consudação do epitacismo no trecho do Brasil que lhe fora<br />

fecunda gênese e a restauração constitucional, no berço <strong>de</strong> Peregrino <strong>de</strong><br />

Carvalho ou Affonso Campos – gênios parahybanos <strong>de</strong> sonhos libertários e paz<br />

juridica – da <strong>de</strong>mocracia.<br />

O nosso Grupo Escolar, cuja inauguração solenne ora fazemos neste<br />

edifício <strong>de</strong> discreta belleza e austeras linhas architectonicas, <strong>de</strong>vemol-o, <strong>de</strong><br />

todo, á justiceira clarividência do administrador irreprochavel cujo nome illibado<br />

nossas máes, nossas esposas, nossas filhas, ou nossas noivas guardam<br />

zelosamente, como sacerdotizas do bem, no branco sacrário da gratidão.<br />

Porque, senhores, o dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, <strong>de</strong>ntro da Republica,<br />

indubitavelmente, é o primeiro que, chefiando o po<strong>de</strong>r executivo estadual, tudo<br />

fez pela harmonia <strong>de</strong> nossa impávida gente dando-nos ainda este templo, <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> partirão para o futuro, re<strong>de</strong>mptos pelas fulgurações do ensino básico, os<br />

que no tempo hão <strong>de</strong> ser os continuadores do nosso nome e nossa<br />

personalida<strong>de</strong>.<br />

Enternecidamente, beijemos-lhe, pois antes <strong>de</strong> tudo, as mãos equanimas e<br />

justiceiras.<br />

A DATA<br />

No plano primitivo <strong>de</strong>sta mo<strong>de</strong>stíssima palestra, com que lhe venho<br />

perturbar, exmas. Senhoras minhas e meus senhores, a formosura do festival<br />

ora a realisar-se, entrava, por alvitre attendivel da amiza<strong>de</strong> fidalga e<br />

honrosíssima que a esta triouma me arrasta, a resolução <strong>de</strong> algo vos dizer


132<br />

sobre o 12 <strong>de</strong> outubro. Falar-vos-ia, portanto, se persistisse no intento da<br />

aventura nautica do Genovez, da sua immarcessivel gloria, das penas que<br />

soffreu o re<strong>de</strong>vivo navegador, das ingratidões que o afflingiram e <strong>de</strong> toda a<br />

magnífica epopéa em que seus feitos e sua existência planetária se<br />

transfiguraram. Recordar-vos-ia, assim sua perigrinação inefficaz á pátria<br />

immortal <strong>de</strong> Nun’ Álvares, on<strong>de</strong> o scepticismo d’el-rei não lhe <strong>de</strong>u guarida no<br />

pétreo ninho <strong>de</strong> Sagres, <strong>de</strong> que partiriam, mais tar<strong>de</strong>, no bojo escuro das naus<br />

blindadas, as sementes alvas da colonisação lusa em procura dos continentes<br />

ignotos; e lembrar-vos-ia <strong>de</strong>pois, a arrancada semi pascional do visionário<br />

impertinente á terra em que nascera on<strong>de</strong> supplicaria, <strong>de</strong>bate com lagrimas na<br />

adustez da faxe requeimada do calor do pranto emotivo o auxilio imprescindível<br />

á realisação do i<strong>de</strong>al que o suffocava; e, em seguida <strong>de</strong>ter-me-ia, comvosco,<br />

pacientemente, na corte <strong>de</strong> Castelia, por on<strong>de</strong>, outr’ora, na sua altuada loucura<br />

psychica campeara o cid da legenda heróica , restaurando o epicismo<br />

complexo da varonilida<strong>de</strong> daquelle povo em cujas artérias o sangue allienigina,<br />

<strong>de</strong> cem raças diversas, não diluiria a pertinácia victoriosa do velho e sempre<br />

moço sangue latino.<br />

Detenhamo-nos, nestas alturas, um instante.<br />

O reducto ultimo dos serracenos cahira. Reorganiza-se a Hespanha. E os<br />

13 estados christãos, que formavam a Ibéria resurgem unificados, sob os<br />

auspícios da Cruz protectora. A’ doce sombra dos princípios que o justo<br />

apostolara e que o tremento sacrílego erro do Sinhedrio não conseguiu matar,<br />

se concertam, entre príncipes, no formidável parodoxo histórico da eternida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um minuto, o resurgir e o reconstruir-se da fragmentadíssima potencia. Foi<br />

um cadinho <strong>de</strong> povos e raças, tradições e costumes. Fervera, na fornalha, 1200<br />

annos. Mas a tudo <strong>de</strong>purou. Tal ambiente on<strong>de</strong> Colombo foi encontrar o fervor<br />

<strong>de</strong> Isabel e complacência <strong>de</strong> Fernando para o arrojo messiânico <strong>de</strong> sua santa<br />

empreitada, jogava ao turbilhão do Mar Tenebroso, em busca da Atlântica<br />

mysteriosa, <strong>de</strong> que o semi-divino Platão falara no Timeu e nas Criticas, a<br />

irradiação heróica <strong>de</strong> uma perseverança genial. E,<br />

Molhado ainda no dilúvio<br />

Qual Tritão <strong>de</strong>scomunal<br />

O continente <strong>de</strong>sperta<br />

No concerto universal<br />

abrindo ensachas ao rejuvenecimento da espécie e creando possibilida<strong>de</strong>s<br />

novas a anciosamente <strong>de</strong>sejada, confratternização dos homens.<br />

Deixo <strong>de</strong> parte, porém a narrativa da <strong>de</strong>scoberta com as peripercias e o<br />

trágico epílogo do Pre<strong>de</strong>stinado. Baste que lhe rendamos, todos nós, <strong>de</strong>ste<br />

recanto do mundo, os preitos e homenagens que a ingratidão da terra já lhes<br />

nega. Ainda não <strong>de</strong>sencantou, na volúpia sensualissima da <strong>de</strong>struição dos<br />

valores humanos á <strong>de</strong>sabusada iconoclastia dos rebel<strong>de</strong>s. Por persistirmos<br />

filiados á religião social que presta culto ás personalida<strong>de</strong>s máximas do orbe,<br />

não nos fica mal que nos <strong>de</strong>sfolhemos reconhecidos, á imperecível memória do<br />

almirante italiano as rosas <strong>de</strong> nossa admiração. Comporta o dia, tão grato para<br />

nós, esta commovida reverência àquelle que soube ser forte e a cujo valor o<br />

Occi<strong>de</strong>nte se prosta, contricto, entoando-lhe hosannas pela silenciosas voz dos<br />

milênios, que se hão <strong>de</strong> <strong>de</strong>scorrer antes <strong>de</strong> que pereça a sua fama <strong>de</strong> superhomem.


Ergamos até a elle os corações – sursum-corda – e prossigamos.<br />

UMA EVOCAÇÃO<br />

133<br />

Filhos <strong>de</strong> minha terra natal, que experimentais, commigo o enlevo <strong>de</strong>sta<br />

raríssima opportunida<strong>de</strong>, a cujos influxos sentimos dilatar-se-nos a alma; meus<br />

irmãos em i<strong>de</strong>al; dilectos companheiros na viagem das illusões, que nos<br />

renascem, mais promissoras e auspiciosas, das cinzas da própria <strong>de</strong>cepção;<br />

campinenses! Estão comnosco, em espírito, no infinito <strong>de</strong>ste momento, todos<br />

aquelles varões que formaram nosso caracter e infundiram, benemeritamente,<br />

em nossa vonta<strong>de</strong>, quando adolescentes ainda éramos, o amor ao<br />

esclarecimento <strong>de</strong> nossas então juvenis inteligências.<br />

Eu sinto, eu vejo, ou sonho, <strong>de</strong>slisarem por entre nós as sombras queridas<br />

dos nossos queridos mortos... É João da Silva Pimentel, é Alfredo Espinola, é<br />

Beto Vianna, é Lindolpho Montenegro, é José Martins, é José Ribeiro, é<br />

Christiano Lauritzen – Pafinuros do que nos trazem<br />

dos mysterios <strong>de</strong> além-tumulo, guiados talvez pelo precursor do optimismo<br />

local (Irineu Joffily, senior) a communhão <strong>de</strong> sua presença subjectiva neste<br />

quase ruidoso comício <strong>de</strong> todas nossas classes. Parece que estou a ouvir-lhes<br />

a palavra inflammada. E vem <strong>de</strong> longe essa voz; vem, grave e solenne, como<br />

versículos <strong>de</strong> um novo sermão da montanha, daquelle entusiasmo com que<br />

elles, intemeratos e abnegados, abriram por entre urzes e cardos vencendo o<br />

indifferentismo popular e os preconceitos do meio, a estrada recta que ora<br />

palmilham, <strong>de</strong> triumpho em triumpho, os que formam a radiosa mocida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste<br />

bem amado rincão da Parahyba .<br />

Conjuremo-nos, meus amigos, para queimar-lhes, no altar <strong>de</strong> nossa<br />

commoção, o incenso e a myrrha do nosso reconhecimento. E que possa esta<br />

casa, hoje inaugurar-se prestar a infância regional idênticos serviços aos que a<br />

elles fundaram nos prestou.<br />

Evoco-lhes a lembrança para proclamal-os, comvosco, clavicularios <strong>de</strong> um<br />

templo que já não abriga fieis; mas cujos benéficos resultados se objectivam na<br />

cultura polymatica <strong>de</strong> Hortencio Ribeiro, no honesto phenomenismo <strong>de</strong><br />

Li<strong>de</strong>fonso Ayres, na sonora e encantadora poesia <strong>de</strong> Severino Pimentel, no<br />

envolver seguro <strong>de</strong> Virgiliu Ribeiro, no aprumo intellectual <strong>de</strong> Joaquim<br />

Me<strong>de</strong>iros, no humorismo sadiamente bairrista <strong>de</strong> Christino Montenegro e no<br />

aproveitamento <strong>de</strong> tantos outros, a cujo numero <strong>de</strong>sgraçadamente não<br />

pertenço e que brilham entre nós e a estranhos recommendam, egualmente, o<br />

nome Campina como o núcleo mais illustre no hinterland parahybano.<br />

Daquelles, que se foram, sempre <strong>de</strong>vemos venerar os feitos, que nos<br />

inspiram sauda<strong>de</strong>, edificando-nos a consciência. E <strong>de</strong>ntre os vivos,<br />

encannecidos e justo – Salles Chauteaubriand e Belmiro Rebeiro Lemos, neste<br />

ajuste <strong>de</strong> conpreterito o opostolo três méritos – professor <strong>de</strong> nosso professor e<br />

professor <strong>de</strong> nosos filhos <strong>de</strong>stingamos a Clementino Procópio, tão gran<strong>de</strong> em<br />

sua aureolada humilda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mestre-escola que nem lhe falta á fronte<br />

veneranda o martyrio.<br />

Numa festa <strong>de</strong> instrucção, como esta, fora ignominia olvidarmos seu labor<br />

meritório <strong>de</strong> meio século <strong>de</strong> magistério. Sua missão, entre nós, refulge e<br />

fulgura. Ninguém maior do que elle em nosso scenario. Nós somos a<br />

borburema; Clemetino é a Cordilheira dos An<strong>de</strong>s avançando para os céus;<br />

Campina, permettido o tropo singelo, é a Parahyba do Norte, que serpeia


134<br />

calmo, na mansuetu<strong>de</strong> nostalgia da correnteza periódica, por entre arbustos e<br />

rara arvores; o velho Procópio, que há mais <strong>de</strong> cincoenta annos<br />

<strong>de</strong>sanalphabetiza o nosso, polindo caracteres, e illuminando talentos, e pondo<br />

no carvão da ignorância as constellaçoes claríssimas do saber, é o Amazonas<br />

Glorioso que traz no dorso multifário a carga do futuro, límpida e crystalina<br />

como as alvoradas dos trópicos.<br />

Deus o abençoe nesta evangelização; e jamais nos poupe a coragem <strong>de</strong><br />

reconhecermos-lhe, em qualquer emergência, os méritos <strong>de</strong> cidadão insigne e<br />

insigne mestre.<br />

ESCOLA<br />

Templo se tem chamado a Escola e ella o é, realmente, pelo bem que<br />

presta a socieda<strong>de</strong>. Officina, a escola educa e instrúe. Educar é fazer que o<br />

caracter se purifique, libertando-o <strong>de</strong> falhas removíveis, ou então lhe<br />

evi<strong>de</strong>nciando as virtu<strong>de</strong>s innatas em <strong>de</strong>trimento das taras que porventura a<br />

afetam; instruir é adaptar a intelligencia a comprehensão <strong>de</strong> todos os<br />

fenômenos. Ali, por certo a ethica do coração; aqui, na verda<strong>de</strong>, a esthetica do<br />

espírito.<br />

São duas as faces do problema. Num <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, sua finalida<strong>de</strong> se<br />

amplia.<br />

O convívio <strong>de</strong> professores eleva a conclave, para o sacerdócio em comum,<br />

a obrigação <strong>de</strong> todos. O templo, em vez <strong>de</strong> capela humil<strong>de</strong>, é já vasta cathedral<br />

em cujas naves rumoteja o ciclar das preces.<br />

Preces <strong>de</strong> civismo disciplinado moralmente, ante a imagem da pátria e que<br />

se murmuram pelos que serão os homens do amanhã.<br />

Eis o <strong>de</strong>ver dos mestres que aqui vem exequir a teologia das respectivas<br />

fucções. O dos alumnos se emoldura na obediência e applicação. As duas<br />

feições do instituto lhe emprestam logicamente, valor <strong>de</strong> seminário, no sentido<br />

clássico do termo. Plantar-se-á, pois, neste campo. Que se adube o terreno, a<br />

fim <strong>de</strong> que a semente não se perca no areial da indiferença.<br />

A divisão do trabalho se impõe. São, porém, consi<strong>de</strong>rações geraes em que<br />

não recalcitro. Confiamos nós na competência dos cultivadores da seara: e<br />

seremos os fiscaes <strong>de</strong> sua tarefa, coadjuvando-os posto que <strong>de</strong> longe, com os<br />

nossos applausos ou os alertando com as nossas respeitosas observações.<br />

É um propósito em que nos firmamos sem partipris e visando apenas<br />

contribuir para que a cathedral não se amesquinhe em mesquita, nem a seara<br />

em caapoeira... Cônscios estamos, aliás, <strong>de</strong> que a vigilância , com os<br />

operadores que vão actuar aqui se faz <strong>de</strong>snecessária; mas ainda assim,<br />

ficamos alerta por não <strong>de</strong>smerecermos o beneficio. E a quem vislumbrasse<br />

intuitos outros em nossas expressões, opporiamos os embargos da rançosa<br />

sentença que é, mesmo assim, um aviso pru<strong>de</strong>nte e uma exhortação amável:<br />

honni soit mal y pense...<br />

UM APPELO<br />

Vejo fardadas, lá fora, na clarida<strong>de</strong> crua da tar<strong>de</strong>, num tom <strong>de</strong> alviçaras e<br />

alleluias, emprestando fulgor a esta reunião, centenas <strong>de</strong> creanças.<br />

Meu coração <strong>de</strong> patriota, neste dia, está a pulsar, festivo, <strong>de</strong> mil<br />

resonancias sagradas. E não e das menos harmoniosas a que me sem <strong>de</strong>ste


135<br />

espectáculo. Recordo, porém, com tristeza infinita, a gravida<strong>de</strong> da hora que o<br />

Brasil vive... A anarchia, na significação pejorativa da palavra, trabalha o animo<br />

na fonal, cavando-nos profundas incertezas. Anarchia espiritual, anarchia<br />

política, anarchia filosophica, anarchia religiosa, anarchia nas idéias e nas<br />

obras, anarchia em tudo!!<br />

Faço-vos um appelo, a todos vós, rapazes e meninos: um appelo ar<strong>de</strong>roso<br />

no sentido <strong>de</strong> que vos immunizeis contra o veneno da hydra.<br />

Esta tar<strong>de</strong>, que usaes, <strong>de</strong>ve ser a indumentária do civismo. Ella nos lembra<br />

o patriotismo dos nossos maiores, dos heroes que fizeram livre a nação e<br />

victoriosa a <strong>de</strong>mocracia. O principio <strong>de</strong> obediência legal é que lhes <strong>de</strong>u,<br />

respeitado integralmente, coragem para a lucta e para o triumpho. Vencemos<br />

sempre, porque sempre obe<strong>de</strong>cemos. Vem dahi, <strong>de</strong>sse postulado, as victorias<br />

do paiz, na paz e na guerra. Não tem outra origem nossas marchas veriaticas,<br />

nem os nossos hymnos anacleticos.<br />

Fazei na obediencia, consequentemente; da obediência <strong>de</strong>ntro dos<br />

preceitos constitucionais, a vossos superiores hierarchicos, o lemma <strong>de</strong> vossa<br />

vida, Quem obe<strong>de</strong>ce, assim, sabe ser digno. E será obe<strong>de</strong>cido.<br />

A obediência faz a harmonia. A tudo presi<strong>de</strong>m leis que se obe<strong>de</strong>cem. Olhae<br />

o universo. O sol, centro do nosso systema planetário, enca<strong>de</strong>l-se ao concreto<br />

cósmico sem um só gesto <strong>de</strong> rebellião. Contra elle, a seu torno, nunca se<br />

revoltaram os astros, que o acompanham em sua trajetória. Há imensos soes<br />

na amplidão dos espaços. E todos elles gyram obedientes aquella força que<br />

lhes presi<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>stinos. Obediência é amor.<br />

E o amor é que move as estrellas harmonicamente; e pôe o gorgeio das<br />

aves na doçura dos ninhos.<br />

Somente quem não ama é <strong>de</strong>sobediente. Apren<strong>de</strong>i a obe<strong>de</strong>cer,<br />

principalmente no lar e na escola, aos genitores e aos mestres.<br />

Todo crime, todo <strong>de</strong>lito, toda infracção, é uma <strong>de</strong>sobediência. Quem<br />

<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce ao professor, quem <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce aos paes, quem <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce as<br />

auctorida<strong>de</strong>s dá a primeira passada para o abysmo. A anarchia é uma<br />

<strong>de</strong>sobediência generalizada: evital-a!<br />

Para cumprir sua missão, o Brasil precisa <strong>de</strong> que lhe obe<strong>de</strong>ça, hoje mais do<br />

que nunca, os mandamentos cívicos <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> nacional. E na escola que se<br />

principia a fazel-o.<br />

Não se vive sem amor. E não há amor sem obediência. Obe<strong>de</strong>cei para<br />

felicida<strong>de</strong> vossa, e <strong>de</strong> vossa pátria.<br />

CONCLUSÃO<br />

Exmas senhoras minhas e meus senhores: proferi commigo afinal esta<br />

prece do evangelho <strong>de</strong> nossa crença <strong>de</strong>mocrática: Brasil, fonte <strong>de</strong> nossa<br />

affeição filial; pedaço do teu território, vivendo <strong>de</strong> tua civilização, Campina<br />

Gran<strong>de</strong> protesta, quem tentará fazer <strong>de</strong>sta sua nova casa <strong>de</strong> educação e<br />

instrucção um viveiro <strong>de</strong> homens dignos, que amando a Parahyba com todas<br />

as veras <strong>de</strong> seus gestos affectivos contribuam para o teu engran<strong>de</strong>cimento<br />

moral. E jura, cultuando, os sentimentos superiores, <strong>de</strong>ste a evolução da raça,<br />

que indo envidará, seguindo a lição do mestre, para fazer a bonda<strong>de</strong> uma<br />

antecipação voluntária e consciente <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> justiça perfeita em que o<br />

sacrifício e a luta tendam a ser substituídos pela cooperação solidária e<br />

fraternal.<br />

Era, apenas, o que vos tinha a dizer.


Anexo 3 - JORNAL O SÉCULO<br />

Campina Gran<strong>de</strong>, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1928, anno I, num.12, pag. 04,<br />

1ºquadrante.<br />

12 DE OUTUBRO<br />

O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena commemora a data com brilhantes<br />

festas<br />

136<br />

A data do <strong>de</strong>scobrimento da America, teve entre nos uma brilhantíssima<br />

commemoração, por parte do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena e <strong>de</strong>mais<br />

escolas e collegios <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />

Sendo essa data do anniversario da inauguração do mo<strong>de</strong>lar<br />

estabelecimento com que o saudoso Presitente Solon <strong>de</strong> Lucena dotou a nossa<br />

terra, o seu illustre director Prof. Mario Gomes, organisou um programma<br />

commemorativo para que aquelle dia não passasse <strong>de</strong>spercebido.<br />

Logo pela manhã, a Associação <strong>de</strong> Escotiros do Grupo, prestou<br />

continência à ban<strong>de</strong>ira, que foi hasteada na fachada do estabelecimento,<br />

seguindo-se uma passeata militar, em que tomaram parte o Instituto<br />

Pedagogico, Gynnasio Campinense e diversos outras escolas publicas e<br />

particulares da cida<strong>de</strong>.<br />

As 13 horas, houve logar no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena uma<br />

sessão cívica presidida pelo prof. Mario Gomes que pronunciou uma<br />

conferencia allusiva à data, relembrando o feito <strong>de</strong> Colombo, a obra<br />

maravilhosa <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena e fazendo ver que naquelle dia tambem se<br />

commemorava o Dia da creança.<br />

Às 18 horas, em palco armado no recreio da secção feminina do Grupo,<br />

alumnos do estabelecimento levaram à scena um entretenimento theatral que<br />

agradou plenamente a uma numerosa assistência presente.<br />

Lamentamos esse momento, o modo in<strong>de</strong>licado por que diversos moços<br />

<strong>de</strong> nossa melhor socieda<strong>de</strong> estavam se portando, a ponto <strong>de</strong> ser preciso a<br />

intervenção da pôlicia.<br />

O prof. Mario Gomes, abnegado director do Grupo Solon <strong>de</strong> Lucena, a<br />

quem Campina já <strong>de</strong>ve a <strong>de</strong>snalphabetisação <strong>de</strong> uma das mais vivas e lúcidas<br />

gerações, obra <strong>de</strong> alcance moral e social que só os <strong>de</strong>speitados não po<strong>de</strong>m<br />

enxergar, está <strong>de</strong> parabens pela festa <strong>de</strong> educação cívica propocionada aos<br />

seus alumnos e ao povo em geral, no dia em que se vio passar mais um<br />

anniversario <strong>de</strong> fundação da escola, à frente <strong>de</strong> cujos <strong>de</strong>stinos tem dado<br />

melhor <strong>de</strong> suas energias.<br />

Campina Gran<strong>de</strong>, sabbado, 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1928, anno I, num.18,<br />

pag. 04, 2ºquadrante.<br />

No <strong>grupo</strong> <br />

Festival <strong>de</strong> Arte


137<br />

Commemorou o dia da ban<strong>de</strong>ira e encerramento do anno letivo, será no dia 19<br />

levado a affeito no cine-theatro Apollo, encantadora festa da Arte. A mesma,<br />

que terá um variadíssimo programma será em beneficio do Hospital Pedro I.<br />

Campina Gran<strong>de</strong>, sabbado, 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1928, anno I, num.21,<br />

pag. 04, 1ºquadrante<br />

A festa do <strong>grupo</strong> Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

O professor Mario Gomes encerrou o anno <strong>de</strong> trabalhos no Grupo Escolar<br />

Solon <strong>de</strong> Lucena realisando no dia da ban<strong>de</strong>ira, uma encantadora festa em<br />

beneficio do Hospital Pedro I, no palco do Gremio Renascença.<br />

Nesse brilhante entretenimento Theatral tomaram parte diversos alumnos e<br />

alumnas daquelle estabelecimento <strong>de</strong> ensino, dando um engraçado<br />

<strong>de</strong>sempenho às canções e pequenas peças levadas à scena pelos jovens<br />

educandos.<br />

> teve uma casa à cunha a qual applaudiu vibrantemente a petizada<br />

do Grupo Escolar.


Anexo 4 - JORNAL VOZ DA BORBOREMA<br />

Campina Gran<strong>de</strong>, quarta-feira, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1937. anno I, num. 26,<br />

pág. 06, 1° quadrante.<br />

DIA DA AMERICA E DA CREANÇA<br />

As festas cívicas no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena e a conferencia do<br />

Dr. Henio <strong>de</strong> Azevedo<br />

138<br />

Decorreu hontem a data da <strong>de</strong>scoberta da América.<br />

Nesse dia em que se rêmora um dos feitos mais notáveis da humanida<strong>de</strong><br />

avulta num pe<strong>de</strong>stral <strong>de</strong> glorias imarcessiveis a figura imponente do gran<strong>de</strong><br />

navegador e i<strong>de</strong>alista genovez Chistovão Colombo, que passou à posterida<strong>de</strong><br />

com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> pae do Novo Mundo.<br />

Data consagrada à historia política da Américas, no Brasil o 12 <strong>de</strong> outubro<br />

passou a ser tambem o dia da creança.<br />

Feriado nacional, pó dia <strong>de</strong> hotem foi em todo o território nacional<br />

commemorado com todo carinho.<br />

As festas no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />

O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena, à frente illustre director e todo corpo<br />

docente e dicente, commemorou com brilhantismo a data, realisando uma<br />

sessão cívica, durante a qual foram cantados pelos orpheão do Grupo Hymnos<br />

Patrióticos e <strong>escolar</strong>es.<br />

O illutre pediatra campinense Dr. Henio Azevedo, expressamente convidado<br />

realisou um interessante (assim escrito no jornal – suponho que seja<br />

interessante) palestra sobre a creança na escola, disertando com segurança e<br />

conhecimentos technicos sobre questões <strong>de</strong> hygiene e psychologia infantil, a<br />

qual agradou plenamente a toda a assistência presente.<br />

A sessão cívica, foi presidida pelo Cônego Costa e secretariado pela prof.<br />

Arbetina Ramos Amorim, sentando-se à mesa o prof. Loureiro, Sr. Olegario<br />

Azevedo e Drs. José Reys, Luiz Gomes Peixe e Henio Azevedo.<br />

Encerrando as festivida<strong>de</strong>s o cônego Costa fez um calorosa dissertação sobre<br />

a data, fazendo menção especial ao papel da creança como cellula mater da<br />

humanida<strong>de</strong>, evocando a palavra do Cristo, quando elle pedia que <strong>de</strong>ixassem<br />

chegar a si as creançinhas.<br />

Após a sessão, a bella e valiosa exposição <strong>de</strong> trabalhos do <strong>grupo</strong> foi<br />

franqueada à visitação publica, a qual teve uma concorencia digna <strong>de</strong> nota.<br />

Felicitamos o prof. S. Loureiro e a professora do G.E. Solon <strong>de</strong> Lucena pelo o<br />

interesse que a festa cívica <strong>de</strong> hontem logrou conquistar no espírito do nosso<br />

povo.<br />

Campina Gran<strong>de</strong>, sabbado, 16 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1937. anno I, num. 27,<br />

pág. 01, 2° quadrante.


Exposição <strong>de</strong> trabalhos, <strong>de</strong>senhos e <strong>de</strong>cupagens no Grupo “Solon <strong>de</strong><br />

Lucena”<br />

139<br />

Estiveram em franca exposição <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros dias <strong>de</strong>sta semana, os<br />

trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, agulha e <strong>de</strong>cupagem confeccionados pelos alumnos do<br />

Grupo Solon <strong>de</strong> Lucena <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />

Tendo o ensejo <strong>de</strong> visitar aquelle educandario presenciamos, ali, em todos as<br />

divisões <strong>de</strong> classe, as interessantes obras <strong>de</strong> arte tão bem manipuladas pelos<br />

nossos estudantes primários.<br />

Gentilmente acompanhados da professora Ambrosina Mello, uma das mais<br />

<strong>de</strong>dicadas educadoras daquelle estabelecimento <strong>de</strong> ensino, visitamos a<br />

exposição dos trabalhos em <strong>de</strong>zenho e agulha do 1° anno A, que obe<strong>de</strong>ce à<br />

direcção das competentes professoras.Liliosa Barros, Ambrosina Mello, Anna<br />

Leiros e Eulina Malheiros.<br />

Franca admiração merecem os preciaveis trabalhos dos alumnos do 1° anno B,<br />

dirigidos pelos professoras Albertina Ramos Amorim e Herothi<strong>de</strong>s Oliveira.<br />

Os trabalhos do 2° anno, classe que tem à sua frente as illustres educadoras<br />

Cycilia <strong>de</strong> Oliveira, Silvia Henriques, Aline Moura e Nair Carvalho, Attestam, <strong>de</strong><br />

maneira realmente animadora, o <strong>de</strong>senvolvimento dos alumnos <strong>de</strong>sse grau e<br />

capacida<strong>de</strong> educacional <strong>de</strong> que é portador daquelle corpo docente.<br />

Deixou-nos, sobremodo enthusiasmados, a magnífica exposição dos trabalhos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cupagem, <strong>de</strong>senho, pintura e agulha esforçadas preceptoras Cizena<br />

Galvão, espírito activo e illustrado, e, igualmente, do 3° anno, que é orientado<br />

pela intelligente professora Octilia Sampaio, duas educadoras que honram,<br />

pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho, o magistério publico parahybano.<br />

O 5° anno, que é lecionado pela illustre docente Apolônia Amorim, exemplo <strong>de</strong><br />

esforço e <strong>de</strong>dicação pelo ensino e pela instrucção entre nós, tal classenos<br />

chamou, curiosamente, a attenção em face da efficiencia dos trabalhos<br />

manuaes que ali se vêm bem alinhados e or<strong>de</strong>nados executados pelo seu<br />

corpo dicente.<br />

De formas que, po<strong>de</strong>mos dizer com regosijo, a exposição <strong>de</strong> trabalhos dos<br />

alumnos do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena já é uma resultante expressiva do<br />

esforço e <strong>de</strong>senvolvimento sensível dos que ali estudam, bebendo, na ânfora<br />

sublime da instrução, os ensinamentos que lhes transmitem, com tanto carinho<br />

e abnegação, essas benfazejas creaturas que são as mestras, as educadoras<br />

da nossa juventu<strong>de</strong>.<br />

Campina Gran<strong>de</strong>, quarta-feira, 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1937. Anno I, num. 32,<br />

pág. 06, 3° quadrante.<br />

Inaugura-se, No Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena, <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, o Cinema<br />

Educativo.<br />

Realisou-se no dia 1 do corrente, a inauguração do Cinema Educativo,<br />

emprehendimento e iniciativa <strong>de</strong> alta importância pedagógica, que vem<br />

merecendo, da illustre educadora campinense Apolonia Amorim, a mais<br />

carinhosa attenção.


140<br />

A professora Apolonia Amorim, que, ha meses passados, fora ao Rio <strong>de</strong> janeiro<br />

afim <strong>de</strong> se por em contacto com os centros educacionaes mais a<strong>de</strong>antados do<br />

Sul do paiz e estudar os meios <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s para o conhecimento e<br />

adaptação do systema <strong>de</strong> Cinema Educativo empregado nas escolas públicas,<br />

essa abnegada preceptora vem <strong>de</strong> positivar, agora, em nosso meio, após,<br />

acurados estudos, a realisação <strong>de</strong>ssa palpitante objectivo, installando, no<br />

Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, um bem feito aparelho <strong>de</strong><br />

Cinema Educativo.<br />

Tendo se exhibido innumeras enscenaçoes e perspectivas <strong>de</strong> caracter histórico<br />

e educacional, a professora Apolonia Amorim <strong>de</strong>monstrou, francamente, a<br />

efficiencia <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>rno methodo pedagógico, que será entroduzido nos<br />

estabelecimentos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />

O acto inaugural, que teve logar naquelle educandario, às 18 horas, foi<br />

assistido por vários professores e intellectuaes campinenses, alumnos e<br />

<strong>de</strong>mais pessoas.

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