grupo escolar solon de lucena - Centro de Educação - Universidade ...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA<br />
CENTRO DE EDUCAÇÃO<br />
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO<br />
VÍVIA DE MELO SILVA<br />
GRUPO ESCOLAR SOLON DE LUCENA: UM NOVO MODELO<br />
DE ESCOLARIZAÇÃO PRIMÁRIA PARA A CIDADE DE<br />
CAMPINA GRANDE-PB (1924-1937)<br />
João Pessoa – PB<br />
Setembro <strong>de</strong> 2009
VÍVIA DE MELO SILVA<br />
GRUPO ESCOLAR SOLON DE LUCENA: UM NOVO MODELO<br />
DE ESCOLARIZAÇÃO PRIMÁRIA PARA A CIDADE DE<br />
CAMPINA GRANDE-PB (1924-1937)<br />
Dissertação apresentada ao Programa <strong>de</strong><br />
Pós-Graduação em <strong>Educação</strong> (Stricto<br />
Sensu), do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> – CE, da<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba – UFPB,<br />
como um dos requisitos para a obtenção do<br />
título <strong>de</strong> mestre em educação.<br />
Área <strong>de</strong> Concentração: <strong>Educação</strong>.<br />
Linha <strong>de</strong> Pesquisa: História da <strong>Educação</strong>.<br />
Orientador: Prof. Dr. Wojciech Andrzej<br />
Kulesza<br />
João Pessoa – PB<br />
Setembro <strong>de</strong> 2009<br />
2
S586g<br />
SILVA, Vívia <strong>de</strong> Melo.<br />
Grupo <strong>escolar</strong> Sólon <strong>de</strong> Lucena: um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
<strong>escolar</strong>ização primária para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>-<br />
Pb(1924-1937)/ Vivia <strong>de</strong> Melo Silva. – João Pessoa, 2009.<br />
140f. :il.<br />
Orientador: Wojciech Andrzej Kulesza.<br />
Dissertação (Mestrado) – UFPb - CE<br />
1. Escolas. 2. Grupo <strong>escolar</strong> – Sólon <strong>de</strong> Lucena .3. Arquitetura<br />
<strong>escolar</strong>.<br />
UFPb/BC CDU: 373 (043)<br />
3
VÍVIA DE MELO SILVA<br />
GRUPO ESCOLAR SOLON DE LUCENA: UM NOVO MODELO DE<br />
ESCOLARIZAÇÃO PRIMÁRIA PARA A CIDADE DE CAMPINA GRANDE-PB<br />
(1924-1937)<br />
APROVADA EM: 03 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2009<br />
BANCA EXAMINADORA<br />
________________________________________<br />
Prof. Dr. Wojciech Andrzej Kulesza – DME/PPGE<br />
Orientador<br />
________________________________________<br />
Prof. Dr. Antônio <strong>de</strong> Pádua Carvalho Lopes – PPGED/UFPI<br />
Examinador<br />
________________________________________<br />
Prof. Dr. Antonio Carlos Ferreira Pinheiro – DME/PPGE<br />
Examinador<br />
________________________________________<br />
Prof. Dra. Maria Lúcia da Silva Nunes – DME/PPGE<br />
Examinador - suplente<br />
João Pessoa – PB<br />
Setembro <strong>de</strong> 2009<br />
4
DEDICATÓRIA<br />
Aos meus pais, Vilma e Naldo, que muito me<br />
ajudaram para essa realização.<br />
5
AGRADECIMENTOS<br />
Primeiramente a DEUS, que é o caminho, a verda<strong>de</strong> e a vida; quem,<br />
incomparavelmente, guiou-me nesse transcurso <strong>de</strong> impasses e perspectivas.<br />
Aos meus pais, Vilma e José Dnaldo, que sempre me <strong>de</strong>ram forças nos<br />
momentos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s, contribuindo para o meu crescimento.<br />
Às minhas irmãs, Vídina e Virna, que sofreram e comemoraram comigo nos<br />
momentos turbulentos e <strong>de</strong> vitórias.<br />
Ao meu amor, pelo gran<strong>de</strong> apoio, compreensão e incentivo.<br />
A todos da minha família pela assistência durante os <strong>de</strong>safios que encarei. De<br />
modo particular, a minha avó Doranice e a Fátima pelo gran<strong>de</strong> apoio.<br />
Ao professor e orientador Wojciech Andrzej Kulesza, pela orientação,<br />
disponibilida<strong>de</strong> e por ter confiado no meu trabalho.<br />
Aos professores do curso <strong>de</strong> Mestrado do PPGE-UFPB que integram a linha<br />
<strong>de</strong> pesquisa História da <strong>Educação</strong>.<br />
Á professora Melânia Mendonça Rodrigues, orientadora do período da<br />
graduação em Pedagogia na UFCG, gran<strong>de</strong> incentivadora <strong>de</strong>ssa realização.<br />
Aos colegas da turma 28 do mestrado e doutorado pelos inesquecíveis<br />
momentos <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimentos e, <strong>de</strong> modo especial, a Daniella<br />
Suassuna companheira nas horas <strong>de</strong> aflição e conquistas.<br />
Ao <strong>grupo</strong> <strong>de</strong> estudo coor<strong>de</strong>nado pelo prof. Antonio Carlos F. Pinheiro, pelo<br />
espaço <strong>de</strong> importantes discussões sobre a educação <strong>escolar</strong> na República.<br />
Aos professores, Antônio <strong>de</strong> Pádua Carvalho Lopes, Antonio Carlos Ferreira<br />
Pinheiro e Maria Lúcia da Silva Nunes, por aceitarem o nosso convite para<br />
integrar a banca avaliadora <strong>de</strong>sse trabalho, bem como pelas relevantes<br />
observações no momento da qualificação.<br />
Á coor<strong>de</strong>nação e todos os funcionários do PPGE/UFPB, pela atenção,<br />
compreensão e atendimento prestado durante esse curso.<br />
6
Aos funcionários dos arquivos, on<strong>de</strong> estive coletando dados, pela recepção e<br />
pelo auxílio sempre fornecido.<br />
E a TODOS que <strong>de</strong> algum modo participaram, incentivaram e acreditaram<br />
nessa realização.<br />
7
RESUMO<br />
O presente estudo se inscreve no campo da História da <strong>Educação</strong>, mais<br />
precisamente nas pesquisas sobre instituições <strong>escolar</strong>es. Tem como objetivo<br />
principal colaborar com a constituição <strong>de</strong> um conhecimento sobre a história do<br />
primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, o Grupo Escolar Solon<br />
<strong>de</strong> Lucena (GESL). Para tal estudo, trabalhamos com o recorte temporal que<br />
vai 1924 até 1937. O primeiro ano por tratar-se da fundação da instituição em<br />
estudo e, o segundo, por ser o ano que, em Campina Gran<strong>de</strong>, é fundado o<br />
segundo <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Em âmbito específico, nosso estudo procurou discutir a<br />
implantação, arquitetura e as festas <strong>escolar</strong>es do GESL. Os principais<br />
procedimentos metodológicos adotados foram: análise bibliográfica e análise<br />
documental. Como fontes, utilizamos principalmente jornais, revistas,<br />
mensagens <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado, almanaque da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, fotos e publicações <strong>de</strong> memorialistas. A pesquisa se <strong>de</strong>senvolveu a<br />
partir dos referenciais propugnados principalmente por Bencostta (2005),<br />
Chartier (1990), Certeau (2008), Ginzburg (1989), Faria Filho (2000),<br />
Magalhães (2004), Pinheiro (2002), Souza (1998), entre outros. Dentre as<br />
várias observações, nesse estudo, pu<strong>de</strong>mos concluir que o referido <strong>grupo</strong><br />
<strong>escolar</strong> foi implantado em 1924, último ano do governo do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado<br />
Solon <strong>de</strong> Lucena. Sobre a arquitetura do prédio do GESL verificamos que<br />
possui qualida<strong>de</strong>s estéticas associadas ao ecletismo, <strong>de</strong>stacando-se como<br />
uma pomposa construção em Campina Gran<strong>de</strong>. Quanto às festas <strong>escolar</strong>es,<br />
percebemos que eram imbuídas <strong>de</strong> significados e eram práticas que<br />
promoviam a abertura do referido <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> para a cida<strong>de</strong> como um todo.<br />
Palavras-chave: Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena; arquitetura <strong>escolar</strong>, festas<br />
<strong>escolar</strong>es e Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
8
RÉSUMÉ<br />
Présente étu<strong>de</strong> il s'inscrit dans le champ <strong>de</strong> l'Histoire <strong>de</strong> l'Éducation, plus<br />
précisément dans les recherches sur <strong>de</strong>s institutions scolaires. Il a comme<br />
objectif principal collaborer avec la constitution d'une connaissance sur l'histoire<br />
<strong>de</strong> premier groupe scolaire <strong>de</strong> la ville <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, Grupo Scolaire<br />
Solon <strong>de</strong> Lucena (GESL). Pour cela étu<strong>de</strong>, nous travaillons avec le découpage<br />
séculier qui va 1924 jusqu'en 1937. Première année s'agir <strong>de</strong> la fondation <strong>de</strong><br />
l'institution dans étu<strong>de</strong> et, comme, être l'année qui, dans Campina Gran<strong>de</strong>, est<br />
établie second groupe écolier. Dans contexte spécifique, notre étu<strong>de</strong> il a<br />
cherché à discuter l'implantation, l'architecture et les fêtes scolaires <strong>de</strong> GESL.<br />
Les principales procédures méthodologiques adoptées ont été : analyse<br />
bibliographique et analyse documentaire. Comme <strong>de</strong>s sources, nous utilisons<br />
principalement <strong>de</strong>s journaux, revues, messages du prési<strong>de</strong>nt d'état, almanach<br />
<strong>de</strong> la ville <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, photos et publications <strong>de</strong> memorialistes. La<br />
recherche s'est développée à partir <strong>de</strong>s référentiels préconisés principalement<br />
par Bencostta (2005), Chartier (1990), Certeau (2008), Ginzburg (1989), Faria<br />
Filho (2000), Magalhães (2004), Pinheiro (2002), Souza (1998), entre autres.<br />
Parmi les plusieurs commentaires, dans cette étu<strong>de</strong>, nous avons pu conclure<br />
que rapporté groupe écolier a été implanté en 1924, <strong>de</strong>rnière année du<br />
gouvernement du prési<strong>de</strong>nt d'état Solon <strong>de</strong> Lucena. Sur l'architecture <strong>de</strong><br />
l'immeuble <strong>de</strong> GESL nous vérifions qui possè<strong>de</strong> <strong>de</strong>s qualités esthétiques<br />
associés à l'éclectisme, en se détachant comme une pompeuse construction<br />
dans Campina Gran<strong>de</strong>. Combien aux fêtes scolaires, nous percevons elles<br />
qu'étaient doués imbuídas <strong>de</strong> significations et étaient <strong>de</strong>s pratiques qui<br />
promouvaient l'ouverture du mentionné groupe scolaire pour la ville dans<br />
l'ensemble.<br />
Palavras-chave: Groupe Scolaire Solon <strong>de</strong> Lucena ; architecture scolaire ;<br />
fêtes scolaires et Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
9
LISTA DE FOTOGRAFIAS<br />
Foto 1 – Solon Barbosa <strong>de</strong> Lucena..................................................................47<br />
Foto 2 - Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena..........................................................63<br />
Foto 3 - Comércio Velho <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (Antigo Mercado Público)........64<br />
Foto 4 – Fachada Grupo Escolar Tomás Min<strong>de</strong>lo............................................68<br />
Foto 5 - Fachada Grupo Escolar Isabel Maria das Neves................................71<br />
Foto 6 - Fachada Grupo Escolar Solón <strong>de</strong> Lucena...........................................73<br />
Foto 7 – Vestíbulo.............................................................................................74<br />
Foto 8 - Aspecto do frontão triangular...............................................................74<br />
Foto 9 - Elemento <strong>de</strong>corativo da parte superior do vestíbulo...........................75<br />
Foto 10 - Detalhes das janelas laterais ............................................................75<br />
Foto 11 - Elemento <strong>de</strong>corativo na platibanda...................................................75<br />
Foto 12 - Elemento <strong>de</strong>corativo superior............................................................75<br />
Foto 13 - Fachada Grupo Escolar Professor Batista Leite................................76<br />
Foto 14 - Planta baixa do edifício do GESL......................................................82<br />
Foto 15 - Missa Campal em ação <strong>de</strong> graça à inauguração do GESL...............91<br />
Foto 16 - Evoluções dos alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu<br />
Parahybano........................................................................................................93<br />
Foto 17 - Alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano..................93<br />
Foto 18 - População <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> prestigiando a inauguração do<br />
GESL.................................................................................................................95<br />
Foto 19 - A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> em festa na inauguração do GESL...96<br />
10
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 1 - Distribuição dos <strong>de</strong>z primeiros <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es do estado da<br />
Paraíba conforme or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> criação..................................................................51<br />
11
SUMÁRIO<br />
RESUMO...........................................................................................................08<br />
RÉSUMÉ...........................................................................................................09<br />
LISTA DE FOTOGRAFIAS...............................................................................10<br />
LISTA DE TABELAS.........................................................................................11<br />
1- INTRODUÇÃO..............................................................................................14<br />
1.1 – Traços <strong>de</strong> uma trajetória: da experiência na monitoria em História da<br />
<strong>Educação</strong> ao mestrado nesse campo <strong>de</strong> pesquisa...........................................14<br />
1.2 – Anunciação da problemática e objetivos da pesquisa..............................18<br />
1.3 – Fontes e procedimentos metodológicos...................................................21<br />
1.4– Campo da História no qual se insere essa pesquisa................................24<br />
CAPÍTULO 2 - GRUPO ESCOLAR: UM NOVO MODELO DE ESCOLA<br />
PRIMÁRIA.........................................................................................................29<br />
2.1 – O i<strong>de</strong>ário educacional republicano e a implantação <strong>de</strong> uma nova escola<br />
primária no Brasil: os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.............................................................29<br />
2.2 – A regulamentação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba: o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> número<br />
873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917......................................................................37<br />
2.2.1 - A regulamentação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na Paraíba..............40<br />
2.2.2 - Surgem novos atores para a educação <strong>escolar</strong>: director, porteiro e<br />
servente.............................................................................................................44<br />
2.3 – O governo Solon <strong>de</strong> Lucena e a implantação do Grupo Escolar <strong>de</strong><br />
Campina Gran<strong>de</strong>...............................................................................................47<br />
CAPÍTULO 3 – URBANIZAÇÃO E ARQUITETURA ESCOLAR, ELEMENTOS<br />
DE MODERNIZAÇÃO: O CASO DO GRUPO ESCOLAR SOLON DE<br />
LUCENA..............................;.............................................................................56<br />
3.1 – A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />
Lucena...............................................................................................................56<br />
12
3.2 – A breve construção do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />
Gran<strong>de</strong>...............................................................................................................62<br />
3.3 – Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba: um projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização para as<br />
cida<strong>de</strong>s...............................................................................................................66<br />
3.4 – Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena: espaço <strong>de</strong> educar e civilizar as<br />
crianças?............................................................................................................78<br />
CAPÍTULO 4 – INAUGURAÇÃO, COMEMORAÇÕES E EXPOSIÇÕES<br />
ESCOLARES: MOMENTOS DE FESTA DO GRUPO ESCOLAR SOLON DE<br />
LUCENA PARA A SOCIEDADE CAMPINENSE..............................................86<br />
4.1 – Campina Gran<strong>de</strong> em festa: a inauguração do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />
Lucena...............................................................................................................88<br />
4.1.1 - O discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel na solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração<br />
do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>................................................................................................98<br />
4.2 – Datas comemorativas no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena....................102<br />
4.3 – Festa <strong>de</strong> inauguração do cinema educativo do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />
Lucena.............................................................................................................106<br />
4.4 – Exposições <strong>escolar</strong>es: momentos <strong>de</strong> divulgar trabalhos <strong>escolar</strong>es à<br />
comunida<strong>de</strong> campinense................................................................................109<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................113<br />
REFERÊNCIAS...............................................................................................117<br />
ANEXOS.........................................................................................................126<br />
13
1 - INTRODUÇÃO<br />
1.1 – Traços <strong>de</strong> uma trajetória: da experiência na monitoria em História da<br />
<strong>Educação</strong> ao mestrado nesse campo <strong>de</strong> pesquisa<br />
A presente investigação originou-se da minha participação no Programa<br />
<strong>de</strong> Monitoria 1 do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>s da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Campina<br />
Gran<strong>de</strong> (UFCG). Nesse programa, como estudante do curso <strong>de</strong> Pedagogia,<br />
ingressei, via processo <strong>de</strong> seleção, como monitora das disciplinas <strong>de</strong> História<br />
da <strong>Educação</strong> I e História da <strong>Educação</strong> II, nas quais, durante três anos,<br />
acompanhei seis turmas <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> Pedagogia vinculados ao Programa<br />
Estudante Convênio Re<strong>de</strong> Pública (PEC-RP) 2 .<br />
A minha função como monitora, fundamentalmente, consistia em<br />
acompanhar e auxiliar os alunos matriculados nas disciplinas já citadas. Esse<br />
acompanhamento e auxílio eram voltados às leituras propostas pela professora<br />
que ministrava a disciplina, como também, às ativida<strong>de</strong>s sugeridas no <strong>de</strong>correr<br />
do curso <strong>de</strong> História da <strong>Educação</strong> I ou História da <strong>Educação</strong> II. Além disso,<br />
posso <strong>de</strong>stacar que cabia ao monitor sugerir leituras complementares aos<br />
alunos, no sentido <strong>de</strong> facilitar a compreensão dos mesmos sobre <strong>de</strong>terminada<br />
temática, bem como, planejar a disciplina junto ao professor orientador.<br />
É mister <strong>de</strong>stacar, também, que era atribuído ao monitor participar <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investigação junto ao professor orientador. Sendo assim,<br />
ingressei nas discussões <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> pesquisa vinculado ao Programa <strong>de</strong><br />
Licenciatura (PROLICEN) da UFCG, coor<strong>de</strong>nado pela mesma professora que<br />
me orientava na monitoria. O referido projeto, apesar <strong>de</strong> não possuir como<br />
objetivo central um estudo acerca da História da <strong>Educação</strong>, percorria caminhos<br />
1 O Programa <strong>de</strong> Monitoria da UFCG, <strong>de</strong> acordo com a resolução <strong>de</strong> n° 02/1996, tem como<br />
objetivo <strong>de</strong>spertar nos alunos o interesse pela carreira docente, promover a cooperação<br />
acadêmica entre discentes e docentes e minorar problemas crônicos <strong>de</strong> repetência, evasão e<br />
falta <strong>de</strong> motivação comuns em muitas disciplinas.<br />
2 Instituído em 1997, o Programa Estudante Re<strong>de</strong> Pública (PEC-RP) trata-se <strong>de</strong> um convênio<br />
firmado entre Prefeituras e Universida<strong>de</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> subsidiar a formação <strong>de</strong><br />
professores que estão há muito tempo em salas <strong>de</strong> aulas sem formação superior. Neste<br />
Programa, ingressam nos cursos <strong>de</strong> licenciatura, através <strong>de</strong> vestibular específico, professores<br />
em efetivo exercício do magistério nas re<strong>de</strong>s municipais e estaduais <strong>de</strong> ensino.<br />
14
ligados a este campo <strong>de</strong> investigação, especificamente sobre a História da<br />
<strong>Educação</strong> brasileira. Portanto, tal ativida<strong>de</strong> acadêmica possibilitou-me<br />
aprimorar teoricamente minha experiência <strong>de</strong> estudo na área e a <strong>de</strong>spertar<br />
meu interesse para a pesquisa em História da <strong>Educação</strong>.<br />
Com esses atributos direcionados ao monitor, é evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong><br />
do mesmo possuir uma consi<strong>de</strong>rável proprieda<strong>de</strong> dos temas trabalhados na<br />
disciplina monitorada. Em outros termos, é fundamental que o monitor tenha<br />
uma maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura e compreensão da área em que irá atuar<br />
enquanto tal, para melhor acompanhar e auxiliar os estudantes. Então, a partir<br />
<strong>de</strong>sse trabalho <strong>de</strong> leituras, <strong>de</strong>spertei, cada vez mais, para estudar a História da<br />
<strong>Educação</strong>.<br />
Quero <strong>de</strong>stacar que no transcorrer <strong>de</strong>ssa experiência <strong>de</strong> três anos <strong>de</strong><br />
monitoria trabalhei com a perspectiva do ensino <strong>de</strong> História da <strong>Educação</strong> que<br />
rompe com os enfoques tradicionais <strong>de</strong> seqüenciação cronológico-linear e com<br />
a dicotomia entre os âmbitos internacional e nacional. A experiência <strong>de</strong> ensino<br />
<strong>de</strong> que fiz parte, pautava-se em uma abordagem integradora e transversal dos<br />
conteúdos, na qual buscávamos refletir criticamente sobre a produção<br />
historiográfica que era selecionada para a disciplina. Dessa forma, tive a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorar a minha postura <strong>de</strong> estudiosa da História da<br />
<strong>Educação</strong>.<br />
Com relação ao foco do estudo trabalhado em História da <strong>Educação</strong> I e<br />
História da <strong>Educação</strong> II, a escola pública foi <strong>de</strong>finida como tema central. Então,<br />
<strong>de</strong>ssa temática, em História da <strong>Educação</strong> I acompanhei estudos sobre a<br />
gênese e a expansão da escola pública, especificamente na Paraíba. Nesse<br />
momento, comecei a vislumbrar um interessante e fértil campo <strong>de</strong> investigação<br />
para enveredar. Já em História da <strong>Educação</strong> II a ênfase recaiu no magistério<br />
da educação infantil e do ensino fundamental, focalizando o estudo sobre o<br />
trabalho docente na História Educacional.<br />
Como meu interesse <strong>de</strong> pesquisa surge exatamente <strong>de</strong>ssa experiência<br />
<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>senvolvida no interior da disciplina <strong>de</strong> Historia da <strong>Educação</strong> I, qual<br />
seja, sobre a investigação da gênese e a expansão da escola pública,<br />
15
especificamente na Paraíba, abro parênteses para <strong>de</strong>stacar, <strong>de</strong> forma breve,<br />
tal experiência.<br />
A investigação <strong>de</strong>sse aspecto no âmbito da disciplina <strong>de</strong> História da<br />
<strong>Educação</strong> I orientou-se, primeiramente, para a busca <strong>de</strong> informações<br />
referentes à primeira escola instalada nos municípios em que as estudantes<br />
matriculadas na disciplina trabalhavam como professoras ou residiam. No<br />
levantamento inicial realizado por elas, pretendia-se aquilatar o cumprimento,<br />
pelos po<strong>de</strong>res públicos municipais, do papel social do Estado, expresso, aqui,<br />
na garantia do direito à educação para todos os munícipes. Nos casos em que<br />
a instalação da primeira escola tivesse cabido à iniciativa particular, pretendia-<br />
se, na seqüência, direcionar a coleta <strong>de</strong> dados para a instalação da primeira<br />
escola pública nesses municípios. Nesse estudo foi observado que a primeira<br />
escola criada nas primeiras décadas do século XX, na gran<strong>de</strong> maioria dos<br />
municípios investigados, foi particular, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma iniciativa das famílias<br />
ricas ou da própria professora. Além disso, foi <strong>de</strong>stacado que a totalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ssas escolas, até a década <strong>de</strong> 1920, funcionava em casas ou outras<br />
instalações improvisadas e que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es foram o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
organização predominantemente adotado pelas escolas públicas, a partir da<br />
década <strong>de</strong> 1920 nos municípios estudados 3 .<br />
No percurso <strong>de</strong>ssa experiência, tive também a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
inscrever-me em eventos científicos na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação oral.<br />
Nesses eventos, tais como: II Colóquio Internacional Políticas e Práticas<br />
Curriculares: Impasses, Tendência e Perspectivas; IV Encontro da Anpae-PB;<br />
A Conferência Internacional, <strong>Educação</strong>, Globalização e Cidadania: novas<br />
perspectivas da Sociologia, 18º Encontro <strong>de</strong> Pesquisa Educacional Norte e<br />
Nor<strong>de</strong>ste (EPENN) entre outros, pu<strong>de</strong> expor o que vinha produzindo, como<br />
também, foi um espaço propício para observar como a temática que me<br />
interessa estava sendo abordada por diferentes pesquisadores, e a partir<br />
<strong>de</strong>ssas abordagens melhorar o meu foco <strong>de</strong> estudo.<br />
Então, durante todas essas experiências frente à monitoria <strong>de</strong> História<br />
da <strong>Educação</strong>, passei a interessar-me pelo estudo da História da <strong>Educação</strong> do<br />
3 Aroeiras, Assunção, Boqueirão, Esperança, Itatuba, Fagun<strong>de</strong>s entre outros.<br />
16
município <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s-PB. O motivo da escolha <strong>de</strong>ste município <strong>de</strong>veu-se à<br />
carência <strong>de</strong> estudos que tratassem exclusivamente <strong>de</strong>ssa História em<br />
Fagun<strong>de</strong>s, minha cida<strong>de</strong> natal.<br />
Concluindo no ano <strong>de</strong> 2007 o curso <strong>de</strong> Pedagogia e, consequentemente,<br />
a participação no Programa <strong>de</strong> Monitoria, tive, <strong>de</strong> fato, a convicção <strong>de</strong> querer<br />
ingressar em um Mestrado na área da História da <strong>Educação</strong>. Então, iniciei a<br />
organizar minhas idéias e formular meu projeto, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a História<br />
da <strong>Educação</strong> do município <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s-PB.<br />
Ao ingressar no Mestrado (2008), com o projeto <strong>de</strong> pesquisar a história<br />
do primeiro Grupo Escolar <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s, iniciei o processo <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados,<br />
já que dispomos <strong>de</strong> um tempo limitado para concluir nossas dissertações e<br />
porque, na maioria das pesquisas em História da <strong>Educação</strong>, as fontes<br />
encontram-se fragmentadas, limitadas e <strong>de</strong>sorganizadas, ou muitas vezes,<br />
perdidas. Portanto, faz-se necessário tempo e disponibilida<strong>de</strong> para coletar um<br />
número suficiente para a produção histórico-educacional.<br />
Então, com o levantamento dos dados, <strong>de</strong>parei-me com a precarieda<strong>de</strong><br />
e quase inexistência <strong>de</strong> fontes sobre o Grupo Escolar que tomei como objeto<br />
<strong>de</strong> investigação. Visitando o arquivo da escola, on<strong>de</strong> funcionou o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />
focalizado, os arquivos da Prefeitura e da Câmara <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s, do Estado,<br />
como a Fundação Espaço Cultural (FUNESC) e o Instituto Histórico e<br />
Geográfico da Paraíba (IHGP), quase nada foi encontrado, durante cinco<br />
meses, sobre o Grupo Escolar <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s.<br />
Envolvida, portanto, pelos sentimentos <strong>de</strong> angústia e preocupação,<br />
resolvi junto ao orientador focalizar uma outra instituição <strong>escolar</strong>, que<br />
aten<strong>de</strong>sse ao meu objetivo primitivo da pesquisa, qual seja a investigação<br />
sobre a história <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. O escolhido, agora, foi o primeiro <strong>grupo</strong><br />
<strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>smembrado o município<br />
<strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s, o <strong>de</strong>nominado Solon <strong>de</strong> Lucena.<br />
O motivo da escolha por esse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong>veu-se a duas principais<br />
questões: a primeira, por i<strong>de</strong>ntificar na historiografia educacional paraibana<br />
nenhum estudo que tratasse, especificamente, <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. A<br />
segunda, porque durante as visitas à maioria dos arquivos mencionados<br />
17
anteriormente, encontrei fontes para uma investigação histórica <strong>de</strong>ssa<br />
instituição, o que me <strong>de</strong>spertou curiosida<strong>de</strong> e interesse.<br />
1.2 – Anunciação da problemática e objetivos da pesquisa<br />
Na História da <strong>Educação</strong> brasileira, estudos sobre instituições <strong>escolar</strong>es<br />
vêm ganhando espaço como importante prática para recuperar questões<br />
inerentes à compreensão do processo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização no Brasil. Dentre esses<br />
estudos, <strong>de</strong>stacam-se as pesquisas sobre <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.<br />
Sanfelice (2007) afirma que toda instituição <strong>escolar</strong> merece ser objeto <strong>de</strong><br />
investigação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do grau <strong>de</strong> relevância na socieda<strong>de</strong>, uma vez que,<br />
para o autor, embora inserida em um contexto maior, cada instituição<br />
apresenta sua história e respon<strong>de</strong> aos múltiplos <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> forma<br />
singular.<br />
Portanto, compartilhamos com esse autor da compreensão <strong>de</strong> que o<br />
estudo <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada instituição permite <strong>de</strong>svendar parte <strong>de</strong> sua<br />
singularida<strong>de</strong>, assim como, aspectos inexplorados na História da <strong>Educação</strong>.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos importante <strong>de</strong>stacar que estamos compreen<strong>de</strong>ndo que<br />
realizar um estudo na área da História da <strong>Educação</strong> pressupõe <strong>de</strong>svincular-se<br />
<strong>de</strong> abordagens historiográficas que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a história dos “vencedores”, dos<br />
“heróis”, das “verda<strong>de</strong>s” e, sobretudo, <strong>de</strong> uma história global/total.<br />
Nóvoa ao apresentar a obra História da Pedagogia <strong>de</strong> Franco Cambi<br />
(1999), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> os estudos da História da <strong>Educação</strong>, salientando que:<br />
18<br />
A História da <strong>Educação</strong> fornece aos educadores um conhecimento<br />
do passado coletivo da profissão, que serve para formar a sua<br />
cultura profissional. Possuir um conhecimento histórico não implica<br />
ter uma ação mais eficaz, mas estimula uma atitu<strong>de</strong> crítica e<br />
reflexiva.<br />
A História da <strong>Educação</strong> amplia a memória e a experiência, o leque<br />
<strong>de</strong> escolhas e <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas, o que permite um<br />
alargamento do repertório dos educadores e lhes fornece uma visão<br />
da extrema diversida<strong>de</strong> das instituições <strong>escolar</strong>es no passado. Para<br />
além disso, revela que a educação não é um ‘<strong>de</strong>stino’, mas uma<br />
construção social, o que renova o sentido da ação quotidiana <strong>de</strong><br />
cada educador (NÓVOA, 1999, p. 13).
Desse modo, é perceptível que o estudo da História da <strong>Educação</strong><br />
contribui para reconstituir uma historicida<strong>de</strong> do processo educativo, e em<br />
particular, da educação <strong>escolar</strong>, tendo em vista o contexto no qual se insere.<br />
Saviani (2007), tratando das instituições educativas, sintetiza o conceito<br />
da seguinte forma:<br />
19<br />
[...] são, portanto, necessariamente sociais, tanto na origem, já que<br />
<strong>de</strong>terminadas pelas necessida<strong>de</strong>s postas pelas relações entre os<br />
homens como no seu próprio funcionamento, uma vez que se<br />
constituem como um conjunto <strong>de</strong> agentes que travam relações entre<br />
si e com a socieda<strong>de</strong> à qual servem (SAVIANI, 2007, p. 5).<br />
A<strong>de</strong>mais, o mesmo autor explicita que estudar a história <strong>de</strong> uma<br />
instituição <strong>escolar</strong> pressupõe reconstruí-la historicamente, razão por que o<br />
pesquisador não constrói seu objeto enquanto tal, pois “o que lhe cabe<br />
construir é o conhecimento do objeto e não o próprio objeto. E construir o<br />
conhecimento do objeto não é outra coisa senão reconstruí-lo no plano do<br />
pensamento” (SAVIANI, 2007, p.15).<br />
Para Magalhães (2004), a investigação <strong>de</strong> uma instituição educativa<br />
configura-se como objeto “epistêmico”. Esta configuração elaborada pelo<br />
referido autor se estrutura, conforme o mesmo, na historiografia da escola e da<br />
<strong>escolar</strong>ização, na instituição educativa como totalida<strong>de</strong> em organização e <strong>de</strong>vir,<br />
na análise institucional como matriz conceitual interdisciplinar e na pedagogia<br />
institucional como mo<strong>de</strong>lo científico e orgânico-funcional.<br />
O autor antes citado reforça que o estudo <strong>de</strong> uma instituição educativa<br />
[...] diz respeito à cultura material e simbólica, quer dizer, às<br />
condições materiais e <strong>de</strong> funcionamento, à gramática <strong>escolar</strong> e à<br />
<strong>escolar</strong>ização, e refere-se à representação, à apropriação das<br />
aprendizagens e à qualificação e reconhecimento da mais-valia<br />
educacional pelos <strong>grupo</strong>s, indivíduos e organizações.<br />
(MAGALHÃES, 2004, p.112)<br />
É pertinente explicitar, segundo o autor citado, que é possível distinguir<br />
duas orientações para os que trabalham com a história <strong>de</strong> instituições<br />
<strong>escolar</strong>es:<br />
A primeira <strong>de</strong>ssas abordagens é uma resposta à interpelação sobre<br />
o estatuto da escola no quadro mais amplo da educação e da<br />
instrução.
20<br />
[...]A segunda linha <strong>de</strong> orientação científica visa à construção da<br />
escola como um objeto historiográfico específico. (MAGALHÃES,<br />
2004, P.120)<br />
Portanto, nossa investigação toma essa segunda orientação proposta<br />
por Magalhães para <strong>de</strong>senvolver esta pesquisa.<br />
Ainda consi<strong>de</strong>ramos relevante <strong>de</strong>stacar que, segundo Pinheiro (2009), o<br />
estudos das instituições <strong>escolar</strong>es po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidos, pelo menos, em<br />
duas perspectivas, sendo a primeira a história <strong>de</strong> uma única instituição e, a<br />
segunda, <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> instituições. Sendo assim, por focalizarmos um<br />
único <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> informamos que estamos enveredando na primeira<br />
perspectiva.<br />
Como ponto <strong>de</strong> partida para a discussão da história dos <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es, os estudos <strong>de</strong> Pinheiro (2002) <strong>de</strong>monstram que estes constituíam,<br />
na História da <strong>Educação</strong> brasileira, um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização <strong>escolar</strong>,<br />
no qual o objetivo inicial consistia em reunir em um suntuoso prédio várias<br />
ca<strong>de</strong>iras isoladas, sob uma superintendência administrativa e técnica.<br />
Acerca dos estudos sobre os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, Souza e Faria Filho<br />
(2006) explicitam que emergiram na década <strong>de</strong> 1990, como movimento<br />
renovador no campo da História da <strong>Educação</strong>:<br />
A história dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es emerge nos anos 90 como fruto do<br />
movimento <strong>de</strong> renovação dos estudos em história da educação e na<br />
confluência <strong>de</strong> duas temáticas <strong>de</strong> investigação para os quais se<br />
voltaram os historiadores: a história das instituições educativas e o<br />
interesse pela cultura <strong>escolar</strong>. Po<strong>de</strong>-se dizer que essa história<br />
significou uma re<strong>de</strong>scoberta do ensino primário investigado com<br />
base em novas abordagens e interpelações epistemológicas e<br />
explorado numa multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temas e objetos. (SOUZA; FARIA<br />
FILHO, 2006, p. 22)<br />
Relativo às perguntas norteadoras <strong>de</strong>ssa investigação, ressaltamos que<br />
as principais foram: quando foi implantado o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
em Campina Gran<strong>de</strong>? Qual a motivação para esta implantação? O que<br />
representou a arquitetura do prédio <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> para a referida cida<strong>de</strong>? Até<br />
que ponto a construção do mesmo <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> coincidiu com o avanço<br />
urbano <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>? Como foi organizado o espaço interno <strong>de</strong>ssa
instituição? Que representativida<strong>de</strong> possuía as festas <strong>escolar</strong>es da referida<br />
instituição? Qual o sentido das festivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>?<br />
A partir <strong>de</strong> tais reflexões, a presente dissertação tem como objetivo geral<br />
colaborar com a constituição <strong>de</strong> um conhecimento sobre a história do primeiro<br />
<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />
Lucena (GESL). Para tal estudo, escolhemos trabalhar com o recorte temporal<br />
que vai 1924 até 1937. O primeiro ano por tratar-se da fundação da instituição<br />
em estudo e, o segundo, por ser o ano que, em Campina Gran<strong>de</strong>, é fundado o<br />
segundo <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> 4 . Portanto, escolhemos investigar o GESL enquanto<br />
único novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária em Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
De modo específico, essa pesquisa tem os seguintes objetivos:<br />
a) Investigar historicamente aspectos do processo <strong>de</strong> implantação do<br />
GESL, atentando para a instauração <strong>de</strong>ssa nova organização <strong>escolar</strong> no<br />
Brasil e a regulamentação do mesmo mo<strong>de</strong>lo no estado da Paraíba;<br />
b) Analisar aspectos da arquitetura <strong>escolar</strong> do GESL e relacioná-los com o<br />
processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e urbanização da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, assim como observar o investimento arquitetônico que esse<br />
<strong>grupo</strong> teve, tendo em vista os <strong>de</strong>mais espaços <strong>de</strong>stinados a serem<br />
<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba;<br />
c) Discutir “práticas simbólicas” 5 como comemorações, exposições e<br />
festas, <strong>de</strong> um modo geral, instauradas no/pelo GESL.<br />
1.3 – Fontes e procedimentos metodológicos<br />
O levantamento das fontes <strong>de</strong> nossa pesquisa foi realizado em alguns<br />
arquivos situados em João Pessoa e em Campina Gran<strong>de</strong>, já que a intenção<br />
consistiu em coletar o maior número <strong>de</strong> fontes possíveis para propiciar um<br />
4 O Grupo Escolar Clementino Procópio, cuja construção acabou em 1937. Neste ano é<br />
mencionado no jornal “A voz da Borborema” que no distrito <strong>de</strong> Galante, pertencente à Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, também foi construído um outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />
5 Terminologia citada por Souza (1998).<br />
21
melhor trabalho, no sentido <strong>de</strong> ter a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> selecionar os documentos<br />
mais a<strong>de</strong>quados ao nosso objetivo <strong>de</strong> investigação.<br />
Na capital João Pessoa, os documentos foram pesquisados junto aos<br />
seguintes arquivos: Arquivo Histórico da Fundação Espaço Cultural (FUNESC);<br />
Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba (IHGP); Instituto do Patrimônio<br />
Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP) e no Setor das Escolas<br />
Extintas da Inspetoria Técnica <strong>de</strong> Ensino, local em que funcionou o antigo<br />
Grupo Escolar Santo Antônio.<br />
Paralelo a essa pesquisa, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> nosso locus <strong>de</strong><br />
investigação compreen<strong>de</strong>u os locais: Arquivo das Escolas Extintas da 3ª<br />
Região <strong>de</strong> Ensino; Arquivo do Museu Histórico <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e Arquivo<br />
da Biblioteca Pública. A<strong>de</strong>mais, realizamos uma pesquisa no arquivo da Escola<br />
Estadual Solon <strong>de</strong> Lucena (incorporação do antigo GESL). Visitamos também,<br />
nessa busca <strong>de</strong> fontes, o prédio do antigo <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em questão, on<strong>de</strong><br />
funciona hoje o setor administrativo da Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba e o<br />
Museu <strong>de</strong> Arte Assis Chateaubriand.<br />
Realizado o itinerário antes relatado, obtivemos as seguintes fontes:<br />
jornais <strong>de</strong> circulação no Estado da Paraíba, como A União e outros <strong>de</strong><br />
produção e publicação em Campina Gran<strong>de</strong>, a saber: O Século e A Voz da<br />
Borborema; Revistas: Era Nova e Tudo, sendo a primeira <strong>de</strong> produção<br />
estadual e a segunda, suplemento dominical do jornal Diário da Borborema <strong>de</strong><br />
Campina Gran<strong>de</strong>; almanaque da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>; mensagens <strong>de</strong><br />
presi<strong>de</strong>ntes do Estado, fotos e publicações <strong>de</strong> memorialistas locais.<br />
Além <strong>de</strong>sses documentos, também subsidiou nossa pesquisa produções<br />
monográficas <strong>de</strong> temática afim.<br />
Para nosso trabalho com as fontes, baseamo-nos no conceito <strong>de</strong><br />
“documento/monumento” elaborado por Jacques Le Goff. Para este historiador<br />
francês, os documentos e os monumentos são materiais da memória coletiva e<br />
da história. O primeiro, conforme Le Goff (1996, p. 535) “escolha do<br />
historiador”, e o segundo, o monumento, “é tudo aquilo que po<strong>de</strong> evocar o<br />
passado, perpetuar a recordação [...]”. As fontes coletadas também foram<br />
consi<strong>de</strong>radas em nossa pesquisa como “indícios” (GINZBURG, 1989), já que<br />
22
epresentam um sinal, uma pista, uma expressão, uma versão do que foi a<br />
realida<strong>de</strong> do GESL.<br />
Nesse sentido, estamos compartilhando com o “paradigma indiciário”<br />
formulado por Ginzburg, que o caracteriza como a “[...] capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, a partir<br />
<strong>de</strong> dados aparentemente negligenciáveis, remontar a uma realida<strong>de</strong> complexa<br />
não experimentável diretamente [...]” (GINZBURG, 1989, p.152).<br />
Também estamos enten<strong>de</strong>ndo os documentos como elaborações do<br />
passado não direcionadas ao historiador, mas para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s<br />
específicas do momento no qual foram produzidos. Compreen<strong>de</strong>mos, portanto,<br />
que os documentos estão marcados pelo seu tempo e são utilizados por nós<br />
historiadores para contribuir com a formulação <strong>de</strong> conhecimentos sobre um<br />
dado objeto, no nosso caso, do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />
Gran<strong>de</strong>.<br />
É crucial também evi<strong>de</strong>nciar que compartilhamos com a noção <strong>de</strong> que<br />
todo documento selecionado para o trabalho do historiador é composto <strong>de</strong><br />
certo grau <strong>de</strong> parcialida<strong>de</strong>. Em outras palavras, “documento algum é neutro, e<br />
sempre carrega consigo a opinião da pessoa e/ou do órgão que o escreveu [ou<br />
o formulou]” (BACELLAR, 2005, p.63).<br />
Frisamos, ainda, que no <strong>de</strong>correr da dissertação procuramos conservar<br />
a escrita original dos textos utilizados como fontes para evitarmos problemas<br />
<strong>de</strong> traduções com expressões já abolidas ou substituídas nas normas da língua<br />
portuguesa atual. Portanto, as reportagens <strong>de</strong> jornais e revistas, as mensagens<br />
<strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado entre outros textos estão transcritos do mesmo modo<br />
que foram escritos em sua época.<br />
Quanto aos nossos procedimentos, foi realizado, em linhas gerais,<br />
fotografias dos documentos encontrados nos arquivos pesquisados e a<br />
digitalização dos mesmos.<br />
Paralelo à digitalização procuramos salientar os aspectos mais evi<strong>de</strong>ntes<br />
nas fontes encontradas. Assim, durante a digitalização realizamos também a<br />
categorização, elegendo como principais categorias em nosso estudo: a<br />
23
implantação do GESL; a arquitetura <strong>escolar</strong> e as festas <strong>escolar</strong>es. Tal<br />
categorização foi fundamental para a organização da nossa produção escrita.<br />
No momento da escrita, a leitura crítica das produções científicas da<br />
área não só foi importante para fundamentar nosso estudo, mas principalmente<br />
para subsidiar um melhor tratamento e análise das fontes. Portanto, os<br />
procedimentos metodológicos que, fundamentalmente, adotamos foram:<br />
análise bibliográfica e análise documental.<br />
1.4 – Campo da História no qual se insere essa pesquisa<br />
Para a discussão do campo da história no qual se situa esta pesquisa,<br />
alguns elementos das teorias <strong>de</strong> Michel <strong>de</strong> Certeau e Roger Chartier nos<br />
apontam um respaldo para nossa pesquisa histórico-educacional. É,<br />
fundamentalmente, a operação historiográfica construída por Certeau e a<br />
categoria representação elaborada por Chartier que tomaremos como ponto<br />
seguro em nosso fazer histórico.<br />
Esses teóricos receberam influências da chamada Nova História,<br />
perspectiva que surge com a influência da revista dos Annales d’Histoire<br />
Économique et Sociale, organizada por Lucien Febvre e Marc Bloch no ano <strong>de</strong><br />
1929 (LE GOFF,1998).<br />
Para Burke (1992), a Nova História foi como uma reação contra o<br />
<strong>de</strong>nominado paradigma tradicional que consi<strong>de</strong>ra a história voltada apenas à<br />
política, como narrativa dos acontecimentos, história dos gran<strong>de</strong>s feitos dos<br />
consi<strong>de</strong>rados heróis, tendo por base única documentos escritos oficiais, e a<br />
história apontada como a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma dada realida<strong>de</strong>.<br />
Essa inovada perspectiva da História Nova é sintetizada por Le Goff do<br />
seguinte modo:<br />
24<br />
[...] a história nova foi <strong>de</strong>finida pelo aparecimento <strong>de</strong> novos<br />
problemas, <strong>de</strong> novos métodos que renovaram domínios tradicionais<br />
da história [...] e, principalmente talvez, pelo aparecimento do campo<br />
da história <strong>de</strong> novos objetos, em geral reservados, até então, à<br />
antropologia [...]. Eu <strong>de</strong>finirei, ao mesmo tempo, pelos novos<br />
<strong>de</strong>senvolvimentos das suas orientações nos últimos cinqüenta anos<br />
e por perspectivas inéditas. (LE GOFF, 1998, p. 44)
É <strong>de</strong>ssa nova perspectiva que emergem no campo da História novos<br />
enfoques como elucidam Burke (1992), no livro organizado por ele intitulado A<br />
escrita da história: novas perspectivas, e Cardoso e Vainfas (1997) em<br />
Domínios da História: ensaios <strong>de</strong> teoria e metodologia. Dentre os novos<br />
enfoques apresentados por esses pesquisadores estão: a história vista <strong>de</strong><br />
baixo, a história urbana, a história oral e a história cultural.<br />
Tratando <strong>de</strong>sses novos enfoques e, especificamente, da história cultural,<br />
Chartier (1991) ressalta que as mudanças produzidas no trabalho histórico,<br />
nesses últimos anos, foram possibilitadas pelo distanciamento que as próprias<br />
práticas <strong>de</strong> pesquisa tomavam em relação aos princípios e procedimentos<br />
forjados, principalmente, pelo marxismo e estruturalismo.<br />
O projeto <strong>de</strong> uma história global/total, a <strong>de</strong>finição territorial dos objetos<br />
<strong>de</strong> pesquisa e o primado conferido ao recorte social foram, segundo o autor<br />
antes citado, os essenciais princípios que governaram o procedimento histórico<br />
há vinte ou trinta anos. Todavia, “este conjunto <strong>de</strong> certezas abalou-se<br />
progressivamente, <strong>de</strong>ixando o campo livre a uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens e<br />
compreensões” (CHARTIER, 1990, p.176).<br />
Mas, como salientamos anteriormente, é particularmente com os<br />
elementos já mencionados das teorias <strong>de</strong> Certeau e Chartier, que nos<br />
respaldamos nessa pesquisa e é essa reflexão que nos propomos a partir <strong>de</strong><br />
agora.<br />
Iniciamos, portanto, com a noção do real no fazer histórico apresentada<br />
por Certeau (2008). Para este teórico existem duas posições <strong>de</strong>sse real: uma<br />
que é “o real enquanto conhecido”, e a outra “o real enquanto implicado pela<br />
operação científica”. A primeira posição trata-se do que o historiador<br />
compreen<strong>de</strong> ou, nas palavras <strong>de</strong> Certeau, ressuscita <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />
passada, e a segunda, está relacionada à problemática do historiador, aos<br />
procedimentos e modos <strong>de</strong> compreensão e à prática do sentido. Portanto,<br />
como sintetiza Certeau (2008, p. 45) “<strong>de</strong> um lado o real é o resultado da análise<br />
e, <strong>de</strong> outro, é o seu postulado”.<br />
25
Nesse sentido, são <strong>de</strong>ssas duas noções do real que nos apropriamos<br />
nessa pesquisa, pois o nosso objetivo não é apenas apresentar uma<br />
compreensão do que foi a realida<strong>de</strong> do GESL, nem mesmo elaborar,<br />
meramente, um conhecimento a partir do que <strong>de</strong>mandam instituições e <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>de</strong> pesquisadores que legitimam essa investigação, mas tentar fazer a<br />
interação <strong>de</strong>sses dois objetivos, já que como afirma Certeau (2008, p.45)<br />
“estas duas formas da realida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>m ser nem eliminadas nem reduzidas<br />
uma a outra. A ciência histórica existe, precisamente, na sua relação”.<br />
Quando Certeau discute essas noções da realida<strong>de</strong> no fazer histórico,<br />
indica-nos elementos que compõem o que ele <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “operação<br />
historiográfica”. Chamamos <strong>de</strong> elementos os três pontos da relação que<br />
caracteriza a história como uma operação. Esses pontos são: as práticas<br />
científicas, a escrita da história e um lugar social, o qual <strong>de</strong>ve está combinado<br />
aos dois primeiros elementos. Para Certeau,<br />
26<br />
Encarar a história como uma operação será tentar, <strong>de</strong> maneira<br />
necessariamente limitada, compreendê-la como a relação entre um<br />
lugar (um recrutamento, um meio, uma profissão, etc.),<br />
procedimentos <strong>de</strong> análise (uma disciplina) e a construção <strong>de</strong> um<br />
texto (uma literatura). É admitir que ela faz parte da ‘realida<strong>de</strong>’ da<br />
qual trata, e que essa realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser apropriada ‘enquanto<br />
ativida<strong>de</strong> humana’, ‘enquanto prática’. Nesta perspectiva, gostaria <strong>de</strong><br />
mostrar que a operação histórica se refere à combinação <strong>de</strong> um<br />
lugar social, <strong>de</strong> práticas ‘científicas’ e <strong>de</strong> uma escrita. (CERTEAU,<br />
2008, p. 66, grifos no original)<br />
Nesse sentido, concordamos e nos i<strong>de</strong>ntificamos com essa abordagem<br />
elaborada por Certeau, pois o mesmo, além <strong>de</strong> enfatizar na pesquisa histórica<br />
a inovação na escolha <strong>de</strong> um objeto <strong>de</strong> estudo, na sua problemática e<br />
procedimentos metodológicos, acrescenta a construção do discurso, ou seja,<br />
evi<strong>de</strong>ncia também a elaboração do texto, o qual organiza as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
sentidos da pesquisa. E é importante frisar que tudo isso que integra a<br />
operação histórica está relacionado entre si e com um lugar social, que<br />
implica um meio <strong>de</strong> elaboração circunscrito por <strong>de</strong>terminações<br />
próprias: uma profissão liberal, um posto <strong>de</strong> estudo ou <strong>de</strong> ensino,<br />
uma categoria <strong>de</strong> letrados etc. Encontra-se, portanto, submetido a<br />
opressões, ligada a privilégios, enraizada em uma particularida<strong>de</strong>.<br />
(CERTEAU, 1979, p. 18)
Ainda consi<strong>de</strong>ramos oportuno explicitar que, como Certeau, a obra<br />
valorativa no âmbito da história é<br />
27<br />
[...] aquela que é reconhecida como tal pelos seus pares. Aquela que<br />
po<strong>de</strong> se situar num conjunto operatório. Aquela que representa um<br />
progresso, em relação ao estatuto atual dos ‘objetos’ e dos métodos<br />
históricos, e que, ligada ao meio no qual é elaborada, torna<br />
possíveis, a partir daí, novas pesquisas. (CERTEAU, 1979, p.23)<br />
Concernente à categoria representação, formulada na perspectiva <strong>de</strong><br />
Chartier, a elegemos porque lidamos com elaborações produzidas em outros<br />
momentos históricos, com finalida<strong>de</strong>s próprias para sua época. Melhor<br />
esclarecendo, trabalhamos com textos publicados em jornais e revistas,<br />
mensagens <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>ntes, fotografias, entre outras fontes, que quando<br />
produzidos procuravam aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>terminados objetivos do período. Portanto,<br />
estamos explorando formas <strong>de</strong> representação da realida<strong>de</strong> do GESL para<br />
construir um conhecimento acerca <strong>de</strong>ssa instituição. E esse conhecimento<br />
científico que elaboramos é também para nós uma forma <strong>de</strong> representação, já<br />
que não há reprodução fiel da realida<strong>de</strong> do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em foco.<br />
É crucial <strong>de</strong>stacarmos que essas formas <strong>de</strong> representação <strong>de</strong> uma<br />
realida<strong>de</strong> (reportagens, mensagens <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>ntes, fotografias e etc.) estão<br />
sendo vistas por nós, como já mencionamos em outro momento, como<br />
percepções não neutras.<br />
O que nos levou a eleger tal categoria para a realização da nossa<br />
pesquisa foi, além do que apontamos anteriormente, o trabalho com<br />
documentos elaborados por diferentes <strong>grupo</strong>s sociais, como: redatores <strong>de</strong><br />
jornais, memorialistas, presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> estado, fotógrafos etc., pois, como<br />
<strong>de</strong>staca Chartier (1990), as representações do mundo social são sempre<br />
<strong>de</strong>terminadas pelos interesses <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s que as forjam.<br />
Segundo o autor acima citado, a representação refere-se à pedra<br />
angular <strong>de</strong> uma abordagem em nível <strong>de</strong> história cultural, uma vez que<br />
Mais do que o conceito <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>, ela [a representação]<br />
permite articular três modalida<strong>de</strong>s da relação com o mundo social:<br />
em primeiro lugar, o trabalho <strong>de</strong> classificação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação que<br />
produz as configurações intelectuais múltiplas, através das quais a<br />
realida<strong>de</strong> é contraditoriamente construída pelos diferentes <strong>grupo</strong>s;<br />
seguidamente, as práticas que visam fazer reconhecer uma<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social, exibir uma maneira própria <strong>de</strong> estar no mundo,
28<br />
significar simbolicamente um estatuto e uma posição; por fim, as<br />
formas institucionalizadas e objectivadas graças às quais uns<br />
‘representantes’ (instâncias colectivas ou pessoas singulares)<br />
marcam <strong>de</strong> forma visível e perpetuada a existência do <strong>grupo</strong>, da<br />
classe ou da comunida<strong>de</strong>. (CHARTIER, 1990, p.23)<br />
Então, foi com base nas discussões travadas até aqui que organizamos<br />
nossa dissertação em quatro capítulos, cada um com subdivisões.<br />
Além <strong>de</strong>ssa introdução, o capítulo que se segue inicia uma discussão<br />
acerca dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es como uma nova organização do ensino primário<br />
no Brasil, especificando a relação entre o i<strong>de</strong>ário educacional republicano e a<br />
implantação <strong>de</strong>ssa nova organização do ensino em alguns estados brasileiros.<br />
Realizamos também uma leitura sobre a regulamentação <strong>de</strong>ssa organização<br />
<strong>escolar</strong> no estado da Paraíba, com análise <strong>de</strong> alguns aspectos do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong><br />
número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917 e, fechando esse capítulo, refletimos<br />
sobre a implantação do GESL.<br />
A arquitetura do GESL e a discussão concernente à relação escola e<br />
cida<strong>de</strong> compuseram, fundamentalmente, o terceiro capítulo. Portando,<br />
realizamos inicialmente uma reflexão sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, em<br />
seguida, discutimos acerca da construção do prédio do referido <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />
Além disso, observamos que o mesmo foi construído no momento que<br />
Campina Gran<strong>de</strong> estava em consi<strong>de</strong>rável processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização.<br />
Observamos também que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba constituíram um<br />
projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização para as cida<strong>de</strong>s. E finalizando o mesmo capítulo,<br />
discutimos o GESL como espaço que educa e civiliza.<br />
No quarto e último capítulo o foco da discussão foi as festas <strong>escolar</strong>es<br />
realizados no/pelo GESL. Portanto, a solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração, algumas<br />
datas comemorativas, a festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantação do Cinema Educativo e<br />
algumas exposições <strong>escolar</strong>es <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> foram refletidas no que<br />
concerne especialmente aos sentidos instituídos e à representação pelos<br />
indivíduos que <strong>de</strong>las participavam.
CAPÍTULO 2 – GRUPO ESCOLAR: UM NOVO MODELO DE ESCOLA<br />
PRIMÁRIA<br />
Nesse capítulo, procuramos <strong>de</strong>senvolver uma discussão sobre os<br />
<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es como uma nova organização do ensino primário no Brasil,<br />
estabelecendo uma relação entre o i<strong>de</strong>ário educacional republicano e a<br />
implantação <strong>de</strong>ssa nova organização do ensino em alguns estados brasileiros.<br />
É nosso objetivo também, realizar uma reflexão sobre a regulamentação <strong>de</strong>sse<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária na Paraíba, focando alguns aspectos do<br />
<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917. Por fim, buscamos<br />
discutir sobre a implantação do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, o<br />
GESL.<br />
2.1 - O i<strong>de</strong>ário educacional republicano e a implantação <strong>de</strong> uma nova<br />
escola primária no Brasil: os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />
Des<strong>de</strong> o final do oitocentos e, principalmente, durante a primeira meta<strong>de</strong><br />
do século XX, o <strong>de</strong>bate sobre a construção da nacionalida<strong>de</strong> brasileira,<br />
mediante a instrução pública, ganhou visibilida<strong>de</strong> nos discursos <strong>de</strong> intelectuais<br />
do período, como por exemplo, nas idéias <strong>de</strong> Benjamin Constant, Manoel<br />
Bomfim e Rui Barbosa. É no discurso <strong>de</strong> intelectuais como esses e políticos da<br />
época que a educação <strong>escolar</strong>izada voltada a toda população do Brasil,<br />
consagra-se como um dos elementos principais para possibilitar a configuração<br />
da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, bem como, o <strong>de</strong>senvolvimento do país, em termos,<br />
principalmente, sócio-econômicos.<br />
Em 1890, Benjamin Constant lança sua reforma do ensino,<br />
contemplando o ensino primário e o secundário. Essa reforma, embora voltada<br />
ao Distrito Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> acordo com Saviani (2007, p.165) “po<strong>de</strong>ria constituir-se<br />
em referência para a organização do ensino nos estados”.<br />
Benjamin Constant tinha como princípios básicos, voltados à educação<br />
<strong>escolar</strong>izada, a liberda<strong>de</strong> e laicida<strong>de</strong> do ensino. Este positivista <strong>de</strong>fendia<br />
também o ensino obrigatório, <strong>de</strong>stacando a necessida<strong>de</strong> da escola preparar<br />
novas opiniões e costumes para propiciar um suposto <strong>de</strong>senvolvimento<br />
29
nacional. Essa idéia po<strong>de</strong> ser percebida no seguinte trecho escrito por<br />
Nogueira e Lima, quando tratam do i<strong>de</strong>al republicano <strong>de</strong> Benjamin Constant:<br />
30<br />
A obrigatorieda<strong>de</strong> do ensino é uma das muitas panacéias inventadas<br />
para sanar males que não comportam remédio legal e que só po<strong>de</strong>m<br />
ser <strong>de</strong>belados pela modificação gradual e lenta das opiniões e dos<br />
costumes. (NOGUEIRA; LIMA, 1936, p. 131)<br />
Seguindo a mesma idéia <strong>de</strong> educação <strong>escolar</strong> como possibilida<strong>de</strong> para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma nação Manoel Bomfim em sua obra A América Latina:<br />
males <strong>de</strong> origem, publicada em 1903, ao discutir o problema da nacionalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> paises sul-americanos assinala a instrução popular como meio essencial e<br />
indispensável ao progresso <strong>de</strong> um país. Segundo Bomfim,<br />
É pela difusão da instrução, criando um meio intelectual mais largo e<br />
mais elevado, tornando novos campos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> se<br />
<strong>de</strong>safoguem os espíritos <strong>de</strong> combatentes e ardorosos - é por esse<br />
meio que se obterá a transformação <strong>de</strong>ssas lutas: elevando<br />
suficientemente o nível intelectual das populações, porque não se<br />
prestam a quanto levante a caudilhagem prepara, porque não vão<br />
bestialmente atrás <strong>de</strong> todo o ambicioso que as convida para assaltar<br />
o governo, pronto a espingar<strong>de</strong>á-la <strong>de</strong>pois. Enquanto não <strong>de</strong>rem à<br />
massa popular essa instrução, continuando a pesar sobre as<br />
socieda<strong>de</strong>s esta influência nefasta do passado, as lutas materiais<br />
persistirão, concorrendo para fazer estas nacionalida<strong>de</strong>s cada vez<br />
mais infelizes [...]. (BOMFIM, 1993, p.283)<br />
Sendo assim, fica claro que para Bomfim é, sobretudo, por meio da<br />
educação e da conscientização da população que um país po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-<br />
se ou usando suas palavras, po<strong>de</strong> sair da posição <strong>de</strong> “parasitado”.<br />
Esse autor ainda reforça a idéia <strong>de</strong> educação como meio para o<br />
progresso <strong>de</strong> uma nação, usando a metáfora <strong>de</strong> instrução popular como<br />
remédio para salvar um país da doença <strong>de</strong>nominada atraso. Todavia, Bomfim<br />
esclarece que a instrução popular não é a única forma <strong>de</strong> alcançar o progresso<br />
<strong>de</strong> uma nação, mas o “meio principal” para atingi-lo (BOMFIM, 1993).<br />
Em uma mesma linha <strong>de</strong> raciocínio, Rui Barbosa aponta a educação<br />
para o povo brasileiro como condição necessária para a superação dos males<br />
que afligiam a nação, do ponto <strong>de</strong> vista econômico, político e social. Ou seja, a<br />
educação seria o elemento indispensável para a transformação da nação.<br />
Transformação esta que venceria a ignorância da população, possibilitando a
evolução e mo<strong>de</strong>rnização do país (NASCIMENTO, 1997). Essa concepção está<br />
ilustrada no seguinte discurso <strong>de</strong> Rui,<br />
31<br />
A chave misteriosa das <strong>de</strong>sgraças que nos afligem é esta, é só esta:<br />
a ignorância popular, mãe da servilida<strong>de</strong> e da miséria. Eis a gran<strong>de</strong><br />
ameaça contra a existência constitucional e livre da nação, eis o<br />
formidável inimigo, o inimigo intestino, que se asila nas entranhas do<br />
País. Para o vencer releva instauremos o serviço da <strong>de</strong>fesa nacional<br />
contra a ignorância, serviço a cuja frente incumbe ao parlamento a<br />
missão <strong>de</strong> colocar-se intransigentemente à tibieza dos nossos<br />
governos e cumprimento do seu supremo <strong>de</strong>ver para com a pátria...<br />
A educação geral do povo é exatamente, na mais literal acepção da<br />
palavra, o primeiro elemento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, a mais <strong>de</strong>cisiva condição <strong>de</strong><br />
superiorida<strong>de</strong> militar e a maior <strong>de</strong> todas as forças produtivas.<br />
(BARBOSA, 1947, p. 121-122)<br />
Desse modo, a educação consagra-se como mister para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da nação brasileira.<br />
Tratando dos pareceres <strong>de</strong> Rui Barbosa, Machado (2004) salienta que<br />
nesses o republicano <strong>de</strong>fendia a educação <strong>escolar</strong>izada, voltada a toda<br />
população, como espaço <strong>de</strong> formação da inteligência popular, a qual, nas<br />
idéias do próprio Rui, era fundamental para a reconstituição do caráter<br />
nacional. Especificando a idéia <strong>de</strong> educação proposta por Rui a autora acima<br />
mencionada cita que:<br />
A educação, para Rui Barbosa, po<strong>de</strong>ria contribuir para promover a<br />
transformação do país em diversas instâncias. Ele propõe a<br />
educação técnica e científica com vistas na preparação do escravo<br />
liberto e do trabalhador nacional para o trabalho agrícola e,<br />
principalmente, industrial. Preocupa-se também com a preparação<br />
do homem para exercer a cidadania, participar como cidadão<br />
esclarecido da vida política do país; país este <strong>de</strong>mocrático. O<br />
sufrágio universal estava diretamente ligado à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
instrução. (MACHADO, 2004, p.76)<br />
Frente a essa citação fica evi<strong>de</strong>nte a idéia <strong>de</strong> Rui <strong>de</strong> que é papel da<br />
educação <strong>escolar</strong>izada formar homens para promoverem mudanças no Brasil;<br />
mudanças <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, histórica e econômica, ou seja, para Rui “a escola<br />
foi colocada [...] como condição <strong>de</strong> progresso” (MACHADO, 2004, p.77).<br />
A partir do exposto, concernente às idéias <strong>de</strong> Benjamin Constant,<br />
Manoel Bomfim e Rui Barbosa, foi possível perceber uma concordância no que<br />
tange ao papel da educação <strong>escolar</strong>. Essa concordância, apontada<br />
anteriormente, refere-se ao i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> uma educação que tinha o propósito <strong>de</strong>
ser disseminada a todo povo brasileiro como forma <strong>de</strong> assegurar uma<br />
transformação que, grosso modo, na visão <strong>de</strong>sses e outros pensadores da<br />
época, propiciaria o progresso. Portanto, a idéia era civilizar, moralizar, educar<br />
e regenerar a socieda<strong>de</strong> para assim formar uma nação adiantada.<br />
No interior <strong>de</strong>sse contexto, no qual permeia a idéia <strong>de</strong> construção/<br />
transformação da nação brasileira como projeto eminentemente educacional,<br />
sobressai o objetivo <strong>de</strong> difundir o ensino a toda população.<br />
32<br />
[...] Por todas as regiões do país verificam-se semelhanças nas<br />
representações e nas práticas discursivas em torno da importância<br />
política e social da instrução pública vinculada às expectativas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento econômico, <strong>de</strong> progresso, <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e <strong>de</strong><br />
manutenção do regime republicano [...]. (SOUZA E FARIA FILHO,<br />
2006, p.29)<br />
Esse objetivo <strong>de</strong> difusão da educação <strong>escolar</strong>izada à população em<br />
massa, <strong>de</strong> acordo com Saviani (2004), é proposto, a priori, para ser <strong>de</strong>ixado<br />
sob a responsabilida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r Central, que teria a tarefa <strong>de</strong> organizar e<br />
manter integralmente escolas em todo território brasileiro, principalmente no<br />
ensino primário.<br />
Contudo, nesse momento, a responsabilida<strong>de</strong> do ensino primário ficou a<br />
cargo único dos estados fe<strong>de</strong>rativos, aos quais cabia legislar e promover esse<br />
nível <strong>de</strong> ensino. Isso po<strong>de</strong> ser observado no seguinte citação:<br />
Essa realida<strong>de</strong> [do privilégio do ensino secundário e superior em<br />
<strong>de</strong>trimento da expansão do ensino primário] foi consagrada<br />
legalmente com a Constituição <strong>de</strong> 1891, que reafirmou a<br />
<strong>de</strong>scentralização <strong>escolar</strong>, já <strong>de</strong>finida em 1834, cabendo agora aos<br />
estados a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter e legislar sobre o ensino<br />
primário e o ensino profissional. A oligarquia cafeeira, na <strong>de</strong>fesa dos<br />
princípios do fe<strong>de</strong>ralismo e da autonomia dos estados, <strong>de</strong>sobrigavase<br />
<strong>de</strong> propor políticas educacionais nacionais, consolidando-se as<br />
enormes diferenças entre as regiões e perpetuando a precarieda<strong>de</strong><br />
do ensino primário. (ZOTTI, 2004, p.68)<br />
Aos estados, portanto, ficou a incumbência <strong>de</strong> criar e instituir suas<br />
próprias leis, evi<strong>de</strong>ntemente, respeitando a lei suprema, a Constituição <strong>de</strong><br />
1891. Para elucidar essa política <strong>de</strong>scentralizada <strong>de</strong>stacamos o que é<br />
<strong>de</strong>terminado no artigo 63 da citada lei “Cada Estado reger-se-á pela<br />
Constituição e pelas leis que adotar respeitados os princípios constitucionais da<br />
União” (BRASIL, 1891).
Desse modo, observamos certa omissão quanto à obrigação do po<strong>de</strong>r<br />
central com o ensino primário e percebemos que “[foram] os estados que<br />
[ficaram para] enfrentar a questão da difusão da instrução mediante a<br />
disseminação das escolas primárias” (SAVIANI, 2004, p.22-23).<br />
Então, sob a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada estado brasileiro, a escola<br />
primária vai sendo disseminada primeiramente nas regiões que melhor podiam<br />
oferecê-la, como foi o caso do estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Com ritmos e especificida<strong>de</strong>s próprias entre as regiões, essa<br />
disseminação, situada entre o fim do Império e a primeira meta<strong>de</strong> da<br />
República, inaugura o novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensino primário no Brasil: o dos <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es.<br />
Esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização do ensino, conforme Souza (2004),<br />
recebeu influência da organização <strong>escolar</strong> instalada em paises consi<strong>de</strong>rados<br />
civilizados, como Estados Unidos e vários paises europeus, citando alguns,<br />
Alemanha, França e Portugal.<br />
A primeira implantação <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> ensino primário<br />
no Brasil foi no estado <strong>de</strong> São Paulo, que, segundo Souza (1998), data do ano<br />
<strong>de</strong> 1893. Essa implantação <strong>de</strong>correu da organização do sistema público <strong>de</strong><br />
ensino, introduzido pelos republicanos naquele estado.<br />
Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, portanto, passaram a caracterizar um novo mo<strong>de</strong>lo<br />
organizacional <strong>de</strong> ensino que corroborava as idéias <strong>de</strong> disseminação do ensino<br />
em massa. Idéias essas difundidas, como já citamos, por intelectuais e políticos<br />
da época para possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento nacional e assim aten<strong>de</strong>r a um<br />
dos objetivos do novo regime implantado no país, a República. Nesse sentido,<br />
33<br />
Tratava-se <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização do ensino elementar mais<br />
racionalizado e padronizado com vistas a aten<strong>de</strong>r um gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> crianças, portanto, uma escola a<strong>de</strong>quada à <strong>escolar</strong>ização em<br />
massa e às necessida<strong>de</strong>s da universalização da educação popular.<br />
Ao implantá-lo, políticos, intelectuais e educadores paulistas<br />
almejavam mo<strong>de</strong>rnizar a educação e elevar o país ao patamar dos<br />
paises mais <strong>de</strong>senvolvidos. (SOUZA, 2006, p. 35)<br />
Assim como no estado <strong>de</strong> São Paulo, outros estados brasileiros<br />
incorporaram esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organizar o ensino primário.
No estado do Maranhão, <strong>de</strong> acordo com Motta (2006, p. 144), “os <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es foram instituídos inicialmente no município <strong>de</strong> São Luís - capital do<br />
estado - pela Lei Estadual n°323, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1903”. No mesmo ano<br />
(1903), esse mo<strong>de</strong>lo é também implantado no Paraná, especificamente em<br />
Curitiba, a partir da qual se esten<strong>de</strong> às <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s paranaenses (SAVIANI,<br />
2007).<br />
Em 1902, conforme Faria Filho (2000), o inspetor do ensino <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais ao fazer uma viagem a São Paulo fica <strong>de</strong>slumbrado com a organização<br />
das escolas primárias do estado. A partir <strong>de</strong> então leva a proposta ao estado<br />
<strong>de</strong> Minas Gerais, que em 1906 a<strong>de</strong>re, <strong>de</strong> fato, ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es,<br />
construindo e implantando em Belo Horizonte o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, tendo<br />
da mesma forma como em São Paulo, o objetivo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizar a educação e,<br />
consequentemente, promover a melhoria do estado <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />
No Rio Gran<strong>de</strong> do Norte e no estado do Espírito Santo, o primeiro <strong>grupo</strong><br />
<strong>escolar</strong> é instalado em 1908 (SAVIANI, 2007). Esses também foram<br />
amplamente influenciados pelo sucesso da implantação do mo<strong>de</strong>lo em São<br />
Paulo.<br />
Em Santa Catarina, a instalação do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> data do ano<br />
<strong>de</strong> 1911. Como po<strong>de</strong>mos verificar na seguinte citação:<br />
34<br />
A reforma da instrução catarinense autorizada em 1910 e levada a<br />
efeito em 1911 sob o comando <strong>de</strong> Orestes Guimarães é tida como a<br />
mais importante reforma do ensino <strong>de</strong>sse estado, consi<strong>de</strong>rando-se<br />
aquelas empreendidas ao longo do século. Não causa surpresa a<br />
constatação <strong>de</strong> que o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> catarinense tenha como<br />
origem o Collegio Municipal <strong>de</strong> Joinville, o qual, após reformas para<br />
adaptação, foi inaugurado em 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1911 com o nome<br />
<strong>de</strong> Grupo Escolar Conselheiro Mafra. (SILVA, 2006, p.347)<br />
No mesmo ano (1911) em que foi inaugurado em Santa Catarina o<br />
primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> é também implantado em Sergipe esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
ensino primário (SAVIANI, 2007).<br />
No estado do Mato Grosso, a implantação <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensino foi<br />
realizada no ano <strong>de</strong> 1910. De acordo com Reis (2006), a instauração dos<br />
<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es daria base ao objetivo da presidência em industrializar o
estado a partir <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>rnização no sistema <strong>escolar</strong>. Reis afirma que a<br />
presidência do Mato Grosso observou que,<br />
35<br />
[...] para proce<strong>de</strong>r a essa reforma e conseguir atingir sua meta,<br />
<strong>de</strong>veria mo<strong>de</strong>rnizar o sistema <strong>escolar</strong>. Ao perceber a precarieda<strong>de</strong><br />
da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino, Pedro Celestiano [presi<strong>de</strong>nte do estado]<br />
realizou uma reforma no ensino primário quatro dias após sua posse<br />
no governo, começando pela implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />
mediante um regulamento promulgado nas primeiras décadas do<br />
século XX. (REIS, p.205)<br />
No estado do Piauí, segundo Lopes (2006a), os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es são<br />
criados legalmente em 1910 pela reforma da educação. No entanto, esse autor<br />
afirma que é apenas em 1922 que, <strong>de</strong> fato, é implantado o primeiro <strong>grupo</strong><br />
<strong>escolar</strong> nesse estado.<br />
[...] a implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, no Piauí, foi antecedida<br />
pela implantação das escolas reunidas, no período <strong>de</strong> 1905 a 1922.<br />
Em 1922, temos, como marco divisório, a criação do Grupo Escolar<br />
Miranda Osório, em Parnaíba, pelo que representou <strong>de</strong> diferenciação<br />
em relação às escolas reunidas situadas na capital, Teresina,<br />
fundadas em 1910. (LOPES, 2006a, p.82)<br />
Na Paraíba, a inauguração do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> data do ano <strong>de</strong><br />
1916, na atual capital João Pessoa. Todavia, o i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> criar este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
ensino remonta a anos anteriores,<br />
[...] a idéia <strong>de</strong> criar <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es como instituição autônoma<br />
remonta a 1908, quando o presi<strong>de</strong>nte do estado, em mensagem<br />
enviada à Assembléia legislativa, ressaltou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar<br />
uma reforma na instrução pública, apontando a importância <strong>de</strong><br />
criação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es para a ‘mo<strong>de</strong>rna educação’.<br />
(PINHEIRO, 2002, p.127)<br />
Nesse estado, a expansão dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es apresentou um<br />
consi<strong>de</strong>rável ritmo, que Pinheiro (2002), consi<strong>de</strong>rou um “crescimento<br />
permanente” que vai principalmente <strong>de</strong> 1916 a 1929.<br />
Então, como pu<strong>de</strong>mos observar nessa breve síntese sobre a<br />
implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es em alguns estados do Brasil, o mo<strong>de</strong>lo foi<br />
ganhando espaço e se configurando como principal escola <strong>de</strong> ensino primário<br />
no período já mencionado. Essa implantação, conforme Vidal (2006) percorreu<br />
todo território nacional, embora com ritmos diferenciados.
Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es foram criados com o objetivo <strong>de</strong> reunir em um só<br />
prédio várias salas <strong>de</strong> aulas, ou seja, reunir as chamadas ca<strong>de</strong>iras isoladas ou<br />
escolas isoladas. Todavia, o objetivo <strong>de</strong>sse novo mo<strong>de</strong>lo não se limitava<br />
somente a esse propósito. Propiciaram a organização do ensino em sistema<br />
seriado, divisão do trabalho <strong>escolar</strong> (diretor, professor, porteiro, faxineira entre<br />
outros funcionários), possível homogeneida<strong>de</strong> com o agrupamento dos alunos<br />
em classes conforme o nível <strong>de</strong> conhecimento, racionalização curricular,<br />
controle e distribuição or<strong>de</strong>nada do tempo e conteúdos (SOUZA, 2004).<br />
Portanto, os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es compreen<strong>de</strong>ram uma mo<strong>de</strong>rnização<br />
educacional no Brasil, já que propiciaram a superação da organização precária<br />
das ca<strong>de</strong>iras isoladas. Todavia, essa mo<strong>de</strong>rnização ultrapassou o âmbito<br />
educacional, haja vista que “[...] os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es [...] marcaram a nova<br />
feição urbana em pleno processo <strong>de</strong> mudança [nos centros urbanos] e<br />
serviram, por conseguinte, para embelezar a cida<strong>de</strong> e dar-lhe novo ar <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> [...]” (PINHEIRO, 2002, p.147).<br />
Além disso, essa nova institucionalização da escola primária tinha em<br />
foco o compromisso com os i<strong>de</strong>ais republicanos e com as perspectivas <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rnização da socieda<strong>de</strong> brasileira. Por isso, segundo Souza e Faria Filho<br />
(2006), as propostas para o ensino, nessa nova organização <strong>escolar</strong>, lançadas<br />
por políticos, intelectuais, reformadores e profissionais da educação pública,<br />
contemplavam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> civilização da nação, moralização dos<br />
costumes, disciplinarização da classe trabalhadora e inculcação <strong>de</strong> valores<br />
cívico-patrióticos.<br />
Nesse sentido, consi<strong>de</strong>ramos que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es corroboraram o<br />
i<strong>de</strong>ário republicano educacional, já que além <strong>de</strong> serem implantados<br />
concomitante com a efervescência <strong>de</strong>sses i<strong>de</strong>ais, apresentavam como um dos<br />
objetivos principais difundir o ensino primário à população em geral, através <strong>de</strong><br />
uma mo<strong>de</strong>rna organização <strong>escolar</strong>.<br />
36
2.2 – A regulamentação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba: o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong><br />
número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917<br />
A política <strong>de</strong>scentralizadora instituída no advento da República teve um<br />
dos resultados a elaboração <strong>de</strong> várias reformas em âmbito estadual, a saber: a<br />
reforma Caetano <strong>de</strong> Campos iniciada em 1890 no estado <strong>de</strong> São Paulo<br />
(SAVIANI, 2004); a Reforma no ano <strong>de</strong> 1906 em Minas Gerais, durante a<br />
presidência <strong>de</strong> João Pinheiro da Silva (GONÇALVES, 2006); a lei Estadual 323<br />
<strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1903 no Maranhão (MOTTA, 2006); o regulamento <strong>de</strong> 1910<br />
em Mato Grosso (SILVA, 2006); a Reforma da Instrução Primária no governo<br />
Camillo <strong>de</strong> Hollanda na Paraíba em 1917 (MELLO, 1996), entre outras que<br />
integraram o conjunto <strong>de</strong> reformas estaduais, iniciadas no ano <strong>de</strong> 1890 até fins<br />
da década <strong>de</strong> 1920, no Brasil.<br />
Veiga (2007) ao tratar da educação <strong>escolar</strong>izada no Brasil no regime<br />
republicano <strong>de</strong>staca esse conjunto <strong>de</strong> reformas estaduais como um<br />
representativo movimento na história educacional do Brasil. Caracterizando tais<br />
reformas, a citada autora afirma que:<br />
37<br />
Essas reformas compõem um segundo movimento na estrutura<br />
educacional. Antes da criação do ministério foram reformas<br />
marcadamente estaduais, com <strong>de</strong>staque para a introdução do ensino<br />
laico, característica unificadora da escola republicana, pela<br />
separação da Igreja e o Estado; as reformas que criaram os <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es no início da República e as realizadas nas décadas <strong>de</strong><br />
1920 e 1930, ao introduzirem os <strong>de</strong>bates e métodos da Escola Nova,<br />
a organização dos institutos <strong>de</strong> educação e fundação das primeiras<br />
universida<strong>de</strong>s. De 1930 a 1970 as reformas tiveram cunho nacional,<br />
pelo estabelecimento das diretrizes a ser seguidas por todos os<br />
estados. (VEIGA, 2007, p.238-239)<br />
Consi<strong>de</strong>rando a discussão acima <strong>de</strong>stacada e a relevância <strong>de</strong> cada uma<br />
das reformas estaduais, selecionemos para discussão a Reforma da Instrução<br />
Primária do estado da Paraíba (1917). A opção por discutir essa reforma se<br />
justifica pela própria relevância que a mesma teve no âmbito da educação<br />
<strong>escolar</strong>izada no mencionado estado, assim como, pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
enten<strong>de</strong>r os primórdios da regulamentação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba,<br />
visto que essa reforma foi a principal em matéria <strong>de</strong> regulamentação <strong>de</strong>sta<br />
nova organização do ensino primário no referido estado.
Discutiremos a partir <strong>de</strong> agora alguns trechos da referida reforma que é<br />
referendada na História da <strong>Educação</strong> da Paraíba como a “maior obra [...] em<br />
matéria <strong>de</strong> instrução publica” (MELLO, 1996, p.83) para o início do século XX.<br />
Reforma que foi a principal a regulamentar os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es no estado da<br />
Paraíba, como já observado por Paiva, Lima e Pinheiro (2006, p. 5774):<br />
38<br />
A reforma implicou, entre outras medidas e que foram<br />
sacramentadas em forma <strong>de</strong> lei na implementação <strong>de</strong> um novo<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização <strong>escolar</strong> – os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es. Após a<br />
criação do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, foi introduzida na instrução<br />
primária paraibana uma série <strong>de</strong> modificações e inovações na<br />
estrutura administrativo-pedagógica do ensino, contribuindo <strong>de</strong>sta<br />
forma para o surgimento <strong>de</strong> novos sujeitos da educação.<br />
Essa reforma foi sancionada no governo do Dr. Francisco Camillo <strong>de</strong><br />
Hollanda, mediante o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917.<br />
Veio substituir principalmente o regulamento <strong>de</strong> número 241, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> agosto<br />
<strong>de</strong> 1904, baixado pelo então presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Estado José Peregrino <strong>de</strong> Araújo<br />
(1900-1904). Nesse regulamento <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1904,<br />
procurou o Presi<strong>de</strong>nte dar uma orientação mais consentânea às<br />
coisas do ensino, visando melhorar as condições financeiras do<br />
professorado e incentivando-o ao cumprimento dos <strong>de</strong>veres, com o<br />
estabelecimento <strong>de</strong> medidas que melhor garantissem sua nobilitante<br />
missão (MELLO, 1996, p.76).<br />
Ainda concernente a esse antigo regulamento, foi divulgado no Jornal A<br />
União do ano <strong>de</strong> 1917, mais precisamente na matéria intitulada “Reforma da<br />
Instrucção”, o atraso com o qual era regida a instrução primária na Paraíba,<br />
principalmente quando comparada a outras unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração.<br />
Verificamos esse <strong>de</strong>svendamento no seguinte trecho:<br />
O regulamento vigente promulgado em 1904, moldado nas leis que<br />
vigoravam, não teve em conta elementos indispensaveis ao<br />
progresso pedagogico, já então postos em pratica com gran<strong>de</strong><br />
efficiencia em unida<strong>de</strong>s mais adiantadas da fe<strong>de</strong>ração. (Jornal A<br />
UNIÃO, 04/08/1917, p.01).<br />
De acordo como Mello (1996), os presi<strong>de</strong>ntes que suce<strong>de</strong>ram José<br />
Peregrino <strong>de</strong> Araújo procuraram a seus modos melhorar a situação da<br />
educação do estado. Mesmo, em muitos casos, não sendo através <strong>de</strong> atos<br />
concretos, ora por falta <strong>de</strong> recursos financeiros e ora por <strong>de</strong>ixar esse âmbito
para segundo plano, os administradores buscavam apontar as necessida<strong>de</strong>s<br />
que tal setor requeria, como foi o caso do presi<strong>de</strong>nte Walfredo Leal (1906-<br />
1908):<br />
39<br />
Na exposição feita ao passar o governo a seu substituto, lembra o<br />
Mons. Walfredo Leal a necessida<strong>de</strong> da criação <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />
no Estado, ‘reforma esta que tão largos e fundos benefícios tem<br />
produzidos nos Estados que a introduziram, com o mais proveitoso<br />
dos sistemas <strong>de</strong> ensino, até hoje conhecidos’(MELLO, 1996, p.78)<br />
Assim, consi<strong>de</strong>rando as iniciativas tomadas pelos presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> estado<br />
no que tange à Instrução Primária, durante a Primeira República na Paraíba, é<br />
possível pensar que o regulamento <strong>de</strong> número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1917 possibilitou, oficialmente, a inauguração <strong>de</strong> novos ares no âmbito da<br />
instrução primária paraibana. Isso porque tal regulamento, <strong>de</strong>ntre outros<br />
aspectos, procurou legitimar um inovado mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola e regulamentou a<br />
introduziu novos atores educacionais, através da distribuição <strong>de</strong> outros serviços<br />
no processo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização.<br />
Para Frago (2001), as reformas no âmbito educacional são planos<br />
legalmente organizados para mudar as escolas, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrigir<br />
problemas sociais e educativos percebidos. Assim, digamos que essa reforma<br />
foi constituída mediante um diagnóstico do que vinha sendo a educação<br />
<strong>escolar</strong>izada paraibana. Ou, talvez, conforme Garcia (1995, p.224), para “a<br />
consolidação, a nível, político-institucional, das orientações emanadas dos<br />
<strong>grupo</strong>s dominantes na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte”.<br />
Atinente à elaboração da reforma em questão, o então presi<strong>de</strong>nte do<br />
estado, Francisco Camillo <strong>de</strong> Hollanda expressa em Mensagem apresentada a<br />
Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, em 1° <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1917, o<br />
seguinte:<br />
A instrucção publica tem sido o objeto principal dos meus cuidados,<br />
pois, como sabeis, é da resolução <strong>de</strong>sse magno problema que <strong>de</strong>riva<br />
directamente o aperfeiçoamento dos povos [...] Para tornar effectivo<br />
o meu pensamento <strong>de</strong> governo, neste particular, nomeei ultimamente<br />
uma comissão dos nossos pedagogos mais competentes para me<br />
formularem uma reforma do ensino publico em geral, e estou certo<br />
<strong>de</strong> prestar o melhor serviço à nossa terra se conseguirmos a<br />
introducção dos methodos didacticos e pedagogicos tão<br />
proficuamente experimentados no Estado <strong>de</strong> S. Paulo, que é o<br />
paradigma nacional nessa relevante matéria <strong>de</strong> instruccção publica.<br />
(ESTADO DA PARAHYBA DO NORTE, 1917, p.08-09)
A partir <strong>de</strong>ssa preocupação <strong>de</strong> melhorar a instrução pública na Paraíba,<br />
o citado presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado forma uma comissão para a elaboração da<br />
reforma que viria a ser sancionada pela lei n° 873 <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917,<br />
composta por sete membros: “professores José Francisco <strong>de</strong> Moura, Manuel<br />
Tavares Calvacanti, Odilon Coutinho, Alci<strong>de</strong>s Bezerra, Celso Affonso Pereira,<br />
José Gomes Coelho e José Fructuoso Dantas” (ESTADO DA PARAHYBA DO<br />
NORTE, 1917, p. 24).<br />
A elaboração <strong>de</strong>sse regulamento compreen<strong>de</strong>u aproximadamente sete<br />
meses, e está composto <strong>de</strong> 309 artigos, distribuídos em 16 Capítulos, cujos<br />
respectivos títulos são: Do curso primario; Do ensino particular; Da<br />
classificação das escolas; Do provimento das escolas; Do pessoal docente, dos<br />
seus direitos e <strong>de</strong>veres, vencimentos, faltas e licenças; Da matricula das aulas<br />
e exames; Do codigo disciplinar; Do material da escripturação <strong>escolar</strong>; Das<br />
escolas complementares; Dos jardins da infancia; Do ensino nocturno; Da<br />
direcção e inspecção do ensino; Das caixas <strong>escolar</strong>es e do fundo <strong>escolar</strong>; Da<br />
secretaria <strong>de</strong> instrucção publica; Da estatistica <strong>escolar</strong> e Disposições geraes.<br />
Entre os capítulos acima citados analisaremos, preferencialmente, os<br />
que tratam da criação e <strong>de</strong> alguns aspectos do funcionamento dos <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es, quais sejam dos novos serviços no âmbito <strong>de</strong>ssa instituição.<br />
2.2.1 – A regulamentação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na Paraíba<br />
Como já mencionado, o mo<strong>de</strong>lo dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, como uma nova<br />
organização do ensino primário no estado da Paraíba, é regulamentado<br />
principalmente pela Reforma Camillo <strong>de</strong> Hollanda.<br />
É necessário <strong>de</strong>stacar que a intenção <strong>de</strong> implementar essa nova<br />
organização <strong>escolar</strong> na Paraíba remonta ao ano <strong>de</strong> 1908, como já observamos<br />
no início <strong>de</strong>sse capítulo.<br />
Conforme Pinheiro (2006), os estímulos para a criação <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es nesse estado, durante os anos finais da primeira década do século<br />
40
XX não só motivou o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado, mas também os administradores<br />
municipais e os responsáveis diretos pela instrução pública. É, portanto, em<br />
meio a toda essa motivação <strong>de</strong> criar <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba que,<br />
41<br />
[...] em setembro <strong>de</strong> 1911, a diretoria Geral da Instrução Pública<br />
elaborou e encaminhou ao presi<strong>de</strong>nte do Estado um projeto <strong>de</strong><br />
reforma da instrução primária, que dava nova estrutura<br />
organizacional <strong>escolar</strong> paraibana <strong>de</strong>stacando, <strong>de</strong>ntre outros, os<br />
seguintes aspectos: ‘divisão do ensino em elementar e<br />
complementar; o ensino será ministrado em escolas isoladas e<br />
<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es; as disciplinas professoradas nas escolas serão<br />
distribuidas por quatro annos, sendo o curso complementar praticado<br />
no último anno e somente nos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es’. (PINHEIRO, 2006,<br />
111)<br />
Portanto, acreditamos que foi a partir <strong>de</strong>sse encaminhamento realizado<br />
pela Diretoria Geral da Instrução Pública que se teve, no estado da Paraíba,<br />
uma das primeiras tentativas <strong>de</strong> regulamentar os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.<br />
Segundo Mello (1996), na Paraíba alguns homens se <strong>de</strong>stacaram na<br />
<strong>de</strong>fesa da implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, sendo um <strong>de</strong>sses Francisco<br />
Xavier Filho 6 , quando diretor da Instrução Pública do Estado. Para o autor<br />
citado, foi particularmente no ano <strong>de</strong> 1912, através da seguinte proposta, que<br />
ficou bastante explícita essa <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Xavier Filho,<br />
Ainda em 1912, no final da administração, o esforçado Diretor<br />
propunha:<br />
a) nova regulamentação do ensino, contendo o que há <strong>de</strong> mais<br />
mo<strong>de</strong>rno e adaptável às nossas condições;<br />
b) instituição <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, pelo menos nas se<strong>de</strong>s dos<br />
municípios;<br />
c) construção <strong>de</strong> edifícios, com arquitetura mo<strong>de</strong>sta, mas específica;<br />
d) mobiliário conveniente e aparelhos <strong>de</strong> ensino;<br />
e) fiscalização das escolas, praticada por pessoal <strong>de</strong> competência<br />
técnica (MELLO,1996, p.81).<br />
Para Kulesza (2005), Xavier Filho estava informado sobre as<br />
transformações educacionais que ocorriam no sul do país e foi por isso que,<br />
em 1913, realizou uma excursão ao su<strong>de</strong>ste para conhecer in loco as escolas<br />
públicas daquela região, especificamente, as do estado <strong>de</strong> São Paulo. A<br />
intenção <strong>de</strong>sse diretor da Instrução pública, ressalta o referido autor, era<br />
6 Conforme Kulesza (2005) Francisco Xavier Filho foi entre outros cargos que ocupou diretor do<br />
Liceu Paraibano, Prefeito da Capital, fundador em 1905 do Instituto Histórico e Geográfico da<br />
Paraíba e Diretor da Instrução Pública do Estado a partir do ano <strong>de</strong> 1908.
implantar na Paraíba a prática educacional que vinha dando tão certo naquele<br />
estado.<br />
Esse fato, <strong>de</strong> pessoas envolvidas diretamente com a educação <strong>de</strong> um<br />
estado sair para observar como estava se dando a organização do ensino em<br />
outra região, particularmente em São Paulo, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tentar<br />
implantar em seu estado foi salientado por vários outros estudiosos, como, a<br />
título <strong>de</strong> exemplo, Faria Filho (2000), ao estudar a educação pública primária<br />
na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte na década <strong>de</strong> 1920. Salientemos, portanto, a<br />
<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>sse fato contada por este estudioso:<br />
42<br />
Ao realizar uma viagem ‘comissionada’ ao Rio <strong>de</strong> Janeiro e a São<br />
Paulo, o inspetor técnico do Ensino, Estevam <strong>de</strong> Oliveira, resi<strong>de</strong>nte<br />
em Juiz <strong>de</strong> Fora e <strong>de</strong> formação militar, ficou <strong>de</strong>slumbrado com o<br />
espetáculo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, civismo, disciplina, serieda<strong>de</strong> e competência<br />
que disse observar nas instituições <strong>de</strong> instrução primária da capital<br />
paulista.<br />
Corria o ano <strong>de</strong> 1902 e fazia menos <strong>de</strong> uma década que havia sido<br />
criado em São Paulo (no Brasil) o primeiro estabelecimento do tipo<br />
que tanto impressionara nosso inspetor: o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />
Acostumado que estava com a forma <strong>de</strong> organização do ensino<br />
primário através das escolas isoladas, Estevam <strong>de</strong> Oliveira passou,<br />
então, a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r ardorosamente a adoção dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />
como a forma mais mo<strong>de</strong>rna e eficiente <strong>de</strong> organizar a instrução.<br />
(FARIA FILHO, 2000, p.27)<br />
Como pu<strong>de</strong>mos observar a tentativa <strong>de</strong> criar e regulamentar <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es na Paraíba remonta respectivamente aos anos <strong>de</strong> 1908 e 1911. Mas,<br />
quanto à regulamentação <strong>de</strong>ssa nova organização do ensino primário, é<br />
fundamentalmente a partir da reforma instaurada no ano <strong>de</strong> 1917, no governo<br />
Camillo <strong>de</strong> Hollanda, que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, enquanto novo mo<strong>de</strong>lo,<br />
recebem contornos mais visíveis para sua melhor efetivação.<br />
O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> é apresentado nessa reforma <strong>de</strong> 1917 como<br />
parte integrante do ensino elementar, o qual podia ser ministrado em escolas<br />
isoladas, escolas reunidas e <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.<br />
O ensino elementar, segundo a reforma <strong>de</strong> 1917, podia ser implantado<br />
no estado da Paraíba tanto em cida<strong>de</strong>s como em vilas e povoados. Todavia,<br />
para que se criasse esse ensino era imprescindível que uma <strong>de</strong>terminada<br />
localida<strong>de</strong> possibilitasse uma freqüência <strong>escolar</strong> <strong>de</strong>, no mínimo, trinta alunos.
A<strong>de</strong>mais, esse ensino apresentava a seguinte categorização, conforme o Art.<br />
18 do mesmo regulamento:<br />
43<br />
As escolas elementares serão assim classificadas:<br />
a) – escolas <strong>de</strong> primeira categoria, situadas <strong>de</strong>ntro do perímetro<br />
urbano da capital;<br />
b) – escolas <strong>de</strong> segunda categoria, as das cida<strong>de</strong>s;<br />
c) – escolas <strong>de</strong> terceira categoria, as das villas;<br />
d) – escolas <strong>de</strong> quarta categoria, as das povoações. (Parahyba do<br />
Norte, Estado da. 1917).<br />
Assim, é possível vislumbrar nessa classificação uma suposta<br />
hierarquização do ensino elementar em relação à localização geográfica. Em<br />
outros termos, on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento - urbano, populacional, econômico<br />
entre outros - fosse ascen<strong>de</strong>nte, mais inclusas nas primeiras classificações<br />
ficavam as escolas elementares.<br />
Então, sendo um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola das localizações urbanizadas, os<br />
<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es <strong>de</strong>veriam ser criados nos lugares que apresentassem três<br />
escolas públicas em funcionamento, pois como observa Pinheiro (2002), os<br />
mesmos compreendiam uma nova organização <strong>escolar</strong>, no qual o objetivo<br />
inicial consistia em reunir em um suntuoso prédio várias ca<strong>de</strong>iras isoladas, sob<br />
uma superintendência administrativa e técnica. Sendo assim, os <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es, possivelmente, compunham a primeira e segunda categoria do<br />
ensino elementar antes classificado, ou seja, eram implantados na capital e em<br />
cida<strong>de</strong>s com um <strong>de</strong>senvolvimento sócio-econômico consi<strong>de</strong>rável.<br />
É regulamentado nessa Reforma, através do art. 38 § 1º, que os <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es <strong>de</strong>veriam constitui-se, primeiramente, <strong>de</strong> uma escola mista inicial e<br />
outras duas para cada sexo. Essa <strong>de</strong>terminação po<strong>de</strong> ser percebida como uma<br />
orientação para que a transição <strong>de</strong> um antigo mo<strong>de</strong>lo, as escolas isoladas,<br />
para um novo, os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, não fosse brusca e tumultuada, no que<br />
tange principalmente ao cotidiano <strong>escolar</strong>.<br />
Detalhando essa reflexão concernente à transição <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo para<br />
outro, foi publicado no jornal A União, o seguinte trecho:<br />
Vae ficar prevista e <strong>de</strong>terminada a fusão das escolas isoladas em<br />
escolas reunidas e <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es <strong>de</strong> accôrdo com o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>las e o augmento da população interessada. Não<br />
teremos, portanto, um substituição tumultuaria, a exemplo do que se<br />
tentou em outros Estados, com manifesto prejuiso para o ensino.
44<br />
Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es hão <strong>de</strong> surgir naturalmente como uma<br />
conseqüência da evolução e um resultado do progresso. Para isto<br />
foram tomadas pela comissão sabias e pru<strong>de</strong>ntes resoluções. (Jornal<br />
A UNIÃO, 19/08/1917, p.01)<br />
Assim, também po<strong>de</strong>mos observar que a então Reforma procurou estar<br />
atenta, no processo <strong>de</strong> substituição <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo para o outro, com as<br />
condições financeiras, pois “seria oneroso aos cofres públicos [construir e<br />
manter <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es]” (PAIVA, LIMA E PINHEIRO, 2006, P. 5774).<br />
Analisando essa transição, Pinheiro (2002) nos indica que a substituição<br />
das ca<strong>de</strong>iras isoladas para os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es marcou um “lento processo” na<br />
Paraíba. Conforme esse autor, na substituição <strong>de</strong>sse primeiro mo<strong>de</strong>lo para o<br />
último, em muitos casos, passava-se pelas escolas reunidas, referendada pelo<br />
citado autor como “instituições transitórias”.<br />
Sobre a implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es nas cida<strong>de</strong>s paraibanas, era<br />
<strong>de</strong>terminado no art. 40 daquela Reforma que, “a creação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />
[seria] feita por <strong>de</strong>creto do govêrno, logo que na localida<strong>de</strong> exista predio<br />
apropriado pertencente ao Estado, ou seja offerecido pelas municipalida<strong>de</strong>s ou<br />
particulares” (PARAHYBA, 1917).<br />
Então, <strong>de</strong>ntre outros critérios, como o número <strong>de</strong> alunos e <strong>de</strong><br />
funcionários, para se criar um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> era, essencialmente, necessário<br />
possuir prédios a<strong>de</strong>quados para a implantação e funcionamento <strong>de</strong> tal<br />
organização <strong>de</strong> ensino, já que esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola não tinha<br />
condições <strong>de</strong> funcionar em salas <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> professoras e galpões como<br />
ocorriam com as escolas e ca<strong>de</strong>iras isoladas.<br />
2.2.2 - Surgem novos atores para a educação <strong>escolar</strong>: diretor, porteiro e<br />
servente<br />
Anunciando e <strong>de</strong>terminando novos atores para a escola, a reforma <strong>de</strong><br />
1917, mais precisamente no art. 43, explicita que “o pessoal administrativo dos
<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es compor-se-á <strong>de</strong> um director, um porteiro e um servente”<br />
(PARAHYBA, 1917).<br />
Nesse sentido, com uma nova estrutura arquitetônica e outras<br />
necessida<strong>de</strong>s administrativo-pedagógicas, a implantação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />
faz exigir esses novos cargos, além <strong>de</strong> uma inovação para o próprio professor<br />
que agora terá que lidar com uma nova organização <strong>escolar</strong>: um sistema<br />
seriado, com divisão do trabalho <strong>escolar</strong>, possível homogeneida<strong>de</strong> com o<br />
agrupamento dos alunos em classes conforme o nível <strong>de</strong> conhecimento,<br />
racionalização curricular, controle e distribuição or<strong>de</strong>nada do tempo e<br />
conteúdos (SOUZA, 2004).<br />
Sobre o cargo <strong>de</strong> diretor, é ressaltado primeiramente na então reforma,<br />
no art. 44, como se efetiva a nomeação do mesmo. Vejamos,<br />
45<br />
O cargo <strong>de</strong> director <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> será <strong>de</strong> nomeação do govêrno<br />
e <strong>de</strong>vera recahir em professor diplomado pela Escola Normal, com<br />
vitalicieda<strong>de</strong> no ensino primario e comprovada aptidão.<br />
§ 1º - Este logar po<strong>de</strong>rá ser occupado por um dos professores<br />
effectivos com exercicio no <strong>grupo</strong>, o qual perceberá, além dos seus<br />
vencimentos, a gratificação constante da tabella annexa.<br />
§ 2º - Na capital, po<strong>de</strong>rão também ser incumbidos da direcção dos<br />
<strong>grupo</strong>s o inspector geral do Ensino e professores <strong>de</strong> pedagogia da<br />
Escola Normal, competindo-lhes, além dos seus vencimentos, a<br />
gratificação dos § anterior.<br />
§ 3º - Nos casos <strong>de</strong>ste art. e do § 1º, os directores serão<br />
conservados enquanto bem servirem. (PARAHYBA, 1917).<br />
Diante <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>terminação, po<strong>de</strong>mos supor que tal cargo era <strong>de</strong><br />
confiança, já que era uma escolha realizada pelo representante maior do <strong>grupo</strong><br />
político que estava no po<strong>de</strong>r.<br />
Quanto ao papel do diretor <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, são elencados no<br />
regulamento, art. 46, doze itens salientando o que compete ao mesmo. Dentre<br />
as <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong>stacam-se: fiscalizar e dirigir tecnicamente o ensino por<br />
meio das leis que estavam vigentes e do programa oficial; distribuir os alunos<br />
nas classes, fiscalizar a freqüência dos professores e adjuntos; anotar as faltas<br />
dos <strong>de</strong>mais funcionários do <strong>grupo</strong>; organizar as folhas <strong>de</strong> pagamentos mensais<br />
e encaminhá-las ao inspetor <strong>escolar</strong>; receber e aplicar as verbas <strong>de</strong>stinadas ao
expediente do <strong>grupo</strong> que se responsabiliza com compra <strong>de</strong> livros; prestar<br />
contas ao diretor geral da instrução pública entre outras funções.<br />
Concernente ao porteiro, foi <strong>de</strong>finido que seria nomeado pelo presi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> Estado através <strong>de</strong> uma proposta do diretor do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Ao mesmo, era<br />
apresentado o seguinte papel:<br />
46<br />
Art. 49 - São <strong>de</strong>veres do porteiro:<br />
1º - abrir diariamente as portas do edifício antes da hora <strong>de</strong>signada<br />
para inicio dos trabalhos lectivos e fechal-as após o encerramento;<br />
2º - cumprir fielmente o que lhe fôr recommendado pelo director;<br />
3º - respon<strong>de</strong>r pelo asseio do estabelecimento e pela guarda e<br />
conservação do mobiliário <strong>escolar</strong>;<br />
4º - receber e expedir toda correspon<strong>de</strong>ncia official. (PARAHYBA,<br />
1917).<br />
Nesse sentido, fica bastante elucidado nesse trecho do regulamento o<br />
quanto era preciso um novo ator para responsabilizar-se pelo momento <strong>de</strong> abrir<br />
e <strong>de</strong> fechar as portas do prédio <strong>escolar</strong>; controlar o trabalho dos professores;<br />
preservar o mobiliário da escola, entre outras funções acima citadas, pois com<br />
toda a organização do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> não po<strong>de</strong>ria o professor<br />
assumir esses <strong>de</strong>veres, porque estava voltado, exclusivamente, a sua sala <strong>de</strong><br />
aula. O diretor também não po<strong>de</strong>ria assim atuar, uma vez que ficaria<br />
<strong>de</strong>sfalcada a administração e organização do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Então, para o bom<br />
funcionamento <strong>de</strong>ssa instituição a atuação do porteiro era indispensável.<br />
Assim como o porteiro, o servente também era escolhido pelo diretor do<br />
<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Todavia, sua contratação <strong>de</strong>pendia da aprovação do diretor<br />
geral da instrução pública.<br />
O <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>sse novo ator da educação <strong>escolar</strong> consistia em “conservar o<br />
edifício em completo asseio, atten<strong>de</strong>ndo às or<strong>de</strong>ns do director e porteiro e às<br />
recommendações dos professores” (PARAHYBA, Art. 51, 1917).<br />
O servente, portanto, ficava mais incumbido <strong>de</strong> manter a higiene do<br />
edifício <strong>escolar</strong> e esse podia ser homem ou mulher, conforme o parágrafo único<br />
do Art. 50 da reforma.
2.3 – O governo Solon <strong>de</strong> Lucena e a implantação do Grupo Escolar <strong>de</strong><br />
Campina Gran<strong>de</strong><br />
Consi<strong>de</strong>ramos que antes <strong>de</strong> tratarmos sobre o governo Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
é importante realizar uma rápida biografia do mesmo.<br />
De acordo com o memorial da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (1996), Solon<br />
<strong>de</strong> Lucena era natural <strong>de</strong> Bananeiras-PB. Filho do senhor Virgínio <strong>de</strong> Melo e da<br />
senhora Amélia Barbosa <strong>de</strong> Lucena e primo em 2º grau <strong>de</strong> Epitácio Pessoa.<br />
Foto 1: Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
Fonte: Arquivo do Museu Histórico <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
Solon <strong>de</strong> Lucena era professor em Bananeiras e logo após o ano <strong>de</strong><br />
1912, em apenas oito anos, foi presi<strong>de</strong>nte da Assembléia Legislativa, secretário<br />
geral, <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral, presi<strong>de</strong>nte do estado e chefe do partido ao qual era<br />
ligado, <strong>de</strong>nominado na época <strong>de</strong> Partido Epitacista. Confirmando essa<br />
passagem <strong>de</strong> Solon em alguns cargos <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, Leite (1979) relata:<br />
47<br />
Seu ingresso na política ocorreu em 1912, quando <strong>de</strong>sistiu no quarto<br />
ano <strong>de</strong> direito, para <strong>de</strong>dicar-se à arte do bem comum. Foi, todavia,<br />
após a cisão <strong>de</strong> 1915, quando da formação do Partido Walfredista,<br />
que Solon <strong>de</strong> Lucena passou a comandar a política no brejo,<br />
reunindo elementos prestigiosos dos colégios eleitorais <strong>de</strong><br />
Bananeiras, Araruna, Caiçara, Serraria e Guarabira, sob a ban<strong>de</strong>ira<br />
do Partido Epitacista. Daí à Assembléia Legislativa foi um passo.<br />
Suas qualida<strong>de</strong>s morais e intelectuais aliados ao superior domínio da
48<br />
palavra, tornaram-no em breve, <strong>de</strong>tentor da confiança do colegiado.<br />
Eleito Presi<strong>de</strong>nte da casa, eventualmente chegou à Presidência do<br />
Estado em substituição ao Antônio Pessoa, entregando o governo a<br />
Camilo <strong>de</strong> Holanda. Este <strong>de</strong> imediato, convida-o para Secretário do<br />
Governo, cargo do qual se afastou por ter sido eleito <strong>de</strong>putado<br />
fe<strong>de</strong>ral.<br />
Aquele curto período <strong>de</strong> governo, fora, todavia, suficiente para<br />
revelar suas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> administrador emérito (LEITE, 1979, p.<br />
17-18)<br />
Conforme Trigueiro (1982), Solon foi um dos raros<br />
presi<strong>de</strong>ntes/governadores do estado da Paraíba até a década <strong>de</strong> 1970 que não<br />
possuía diploma <strong>de</strong> curso superior, embora, como observamos na citação<br />
antece<strong>de</strong>nte, tenha cursado a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito do Recife sem chegar a<br />
diplomar-se. O mesmo autor afirma que Solon era consi<strong>de</strong>rado inteligente, com<br />
fama <strong>de</strong> excelente orador e lí<strong>de</strong>r.<br />
Solon <strong>de</strong> Lucena assumiu pela primeira vez a presidência do estado da<br />
Paraíba no ano <strong>de</strong> 1916, mais precisamente nos últimos meses do quatriênio,<br />
por causa do afastamento do Coronel Antônio Pessoa, como já <strong>de</strong>stacado por<br />
Leite. De 1920 até 1924, Solon assume novamente a presidência do estado e<br />
no último ano <strong>de</strong> sua administração por efeito <strong>de</strong> sérios problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
fica menos comprometido com o serviço público. Faleceu quando ainda moço,<br />
com apenas <strong>de</strong> 49 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, em 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1926.<br />
Sobre o governo Solon na Paraíba, Trigueiro relata que:<br />
Solon era figura austera e comportou-se no governo com perfeita<br />
respeitabilida<strong>de</strong>. Não sei se terá sido mais feliz do que os outros na<br />
direção dos negócios políticos. Uma coisa, porém, é certa: foi ele o<br />
único que não teve qualquer atrito com Epitácio, a quem obe<strong>de</strong>cia<br />
com absoluta lealda<strong>de</strong>. Nunca se ouviu falar que, entre os dois,<br />
houvesse surgido qualquer <strong>de</strong>sentendimento sobre o mais<br />
insignificante problema partidário. (TRIGUEIRO, 1982, p.65)<br />
Em conseqüência <strong>de</strong>ssa relação, que consi<strong>de</strong>ramos pacífica, com o<br />
então presi<strong>de</strong>nte da república, Epitácio Pessoa, o governo Solon foi percebido<br />
da seguinte maneira:<br />
De Solon, sempre se disse que era bom político, mas ninguém lhe<br />
teria dado o título <strong>de</strong> bom administrador. De um lado, era ofuscada<br />
pela presença do governo fe<strong>de</strong>ral, com execução <strong>de</strong> um fabuloso<br />
programa <strong>de</strong> obras, que cobria todo território do Estado. De outro, as<br />
obras realizadas na Capital se apresentavam como obras da<br />
Prefeitura, então exercida por Walfredo Gue<strong>de</strong>s Pereira,
administrador enérgico e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> visão, que fez da nossa antiga<br />
Filipea uma nova cida<strong>de</strong>. (TRIGUEIRO, 1982, p.65)<br />
Trigueiro (1982) salienta ainda que no interior do estado a obra <strong>de</strong> maior<br />
<strong>de</strong>staque do governo Solon <strong>de</strong> Lucena foi a construção <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, sendo o mesmo edificado e inaugurado no último<br />
ano <strong>de</strong> seu governo, 1924.<br />
Na capital, conforme o autor antes citado, tal governo foi consi<strong>de</strong>rado<br />
operoso, já que <strong>de</strong>u visibilida<strong>de</strong> aos serviços <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água e<br />
construção <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgotos.<br />
Quanto à instrução pública, afirma Mello (1996) que o governo Solon <strong>de</strong><br />
Lucena apresentou notáveis benefícios, como:<br />
49<br />
Continuaram as edificações <strong>escolar</strong>es no interior. Em Guarabira,<br />
Borborema, Princesa, Sousa, Campina Gran<strong>de</strong> e Areia foram<br />
adquiridos ou construídos prédios adaptados ao funcionamento <strong>de</strong><br />
<strong>grupo</strong>s e ca<strong>de</strong>iras isoladas.<br />
Em quase todos os municípios foram criadas escolas rudimentares;<br />
auxiliou a manutenção <strong>de</strong> um colégio municipal, em Bananeiras;<br />
equiparou à Escola Normal o Colégio <strong>de</strong> Cajazeiras e o <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora das Neves, da Capital; auxiliou o Colégio ‘Oswaldo Cruz’,<br />
da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itabaiana. Doou, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> convenientemente<br />
mobiliado, à Associação dos Empregados no Comércio, o suntuoso<br />
edifício da Aca<strong>de</strong>mia ‘Epitácio Pessôa’, e promoveu meios junto aos<br />
po<strong>de</strong>res fe<strong>de</strong>rais, <strong>de</strong> modo levar por diante obras meritórias, como o<br />
Patronato Agrícola ‘Vidal Negreiros’, em Bananeiras, inaugurado na<br />
sua administração. (MELLO, 1996, p. 85)<br />
Todavia, o próprio Solon <strong>de</strong> Lucena apresentava uma gran<strong>de</strong><br />
insatisfação com a situação educacional do estado, <strong>de</strong>vido a questões, como<br />
por exemplo, a falta <strong>de</strong> interesse dos jovens paraibanos com a instrução e a<br />
carência <strong>de</strong> recursos financeiros para investir na área, como po<strong>de</strong>mos observar<br />
nessa longa colocação do presi<strong>de</strong>nte em sua mensagem apresentada a<br />
Assembléia Legislativa do Estado:<br />
É ainda um problema a resolver esse da instrucção publica em<br />
nosso Estado. Apesar dos esforços continuados <strong>de</strong> todas as<br />
administrações, do govêrno Castro Pinto, aos nossos dias, as<br />
reformas têm sido meras reformas <strong>de</strong> papel, sem finalida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>sejada, ficando muito aquem das exigências <strong>de</strong> uma organização<br />
precisa e efficiente. Gastando quasi a quinta parte das verbas<br />
previstas nos orçamentos annuaes; com 255 ca<strong>de</strong>iras disseminadas<br />
por todo o Estado, um Lyceu e uma Escola Normal, é força<br />
confessar que ainda não possuímos um systema <strong>escolar</strong> na altura<br />
das necessida<strong>de</strong>s da nossa população infantil. E não sómente da
população infantil, senão também da mocida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>stina aos<br />
cursos superiores das escolas profissionaes do paiz.<br />
50<br />
O regimen dos preparatorios parcellados não produziu o resultado<br />
que se teve em vista, por isso mesmo que a benevolência<br />
generalizada é um dos maiores estimulos ao abandono dos livros e a<br />
maior dos nossos males actuaes. A mocida<strong>de</strong> não procura as<br />
escolas no empenho <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, senão na dôce aspiração <strong>de</strong><br />
passar ou, o que é o mesmo, conquistar certificados <strong>de</strong> preparatórios<br />
mal feitos e peor estudados. (ESTADO DA PARAHYBA, 1924, p.10).<br />
Diante disso, o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado fez o seguinte apelo, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a<br />
função da escola como meio essencial para o <strong>de</strong>senvolvimento da nação:<br />
[...] É preciso mudar <strong>de</strong> rumo. Mas isto não será obra <strong>de</strong> um<br />
govêrno, no pequeno espaço <strong>de</strong> um quadriennio, senão uma<br />
conquista <strong>de</strong> gerações. A escola <strong>de</strong>ve ser o pórtico da vida<br />
profissional e, nessa situação, precisa aparelhar o indivíduo que por<br />
ella venha a passar, dos elementos essenciaes e indispensáveis às<br />
altas conquistas do espírito e do saber. É necessário que a escola<br />
forme o homem, tendo em vista os interesses superiores da pátria.<br />
(ESTADO DA PARAHYBA, 1924, p.11).<br />
Nessa escrita <strong>de</strong> Solon, percebemos que naquele momento, no ano <strong>de</strong><br />
1924, na visão do presi<strong>de</strong>nte a educação <strong>escolar</strong> paraibana caminhava fora do<br />
que se <strong>de</strong>sejava na época - formar homens para edificar a pátria - já que o<br />
mesmo afirma que era preciso mudar <strong>de</strong> direção, “mudar <strong>de</strong> rumo” nesse<br />
âmbito. Assim, po<strong>de</strong>mos pensar através da citação acima, que na Paraíba no<br />
ano <strong>de</strong> 1924 o i<strong>de</strong>ário conclamado principalmente na transição do Império para<br />
a República, o da instrução pública como elemento principal para possibilitar a<br />
configuração da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional e o <strong>de</strong>senvolvimento da nação, ainda não<br />
estava consolidado.<br />
Como adiantado acima, foi nesse governo, precisamente no último ano,<br />
que foi implantado o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>-PB. Esse<br />
<strong>grupo</strong> criado, inicialmente, com o nome <strong>de</strong> Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />
através do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> nº. 1.317 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1924 no governo Solon<br />
<strong>de</strong> Lucena, como <strong>de</strong>terminava o regulamento da instrução primário do estado<br />
do ano <strong>de</strong> 1917, visto anteriormente, recebe, posteriormente, o nome <strong>de</strong> Grupo<br />
Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena em homenagem ao presi<strong>de</strong>nte do estado Solon <strong>de</strong><br />
Lucena, foi construído, conforme os estudos <strong>de</strong> Pinheiro (2002), após a oitava<br />
edificação ou adaptação <strong>de</strong> prédios <strong>de</strong>stinados a <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es no estado.<br />
A Tabela que segue especifica melhor essa informação:
Tabela 1 - Distribuição dos <strong>de</strong>z primeiros <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es do estado da<br />
Paraíba conforme or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> criação<br />
Nome Localização Ano<br />
Grupo Escolar Thomaz Min<strong>de</strong>llo <strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> da<br />
Parahiba 7<br />
Grupo Escolar Epitácio Pessoa <strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> da<br />
Parahiba<br />
1916<br />
1918<br />
Grupo Escolar Padre Ibiapina Itabaiana 1918<br />
Grupo Escolar Padre Rolim _ 1918<br />
Grupo Escolar Antonio Pessoa <strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> da<br />
Parahiba<br />
1920<br />
Grupo Escolar Antonio Pessoa Umbuzeiro 1920<br />
Grupo Escolar Isabel Maria das<br />
Neves<br />
<strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> da<br />
Parahiba<br />
1921<br />
Grupo Escolar Guarabira 1923<br />
Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />
Lucena<br />
<strong>Centro</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Campina Gran<strong>de</strong><br />
Grupo Escolar Pedro II Jaguaribe, na cida<strong>de</strong> da<br />
Parahiba<br />
Fonte: Pinheiro, Antonio Carlos F. (2002).<br />
1924<br />
1925<br />
Vale <strong>de</strong>stacar que a idéia da criação do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina<br />
Gran<strong>de</strong> remonta o ano <strong>de</strong> 1923, já que em mensagem apresentada a<br />
Assembléia Legislativa do Estado o presi<strong>de</strong>nte Solon <strong>de</strong> Lucena, relatando<br />
seus feitos, <strong>de</strong>staca o seguinte:<br />
7 Atual capital João Pessoa.<br />
51<br />
Entretanto, não me <strong>de</strong>scurei da instrucção primaria e secundaria do<br />
Estado. Creei mais 12 escolas rudimentares em diversos municípios;<br />
dotei a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Guarabira, uma das mais prosperas do Estado, <strong>de</strong><br />
um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>; provi na Escola Normal a organização <strong>de</strong> um<br />
gabinete <strong>de</strong> physica e chimica e historia natural; reformei,<br />
apparelhando-o convenientemente; fiz construir um amplo pavilhão<br />
no jardim da Escola Normal para recreio das creanças do <strong>grupo</strong>
52<br />
mo<strong>de</strong>lo; levantei a planta <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> que pretendo construir<br />
em Campina Gran<strong>de</strong>; dotei a Escola <strong>de</strong> Commercio com uma se<strong>de</strong><br />
que honra a Parahyba e, certamente, virá a ser um dos maiores<br />
incitantes a essa promissora instituição, e levei o meu estimulo a<br />
quantos se <strong>de</strong>dicam ao magistério, premiando os esforços dos que,<br />
pelos seus méritos, conquistam os primeiros postos, nos concursos<br />
regulamentares. (ESTADO DA PARAHYBA, 1923, p.49, grifo meu).<br />
Sobre a legalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação do GESL, é relevante salientar que foi<br />
através do Decreto nº. 1.317 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1924, assinado pelo<br />
presi<strong>de</strong>nte do estado Solon <strong>de</strong> Lucena, que oficialmente se assegurou a<br />
implantação <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola primária em Campina Gran<strong>de</strong>. Vejamos o<br />
que <strong>de</strong>termina esse <strong>de</strong>creto:<br />
Decreto nº. 1.317 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1924<br />
Crea um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />
Solon Barbosa <strong>de</strong> <strong>lucena</strong>, presi<strong>de</strong>nte do Estado da Parahyba do<br />
Norte, tendo em vista o officio sob n.º1.453, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong><br />
setembroexpirante, que lhe foi dirigido pela directoria geral da<br />
Instrucção Publica, usando da attribuição que lhe confere o art. 36, §<br />
1º, da constituição Estadual e na conformida<strong>de</strong> do regulamento que<br />
baixou com o <strong>de</strong>creto sob nº. 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917.<br />
DECRETA:<br />
Art. 1º - Fica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, creado um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, ao qual ficam incorporadas as ca<strong>de</strong>iras do ensino publico<br />
primario existentes naquella cida<strong>de</strong>, a saber: do sexo feminino, do<br />
sexo masculino e mista.<br />
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrario.<br />
O Secretario do Estado faça publicar o presente <strong>de</strong>creto, expedindo<br />
as or<strong>de</strong>ns e comunicações necessárias.<br />
Palácio do govêrno do Estado da Parahyba do Norte, em 30<strong>de</strong><br />
setembro <strong>de</strong> 1924- 36º da Proclamação da Republica. (ESTADO DA<br />
PARAHYBA, 1924).<br />
Conforme po<strong>de</strong>mos observar a partir do citado <strong>de</strong>creto, no GESL,<br />
inicialmente, <strong>de</strong>veriam funcionar a ca<strong>de</strong>ira do sexo feminino, a ca<strong>de</strong>ira do sexo<br />
masculino e a ca<strong>de</strong>ira mista daquela cida<strong>de</strong>. Portanto, como não existia,<br />
oficialmente, seriação nas ca<strong>de</strong>iras isoladas, supomos que essas ao<br />
integrarem o GESL foram, gradativamente, tornando-se as séries nesse <strong>grupo</strong>.<br />
Logo, consi<strong>de</strong>ramos que em seu primeiro ano <strong>de</strong> funcionamento as classes<br />
não possuíam seriação.
No anuário <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1925, é <strong>de</strong>stacado que essas<br />
ca<strong>de</strong>iras estavam assim distribuídas quando passaram a integrar o GESL: a<br />
mista, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> da professora efetiva Isaura Chagas Vianna e a<br />
adjunta efetiva Julieta Cor<strong>de</strong>iro Barbosa; a do sexo feminino, ministrada pela<br />
professora efetiva Jacintha Dantas e a adjunta efetiva Celecina Dantas e,<br />
finalmente, a do sexo masculino, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do professor efetivo<br />
Mario Gomes, o qual foi nomeado diretor do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> e a adjunta Antonia<br />
Agra. Como não é nosso objetivo discutir a história <strong>de</strong> vida dos que integraram<br />
o corpo docente do GESL, não especificaremos nesse estudo tal informação.<br />
Atinente à motivação para a implantação <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em<br />
Campina Gran<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ramos como indícios os seguintes: o número <strong>de</strong><br />
alunos matriculados no ensino primário da cida<strong>de</strong>, pois como observado no<br />
<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> n° 873 <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917 era um dos requisitos para a<br />
construção <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es nas localida<strong>de</strong>s paraibanas; o crescimento<br />
populacional e urbano <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e a possível reivindicação da elite<br />
campinense.<br />
Sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>staca o Anuário <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> antes mencionado, que até 1924 não<br />
existia um prédio que pu<strong>de</strong>sse comportar os alunos matriculados nas ca<strong>de</strong>iras<br />
isoladas que se instalavam nas regiões mais centrais do município. Conforme<br />
este anuário, “até aquelle tempo [1924] não [possuíam] nenhum<br />
estabelecimento publico <strong>de</strong> ensino, que pu<strong>de</strong>sse acceitar matricula <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />
80 alumnos” (ANUÁRIO DE CAMPINA GRANDE, 1925, p.50).<br />
É importante especificar, conforme esse anuário, que já no início do ano<br />
<strong>de</strong> 1925 o GESL matriculou 210 alunos, sendo a freqüência diária <strong>de</strong>, no<br />
mínimo, 150 estudantes. Por isso, consi<strong>de</strong>ramos que o número <strong>de</strong> alunos<br />
matriculados no ensino primário tenha sido um indício para essa implantação,<br />
pois antes da fundação do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> o número <strong>de</strong> crianças já <strong>de</strong>manda um<br />
local maior para esse ensino. Esse indício nos leva a pensar que a estatística<br />
<strong>de</strong> crianças em ida<strong>de</strong> <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong> era bem consi<strong>de</strong>rável no<br />
período.<br />
53
Todavia, é relevante <strong>de</strong>stacar que a criação <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> não fez<br />
extinguir as ca<strong>de</strong>iras isoladas em Campina Gran<strong>de</strong>, pois, conforme Pinheiro<br />
(2002), no ano <strong>de</strong> 1926 este município apresentava um número <strong>de</strong> 16 ca<strong>de</strong>iras<br />
isoladas e/ou escolas rudimentares e elementares. Portanto, como especifica o<br />
autor citado, esses mo<strong>de</strong>los do ensino primário, ca<strong>de</strong>iras isoladas e <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es, passaram a coexistirem na Paraíba, e, nesse caso, em Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, especificamente a partir <strong>de</strong> 1924.<br />
Com relação à possibilida<strong>de</strong> da implantação do GESL ter sido motivada<br />
também pelo o crescimento populacional e urbano <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>,<br />
consi<strong>de</strong>ramos importante <strong>de</strong>stacar que nesse período essa cida<strong>de</strong> já era<br />
consi<strong>de</strong>rada um importante centro urbano e comercial do agreste paraibano,<br />
como po<strong>de</strong>remos observar mais <strong>de</strong>talhadamente no próximo capítulo. Nessa<br />
cida<strong>de</strong>, conforme Almeida (1978), em 1925, a população contabilizava<br />
aproximadamente 9.000 habitantes e cerca <strong>de</strong> 2.500 casas. Portanto, po<strong>de</strong>mos<br />
dizer que era uma cida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rada urbanizada que <strong>de</strong>manda uma<br />
instituição <strong>de</strong> ensino primário a<strong>de</strong>quada ao seu <strong>de</strong>senvolvimento sócio-<br />
econômico.<br />
Concernente à possível reivindicação da elite campinense na<br />
implantação <strong>de</strong>sse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária para Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, é pertinente explicitar que, segundo Sousa (2007), na década <strong>de</strong> 1920<br />
um <strong>grupo</strong> <strong>de</strong> letrados, formados pelos filhos da elite campinense que<br />
estudavam na capital ou em Recife, reivindicavam para essa cida<strong>de</strong> um projeto<br />
<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e urbanida<strong>de</strong>. Esses campinenses, conforme o autor citado,<br />
tinha a percepção <strong>de</strong> que<br />
54<br />
[...] Campina estava assumindo ares <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> progressista, que<br />
necessitava crescer também em estética, com ruas calçadas e<br />
alinhadas, casas e edificações mo<strong>de</strong>rnas, praças e logradouros<br />
agradáveis e o fim dos sinuosos e anti-higiênicos becos. (SOUSA,<br />
2007, p.127)<br />
Além <strong>de</strong>ssa reivindicação, <strong>de</strong> acordo com o autor mencionado, os<br />
letrados buscavam <strong>de</strong>stacar “a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus habitantes aparecerem na<br />
cena pública com comportamentos e atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> civilida<strong>de</strong> e urbanida<strong>de</strong>”<br />
(SOUSA, 2007, p.127). Portanto, a implantação <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> po<strong>de</strong>ria
ter sido uma das reivindicações conclamadas por esses campinenses para<br />
suprir essa necessida<strong>de</strong>, uma vez que o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> além <strong>de</strong> fazer parte do<br />
projeto <strong>de</strong> embelezamento das cida<strong>de</strong>s, como po<strong>de</strong>remos observar no próximo<br />
capítulo, propunha a formação do cidadão civilizado.<br />
55
CAPÍTULO 3 – URBANIZAÇÃO E ARQUITETURA ESCOLAR, ELEMENTOS<br />
DA MODERNIZAÇÃO: O CASO DO GRUPO ESCOLAR SOLON DE LUCENA<br />
[...] O espaço comunica; mostra a quem sabe ler, o emprego que o ser<br />
humano faz <strong>de</strong>le mesmo. Um emprego que varia em cada cultura; que é<br />
um produto cultural específico, que diz respeito não às relações<br />
interpessoais – distâncias, território pessoal, contatos, comunicação,<br />
conflitos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r –, mas também a liturgia e ritos sociais, à simbologia das<br />
disposições dos objetos e dos corpos – localização e posturas –, à sua<br />
hierarquia e relações.<br />
Todas essas questões po<strong>de</strong>m ser referidas ao âmbito da escola como lugar, à<br />
sua configuração arquitetônica e à or<strong>de</strong>nação espacial <strong>de</strong> pessoas e objetos,<br />
<strong>de</strong> usos e funções que têm lugar em tal âmbito.<br />
56<br />
Antônio Viñao Frago (1998)<br />
Nesse capítulo, buscamos analisar aspectos da arquitetura <strong>escolar</strong> do<br />
GESL e relacioná-los com o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e urbanização da<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, assim como observar o investimento arquitetônico<br />
que esse <strong>grupo</strong> teve, tendo em vista os <strong>de</strong>mais espaços <strong>de</strong>stinados a serem<br />
<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba.<br />
Nesse sentido, procuramos respon<strong>de</strong>r, principalmente, as seguintes<br />
perguntas: O que representou a arquitetura do prédio <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> para a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>? Até que ponto a construção do mesmo <strong>grupo</strong><br />
coincidiu com o avanço urbano <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>? E como foi organizado o<br />
espaço interno <strong>de</strong>ssa instituição?<br />
3.1 – A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
Indica a historiografia paraibana que o primeiro indício <strong>de</strong> povoamento<br />
no local on<strong>de</strong> hoje se situa a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> foi o al<strong>de</strong>amento dos<br />
índios Ariús, fixados por Teodósio <strong>de</strong> Oliveira Ledo 8 . De acordo com Uchõa<br />
(1964), esse lugar tinha na época o nome <strong>de</strong> sítio das Barrocas que,<br />
8 Teodósio <strong>de</strong> Oliveira Lêdo veio da Bahia com sua família no ano <strong>de</strong> 1664 para explorar uma<br />
sesmaria que lhe havia sido concedida ao longo do Rio Paraíba. Era sobrinho <strong>de</strong> Antônio <strong>de</strong><br />
Oliveira Lêdo, primeiro Capitão-mor da Infantaria <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>nanças a Pé do Sertão da Paraíba. A<br />
Teodósio suce<strong>de</strong>u o irmão, Constantino <strong>de</strong> Oliveira Lêdo, na missão <strong>de</strong> continuar a exploração<br />
na Paraíba.
posteriormente, recebeu o nome <strong>de</strong> Rua das Barrocas e, logo em seguida, do<br />
Oriente.<br />
Conforme a Fundação Movimento Brasileiro <strong>de</strong> Alfabetização (MOBRAL,<br />
1984), em 1769 esse povoamento iniciado com os índios Ariús foi elevado à<br />
condição <strong>de</strong> freguesia, recebendo a invocação <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Conceição. Depois <strong>de</strong> vinte e um anos, complementando essa fundação, em<br />
1790, é transformado em vila nos termos da Carta Régia <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />
1766, com o nome <strong>de</strong> Vila Nova da Rainha que, mais tar<strong>de</strong>, viria a se tornar a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
A localização geográfica da Vila Nova da Rainha possibilitou o<br />
crescimento populacional <strong>de</strong>ssa localida<strong>de</strong> e fez com que passasse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
século XVIII “a ser ponto obrigatório <strong>de</strong> ligação entre o litoral e os sertões,<br />
transformando-se em autêntico entreposto <strong>de</strong> comércio, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>spontavam as<br />
transações <strong>de</strong> gado e farinha” (MOBRAL, 1984, p.39).<br />
Em 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1864, a vila é elevada à categoria <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. A lei<br />
provincial que assegurou essa transformação foi a <strong>de</strong> nº. 127, assinada pelo<br />
presi<strong>de</strong>nte Sinval Odorico <strong>de</strong> Moura. Vejamos tal lei citada por Elpídio <strong>de</strong><br />
Almeida em livro sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>:<br />
LEI N. 127<br />
De 11<strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1864.<br />
57<br />
Sinval Odorico <strong>de</strong> Moura, Bacharel Formado em Ciências Jurídicas e<br />
sociais pela Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Olinda, Oficial da Imperial Or<strong>de</strong>m da Rosa,<br />
e Presi<strong>de</strong>nte da Província da Paraíba do Norte: Faço saber a todos<br />
os seus habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial resolveu,<br />
e eu sanciono a Lei seguinte:<br />
Art. Único – A Vila <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> fica elevada a categoria <strong>de</strong><br />
cida<strong>de</strong>, conservando a mesma <strong>de</strong>nominação, e revogadas as<br />
disposições em contrário.<br />
Mando portanto a todas as autorida<strong>de</strong>s, a quem o conhecimento e<br />
execução da presente Resolução pertencer, que a cumpram e façam<br />
cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém. O<br />
secretário <strong>de</strong>sta Província a faça imprimir, publicar e correr.<br />
Palácio do Governo da Paraíba, em 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1864.<br />
Sinval Odorico <strong>de</strong> Moura (conforme ALMEIDA, 1978, p. 132-133).<br />
Ainda no período monárquico, Campina já era dita como um dos<br />
principais núcleos urbanos do interior paraibano:
58<br />
Campina, na primeira meta<strong>de</strong> do século XIX, já se <strong>de</strong>stacava como<br />
um dos principais núcleos urbanos do interior. <strong>Centro</strong> comercial,<br />
cujas feiras <strong>de</strong> gado e cereais atraiam tropeiros das áreas limítrofes,<br />
foi impulsionado pelo incremento da produção algodoeira (GURJÃO,<br />
1994, p. 23-24)<br />
Consi<strong>de</strong>rada como pólo <strong>de</strong> atração dos tropeiros viajantes e<br />
comerciantes das regiões mais próximas, Campina Gran<strong>de</strong> “<strong>de</strong>spertou ao<br />
ascen<strong>de</strong>r das luzes do século XX como um já promissor centro comercial e<br />
industrial, produzindo e comercializando as principais manufaturas da época:<br />
algodão e sisal” (BARBOSA, 1999, p. 28).<br />
Reforçando esse crescimento <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, em 1907 é<br />
implantado o ramal da Great Western of Brazil Railway Company Ltda. Com<br />
essa implantação,<br />
[à cida<strong>de</strong>] passou a afluir praticamente a totalida<strong>de</strong> da produção do<br />
Agreste e do Sertão, que era transportada, através da estrada <strong>de</strong><br />
ferro para Recife. Campina Gran<strong>de</strong> consolidou-se como centro<br />
polarizador da produção algodoeira <strong>de</strong> um vasto espaço regional,<br />
que incluía inclusive ligações com áreas do RN [Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Norte] e CE [Ceará] (GONÇALVES, 1999, p. 34)<br />
Para a autora acima citada, a construção da ferrovia veio modificar a<br />
aparência da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, pois “sem eliminar o tradicional<br />
burro, o trem trouxe maior velocida<strong>de</strong> no escoamento das mercadorias e<br />
facilida<strong>de</strong> na locomoção das pessoas” (GONÇALVES, 1999, p.35).<br />
Donne (1979), em um trabalho sobre as teorias que tem a cida<strong>de</strong> como<br />
análise, <strong>de</strong>staca que os meios <strong>de</strong> transporte são um dos motivos <strong>de</strong> expansão<br />
urbana e crescimento da cida<strong>de</strong>. Para ela,<br />
Os meios <strong>de</strong> transporte representam um parâmetro válido para se<br />
estabelecer a amplitu<strong>de</strong> do sector <strong>de</strong> influência <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>.<br />
Cida<strong>de</strong>s servidas por auto-estradas, núcleos ferroviários importantes<br />
e aeroportos, estabelecem um sector <strong>de</strong> influência que tem uma<br />
irradiação que vai além do hinterland regional, chegando ao território<br />
nacional, internacional, mundial. (DONNE, 1979, p.101)<br />
Concordando com a estudiosa citada, consi<strong>de</strong>ramos que a implantação<br />
da estrada <strong>de</strong> ferro promoveu um acelerado crescimento à Campina Gran<strong>de</strong>,<br />
pois esta cida<strong>de</strong> ficou “convertida no mais importante centro urbano <strong>de</strong> todo<br />
interior nor<strong>de</strong>stino, [compondo] com o algodão, comércio e via férrea, o tripé
esponsável pelo progresso” (ARRUDA, 1997 p.162). Des<strong>de</strong> 1907 comboieiros<br />
do sertão paraibano e <strong>de</strong> estados vizinhos passaram a procurá-la com a<br />
finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> embarcar mercadorias.<br />
Segundo Nascimento (1997), a implantação <strong>de</strong>ssa estrada em Campina<br />
Gran<strong>de</strong> veio respon<strong>de</strong>r a uma antiga reivindicação da população daquela<br />
localida<strong>de</strong> que, ressentia-se da falta <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> transportes eficientes para<br />
escoar os produtos que ali chegavam. Para essa estudiosa, a estrada <strong>de</strong> ferro<br />
além <strong>de</strong> acelerar o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da cida<strong>de</strong> e sua articulação com<br />
o restante do país, também promoveu uma mudança na rotina dos<br />
campinenses, como se po<strong>de</strong> perceber na seguinte citação:<br />
59<br />
A rotina da população foi <strong>de</strong>finitivamente alterada, a partir daquele<br />
dia [2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1907]. A estação ferroviária tornou-se o principal<br />
local <strong>de</strong> reunião das pessoas que para lá se dirigiam com a intenção<br />
<strong>de</strong> enviar ou receber mercadorias, como também, para saber as<br />
notícias do Recife e do restante do país. A ida à estação ferroviária<br />
fazia parte do cotidiano da população (NASCIMENTO, 1997, p. 35)<br />
Após essa implantação, a cida<strong>de</strong> passou por acelerado processo <strong>de</strong><br />
crescimento e mo<strong>de</strong>rnização. Vieram as acomodações <strong>de</strong> lojas, indústrias e<br />
diversas outras instalações necessárias a uma cida<strong>de</strong> em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Algumas <strong>de</strong>ssas instalações foram: em 1918, chegada do automóvel em<br />
Campina Gran<strong>de</strong>; 1920, instalação da luz elétrica; 1923, fundação da Loja<br />
Maçônica “Regeneração Campinense” e inauguração da Agência do Banco do<br />
Brasil; 1924, inauguração do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina; 1925,<br />
implantação do novo mercado público. (CÂMARA, 1947)<br />
Abordando especificamente a relação cida<strong>de</strong> e arquitetura em Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, Carvalho, Queiroz e Tinem (2007) nos indicam que durante o período<br />
<strong>de</strong> 1907 até 1935 houve um crescimento significativo, nesta cida<strong>de</strong>, em termos<br />
<strong>de</strong> edificações urbanas. Segundo estes estudiosos, em 1907 o número <strong>de</strong><br />
prédios era <strong>de</strong> 731. Já em 1935, esse número cresceu para 5.897 edificações.<br />
Com certeza, po<strong>de</strong>mos inferir que esse crescimento esteve relacionado à<br />
chegada da estrada <strong>de</strong> ferro.
Esse <strong>de</strong>senvolvimento em Campina Gran<strong>de</strong>, após o ano <strong>de</strong> 1907, é<br />
<strong>de</strong>stacado também nos versos <strong>de</strong> José Alves Sobrinho, publicados no livro<br />
“História <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> em versos”:<br />
[...]Em novecentos e sete<br />
Foi o ano que chegou<br />
A re<strong>de</strong> Ferroviária<br />
O progresso acelerou,<br />
A cida<strong>de</strong> evoluiu<br />
O ambiente mudou<br />
Campina Gran<strong>de</strong> tornou-se<br />
Mais progressista em ação<br />
Criou gran<strong>de</strong>s armazéns<br />
E <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> algodão<br />
Que comprava e exportava<br />
Para todo o sul da nação.<br />
Foi em mil novecentos<br />
E <strong>de</strong>zoito outro advento,<br />
Dessa vez o automóvel<br />
Trazendo contentamento<br />
Era sinal <strong>de</strong> riqueza<br />
Luxo e <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Em 17 ou vinte<br />
Chegou em nossa cida<strong>de</strong><br />
A nova iluminação<br />
Mesmo a eletricida<strong>de</strong>,<br />
Que até ali era gás<br />
E <strong>de</strong> pouca clarida<strong>de</strong>.<br />
Foi em mil e novecentos<br />
E <strong>de</strong>zesseis nesse ano<br />
Inaugurado o açu<strong>de</strong><br />
De Bodocongó no plano<br />
Da administração<br />
Do coronel Cristiano.<br />
Chega em mil novecentos<br />
E vinte e três, em abril<br />
A gran<strong>de</strong> primeira Agência<br />
Do bom Banco do Brasil<br />
José Arraes <strong>de</strong> Alencar<br />
Foi o agente gentil.<br />
E em mil novecentos<br />
E vinte e seis, novo alento<br />
O presi<strong>de</strong>nte do Estado<br />
Saneou Campina Gran<strong>de</strong><br />
Isto foi <strong>de</strong> muito agrado<br />
Vindo <strong>de</strong> Puxinanã<br />
O líquido tão esperado.<br />
Construiu duas barragens<br />
Entre o lajedo e a chã<br />
60
Dali nasceu o povoado<br />
Com inspiração louca<br />
On<strong>de</strong> hoje é cida<strong>de</strong><br />
De nome Puxinanã<br />
Também nesse mesmo ano<br />
Teve início o calçamento<br />
Da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />
Com gran<strong>de</strong> contentamento<br />
Praça Epitácio Pessoa<br />
Teve esse melhoramento. [...] (SOBRINHO, [199-])<br />
Com base em Chartier (1990), po<strong>de</strong>mos dizer que para esse<br />
memorialista a representação do mundo, nesse caso <strong>de</strong>limitada à Campina<br />
Gran<strong>de</strong> no início do século XX, foi <strong>de</strong>terminada pelos seus interesses, ou pelo<br />
que o poeta consi<strong>de</strong>rava marco para a história <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong>, já que alguns<br />
acontecimentos consi<strong>de</strong>rados por nós relevantes para a referida cida<strong>de</strong> ficaram<br />
fora <strong>de</strong>sse registro, por exemplo, a implantação do GESL.<br />
Essas implantações em Campina Gran<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> modo especial a do<br />
GESL, confirmam o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização que aquela cida<strong>de</strong> estava<br />
passando.<br />
De acordo com Sousa (2007), a instalação <strong>de</strong> diversos equipamentos<br />
urbanos e instituições foram dando um caráter mo<strong>de</strong>rno à Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
Para este autor, nos anos seguintes ao <strong>de</strong> 1924 o melhoramento continuou<br />
nessa cida<strong>de</strong>, pois em 1925 foi inaugurada a primeira fábrica <strong>de</strong> sabão; em<br />
1926, iniciada a construção do hospital Pedro I e fundada a Associação<br />
Comercial; em 1928, a instalação das primeiras fábricas têxteis; entre outras<br />
implantações.<br />
Para Pimentel (1958) é, precisamente, a partir <strong>de</strong> 1930 que essa cida<strong>de</strong><br />
aumentou substancialmente seu movimento comercial, já que foi quando<br />
entraram em tráfego normal os caminhões transportadores <strong>de</strong> cargas, que<br />
“relevante e incontáveis serviços prestaram a Campina Gran<strong>de</strong> no tocante ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento” (MOBRAL, 1984, p.44).<br />
Destacando o crescimento <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, principalmente em<br />
termo comercial, a Fundação Movimento Brasileiro <strong>de</strong> Alfabetização (MOBRAL,<br />
1984, p.45) ressaltou o seguinte:<br />
61
62<br />
Em 1936, Campina Gran<strong>de</strong> já era a principal cida<strong>de</strong> do interior<br />
Nor<strong>de</strong>stino e <strong>de</strong>stacava-se pelo seu intenso comercio <strong>de</strong> algodão, na<br />
condição privilegiada <strong>de</strong> terceira praça algodoeira no mercado<br />
mundial. Contava com 14.575 prédios e uma população <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />
100.000 habitantes, possuía aproximadamente 15 indústrias, 5<br />
estabelecimentos bancários, além <strong>de</strong> colégios, cinemas, clubes, etc.<br />
Então, ratificando o que diversos estudiosos (SOUZA, 1998; FARIA<br />
FILHO, 2000; PINHEIRO, 2002) <strong>de</strong>monstraram quanto aos contextos nos quais<br />
se implantavam <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, pu<strong>de</strong>mos observar que na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Campina Gran<strong>de</strong> não foi diferente, pois esta apresentava certo <strong>de</strong>staque no<br />
interior paraibano em termos urbanos, comerciais e sociais e, portanto, já<br />
<strong>de</strong>mandava a construção <strong>de</strong> uma nova organização da escola primária pública<br />
naquele tempo.<br />
3.2 – A breve construção do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina<br />
Gran<strong>de</strong><br />
O GELS, conforme o Almanach <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (1934), começou a<br />
ser construído no dia 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1924, na então consi<strong>de</strong>rada principal<br />
avenida da cida<strong>de</strong>, a Floriano Peixoto. Sobre essa localização, a revista “Tudo”,<br />
suplemento dominical do Diário da Borborema, em matéria sobre as ruas <strong>de</strong><br />
Campina Gran<strong>de</strong> assim situa a Floriano Peixoto “Ali está o 1° Grupo Escolar <strong>de</strong><br />
Campina, o Solon <strong>de</strong> Lucena, com sua história” (REVISTA TUDO, 08/01/1984,<br />
p.07).<br />
Essa localização do GESL, na consi<strong>de</strong>rada principal rua <strong>de</strong> Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> confirmar o que alguns estudiosos, a saber: Souza (1998), Faria<br />
Filho (2000), Pinheiro (2002), verificaram quanto às construções dos primeiros<br />
<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es em alguns estados brasileiros. Tais estudiosos observaram<br />
que este novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária era majoritariamente edificado<br />
nos locais mais urbanizados das cida<strong>de</strong>s. Po<strong>de</strong>mos visualizar a disposição<br />
<strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> na seguinte foto:
Foto 2: Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena (à esquerda na fotografia).<br />
Fonte: Arquivo do Museu Histórico <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
A foto apresentada anteriormente foi publicada no Anuário <strong>de</strong> Campina<br />
Gran<strong>de</strong> do ano <strong>de</strong> 1982, no espaço <strong>de</strong>nominado “Fatos e fotos do passado”.<br />
Provavelmente, foi tirada no final da década <strong>de</strong> 1920, pois po<strong>de</strong>mos observar a<br />
rua que foi ponto <strong>de</strong> referência para o fotógrafo ainda não estava calçada. Essa<br />
foto, possivelmente, tinha o objetivo <strong>de</strong> registrar algum aspecto da rua em<br />
evidência, visto que não se percebe ninguém no momento. Esse aspecto,<br />
supostamente, po<strong>de</strong>ria ser o Cine Fox que se vê a direita, ou o próprio Grupo<br />
<strong>escolar</strong>, à esquerda, situado na rua Floriano Peixoto que se localiza<br />
horizontalmente para quem observa do ponto on<strong>de</strong> se registrou a fotografia.<br />
O <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> foi edificado no local on<strong>de</strong> funcionava o antigo mercado<br />
público da cida<strong>de</strong>, chamado “comércio velho”, à Praça Floriano Peixoto. Esse<br />
mercado,<br />
63<br />
[...] foi consi<strong>de</strong>rado na época uma construção suntuosa, e abrigou a<br />
loja <strong>de</strong> fazendas do cel. Alexandrino Cavalcanti e alguns quiosques<br />
que foram <strong>de</strong>saparecendo aos poucos. Vizinho a ele morou, até<br />
1926, Mestre Hermínio, um sapateiro remendão que teve sua época<br />
como artista e como político. O comercio velho era uma espécie <strong>de</strong><br />
cortiço: acolhia as famílias dos pequenos comerciantes e na, frente,<br />
ciganos armavam tendas e ficavam ocupando a parte aberta do
64<br />
prédio, formada em arcos. Foi abaixo esse prédio em janeiro <strong>de</strong><br />
1924, comprado pelo governo do Dr. Solon <strong>de</strong> Lucena. (PIMENTEL,<br />
1958, p.23-24)<br />
Vejamos imagem <strong>de</strong>sse mercado antigo:<br />
Foto 3: Comércio Velho <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> (Antigo Mercado Público)<br />
Fonte: Arquivo do Museu Histórico <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />
A construção do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em foco ter sido justamente no local do<br />
antigo mercado público nos leva a pensar que, estrategicamente, o <strong>grupo</strong><br />
<strong>de</strong>veria ser em um lugar <strong>de</strong> fácil acesso às famílias campinenses que iriam<br />
matricular suas crianças. Assim, nada melhor do que ser no ponto on<strong>de</strong> era o<br />
mercado, pois estava situado no centro da cida<strong>de</strong> e, basicamente, todos<br />
moradores o freqüentavam.<br />
Um outro motivo que po<strong>de</strong> justificar a construção do GESL no lugar on<strong>de</strong><br />
se localizava o Mercado Velho refere-se ao fato da busca <strong>de</strong> negar o passado,<br />
uma vez que o prédio <strong>de</strong>sse mercado era uma edificação do período imperial.<br />
(CARVALHO; QUEIROZ, 2003).
A edificação do prédio <strong>de</strong>stinado ao GESL ficou sob a responsabilida<strong>de</strong><br />
da firma “Cunha e Di Lascio”, tendo à frente o engenheiro <strong>de</strong> origem italiana<br />
“Hermenegildo Di Lascio”.<br />
A construção <strong>de</strong>sse prédio transcorreu <strong>de</strong> forma acelerada, como indica<br />
o seguinte trecho da notícia “Edifícios <strong>escolar</strong>es no interior”, escrita no jornal A<br />
União:<br />
65<br />
Vimos hontem, em mãos do engenheiro contractante Hermenegildo<br />
Di Lascio duas photographias do novo edifício, mandado construir<br />
em Campina Gran<strong>de</strong> pelo o sr. dr. Solon <strong>de</strong> Lucena, presi<strong>de</strong>nte do<br />
Estado.<br />
As obras, que apenas contam dois mezes <strong>de</strong> construcção,<br />
encontram-se muitíssimo a<strong>de</strong>antadas, sendo que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> trinta<br />
dias será iniciada a cobertura do tecto. (Jornal A UNIÃO, 12/03/1924,<br />
p.01).<br />
Ainda indicando essa agilida<strong>de</strong> na construção do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> o mesmo<br />
jornal <strong>de</strong>staca, “completavam-se ante-hotem três mezes que se trabalha na<br />
prefalada obra, sendo provável que antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>correr outro tempo egual seja o<br />
prédio entregue ao governo” (Jornal A UNIÃO, 09/04/1924, p.01).<br />
Se, por um lado, pu<strong>de</strong>mos observar através da imprensa estadual a<br />
rapi<strong>de</strong>z com a qual edificavam o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>, mandado<br />
construir pelo governo Solon <strong>de</strong> Lucena, por outro, foi possível perceber a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> findar essa construção por parte da firma, para apresentar<br />
gran<strong>de</strong> competência e eficácia, como também, por interesse do governo, para<br />
terminar o quadriênio com a obra inaugurada.<br />
Conforme o que foi publicado no jornal antes mencionado, o prédio do<br />
<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> apresenta 26 metros e 70 centímetros <strong>de</strong><br />
frente por 36 metros <strong>de</strong> fundo, sendo que sua frente, seu fundo e uma das<br />
laterais, à esquerda, dava acesso a três ruas.<br />
Po<strong>de</strong>mos afirmar que a construção do referido <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> perdurou<br />
apenas nove meses. Sobre isso Carvalho e Queiroz (2003) explicam:<br />
O <strong>grupo</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena foi construído em apenas 9 meses,<br />
durante o ano <strong>de</strong> 1924. A rapi<strong>de</strong>z da construção é símbolo não<br />
somente do progresso técnico, mas da nova função que o Estado<br />
assume diante da <strong>de</strong>manda que surge, bem como indicativo da<br />
prosperida<strong>de</strong> do município. (CARVALHO; QUEIROZ, 2003, p.31).
Quanto à aceitabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o prédio do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> ter sido construído<br />
naquela localização, Barbosa (1999), citando um trecho <strong>de</strong> um documento da<br />
Câmara Municipal <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, explicita que, para alguns vereadores,<br />
a construção do prédio <strong>escolar</strong> naquele local foi um erro, pois alegam que os<br />
responsáveis na época <strong>de</strong>veriam ter aproveitado terrenos mais amplos para ter<br />
um melhor funcionamento da instituição, longe <strong>de</strong> barulhos. Além disso, ainda<br />
conforme o referido autor, o objetivo dos vereadores em apresentar como<br />
incorreta essa construção era <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a ampliação <strong>de</strong> uma rua que era<br />
transversal à Rua Floriano Peixoto, <strong>de</strong>nominada Maciel Pinheiro, local <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
foi tirada a Foto 2 apresentada anteriormente.<br />
3.3 – Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba: um projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização para<br />
as cida<strong>de</strong>s<br />
Rompendo com a estrutura arquitetônica e espacial das escolas<br />
isoladas, as construções dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es acompanhavam todo um<br />
requinte que as <strong>de</strong>ixavam em <strong>de</strong>staque nas cida<strong>de</strong>s, uma vez que a escola<br />
além <strong>de</strong> ter sido <strong>de</strong>fendida como símbolo do saber, dada à importância<br />
estabelecida à educação <strong>escolar</strong>izada na época, seguia o processo <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rnização e urbanização das cida<strong>de</strong>s. Sobre essa questão, Nunes (1994,<br />
p.180), em um estudo sobre a relação escola e cida<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro, faz a<br />
seguinte colocação:<br />
66<br />
O paradigma ‘mo<strong>de</strong>rno’ esboçado na socieda<strong>de</strong> brasileira na<br />
passagem do século XIX para o XX configurou-se, com clareza, nas<br />
décadas <strong>de</strong> 1920 e 1930. Coube aos educadores brasileiros, nesse<br />
momento, gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> pela discussão do tema da<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e dos projetos políticos que lhe diziam respeito, a partir<br />
<strong>de</strong> certa visão <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> povo brasileiros. Ao trabalhar nos<br />
maiores e mais importantes centros urbanos do país, li<strong>de</strong>rando as<br />
famosas reformas <strong>de</strong> instrução pública, eles criaram não só a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estruturar um campo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação dos<br />
educadores, mas, sobretudo, interferiram na or<strong>de</strong>nação simbólica<br />
das cida<strong>de</strong>s, armando novas representações do urbano e do seu<br />
papel profissional <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le.
Confirmando essa proposta mo<strong>de</strong>rnizadora, que os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />
passaram a instaurar nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos, Faria Filho em seu estudo<br />
sobre os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es em Belo Horizonte ressalta que:<br />
67<br />
[...] o fato <strong>de</strong> os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es ocuparem não apenas os<br />
‘melhores prédios’, mas também aqueles mais centrais <strong>de</strong>nota, além<br />
da importância atribuída aos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na composição do<br />
<strong>de</strong>senho urbanístico da cida<strong>de</strong>, um esforço por <strong>de</strong>monstrar a<br />
centralida<strong>de</strong> que o lugar da educação <strong>escolar</strong> <strong>de</strong>veria representar no<br />
interior da cida<strong>de</strong>, como projeção política da or<strong>de</strong>m social que se<br />
queria impor ao conjunto da população, particularmente aos pobres<br />
(FARIA FILHO, 2000, p 42)<br />
Nesse sentido, os prédios construídos ou adaptados para serem <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es em cida<strong>de</strong>s mais <strong>de</strong>senvolvidas nas primeiras décadas da República<br />
se tornaram parte integrante do novo or<strong>de</strong>namento urbano. Esses edifícios<br />
“planejados para que se <strong>de</strong>stacassem em meio aos <strong>de</strong>mais prédios,<br />
provocando a admiração daqueles que os observassem” (REIS, 2006b, p.77)<br />
instituíram uma nova cultura, a da monumentalida<strong>de</strong> dos prédios <strong>escolar</strong>es,<br />
com uma estruturação específica do espaço, adaptado às funções peculiares<br />
do ensino.<br />
No estado da Paraíba, segundo Pinheiro (2002), a criação <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es acompanhou o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong>sse estado. Para este<br />
autor,<br />
[...] Apesar <strong>de</strong> a Paraíba não ter o mesmo nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
econômico dos estados <strong>de</strong> São Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Minas Gerais<br />
e nem mesmo <strong>de</strong> Pernambuco e Bahia, a criação <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es esteve no bojo do processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização do estado. É<br />
evi<strong>de</strong>nte que as preocupações com a formação do cidadão e o<br />
fortalecimento da república estiveram também presentes, embora <strong>de</strong><br />
forma secundária, nos discursos da elite paraibana, que enfatizavam<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização não só da capital, mas também das<br />
cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interior. (PINHEIRO, 2002, p.149)<br />
Então, originando uma nova organização da instrução primária, os<br />
<strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es na Paraíba acompanharam também a propaganda<br />
republicana <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização das cida<strong>de</strong>s que tinha como lema principal a<br />
superação do atraso mediante o progresso.
Explicitando essa nova feição urbana, instaurada com as adaptações e<br />
as construções <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, passamos, a partir <strong>de</strong> agora, a observar<br />
algumas <strong>de</strong>ssas edificações. Iniciemos com o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> do estado<br />
que foi implantado em 1916, como já observamos em outro momento. Este<br />
<strong>grupo</strong> que recebeu o nome <strong>de</strong> Thomas Min<strong>de</strong>llo, conforme Pinheiro (2006), foi<br />
comprado pela presidência do estado e, por conseguinte, adaptado para<br />
funcionar como primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> da Paraíba, localizado na capital<br />
paraibana, no antigo centro comercial, ao lado da Praça Aristi<strong>de</strong>s Lobo.<br />
Vejamos a fotografia da fachada <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong>:<br />
Foto 4: Fachada Grupo Escolar Tomás Min<strong>de</strong>lo<br />
Fonte: Relatório do diretor do ensino primário ao secretario do interior e segurança pública,<br />
1934.<br />
Apesar da imagem estar um pouco embaçada, po<strong>de</strong>mos observar a<br />
suntuosida<strong>de</strong> nos acabamentos <strong>de</strong>sse prédio. De acordo com Mello (2006),<br />
este <strong>grupo</strong> foi uma construção projetada pelo arquiteto italiano Pascoal Fiorillo,<br />
arquiteto que também projetou na capital paraibana o segundo prédio da<br />
Escola Normal.<br />
68
Sobre os elementos formais da arquitetura <strong>de</strong>sse edifício, Pinheiro<br />
(2008) cita que o prédio tem o formato <strong>de</strong> “V” e predomina em sua composição<br />
o estilo eclético.<br />
O ecletismo enquanto atitu<strong>de</strong>, comportamento ou estilo arquitetônico<br />
está sendo compreendido por nós “como uma corrente cultural caracterizada<br />
pela reutilização mais ou menos livre do vocabulário formal <strong>de</strong> estilos do<br />
passado” (SILVA, 1987, p.180). Em outros termos, é a utilização simultânea <strong>de</strong><br />
duas ou mais tendências arquitetônicas em uma edificação.<br />
Conforme Fabris (1987), o termo arquitetura eclética é usado em<br />
referência aos estilos surgidos durante o século XIX que exibiam combinações<br />
<strong>de</strong> elementos que podiam vir da arquitetura clássica, medieval, renascentista,<br />
barroca e neoclássica. Para esse estudioso tal estilo arquitetônico, do ponto <strong>de</strong><br />
vista técnico, aproveitou avanços da engenharia do século XIX, sendo um<br />
exemplo a utilização <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> ferro forjado em construções.<br />
É importante sabermos que no Brasil, o ecletismo durante a passagem<br />
do século XIX para o XX é a corrente dominante na arquitetura e nos planos <strong>de</strong><br />
(re)urbanização das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s (FABRIS, 1987), como po<strong>de</strong>remos<br />
observar no caso <strong>de</strong> alguns <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es construídos na Paraíba na<br />
primeira meta<strong>de</strong> do século XX.<br />
Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es que suce<strong>de</strong>ram ao Thomas Min<strong>de</strong>llo foram<br />
regulamentados pelo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> número 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1917, que<br />
discutimos no capítulo anterior. Conforme já visto neste regulamento, a<br />
construção dos prédios para <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es só era assegurada na Paraíba<br />
para a capital e cida<strong>de</strong>s que possibilitassem uma freqüência <strong>escolar</strong> acima <strong>de</strong><br />
trinta alunos.<br />
Portanto, as localida<strong>de</strong>s com maior número <strong>de</strong> alunos matriculados no<br />
ensino primário e, provavelmente, com o <strong>de</strong>senvolvimento em ascensão foram<br />
privilegiadas para a implantação <strong>de</strong>sse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização <strong>escolar</strong><br />
primária. Sobre essa questão, Bencostta (2005, p.97) observa que as<br />
administrações dos estados tinham “no urbano o espaço privilegiado para a<br />
[edificação dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es], em especial, nas capitais e cida<strong>de</strong>s<br />
prósperas economicamente”.<br />
69
Outros prédios, então, passaram a ser construídos na Paraíba,<br />
perfazendo edificações <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nas cida<strong>de</strong>s.<br />
Na capital Cida<strong>de</strong> da Parahyba e no município <strong>de</strong> Umbuzeiro, por<br />
exemplo, em 1920 foram inaugurados dois novos prédios <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es.<br />
Nesse mesmo ano, na citada capital, também se findava a construção <strong>de</strong> um<br />
outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, como expressou o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado Camillo <strong>de</strong><br />
Hollanda em mensagem encaminhada a Assembléia Legislativa do Estado em<br />
1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1920:<br />
70<br />
Já está terminada a construcção do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> ‘Antônio Pessoa’,<br />
situado à avenida Beaurepaire Rhoan, aqui no município da capital,<br />
<strong>de</strong>vendo ser inaugurado nos primeiros dias <strong>de</strong>ste mez [sic].<br />
Também está em vias <strong>de</strong> conclusão, o outro <strong>grupo</strong> <strong>de</strong> egual [sic]<br />
nome no município <strong>de</strong> Umbuzeiro.<br />
Na avenida João Machado, ultima-se a construcção do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />
‘Isabel Maria das Neves’, edificado pela doação testamentária do<br />
saudoso parahybano Alípio Machado. (PARAHYBA DO NORTE,<br />
Estado da. 1920, p.13)<br />
Sobre a arquitetura do prédio <strong>de</strong>stinado a ser o Grupo Escolar Isabel<br />
Maria das Neves, Pinheiro (2008) ressalta que:<br />
O prédio apresenta linhas suntuosas do ecletismo, com forte<br />
inspiração no neocolonial (beiral do telhado a vista), todavia, é<br />
singelamente <strong>de</strong>corado com guirlandas o que remete às influências<br />
do art nouveau. Constituído <strong>de</strong> dois pavimentos, com elevado pédireito.<br />
Em todos os seus lados, a escola, possui amplas janelas,<br />
favorecendo ótima iluminação interna e circulação do ar. (PINHEIRO,<br />
2008, p.26)<br />
Alguns <strong>de</strong>sses elementos arquitetônicos po<strong>de</strong>m ser observados na<br />
seguinte imagem:
Foto 5: Fachada Grupo Escolar Isabel Maria das Neves<br />
Fonte: Fonte: Relatório do diretor do ensino primário ao secretario do interior e segurança<br />
pública, 1934.<br />
Em 1921, o jornal “O Educador”, veículo <strong>de</strong> comunicação paraibano,<br />
voltado particularmente à educação, publicou em novembro o relatório do<br />
diretor <strong>de</strong> instrução pública do período, João Alci<strong>de</strong>s Bezerra Cavalcanti. Nesse<br />
relatório, um dos aspectos ressaltados pelo diretor foi a orientação para<br />
construção <strong>de</strong> prédios <strong>escolar</strong>es. Segue o norteamento feito por ele para as<br />
edificações:<br />
71<br />
a) em terreno sêcco e permeável;<br />
b) numa area nunca inferior a 1.000 m² ;<br />
c) fora do alinhamento das ruas;<br />
d) longe do ruído das officinas;<br />
e) inteiramente livres <strong>de</strong> quaisquer outros edificios e <strong>de</strong> modo que os<br />
raios solares tangenciando a parte superior dos vãos das janellas e<br />
portas cheguem ao extremo opposto do piso;<br />
f) com um apparelho sanitário e um lavatório pelo menos, para cada<br />
<strong>grupo</strong> <strong>de</strong> 30 alumnos;<br />
g) expostos ao nascente;<br />
h) com elevação nunca inferior a 0,60 m e o piso perfeitamente<br />
impermeabilizado e livre <strong>de</strong> restas que concorra para o accumulo <strong>de</strong><br />
sugida<strong>de</strong>s;<br />
i) com cantos das pare<strong>de</strong>s e alizares tanto inferiores como<br />
superiores arredondados;<br />
j) com distribuição <strong>de</strong> luz unilateral ou bilateral, neste ultimo caso a<br />
luz <strong>de</strong>ve ser indirecta num dos lados;<br />
k) com tres salas para as escolas isoladas, seis para as escolas<br />
reunidas e nove para os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, cada uma com<br />
capacida<strong>de</strong> para trinta alumnos;
72<br />
l) com janellas e caixilhos dispostos <strong>de</strong> forma que abertas aquellas<br />
não <strong>de</strong>terminem perda <strong>de</strong> espaço interior;<br />
m) com material <strong>de</strong> lei;<br />
n) com um compartimento pra a directoria e archivo.<br />
o) com area <strong>de</strong>scoberta para recreio;<br />
q) com fossa aseptica, nas localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> não houver esgotto.<br />
(Jornal O EDUCADOR, 14/11/1921, p.02)<br />
Observamos que as <strong>de</strong>terminações para construções <strong>de</strong> prédios<br />
<strong>escolar</strong>es além <strong>de</strong> apresentarem características que os i<strong>de</strong>ntifiquem como<br />
suntuosos e imponentes edifícios <strong>de</strong>stacam também preceitos higiênicos a<br />
serem respeitados.<br />
De acordo com Pinheiro (2006), o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> Isabel Maria da Neves<br />
(figura 5) foi uma das edificações que seguiu mais rigorosamente essas<br />
normatizações e orientações arquitetônicas estipuladas pela direção geral da<br />
instrução pública do estado.<br />
Em 1924, como salientamos anteriormente, em Campina Gran<strong>de</strong> se<br />
constrói e inaugura o GESL que, foi projeto do arquiteto italiano Hermenegildo<br />
Di Lascio 9 . De acordo com Aguiar e Octávio (1987), esse arquiteto foi quem<br />
também projetou na capital as praças do Carmo e Aristi<strong>de</strong>s Lobo e os edifícios<br />
da Associação Comercial, Grupo Escolar Isabel Maria das Neves, Escola <strong>de</strong><br />
Aprendizes Artífices e outras construções.<br />
A edificação do GESL foi uma evidência monumental para Campina<br />
Gran<strong>de</strong> que, estava em processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e urbanização, como<br />
pu<strong>de</strong>mos observar anteriormente. Vejamos, então, a fachada <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong><br />
<strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>:<br />
9 Conforme Mello (2006), Hermenegildo Di Lascio fixou-se na Paraíba mediante a<br />
intermediação <strong>de</strong> um parente chamando Pascoal Florentino que tinha se instalado no Recife.
Foto 6: Fachada Grupo Escolar Solón <strong>de</strong> Lucena<br />
Fonte: Relatório do diretor do ensino primário ao secretario do interior e segurança pública,<br />
1934.<br />
Sobre esse prédio, construído com o fim <strong>de</strong> ser o primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />
<strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, é necessário informar, com base em Negrão (2008), que<br />
essa edificação apresenta sua principal fachada voltada para uma das mais<br />
antigas ruas <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, a Floriano Peixoto, como vimos em outro<br />
momento.<br />
Concernente às características <strong>de</strong> edificação da referida construção, a<br />
autora citada nos indica que sua planta é em forma <strong>de</strong> “U”, com um pátio<br />
central, on<strong>de</strong> se localiza hoje um jardim. Para a mesma autora, “a arquitetura<br />
do prédio possui qualida<strong>de</strong>s estéticas associadas ao ecletismo” (NEGRÃO,<br />
2008, p.10).<br />
Aprofundando um pouco a arquitetura <strong>de</strong>sse prédio, que foi tombado<br />
como patrimônio histórico em 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1997, pelo Instituto do<br />
Patrimônio Histórico e Arquitetônico do Estado da Paraíba (IPHAEP), é<br />
importante citarmos o que a arquiteta Ruth Nina Vieira Levy <strong>de</strong>staca em um<br />
73
texto sobre os elementos formais <strong>de</strong>sse prédio. Esse texto foi apresentado no<br />
momento do tombamento do mesmo (1997) e publicado em um folheto <strong>de</strong><br />
divulgação do Museu <strong>de</strong> Arte Assis Chateaubriand, instituição que hoje ocupa<br />
tal prédio. Vejamos tal especificação:<br />
arquiteta:<br />
Foto 7: Vestíbulo<br />
Fonte: INPHAEP<br />
74<br />
Predominam na composição do prédio horizontalida<strong>de</strong> e simetria. A<br />
fachada principal divi<strong>de</strong>-se em três corpos. O central on<strong>de</strong> há um<br />
vestíbulo, é <strong>de</strong>nominado por um pórtico que possui duas colunas<br />
lisas, encimadas por um frontão triangular com relevos no tímpano.<br />
Os corpos laterais, que são levemente recuados em relação ao<br />
central, possuem cada um, duas janelas <strong>de</strong> verga reta encimadas<br />
por frontões triangulares. Uma cimalha corre por toda a fachada na<br />
altura <strong>de</strong>stes frontões. Duas pilastras separam os corpos da fachada,<br />
sendo esta arrematada por cunhais nas extremida<strong>de</strong>s. Nas fachadas<br />
laterais janelas semelhantes às da fachada principal se repetem,<br />
aparecendo também algumas portas. Platibandas encimados por<br />
movimentos <strong>de</strong>corativos – vasos e cartelas- escon<strong>de</strong>m o telhado.<br />
Uma balaustrada aparece na lateral esquerda do edifício. Assim,<br />
temos um exemplar arquitetônico tardio on<strong>de</strong> aparecem vários dos<br />
elementos característicos do vocabulário clássico, mas on<strong>de</strong> a<br />
sobrieda<strong>de</strong> e o rigor formal do neoclassicismo estão quebrados pela<br />
introdução <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong>corativos ecléticos que aparecem,<br />
sobretudo, na ornamentação das janelas. (MUSEU DE ARTE ASSIS<br />
CHATEAUBRIAND, 2008, p.01)<br />
Algumas fotografias po<strong>de</strong>m ilustrar <strong>de</strong>terminados elementos citados pela<br />
Foto 8: Aspecto do frontão triangular<br />
Fonte: INPHAEP
Foto 9:Elemento <strong>de</strong>corativo da parte<br />
superior do vestíbulo<br />
Fonte: INPHAEP<br />
Foto 11: Elemento <strong>de</strong>corativo na platibanda<br />
Fonte: INPHAEP<br />
Foto 10: Detalhes das janelas laterais<br />
Fonte: INPHAEP<br />
Foto 12: Elemento <strong>de</strong>corativo superior<br />
Fonte: INPHAEP<br />
75
As fotografias antes apresentadas exibem alguns dos elementos que<br />
po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>stacar as qualida<strong>de</strong>s construtivas do prédio do GESL. Tratam <strong>de</strong><br />
elementos que <strong>de</strong>ixam, até hoje, a edificação em evidência como uma bonita,<br />
imponente, trabalhada, arejada construção. Por exemplo, na foto 7 o vestíbulo<br />
bem expressa a imponência do referido prédio <strong>escolar</strong> e na foto 10, por sua<br />
vez, po<strong>de</strong>mos observar que as janelas possivelmente garantiam iluminação e<br />
ventilação a<strong>de</strong>quadas à instituição.<br />
Um outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> que merece <strong>de</strong>staque no projeto <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rnização das cida<strong>de</strong>s paraibanas é o do município <strong>de</strong> Souza, criado pelo<br />
<strong>de</strong>creto número 1.525 <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1928. Observemos a fachada<br />
principal <strong>de</strong>ste prédio:<br />
Foto 13: Fachada Grupo Escolar Professor Batista Leite<br />
Fonte: Fonte: Relatório do diretor do ensino primário ao secretario do interior e segurança<br />
pública, 1934.<br />
Po<strong>de</strong>mos ressaltar a partir <strong>de</strong>ssa fotografia do Grupo Escolar Professor<br />
Batista Leite o possível respeito a algumas das orientações para construção <strong>de</strong><br />
prédios <strong>escolar</strong>es apresentadas anteriormente, a saber, uma edificação que<br />
provavelmente apresenta alinhamento fora do das ruas, é livre <strong>de</strong> edificações<br />
76
aos arredores do mesmo, evi<strong>de</strong>ncia janelas que possibilitam uma boa<br />
passagem <strong>de</strong> vento e raios solares, entre outras características que o tornam<br />
uma linda e pomposa edificação.<br />
Então, não temos dúvidas que as construções que mencionamos até<br />
aqui acompanharam os preceitos <strong>de</strong> “Templos <strong>de</strong> Civilização” (SOUZA, 1998),<br />
“Palácios do saber” (FARIA FILHO, 2000) e símbolos imponentes para as<br />
cida<strong>de</strong>s.<br />
Assim, concordamos com o que Buffa e Pinto (2002) salientam sobre as<br />
edificações <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es no início da República:<br />
77<br />
Impossível não distinguir, com clareza, na paisagem da cida<strong>de</strong>, um<br />
edifício imponente on<strong>de</strong> funcionava um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> construído nas<br />
primeiras décadas do período republicano. Situados em regiões<br />
nobres, esses edifícios marcam, <strong>de</strong>finitivamente, pela imponência e<br />
localização, seu significado no tecido urbano. Não se trata <strong>de</strong> mero<br />
acaso. Os terrenos foram estrategicamente escolhidos e os projetos<br />
judicialmente <strong>de</strong>senvolvidos. [...].Em bairros da capital e em cada<br />
cida<strong>de</strong> do interior do Estado on<strong>de</strong> foi implantado, o Grupo Escolar,<br />
símbolo <strong>de</strong> uma cultura leiga e popular, integrava o núcleo urbano<br />
composto pela Prefeitura, os correios, casa bancária, praça central e<br />
Igreja matriz. Ao mesmo tempo, distinguia-se das residências, das<br />
casas comerciais e dos <strong>de</strong>mais edifícios que constituem a cida<strong>de</strong>.<br />
(BUFFA; PINTO, 2002, p. 43)<br />
Portanto, observamos que, na Paraíba, pelo menos a partir das<br />
edificações <strong>escolar</strong>es que exploramos, essa distinção no cenário urbano foi<br />
principalmente impressa nas fachadas dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es que se<br />
<strong>de</strong>stacavam suntuosamente nas localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> eram construídos, chamando<br />
a atenção das pessoas e provavelmente fazendo com que houvesse interesse<br />
por parte das famílias em matricular seus filhos nesse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola.<br />
Além disso, <strong>de</strong> certa forma, po<strong>de</strong>mos explicitar que, os primeiros <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es <strong>de</strong>sse estado foram projetados nas regiões mais <strong>de</strong>senvolvidas e<br />
centrais das cida<strong>de</strong>s, como foi o caso do GESL em Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
Nesse sentido, concordando com Sales (2000, p.39), consi<strong>de</strong>ramos que<br />
os prédios <strong>escolar</strong>es, no nosso caso <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, são signos 10 , já que<br />
os mesmos possuem “uma linguagem própria”, sendo sua produção e seus<br />
efeitos “reflexos da cultura produzida em <strong>de</strong>terminado contexto social e<br />
histórico”.<br />
10 Para Sales (2000), o signo se refere à emissão <strong>de</strong> mensagens.
3.4 – Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena: espaço <strong>de</strong> educar e civilizar as<br />
crianças?<br />
É possível pensar a estrutura física <strong>de</strong> um lugar como espaço que educa<br />
e civiliza? Um espaço físico <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> po<strong>de</strong> influenciar na educação<br />
dos alunos matriculados? Teria alguma diferença ensinar e apren<strong>de</strong>r em um<br />
espaço como um galpão ou em um lugar com salas <strong>de</strong> aulas, pátio para<br />
recreio, banheiros?<br />
Essas perguntas nos levaram à seguinte discussão. Primeiramente,<br />
pensar a ativida<strong>de</strong> humana, especificamente a ação educativa como<br />
requerente <strong>de</strong> um espaço próprio para acontecer.<br />
Segundo Frago (1998), o ato <strong>de</strong> ensinar e o <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, ou seja, a<br />
educação institucionalizada necessita <strong>de</strong> um espaço para se realizar e esse<br />
espaço enquanto ocupado e utilizado supõe a sua constituição enquanto lugar,<br />
uma vez que<br />
78<br />
o espaço se projeta ou se imagina; o lugar se constrói. Constrói-se ‘<br />
a partir do fluir da vida’ e a partir do espaço como suporte; o espaço,<br />
portanto, está sempre disponível e disposto para converter-se em<br />
lugar, para ser construído. (FRAGO, 1998, p.61)<br />
Reportando-nos à epígrafe que selecionamos para iniciar este capítulo e<br />
pensando na escola enquanto lugar, colocamo-nos como enten<strong>de</strong>dores <strong>de</strong>sse<br />
lugar como uma construção social, revestido <strong>de</strong> símbolos, signos e vestígios da<br />
condição e das relações sociais <strong>de</strong> e entre aqueles que o<br />
constituem/constituíram e o ocupam/ocuparam. Isso significa dizer, segundo<br />
Frago (1998), que o espaço <strong>escolar</strong>, como qualquer outro, jamais é neutro, pois<br />
o mesmo<br />
foi historicamente o resultado da confluência <strong>de</strong> diversas forças ou<br />
tendências. Algumas mais amplas <strong>de</strong> caráter social, como a<br />
especialização ou segmentação das diversas tarefas ou funções<br />
sociais e a autonomia das mesmas, umas em relação às <strong>de</strong>mais. E<br />
outras mais específicas em relação ao âmbito educativo, como a<br />
profissionalização do trabalho docente. Da mesma maneira que para<br />
ser professor ou mestre não servia qualquer pessoa, tampouco<br />
qualquer edifício ou local servia para ser uma escola. O edifício<br />
<strong>escolar</strong> <strong>de</strong>via ser configurado <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong>finido e próprio,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> qualquer outro, em um espaço também a<strong>de</strong>quado<br />
para tal fim. Isso implicava seu isolamento ou separação. Também<br />
sua i<strong>de</strong>ntificação arquitetônica enquanto tal. Alguns signos próprios.
E, no fundo, recolocar as relações entre o interno e o externo, aquilo<br />
que se situa fora. (FRAGO, 1998, p.73)<br />
É importante ainda ressaltarmos, com base em Souza (1998), que como<br />
uma construção social o lugar <strong>escolar</strong>, especialmente dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es,<br />
ostentaram representações políticas, intelectuais e sociais. Tornaram-se<br />
verda<strong>de</strong>ira apologia à República e à cultura urbana. Como exemplificação<br />
<strong>de</strong>ssa simbologia, a citada autora <strong>de</strong>staca que nas fachadas alguns dos<br />
símbolos são emblemáticos, como “a <strong>de</strong>nominação atribuída ao patrono revela<br />
um tributo à memória <strong>de</strong> importantes autorida<strong>de</strong>s políticas” (SOUZA, 1998,<br />
p.134).<br />
Consi<strong>de</strong>ramos que a escola como lugar é <strong>de</strong>finida juntamente com a<br />
constituição do espaço social e cultural da mesma. Nesse sentido, as formas<br />
que constituem a escola “ten<strong>de</strong>m a ser físicas e humanas a uma só vez”<br />
(SOUZA, 1998, p. 123).<br />
Para Frago (1998), a escola, por ser um lugar constituído, po<strong>de</strong> variar no<br />
tempo para alunos e professores. Historicamente, po<strong>de</strong>mos relembrar vários<br />
tipos <strong>de</strong> escolas: a escola a domicílio, baseada em preceptores, as escolas<br />
isoladas, as rurais, as escolas seriadas. Acreditamos que cada um <strong>de</strong>sses<br />
lugares <strong>escolar</strong>es, constituídos a partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada concepção,<br />
formava um tipo <strong>de</strong> aluno como também requeria um <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong><br />
professor.<br />
Se tomarmos como exemplo as escolas isoladas ou ca<strong>de</strong>iras isoladas<br />
próprias <strong>de</strong> uma época, po<strong>de</strong>remos observar que suas características físicas<br />
são: funcionamento em salas <strong>de</strong> visita <strong>de</strong> casas particulares, salões <strong>de</strong> casas-<br />
gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> engenho, alpendres <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> sítios, entre outros locais. Esse<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>escolar</strong> expressa, <strong>de</strong> certa forma, a importância que se dava à<br />
instrução primária no período <strong>de</strong> sua expansão, isto é, explicita o sentido da<br />
educação na época.<br />
Segundo a análise <strong>de</strong> Pinheiro (2002), as ca<strong>de</strong>iras isoladas no estado da<br />
Paraíba traziam uma série <strong>de</strong> constrangimentos, tanto aos professores e sua<br />
família como aos alunos que ali passavam a conviver no momento das aulas.<br />
Este constrangimento, conforme o referido autor, era <strong>de</strong>corrente, na maioria<br />
79
das vezes, <strong>de</strong> confusões que aconteciam entre a professora e seu esposo, aos<br />
ouvidos dos alunos. Sendo assim, o aluno que se formava nesse tipo <strong>de</strong> escola<br />
era obrigado a conviver com tais situações que podiam pesar negativamente<br />
na sua formação.<br />
Diferentemente, as escolas seriadas, reportando-nos exclusivamente<br />
aos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, apresentavam outras características físicas que,<br />
consequentemente possibilitavam outra formação aos alunos, em comparação<br />
à das ca<strong>de</strong>iras isoladas. Os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, imbuídos <strong>de</strong> toda uma<br />
simbologia do novo regime político, <strong>de</strong>marcavam novos espaços e nova<br />
disposição <strong>escolar</strong> para, assim, condizer com os objetivos republicanos, a<br />
saber, educar, civilizar e moralizar o povo brasileiro.<br />
Para Souza (1998), os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es foram as edificações que<br />
melhor expressaram a escola como lugar. Observemos o dizer <strong>de</strong>sta autora:<br />
80<br />
[...] os <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es foram os estabelecimentos <strong>de</strong> ensino mais<br />
representativos <strong>de</strong>ssa conformação da escola como lugar. [...] Dessa<br />
forma, os edifícios dos primeiros <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es pu<strong>de</strong>ram sintetizar<br />
todo o projeto político atribuído à educação popular: convencer,<br />
educar, dar-se a ver! O edifício escola torna-se portador <strong>de</strong> uma<br />
i<strong>de</strong>ntificação arquitetônica que o diferencia dos <strong>de</strong>mais edifícios<br />
públicos e civis ao mesmo tempo em que o i<strong>de</strong>ntifica como um<br />
espaço próprio - lugar específico para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e do<br />
trabalho docente (SOUZA, 1998, p. 123)<br />
É crucial ainda <strong>de</strong>stacarmos que, como lugar específico com<br />
características próprias, a instituição <strong>escolar</strong> “leva consigo sua convivência<br />
como território por aqueles que com ele se relacionam” (FRAGO, 2005, p.17).<br />
Esse território está relacionado às <strong>de</strong>marcações que compõem o lugar <strong>escolar</strong>,<br />
ou seja, a sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados alunos e seu professor, o<br />
pátio, a sala da direção e outras <strong>de</strong>pendências físicas.<br />
Então, é respaldada nesses pressupostos explicitados acima que<br />
tomamos o espaço-lugar do GESL como um ambiente que educa, moraliza,<br />
incute valores, civiliza, enfim, como lugar <strong>de</strong> formação do cidadão republicano.<br />
Iniciemos, portanto, sabendo que esse <strong>grupo</strong> foi criado com o objetivo <strong>de</strong><br />
incorporar as ca<strong>de</strong>iras do ensino primário existentes na época em Campina<br />
Gran<strong>de</strong>. Então, como já observado em outro momento <strong>de</strong> nosso estudo, pela
incorporação das ca<strong>de</strong>iras do sexo feminino, do sexo masculino e da mista<br />
<strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong>.<br />
Nesse sentido, se o objetivo era agrupar as ca<strong>de</strong>iras antes<br />
mencionadas, não po<strong>de</strong>ria ser o prédio <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> uma construção<br />
pequena ou muito pequena. Essa construção <strong>de</strong>veria ter capacida<strong>de</strong> para<br />
aten<strong>de</strong>r todos os alunos daquelas ca<strong>de</strong>iras, que como supomos anteriormente,<br />
girava em torno <strong>de</strong> 80 crianças.<br />
É informado no Anuário <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1925 que o GESL<br />
apresentava as seguintes <strong>de</strong>pendências físicas no projeto original: seis salões<br />
(salas <strong>de</strong> aulas); duas gran<strong>de</strong>s áreas para recreio, uma sala on<strong>de</strong> se instalava<br />
o gabinete da diretoria e outra sala para a secretaria. Complementa este<br />
anuário que cada sala <strong>de</strong> aula comportava em média 40 alunos, portanto, salas<br />
bastante amplas.<br />
Para melhor analisarmos o espaço <strong>escolar</strong> do GESL tomaremos por<br />
base uma planta baixa do prédio da referida instituição. Contudo, é importante<br />
salientarmos que esta planta foi elaborada por uma arquiteta que estudou a<br />
então edificação no ano <strong>de</strong> 2008. Portanto, não se trata da planta original, mas<br />
uma planta que <strong>de</strong>marca traços originais da construção.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos importante <strong>de</strong>stacar que a planta original não foi<br />
encontrada por nós. Daí a alternativa <strong>de</strong> trabalhar com a da arquiteta Ana G.<br />
Negrão. Vejamos então essa planta:<br />
81
Foto 14: Planta baixa do edifício do GESL<br />
Fonte: NEGRÃO, Ana Gomes (2008)<br />
82
Po<strong>de</strong>mos visualizar nessa planta baixa que o edifício do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />
constituía uma construção térrea formado por um único pavimento que,<br />
apresentava simetria na sua edificação, especialmente na parte interior.<br />
Observemos, primeiramente, a configuração da entrada <strong>de</strong>sse prédio.<br />
Temos nessa planta três espaços abertos: um maior que fica no centro e dois<br />
menores, um do lado esquerdo e outro do lado direito. Não sabemos por que a<br />
arquiteta que elaborou essa planta marcou esse espaço central como<br />
passagem, pois até atualmente esse local é fechado, tendo o edifício,<br />
exclusivamente, a passagem do lado esquerdo e a do lado direito. Essa<br />
configuração <strong>de</strong> duas entradas que dão acesso direto às alas do prédio, indica-<br />
nos que possivelmente se organizavam a entrada dos alunos no <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />
conforme o sexo, pelo menos nos primeiros anos <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong>ssa<br />
instituição, ou seja, <strong>de</strong>limitava-se a passagem <strong>de</strong> meninas para uma porta e a<br />
<strong>de</strong> meninos para outra. Suponhamos isso porque, segundo Buffa e Pinto<br />
(2002) e Faria Filho (2000), a configuração da maioria dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />
nas primeiras décadas do regime republicano apresentava entradas<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes para meninos e para meninas.<br />
No centro do pavimento é possível observarmos uma espécie <strong>de</strong> jardim.<br />
Esse jardim, conforme documento emitido pelo INPHAEP no momento do<br />
tombamento (1997) do edifício, consistia <strong>de</strong> um pátio no período em que<br />
funcionava o GESL. Esse pátio, assim como os espaços que ficavam ao fundo<br />
da edificação, on<strong>de</strong> recentemente se construiu a se<strong>de</strong> da reitoria da<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba (UEPB), e ao lado direito, eram<br />
supostamente utilizados para o momento <strong>de</strong> diversão e <strong>de</strong>scanso dos alunos<br />
do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, <strong>de</strong>marcado pelo recreio. Esses últimos espaços que<br />
<strong>de</strong>stacamos tratavam-se das duas gran<strong>de</strong>s áreas já referidas por nós,<br />
mencionadas pelo Anuário <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> do ano <strong>de</strong> 1925.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos importante enfatizar que esse pátio, conforme observado<br />
em algumas edições do Jornal “O Século” e “Voz da Borborema” serviam<br />
83
também para as festas cívicas da escola, como também para alguns eventos<br />
da socieda<strong>de</strong> civil campinense, como reuniões do Grêmio Renascença 11 .<br />
Esse pátio, como a calçada do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, as duas áreas para recreio<br />
e os corredores, referem-se ao que Souza (1998) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “lugares<br />
comuns na escola”. É lugar comum porque é nesses espaços que alunos <strong>de</strong><br />
diferentes ida<strong>de</strong>s e níveis <strong>de</strong> conhecimento se relacionam, ou pelo menos se<br />
encontram, bem como se <strong>de</strong>param com outros professores.<br />
Sendo assim, o pátio configura-se como espaço <strong>de</strong> encontro por<br />
excelência <strong>de</strong> meninos e meninas e professores e professoras. Professores por<br />
que estes, juntamente com os porteiros e/ou bedéis, no momento do recreio<br />
<strong>de</strong>veriam ficar vigiando os alunos para que se evitasse a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. Além<br />
disso, o pátio “[consistia] o único lugar <strong>de</strong>ntro da escola on<strong>de</strong> os corpos<br />
[podiam] se movimentar com maior liberda<strong>de</strong> sem chocar com os móveis e com<br />
as fronteiras imediatas” (SOUZA, 1998, p.144).<br />
As salas <strong>de</strong> aulas dispostas em forma retangular, aos nossos olhos,<br />
foram apropriadas para facilitar o controle do professor em relação aos seus<br />
alunos, como também, proporcionar a concentração dos mesmos em uma<br />
única extremida<strong>de</strong>, isto é, no lado on<strong>de</strong> estava o professor e o quadro-negro.<br />
Além disso, essa disposição ajuda a organização dos móveis da sala <strong>de</strong> aula,<br />
como ca<strong>de</strong>iras e mesa do professor.<br />
Segundo Souza (1998), essa configuração das salas <strong>de</strong> aulas para as<br />
escolas primárias, especificamente <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, tinha como objetivo aten<strong>de</strong>r<br />
o princípio da racionalida<strong>de</strong> funcional e a critérios disciplinadores. Por isso, o<br />
apartamento retangular tornou-se o espaço mais apropriado para aula.<br />
As salas da direção e da secretaria, as quais ficavam localizadas aos<br />
lados do hall <strong>de</strong> entrada do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, indica-nos a importância que tinham<br />
esses lugares, ou mais precisamente as pessoas que os ocupavam, na<br />
instituição. Localizadas nas primeiras salas do edifício, a direção e a secretaria,<br />
11 Conforme o Anuário <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> do ano <strong>de</strong> 1925, o Grêmio Renascença era uma<br />
socieda<strong>de</strong> que tinha por finalida<strong>de</strong> distrair seus membros e promover a sociabilida<strong>de</strong> entre os<br />
mesmos.<br />
84
e principalmente a primeira, <strong>de</strong>monstravam com essa fixação estar à frente da<br />
escola, ou seja, comandá-la.<br />
Um outro lugar que consi<strong>de</strong>ramos relevante <strong>de</strong>stacar é a acomodação<br />
dos banheiros. Estes se localizavam fora do pavimento do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, ou<br />
seja, não ficavam próximos às salas <strong>de</strong> aulas. Os banheiros do GESL foram<br />
edificados na área aberta que ficava do lado esquerdo <strong>de</strong>ssa instituição,<br />
conforme se po<strong>de</strong> perceber na planta apresentada anteriormente (imagem 14).<br />
Acreditamos que essa acomodação estava baseada nos princípios higiênicos<br />
que eram propagados na época, assim como nas orientações apresentadas<br />
pelo diretor da instrução pública concernentes às edificações <strong>de</strong> prédios<br />
<strong>escolar</strong>es.<br />
É crucial explicitarmos que diferentemente da maioria dos <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es construídos na primeira meta<strong>de</strong> do século XX no Brasil o GESL não<br />
apresentava um muro que o separava da rua. Por isso, po<strong>de</strong>mos fazer duas<br />
suposições: uma que o terreno on<strong>de</strong> foi construído o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> não foi<br />
suficiente para edificar o muro, pois se o construísse podia sair do alinhamento<br />
da rua e outra que, provavelmente, a relação escola cida<strong>de</strong> era <strong>de</strong> forma direta<br />
sem a fronteira física <strong>de</strong> um muro. Assim sendo, teria mais trabalhos os<br />
professores e, principalmente, o porteiro com as prováveis fugas dos alunos, se<br />
é que existiam.<br />
Acreditamos que a organização espacial do GESL instaurou uma nova<br />
cultura <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>. A cultura do espaço próprio para cada<br />
momento <strong>escolar</strong>: o espaço da aula <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada turma, o espaço da<br />
resolução <strong>de</strong> problemas <strong>escolar</strong>es, o espaço da <strong>de</strong>scontração e brinca<strong>de</strong>iras, o<br />
espaço das festas, o espaço dos professores conversarem e assim por diante.<br />
Espaços estes envolvidos pela dialética do individual e do coletivo, da or<strong>de</strong>m e<br />
da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. Portanto, construções sociais revestidas <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ologia que<br />
pairava na época e que, conseqüentemente, refletiam a idéia <strong>de</strong> civilizar,<br />
moralizar e educar a população, principalmente as crianças matriculadas.<br />
85
CAPÍTULO 4 – INAUGURAÇÃO, COMEMORAÇÕES E EXPOSIÇÕES<br />
ESCOLARES: MOMENTOS DE FESTA DO GRUPO ESCOLAR SOLON DE<br />
LUCENA PARA A SOCIEDADE CAMPINENSE<br />
Por freqüentar um e outro campo, o historiador apren<strong>de</strong>u a levar em<br />
consi<strong>de</strong>ração a armadura que a ritualização dá à existência humana, mesmo<br />
que seja uma ritualização anônima, <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> regulamentação explicita<br />
ou <strong>de</strong> coesão coerente.<br />
86<br />
Mona Ozouf (1976)<br />
É comum se pensar as festas como momentos <strong>de</strong> comemoração,<br />
<strong>de</strong>scontração, solenida<strong>de</strong>, nos quais pessoas se confraternizam, trocam<br />
experiências, atuam diferentemente, preparam-se totalmente, observam,<br />
alegram-se em torno <strong>de</strong> algo, como uma data que marca um acontecimento.<br />
Todavia, consi<strong>de</strong>ramos importante pensar as festas também como<br />
espaços <strong>de</strong> múltiplos significados e/ou interesses, ou seja, como momentos,<br />
por exemplo, nos quais alguém ou um <strong>grupo</strong> requer reconhecimento da<br />
população por algo realizado, <strong>de</strong> inculcar sentidos nas pessoas, <strong>de</strong> disseminar<br />
valores e crenças, <strong>de</strong> fazer exaltação a uma <strong>de</strong>terminada personagem.<br />
Ressaltando essa discussão Cândido (2007, p.13) explicita que<br />
As festas para diferentes socieda<strong>de</strong>s no <strong>de</strong>correr da história da<br />
humanida<strong>de</strong>, como por exemplo, nas socieda<strong>de</strong>s primitivas [...] foram<br />
momentos <strong>de</strong>dicados exclusivamente à manifestação da felicida<strong>de</strong><br />
coletiva por algum acontecimento humano (nascimentos, mortes,<br />
aniversários) ou da natureza (plantação, colheitas, mudanças das<br />
estações climáticas), expressaram algum ritual, passagem do tempo,<br />
homenagens aos <strong>de</strong>uses, <strong>de</strong>ntre outras funções. No caso das<br />
socieda<strong>de</strong>s republicanas, a festa, principalmente a cívica,<br />
representou um momento para a reconstrução do imaginário político<br />
e social dos cidadãos, com o principal objetivo <strong>de</strong> disseminar os<br />
valores associados ao novo regime, celebrar a conquista do governo<br />
pelo povo, o nascimento ‘florescimento’ <strong>de</strong> um novo período.<br />
Nesse sentido, além <strong>de</strong> expressarem significados e interesses<br />
diversificados as festas, <strong>de</strong> um modo geral, também<br />
representaram/representam a cultura <strong>de</strong> povos distintos <strong>de</strong> momentos<br />
históricos variados.
De acordo com Ozouf (1976, p. 216-217), o tema festa pouco foi<br />
consi<strong>de</strong>rado nos estudos dos historiadores em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes terem “se<br />
preocupado conscientemente mais com os trabalhos e os esforços dos homens<br />
do que com os seus divertimentos ou, como se queira, com as suas diversões”.<br />
Para essa historiadora, “a história da festa será a história <strong>de</strong> um fenômeno em<br />
gran<strong>de</strong> parte cego para a história”.<br />
Todavia, po<strong>de</strong>mos dizer que estamos avançando no sentido <strong>de</strong> surgirem<br />
estudos sobre a história das festas. E focando, particularmente, a história da<br />
educação, digamos que a escassez <strong>de</strong>sses estudos po<strong>de</strong> estar sendo<br />
superada com a iniciativa <strong>de</strong> alguns pesquisadores, como Souza (1998) no<br />
livro “Templo <strong>de</strong> civilização: a implantação da escola primária graduada no<br />
estado <strong>de</strong> São Paulo (1890-1910)”, especificamente no capítulo intitulado como<br />
“Templos <strong>de</strong> espetáculos e ritos” e a iniciativa <strong>de</strong> muitos outros, conforme<br />
po<strong>de</strong>mos averiguar a partir <strong>de</strong> trabalhos publicados em anais <strong>de</strong> eventos 12 .<br />
<strong>escolar</strong>es<br />
Souza (1998, p.241) no referido estudo evi<strong>de</strong>ncia que as festas<br />
87<br />
[...] constituíram momentos especiais na vida da escola pelos quais<br />
ela ganhava ainda maior visibilida<strong>de</strong> social e reforçava sentidos<br />
culturais compartilhados. [Elas] po<strong>de</strong>m ser [vistas] como práticas<br />
simbólicas que, no universo <strong>escolar</strong>, tornaram-se uma expressão do<br />
imaginário sociopolítico da República.<br />
Um outro exemplo <strong>de</strong>ssa iniciativa <strong>de</strong> estudo sobre festa <strong>escolar</strong><br />
importante <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>stacado é o texto <strong>de</strong> Lopes (2006b) que trata das<br />
festivida<strong>de</strong>s <strong>escolar</strong>es na primeira República no Piauí. Esse estudioso explicita<br />
como as festas no âmbito <strong>escolar</strong> caracterizavam-se diversamente e com<br />
ritualida<strong>de</strong>s variadas. Além disso, o referido autor ressalta que, no mencionado<br />
período, as festas <strong>escolar</strong>es eram momentos da escola se abrir para a cida<strong>de</strong><br />
“ocupando seus espaços ou sendo ocupada pela população” (LOPES, 2006b,<br />
p. 4366).<br />
12 Conferir anais do VI Congresso Luso-brasileiro <strong>de</strong> História da <strong>Educação</strong>, dos 18º e 19º<br />
Encontro <strong>de</strong> Pesquisadores da <strong>Educação</strong> do Norte e Nor<strong>de</strong>ste (EPENN) e do V Congresso<br />
Brasileiro <strong>de</strong> História da <strong>Educação</strong>.
Consi<strong>de</strong>ramos necessário especificar, nessa reflexão, que estamos<br />
tratando as festas <strong>escolar</strong>es como integrantes da cultura <strong>escolar</strong>, entendida por<br />
nós como<br />
88<br />
[...] um conjunto <strong>de</strong> normas que <strong>de</strong>finem conhecimentos a ensinar e<br />
condutas a inculcar, e um conjunto <strong>de</strong> práticas que permitem a<br />
transmissão <strong>de</strong>sses conhecimentos e a incorporação <strong>de</strong>sses<br />
comportamentos; normas e práticas coor<strong>de</strong>nadas a finalida<strong>de</strong>s que<br />
po<strong>de</strong>m variar segundo as épocas (finalida<strong>de</strong>s religiosas,<br />
sociopolíticos, ou simplesmente <strong>de</strong> socialização). (JULIA, 2001, p.<br />
10)<br />
Então, é com base nessas reflexões que procuramos, neste capítulo,<br />
discutir as festas <strong>escolar</strong>es do GESL, focando especificamente o que<br />
representavam; qual o sentido da festa <strong>de</strong> inauguração; datas comemorativas e<br />
exposições <strong>escolar</strong>es.<br />
4.1 – Campina Gran<strong>de</strong> em festa: a inauguração do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />
Lucena<br />
A inauguração do GESL <strong>de</strong>u-se no dia 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1924,<br />
praticamente duas semanas após o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> sua criação, mencionado no<br />
segundo capítulo. Essa inauguração apresentou uma repercussão estadual,<br />
sendo notícia nos principais veículos <strong>de</strong> comunicação escritos da Paraíba,<br />
como po<strong>de</strong>mos constatar a seguir:<br />
A inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>u ensejo a<br />
que se realizassem na importante cida<strong>de</strong> do interior festas muito<br />
brilhantes, verda<strong>de</strong>iramente inéditas naquelle núcleo on<strong>de</strong> se<br />
concentra a civilização do nosso hinterland. Motivo <strong>de</strong> intenso<br />
regosijo para a população campinense, a entrega do novo<br />
estabelecimento <strong>de</strong> ensino assumiu um aspecto acima <strong>de</strong> toda<br />
expectativa.<br />
Desta capital, numerosas foram as pessoas que se transportaram a<br />
formosa cida<strong>de</strong> serrana, com o fito especial <strong>de</strong> estarem presentes as<br />
solenida<strong>de</strong>s alli realizadas.<br />
Em nome do sr. dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, presi<strong>de</strong>nte do Estado, seguiu<br />
com aquelle <strong>de</strong>stino, em trem especial da meia-noite, o sr. <strong>de</strong>. Álvaro<br />
<strong>de</strong> Carvalho, secretario do governo. O illustre auxiliar da<br />
administração foi acompanhado por varias personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>staque <strong>de</strong> nosso meio e um representante <strong>de</strong>ste jornal. (Jornal A<br />
UNIÃO, 12/10/1924, p.02).<br />
Revestiu-se do maior brilhantismo a festivida<strong>de</strong> com que Campina<br />
Gran<strong>de</strong> commemorou a inauguração do Grupo Escolar, mandado
89<br />
construir naquella florescente cida<strong>de</strong> sertaneja pelo govêrno do sr.<br />
Dr. Solon <strong>de</strong> Lucena.<br />
A cerimônia foi presidida pelo sr. Dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho, então<br />
secretario do Estado, tendo o tiro <strong>de</strong> Guerra 165, <strong>de</strong>sta capital<br />
(Lyceu) realisado conjuntamente com os collegios locaes exercícios<br />
militares. (REVISTA ERA NOVA, novembro <strong>de</strong> 1924, p.24).<br />
Esses trechos nos indicam que a inauguração do GESL foi uma festa<br />
grandiosa que mobilizou a elite paraibana, representada pelo secretário do<br />
estado Álvaro <strong>de</strong> Carvalho 13 , alunos e professores do Liceu Paraibano, Colégio<br />
Diocesano e colégios da localida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> uma participação significativa da<br />
população campinense.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos que o motivo da repercussão estadual no que tange à<br />
inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> estava ligado, <strong>de</strong>ntre outros fatos, ao <strong>de</strong> que<br />
para a Paraíba era um avanço implantar outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, principalmente<br />
em uma cida<strong>de</strong> interiorana. Portanto, digamos que essa criação significava<br />
para o estado a fundação <strong>de</strong> mais um “templo <strong>de</strong> civilização” (SOUZA, 1998).<br />
Além disso, tal repercussão po<strong>de</strong> ser lida como uma forma <strong>de</strong> políticos<br />
aproveitarem esse momento para divulgar seus trabalhos e,<br />
consequentemente, serem, por muito tempo, lembrados principalmente pela<br />
socieda<strong>de</strong> campinense.<br />
Portanto, po<strong>de</strong>mos supor que, mesmo não estando presente na<br />
solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração, Solon <strong>de</strong> Lucena, a partir <strong>de</strong> seus representantes,<br />
apropriou-se <strong>de</strong>ste ensejo para se auto<strong>de</strong>finir como benfeitor na organização<br />
do novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>. E vale<br />
<strong>de</strong>stacar que não queremos com essa observação negar a sua contribuição ao<br />
ensino primário do mencionado município, mas ressaltar que tal inauguração<br />
fez parte <strong>de</strong> um processo que, provavelmente, envolvia propostas, <strong>de</strong>mandas<br />
locais e reivindicações. Todavia, po<strong>de</strong>mos dizer que o sentido da apropriação<br />
possivelmente tomada pelo governo do estado foi alcançado em Campina<br />
Gran<strong>de</strong>, como se po<strong>de</strong> observar no seguinte telegrama enviado pelo Conselho<br />
Municipal <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> ao presi<strong>de</strong>nte Solon <strong>de</strong> Lucena, publicado no jornal A<br />
13 Álvaro <strong>de</strong> Carvalho além <strong>de</strong> ser secretário do governo Solon <strong>de</strong> Lucena, governou o estado<br />
entre 26 <strong>de</strong> julho e 4 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1930. Foi vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> João Pessoa, li<strong>de</strong>rança<br />
intelectual no Lyceu como professor <strong>de</strong> Línguas, crítico literário, ensaísta.
União, na matéria intitulada como “Inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina<br />
Gran<strong>de</strong>”:<br />
90<br />
C. Gran<strong>de</strong>, 13 – Dr. Solon <strong>de</strong> Lucena – Parahyba – Conselho<br />
Municipal <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> communica v. exc. Inauguração solenne<br />
hontem realizada <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> com quem vosso operaso governo<br />
quiz distingui Campina Gran<strong>de</strong>. Festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>correu ambiente<br />
geraes sympathias sendo nome v. exc. acclamando como gran<strong>de</strong><br />
bemfeitor Campina. Nome Conselho povo levamos v. exc. affirmação<br />
agra<strong>de</strong>cimentos fazendo votos vossa felicida<strong>de</strong> pessoal. Saudações<br />
respeitosas – Juvino Do O., prefeito; Mario Cavalcanti <strong>de</strong> Queiroz,<br />
vice-presi<strong>de</strong>nte. (Jornal A UNIÃO, 15/10/1924, p.02)<br />
Atinente ao motivo da não participação do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado naquela<br />
inauguração, são indícios que ele estava com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> governo mais<br />
urgentes que o impossibilitava <strong>de</strong> estar presente e/ou po<strong>de</strong>ria estar com grave<br />
problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Indicamos isso com base, primeiro, no jornal A União, cuja<br />
matéria intitulada “Os alumnos do Lyceu Parahybano: sua excursão à Campina<br />
Gran<strong>de</strong>. A visita do tiro <strong>de</strong> Guerra 165 ao sr. presi<strong>de</strong>nte do estado” ressalta que<br />
dias após a inauguração do GESL os alunos que tinham solicitado transporte<br />
para ir à Campina Gran<strong>de</strong> foram agra<strong>de</strong>cer pessoalmente ao presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
estado, o qual mal os recebeu <strong>de</strong>vido à sobrecarga <strong>de</strong> tarefas, e, em segundo<br />
lugar, a colocação <strong>de</strong> Trigueiro (1982, p.67) que <strong>de</strong>fine Solon <strong>de</strong> Lucena como<br />
quem “sempre fora doente, sem que se soubesse exatamente <strong>de</strong> que moléstia.<br />
Era muito magro e <strong>de</strong> cor biliosa. Quando no governo, vivia frequentemente<br />
acamado, às voltas com a medicina caseira”.<br />
Sobre a solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração do GESL, o jornal antes citado<br />
<strong>de</strong>screve minuciosamente toda cerimônia na matéria “A inauguração do Grupo<br />
Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>: as brilhantes festa realizadas naquella cida<strong>de</strong>”. A<br />
programação seguiu os seguintes passos, conforme apresentado no jornal (A<br />
UNIÃO, 15/10/1924, p.02):<br />
• Benção do edifício, ministrado pelo monsenhor Salles, bispo resignatário<br />
do Maranhão;<br />
• Ás 15 horas em ponto, cerimônia inaugural do Grupo Escolar;<br />
• Discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel;
• Declaração da inauguração por Álvaro <strong>de</strong> Carvalho e entrega das<br />
chaves ao nomeado diretor Mario Gomes da Silva;<br />
• Encerramento da sessão solene no pátio interno do <strong>grupo</strong>;<br />
• Apresentações dos tiros <strong>de</strong> guerra do Collegio Diocessano e do Lyceu<br />
Parahybano.<br />
Alguns <strong>de</strong>sses momentos po<strong>de</strong>m ser observados nas fotografias<br />
publicadas na revista Era Nova (novembro <strong>de</strong> 1924). Vejamos, por exemplo, na<br />
foto 15, que se segue, o momento da benção que foi iniciado no Largo da<br />
Matriz, ou seja, em um espaço que ficava em frente da Catedral <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora da Conceição e do Paço Municipal 14 , na mesma rua do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />
Foto 15: Missa Campal em ação <strong>de</strong> graça à inauguração do GESL<br />
Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />
14 Construção iniciada em 1877, inaugurada em 1879 e <strong>de</strong>molida em 1942. Nesse prédio,<br />
funcionaram o Conselho Municipal <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> e o Tribunal do Júri.<br />
91
Nessa fotografia, po<strong>de</strong>mos observar como a população estava<br />
participativa naquele momento <strong>de</strong> inauguração. E é possível ainda notar como<br />
as pessoas se prepararam para essa ocasião, vestiam-se bem e<br />
<strong>de</strong>monstravam, a partir <strong>de</strong> suas posturas, bastante atenção àquele momento<br />
sagrado <strong>de</strong> benção ao <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> que passaria a funcionar em Campina<br />
Gran<strong>de</strong>.<br />
Um aspecto nos chamou atenção nessa fotografia, qual seja as crianças<br />
vestidas <strong>de</strong> forma padronizada posicionadas em fila na frente do Paço<br />
Municipal. Partindo da abordagem <strong>de</strong> Ginzburg (1989), o que po<strong>de</strong>ria ser esse<br />
indício? Po<strong>de</strong>mos perceber que eram todas meninas. Elas <strong>de</strong>monstram<br />
estarem vestidas quase iguais, com vestido <strong>de</strong> cor clara, provavelmente<br />
branco, arranjos no cabelo e sapatos claros em combinação com o vestido.<br />
Essa representação po<strong>de</strong> nos indicar que naquele momento se realizou<br />
também a primeira comunhão <strong>de</strong> algumas crianças. Por essa informação não<br />
estar presente em nenhum outro documento coletado, supomos que eram<br />
meninas <strong>de</strong> alguma ca<strong>de</strong>ira isolada feminina ou <strong>de</strong> outra instituição. Essa<br />
situação, segundo Lopes (2006b), resgatava a relação entre ensino laico e<br />
religião católica que se disseminava no país, no momento, em um ambiente <strong>de</strong><br />
acaloradas discussões.<br />
Um outro momento importante <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>stacado durante a inauguração<br />
do GESL foi a participação dos tiros <strong>de</strong> guerra do Lyceu Parahybano e do<br />
Collegio Diocessano. A foto 16 e a 17 que apresentaremos a seguir são<br />
bastante representativas <strong>de</strong>ssa ocasião.<br />
92
Foto 16: Evoluções dos alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano<br />
Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />
Foto 17: Alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano<br />
Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />
Na primeira fotografia, tirada <strong>de</strong> um ângulo que mostra os alunos se<br />
apresentando, po<strong>de</strong>mos observar como a população estava presente,<br />
93
prestigiando aquelas evoluções. Na segunda, por sua vez, po<strong>de</strong>mos dizer que<br />
a intenção era registrar os alunos bem posicionados em frente do GESL.<br />
Todavia, percebemos que alguns estavam mais a vonta<strong>de</strong>, inclusive<br />
conversando.<br />
Nessa ocasião, po<strong>de</strong>mos supor que os alunos do Collegio Diocessano e<br />
do Lyceu Parahybano aproveitaram o ensejo para apresentar da melhor forma<br />
possível o que lhes foi ensinado, já que isso po<strong>de</strong>ria lhes proporcionar<br />
reconhecimento. A<strong>de</strong>mais, seria uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer a instituição<br />
da qual faziam parte, bem como, distinguir o trabalho realizado pelos que os<br />
disciplinaram.<br />
Essa apresentação do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano foi<br />
representada da seguinte forma na matéria “A inauguração do Grupo Escolar<br />
<strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> as brilhantes festas realizadas naquella cida<strong>de</strong>” do jornal A<br />
União:<br />
94<br />
Os tiros <strong>de</strong> guerra do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano<br />
que se haviam transportado, em trens expressos, a linda cida<strong>de</strong><br />
sertaneja, <strong>de</strong>sfilaram em garbosa parada e fizeram evoluções<br />
diversas assistidas por uma verda<strong>de</strong>ira multidão.<br />
Os alumnos do Collegio Diocessano realizaram ainda <strong>de</strong>moradas<br />
provas <strong>de</strong> gymnastica sueca, sempre com a maior correcçcão e<br />
disciplina. A presença, entuhusiasmo e o garbo militar <strong>de</strong>sses<br />
rapazes, os do Lyceu e os do Collegio Diocessano, muito<br />
concorreram para o gran<strong>de</strong> realce <strong>de</strong> que a festa se revestiu.(Jornal<br />
A União, 14/10/1924, p.02).<br />
Diferentemente do que foi registrada nas fotos 16 e 17, este jornal<br />
<strong>de</strong>staca a disciplina e precisão na apresentação dos alunos do Collegio<br />
Diocessano e do Lyceu Parahybano. O mesmo periódico retrata esse momento<br />
como o gran<strong>de</strong> realce da festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração. Assim, fica evi<strong>de</strong>nte que<br />
“as representações [...] são sempre <strong>de</strong>terminadas pelos interesses <strong>de</strong> <strong>grupo</strong><br />
que as forjam” (CHARTIER, 1990, p.17).<br />
A institucionalização das festivida<strong>de</strong>s que celebravam a inauguração ou<br />
aniversário <strong>de</strong> instituições <strong>escolar</strong>es, segundo Cândido (2007), visava<br />
<strong>de</strong>monstrar o <strong>de</strong>senvolvimento e o progresso das escolas públicas<br />
republicanas aos professores, alunos, pais e toda população, para que não<br />
ficassem dúvidas quanto à qualida<strong>de</strong> das mesmas. Consi<strong>de</strong>ramos que o
objetivo era mesmo impressionar a população não só com a arquitetura, mas<br />
com as festas, que era o principal espaço em que o povo po<strong>de</strong>ria conhecer a<br />
escola e, esta, por sua vez, mostrar-se à cida<strong>de</strong>. Vejamos as seguintes fotos<br />
que bem expressam essa situação da festa chamar a atenção da população.<br />
Foto 18: População <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> prestigiando a inauguração do GESL<br />
Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />
95
Foto 19: A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> em festa na inauguração do GESL<br />
Fonte: Revista Era Nova, ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924.<br />
Digamos que não só a população campinense se preparou para a<br />
inauguração do seu primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, vestindo-se bem, mas também a<br />
cida<strong>de</strong>, principalmente a rua Floriano Peixoto, que como po<strong>de</strong>mos observar<br />
nas fotos acima estava bem <strong>de</strong>corada em real clima <strong>de</strong> comemoração. Na foto<br />
18, possivelmente estava acontecendo alguma evolução dos alunos da capital<br />
ou outra apresentação, pois as pessoas <strong>de</strong>monstravam estar atentas a uma<br />
única direção, qual seja à frente do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Já na foto 19 a disposição<br />
das pessoas indica-nos que se estava nos fins da festivida<strong>de</strong>, visto que muitas<br />
evi<strong>de</strong>nciaram estar saindo para diferentes direções, talvez suas casas.<br />
Durante a cerimônia <strong>de</strong> inauguração outro fato nos chamou atenção. Foi<br />
registrado pela revista Era Nova (ANNO IV / nº. 70 / <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1924) e<br />
96
se refere à atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leonel Coelho 15 em distribuir na ocasião um poema, no<br />
qual fazia uma homenagem a Vidal <strong>de</strong> Negreiros. Seguem os versos:<br />
Vidal <strong>de</strong> Negreiros<br />
Gênio da guerra! O teu nome aureolado<br />
Dos brasileiros vibra na memória,<br />
Quanto dos Guararapes, forte brado<br />
Conta teus feitos perennaes, na Historia.<br />
Contempla e estuda o historiador laureado,<br />
Entre os heróes, os feitos <strong>de</strong> victoria:<br />
E, a percorrer os livros do passado,<br />
Diz que teu nome, só, supera em glória.<br />
Sejas tu, pois, o exemplo <strong>de</strong> civismo;<br />
De amor à Pátria; bravura e <strong>de</strong> heroísmo;<br />
Valor, justiça, glória e <strong>de</strong> façanha;<br />
Vulto immortal, oh! Albatroz da Guerra,<br />
Tu, que venceste o batavo, em campanha,<br />
Só pelo amor da Brasileira Terra!<br />
97<br />
Em homenagem ao immortal guerreiro e ao<br />
tiro 165, para estimulo ao patriotismo, à<br />
justiça e à bravura dos jovens brasileiros:<br />
Parahyba-outubro-1924<br />
Leonel Coelho<br />
Esse poema <strong>de</strong>ixa bastante claro a intenção <strong>de</strong> Leonel Coelho que era<br />
homenagear Vidal <strong>de</strong> Negreiros 16 , mas qual o sentido <strong>de</strong>sta homenagem nessa<br />
ocasião? Sem dúvidas, como o próprio poeta explicita estimular o patriotismo, a<br />
justiça e a bravura <strong>de</strong> todos os jovens que participavam daquela solenida<strong>de</strong>. O<br />
estímulo a isso foi apontado pelo poeta a partir da figura <strong>de</strong> Vidal, consi<strong>de</strong>rado<br />
herói <strong>de</strong>sbravador por muitos paraibanos. Portanto, digamos que o intuito era<br />
fazer com que os jovens tomassem como exemplo <strong>de</strong> vida o dito herói. Além<br />
disso, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dizer que essa atitu<strong>de</strong> indica a intenção <strong>de</strong> se<br />
15 Poeta paraibano.<br />
16 Vidal <strong>de</strong> Negreiro era paraibano filho <strong>de</strong> Francisco Vidal e Catarina Ferreira. Destacou-se na<br />
expulsão dos holan<strong>de</strong>ses do território brasileiro na primeira meta<strong>de</strong> do século XVII e se<br />
enquadrou na arte da guerra, não só pela sua bravura, mas também pela serieda<strong>de</strong> e<br />
segurança nos seus planos. Foi consi<strong>de</strong>rado um guerreiro.
exaltar a referida personagem da história paraibana para continuar a heroicizá-<br />
la.<br />
Observamos, portanto, que o sentido da festa <strong>de</strong> inauguração do GESL<br />
variou conforme as pessoas que organizaram, apresentaram e participaram,<br />
pois as mesmas se aproveitaram diversamente <strong>de</strong>ssa festivida<strong>de</strong>, procurando<br />
aten<strong>de</strong>r objetivos próprios dos mais diferentes, como foram os casos dos<br />
alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano, do governo estadual e<br />
do poeta Leonel Coelho.<br />
4.1.1 - O discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel na solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />
O discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel proferido na cerimônia <strong>de</strong><br />
inauguração do GESL foi publicado na íntegra pelo jornal A União. Este<br />
discurso apresentou inúmeras discussões interessantes ao nosso estudo, a<br />
saber: reconhecimento e elogio ao presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado Solon <strong>de</strong> Lucena;<br />
escolha da data <strong>de</strong> inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, homenagens à figuras da<br />
história, especificida<strong>de</strong>s da nova organização da escola primária, i<strong>de</strong>ário<br />
republicano <strong>de</strong>ntre outras questões.<br />
No discurso, o presi<strong>de</strong>nte Solon <strong>de</strong> Lucena, que estava perto <strong>de</strong> terminar<br />
seu mandato, foi amplamente elogiado pelo <strong>de</strong>putado Generino Maciel. Para<br />
ele, Solon <strong>de</strong> Lucena ao chegar ao po<strong>de</strong>r estadual possibilitou um consi<strong>de</strong>rável<br />
avanço à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, sendo um <strong>de</strong>sses avanços a fundação<br />
<strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>. Esse feito, conforme o discurso do referido <strong>de</strong>putado,<br />
<strong>de</strong>veria ficar sempre guardado na memória da população campinense.<br />
Observemos essa colocação no seguinte trecho <strong>de</strong> seu discurso:<br />
98<br />
O nosso Grupo Escolar, cuja inauguração solenne ora fazemos<br />
neste edifício <strong>de</strong> discreta belleza e austeras linhas architectonicas,<br />
<strong>de</strong>vemol-o, <strong>de</strong> todo, á justiceira clarividência do administrador<br />
irreprochavel cujo nome illibado nossas máes, nossas esposas,<br />
nossas filhas, ou nossas noivas guardam zelosamente, como<br />
sacerdotizas do bem, no branco sacrário da gratidão. Porque,<br />
senhores, o dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, <strong>de</strong>ntro da Republica,<br />
indubitavelmente, é o primeiro que, chefiando o po<strong>de</strong>r executivo<br />
estadual, tudo fez pela harmonia <strong>de</strong> nossa impávida gente dandonos<br />
ainda este templo, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> partirão para o futuro, re<strong>de</strong>mptos
99<br />
pelas fulgurações do ensino básico, os que no tempo hão <strong>de</strong> ser os<br />
continuadores do nosso nome e nossa personalida<strong>de</strong>. (Jornal A<br />
UNIÃO,16/10/1924, p.02)<br />
Acreditamos que, sem dúvidas, era papel <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>putado fazer tais<br />
elogios à Solon <strong>de</strong> Lucena e seu governo, pois que sentido teria convidá-lo se<br />
não fosse para ele exaltar a ação do presi<strong>de</strong>nte nessa empreitada à cida<strong>de</strong>.<br />
Porém, esses elogios po<strong>de</strong>m nos indicar a posição dos campinenses,<br />
especificamente os representantes daquele povo, na reivindicação do <strong>grupo</strong><br />
<strong>escolar</strong> para a cida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>mos perceber que o <strong>de</strong>putado coloca a população<br />
como <strong>de</strong>vedores da ação única do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado, Solon <strong>de</strong> Lucena.<br />
Portanto, <strong>de</strong>ixa-nos a enten<strong>de</strong>r que tal fundação partiu meramente do governo<br />
estadual.<br />
No que se refere à data <strong>de</strong> inauguração do GESL, Generino Maciel nos<br />
<strong>de</strong>ixou a enten<strong>de</strong>r que tal data (12 <strong>de</strong> outubro) se revestia do simbolismo da<br />
chegada <strong>de</strong> Colombo ao Continente Americano. Este <strong>de</strong>putado aproveitou o<br />
momento para homenagear Cristóvão Colombo, portanto, lembrar/relembrar a<br />
ação <strong>de</strong>ste homem na chegada a América à população que naquela ocasião<br />
participava. Vejamos um trecho do seu discurso:<br />
No plano primitivo <strong>de</strong>sta mo<strong>de</strong>stíssima palestra, com que lhe venho<br />
perturbar, exmas. Senhoras minhas e meus senhores, a formosura<br />
do festival ora a realisar-se, entrava, por alvitre attendivel da<br />
amiza<strong>de</strong> fidalga e honrosíssima que a esta triouma me arrasta, a<br />
resolução <strong>de</strong> algo vos dizer sobre o 12 <strong>de</strong> outubro. Falar-vos-ia,<br />
portanto, se persistisse no intento da aventura nautica do Genovez,<br />
da sua immarcessivel gloria, das penas que soffreu o re<strong>de</strong>vivo<br />
navegador, das ingratidões que o afflingiram e <strong>de</strong> toda a magnífica<br />
epopéa em que seus feitos e sua existência planetária se<br />
transfiguraram. Recordar-vos-ia, assim sua perigrinação inefficaz á<br />
pátria immortal <strong>de</strong> Nun’ Álvares, on<strong>de</strong> o scepticismo d’el-rei não lhe<br />
<strong>de</strong>u guarida no pétreo ninho <strong>de</strong> Sagres, <strong>de</strong> que partiriam, mais tar<strong>de</strong>,<br />
no bojo escuro das naus blindadas, as sementes alvas da<br />
colonisação lusa em procura dos continentes ignotos; e lembrar-vosia<br />
<strong>de</strong>pois, a arrancada semi pascional do visionário impertinente á<br />
terra em que nascera on<strong>de</strong> supplicaria, <strong>de</strong>bate com lagrimas na<br />
adustez da faxe requeimada do calor do pranto emotivo o auxilio<br />
imprescindível á realisação do i<strong>de</strong>al que o suffocava; e, em seguida<br />
<strong>de</strong>ter-me-ia, comvosco, pacientemente, na corte <strong>de</strong> Castelia, por<br />
on<strong>de</strong>, outr’ora, na sua altuada loucura psychica campeara o cid da<br />
legenda heróica , restaurando o epicismo complexo da varonilida<strong>de</strong><br />
daquelle povo em cujas artérias o sangue allienigina, <strong>de</strong> cem raças<br />
diversas, não diluiria a pertinácia victoriosa do velho e sempre moço<br />
sangue latino. (Jornal A UNIÃO,16/10/1924, p.02)
100<br />
Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos dizer que a data escolhida para a inauguração<br />
do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> não foi <strong>de</strong>finida por um acaso, mas a partir <strong>de</strong> um marco,<br />
consi<strong>de</strong>rado para os que a <strong>de</strong>limitaram importante e significativo ao momento.<br />
Digamos que isso era comum acontecer na <strong>de</strong>limitação das datas <strong>de</strong><br />
inauguração <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es, pois, por exemplo, no Piauí para inaugurar<br />
um <strong>de</strong>terminado <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> esperaram uma data que tivesse certa<br />
representação para aquele fato. Vejamos isso na seguinte citação:<br />
É ainda exemplar, nesse aspecto, o modo como o prédio do Grupo<br />
Escolar Miranda Osório <strong>de</strong> Parnaíba realizou sua inauguração em<br />
1927. Mesmo esta escola tendo sido instalada em junho, foi<br />
aguardada uma data que simbolicamente representasse o<br />
patriotismo, as mudanças <strong>de</strong>sejadas para a educação municipal e<br />
autonomia <strong>de</strong> Parnaíba, <strong>de</strong>stacando-se sua ação educacional, em<br />
matéria <strong>de</strong> melhoramentos municipais, para ser inaugurada<br />
solenemente a escola. Esta data foi 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1927.<br />
(LOPES, 2006b, p.4367)<br />
Desse modo, po<strong>de</strong>mos dizer que a data <strong>de</strong> inauguração <strong>de</strong> instituições<br />
<strong>escolar</strong>es era revestida <strong>de</strong> todo um significado, principalmente quando ela<br />
coincidia com alguma data já comemorada em nível internacional, nacional,<br />
estadual ou municipal.<br />
No discurso do <strong>de</strong>putado Generino Maciel consi<strong>de</strong>ramos também<br />
interessante ressaltar a importância que ele <strong>de</strong>u à escola. Vejamos<br />
Templo se tem chamado a Escola e ella o é, realmente, pelo bem<br />
que presta a socieda<strong>de</strong>. Officina, a escola educa e instrúe. Educar é<br />
fazer que o caracter se purifique, libertando-o <strong>de</strong> falhas removíveis,<br />
ou então lhe evi<strong>de</strong>nciando as virtu<strong>de</strong>s innatas em <strong>de</strong>trimento das<br />
taras que porventura a afetam; instruir é adaptar a intelligencia a<br />
comprehensão <strong>de</strong> todos os fenômenos. Ali, por certo a ethica do<br />
coração; aqui, na verda<strong>de</strong>, a esthetica do espírito. (Jornal A<br />
UNIÃO,16/10/1924, p.02)<br />
Nessa colocação po<strong>de</strong>mos vislumbrar o i<strong>de</strong>ário republicano educacional,<br />
já que o <strong>de</strong>putado <strong>de</strong>staca a escola como lugar das crianças se purificarem em<br />
relação aos problemas da socieda<strong>de</strong>. Portanto, é possível perceber,<br />
implicitamente nessa fala, a idéia da escola como regeneradora da nação.<br />
O <strong>de</strong>putado expõe, ainda, os <strong>de</strong>safios que terão os professores no novo<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escolar</strong>ização primária, <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, alertando que
101<br />
O convívio <strong>de</strong> professores eleva a conclave, para o sacerdócio em<br />
comum, a obrigação <strong>de</strong> todos. O templo, em vez <strong>de</strong> capela humil<strong>de</strong>,<br />
é já vasta cathedral em cujas naves rumoteja o ciclar das preces.<br />
Preces <strong>de</strong> civismo disciplinado moralmente, ante a imagem da pátria<br />
e que se murmuram pelos que serão os homens do amanhã.<br />
Eis o <strong>de</strong>ver dos mestres que aqui vem exequir a teologia das<br />
respectivas fucções. O dos alumnos se emoldura na obediência e<br />
applicação. As duas feições do instituto lhe emprestam logicamente,<br />
valor <strong>de</strong> seminário, no sentido clássico do termo. Plantar-se-á, pois,<br />
neste campo. Que se adube o terreno, a fim <strong>de</strong> que a semente não<br />
se perca no areial da indiferença.<br />
A divisão do trabalho se impõe. São, porém, consi<strong>de</strong>rações geraes<br />
em que não recalcitro. Confiamos nós na competência dos<br />
cultivadores da seara: e seremos os fiscaes <strong>de</strong> sua tarefa,<br />
coadjuvando-os posto que <strong>de</strong> longe, com os nossos applausos ou os<br />
alertando com as nossas respeitosas observações. (Jornal A UNIÃO,<br />
16/10/1924, p.02)<br />
Nos fins <strong>de</strong> seu discurso Generino Maciel reforça o i<strong>de</strong>ário republicano,<br />
<strong>de</strong>stacando especificamente a necessida<strong>de</strong> da obediência, disciplina, civismo<br />
para que a nação funcione harmoniosamente. Segue abaixo um trecho que<br />
bem expressa esse posicionamento do <strong>de</strong>putado:<br />
A obediência faz a harmonia. A tudo presi<strong>de</strong>m leis que se obe<strong>de</strong>cem.<br />
Olhae o universo. O sol, centro do nosso systema planetário,<br />
enca<strong>de</strong>l-se ao concreto cósmico sem um só gesto <strong>de</strong> rebellião.<br />
Contra elle, a seu torno, nunca se revoltaram os astros, que o<br />
acompanham em sua trajetória. Há imensos soes na amplidão dos<br />
espaços. E todos elles gyram obedientes aquella força que lhes<br />
presi<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>stinos. Obediência é amor.<br />
E o amor é que move as estrellas harmonicamente; e pôe o gorgeio<br />
das aves na doçura dos ninhos.<br />
Somente quem não ama é <strong>de</strong>sobediente. Apren<strong>de</strong>i a obe<strong>de</strong>cer,<br />
principalmente no lar e na escola, aos genitores e aos mestres.<br />
Todo crime, todo <strong>de</strong>lito, toda infracção, é uma <strong>de</strong>sobediência. Quem<br />
<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce ao professor, quem <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce aos paes, quem<br />
<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce as auctorida<strong>de</strong>s dá a primeira passada para o abysmo.<br />
A anarchia é uma <strong>de</strong>sobediência generalizada: evital-a!<br />
Para cumprir sua missão, o Brasil precisa <strong>de</strong> que lhe obe<strong>de</strong>ça, hoje<br />
mais do que nunca, os mandamentos cívicos <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> nacional.<br />
E na escola que se principia a fazel-o. (Jornal A UNIÃO,16/10/1924,<br />
p.02)<br />
Em linhas gerais, po<strong>de</strong>mos dizer que o <strong>de</strong>putado aproveitou o espaço<br />
dado a ele para em seu discurso enaltecer o governo, relembrar figuras<br />
consi<strong>de</strong>radas importantes como Cristóvão Colombo, reforçar o i<strong>de</strong>ário<br />
republicano <strong>de</strong> regeneração da nação e, principalmente, estimular o civismo e<br />
patriotismo, além, logicamente, <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> do novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
<strong>escolar</strong>ização primária.
4.2 – Datas comemorativas no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
102<br />
As datas comemorativas sejam elas internacionais, nacionais,<br />
municipais ou voltadas especificamente à instituição <strong>de</strong> ensino, também foram<br />
momentos dos <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es festejarem e se abrirem à cida<strong>de</strong>. Momentos<br />
em que se buscava reforçar ensinamentos que proporcionassem legitimida<strong>de</strong><br />
ao i<strong>de</strong>ário republicano <strong>de</strong> nacionalismo e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. A esse respeito é<br />
pertinente a seguinte citação:<br />
Os i<strong>de</strong>ais da República, nacionalismo e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> estiveram<br />
presentes quase que intrinsecamente no espaço e cotidiano <strong>escolar</strong><br />
<strong>de</strong> diversas instituições, <strong>de</strong>ntre estas, <strong>de</strong>stacam-se os <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es, uma vez que, o Estado, ao tornar as datas cívicas uma<br />
ativida<strong>de</strong> <strong>escolar</strong>, fez da escola primária um instrumento que<br />
contribuísse para a construção e manutenção <strong>de</strong> uma memória<br />
nacional. (PAIVA, LIMA, PINHEIRO, 2007, p.01, grifos no original)<br />
Nesse sentido, as festas <strong>escolar</strong>es além <strong>de</strong> terem sido estratégias para<br />
tornar visível a escola, também instituíam práticas que objetivavam regenerar a<br />
nação, já que era bastante comum no cotidiano <strong>de</strong>ssa instituição a busca em<br />
formar cidadãos cívicos que exaltassem o país, a bravura <strong>de</strong> homens tidos<br />
como heróis, acontecimentos consi<strong>de</strong>rados louváveis da história, como a<br />
<strong>de</strong>scoberta da América e a proclamação da república, entre outros.<br />
Para Gallego e Cândido (2006, p.4268),<br />
as instituições <strong>escolar</strong>es integram esse projeto mo<strong>de</strong>rnizador e<br />
difun<strong>de</strong> valores [republicanos], a exemplo do calendário <strong>escolar</strong> que,<br />
ao eleger e selecionar datas a serem festejadas, homens a serem<br />
consi<strong>de</strong>rados heróis, indica o que <strong>de</strong>ve ser lembrado, e,<br />
consequentemente produz esquecimentos. Heróis e mitos foram<br />
criados e cultivados, era necessário <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar emoção, encontrar<br />
símbolos dos fatos que <strong>de</strong>sejava recordar e provocar sentimentos<br />
para que as crianças a<strong>de</strong>rissem a eles com paixão. Era preciso fazer<br />
com que o povo amasse a pátria, seus heróis, comemorassem a era<br />
republicana: hinos, hasteamento da ban<strong>de</strong>ira, pavilhão <strong>escolar</strong>, as<br />
músicas cujas letras faziam menção à pátria constituíram ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>cisivas na constituição da memória coletiva oficial.<br />
A partir dos jornais que tivemos acesso, observamos que no GESL<br />
muitas datas eram celebradas com uma programação revestida <strong>de</strong> civismo. Um<br />
exemplo disso foi o 12 <strong>de</strong> outubro, data que se comemora o chamado<br />
<strong>de</strong>scobrimento da América, aniversário do referido <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> e o dia da
criança. Na matéria intitulada como “O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
commemora a data com brilhantes festas”, do jornal O Século, é <strong>de</strong>stacado o<br />
seguinte <strong>de</strong>ssa comemoração conjunta:<br />
103<br />
A data do <strong>de</strong>scobrimento da America teve entre nos uma<br />
brilhantíssima commemoração, por parte do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong><br />
Lucena e <strong>de</strong>mais escolas e collegios <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />
Sendo essa data do anniversario da inauguração do mo<strong>de</strong>lar<br />
estabelecimento com que o saudoso Presitente Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
dotou a nossa terra, o seu illustre director Prof. Mario Gomes,<br />
organisou um programma commemorativo para que aquelle dia não<br />
passasse <strong>de</strong>spercebido.<br />
Logo pela manhã, a Associação <strong>de</strong> Escotiros do Grupo, prestou<br />
continência à ban<strong>de</strong>ira, que foi hasteada na fachada do<br />
estabelecimento, seguindo-se uma passeata militar, em que<br />
tomaram parte o Instituto Pedagogico, Gynnasio Campinense e<br />
diversos outras escolas publicas e particulares da cida<strong>de</strong>.<br />
As 13 horas, houve logar no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena uma<br />
sessão cívica presidida pelo prof. Mario Gomes que pronunciou uma<br />
conferencia allusiva à data, relembrando o feito <strong>de</strong> Colombo, a obra<br />
maravilhosa <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena e fazendo ver que naquelle dia<br />
tambem se commemorava o Dia da creança.<br />
Às 18 horas, em palco armado no recreio da secção feminina do<br />
Grupo, alumnos do estabelecimento levaram à scena um<br />
entretenimento theatral que agradou plenamente a uma numerosa<br />
assistência presente. (Jornal O SECÚLO, 13/10/1928, p.04)<br />
Po<strong>de</strong>mos pon<strong>de</strong>rar a partir <strong>de</strong>sse trecho que tal data foi tomada pela<br />
autorida<strong>de</strong> do GESL para reforçar na memória dos alunos, e,<br />
consequentemente, da comunida<strong>de</strong> local o dito gran<strong>de</strong> feito <strong>de</strong> Colombo, assim<br />
como, do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estado Solon <strong>de</strong> Lucena. É possível perceber, ainda,<br />
nessa representação um tímido <strong>de</strong>staque quanto ao dia das crianças. Esse<br />
tímido <strong>de</strong>staque, para nós, está relacionado ao fato <strong>de</strong> que naquele momento<br />
era mais importante enfatizar conhecimentos que tivessem relação mais direta<br />
com os i<strong>de</strong>ários republicanos.<br />
Esse trecho do jornal também <strong>de</strong>ixa claro como esse momento <strong>de</strong><br />
comemoração era revestido <strong>de</strong> civismo: hasteamento da ban<strong>de</strong>ira nacional,<br />
continência à mesma e lembrança aos gran<strong>de</strong>s feitos consi<strong>de</strong>rados relevantes<br />
da data (<strong>de</strong>scobrimento da América, a pessoa <strong>de</strong> Colombo e Solon <strong>de</strong> Lucena).<br />
Para Horta (1994), o civismo como constituinte do conhecimento que as<br />
instituições <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>veriam passar, po<strong>de</strong>ria ser atribuído à crença no papel<br />
moralizador da escola, que imperava nos meios educacionais do país, nas
primeiras décadas do período republicano. Conforme esse autor, <strong>de</strong>ntre os<br />
principais papéis incumbidos à escola naquele período estava a formação do<br />
cidadão capacitado para engran<strong>de</strong>cer a pátria e, assim, possibilitar a<br />
regeneração da nação.<br />
104<br />
No recorte da matéria “O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena commemora a<br />
data com brilhantes festas”, mencionado acima, po<strong>de</strong>mos também observar<br />
que momentos como esses <strong>de</strong> comemoração foram apropriados pelos<br />
professores e alunos para divulgarem seus trabalhos, ou melhor, para<br />
<strong>de</strong>monstrar aos que ali iam prestigiar parte do que se ensinava e se aprendia<br />
naquela instituição.<br />
Nessa mesma matéria um acontecimento nos chamou a atenção, trata-<br />
se do “modo in<strong>de</strong>licado por que diversos moços <strong>de</strong> nossa melhor socieda<strong>de</strong><br />
estavam se portando, a ponto <strong>de</strong> ser preciso a intervenção da pôlicia” (Jornal O<br />
SÉCULO, 13/10/1928, p.04). Isso, a partir do paradigma indiciário <strong>de</strong> Ginzburg<br />
(1989), é uma importante indicação <strong>de</strong> que esses momentos não só se<br />
revestiam <strong>de</strong> disciplina e obediência, mas que existiam comportamentos que<br />
transgrediam os objetivos da maioria das festas <strong>escolar</strong>es, embora que nesse<br />
caso transpareça que os jovens não eram alunos do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />
Outra data <strong>de</strong>stacada nos jornais locais comemorada pelo GESL foi o<br />
dia 19 <strong>de</strong> novembro, o dia da ban<strong>de</strong>ira nacional. Esta data, conforme o jornal O<br />
Século, foi comemorada com um caráter bastante patriótico com hasteamento<br />
da ban<strong>de</strong>ira, canto do hino nacional e da ban<strong>de</strong>ira do Brasil. Nessa mesma<br />
data do ano <strong>de</strong> 1928, o diretor resolveu comemorar também o encerramento do<br />
ano letivo, tendo como objetivo maior, nessa festa, ajudar o Hospital Pedro I<br />
cuja fundação fazia pouco tempo em Campina Gran<strong>de</strong>. Essa <strong>de</strong>cisão do diretor<br />
do GESL po<strong>de</strong> ser percebida no seguinte citação “o professor Mario Gomes<br />
encerrou o anno <strong>de</strong> trabalhos no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena realisando no<br />
dia da ban<strong>de</strong>ira, uma encantadora festa em beneficio do Hospital Pedro I”<br />
(Jornal O SÉCULO, 24/101928).<br />
No jornal O Século é ressaltado que para angariar auxílio para o Hospital<br />
Pedro I os alunos do GESL realizaram apresentações teatrais no Cine-Teatro
Apolo, já que o espaço era maior e mais a<strong>de</strong>quado às apresentações dos<br />
discentes.<br />
105<br />
Em 1937, o Jornal A Voz da Borborema <strong>de</strong>staca a comemoração do dia<br />
12 <strong>de</strong> outubro no GESL e mostra que nesse ano o foco da comemoração foi no<br />
dia da criança ao invés do <strong>de</strong>scobrimento da América e do feito <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong><br />
Lucena, diferentemente do que ocorrera nessa data no ano <strong>de</strong> 1928,<br />
apresentado anteriormente. Nessa ocasião, procurou-se discutir sobre a<br />
relação criança e escola, a partir da palestra <strong>de</strong> um pediatra campinense.<br />
Vejamos uma representação <strong>de</strong>ssa ocasião:<br />
O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena, à frente illustre director e todo<br />
corpo docente e dicente, commemorou com brilhantismo a data,<br />
realisando uma sessão cívica, durante a qual foram cantados pelos<br />
orpheão do Grupo Hymnos Patrióticos e <strong>escolar</strong>es.<br />
O illutre pediatra campinense Dr. Henio Azevedo, expressamente<br />
convidado realisou um interessante palestra sobre a creança na<br />
escola, disertando com segurança e conhecimentos technicos sobre<br />
questões <strong>de</strong> hygiene e psychologia infantil, a qual agradou<br />
plenamente a toda a assistência presente.<br />
A sessão cívica, foi presidida pelo Cônego Costa e secretariado pela<br />
prof. Arbetina Ramos Amorim, sentando-se à mesa o prof. Loureiro,<br />
Sr. Olegario Azevedo e Drs. José Reys, Luiz Gomes Peixe e Henio<br />
Azevedo.<br />
Encerrando as festivida<strong>de</strong>s o cônego Costa fez um calorosa<br />
dissertação sobre a data, fazendo menção especial ao papel da<br />
creança como cellula mater da humanida<strong>de</strong>, evocando a palavra do<br />
Cristo, quando elle pedia que <strong>de</strong>ixassem chegar a si asa<br />
creançinhas.(Jornal A VOZ DA BORBOREMA, 13/10/1937, p.06)<br />
Observamos que o caráter cívico estava bem apresentado nessa<br />
comemoração, pois, como em outras ocasiões, os hinos patrióticos foram<br />
cantados, reforçando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor à pátria. Mas, o que mais nos<br />
chamou atenção foi o silêncio quanto ao <strong>de</strong>scobrimento da América e ao<br />
aniversário do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, com <strong>de</strong>staque ao dito feito <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena.<br />
Além disso, a própria dimensão <strong>de</strong>ssa comemoração, já que aparentava estar<br />
voltada apenas à comunida<strong>de</strong> <strong>escolar</strong> e não à cida<strong>de</strong> como um todo.<br />
Vale <strong>de</strong>stacar que estamos enten<strong>de</strong>ndo esse silêncio na perspectiva<br />
elaborada por Certeau (2008, p.95) <strong>de</strong> que a escrita historiográfica dá lugar à<br />
falta e que o relato histórico “reconhece uma presença da morte no meio dos<br />
vivos”.
106<br />
Esse silêncio e essa dimensão da festa em comemoração ao dia 12 <strong>de</strong><br />
outubro do ano <strong>de</strong> 1937, <strong>de</strong>ixado aperceber na matéria do jornal citado, po<strong>de</strong>m<br />
ter relação ao que Gallego e Cândido (2006, p. 4270) observaram no estado <strong>de</strong><br />
São Paulo, a saber: que as festas <strong>escolar</strong>es após certa organização do ensino<br />
público passaram a ser contestadas até como “causas perturbadoras do<br />
ensino, sem nenhuma utilida<strong>de</strong> para o fim da educação”. Segundo essas<br />
autoras, essas críticas quanto às festivida<strong>de</strong>s <strong>escolar</strong>es se fundamentavam no<br />
argumento <strong>de</strong> que as festas já haviam cumprido o seu papel que era tornar<br />
visível o <strong>de</strong>senvolvimento das primeiras escolas republicanas. Para as<br />
estudiosas antes mencionadas,<br />
Se as festas foram importantes em um primeiro momento para a<br />
consolidação dos i<strong>de</strong>ais republicanos e para dar visibilida<strong>de</strong> à escola<br />
pública, em um momento posterior esse objetivo é contestado e ela<br />
obtém outros sentidos que não os mobilizados inicialmente. Po<strong>de</strong>-se<br />
atribuir essa mudança do papel das festas à própria assimilação<br />
<strong>de</strong>ssas na cultura <strong>escolar</strong> que estava se configurando no período<br />
estudado. Ao fazerem parte <strong>de</strong> um modo cada vez mais interiorizado<br />
no cotidiano <strong>escolar</strong>, observa-se que ao se alcançar os objetivos<br />
explicitados não é mais necessário marcar as ‘novida<strong>de</strong>s’.<br />
(GALLEGO; CÂNDIDO, 2006, p.4271)<br />
Portanto, observamos que as festas em comemoração a algumas datas<br />
no GESL variaram conforme o objetivo, a motivação, as pessoas e o momento<br />
sócio-histórico. Elas foram constituintes <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> características e<br />
rituais, os quais extrapolavam o sentido <strong>de</strong> solenida<strong>de</strong> para o <strong>de</strong> aprendizagem<br />
<strong>de</strong> conteúdos, valores, normas e comportamentos consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>quados<br />
naquele período.<br />
4.3 – Festa <strong>de</strong> inauguração do cinema educativo do Grupo Escolar Solon<br />
<strong>de</strong> Lucena<br />
A institucionalização do Cinema Educativo foi consi<strong>de</strong>rada um marco <strong>de</strong><br />
inovação nos recursos utilizados nas escolas. Como um meio auxiliar <strong>de</strong> ensino<br />
e uma tecnologia veiculadora <strong>de</strong> saberes e valores, este recurso esteve<br />
atrelado à otimização do trabalho docente, bem como, à mo<strong>de</strong>rnização do<br />
ensino.
107<br />
Conforme a matéria “Cinema educativo: uma abordagem histórica” da<br />
revista Comunicação e <strong>Educação</strong> (1995), esse recurso foi <strong>de</strong>batido e <strong>de</strong>fendido<br />
por muitos intelectuais paulistas e cariocas, como Lourenço Filho, Fernando <strong>de</strong><br />
Azevedo, Roque Pinto, Jonathas Serrano e outros, durante as décadas <strong>de</strong><br />
1920 e 1930 no Brasil.<br />
Para Monteiro (2006), alguns dos principais <strong>de</strong>fensores e incentivadores<br />
do Cinema educativo no Brasil durante as décadas antes mencionadas foram:<br />
Jonathas Serrando, Venâncio Filho e Joaquim Canuto M. <strong>de</strong> Almeida.<br />
Conforme essa autora, a partir das obras “Cinema e educação” (1930) e<br />
“Cinema contra cinema” (1931), sendo a primeira <strong>de</strong> Serrano e Venâncio Filho<br />
e a segunda <strong>de</strong> Almeida, esses intelectuais não apenas <strong>de</strong>monstravam a<br />
importância <strong>de</strong>sse novo recurso na educação <strong>escolar</strong>izada, mas alertavam<br />
sobre a possibilida<strong>de</strong> do cinema educativo ser usando tanto para o bem como<br />
para o mal na formação das crianças e jovens. A mesma autora ressalta que foi<br />
Joaquim Almeida quem mais <strong>de</strong>stacou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fiscalização e censura<br />
nos filmes que fossem passados nas escolas. Isso, para que o objetivo do<br />
cinema educativo fosse, <strong>de</strong> fato, realizado.<br />
Os estados do Rio <strong>de</strong> Janeiro, na época Distrito Fe<strong>de</strong>ral, e o <strong>de</strong> São<br />
Paulo foram, segundo Monteiro (2006), os pioneiros na implantação <strong>de</strong>sse<br />
novo recurso <strong>de</strong> ensino. Conforme ela,<br />
Em 21 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1928, Fernando <strong>de</strong> Azevedo, quando diretor da<br />
Diretoria <strong>de</strong> Instrução Pública na Reforma da <strong>Educação</strong> que<br />
promoveu no Distrito Fe<strong>de</strong>ral, introduziu o Cinema Educativo nos<br />
artigos nº.633 a 635.<br />
São Paulo, frente a toda essa efervescência, não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>monstrar seu interesse em fazer parte dos <strong>grupo</strong>s que utilizavam<br />
as novida<strong>de</strong>s tecnológicas. Portanto, em 1931, no período <strong>de</strong> 22 a<br />
28 <strong>de</strong> junho, realizava-se a Exposição Preparatória do Cinema<br />
Educativo, no Instituto Pedagógico, por iniciativa da Diretoria Geral<br />
<strong>de</strong> Ensino. (MONTEIRO, 2006, p. 11 e 15)<br />
Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos dizer que o cinema educativo ficou sendo<br />
percebido como um aliado para a promoção da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> do ensino. Além<br />
disso, conforme Monteiro (2006), tal recurso tornava possível uma prática<br />
<strong>escolar</strong> nos mol<strong>de</strong>s pretendidos pelo movimento dos escolanovistas, os quais<br />
<strong>de</strong>stacavam que
108<br />
[...]a escola <strong>de</strong>ve utilizar, em seu proveito, com a maior amplitu<strong>de</strong><br />
possível, todos os recursos formidáveis, como a imprensa, o disco, o<br />
cinema e o rádio, com que a ciência, multiplicando-lhe a eficácia,<br />
acudiu à obra <strong>de</strong> educação e cultura e que assumem, em face das<br />
condições geográficas e da extensão territorial do país, uma<br />
importância capital.(MANIFESTO DOS PIONEIROS DA ESCOLA<br />
NOVA, 1932)<br />
Então, como uma mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ao ensino, o cinema educativo foi<br />
implantado em Campina Gran<strong>de</strong> pela primeira vez no GESL, mais<br />
precisamente no dia 1º <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1937.<br />
A consi<strong>de</strong>rada responsável por esse feito foi uma professora do referido<br />
<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, Apolônia Amorim 17 , que, com o apoio e indicação do governo<br />
paraibano, foi ao Rio <strong>de</strong> Janeiro para conhecer in loco esse novo recurso em<br />
plena utilização, e assim, ajudar melhor na implantação e funcionamento do<br />
cinema educativo em Campina Gran<strong>de</strong>. Vejamos como o jornal local “A Voz da<br />
Borborema” representou esse momento na matéria intitulada por “Inaugura-se,<br />
No Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena, <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, o Cinema Educativo”:<br />
Realisou-se no dia 1 do corrente, a inauguração do Cinema<br />
Educativo, emprehendimento e iniciativa <strong>de</strong> alta importância<br />
pedagógica, que vem merecendo, da illustre educadora campinense<br />
Apolonia Amorim, a mais carinhosa attenção.<br />
A professora Apolonia Amorim, que, ha meses passados, fora ao Rio<br />
<strong>de</strong> janeiro afim <strong>de</strong> se por em contacto com os centros educacionaes<br />
mais a<strong>de</strong>antados do Sul do paiz e estudar os meios <strong>de</strong><br />
possibilida<strong>de</strong>s para o conhecimento e adaptação do systema <strong>de</strong><br />
Cinema Educativo empregado nas escolas públicas, essa abnegada<br />
preceptora vem <strong>de</strong> positivar, agora, em nosso meio, após, acurados<br />
estudos, a realisação <strong>de</strong>ssa palpitante objectivo, installando, no<br />
Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, um bem feito<br />
aparelho <strong>de</strong> Cinema Educativo.(Jornal A VOZ DA BORBOREMA<br />
03/10/1937, p.06)<br />
Esse momento foi celebrado com muita festivida<strong>de</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>,<br />
mais precisamente no GESL. Diversas pessoas se reuniram junto ao corpo<br />
docente e discente <strong>de</strong>ssa instituição para comemorar esta conquista.<br />
17 Segundo Rodrigues, Gaudêncio e Almeida Filho (1996), Apolônia Amorim era natural <strong>de</strong><br />
Barra <strong>de</strong> Santana, município do interior paraibano. Era consi<strong>de</strong>rada uma mulher à frente do seu<br />
tempo, pois foi um das fundadoras do Jardim <strong>de</strong> Infância <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, professora do<br />
GESL, entusiasta <strong>de</strong> João Pessoa e da Aliança Liberal e integrante do “Comitê Feminino Clara<br />
Camarão”.
109<br />
De acordo com a matéria do jornal antes mencionado, tal comemoração<br />
teve início às 18 horas naquela instituição, sendo presidida pelo diretor do<br />
<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> e pela professora Apolônia Amorim, que “<strong>de</strong>monstrou,<br />
francamente, a efficiencia <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>rno methodo pedagógico, que [foi]<br />
entroduzido nos estabelecimentos <strong>de</strong> ensino da cida<strong>de</strong>” (Jornal A VOZ DA<br />
BORBOREMA 03/10/1937, p.06).<br />
Nessa comemoração, além dos discursos em <strong>de</strong>fesa do Cinema<br />
Educativo para o ensino foram realizadas sessões <strong>de</strong> alguns filmes, bem como,<br />
“exhibido innumeras enscenações e perspectivas <strong>de</strong> caracter histórico e<br />
educacional” (Jornal A VOZ DA BORBOREMA 03/10/1937, p.06). Po<strong>de</strong>mos<br />
dizer que isso se tratava <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>monstração da utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse recurso aos<br />
que prestigiavam esse evento.<br />
Então, concordando com Lopes (2006b, p. 4366) quando o mesmo<br />
ressalta que “as festas <strong>escolar</strong>es traziam, ainda, as marcas das novida<strong>de</strong>s<br />
curriculares e das transformações pedagógicas da escola”, observamos que no<br />
GESL estas mudavam <strong>de</strong> sentido e motivação conforme o seu objetivo, sendo,<br />
particularmente, nesse caso da inauguração do cinema educativo, uma prática<br />
<strong>de</strong> divulgar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r um novo recurso pedagógico. Acrescentamos ainda, <strong>de</strong><br />
reconhecer o empenho da professora Apolônia Amorim, a atuação do governo<br />
e o avanço no uso <strong>de</strong> recursos pedagógicos no GELS.<br />
4.4 – Exposições <strong>escolar</strong>es: momentos <strong>de</strong> divulgar trabalhos <strong>escolar</strong>es à<br />
comunida<strong>de</strong> campinense<br />
As exposições <strong>escolar</strong>es, compondo também os momentos <strong>de</strong><br />
festivida<strong>de</strong>s das instituições <strong>de</strong> ensino, expressavam o empenho, <strong>de</strong>dicação,<br />
habilida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong> e trabalho <strong>de</strong> muitos professores e alunos. Tratava-se<br />
<strong>de</strong> outra prática imbuída <strong>de</strong> significados nas escolas.<br />
Para Souza (1998, p.261) as exposições <strong>escolar</strong>es:<br />
Representavam um momento <strong>de</strong> exposição pública do trabalho e das<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas na escola. Por meio <strong>de</strong>las as famílias dos<br />
alunos e a população em geral tomavam ciência da qualida<strong>de</strong> do
110<br />
trabalho <strong>de</strong>senvolvido nos estabelecimentos <strong>de</strong> ensino. Fonte <strong>de</strong><br />
orgulho <strong>de</strong> professores, alunos e familiares, a exposição <strong>de</strong>notava o<br />
capricho, o <strong>de</strong>svelo, a habilida<strong>de</strong>, o esforço, o empenho e a<br />
<strong>de</strong>dicação dos alunos e professores.<br />
Então, como em outros momentos festivos as exposições <strong>escolar</strong>es<br />
eram, <strong>de</strong> fato, ocasiões das escolas romperem com as fronteiras dos muros,<br />
pare<strong>de</strong>s e portões e se abrir à cida<strong>de</strong> para que esta pu<strong>de</strong>sse conhecer parte do<br />
que se ensina nas mesmas. Fazer aparecer a qualida<strong>de</strong> do ensino, digamos<br />
que po<strong>de</strong>ria ser um dos principais objetivos das exposições <strong>escolar</strong>es.<br />
Nas exposições, geralmente, era apresentado os trabalhos dos alunos<br />
que foram feitos nas disciplinas <strong>de</strong> caráter mais prático, como na disciplina <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senho e trabalhos manuais.<br />
Expressando uma das exposições <strong>escolar</strong>es do GESL, o jornal A Voz da<br />
Borborema, mais precisamente na matéria “Exposição <strong>de</strong> trabalhos, <strong>de</strong>senhos<br />
e <strong>de</strong>cupagens no Grupo Solon <strong>de</strong> Lucena” <strong>de</strong>screve o que um dos<br />
representantes do referido jornal observa em um <strong>de</strong>sses momentos:<br />
Gentilmente acompanhados da professora Ambrosina Mello, uma<br />
das mais <strong>de</strong>dicadas educadoras daquelle estabelecimento <strong>de</strong><br />
ensino, visitamos a exposição dos trabalhos em <strong>de</strong>senho e agulha<br />
do 1° anno A, que obe<strong>de</strong>ce à direcção das competentes professoras.<br />
Liliosa Barros, Ambrosina Mello, Anna Leiros e Eulina Malheiros.<br />
Franca admiração merecem os preciaveis trabalhos dos alumnos do<br />
1° anno B, dirigidos pelos professoras Albertina Ramos Amorim e<br />
Herothi<strong>de</strong>s Oliveira.<br />
Os trabalhos do 2° anno, classe que tem à sua frente as illustres<br />
educadoras Cycilia <strong>de</strong> Oliveira, Silvia Henriques, Aline Moura e Nair<br />
Carvalho, Attestam, <strong>de</strong> maneira realmente animadora, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento dos alumnos <strong>de</strong>sse grau e capacida<strong>de</strong> educacional<br />
<strong>de</strong> que é portador daquelle corpo docente.<br />
Deixou-nos, sobremodo enthusiasmados, a magnífica exposição dos<br />
trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cupagem, <strong>de</strong>senho, pintura e agulha esforçadas<br />
preceptoras Cizena Galvão, espírito activo e illustrado, e, igualmente,<br />
do 3° anno, que é orientado pela intelligente professora Octilia<br />
Sampaio, duas educadoras que honram, pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
trabalho, o magistério publico parahybano.<br />
O 5° anno, que é lecionado pela illustre docente Apolônia Amorim,<br />
exemplo <strong>de</strong> esforço e <strong>de</strong>dicação pelo ensino e pela instrucção entre<br />
nós, tal classe nos chamou, curiosamente, a attenção em face da<br />
efficiencia dos trabalhos manuaes que ali se vêm bem alinhados e<br />
or<strong>de</strong>nados executados pelo seu corpo discente. (Jornal A VOZ DA<br />
BORBOREMA, 16/10/1937, p. 01)
111<br />
A partir <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>scrição fica claro o <strong>de</strong>staque que se dava à atuação<br />
dos docentes. Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos pensar que um dos gran<strong>de</strong>s objetivos<br />
<strong>de</strong>ssas exposições era evi<strong>de</strong>nciar, principalmente, o trabalho que os<br />
professores <strong>de</strong>senvolviam no interior <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s <strong>escolar</strong>es. Portanto,<br />
nessa ocasião a evidência era dada pelo que os alunos apren<strong>de</strong>ram nas<br />
disciplinas.<br />
Além disso, po<strong>de</strong>mos perceber no trecho do jornal acima referendado<br />
que por se tratar <strong>de</strong> um ensino com um sistema seriado, cada professor ou<br />
<strong>grupo</strong> <strong>de</strong> professores ficava responsável <strong>de</strong> mostrar o que sua turma estava<br />
realizando. Algumas turmas <strong>de</strong>stacavam apenas os trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos e<br />
agulha, como foi o caso do 1º ano A. Outras, por sua vez, além <strong>de</strong><br />
apresentarem esses trabalhos, mostravam a pintura e a <strong>de</strong>cupagem, como foi<br />
a turma do 3º ano. Assim, po<strong>de</strong>mos supor que quanto mais elevada a série<br />
maior era o conteúdo <strong>de</strong> aprendizagem para se mostrar nas exposições<br />
<strong>escolar</strong>es.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos bastante significativo na citação acima o fato <strong>de</strong> que para<br />
o 1º ano existia uma divisão, qual seja: 1º ano A e 1º ano B. Observamos que<br />
isso não é repetido nos anos seguintes. Nesse sentido, essa informação po<strong>de</strong><br />
nos indicar que o número <strong>de</strong> alunos matriculados no 1º ano era tão superior<br />
que se fazia preciso uma divisão. Além disso, po<strong>de</strong> nos evi<strong>de</strong>nciar que,<br />
provavelmente, existia uma consi<strong>de</strong>rável reprovação ou <strong>de</strong>sistência a partir do<br />
2º ano do primário, já que uma única turma era suficiente para comportar os<br />
alunos <strong>de</strong>ssa série em diante. Não é nosso objetivo, nesse momento, discutir<br />
as causas que levavam a essa situação, porém consi<strong>de</strong>ramos bastante<br />
pertinente abrir esses parênteses.<br />
Voltando às exposições <strong>escolar</strong>es, geralmente, elas iniciavam com<br />
solenida<strong>de</strong> presidida pelo diretor da escola e seguia com apresentações <strong>de</strong><br />
cantos, teatro e poesias pelos alunos. Comumente, duravam mais <strong>de</strong> um dia<br />
para que familiares dos discentes, autorida<strong>de</strong>s em geral e população<br />
pu<strong>de</strong>ssem prestigiar os trabalhos dos professores e alunos. Esse foi o caso da<br />
referida exposição do GESL, que, segundo o jornal já mencionado, iniciou-se
no começo da semana, possivelmente, dia 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1937 e até o 16 do<br />
mesmo mês ainda estava em realização. Vejamos essa informação:<br />
112<br />
Estiveram em franca exposição <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros dias <strong>de</strong>sta<br />
semana, os trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, agulha e <strong>de</strong>cupagem<br />
confeccionados pelos alumnos do Grupo Solon <strong>de</strong> Lucena <strong>de</strong>sta<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
Tendo o ensejo <strong>de</strong> visitar aquelle educandario presenciamos, ali, em<br />
todos as divisões <strong>de</strong> classe, as interessantes obras <strong>de</strong> arte tão bem<br />
manipuladas pelos nossos estudantes primários. (Jornal A VOZ DA<br />
BORBOREMA, 16/10/1937, p. 01)<br />
Então, digamos que o sentido da exposição <strong>escolar</strong> no GESL estava<br />
voltado, principalmente, para a divulgação dos trabalhos que se <strong>de</strong>senvolviam<br />
no interior das salas <strong>de</strong> aulas, portanto, expressavam uma parcela do cotidiano<br />
<strong>escolar</strong> <strong>de</strong>ssa instituição. A<strong>de</strong>mais, observamo-as como uma prática do diretor,<br />
professores e alunos procurarem mostrar, <strong>de</strong> forma figurativa e <strong>de</strong>monstrativa,<br />
a qualida<strong>de</strong> do ensino da instituição <strong>escolar</strong> a qual estavam representando<br />
para a cida<strong>de</strong> como um todo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
113<br />
Para Certeau (2008, p.94) enquanto a pesquisa é interminável, “o texto<br />
<strong>de</strong>ve ter fim”, pois é estruturado com <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> terminar. Então, é partindo<br />
<strong>de</strong>ssa proposição que, nesse momento, procuramos fechar nossa produção<br />
textual. Optamos, portanto, por retomar as discussões <strong>de</strong>senvolvidas em cada<br />
capítulo, enfatizando as questões que motivaram nossa investigação.<br />
No capítulo posterior a introdução, pu<strong>de</strong>mos observar que o i<strong>de</strong>ário<br />
republicano consistia em promover no país o progresso, a or<strong>de</strong>m, a<br />
regeneração da socieda<strong>de</strong>, a civilização das massas e o fortalecimento da<br />
nação, através do combate ao analfabetismo do povo brasileiro, ou seja, pela<br />
instrução pública. Assim, percebemos que, conforme esse i<strong>de</strong>ário, a difusão e<br />
a ampliação da oferta da educação <strong>escolar</strong> propiciariam um Brasil <strong>de</strong>senvolvido<br />
sócio-economicamente.<br />
Nesse sentido, verificamos que o <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, como nova forma<br />
organizacional do ensino primário, tornou-se representante <strong>de</strong>sse i<strong>de</strong>ário, pois,<br />
como nos alertou Souza (1998), foi meio <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong> da ação política do<br />
Estado e propaganda do regime republicano.<br />
É válido ressaltar que foi nesse capítulo que procuramos respon<strong>de</strong>r às<br />
nossas duas primeiras questões <strong>de</strong> pesquisa, quais sejam: quando foi<br />
implantado o Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena em Campina Gran<strong>de</strong>? E qual a<br />
motivação para esta implantação? A partir das reflexões que realizamos, tendo<br />
por referência as fontes coletadas, constatamos que foi, precisamente, no dia<br />
12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1924 que tal instituição foi implantada em Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
Quanto à motivação para essa implantação, verificamos, através <strong>de</strong><br />
“indícios” (GINZBURG, 1989), que foram motivos para essa instauração, a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um prédio <strong>escolar</strong> para comportar um número <strong>de</strong> alunos<br />
superior a 80 crianças; o processo <strong>de</strong> urbanização <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> que<br />
<strong>de</strong>manda uma instituição <strong>de</strong> ensino primário a<strong>de</strong>quada ao seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />
sócio-econômico, já que, como observamos, essa cida<strong>de</strong> já era consi<strong>de</strong>rada<br />
pólo comercial no agreste paraibano e apresentava no período cerca <strong>de</strong> 9.000
habitantes e a reivindicação da elite local por uma Campina Gran<strong>de</strong> civilizada,<br />
urbana e mo<strong>de</strong>rna.<br />
114<br />
No terceiro capítulo, chegamos à conclusão que os primeiros <strong>grupo</strong>s<br />
<strong>escolar</strong>es construídos na Paraíba acompanhavam todo um requinte que os<br />
<strong>de</strong>ixavam em <strong>de</strong>staque nas cida<strong>de</strong>s. Esse requinte foi observado por nós<br />
através <strong>de</strong> fotografias das fachadas <strong>de</strong> alguns dos primeiros <strong>grupo</strong>s <strong>escolar</strong>es<br />
edificados nesse estado. Essas fotografias <strong>de</strong>monstravam a monumentalida<strong>de</strong><br />
dos prédios <strong>escolar</strong>es.<br />
Analisando especificamente o prédio do GESL, constatamos que possui<br />
qualida<strong>de</strong>s estéticas associadas ao ecletismo e foi construído em uma das<br />
principais ruas <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, a Floriano Peixoto. Rua on<strong>de</strong> se localizava<br />
também o paço municipal e a Igreja católica Matriz.<br />
Pu<strong>de</strong>mos perceber, ainda, que a edificação do GESL aconteceu em<br />
passo acelerado, perdurando apenas nove meses, já que se iniciou em janeiro<br />
<strong>de</strong> 1924 e foi inaugurado em outubro <strong>de</strong>sse mesmo ano.<br />
O nosso principal objetivo, nesse terceiro capítulo, consistiu em<br />
respon<strong>de</strong>r às seguintes questões das nossas perguntas norteadoras <strong>de</strong><br />
investigação: O que representou a arquitetura do prédio <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong> para a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>? Até que ponto a construção do mesmo <strong>grupo</strong><br />
coincidiu com o avanço urbano <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong>? E como foi organizado o espaço<br />
interno <strong>de</strong>ssa instituição? Verificamos que o GESL representou um avanço<br />
para essa cida<strong>de</strong>. Avanço no sentido <strong>de</strong> ter inaugurado mais um elemento da<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> na aparência da cida<strong>de</strong>, bem como na <strong>escolar</strong>ização primária.<br />
No que concerne à segunda questão, antes explicitada, constatamos<br />
que naquele período a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> estava em gran<strong>de</strong> processo<br />
<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização com a inauguração <strong>de</strong> várias instituições e equipamentos <strong>de</strong><br />
urbanida<strong>de</strong>, a saber: chegada do automóvel em Campina Gran<strong>de</strong> (1918);<br />
instalação da luz elétrica(1920); inauguração da Agência do Banco do Brasil<br />
(1923); instauração do primeiro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> - GESL (1924); implantação do<br />
novo mercado público (1925); fundada a Associação Comercial (1926); a<br />
instalação das primeiras fábricas têxteis (1928), entre outras inaugurações.
Portanto, po<strong>de</strong>mos dizer que a criação do GESL estava integrando o avanço<br />
urbano da mencionada cida<strong>de</strong>.<br />
115<br />
Sobre a organização do espaço interno do GESL, verificamos que tinha<br />
as seguintes <strong>de</strong>pendências: seis salões (salas <strong>de</strong> aulas); duas gran<strong>de</strong>s áreas<br />
para recreio, uma sala on<strong>de</strong> se instalava o gabinete da diretoria e outra sala<br />
para a secretaria e banheiros.<br />
No quarto capítulo, foi possível uma discussão consentânea às<br />
festivida<strong>de</strong>s <strong>escolar</strong>es do GESL. Observamos que as festas <strong>escolar</strong>es<br />
caracterizavam momentos da escola se abrir para a cida<strong>de</strong> com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
divulgar seus trabalhos. Além disso, tornavam-se momentos revestidos <strong>de</strong><br />
significados, como <strong>de</strong> reforçar os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> civismo e patriotismo.<br />
Nesse capítulo, procuramos dar respostas aos nossos seguintes<br />
questionamentos: Que representativida<strong>de</strong> possuía as festas <strong>escolar</strong>es do<br />
GESL? E Qual o sentido das festivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse <strong>grupo</strong>? Percebemos que as<br />
festas <strong>escolar</strong>es eram representadas diversamente conforme os sentidos, ora<br />
era momento <strong>de</strong> se ressaltar o feito <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena para Campina Gran<strong>de</strong>,<br />
por exemplo, na inauguração da instituição, ora o empenho dos alunos e<br />
professores durante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma dada disciplina, como foi o<br />
caso das exposições <strong>escolar</strong>es. E, muitas vezes, representavam momentos <strong>de</strong><br />
aprendizagem <strong>de</strong> conteúdos, valores, normas e comportamentos consi<strong>de</strong>rados<br />
a<strong>de</strong>quados naquele período (saber cantar o hino da ban<strong>de</strong>ira, exaltar o feito <strong>de</strong><br />
um <strong>de</strong>terminado herói, etc.).<br />
Quanto aos sentidos das festas, constatamos que variavam, pois como<br />
pu<strong>de</strong>mos ressaltar existiam as que celebravam a instituição, como foi o caso da<br />
festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração e aniversário do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, as que celebravam<br />
datas em comemoração a algum acontecimento consi<strong>de</strong>rado marcante na<br />
história, por exemplo, o <strong>de</strong>scobrimento da América. As que festejavam uma<br />
conquista do GESL, a festa <strong>de</strong> inauguração do cinema educativo e as que<br />
tinham como objetivo divulgar trabalhos <strong>de</strong> alunos, como foram as exposições<br />
<strong>escolar</strong>es.<br />
Pu<strong>de</strong>mos observar ainda, nesse capítulo, a partir do paradigma indiciário<br />
<strong>de</strong> Ginzburg (1989), que os indivíduos que participavam das festas se
posicionavam diversamente, procurando aten<strong>de</strong>r objetivos próprios, como<br />
foram os casos prováveis dos alunos do Collegio Diocessano e do Lyceu<br />
Parahybano, do governo estadual e do poeta Leonel Coelho durante a<br />
solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inauguração do GESL. Além <strong>de</strong>sses, houve o <strong>de</strong>putado<br />
Generino Maciel que aproveitou do momento <strong>de</strong> inauguração da instituição<br />
para enaltecer o governo, relembrar figuras consi<strong>de</strong>radas importantes como<br />
Cristóvão Colombo, reforçar o i<strong>de</strong>ário republicano <strong>de</strong> regeneração da nação e<br />
estimular o civismo e patriotismo.<br />
116<br />
Abrimos parênteses para <strong>de</strong>stacar, nesse momento, que nosso estudo é<br />
uma entre tantas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investigação sobre essa instituição <strong>escolar</strong>,<br />
já que esta se refere a um “complexo organizado” (MAGALHÃES, 2004, p.39).<br />
Portanto, muitos outros estudos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidos sobre o<br />
GESL, sendo alguns: relativo a cultura material <strong>escolar</strong>, a expansão da<br />
matriculas, currículo <strong>escolar</strong>, as práticas disciplinares <strong>de</strong>ssa instituição, entre<br />
outros.<br />
Vale <strong>de</strong>stacar, ainda, que o GESL funcionou no prédio que foi <strong>de</strong>stinado<br />
a ele durante trinta e dois anos, ou seja, do ano <strong>de</strong> 1924 até 1956, quando foi<br />
cedido pelo Estado ao Município para o funcionamento da Escola Politécnica,<br />
em seguida, à Fundação <strong>de</strong> Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FURNe) e<br />
à Reitoria da UEPB.<br />
Nesse sentido, consi<strong>de</strong>ramos necessário o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estudos<br />
que investiguem, ainda, a periodização que vai <strong>de</strong> 1937 até 1956. Além disso,<br />
procurar saber o que levou a mudança do GESL <strong>de</strong>sse prédio para outro, com<br />
estrutura arquitetônica menos elaborada do ponto <strong>de</strong> vista estético.
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Jornal A UNIÃO, Anno XXXII, nº. 58, pág. 1 / 2º quadrante, 1924.<br />
Jornal A UNIÃO, Anno XXXII, nº. 82, pág. 1 / 1º e 3º quadrantes, 1924.<br />
Jornal O Educador, Anno I, nº. 01, pág. 02 / 2º, 3º e 4º quadrantes, 1921.<br />
Jornal A UNIÃO, anno XXXII, nº. 227, pág. 02 / 2º quadrante, 1924.<br />
Jornal A UNIÃO, anno XXXII, nº. 228, pág. 02 / 3º quadrante, 1924.<br />
Jornal A UNIÃO, anno XXXII, nº. 229, pág. 02 / 1º, 2º,3º e 4º quadrantes, 1924.<br />
Jornal O SÉCULO, anno I, nº. 12, pág. 04 / 1º quadrante, 1928.<br />
Jornal A VOZ DA BORBOREMA, anno I, nº. 26, pág. 06 / 1º quadrante, 1937.
Jornal A VOZ DA BORBOREMA, anno I, nº. 27, pág. 01 / 2º quadrante, 1937.<br />
Jornal A VOZ DA BORBOREMA, anno I, nº. 36, pág. 06 / 3º quadrante, 1937.<br />
Revista Era Nova, Anno IV, Nº.70, pág. 24, novembro <strong>de</strong> 1924.<br />
Revista Tudo, nº. 417, pág. 07, 08 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1984.<br />
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ALMANACH DE CAMPINA GRANDE. Diretor: Eucly<strong>de</strong>s Villar. Livraria<br />
Campinense, Ano II, 1934.<br />
ANUÁRIO DE CAMPINA GRANDE, 1925.<br />
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FUNDAÇÃO MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇÃO – PARAÍBA.<br />
Livro do Município <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>. João Pessoa: UNIGRAF – União<br />
Artes Gráficas Ltda., 1984.<br />
MUSEU DE ARTE ASSIS CHATEAUBRIAND. Arte Brasileira: do século XIX<br />
aca<strong>de</strong>mismo, mo<strong>de</strong>rno e anos 60 coleção Assis Chateaubriand. Folheto.<br />
Campina Gran<strong>de</strong> Paraíba, 2008.<br />
PARAIBA, PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINA GRANDE. Memorial<br />
Urbano <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, 1996, 281p.<br />
SOBRINHO, José Alves. História <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> em versos. 199-.
ANEXOS<br />
Anexo 1 - Decreto <strong>de</strong> criação do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
Decreto nº. 1.317 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1924<br />
Crea um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> na<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />
126<br />
Solon Barbosa <strong>de</strong> <strong>lucena</strong>, presi<strong>de</strong>nte do Estado da Parahyba do Norte,<br />
tendo em vista o officio sob n.º1.453, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> setembroexpirante, que lhe foi<br />
dirigido pela directoria geral da Instrucção Publica, usando da attribuição que<br />
lhe confere o art. 36, § 1º, da constituição Estadual e na conformida<strong>de</strong> do<br />
regulamento que baixou com o <strong>de</strong>creto sob nº. 873, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1917.<br />
DECRETA:<br />
Art. 1º - Fica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, creado um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em Campina Gran<strong>de</strong>, ao qual<br />
ficam incorporadas as ca<strong>de</strong>iras do ensino publico primario existentes naquella<br />
cida<strong>de</strong>, a saber: do sexo feminino, do sexo masculino e mista.<br />
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrario.<br />
O Secretario do Estado faça publicar o presente <strong>de</strong>creto, expedindo as or<strong>de</strong>ns<br />
e comunicações necessárias.<br />
Palácio do govêrno do Estado da Parahyba do Norte, em 30<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
1924- 36º da Proclamação da Republica. (ESTADO DA PARAHYBA, 1924).<br />
SOLON BARBOSA DE LUCENA<br />
Presi<strong>de</strong>nte do Estado da Parahyba
Anexo 2 - JORNAL A UNIÃO<br />
João Pessoa, Anno XXXII, 12/03/1924 / nº 58 / pág 1 / 2º quadrante<br />
Edifícios Escolares no Interior<br />
127<br />
Vimos hontem, em mãos do engenheiro contractante Hermenegildo DI<br />
Laecio duas photographias do novo edifício, mandado construir em Campina<br />
Gran<strong>de</strong> pelo o sr. dr. Solon <strong>de</strong> Lucena, presi<strong>de</strong>nte do Estado.<br />
As obras, que apenas contam dois mezes <strong>de</strong> construcção, encontram-se<br />
muitíssimo a<strong>de</strong>antadas, sendo que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> trinta dias será iniciada a<br />
cobertura do tecto.<br />
O <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> me<strong>de</strong> 26m70 <strong>de</strong> frente por 36 metros <strong>de</strong> fundo, occupando<br />
o local em que se achava situado o antigo mercado, num dos ângulos da praça<br />
Floriano Peixoto.<br />
A distribuição <strong>de</strong> luz no edifício faz-se precisamente porque os seus flancos<br />
abrem para tres ruas diferentes.<br />
Também nos foi mostrada uma photographia <strong>de</strong> um outro <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> que<br />
está sendo construído em Areia, por uma commissão <strong>de</strong> pessoas,<br />
representativas, que daquella forma quizeram commemorar a passagem do<br />
primeiro centenário da nossa in<strong>de</strong>pendência política.<br />
As obras acham-se em via <strong>de</strong> conclusão e teem sido em parte financiadas<br />
pelo govêrno do Estado, que cumpre <strong>de</strong>st’arte o seu programma <strong>de</strong><br />
administração, no que concerne os fomento do ensino publico.<br />
João Pessoa, Anno XXXII, 9/4/1924 /nº 82 / pagina 1 / 1º e 3º<br />
quadrante<br />
O <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> em construcção na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />
O sr. Hermenegildo Di Larcio, exibiu hotem em palcio, ao sr. dr. Álvaro<br />
<strong>de</strong> Carvalho, secretario <strong>de</strong> Estado, varias photographias do prédio em<br />
construcção, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>stinado a um <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>.<br />
Mandado erigir pelo governo <strong>de</strong> exmo. sr. dr. Solon <strong>de</strong> Lucena, por<br />
contracto com a firma Cunha e Di Laecio, e dificios em construcção que e <strong>de</strong><br />
proporções amplas, já esta recebendo ma<strong>de</strong>iramento aéreo.<br />
Completavam-se ante-hotem três mezes que se trabalha na prefalada<br />
obra, sendo provável que antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>correr outro tempo egual seja o prédio<br />
entregue ao governo.<br />
É para louvar a marcha dos serviços, a qual vem em ano da<br />
competência profissional e da activida<strong>de</strong> do ilustre Hermenegildo Di Laecio.<br />
João Pessoa, Anno XXXII, 14 <strong>de</strong> outubro 1924 /nº 227 / pagina 2 / 2º<br />
quadrante
A inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />
As brilhantes festa realizadas naquella cida<strong>de</strong><br />
128<br />
A inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>u ensejo a que<br />
se realizassem na importante cida<strong>de</strong> do interior festas muito brilhantes,<br />
verda<strong>de</strong>iramente inéditas naquelle núcleo on<strong>de</strong> se concentra a civilização do<br />
nosso hinterland. Motivo <strong>de</strong> intenso regosijo para a população campinense, a<br />
entrega do novo estabelecimento <strong>de</strong> ensino assumiu um aspecto acima <strong>de</strong> toda<br />
expectativa.<br />
Desta capital, numerosas foram as pessoas que se transportaram a<br />
formosa cida<strong>de</strong> serrana, com o fito especial <strong>de</strong> estarem presentes as<br />
solenida<strong>de</strong>s alli realizadas.<br />
Em nome do sr. dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, presi<strong>de</strong>nte do Estado, seguiu com<br />
aquelle <strong>de</strong>stino, em trem especial da meia-noite, o sr. <strong>de</strong>. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho,<br />
secretario do governo. O illustre auxiliar da administração foi acompanhado por<br />
varias personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> nosso meio e um representante <strong>de</strong>ste<br />
jornal.<br />
O sr. dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho chegou ante-hontem, as 8 horas da manha,<br />
a campina Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> foi condignamente recebido pelo cel. Ernani Lauritzen<br />
, prefeito do município e outras pessoas influentes.<br />
Ás 15 horas em ponto, teve inicio a ceremonia inaugural do Grupo<br />
Escolar, achando-se disposta a mesa da sessão no largo pateo central do<br />
mesmo, ao ar livre, inteiramente repleto <strong>de</strong> senhoras , autorida<strong>de</strong>s e<br />
cavalheiros.<br />
Antes do acto da inauguração, teve logar a bençam do edifício,<br />
ministrado pelo monsenhor Salies, bispo resignatario do Maranhão. Depois,<br />
<strong>de</strong>clarando aberta a sessão, o sr. dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho, que a presidiu,<br />
representando o chefe do governo , <strong>de</strong>u a palavra ao <strong>de</strong>putado Generino<br />
Maciel. O fluente orador pronunciou uma longa allocução, dizendo dos intuitos<br />
do estabelecimento que aquelle momento se inaugurava, e realçando os<br />
benefícios que o mesmo traria a urgente cruzada da instrucção do pôvo.<br />
Reportou-se a data <strong>de</strong> doze <strong>de</strong> outubro, em que se commemora o<br />
<strong>de</strong>scobrimento da América, e esten<strong>de</strong>u-se em consi<strong>de</strong>rações sobre o evi<strong>de</strong>nte<br />
progresso intellectual <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, manifestado através da<br />
operosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escriptores, pedagogos, jornalistas e poetas. A cida<strong>de</strong> estava,<br />
pois, a merecer essa dádiva relevantissima do presi<strong>de</strong>nte Sólon <strong>de</strong> Lucena,<br />
disse o <strong>de</strong>putado Generino Maciel, que abordou em torno a s. exc. os mais<br />
opportunos e justos elogios.<br />
Após falou o sr. dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho, que <strong>de</strong>clarou inaugurado em<br />
nome do chefe fé do executivo , o edifício , cujas chaves entregou nesse<br />
momento ao respectivo director, professor Mario Gomes da Silva.<br />
O Grupo Escolar, situado num dos pontos centraes da cida<strong>de</strong>, é um<br />
bello e amplo prédio, <strong>de</strong> construcção muito elegante e apropositada. A sua<br />
fachada, ornamentada <strong>de</strong> altas colunmnas, foi alvo <strong>de</strong> um esmero todo<br />
especial do engenheiro constructor, apresentando aspecto agradável e<br />
suggestivo.<br />
O encarregado <strong>de</strong> sua edificação foi o architecto Hermenegildo Di<br />
Lascio, que <strong>de</strong>monstrou mais uma vez, os seus reconhecidos méritos<br />
profissionaes. O <strong>grupo</strong> compõe-se <strong>de</strong> dois pavilhões, um para cada sexo tendo
129<br />
seis amplas e em illuminadas salas <strong>de</strong> classe. Nelle funccionarão três ca<strong>de</strong>iras<br />
primarias: do sexo feminino, dirigida pela professora d. Jacintha Dantas ; mista<br />
pela professoras d. Isaura Chagas, e do sexo masculino, entregue a<br />
superintendência do próprio director. O engenheiro Di Lascio construiu ainda<br />
uma cisterna para captação <strong>de</strong> águas das chuvas , com capacida<strong>de</strong> para 5.000<br />
litros.<br />
No vestíbulo do edifício foi collocada uma placa <strong>de</strong> mármore com a<br />
seguinte inscripção: “ Ao dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, M. D. Presi<strong>de</strong>nte do Estado, a<br />
quem <strong>de</strong>ve a construcção <strong>de</strong>ste templo <strong>de</strong> saber civismo, Campina Gran<strong>de</strong>,<br />
neste mármore, eterniza o seu reconhecimento. I-XX-MCMXXIV.”<br />
Depois <strong>de</strong> encerrada a sessão inaugural assignada a acta respectiva,<br />
uma gentil menina campinense offereceu ao sr. secretario <strong>de</strong> estado um lindo “<br />
bouquet’ <strong>de</strong> flores.<br />
Campina Gran<strong>de</strong> apresentava um aspecto excepcional, pela gran<strong>de</strong><br />
affluencia <strong>de</strong> gente as sua ruas, que a noite tiveram a illminação reforçada.<br />
Os tiros <strong>de</strong> guerra do Collegio Diocessano e do Lyceu Parahybano que<br />
se haviam transportado, em trens expressos, a linda cida<strong>de</strong> sertaneja,<br />
<strong>de</strong>sfilaram em garbosa parada e fizeram evoluções diversas assistidas por uma<br />
verda<strong>de</strong>ira multidão.<br />
Os alumnos do Collegio Diocessano realizaram ainda <strong>de</strong>moradas provas<br />
<strong>de</strong> gymnastica sueca, sempre com a maior correcçcão e disciplina. A presença,<br />
entuhusiasmo e o garbo militar <strong>de</strong>sses rapazes, os do Lyceu e os do Collegio<br />
Diocessano, muito concorreram para o gran<strong>de</strong> realce <strong>de</strong> que a festa se<br />
revestiu.<br />
Os <strong>de</strong>pultados Ernani Lauritzen e Generino Maciel estiveram<br />
incançaveis, provi<strong>de</strong>nciando para que aos hospe<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um dia não faltasse o<br />
conforto, recreações e as commodida<strong>de</strong>s que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campina como<br />
centro <strong>de</strong> uma civilização <strong>de</strong>véras notavel, po<strong>de</strong> offerecer.<br />
O sr. dr. Álvaro <strong>de</strong> Carvalho regressou a esta capital, hontem, às três<br />
horas da madrugada, no mesmo trem em que viajou <strong>de</strong> retorno o Collegio<br />
Diocessano.<br />
Na parada tomaram parte as alumnas do Instituto Pedagógico e do<br />
institulo S. Sebastião. As senhoritas pertencentes a esses reputados collegios,<br />
apresentaram-se <strong>de</strong>centemente uniformizadas.<br />
Assistiram as festas todas as escolas municipais e estadoaes.<br />
Logo após a inauguração, em Campina do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, s. exc. Sr.<br />
presi<strong>de</strong>nte do Estado recebeu estes <strong>de</strong>spachos <strong>de</strong> congratalações :<br />
C. Gran<strong>de</strong>, 12 – Exmo dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena – Presi<strong>de</strong>nte Estado - Parahyba –<br />
Tenho honra communicar vossencia acabo inaugurar edifício <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong><br />
esta cida<strong>de</strong>. Cordiaes saudações – Álvaro <strong>de</strong> Carvalho, secretario <strong>de</strong> Estado<br />
C. Gran<strong>de</strong> 12 – Dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena - Parahyba – Inaugurando edifício<br />
<strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> toda minha terra vivo enthusiasmo acclamando nome vossencia<br />
a quem eu caracter chefe local amigo todos tempos, leal testemunho minha<br />
gran<strong>de</strong> gratidão hypothecando mais uma vez solidarieda<strong>de</strong> absolua sua<br />
esclarecida actuação no governo Estado chefia partido Epitacista. Saudações<br />
cordiaes – Ernani Lauritzzen<br />
C. Gran<strong>de</strong> 12 – Dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena Presi<strong>de</strong>nte - Estado Parahyba –<br />
Honramo-nos communicar communicar neste momento entrega edifício <strong>grupo</strong><br />
<strong>escolar</strong> Campina Gran<strong>de</strong> um digno representante dando assim cumprimento
honrosa incumbência esperando ter sabido correspon<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sejos vossos e<br />
povo Campina. – Cunha Di Lascio.<br />
João Pessoa, Anno XXXII, 15 outubro 1924 / nº 228 / pagina 2 / 3º<br />
quadrante<br />
Inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />
130<br />
Ainda a propósito da inauguração do <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong> <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>,<br />
o sr. presi<strong>de</strong>nte do Estado recebeu este telegramma <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento firmado<br />
pelo Conselho Municipal da referida cida<strong>de</strong>:<br />
“ C. Gran<strong>de</strong>, 13 – Dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena – Parahyba – Conselho Municipal<br />
<strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> communica v. exc. Inauguração solenne hontem realizada <strong>grupo</strong><br />
<strong>escolar</strong> com quem vosso operaso governo quiz distingui Campina Gran<strong>de</strong>.<br />
Festivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>correu ambiente geraes sympathias sendo nome v. exc.<br />
acclamando como gran<strong>de</strong> bemfeitor Campina. Nome Conselho povo levamos<br />
v. exc. affirmação agra<strong>de</strong>cimentos fazendo votos vossa felicida<strong>de</strong> pessoal.<br />
Saudações respeitosas – Juvino Do O., prefeito; Mario Cavalcanti <strong>de</strong> Queiroz,<br />
vice-presi<strong>de</strong>nte.”<br />
João Pessoa, Anno XXXII, 16/10/1924 / n.229 / pág 2 / 1º, 2º, 3º<br />
e 4º quadrante<br />
A inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong><br />
O discurso do sr. <strong>de</strong>putado Generino Maciel<br />
Por occasião da inauguração do Grupo Escolar <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>,<br />
motivo <strong>de</strong> brilhantes festas naquella importante cida<strong>de</strong> do interior, o sr.<br />
<strong>de</strong>putado Generino Maciel pronunciou o subseqüente discurso:<br />
Venho <strong>de</strong> minha irremediável obscurida<strong>de</strong>, pela <strong>de</strong>xtra generosa do gran<strong>de</strong><br />
estheta do coração que é monsenhor Milanez, sacerdote da fé que há dois mil<br />
annos jorra dos cimos do Calvário as bençams luminosas no amor sobre a<br />
superfície do planeta, minha infinita ânsia divinatória <strong>de</strong> paz e concórdia;<br />
venho, senhores e exmas. Senhoras minhas, da humilda<strong>de</strong> christã do meu<br />
tugúrio intellectual para a apotheose <strong>de</strong>sta sagrada hora, <strong>de</strong> enlevos e<br />
esperanças.<br />
N’alma, certo, me vibram todos os carrilhões do jubilo feliz e augusto.<br />
porque sou agora, na synthese <strong>de</strong> minha alegria, o symbolo da alegria do meu<br />
povo.<br />
Campina exulta.<br />
Éramos, até hontem, no Estado, a energia vital <strong>de</strong> que se extrahiam as<br />
melhores forças á actuação da engrenagem administrativa da Parahyba e que<br />
não tinha, comtudo, direito a nenhum gênero <strong>de</strong> recompensa. Nossa<br />
prosperida<strong>de</strong>, nosso progresso, nossa evolução, transformados em tantas<br />
outras jornadas civilizadoras, estavam a resultar inúteis ás <strong>de</strong>sejadas
131<br />
sympathias com que appellidavamos para esta flor da Borborema, que o grato<br />
aroma do labor honesto, perfuma as vistas dos nossos estadistas. Fitavam-selhe<br />
os olhos em outros horizontes. Para nós, apenas, a honraria irritante <strong>de</strong><br />
uma tabella tributária singular, com que ainda pagamos o luxo <strong>de</strong> sermos a<br />
metrópole commercial dos sertões; e o chamamento aos postos avançados<br />
para, na agitação política <strong>de</strong> pleitos eleitorais, garantirmos o triumpho<br />
indispensável das candidaturas indicadas, bem ou mal, ás caprochosas<br />
preferências das urnas plesbiterianas. Depois, nos dias tranqüilos, arrochos,<br />
abusos, clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>s... E a injustiça contra nossas aspirações <strong>de</strong> amparo<br />
aos próprios merecimentos, na tortura dos <strong>de</strong>senganos, campeando inerente,<br />
sem que, aqui <strong>de</strong>ntro, houvéssemos para quem appellar.<br />
Apprehen<strong>de</strong>mos a natureza do ar moral que respiramos: e não nos<br />
humilhamos. Fizemos da lealda<strong>de</strong> nossa flâmula do combate e, armados<br />
cavalheiros da coherencia ethica, nos puzemos em marcha para o porvir.<br />
Estávamos na Terra da Promissão. Mais hoje ou mais amanhã, haveríamos <strong>de</strong><br />
colher os sazonados fructos optimos <strong>de</strong> sua mesma fertilida<strong>de</strong>.<br />
Nunca esquecemos, porem, nos surtos <strong>de</strong> nossa abnegação, <strong>de</strong> clamamos<br />
pela victoria dos nossos direitos. Era como si os manes do solitário <strong>de</strong><br />
Koenisberg nos indicassem o rumo <strong>de</strong> nossos passos na arena da vida, ou as<br />
doutrinas <strong>de</strong> Picard se houvessem infiltrado em nosso eu collectivo,<br />
robustecendo-nos o espírito para a lucta incruenta.<br />
E, um dia, surgiu, para nós, o sol.<br />
A ascenção do senhor Solon <strong>de</strong> Lucena ao po<strong>de</strong>r foi, para os campinenses,<br />
o <strong>de</strong>albar límpido <strong>de</strong> um cyeto <strong>de</strong> altas, aprumadas equida<strong>de</strong>s. Para nós, os<br />
espesinhados, os trahidos, os menospresados, que convergiram, antanho,<br />
numa soficitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> carinhosa affeição, as benemerências da presi<strong>de</strong>nte a<br />
quem se <strong>de</strong>vem a consudação do epitacismo no trecho do Brasil que lhe fora<br />
fecunda gênese e a restauração constitucional, no berço <strong>de</strong> Peregrino <strong>de</strong><br />
Carvalho ou Affonso Campos – gênios parahybanos <strong>de</strong> sonhos libertários e paz<br />
juridica – da <strong>de</strong>mocracia.<br />
O nosso Grupo Escolar, cuja inauguração solenne ora fazemos neste<br />
edifício <strong>de</strong> discreta belleza e austeras linhas architectonicas, <strong>de</strong>vemol-o, <strong>de</strong><br />
todo, á justiceira clarividência do administrador irreprochavel cujo nome illibado<br />
nossas máes, nossas esposas, nossas filhas, ou nossas noivas guardam<br />
zelosamente, como sacerdotizas do bem, no branco sacrário da gratidão.<br />
Porque, senhores, o dr. Sólon <strong>de</strong> Lucena, <strong>de</strong>ntro da Republica,<br />
indubitavelmente, é o primeiro que, chefiando o po<strong>de</strong>r executivo estadual, tudo<br />
fez pela harmonia <strong>de</strong> nossa impávida gente dando-nos ainda este templo, <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> partirão para o futuro, re<strong>de</strong>mptos pelas fulgurações do ensino básico, os<br />
que no tempo hão <strong>de</strong> ser os continuadores do nosso nome e nossa<br />
personalida<strong>de</strong>.<br />
Enternecidamente, beijemos-lhe, pois antes <strong>de</strong> tudo, as mãos equanimas e<br />
justiceiras.<br />
A DATA<br />
No plano primitivo <strong>de</strong>sta mo<strong>de</strong>stíssima palestra, com que lhe venho<br />
perturbar, exmas. Senhoras minhas e meus senhores, a formosura do festival<br />
ora a realisar-se, entrava, por alvitre attendivel da amiza<strong>de</strong> fidalga e<br />
honrosíssima que a esta triouma me arrasta, a resolução <strong>de</strong> algo vos dizer
132<br />
sobre o 12 <strong>de</strong> outubro. Falar-vos-ia, portanto, se persistisse no intento da<br />
aventura nautica do Genovez, da sua immarcessivel gloria, das penas que<br />
soffreu o re<strong>de</strong>vivo navegador, das ingratidões que o afflingiram e <strong>de</strong> toda a<br />
magnífica epopéa em que seus feitos e sua existência planetária se<br />
transfiguraram. Recordar-vos-ia, assim sua perigrinação inefficaz á pátria<br />
immortal <strong>de</strong> Nun’ Álvares, on<strong>de</strong> o scepticismo d’el-rei não lhe <strong>de</strong>u guarida no<br />
pétreo ninho <strong>de</strong> Sagres, <strong>de</strong> que partiriam, mais tar<strong>de</strong>, no bojo escuro das naus<br />
blindadas, as sementes alvas da colonisação lusa em procura dos continentes<br />
ignotos; e lembrar-vos-ia <strong>de</strong>pois, a arrancada semi pascional do visionário<br />
impertinente á terra em que nascera on<strong>de</strong> supplicaria, <strong>de</strong>bate com lagrimas na<br />
adustez da faxe requeimada do calor do pranto emotivo o auxilio imprescindível<br />
á realisação do i<strong>de</strong>al que o suffocava; e, em seguida <strong>de</strong>ter-me-ia, comvosco,<br />
pacientemente, na corte <strong>de</strong> Castelia, por on<strong>de</strong>, outr’ora, na sua altuada loucura<br />
psychica campeara o cid da legenda heróica , restaurando o epicismo<br />
complexo da varonilida<strong>de</strong> daquelle povo em cujas artérias o sangue allienigina,<br />
<strong>de</strong> cem raças diversas, não diluiria a pertinácia victoriosa do velho e sempre<br />
moço sangue latino.<br />
Detenhamo-nos, nestas alturas, um instante.<br />
O reducto ultimo dos serracenos cahira. Reorganiza-se a Hespanha. E os<br />
13 estados christãos, que formavam a Ibéria resurgem unificados, sob os<br />
auspícios da Cruz protectora. A’ doce sombra dos princípios que o justo<br />
apostolara e que o tremento sacrílego erro do Sinhedrio não conseguiu matar,<br />
se concertam, entre príncipes, no formidável parodoxo histórico da eternida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> um minuto, o resurgir e o reconstruir-se da fragmentadíssima potencia. Foi<br />
um cadinho <strong>de</strong> povos e raças, tradições e costumes. Fervera, na fornalha, 1200<br />
annos. Mas a tudo <strong>de</strong>purou. Tal ambiente on<strong>de</strong> Colombo foi encontrar o fervor<br />
<strong>de</strong> Isabel e complacência <strong>de</strong> Fernando para o arrojo messiânico <strong>de</strong> sua santa<br />
empreitada, jogava ao turbilhão do Mar Tenebroso, em busca da Atlântica<br />
mysteriosa, <strong>de</strong> que o semi-divino Platão falara no Timeu e nas Criticas, a<br />
irradiação heróica <strong>de</strong> uma perseverança genial. E,<br />
Molhado ainda no dilúvio<br />
Qual Tritão <strong>de</strong>scomunal<br />
O continente <strong>de</strong>sperta<br />
No concerto universal<br />
abrindo ensachas ao rejuvenecimento da espécie e creando possibilida<strong>de</strong>s<br />
novas a anciosamente <strong>de</strong>sejada, confratternização dos homens.<br />
Deixo <strong>de</strong> parte, porém a narrativa da <strong>de</strong>scoberta com as peripercias e o<br />
trágico epílogo do Pre<strong>de</strong>stinado. Baste que lhe rendamos, todos nós, <strong>de</strong>ste<br />
recanto do mundo, os preitos e homenagens que a ingratidão da terra já lhes<br />
nega. Ainda não <strong>de</strong>sencantou, na volúpia sensualissima da <strong>de</strong>struição dos<br />
valores humanos á <strong>de</strong>sabusada iconoclastia dos rebel<strong>de</strong>s. Por persistirmos<br />
filiados á religião social que presta culto ás personalida<strong>de</strong>s máximas do orbe,<br />
não nos fica mal que nos <strong>de</strong>sfolhemos reconhecidos, á imperecível memória do<br />
almirante italiano as rosas <strong>de</strong> nossa admiração. Comporta o dia, tão grato para<br />
nós, esta commovida reverência àquelle que soube ser forte e a cujo valor o<br />
Occi<strong>de</strong>nte se prosta, contricto, entoando-lhe hosannas pela silenciosas voz dos<br />
milênios, que se hão <strong>de</strong> <strong>de</strong>scorrer antes <strong>de</strong> que pereça a sua fama <strong>de</strong> superhomem.
Ergamos até a elle os corações – sursum-corda – e prossigamos.<br />
UMA EVOCAÇÃO<br />
133<br />
Filhos <strong>de</strong> minha terra natal, que experimentais, commigo o enlevo <strong>de</strong>sta<br />
raríssima opportunida<strong>de</strong>, a cujos influxos sentimos dilatar-se-nos a alma; meus<br />
irmãos em i<strong>de</strong>al; dilectos companheiros na viagem das illusões, que nos<br />
renascem, mais promissoras e auspiciosas, das cinzas da própria <strong>de</strong>cepção;<br />
campinenses! Estão comnosco, em espírito, no infinito <strong>de</strong>ste momento, todos<br />
aquelles varões que formaram nosso caracter e infundiram, benemeritamente,<br />
em nossa vonta<strong>de</strong>, quando adolescentes ainda éramos, o amor ao<br />
esclarecimento <strong>de</strong> nossas então juvenis inteligências.<br />
Eu sinto, eu vejo, ou sonho, <strong>de</strong>slisarem por entre nós as sombras queridas<br />
dos nossos queridos mortos... É João da Silva Pimentel, é Alfredo Espinola, é<br />
Beto Vianna, é Lindolpho Montenegro, é José Martins, é José Ribeiro, é<br />
Christiano Lauritzen – Pafinuros do que nos trazem<br />
dos mysterios <strong>de</strong> além-tumulo, guiados talvez pelo precursor do optimismo<br />
local (Irineu Joffily, senior) a communhão <strong>de</strong> sua presença subjectiva neste<br />
quase ruidoso comício <strong>de</strong> todas nossas classes. Parece que estou a ouvir-lhes<br />
a palavra inflammada. E vem <strong>de</strong> longe essa voz; vem, grave e solenne, como<br />
versículos <strong>de</strong> um novo sermão da montanha, daquelle entusiasmo com que<br />
elles, intemeratos e abnegados, abriram por entre urzes e cardos vencendo o<br />
indifferentismo popular e os preconceitos do meio, a estrada recta que ora<br />
palmilham, <strong>de</strong> triumpho em triumpho, os que formam a radiosa mocida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste<br />
bem amado rincão da Parahyba .<br />
Conjuremo-nos, meus amigos, para queimar-lhes, no altar <strong>de</strong> nossa<br />
commoção, o incenso e a myrrha do nosso reconhecimento. E que possa esta<br />
casa, hoje inaugurar-se prestar a infância regional idênticos serviços aos que a<br />
elles fundaram nos prestou.<br />
Evoco-lhes a lembrança para proclamal-os, comvosco, clavicularios <strong>de</strong> um<br />
templo que já não abriga fieis; mas cujos benéficos resultados se objectivam na<br />
cultura polymatica <strong>de</strong> Hortencio Ribeiro, no honesto phenomenismo <strong>de</strong><br />
Li<strong>de</strong>fonso Ayres, na sonora e encantadora poesia <strong>de</strong> Severino Pimentel, no<br />
envolver seguro <strong>de</strong> Virgiliu Ribeiro, no aprumo intellectual <strong>de</strong> Joaquim<br />
Me<strong>de</strong>iros, no humorismo sadiamente bairrista <strong>de</strong> Christino Montenegro e no<br />
aproveitamento <strong>de</strong> tantos outros, a cujo numero <strong>de</strong>sgraçadamente não<br />
pertenço e que brilham entre nós e a estranhos recommendam, egualmente, o<br />
nome Campina como o núcleo mais illustre no hinterland parahybano.<br />
Daquelles, que se foram, sempre <strong>de</strong>vemos venerar os feitos, que nos<br />
inspiram sauda<strong>de</strong>, edificando-nos a consciência. E <strong>de</strong>ntre os vivos,<br />
encannecidos e justo – Salles Chauteaubriand e Belmiro Rebeiro Lemos, neste<br />
ajuste <strong>de</strong> conpreterito o opostolo três méritos – professor <strong>de</strong> nosso professor e<br />
professor <strong>de</strong> nosos filhos <strong>de</strong>stingamos a Clementino Procópio, tão gran<strong>de</strong> em<br />
sua aureolada humilda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mestre-escola que nem lhe falta á fronte<br />
veneranda o martyrio.<br />
Numa festa <strong>de</strong> instrucção, como esta, fora ignominia olvidarmos seu labor<br />
meritório <strong>de</strong> meio século <strong>de</strong> magistério. Sua missão, entre nós, refulge e<br />
fulgura. Ninguém maior do que elle em nosso scenario. Nós somos a<br />
borburema; Clemetino é a Cordilheira dos An<strong>de</strong>s avançando para os céus;<br />
Campina, permettido o tropo singelo, é a Parahyba do Norte, que serpeia
134<br />
calmo, na mansuetu<strong>de</strong> nostalgia da correnteza periódica, por entre arbustos e<br />
rara arvores; o velho Procópio, que há mais <strong>de</strong> cincoenta annos<br />
<strong>de</strong>sanalphabetiza o nosso, polindo caracteres, e illuminando talentos, e pondo<br />
no carvão da ignorância as constellaçoes claríssimas do saber, é o Amazonas<br />
Glorioso que traz no dorso multifário a carga do futuro, límpida e crystalina<br />
como as alvoradas dos trópicos.<br />
Deus o abençoe nesta evangelização; e jamais nos poupe a coragem <strong>de</strong><br />
reconhecermos-lhe, em qualquer emergência, os méritos <strong>de</strong> cidadão insigne e<br />
insigne mestre.<br />
ESCOLA<br />
Templo se tem chamado a Escola e ella o é, realmente, pelo bem que<br />
presta a socieda<strong>de</strong>. Officina, a escola educa e instrúe. Educar é fazer que o<br />
caracter se purifique, libertando-o <strong>de</strong> falhas removíveis, ou então lhe<br />
evi<strong>de</strong>nciando as virtu<strong>de</strong>s innatas em <strong>de</strong>trimento das taras que porventura a<br />
afetam; instruir é adaptar a intelligencia a comprehensão <strong>de</strong> todos os<br />
fenômenos. Ali, por certo a ethica do coração; aqui, na verda<strong>de</strong>, a esthetica do<br />
espírito.<br />
São duas as faces do problema. Num <strong>grupo</strong> <strong>escolar</strong>, sua finalida<strong>de</strong> se<br />
amplia.<br />
O convívio <strong>de</strong> professores eleva a conclave, para o sacerdócio em comum,<br />
a obrigação <strong>de</strong> todos. O templo, em vez <strong>de</strong> capela humil<strong>de</strong>, é já vasta cathedral<br />
em cujas naves rumoteja o ciclar das preces.<br />
Preces <strong>de</strong> civismo disciplinado moralmente, ante a imagem da pátria e que<br />
se murmuram pelos que serão os homens do amanhã.<br />
Eis o <strong>de</strong>ver dos mestres que aqui vem exequir a teologia das respectivas<br />
fucções. O dos alumnos se emoldura na obediência e applicação. As duas<br />
feições do instituto lhe emprestam logicamente, valor <strong>de</strong> seminário, no sentido<br />
clássico do termo. Plantar-se-á, pois, neste campo. Que se adube o terreno, a<br />
fim <strong>de</strong> que a semente não se perca no areial da indiferença.<br />
A divisão do trabalho se impõe. São, porém, consi<strong>de</strong>rações geraes em que<br />
não recalcitro. Confiamos nós na competência dos cultivadores da seara: e<br />
seremos os fiscaes <strong>de</strong> sua tarefa, coadjuvando-os posto que <strong>de</strong> longe, com os<br />
nossos applausos ou os alertando com as nossas respeitosas observações.<br />
É um propósito em que nos firmamos sem partipris e visando apenas<br />
contribuir para que a cathedral não se amesquinhe em mesquita, nem a seara<br />
em caapoeira... Cônscios estamos, aliás, <strong>de</strong> que a vigilância , com os<br />
operadores que vão actuar aqui se faz <strong>de</strong>snecessária; mas ainda assim,<br />
ficamos alerta por não <strong>de</strong>smerecermos o beneficio. E a quem vislumbrasse<br />
intuitos outros em nossas expressões, opporiamos os embargos da rançosa<br />
sentença que é, mesmo assim, um aviso pru<strong>de</strong>nte e uma exhortação amável:<br />
honni soit mal y pense...<br />
UM APPELO<br />
Vejo fardadas, lá fora, na clarida<strong>de</strong> crua da tar<strong>de</strong>, num tom <strong>de</strong> alviçaras e<br />
alleluias, emprestando fulgor a esta reunião, centenas <strong>de</strong> creanças.<br />
Meu coração <strong>de</strong> patriota, neste dia, está a pulsar, festivo, <strong>de</strong> mil<br />
resonancias sagradas. E não e das menos harmoniosas a que me sem <strong>de</strong>ste
135<br />
espectáculo. Recordo, porém, com tristeza infinita, a gravida<strong>de</strong> da hora que o<br />
Brasil vive... A anarchia, na significação pejorativa da palavra, trabalha o animo<br />
na fonal, cavando-nos profundas incertezas. Anarchia espiritual, anarchia<br />
política, anarchia filosophica, anarchia religiosa, anarchia nas idéias e nas<br />
obras, anarchia em tudo!!<br />
Faço-vos um appelo, a todos vós, rapazes e meninos: um appelo ar<strong>de</strong>roso<br />
no sentido <strong>de</strong> que vos immunizeis contra o veneno da hydra.<br />
Esta tar<strong>de</strong>, que usaes, <strong>de</strong>ve ser a indumentária do civismo. Ella nos lembra<br />
o patriotismo dos nossos maiores, dos heroes que fizeram livre a nação e<br />
victoriosa a <strong>de</strong>mocracia. O principio <strong>de</strong> obediência legal é que lhes <strong>de</strong>u,<br />
respeitado integralmente, coragem para a lucta e para o triumpho. Vencemos<br />
sempre, porque sempre obe<strong>de</strong>cemos. Vem dahi, <strong>de</strong>sse postulado, as victorias<br />
do paiz, na paz e na guerra. Não tem outra origem nossas marchas veriaticas,<br />
nem os nossos hymnos anacleticos.<br />
Fazei na obediencia, consequentemente; da obediência <strong>de</strong>ntro dos<br />
preceitos constitucionais, a vossos superiores hierarchicos, o lemma <strong>de</strong> vossa<br />
vida, Quem obe<strong>de</strong>ce, assim, sabe ser digno. E será obe<strong>de</strong>cido.<br />
A obediência faz a harmonia. A tudo presi<strong>de</strong>m leis que se obe<strong>de</strong>cem. Olhae<br />
o universo. O sol, centro do nosso systema planetário, enca<strong>de</strong>l-se ao concreto<br />
cósmico sem um só gesto <strong>de</strong> rebellião. Contra elle, a seu torno, nunca se<br />
revoltaram os astros, que o acompanham em sua trajetória. Há imensos soes<br />
na amplidão dos espaços. E todos elles gyram obedientes aquella força que<br />
lhes presi<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>stinos. Obediência é amor.<br />
E o amor é que move as estrellas harmonicamente; e pôe o gorgeio das<br />
aves na doçura dos ninhos.<br />
Somente quem não ama é <strong>de</strong>sobediente. Apren<strong>de</strong>i a obe<strong>de</strong>cer,<br />
principalmente no lar e na escola, aos genitores e aos mestres.<br />
Todo crime, todo <strong>de</strong>lito, toda infracção, é uma <strong>de</strong>sobediência. Quem<br />
<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce ao professor, quem <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce aos paes, quem <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce as<br />
auctorida<strong>de</strong>s dá a primeira passada para o abysmo. A anarchia é uma<br />
<strong>de</strong>sobediência generalizada: evital-a!<br />
Para cumprir sua missão, o Brasil precisa <strong>de</strong> que lhe obe<strong>de</strong>ça, hoje mais do<br />
que nunca, os mandamentos cívicos <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> nacional. E na escola que se<br />
principia a fazel-o.<br />
Não se vive sem amor. E não há amor sem obediência. Obe<strong>de</strong>cei para<br />
felicida<strong>de</strong> vossa, e <strong>de</strong> vossa pátria.<br />
CONCLUSÃO<br />
Exmas senhoras minhas e meus senhores: proferi commigo afinal esta<br />
prece do evangelho <strong>de</strong> nossa crença <strong>de</strong>mocrática: Brasil, fonte <strong>de</strong> nossa<br />
affeição filial; pedaço do teu território, vivendo <strong>de</strong> tua civilização, Campina<br />
Gran<strong>de</strong> protesta, quem tentará fazer <strong>de</strong>sta sua nova casa <strong>de</strong> educação e<br />
instrucção um viveiro <strong>de</strong> homens dignos, que amando a Parahyba com todas<br />
as veras <strong>de</strong> seus gestos affectivos contribuam para o teu engran<strong>de</strong>cimento<br />
moral. E jura, cultuando, os sentimentos superiores, <strong>de</strong>ste a evolução da raça,<br />
que indo envidará, seguindo a lição do mestre, para fazer a bonda<strong>de</strong> uma<br />
antecipação voluntária e consciente <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> justiça perfeita em que o<br />
sacrifício e a luta tendam a ser substituídos pela cooperação solidária e<br />
fraternal.<br />
Era, apenas, o que vos tinha a dizer.
Anexo 3 - JORNAL O SÉCULO<br />
Campina Gran<strong>de</strong>, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1928, anno I, num.12, pag. 04,<br />
1ºquadrante.<br />
12 DE OUTUBRO<br />
O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena commemora a data com brilhantes<br />
festas<br />
136<br />
A data do <strong>de</strong>scobrimento da America, teve entre nos uma brilhantíssima<br />
commemoração, por parte do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena e <strong>de</strong>mais<br />
escolas e collegios <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />
Sendo essa data do anniversario da inauguração do mo<strong>de</strong>lar<br />
estabelecimento com que o saudoso Presitente Solon <strong>de</strong> Lucena dotou a nossa<br />
terra, o seu illustre director Prof. Mario Gomes, organisou um programma<br />
commemorativo para que aquelle dia não passasse <strong>de</strong>spercebido.<br />
Logo pela manhã, a Associação <strong>de</strong> Escotiros do Grupo, prestou<br />
continência à ban<strong>de</strong>ira, que foi hasteada na fachada do estabelecimento,<br />
seguindo-se uma passeata militar, em que tomaram parte o Instituto<br />
Pedagogico, Gynnasio Campinense e diversos outras escolas publicas e<br />
particulares da cida<strong>de</strong>.<br />
As 13 horas, houve logar no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena uma<br />
sessão cívica presidida pelo prof. Mario Gomes que pronunciou uma<br />
conferencia allusiva à data, relembrando o feito <strong>de</strong> Colombo, a obra<br />
maravilhosa <strong>de</strong> Solon <strong>de</strong> Lucena e fazendo ver que naquelle dia tambem se<br />
commemorava o Dia da creança.<br />
Às 18 horas, em palco armado no recreio da secção feminina do Grupo,<br />
alumnos do estabelecimento levaram à scena um entretenimento theatral que<br />
agradou plenamente a uma numerosa assistência presente.<br />
Lamentamos esse momento, o modo in<strong>de</strong>licado por que diversos moços<br />
<strong>de</strong> nossa melhor socieda<strong>de</strong> estavam se portando, a ponto <strong>de</strong> ser preciso a<br />
intervenção da pôlicia.<br />
O prof. Mario Gomes, abnegado director do Grupo Solon <strong>de</strong> Lucena, a<br />
quem Campina já <strong>de</strong>ve a <strong>de</strong>snalphabetisação <strong>de</strong> uma das mais vivas e lúcidas<br />
gerações, obra <strong>de</strong> alcance moral e social que só os <strong>de</strong>speitados não po<strong>de</strong>m<br />
enxergar, está <strong>de</strong> parabens pela festa <strong>de</strong> educação cívica propocionada aos<br />
seus alumnos e ao povo em geral, no dia em que se vio passar mais um<br />
anniversario <strong>de</strong> fundação da escola, à frente <strong>de</strong> cujos <strong>de</strong>stinos tem dado<br />
melhor <strong>de</strong> suas energias.<br />
Campina Gran<strong>de</strong>, sabbado, 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1928, anno I, num.18,<br />
pag. 04, 2ºquadrante.<br />
No <strong>grupo</strong> <br />
Festival <strong>de</strong> Arte
137<br />
Commemorou o dia da ban<strong>de</strong>ira e encerramento do anno letivo, será no dia 19<br />
levado a affeito no cine-theatro Apollo, encantadora festa da Arte. A mesma,<br />
que terá um variadíssimo programma será em beneficio do Hospital Pedro I.<br />
Campina Gran<strong>de</strong>, sabbado, 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1928, anno I, num.21,<br />
pag. 04, 1ºquadrante<br />
A festa do <strong>grupo</strong> Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
O professor Mario Gomes encerrou o anno <strong>de</strong> trabalhos no Grupo Escolar<br />
Solon <strong>de</strong> Lucena realisando no dia da ban<strong>de</strong>ira, uma encantadora festa em<br />
beneficio do Hospital Pedro I, no palco do Gremio Renascença.<br />
Nesse brilhante entretenimento Theatral tomaram parte diversos alumnos e<br />
alumnas daquelle estabelecimento <strong>de</strong> ensino, dando um engraçado<br />
<strong>de</strong>sempenho às canções e pequenas peças levadas à scena pelos jovens<br />
educandos.<br />
> teve uma casa à cunha a qual applaudiu vibrantemente a petizada<br />
do Grupo Escolar.
Anexo 4 - JORNAL VOZ DA BORBOREMA<br />
Campina Gran<strong>de</strong>, quarta-feira, 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1937. anno I, num. 26,<br />
pág. 06, 1° quadrante.<br />
DIA DA AMERICA E DA CREANÇA<br />
As festas cívicas no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena e a conferencia do<br />
Dr. Henio <strong>de</strong> Azevedo<br />
138<br />
Decorreu hontem a data da <strong>de</strong>scoberta da América.<br />
Nesse dia em que se rêmora um dos feitos mais notáveis da humanida<strong>de</strong><br />
avulta num pe<strong>de</strong>stral <strong>de</strong> glorias imarcessiveis a figura imponente do gran<strong>de</strong><br />
navegador e i<strong>de</strong>alista genovez Chistovão Colombo, que passou à posterida<strong>de</strong><br />
com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> pae do Novo Mundo.<br />
Data consagrada à historia política da Américas, no Brasil o 12 <strong>de</strong> outubro<br />
passou a ser tambem o dia da creança.<br />
Feriado nacional, pó dia <strong>de</strong> hotem foi em todo o território nacional<br />
commemorado com todo carinho.<br />
As festas no Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena<br />
O Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena, à frente illustre director e todo corpo<br />
docente e dicente, commemorou com brilhantismo a data, realisando uma<br />
sessão cívica, durante a qual foram cantados pelos orpheão do Grupo Hymnos<br />
Patrióticos e <strong>escolar</strong>es.<br />
O illutre pediatra campinense Dr. Henio Azevedo, expressamente convidado<br />
realisou um interessante (assim escrito no jornal – suponho que seja<br />
interessante) palestra sobre a creança na escola, disertando com segurança e<br />
conhecimentos technicos sobre questões <strong>de</strong> hygiene e psychologia infantil, a<br />
qual agradou plenamente a toda a assistência presente.<br />
A sessão cívica, foi presidida pelo Cônego Costa e secretariado pela prof.<br />
Arbetina Ramos Amorim, sentando-se à mesa o prof. Loureiro, Sr. Olegario<br />
Azevedo e Drs. José Reys, Luiz Gomes Peixe e Henio Azevedo.<br />
Encerrando as festivida<strong>de</strong>s o cônego Costa fez um calorosa dissertação sobre<br />
a data, fazendo menção especial ao papel da creança como cellula mater da<br />
humanida<strong>de</strong>, evocando a palavra do Cristo, quando elle pedia que <strong>de</strong>ixassem<br />
chegar a si as creançinhas.<br />
Após a sessão, a bella e valiosa exposição <strong>de</strong> trabalhos do <strong>grupo</strong> foi<br />
franqueada à visitação publica, a qual teve uma concorencia digna <strong>de</strong> nota.<br />
Felicitamos o prof. S. Loureiro e a professora do G.E. Solon <strong>de</strong> Lucena pelo o<br />
interesse que a festa cívica <strong>de</strong> hontem logrou conquistar no espírito do nosso<br />
povo.<br />
Campina Gran<strong>de</strong>, sabbado, 16 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1937. anno I, num. 27,<br />
pág. 01, 2° quadrante.
Exposição <strong>de</strong> trabalhos, <strong>de</strong>senhos e <strong>de</strong>cupagens no Grupo “Solon <strong>de</strong><br />
Lucena”<br />
139<br />
Estiveram em franca exposição <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros dias <strong>de</strong>sta semana, os<br />
trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, agulha e <strong>de</strong>cupagem confeccionados pelos alumnos do<br />
Grupo Solon <strong>de</strong> Lucena <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />
Tendo o ensejo <strong>de</strong> visitar aquelle educandario presenciamos, ali, em todos as<br />
divisões <strong>de</strong> classe, as interessantes obras <strong>de</strong> arte tão bem manipuladas pelos<br />
nossos estudantes primários.<br />
Gentilmente acompanhados da professora Ambrosina Mello, uma das mais<br />
<strong>de</strong>dicadas educadoras daquelle estabelecimento <strong>de</strong> ensino, visitamos a<br />
exposição dos trabalhos em <strong>de</strong>zenho e agulha do 1° anno A, que obe<strong>de</strong>ce à<br />
direcção das competentes professoras.Liliosa Barros, Ambrosina Mello, Anna<br />
Leiros e Eulina Malheiros.<br />
Franca admiração merecem os preciaveis trabalhos dos alumnos do 1° anno B,<br />
dirigidos pelos professoras Albertina Ramos Amorim e Herothi<strong>de</strong>s Oliveira.<br />
Os trabalhos do 2° anno, classe que tem à sua frente as illustres educadoras<br />
Cycilia <strong>de</strong> Oliveira, Silvia Henriques, Aline Moura e Nair Carvalho, Attestam, <strong>de</strong><br />
maneira realmente animadora, o <strong>de</strong>senvolvimento dos alumnos <strong>de</strong>sse grau e<br />
capacida<strong>de</strong> educacional <strong>de</strong> que é portador daquelle corpo docente.<br />
Deixou-nos, sobremodo enthusiasmados, a magnífica exposição dos trabalhos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>cupagem, <strong>de</strong>senho, pintura e agulha esforçadas preceptoras Cizena<br />
Galvão, espírito activo e illustrado, e, igualmente, do 3° anno, que é orientado<br />
pela intelligente professora Octilia Sampaio, duas educadoras que honram,<br />
pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho, o magistério publico parahybano.<br />
O 5° anno, que é lecionado pela illustre docente Apolônia Amorim, exemplo <strong>de</strong><br />
esforço e <strong>de</strong>dicação pelo ensino e pela instrucção entre nós, tal classenos<br />
chamou, curiosamente, a attenção em face da efficiencia dos trabalhos<br />
manuaes que ali se vêm bem alinhados e or<strong>de</strong>nados executados pelo seu<br />
corpo dicente.<br />
De formas que, po<strong>de</strong>mos dizer com regosijo, a exposição <strong>de</strong> trabalhos dos<br />
alumnos do Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena já é uma resultante expressiva do<br />
esforço e <strong>de</strong>senvolvimento sensível dos que ali estudam, bebendo, na ânfora<br />
sublime da instrução, os ensinamentos que lhes transmitem, com tanto carinho<br />
e abnegação, essas benfazejas creaturas que são as mestras, as educadoras<br />
da nossa juventu<strong>de</strong>.<br />
Campina Gran<strong>de</strong>, quarta-feira, 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1937. Anno I, num. 32,<br />
pág. 06, 3° quadrante.<br />
Inaugura-se, No Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena, <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, o Cinema<br />
Educativo.<br />
Realisou-se no dia 1 do corrente, a inauguração do Cinema Educativo,<br />
emprehendimento e iniciativa <strong>de</strong> alta importância pedagógica, que vem<br />
merecendo, da illustre educadora campinense Apolonia Amorim, a mais<br />
carinhosa attenção.
140<br />
A professora Apolonia Amorim, que, ha meses passados, fora ao Rio <strong>de</strong> janeiro<br />
afim <strong>de</strong> se por em contacto com os centros educacionaes mais a<strong>de</strong>antados do<br />
Sul do paiz e estudar os meios <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s para o conhecimento e<br />
adaptação do systema <strong>de</strong> Cinema Educativo empregado nas escolas públicas,<br />
essa abnegada preceptora vem <strong>de</strong> positivar, agora, em nosso meio, após,<br />
acurados estudos, a realisação <strong>de</strong>ssa palpitante objectivo, installando, no<br />
Grupo Escolar Solon <strong>de</strong> Lucena <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, um bem feito aparelho <strong>de</strong><br />
Cinema Educativo.<br />
Tendo se exhibido innumeras enscenaçoes e perspectivas <strong>de</strong> caracter histórico<br />
e educacional, a professora Apolonia Amorim <strong>de</strong>monstrou, francamente, a<br />
efficiencia <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>rno methodo pedagógico, que será entroduzido nos<br />
estabelecimentos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />
O acto inaugural, que teve logar naquelle educandario, às 18 horas, foi<br />
assistido por vários professores e intellectuaes campinenses, alumnos e<br />
<strong>de</strong>mais pessoas.