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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA<br />

CENTRO DE EDUCAÇÃO<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO<br />

MESTRADO EM EDUCAÇÃO<br />

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS<br />

ELMA NUNES DE MÉLO<br />

ALFABETIZAR: O SEGREDO É A INTELIGÊNCIA DA PRÁTICA<br />

JOÃO PESSOA – PB<br />

2006


ELMA NUNES MÉLO<br />

ALFABETIZAR: O SEGREDO É A INTELIGÊNCIA DA PRÁTICA<br />

Dissertação apresenta<strong>da</strong> ao Programa <strong>de</strong><br />

Pós-Graduação em Educação Popular<br />

(PPGE) <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong><br />

Paraíba (UFPB), Campus I, em<br />

cumprimento às exigências para a obtenção<br />

do Título <strong>de</strong> Mestre.<br />

Área <strong>de</strong> concentração: Educação <strong>de</strong> Jovens<br />

e Adultos<br />

Orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga<br />

Gonçalves<br />

JOÃO PESSOA – PB<br />

2006<br />

2


ELMA NUNES MÉLO<br />

ALFABETIZAR: O SEGREDO É A INTELIGÊNCIA DA PRÁTICA<br />

.<br />

APROVADA EM: ____/____/ 2006<br />

BANCA EXAMINADORA<br />

____________________________________________<br />

DR. LUIZ GONZAGA GONÇALVES (Orientador)<br />

(Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Paraíba/ <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Educação)<br />

____________________________________________<br />

DRª. TÂNIA MARIA DE MELO MOURA<br />

(Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas)<br />

____________________________________________<br />

DRª. MARIA DO SOCORRO XAVIER BATISTA<br />

(Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Paraíba/ <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Educação)<br />

____________________________________________<br />

DR. SEVERINO BEZERRA DA SILVA<br />

(Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Paraíba)<br />

3


DEDICATÓRIA<br />

Ao meu inesquecível pai, Edson Silva <strong>de</strong> Melo (In memoriam),<br />

à minha ama<strong>da</strong> mãe Zinaura Nunes Machado, à minha queri<strong>da</strong><br />

irmã Edlane Nunes <strong>de</strong> M<strong>é</strong>lo, à minha <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> tia Severina<br />

Batista Pereira, aos meus queridos e amados sobrinhos Danilo<br />

Batista Pereira, Laís Nunes <strong>de</strong> M<strong>é</strong>lo Gondim, Fernando Pereira<br />

Menezes Filho, que sempre sonharam com os meus sonhos e se<br />

realizaram com as minhas realizações.<br />

4


MUITO OBRIGADA<br />

AGRADECIMENTOS<br />

A Deus, pela luz contínua que me conduz à realização <strong>de</strong> inúmeras conquistas em<br />

minha vi<strong>da</strong>, em especial ao ingresso no Mestrado em Educação Popular na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Paraíba.<br />

À Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Paraíba, pela oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> do ingresso no Curso <strong>de</strong><br />

Mestrado, <strong>de</strong>sejado por muitos e conquistado por poucos.<br />

Ao Professor e Orientador Dr. Luiz Gonzaga Gonçalves, pela sua sereni<strong>da</strong><strong>de</strong> contínua,<br />

pela crença em mim <strong>de</strong>posita<strong>da</strong> e por to<strong>da</strong>s as id<strong>é</strong>ias semea<strong>da</strong>s, aju<strong>da</strong>ndo a conduzir<br />

gra<strong>da</strong>tivamente as minhas pesquisas.<br />

Aos Professores do Programa: Drª Emília Prestes, Drª Ednei<strong>de</strong> Jesine, Drª Socorro<br />

Xavier; Dr. Antonio Carlos, Dr. Iractan <strong>de</strong> Oliveira, Dr. Afonso Scocuglia, por ter ca<strong>da</strong> um,<br />

<strong>de</strong> sua forma contribuído no amadurecimento do meu pensar e, sobretudo, do meu fazer.<br />

Às professoras Drª Emília Maria <strong>de</strong> Trin<strong>da</strong><strong>de</strong> Prestes e à Drª Maria do Socorro Xavier<br />

Batista pelas contribuições e sugestões fun<strong>da</strong>mentais no processo <strong>da</strong> qualificação.<br />

Ao querido e eterno professor Osvaldo Matos pela sua atenciosa correção ortográfica.<br />

À Elizete, funcionária do PPGE, pela sua atenção carinhosa durante todo o curso.<br />

Às Secretárias do PPGE, em especial a Rose, Vitória, Graça e Mônica, por seus<br />

contínuos atendimentos às minhas procuras.<br />

À Secretaria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Itamb<strong>é</strong>, às coor<strong>de</strong>nadoras, supervisoras e <strong>de</strong> forma<br />

especial às diretoras e <strong>de</strong>mais funcionários <strong>da</strong>s escolas <strong>da</strong> EJA, pelo espaço aberto e<br />

<strong>de</strong>mocrático para a realização <strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

Aos colegas do curso, os quais tive a honra <strong>de</strong> conhecer nessa jorna<strong>da</strong>, pela partilha<br />

dos momentos <strong>de</strong> aflições e <strong>de</strong>scontrações, mas, sobretudo, do saber. E, <strong>de</strong> forma especial,<br />

aos colegas <strong>de</strong> turma <strong>da</strong> linha <strong>de</strong> pesquisa em EJA: Carmen, Ceiça, Neves, Regina, Olavo e<br />

Wmarley.<br />

A Carmen e a Ceiça, por to<strong>da</strong> a <strong>de</strong>dicação, incentivo e carinho a mim dispensados<br />

Às educadoras alfabetizadoras <strong>de</strong> Itamb<strong>é</strong>, interlocutoras <strong>de</strong> minha pesquisa, pela<br />

absoluta colaboração ao exporem suas concepções e <strong>prática</strong>s educativas na EJA.<br />

Aos educandos alfabetizandos pela extrema colaboração e confiança em mim<br />

<strong>de</strong>posita<strong>da</strong> durante a pesquisa.<br />

5


À minha amiga <strong>de</strong> infância Roberta Cristina Alexandre C<strong>é</strong>zar, pela incansável<br />

cooperação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento inicial <strong>da</strong> formulação do projeto <strong>de</strong> pesquisa, at<strong>é</strong> o momento<br />

final do Mestrado.<br />

Ao meu amado filho-sobrinho Danilo, por sua efetiva colaboração nas impressões<br />

<strong>de</strong>ste trabalho <strong>de</strong> pesquisa.<br />

A Damiana, companheira <strong>de</strong> minha família, pela sua contínua colaboração na<br />

formação <strong>de</strong> um ambiente tranqüilo para minhas investigações.<br />

A Val<strong>é</strong>ria, colaboradora nas horas imprevisíveis.<br />

À minha queri<strong>da</strong> Mãe, serena, quieta e exigente, pela sua profun<strong>da</strong> cooperação na<br />

construção <strong>de</strong> um ambiente que favorecesse as realizações <strong>da</strong>s minhas pesquisas durante todo<br />

o curso.<br />

Ao meu querido Pai (In memoriam) que mesmo nesses curtos 13 anos <strong>de</strong> sua ausência<br />

física, me estimulou por meio <strong>de</strong> seus inesquecíveis exemplos <strong>de</strong> luta e perseverança que em<br />

mim se encarnaram.<br />

A to<strong>da</strong>s e todos, que <strong>de</strong> forma direta e indireta, contribuíram para a realização <strong>de</strong>ste<br />

trabalho.<br />

6


RESUMO:<br />

Esta pesquisa está volta<strong>da</strong> para estu<strong>da</strong>r os recursos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> mobilizados na <strong>prática</strong><br />

educativa <strong>da</strong> alfabetização na EJA em Itamb<strong>é</strong> – PE, envolvendo a relação educador/a e<br />

educando/a. Preten<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar com este trabalho compreensões manifestas e limites<br />

presentes nas <strong>prática</strong>s educativas <strong>da</strong>s educadoras alfabetizadoras, e, sobretudo, analisar as<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> um ensino que valorize o contexto do educando e seu saber que se apresenta<br />

no espaço escolar. Para realizar tal propósito trouxemos alguns autores como Paulo Freire,<br />

Victor Fonseca, Edgar Morin, Mág<strong>da</strong> Soares, entre outros. Estes autores abriram novas<br />

perspectivas quanto à conquista <strong>de</strong> outros conceitos referentes aos saberes populares e sua<br />

utilização no processo <strong>da</strong> aprendizagem <strong>da</strong> linguagem e <strong>da</strong> leitura <strong>de</strong> mundo, no universo <strong>da</strong><br />

Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos. Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa qualitativa, com o uso do grupo<br />

focal. Constata-se por meio dos <strong>de</strong>poimentos <strong>da</strong>s educadoras <strong>da</strong> EJA, que elas valorizam a<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos educandos na sua <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica e dizem valorizar seus saberes<br />

pr<strong>é</strong>vios. Numa situação contraditória, suas aulas estão concentra<strong>da</strong>s na exposição <strong>de</strong><br />

conteúdos <strong>de</strong> saberes escolares. Constata-se ain<strong>da</strong> que os educandos almejam realizar suas<br />

expectativas com a alfabetização, no entanto há muito o que fazer para aten<strong>de</strong>r as suas<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s nos processos educativos. Tais entendimentos revelam a importância do<br />

fortalecimento <strong>de</strong> apoio pe<strong>da</strong>gógico, <strong>de</strong> uma maior compreensão do educador sobre a<br />

extensão <strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong> alfabetização e sobre a <strong>prática</strong> <strong>da</strong>s trocas <strong>de</strong> saberes entre o<br />

educando e o educador, com a valorização dos recursos inteligentes dos(as) educadores(as) e<br />

educandos.<br />

PALAVRAS-CHAVE: INTELIGÊNCIA DA PRÁTICA. ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS<br />

E ADULTOS. PRÁTICA EDUCATIVA. SABERES PRÉVIOS.<br />

7


RESUMEN<br />

Esta investigación tiene por objeto <strong>de</strong> estudio los recursos <strong>de</strong> la inteligencia movilizados em<br />

la práctica educativa <strong>de</strong> la alfabetización en la Educación <strong>de</strong> Jóvenes y Adultos (EJA) en<br />

Itamb<strong>é</strong> – PE, envolviendo la relación educador/a y educando/a. Se pretien<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar con<br />

este trabajo comprensiones manifiestas y límites presentes en las prácticas educativas <strong>de</strong> las<br />

educadoras alfabetizadoras, y, sobre todo, analizar las posibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> una ensenãnza que<br />

valore el contexto <strong>de</strong>l educando y su saber que se presenta en el espacio escolar. Para realizar<br />

dicho propósito trajimos algunos autores como Paulo Freire, Victor Fonseca, Edgar Morin,<br />

Mág<strong>da</strong> Soares, entre otros. Estos autores abrieron nuevas perspectivas en cuanto a la<br />

conquista <strong>de</strong> otros conceptos referentes a los saberes populares y su utilización en el proceso<br />

<strong>de</strong>l aprendizaje <strong>de</strong>l linguaje y <strong>de</strong> la lectura <strong>de</strong> mundo, en el universo <strong>de</strong> la Educación <strong>de</strong><br />

Jóvenes y Adultos. Se trata <strong>de</strong> una investigación calitativa, con el uso <strong>de</strong>l grupo focal. Se<br />

constata por medio <strong>de</strong> los <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> las educadoras <strong>de</strong> la EJA, que ellas valoran la<br />

reali<strong>da</strong>d <strong>de</strong> la vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> los educandos en su práctica pe<strong>da</strong>gógica y dicen valorar sus saberes<br />

previos. En una situación contradictoria, sus aulas están concentra<strong>da</strong>s en la exposición <strong>de</strong><br />

contenidos <strong>de</strong> saberes escolares. Se constata aún que os educandos anhelan realizar sus<br />

expectativas con la alfabetización, sin embargo hay mucho el que hacer para aten<strong>de</strong>r las<br />

dichas necesi<strong>da</strong><strong>de</strong>s en los procesos educativos. Tales entendimientos revelan la importancia<br />

<strong>de</strong>l fortalecimiento <strong>de</strong> apoyo pe<strong>da</strong>gógico, <strong>de</strong> una mayor comprensión <strong>de</strong>l educador sobre la<br />

extensión <strong>de</strong> conceptos <strong>de</strong> alfabetización y sobre la práctica <strong>de</strong> los cambios <strong>de</strong> saberes entre el<br />

educando y el educador, con la valoración <strong>de</strong> los recursos inteligentes <strong>de</strong> los/as educadores/as<br />

y educandos .<br />

PALABRAS LLAVE: INTELIGENCIA DE PRÁCTICA. ALFABETIZACIÓN DE<br />

JÓVENES Y ADULTOS. PRÁCTICA EDUCATIVA. SABERES PREVIOS.<br />

8


SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 11<br />

1.1 ORIGEM DO PROBLEMA ........................................................................................ 13<br />

1.2 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA ..................................................... 15<br />

1.3 CAMINHOS DA PESQUISA ..................................................................................... 17<br />

1.4 LOCAL DA PESQUISA .............................................................................................. 19<br />

1.5 PARTICIPANTES ...................................................................................................... 20<br />

1.6 PERFIL DAS EDUCADORAS .................................................................................. 21<br />

1.7 PERFIL DOS EDUCANDOS ..................................................................................... 23<br />

1.8 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................ 23<br />

2 ASPECTOS DA INTELIGÊNCIA HUMANA NA PRÁTICA<br />

EDUCATIVA DA ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS........25<br />

2.1 A INTELIGÊNCIA DA PRÁTICA ALFABETIZADORA NA MODALIDADE DA<br />

EJA........................................................................................................................................25<br />

2.2 ASPECTOS DA INTELIGÊNCIA HUMANA NA PRÁTICA EDUCATIVA:<br />

ABERTURAA, INTUIÇÃO, CRIATIVIDADE E CURIOSIDADE ................................ 29<br />

2.3 O SEGREDO DE UMA PRÁTICA EDUCATIVA INTELIGENTE .......................... 38<br />

2.4 REFLEXÕES ACERCA DE SABERES E FAZERES NO ENSINO DA<br />

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS... ............................................................ 40<br />

3 O EDUCANDO JOVEM E ADULTO CONSIDERADO A PARTIR DE<br />

SUA EXPERIÊNCIA DE MUNDO ............................................................ 44<br />

3.1 SABERES PRÉVIOS E LEITURA DE MUNDO ....................................................... 44<br />

3.2 O VALOR DA ORALIDADE NA INTELIGÊNCIA DA PRÁTICA EDUCATIVA ..49<br />

3.3 DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS NA ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS<br />

............................................................................................................................................. 52<br />

3.4 REFLETINDO TÉCNICAS, ESTRATÉGIAS E HABILIDADES EDUCATIVAS<br />

............................................................................................................................................. 56<br />

3.5 LETRAMENTO: USO PRÁTICO DO CONHECIMENTO DE MUNDO ................. 60<br />

4 REFLEXÕES EM TORNO DOS DADOS PESQUISADOS ................ 63<br />

9


4.1 O SABER FAZER DO(A) EDUCADOR(A) E A REALIDADE DO EDUCANDO....63<br />

4.2 PERSISTÊNCIA DO EDUCANDO, UM MEIO PARA O ÊXITO ............................ 66<br />

4.3 A VISÃO DAS EDUCADORAS FRENTE ÀS EXPECTATIVAS DO EDUCANDO<br />

............................................................................................................................................ 67<br />

4.4 O LIVRO DIDÁTICO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ALFABETIZAÇÃO DE<br />

JOVENS E ADULTOS ...................................................................................................... 68<br />

4.5 O CURRÍCULO DIANTE DA PERCEPÇÃO DAS EDUCADORAS ....................... 71<br />

4.6 AS EDUCADORAS NO ESPAÇO ESCOLAR .......................................................... 73<br />

4.7 OS EDUCANDOS E SEUS DIZERES ........................................................................ 75<br />

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 85<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 90<br />

ANEXOS ........................................................................................................................... 94<br />

10


1 INTRODUÇÃO<br />

Nos últimos anos do s<strong>é</strong>culo XX e início do s<strong>é</strong>culo XXI, tem-se intensificado as<br />

discussões em busca <strong>de</strong> uma melhor <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica a ser trabalha<strong>da</strong> no ensino <strong>da</strong><br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. Exemplo disso <strong>é</strong> que essa abor<strong>da</strong>gem foi amplamente<br />

discuti<strong>da</strong> no encontro <strong>da</strong> V Conferência Internacional <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Adultos -V<br />

CONFITEA 1 . As temáticas discuti<strong>da</strong>s neste Encontro, são consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s veios abertos que<br />

precisam se somar às novas e contínuas experiências, com o propósito <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r no combate<br />

ao analfabetismo, a fim <strong>de</strong> obter resultados eficazes no aprendizado dos educandos <strong>de</strong>ssa<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. Isto se torna um <strong>de</strong>safio juntamente com as exigências do mundo<br />

contemporâneo em constante movimento que impõem ao educador e à educadora <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos o uso <strong>de</strong> suas múltiplas <strong>inteligência</strong>s, com o intuito <strong>de</strong> preparar o educando para essa<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que cobra conhecimentos que extrapolam o domínio <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita,<br />

exigindo algo mais completo, o conhecimento <strong>de</strong> mundo.<br />

Mas, para que o educando inserido na Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos (doravante EJA)<br />

possa inteligir a importância <strong>de</strong>sse conhecimento <strong>de</strong> mundo <strong>é</strong> preciso, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> outros fatores<br />

que, o(a) educador(a) enten<strong>da</strong> sua <strong>prática</strong> educativa, como ações inteligentes, capazes <strong>de</strong><br />

colaborar no processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>sse saber. Esta compreensão levará o(a) educador(a)<br />

<strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, a procurar meios que lhe permitam, atrav<strong>é</strong>s do fazer<br />

pe<strong>da</strong>gógico, obter resultados <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que significa <strong>de</strong>ntre outros aspectos, incluir <strong>de</strong><br />

forma mais intensa, o educando na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> na qual está inserido.<br />

Nesse sentido, as pessoas envolvi<strong>da</strong>s no processo educacional, especialmente os(as)<br />

educadores(as) alfabetizadores(as) <strong>de</strong> jovens e adultos, que se apresentam nesse s<strong>é</strong>culo XXI,<br />

precisam compreen<strong>de</strong>r a importância <strong>de</strong> se construir um novo olhar e, principalmente, um<br />

novo fazer educativo que possa aten<strong>de</strong>r aos interesses dos estu<strong>da</strong>ntes pertencentes a esse<br />

complexo universo <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. É necessário consi<strong>de</strong>rar que os<br />

educandos <strong>de</strong>ssa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino têm sua própria história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, cabendo assim ao<br />

1 A V CONFITEA – realiza<strong>da</strong> na Alemnha, em Hamburgo (1997), <strong>é</strong> retoma<strong>da</strong> no Livro: La Educacion <strong>de</strong><br />

Personas Jovens y Adultas en Am<strong>é</strong>rica Latina y el Caribe, <strong>da</strong> UNESCO-CEAAL-CRFAL-INEA, on<strong>de</strong> surgem<br />

(al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> outros aspectos) sete temáticas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a EJA (p.109). Na V CONFITEA, Tudo foi<br />

exposto, <strong>de</strong>batido e estruturado atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> uma rica construção <strong>de</strong> experiências que marcam a história <strong>da</strong><br />

educação popular e, sobretudo, a Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos, provocando novas percepções, abrindo novas<br />

perspectivas, construindo assim, um novo horizonte para a EJA no Brasil, na Am<strong>é</strong>rica Latina e no Caribe, bem<br />

como em outras regiões do mundo.<br />

11


educador ou à educadora, reconhecê-la em sua <strong>prática</strong> educacional, respeitando os<br />

conhecimentos construídos e adquiridos por eles a partir <strong>de</strong> suas experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> seu<br />

contexto social, político, econômico e cultural.<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa <strong>é</strong> proporcionar uma análise <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limites <strong>de</strong><br />

uma <strong>prática</strong> educativa inteligente dos(as) educadores(as) junto aos educandos jovens e<br />

adultos, no âmbito <strong>da</strong> re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino em Itamb<strong>é</strong>. Objetivamos, especificamente,<br />

i<strong>de</strong>ntificar a utilização <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> alfabetizadora, consi<strong>de</strong>rando a<br />

abertura, a intuição, a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>; compreen<strong>de</strong>r o educando jovem e adulto a<br />

partir <strong>de</strong> sua experiência <strong>de</strong> mundo; e i<strong>de</strong>ntificar as estrat<strong>é</strong>gias <strong>de</strong> <strong>inteligência</strong>s utiliza<strong>da</strong>s no<br />

fazer pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>s alfabetizaoras <strong>de</strong> jovens e adultos em Itamb<strong>é</strong>, bem como as<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limites <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong> junto às expectativas <strong>de</strong> seu educando.<br />

Esta investigação fez uma reflexão sobre as condições <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> alfabetizadora<br />

inteligente, na tentativa <strong>de</strong> contribuir para a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>da</strong> re<strong>de</strong><br />

pública em Itamb<strong>é</strong>, almejando para o educando sua maior inclusão na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que vive.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos como problemática básica <strong>de</strong>sta pesquisa, a utilização <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong><br />

educativa inteligente na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. Mesmo consciente <strong>da</strong> existência <strong>de</strong><br />

outros fatores que provocam o insucesso do alfabetizando, como por exemplo, a evasão por<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho, as condições miseráveis <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, as questões social, política,<br />

econômica e estrutural do país <strong>de</strong>ntre outros, <strong>é</strong> na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa, na ação<br />

concreta do(a) educador(a) junto ao educando, que encontramos maiores possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

obter sua aprendizagem. Como assinala Freire (2003, p. 96), “creio que a melhor afirmação<br />

para <strong>de</strong>finir o alcance <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa em face dos limites a que se submete <strong>é</strong> a seguinte:<br />

não po<strong>de</strong>ndo tudo, a <strong>prática</strong> educativa po<strong>de</strong> alguma coisa”.<br />

A importância <strong>de</strong> uma análise sobre a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> do(a) educador(a) na<br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos visa, <strong>de</strong> forma geral, diante <strong>da</strong> contextualização <strong>de</strong>sse tema<br />

no s<strong>é</strong>culo XXI, <strong>de</strong>spertar uma reflexão no sentido do quê e do como fazer um trabalho mais<br />

consciente e significativo, consi<strong>de</strong>rando a formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, numa perspectiva <strong>de</strong><br />

transformação social. Isso porque, “as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>ntre outros,<br />

do compromisso dos profissionais com construção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia” (FONSECA, 1995, p. 150).<br />

O que justifica ser a <strong>prática</strong> educativa o fator <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong>ste objeto <strong>de</strong> estudo.<br />

12


1.1 Origem do problema<br />

Quando nos propomos a investigar um objeto <strong>de</strong> estudo, importa explicitar as razões<br />

que nos impulsionam a aprofun<strong>da</strong>r conhecimentos relacionados às questões que tenham<br />

relevância no contexto do tema abor<strong>da</strong>do.<br />

Assim, nossa pesquisa nasceu a partir <strong>de</strong> reflexões e questionamentos sobre a ação<br />

educativa dos(as) educadores(as) junto aos educandos <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos no<br />

município <strong>de</strong> Itamb<strong>é</strong> – PE. É um estudo que surgiu no espaço <strong>da</strong> re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino e<br />

levanta, diante do alto índice <strong>de</strong> analfabetismo, 2 uma interrogação acerca <strong>de</strong> um saber fazer<br />

mais dinâmico e eficaz, que estimule o ci<strong>da</strong>dão sem escolari<strong>da</strong><strong>de</strong> a procurar o ambiente<br />

escolar e nele prosperar.<br />

Nosso ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>, como motivação para iniciar essa pesquisa foi a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> carência na utilização <strong>de</strong> recursos inteligentes na <strong>prática</strong> educativa do ensino <strong>da</strong><br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, a falta <strong>de</strong> orientação <strong>da</strong>s educadoras alfabetizadoras quanto<br />

ao uso <strong>de</strong> suas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, t<strong>é</strong>cnicas e/ou estrat<strong>é</strong>gias para uma <strong>prática</strong> educativa<br />

eficaz, a falta <strong>de</strong> reconhecimento dos saberes pr<strong>é</strong>vios do educando no fazer docente, a<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> alfabetização contribuir como meio <strong>de</strong> realização pessoal, profissional, e<br />

inclusão social dos educandos. Estas foram suposições iniciais <strong>de</strong>sta pesquisa, as quais se<br />

ampliam quando percebemos outras carências: <strong>de</strong> formação pe<strong>da</strong>gógica para o docente, <strong>de</strong><br />

cursos <strong>de</strong> graduação na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA, enfim, <strong>de</strong> valorização profissional nessa<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino.<br />

A escolha por essa abor<strong>da</strong>gem encontrou força maior no curso do Programa <strong>de</strong><br />

Formação <strong>de</strong> Professores Alfabetizadores – PROFA 3 - oferecido aos educadores(as) em<br />

regência e aos educadores(as) <strong>de</strong> apoio <strong>da</strong>s escolas estaduais <strong>de</strong> Pernambuco, bem como em<br />

outros Estados do país.<br />

2 São milhões <strong>de</strong> jovens e adultos não alfabetizados, no Brasil, “[...] 13% <strong>da</strong> população brasileira com 15 anos ou<br />

mais <strong>é</strong> analfabeta, 30% têm menos <strong>de</strong> quatro anos <strong>de</strong> estudo e 59% não concluíram o ensino fun<strong>da</strong>mental”.<br />

(MOURA;VÓVIO, 2003, p. 7).<br />

3 PROFA - curso iniciado em 2003 pela Secretaria <strong>de</strong> Educação e Cultura do Estado <strong>de</strong> Pernambuco, em parceria<br />

com o MEC, realizado na Gerência Estadual Regional <strong>de</strong> Educação, GERE - Mata Norte, bem como nos outros<br />

centros regionais. Teve como objetivo oferecer subsídios para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um fazer pe<strong>da</strong>gógico mais<br />

atuante e eficaz na EJA.<br />

13


O PROFA nos incentivou a pesquisar procedimentos e <strong>prática</strong>s educativas do(a)<br />

alfabetizador(a) junto ao alfabetizando, colaborando na ampliação <strong>de</strong> uma concepção e <strong>de</strong> um<br />

fazer consciente na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

Trabalhar com jovens e adultos exige uma <strong>prática</strong> diferente <strong>da</strong> utiliza<strong>da</strong> com crianças,<br />

pois, traz consigo uma maior responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>terminando uma <strong>prática</strong> a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, a fim <strong>de</strong><br />

colaborar na inserção <strong>de</strong>sse aprendiz jovem e adulto na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, levando-o a uma percepção<br />

<strong>de</strong> si mesmo como sujeito ativo e transformador <strong>de</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nesse sentido, Freire (1996,<br />

p. 60) assinala que:<br />

O fato <strong>de</strong> me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me impõe numa<br />

posição em face do mundo que não <strong>é</strong> a <strong>de</strong> quem na<strong>da</strong> tem a ver com ele. Afinal,<br />

minha presença no mundo não <strong>é</strong> a <strong>de</strong> quem a ele se a<strong>da</strong>pta mas a <strong>de</strong> quem nele se<br />

insere. É a posição <strong>de</strong> quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito tamb<strong>é</strong>m <strong>da</strong><br />

história.<br />

Assim, existe a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um fazer mais eficiente, que permite não só ler e<br />

escrever, mas a apreensão do significado <strong>de</strong>sse aprendizado, ligado à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mundo no<br />

qual os educandos estão integrados, atingindo sua comunicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> em diferentes contextos e<br />

objetivos, tornando-os mais esclarecidos, agentes construtores do mundo em que vivem.<br />

Desta forma, “<strong>é</strong> preciso ir al<strong>é</strong>m <strong>da</strong> simples aquisição do código escrito, <strong>é</strong> preciso fazer uso <strong>da</strong><br />

leitura e <strong>da</strong> escrita, apropriar-se <strong>da</strong> função social <strong>de</strong>ssas duas <strong>prática</strong>s, <strong>é</strong> preciso letrar-se”<br />

(BARDANACHVILI , 2000, p.1).<br />

No entanto, só será possível obter uma <strong>prática</strong> que alcance esses requisitos quando<br />

os(as) educadores(as) compreen<strong>de</strong>rem que a <strong>prática</strong> educativa precisa ser sempre repensa<strong>da</strong>,<br />

num contínuo refazer, sendo este flexível e/ou aberto, intuitivo, criativo e curioso diante do<br />

contexto atual, tendo como meta principal o crescimento e a transformação do educando.<br />

Sobre essa questão, Freire (2003, p. 84) assinala: “percebo o quanto foi fun<strong>da</strong>mental naquela<br />

<strong>é</strong>poca e continua sendo hoje o exercício <strong>de</strong> que me entregava e me entrego <strong>de</strong> pensar a <strong>prática</strong><br />

para melhor praticar”.<br />

Po<strong>de</strong>mos, em meio a to<strong>da</strong> essa discussão, perguntar: Por que a preocupação com uma<br />

<strong>prática</strong> educativa inteligente na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos? É importante lembrar que o<br />

propósito básico <strong>de</strong>sta pesquisa <strong>é</strong> i<strong>de</strong>ntificar a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa, como um<br />

caminho para obter melhores resultados no aprendizado do educando <strong>de</strong>ssa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ensino e como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua maior inclusão social. Isso significa conseguir dos<br />

educandos um grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo que lhes permita fazer a leitura <strong>de</strong> mundo<br />

no qual está socialmente inserido.<br />

14


Nesse sentido, percebemos a importância <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> aperfeiçoamento na ação do(a) educador(a), <strong>de</strong>, sobretudo, inteligir que um <strong>segredo</strong> para<br />

<strong>alfabetizar</strong> <strong>é</strong> cultivar recursos inteligentes inerentes à <strong>prática</strong> educativa na alfabetização <strong>de</strong><br />

jovens e adultos.<br />

Dando seqüência ao percurso <strong>de</strong>ste trabalho, apresentamos os procedimentos<br />

metodológicos <strong>da</strong> pesquisa, no que tange ao tipo <strong>de</strong> investigação, m<strong>é</strong>todo, sujeitos, categorias<br />

<strong>de</strong> análises, t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos e perspectivas <strong>de</strong> análises trabalha<strong>da</strong>s.<br />

1.2 Percurso metodológico <strong>da</strong> pesquisa<br />

O processo <strong>de</strong> investigação e/ou a metodologia <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>finir os<br />

procedimentos, a forma que o sujeito vai abor<strong>da</strong>r o objeto a ser estu<strong>da</strong>do, o horizonte que se<br />

preten<strong>de</strong> alcançar. Como assinala Minayo (2000, p. 22), "a metodologia inclui concepções<br />

teóricas <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>gem, o conjunto <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas que possibilitam a apreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

tamb<strong>é</strong>m o potencial criativo do pesquisador".<br />

Preten<strong>de</strong>mos com esta reflexão apresentar a nossa preocupação metodológica com o<br />

encaminhamento <strong>de</strong>sta pesquisa, pois um trabalho acadêmico requer criação e recriação,<br />

análise e re-análise, avanços e retrocessos, numa lógica coerente e responsável <strong>de</strong><br />

investigação. Como diz Prestes (2004, p. 02)<br />

[...] um processo <strong>de</strong> construção, <strong>de</strong> qualquer coisa, exige sacrifícios e <strong>de</strong>dicações<br />

dos seus criadores [...] <strong>de</strong>safiando aos autores a <strong>de</strong>cifrarem o enigma do<br />

conhecimento, <strong>da</strong> criação, do enigma, <strong>da</strong> ocultação. Desafia aos criadores encontrar<br />

estrat<strong>é</strong>gias que possibilitem abor<strong>da</strong>r o objeto <strong>de</strong> investigação.<br />

A trajetória <strong>de</strong>sta pesquisa incluiu a procura <strong>da</strong>dos que possibilitou i<strong>de</strong>ntificar algumas<br />

<strong>prática</strong>s educativas na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, ofereci<strong>da</strong>s nas suas várias faces, com<br />

o objetivo <strong>de</strong> conhecer os procedimentos trabalhados no fazer educativo dos sujeitos<br />

investigados. Como afirma Ireland (2001, p. 09)<br />

[...] a investigação busca informações <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>s que permitem saber quem são os<br />

promotores e compreen<strong>de</strong>r as <strong>prática</strong>s oferta<strong>da</strong>s nos seus diversos aspectos<br />

(metodológicos, material didático, recursos humanos, áreas <strong>de</strong> atuação, inspiração<br />

teórica, objetivos) [...].<br />

15


A pesquisa aqui <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> <strong>é</strong> <strong>de</strong> base qualitativa. Foram utiliza<strong>da</strong>s diferentes fontes<br />

<strong>de</strong> informação: observação, entrevistas individuais e trabalho <strong>de</strong> grupos focais, com a<br />

finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> coletar <strong>da</strong>dos que possibilitassem compreen<strong>de</strong>r o objeto estu<strong>da</strong>do. Acreditamos<br />

ter encontrado com esse procedimento, um meio atrav<strong>é</strong>s do qual os sujeitos pu<strong>de</strong>ssem<br />

expressar suas id<strong>é</strong>ias e sentimentos com mais espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e maior clareza sobre o tema em<br />

discussão. A escolha <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem qualitativa foi privilegia<strong>da</strong> porque permite enten<strong>de</strong>r a<br />

história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos participantes, questão relevante nesta investigação, po<strong>de</strong>ndo o<br />

pesquisador interagir apreen<strong>de</strong>ndo a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social dos sujeitos envolvidos.<br />

Vale ressaltar que a observação <strong>é</strong> um caminho que constata <strong>de</strong> forma mais precisa a<br />

<strong>prática</strong> educativa procura<strong>da</strong> nesta pesquisa. Optamos assim pela observação realiza<strong>da</strong> por<br />

meio <strong>da</strong>s análises <strong>da</strong>s entrevistas e do trabalho <strong>de</strong> grupos focais realiza<strong>da</strong>s no espaço <strong>da</strong> sala<br />

<strong>de</strong> aula. Acreditamos <strong>de</strong>ssa forma, encontrar nas falas e nas expressões <strong>da</strong>s alfabetizadoras e<br />

dos alfabetizandos as ações, as t<strong>é</strong>cnicas, as <strong>inteligência</strong>s utiliza<strong>da</strong>s no processo ensinarapren<strong>de</strong>r<br />

na EJA. As falas não são simples falas, são expressões que representam anseios,<br />

emoções, perspectivas, experiências e condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, que emergem no movimento <strong>da</strong><br />

investigação, aju<strong>da</strong>ndo no esclarecimento gra<strong>da</strong>tivo <strong>da</strong>s buscas almeja<strong>da</strong>s.<br />

Conforme, Santos Filho (2002) uma investigação qualitativa, expõe uma visão<br />

envolvente, em que investigador e investigado são partes fun<strong>da</strong>mentais no processo <strong>da</strong><br />

pesquisa. Sobre essa mesma questão assinala MAZZOTTI (1991, p.55):<br />

Para os ‘qualitativos’ a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>é</strong> uma construção social, o investigado participa e,<br />

portanto os fenômenos só po<strong>de</strong>m ser compreendidos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma perspectiva<br />

holística que leva em consi<strong>de</strong>ração os componentes <strong>de</strong> uma <strong>da</strong><strong>da</strong> situação em suas<br />

interações e influências recíprocas [...] Para os ‘qualitativos’ não se po<strong>de</strong> no<br />

processo <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> valorizar a imersão do pesquisador no contexto e<br />

interação com os participantes, procurando apreen<strong>de</strong>r os significados por eles<br />

atribuídos aos fenômenos estu<strong>da</strong>dos. É tamb<strong>é</strong>m compreensível, que o foco vá<br />

sendo progressivamente ajustado durante a investigação em que <strong>da</strong>dos <strong>de</strong>la<br />

resultantes sejam predominantemente <strong>de</strong>scritivos atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>s palavras. (grifo<br />

nosso).<br />

No m<strong>é</strong>todo qualitativo não há como negar o lugar dos sujeitos no percurso <strong>de</strong> uma<br />

investigação. Nessa direção, assinalam Brito e Leonardos (2000, p. 08) acerca do seu processo<br />

<strong>de</strong> investigação:<br />

Nem mesmo a distância assegura<strong>da</strong> por um m<strong>é</strong>todo científico po<strong>de</strong>ria controlar a<br />

influência <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> própria ao ser humano, que se faz presente durante todo<br />

o processo <strong>da</strong> pesquisa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a escolha dos objetos, passado pelo estabelecimento<br />

<strong>da</strong>s hipóteses, seleção e recorte do campo <strong>de</strong> estudo at<strong>é</strong> a análise e interpretação.<br />

Atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> análise dos <strong>da</strong>dos oriundos <strong>da</strong>s entrevistas e <strong>da</strong>s discussões dos grupos<br />

16


focais, educadoras e educandos <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos foram passo a passo<br />

<strong>de</strong>svelando sua <strong>prática</strong> educativa.<br />

1.3 Caminhos <strong>da</strong> pesquisa<br />

A pesquisa <strong>é</strong> <strong>de</strong> base interpretativa e os <strong>da</strong>dos aqui analisados foram coletados no<br />

período <strong>de</strong> dois meses (<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 a <strong>de</strong>zembro do mesmo ano), por meio <strong>de</strong><br />

entrevista e do trabalho <strong>de</strong> grupos focais, com educadoras (to<strong>da</strong>s mulheres) e educandos nas<br />

Escolas Municipais <strong>de</strong> Itamb<strong>é</strong>, que trabalham com a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA.<br />

O an<strong>da</strong>mento <strong>de</strong>sta pesquisa teve como plano inicial um contato pr<strong>é</strong>vio com as<br />

interlocutoras educadoras e os interlocutores educandos. Esse primeiro contato proporcionou<br />

respaldo para a elaboração <strong>de</strong> uma entrevista que aten<strong>de</strong>u a crit<strong>é</strong>rios previamente elaborados.<br />

Assim, as educadoras foram entrevista<strong>da</strong>s com roteiros <strong>de</strong> perguntas por escrito que<br />

posteriormente foram respondi<strong>da</strong>s e discuti<strong>da</strong>s atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> dinâmica <strong>de</strong> grupo focal. Quanto<br />

aos educandos, tamb<strong>é</strong>m entrevistados com roteiros <strong>de</strong> perguntas escritas, mas respondi<strong>da</strong>s<br />

oralmente e <strong>de</strong>pois discuti<strong>da</strong>s no trabalho <strong>de</strong> grupo focal, permitindo assim, uma discussão na<br />

qual todos participavam espontaneamente do círculo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate. Vale ressaltar que “no âmbito<br />

<strong>da</strong>s abor<strong>da</strong>gens em pesquisa social, a t<strong>é</strong>cnica do grupo focal vem sendo ca<strong>da</strong> vez mais<br />

utiliza<strong>da</strong>” (GATTI, 2005, p. 7).<br />

O trabalho <strong>de</strong> grupos focais estabelece uma integração com os sujeitos envolvidos na<br />

pesquisa, <strong>da</strong>ndo-lhes oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> esclarecer e discutir coletivamente as concepções<br />

acerca do tema abor<strong>da</strong>do. Sobre este aspecto, Kitzinger (Apud GATTI, 2005, p.7) afirma que<br />

“o grupo <strong>é</strong> ‘focalizado’, no sentido <strong>de</strong> que envolve algum tipo <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> coletiva – como<br />

[...] <strong>de</strong>bater um conjunto particular <strong>de</strong> questões”, em que os sujeitos investigados expressam,<br />

numa dinâmica <strong>de</strong> grupo, o que pensam e o que sentem a respeito <strong>da</strong>s questões em discussão.<br />

Deste modo, usar o grupo focal numa pesquisa <strong>é</strong> <strong>da</strong>r condições <strong>de</strong> não haver má<br />

interpretação <strong>da</strong>s posições dos participantes frente às questões abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Os sujeitos<br />

envolvidos têm a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, nesse processo <strong>de</strong> interação, <strong>de</strong> eluci<strong>da</strong>r, questionar, criticar,<br />

possibilitando levantar novas hipóteses para a pesquisa. Trabalhar com grupo focal <strong>é</strong> uma<br />

contribuição singular e relevante, visto que com outros m<strong>é</strong>todos não seria possível captar to<strong>da</strong><br />

essa complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimentos, ações, percepções dos sujeitos envolvidos. Segundo Gatti<br />

(op.cit. p. 7), Powell e Single dizem que um grupo focal ‘<strong>é</strong> um conjunto <strong>de</strong> pessoas<br />

17


seleciona<strong>da</strong>s e reuni<strong>da</strong>s por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que <strong>é</strong> objeto <strong>de</strong><br />

pesquisa, a partir <strong>de</strong> sua experiência pessoal’. O(A) pesquisador(a), assim, em conjunto com<br />

os sujeitos <strong>da</strong> pesquisa, atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> vivência do grupo focal, integra-se num <strong>de</strong>bate, <strong>de</strong> forma a<br />

enten<strong>de</strong>r com mais profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> o objeto <strong>de</strong> estudo.<br />

Com a utilização <strong>da</strong>s entrevistas e com o trabalho <strong>de</strong> grupos focais, o(a)<br />

pesquisador(a) tem uma visão geral do objeto <strong>de</strong> estudo, criando um maior entrosamento entre<br />

ele(a) e os(as) interlocutores(as) (educadores e educandos) fator importante, porque provoca<br />

uma relação amistosa e <strong>de</strong> confiabili<strong>da</strong><strong>de</strong> entre todos os personagens <strong>da</strong> pesquisa.<br />

O procedimento <strong>da</strong>s entrevistas e do trabalho <strong>de</strong> grupos focais foi realizado em dois<br />

momentos:<br />

O primeiro momento, direcionado pela pesquisadora no espaço <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula referese<br />

às entrevistas com as sete educadoras <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong><br />

questões previamente elabora<strong>da</strong>s, distribuí<strong>da</strong>s individualmente, as quais foram discuti<strong>da</strong>s<br />

numa <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>, atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> dinâmica <strong>de</strong> grupo focal. Este percurso foi realizado em<br />

três encontros. As educadoras <strong>de</strong>monstraram inicialmente certa inibição, por<strong>é</strong>m foram aos<br />

poucos se soltando e revelando <strong>de</strong> forma surpreen<strong>de</strong>nte gran<strong>de</strong> entusiasmo pela pesquisa.<br />

Nesse processo <strong>de</strong> entrosamento, vale ressaltar seus <strong>de</strong>sabafos ao expressarem o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

fazer melhor em sua <strong>prática</strong> educativa com um apoio pe<strong>da</strong>gógico mais efetivo dos setores<br />

ligados à alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

O segundo momento, tamb<strong>é</strong>m com a intervenção <strong>da</strong> pesquisadora no ambiente <strong>da</strong> sala<br />

<strong>de</strong> aula, está relacionado aos <strong>de</strong>zenove educandos <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> Jovens e Adultos.<br />

Iniciando com a entrevista oral, no dia escolhido por todos, as respostas foram trabalha<strong>da</strong>s<br />

com a dinâmica <strong>de</strong> grupos focais, levando os envolvidos ao <strong>de</strong>bate. Esta trajetória ocorreu em<br />

seis encontros, em <strong>da</strong>tas acor<strong>da</strong><strong>da</strong>s com os educandos.<br />

Ambas as discussões com as educadoras e com os educandos no trabalho <strong>de</strong> grupos<br />

focais, foram registra<strong>da</strong>s por meio <strong>de</strong> escritos e gravações. Esse procedimento foi escolhido<br />

porque acreditamos que, ao trabalhar com as fontes orais, o(a) pesquisador(a) tem a<br />

oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dialogar com os testemunhos vivos do processo <strong>de</strong> pesquisa, captando a<br />

compreensão <strong>de</strong> mundo, a experiência, a id<strong>é</strong>ia <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, o silêncio, as<br />

emoções e ações dos sujeitos em estudo.<br />

Os conteúdos <strong>da</strong>s questões <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s as educadoras foram estruturados <strong>da</strong> seguinte<br />

forma: 1) Como po<strong>de</strong>mos pensar numa alfabetização que aten<strong>da</strong> as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos alunos<br />

trabalhadores? 2) O que, afinal o educando trabalhador espera <strong>da</strong> escola noturna? 3) Que<br />

requisitos você apontaria para um professor(a) alfabetizador(a) obter êxito no seu trabalho?<br />

18


Que requisitos você apontaria para um alfabetizando obter êxito no seu aprendizado? 4) Como<br />

você analisa o livro didático, bem como o currículo <strong>da</strong> EJA? 5) Descreva seu cotidiano<br />

escolar.<br />

Os conteúdos <strong>da</strong>s questões <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s aos educandos foram assim sistematizados: 1) O<br />

que uma pessoa faz para viver sem escola at<strong>é</strong> a i<strong>da</strong><strong>de</strong> adulta? 2) O que você quer fazer com a<br />

leitura e a escrita? 3) Que momento <strong>da</strong> aula você mais gosta? Qual o que menos gosta?<br />

Quando tem que faltar à aula, o que você pensa? 4) Na sua profissão como você seria um<br />

professor do que você sabe? 5) O que mudou na sua vi<strong>da</strong> com a escola?<br />

Ao analisar as referi<strong>da</strong>s entrevistas e discussões dos grupos focais, que correspon<strong>de</strong>m<br />

ao universo <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, i<strong>de</strong>ntificamos visões e posicionamentos<br />

frente ao processo ensino-aprendizagem nos quais educadoras e educandos estão inseridos,<br />

que revelam gra<strong>da</strong>tivamente os recursos utilizados na <strong>prática</strong> educativa <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong><br />

jovens e adultos em Itamb<strong>é</strong>.<br />

1.4 Local <strong>da</strong> pesquisa<br />

A pesquisa foi realiza<strong>da</strong> em duas escolas <strong>da</strong> Re<strong>de</strong> Urbana Pública Municipal <strong>de</strong><br />

Itamb<strong>é</strong> – PE, Escola Municipal Pascoal Carrazzonni e Escola Andr<strong>é</strong> Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros. O<br />

Crit<strong>é</strong>rio para a escolha <strong>da</strong>s escolas foi <strong>de</strong>terminado por nelas existirem o ensino <strong>da</strong> EJA. Para<br />

tanto, foi feito um pr<strong>é</strong>vio levantamento do número <strong>da</strong>s instituições municipais que tivessem<br />

esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. Seguindo este percurso, foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s as duas referi<strong>da</strong>s<br />

escolas <strong>da</strong> zona urbana, on<strong>de</strong> se efetuou a investigação.<br />

A Escola Municipal Pascoal Carrazzonni se encontra na rua Tenente Fontoura, s/n.<br />

Esta escola absorve uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> classe pobre. A Escola Municipal Andr<strong>é</strong> Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong><br />

Negreiros, localiza<strong>da</strong> na rua, Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros, s/n, tem um público <strong>de</strong> educandos ain<strong>da</strong><br />

mais empobrecidos. As duas escolas estão localiza<strong>da</strong>s nas regiões perif<strong>é</strong>ricas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

19


1.5 Participantes<br />

Constituíram-se participantes <strong>de</strong>ste estudo: a pesquisadora, as educadoras e os<br />

educandos. O crit<strong>é</strong>rio para a seleção <strong>da</strong>s educadoras e dos educandos foi por eles estarem<br />

envolvidos na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos e por a<strong>de</strong>são à pesquisa, isto <strong>é</strong>, por melhor<br />

expressarem a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir com o trabalho.<br />

Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar ain<strong>da</strong>, que foi conjeturado a participação <strong>da</strong> coor<strong>de</strong>nação e<br />

supervisão <strong>da</strong> EJA do Município <strong>de</strong> Itamb<strong>é</strong> nesta pesquisa, as quais, colaboraram<br />

amistosamente no atendimento quanto ao acesso aos livros didáticos <strong>da</strong> EJA e permitiram,<br />

junto à Secretaria <strong>de</strong> Educação, a realização <strong>da</strong> pesquisa <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>mocrática nas referi<strong>da</strong>s<br />

escolas.<br />

A participação <strong>da</strong> equipe <strong>da</strong> EJA iniciaria no segundo semestre do ano <strong>de</strong> 2005, quando<br />

estava prevista a pesquisa <strong>de</strong> campo. Seria realizado a entrevista e o trabalho <strong>de</strong> grupo focal,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> ampliar as informações sobre o apoio à <strong>prática</strong> <strong>de</strong> ensino às educadoras, no<br />

que se refere, especialmente, às capacitações e à formação continua<strong>da</strong> ofereci<strong>da</strong>s pelo<br />

Município. Contudo, não foi possível a realização <strong>de</strong>sse procedimento, pois a referi<strong>da</strong> equipe<br />

alegou per<strong>da</strong> do material recebido (questões previamente elabora<strong>da</strong>s para a entrevista). Enfim,<br />

sendo a pesquisa <strong>de</strong> caráter a<strong>de</strong>siva e não obrigatória, o encontro se tornou impossibilitado.<br />

No entanto, vale ressaltar que os sujeitos alvos <strong>de</strong>sta pesquisa são as educadoras<br />

alfabetizadoras e os educandos <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, os quais serão<br />

apresentados seus perfis para uma melhor compreensão <strong>de</strong> suas concepções <strong>de</strong> mundo.<br />

Para apresentar o perfil <strong>da</strong>s participantes educadoras, preservando suas i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

foram utilizados nomes historicamente conhecidos como, Anita Garibaldi, Margari<strong>da</strong> Alves,<br />

Pagu, Irmã Dulce. Este foi um meio criado para não ser revelado suas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

To<strong>da</strong>s as educadoras pertencem ao sexo feminino.<br />

Quanto aos educandos, para manter suas i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s em sigilo foram utilizados nomes<br />

Bíblicos como, Rute, Rafael, Mois<strong>é</strong>s, Maria, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Estes crit<strong>é</strong>rios foram estabelecidos acreditando ser uma boa forma <strong>de</strong> proteger a<br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> dos sujeitos envolvidos neste estudo.<br />

20


QUADRO 1 - PERFIL DAS EDUCADORAS<br />

Nº ESCOLA<br />

Nº PROFESSORES<br />

ENTREVISTADOS<br />

1 ESCOLA MUNICIPAL PASCOAL CARRAZZONNI 3<br />

2 ESCOLA MUNICIPAL ANDRÉ V. DE NEGREIRO 4<br />

TOTAL DE EDUCADORAS 07<br />

Escolas<br />

02<br />

ESCOLA MUNICIPAL PASCOAL<br />

CARRAZZONI<br />

ESCOLA ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS TOTAL<br />

03 EDUCADORAS 04 EDUCADORAS 07<br />

EDUCADORAS ENTREVISTADAS 07<br />

RESPONDERAM AS QUESTÕES 07<br />

PROFª ESCOLA FORMAÇÃO<br />

Pagu<br />

Chiquinha<br />

E.A.V.N. GRAD. LETRAS (EM CURSO) - 1ANO NÃO 30<br />

Gonzaga E.M.P.C.<br />

Irmã<br />

GRAD. PEDAG. (EM CURSO) 10 ANOS 1ANO SIM 27<br />

Dulce<br />

Raquel<br />

<strong>de</strong><br />

E.A.V.N. MAGISTÉRIO - 1ANO NÃO 32<br />

Queiroz<br />

Margari<strong>da</strong><br />

E.M.P.C. MAGISTÉRIO - 1ANO NÃO 33<br />

Alves E.M.P.C. MAGISTÉRIO 5 ANOS 3 ANOS NÃO 35<br />

NÃO RESPONDERAM AS QUESTÕES<br />

Fonte: Dados coletados pela pesquisadora na secretaria <strong>da</strong>s escolas.<br />

0<br />

1.6 Perfil <strong>da</strong>s educadoras<br />

TEMPO<br />

MAG.<br />

TOTAL 7<br />

TEMPO<br />

EJA MÃE IDADE<br />

Anita<br />

Garibaldi E.A.V.N. MAGISTÉRIO 1ANO SIM 36<br />

Maria<br />

Quit<strong>é</strong>ria E.A.V.N. MAGISTÉRIO 2 ANOS 1ANO SIM 27<br />

As educadoras alfabetizadoras <strong>de</strong>sta investigação formam um grupo <strong>de</strong> sete mulheres,<br />

com faixa etária não muito varia<strong>da</strong>, <strong>de</strong> 27 a 36 anos. Das sete educadoras, duas estão cursando<br />

a graduação e cinco possuem apenas o magist<strong>é</strong>rio. Três professoras são mães e to<strong>da</strong>s são <strong>de</strong><br />

origem urbana, resi<strong>de</strong>ntes próximos às escolas em que lecionam.<br />

Das sete educadoras entrevista<strong>da</strong>s, apenas uma possui três anos <strong>de</strong> experiência com a<br />

EJA, as <strong>de</strong>mais possuem tempo máximo <strong>de</strong> atuação nessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> apenas um<br />

21


ano. Duas possuem experiência no ensino fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> re<strong>de</strong> pública, quatro <strong>de</strong>clararam não<br />

terem experiência nesta re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino e uma <strong>de</strong>clarou experiência na re<strong>de</strong> particular.<br />

As educadoras <strong>de</strong>monstraram uma gran<strong>de</strong> receptivi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a pesquisa, expressando<br />

espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> colaboração. Elas participaram do momento <strong>da</strong> entrevista e <strong>da</strong><br />

discussão com grupo focal com muito entusiasmo, evi<strong>de</strong>nciando a importância <strong>de</strong>ste trabalho<br />

acadêmico.<br />

Vale ressaltar que os <strong>de</strong>poimentos recolhidos por meio <strong>da</strong>s entrevistas e do grupo focal<br />

nesta pesquisa, foram apresenta<strong>da</strong>s sem correções ortográficas, a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar o universo<br />

vocabular e a escrita <strong>da</strong>s interlocutoras.<br />

É relevante i<strong>de</strong>ntificar o perfil <strong>da</strong>s educadoras porque, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong>le, po<strong>de</strong>mos<br />

compreen<strong>de</strong>r melhor alguns aspectos <strong>de</strong> seu contexto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

QUADRO 2 - PERFIL DOS EDUCANDOS<br />

Nº ESCOLA<br />

Nº ALUNOS<br />

ENTREVISTADOS<br />

1 ESCOLA MUNICIPAL PASCOAL CARRAZZONNI 7<br />

2 ESCOLA MUNICIPAL ANDRÉ V. DE NEGREIRO 12<br />

TOTAL 19<br />

ª ESCOLA NOME ZONA PROFISSÃO PAI/MÃE ESTUDOU IDADE<br />

1 E.A.V.N. MARIA URBANA DOMÉSTICA SIM SIM 25<br />

2 E.M.P.C. RUTE URBANA EMP. DOMÉSTICA SIM SIM 23<br />

3 E.M.P.C. RAQUEL URBANA DOMÉSTICA SIM SIM 48<br />

4 E.M.P.C. MOISÉS URBANA PRESTAMISTA SIM SIM 50<br />

5 E.M.P.C. SARA RURAL CAMPONESA SIM SIM 46<br />

6 E.M.P.C. ABRAÃO URBANA FAZ BICO NÃO SIM 16<br />

7 E.M.P.C. TALITA URBANA EMP. DOMÉSTICA SIM SIM 25<br />

8 E.A.V.N. JUDITE URBANA DOMESTICA SIM NÃO 50<br />

9 E.A.V.N. JACÓ URBANA CHEFE JARDINEIRO SIM NÃO 27<br />

10 E.A.V.N. MIRIAN URBANA EMP. DOMÉSTICA SIM NÃO 31<br />

11 E.A.V.N. SALAMÉ URBANA DOMÉSTICA SIM NÃO 37<br />

12 E.A.V.N. DÉBORA URBANA DOMÉSTICA SIM NÃO 28<br />

13 E.A.V.N. SÉFORA URBANA DOMÉSTICA SIM NÃO 50<br />

14 E.A.V.N. DAVI URBANA FOTÓGRAFO SIM SIM 30<br />

15 E.A.V.N. FUA URBANA DOMÉSTICA SIM SIM 58<br />

16 E.A.V.N. LÍDIA URBANA DOMÉSTICA SIM SIM 45<br />

17 E.A.V.N. SIMÃO URBANA SERVENTE SIM NÃO 47<br />

18 E.A.V.N. ISABEL URBANA FEIRANTE SIM SIM 41<br />

19 E.A.V.N. EDITE URBANA DOMÉSTICA SIM NÃO 40<br />

Fonte: Dados coletados pela pesquisadora na secretaria <strong>da</strong>s escolas<br />

22


1.7 Perfil dos educandos<br />

Os educandos entrevistados correspon<strong>de</strong>m ao universo <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenove, numa faixa etária<br />

varia<strong>da</strong>: um com 16 anos, cinco <strong>de</strong> 23 a 28 anos, e treze <strong>de</strong> 30 a 58 anos. São, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

mais adultos que jovens. Oito <strong>de</strong>les nunca estu<strong>da</strong>ram e onze já tiveram alguma experiência<br />

escolar. São todos, com exceção <strong>de</strong> um, pai e mãe <strong>de</strong> família.<br />

As ocupações dos educandos <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos são varia<strong>da</strong>s, por<strong>é</strong>m<br />

todos pertencem a uma mesma classe social. Eles e elas são: dom<strong>é</strong>sticas, prestamistas 4 ,<br />

camponeses, jardineiros, pedreiros, serventes, fotógrafos, feirantes. Dos <strong>de</strong>zenove<br />

entrevistados, quatorze são mulheres e apenas cinco são homens.<br />

É mister salientar que todos os educandos entrevistados são oriundos <strong>de</strong> uma mesma<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social e econômica, <strong>de</strong> classe baixa que acreditam numa melhoria <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong><br />

alfabetização.<br />

A maioria dos educandos entrevistados já passou pela escola, poucos apren<strong>de</strong>ram a ler,<br />

a escrever e a interpretar o mundo que o cerca.<br />

É importante frisar tamb<strong>é</strong>m que, em nosso primeiro encontro, os alfabetizandos<br />

ficaram surpresos, receosos e atentos ao que falávamos a respeito <strong>da</strong> pesquisa, <strong>de</strong>monstraram<br />

entusiasmo e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> colaboração. Nos encontros seguintes, os educandos se tornaram mais<br />

espontâneos e mais encorajados a respon<strong>de</strong>rem às questões abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s, aquecendo o <strong>de</strong>bate e<br />

possibilitando, assim, maiores informações sobre os temas em questão.<br />

Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar ain<strong>da</strong> que a fala <strong>de</strong>sses interlocutores foram coloca<strong>da</strong>s exatamente<br />

como se expressavam, com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar e preservar seu universo vocabular.<br />

É relevante i<strong>de</strong>ntificar o perfil dos educandos, porque atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong>le po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r,<br />

com maior clareza, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> na qual estão inseridos.<br />

1.8 Estruturação do trabalho<br />

Para discutir esta pesquisa intitula<strong>da</strong> Alfabetizar Jovens e Adultos: O Segredo <strong>é</strong> a<br />

Inteligência <strong>da</strong> Prática, foram estruturados quatro capítulos. O primeiro inicia com a<br />

introdução que encaminha o percurso metodológico <strong>da</strong> pesquisa, expondo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros<br />

passos <strong>da</strong> pesquisa, at<strong>é</strong> o momento último, <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong>s t<strong>é</strong>cnicas emprega<strong>da</strong>s na avaliação<br />

4 O prestamista <strong>é</strong> aquele trabalhador ambulante que usa geralmente uma carrocinha, ven<strong>de</strong>ndo a prestação, isto <strong>é</strong>,<br />

com pagamentos parcelados, produtos diversos: lençóis, espelhos, panelas, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

23


dos <strong>da</strong>dos. Este caminhar nos permite compreen<strong>de</strong>r a trajetória e a serie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma produção<br />

científica.<br />

O segundo capítulo: Aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> educativa <strong>da</strong><br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos têm como finali<strong>da</strong><strong>de</strong> esclarecer o tema abor<strong>da</strong>do, que, por<br />

sua vez compreen<strong>de</strong>: a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> alfabetizadora na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA; aspectos<br />

<strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> educativa: abertura, intuição, criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>; o<br />

<strong>segredo</strong> <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa inteligente; e, reflexões acerca <strong>de</strong> saberes e fazeres no<br />

ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, mantendo um diálogo com os pressupostos<br />

teóricos que fun<strong>da</strong>mentam este estudo.<br />

O terceiro capítulo trata especialmente do educando jovem e adulto consi<strong>de</strong>rado a<br />

partir <strong>de</strong> sua experiência <strong>de</strong> mundo. Nosso objetivo nesse capítulo <strong>é</strong> mostrar que os saberes<br />

trazidos por educandos jovens e adultos, diante <strong>de</strong> sua experiência <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> suas <strong>prática</strong>s<br />

sociais po<strong>de</strong>m ser trabalhados no fazer pe<strong>da</strong>gógico, a fim <strong>de</strong> provocar uma maior<br />

compreensão do seu próprio mundo e do universo letrado.<br />

Por fim, o quarto capítulo traz reflexões dos <strong>da</strong>dos pesquisados, refere-se aos<br />

resultados <strong>da</strong> pesquisa com as educadoras e os educandos <strong>de</strong> Itamb<strong>é</strong>. Nossa pretensão com<br />

esta abor<strong>da</strong>gem <strong>é</strong> po<strong>de</strong>r contribuir para que, as reflexões em torno <strong>da</strong>s representações <strong>da</strong>s<br />

educadoras e dos educandos <strong>da</strong> alfabetização, <strong>de</strong>svelem novas temáticas que sirvam como<br />

impulso para provocar maiores interesses por uma <strong>prática</strong> educativa inteligente, e, portanto,<br />

mais eficiente no ensino <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

A pesquisa, cujos resultados aqui se apresentam, trabalha <strong>de</strong>ntre outros, com um<br />

aporte teórico e prático num diálogo com as obras <strong>de</strong>: Ferreiro (2003), Fonseca (1995), Freire<br />

(1987 e suas várias obras), Moura e Vóvio (2003), Soares (2003), que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m uma visão <strong>de</strong><br />

que os educandos, especialmente o jovem e o adulto, necessitam <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa que<br />

vá al<strong>é</strong>m <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, que os incluam neste mundo a partir <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong> social.<br />

Tamb<strong>é</strong>m são representa<strong>da</strong>s as posições <strong>de</strong> Morin (2003), Gonçalves (2003) e Assmann (2004)<br />

que, consi<strong>de</strong>ram como essencial à utilização <strong>de</strong> estrat<strong>é</strong>gias <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana no fazer<br />

pe<strong>da</strong>gógico. Inteligências essas não apresenta<strong>da</strong>s a partir <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo acabado, mas<br />

construí<strong>da</strong>s num aprendizado cotidiano, que se forma no movimento <strong>da</strong>s experiências do<br />

processo ensino-aprendizagem, na <strong>prática</strong> educativa.<br />

Compreendido o percurso e a proposta <strong>de</strong>sta pesquisa, analisaremos o II capítulo, com<br />

o objetivo principal <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar alguns aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong><br />

alfabetizadora <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

24


2 ASPECTOS DA INTELIGÊNCIA HUMANA NA PRÁTICA<br />

EDUCATIVA DA ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS<br />

Este capítulo apresenta alguns recursos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana que po<strong>de</strong>m ser<br />

utilizados na <strong>prática</strong> educativa <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. Encontra-se estruturado<br />

em quatro momentos, o primeiro, enfoca a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> alfabetizadora na<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA; o segundo abor<strong>da</strong> aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> educativa:<br />

Abertura, intuição, criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>; o terceiro tenta explicitar o <strong>segredo</strong> <strong>de</strong> uma<br />

<strong>prática</strong> educativa inteligente e, o quarto trata <strong>da</strong> reflexão acerca <strong>de</strong> saberes e fazeres no ensino<br />

<strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

2.1 A <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> alfabetizadora na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA<br />

A alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>é</strong> um movimento histórico muito intenso,<br />

complexo, recheado <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> difíceis soluções, que se prolonga por muito tempo no<br />

Brasil. Mas, não preten<strong>de</strong>mos aqui realizar uma análise histórica, queremos apenas lembrar<br />

que este movimento nos faz perceber a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar <strong>prática</strong>s educativas inteligentes<br />

que possibilitem aten<strong>de</strong>r os interesses dos alfabetizandos, contribuindo na obtenção <strong>de</strong> uma<br />

aprendizagem mais ampla que ultrapasse o domínio do contar, do ler e do escrever,<br />

permitindo-o fazer a leitura <strong>de</strong> si mesmo e a leitura <strong>de</strong> mundo, proporcionando, assim,<br />

condições <strong>de</strong> sua maior inclusão na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>é</strong> uma<br />

abor<strong>da</strong>gem que privilegia um saber fazer docente que utilize e <strong>de</strong>senvolva suas várias<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s no processo ensinar-apren<strong>de</strong>r, respeitando e reconhecendo a importância <strong>de</strong> se<br />

trabalhar com as experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do educando jovem e adulto. Dessa forma as<br />

<strong>inteligência</strong>s do(a) educador(a) usa<strong>da</strong>s em sua <strong>prática</strong> educativa, <strong>é</strong> um fator fun<strong>da</strong>mental para<br />

aten<strong>de</strong>r os interesses vitais do educando.<br />

A <strong>inteligência</strong> <strong>de</strong>ve ser, aqui nesta investigação, melhor esclareci<strong>da</strong>, pois são varia<strong>da</strong>s<br />

formas <strong>de</strong> entendê-la, já que ela está sempre em evolução, a qual sofre os <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado tempo e espaço. “O interesse pela <strong>inteligência</strong> tem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> longa <strong>da</strong>ta preocupado<br />

25


filósofos e cientistas, educadores e pais, mas só muito recentemente ela <strong>é</strong> concebi<strong>da</strong> como um<br />

fenômeno fluido, plástico e modificável” (FONSECA VITOR, 1995, p. 35).<br />

Enten<strong>de</strong>-se por <strong>inteligência</strong>, a “facul<strong>da</strong><strong>de</strong> ou capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, apreen<strong>de</strong>r,<br />

compreen<strong>de</strong>r ou a<strong>da</strong>ptar-se facilmente, intelecto [...], <strong>de</strong>streza mental, agu<strong>de</strong>za, perspicácia”<br />

(ARÉLIO, 2001, p. 425). Nesse sentido, a <strong>inteligência</strong> <strong>é</strong>, uma disposição <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r o que se<br />

ensina, estu<strong>da</strong> ou pesquisa, <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m, uma forma <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptar-se as circunstâncias <strong>de</strong> uma <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e, sobretudo, transformá-la.<br />

Contudo, quando se refere ao processo <strong>de</strong> ensinar-apren<strong>de</strong>r a jovens e adultos <strong>é</strong><br />

necessário estimular essa <strong>inteligência</strong>, motivá-la, tanto no educando, quanto no (a)<br />

educador(a). A <strong>prática</strong> alfabetizadora exige habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que ultrapassam os conhecimentos<br />

pr<strong>é</strong>-estabelecidos dos livros e dos currículos, impondo ao educador e a educadora usar e<br />

<strong>de</strong>senvolver suas agili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, possibilitando efeitos dinâmicos no processo <strong>de</strong><br />

ensino-aprendizagem. Tais efeitos caracterizam-se na obtenção do apren<strong>de</strong>r do educando por<br />

meio <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> várias <strong>inteligência</strong>s, que po<strong>de</strong>m ser usa<strong>da</strong>s na <strong>prática</strong> educativa.<br />

Ao tratar <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong>, Fonseca Vitor (op. cit, p. 31) lembra Gardner, quando sugere<br />

“não há uma única <strong>inteligência</strong>, mas sim <strong>inteligência</strong>s múltiplas e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes”. Gardner<br />

classifica a <strong>inteligência</strong> em sete modos diferentes <strong>de</strong> conhecer o mundo:<br />

1) Inteligência corporal, (<strong>da</strong>nça e <strong>de</strong>sporto);<br />

2) Inteligência espacial, (arte, engenharia e ciências);<br />

3) Inteligência lingüística, (escrita, poesia, teatro);<br />

4) Inteligência lógico-matemática, (física, química, biologia, filosofia);<br />

5) Inteligência musical, como capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para combinar e compor sons não-verbais<br />

(música);<br />

6) Inteligência intrapessoal, (psicanálise, psiquiatria e pe<strong>da</strong>gogia); E,<br />

7) Inteligência social, (sociologia e antropologia). Estas <strong>inteligência</strong>s, bem como<br />

outras, são capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas, utiliza<strong>da</strong>s singularmente ou em conjunto para<br />

aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>terminados fins.<br />

Há na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> varia<strong>da</strong>s formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir ou enten<strong>de</strong>r o significado <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong>.<br />

Assim, a <strong>inteligência</strong> po<strong>de</strong> ser compreendi<strong>da</strong> como estrat<strong>é</strong>gias usa<strong>da</strong>s para a sobrevivência,<br />

a<strong>da</strong>ptação, realização <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humana, vegetal ou animal. Morin (1999, p.195) <strong>de</strong>screve<br />

a <strong>inteligência</strong> como<br />

Uma quali<strong>da</strong><strong>de</strong> anterior e exterior ao pensamento humano, se a <strong>de</strong>finirmos como<br />

aptidão para pensar, tratar, resolver problemas em situações <strong>de</strong> complexibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

[...] Com efeito, constatamos que há <strong>inteligência</strong> não somente nos animais dotados<br />

<strong>de</strong> aparelho neurocerebral, mas tamb<strong>é</strong>m mesmo no reino vegetal. Ain<strong>da</strong> que<br />

<strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> c<strong>é</strong>rebro e <strong>de</strong> sistema nervoso dispõem <strong>de</strong> estrat<strong>é</strong>gias inventivas para<br />

resolver os seus problemas vitais: Aproveitar o sol, expulsar as raízes vizinhas, atrair<br />

os insetos coletores [...].<br />

26


Al<strong>é</strong>m disso, Morin (Ibid. p. 196) assinala que, a <strong>inteligência</strong> prece<strong>de</strong> a humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, o<br />

pensamento, a consciência, a linguagem. Ele afirma que<br />

É entre os vertebrados, especialmente pássaros e mamíferos, que se <strong>de</strong>senvolve uma<br />

arte estrat<strong>é</strong>gica individual, comportando astúcia, utilização oportunista do risco,<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer os próprios erros, aptidão para apren<strong>de</strong>r; quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

propriamente inteligentes que, reunidos em feixe, permite reconhecer um ser<br />

inteligente.<br />

Diante do exposto, nota-se que o uso <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> como t<strong>é</strong>cnica, habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, meios<br />

<strong>de</strong> sobrevivência, trabalho ou a<strong>da</strong>ptação no mundo não se restringe apenas ao ser humano.<br />

Outros seres vegetais e animais, tamb<strong>é</strong>m <strong>de</strong>senvolvem capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, astúcias, quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

inteligentes que garantem sua permanência no mundo atrav<strong>é</strong>s dos tempos.<br />

A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar a <strong>inteligência</strong>, se encontra presente em todos os seres, sejam<br />

eles animal, vegetal ou humano. No humano, observamos que a <strong>inteligência</strong> vem se<br />

constituindo por meio dos tempos, po<strong>de</strong>ndo ser aberta, intuitiva, criativa e curiosa.<br />

Não preten<strong>de</strong>ndo aprofun<strong>da</strong>r <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>terminante as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> <strong>inteligência</strong><br />

<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s por Gradner e Morin (nem oferecer uma explicação advin<strong>da</strong> <strong>da</strong> psicologia referente<br />

à <strong>inteligência</strong>), preocupamo-nos em tê-los como referência para refletirmos acerca <strong>da</strong><br />

<strong>inteligência</strong>, possibilitando i<strong>de</strong>ntificar disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s inteligentes (abertura, intuição,<br />

criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>) para melhor utilizá-las na <strong>prática</strong> educativa. O que <strong>de</strong>finimos nesta<br />

pesquisa <strong>é</strong> como a <strong>inteligência</strong> humana po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver estrat<strong>é</strong>gias,<br />

habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, t<strong>é</strong>cnicas e operações no fazer docente <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos com<br />

um ensino <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA.<br />

É nessa direção, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos uma <strong>prática</strong> educativa inteligente, capaz <strong>de</strong> utilizar<br />

varia<strong>da</strong>s aptidões e t<strong>é</strong>cnicas para obter um resultado mais eficaz, que leve o educando jovem e<br />

adulto, à condição <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dão crítico, capaz <strong>de</strong> intervir em sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, apo<strong>de</strong>rando-se não<br />

apenas do mundo letrado, mas, sobretudo, <strong>de</strong> sua compreensão.<br />

Sem a compreensão <strong>de</strong> mundo letrado nos dia atuais, a pessoa busca<br />

inconscientemente possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e alternativas nem tanto explícita, mas implícitas que<br />

surgem <strong>de</strong> acordo com as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s individuais, exigindo a construção <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

nunca antes pensa<strong>da</strong>, impondo usar uma <strong>inteligência</strong> natural, espontânea do próprio ser<br />

humano, como a intuição, a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e uma condição aberta ao novo e ao imprevisível.<br />

Exemplo disso, <strong>é</strong> o <strong>de</strong>poimento <strong>da</strong> aluna entrevista<strong>da</strong> Mirian, que fala sobre uma <strong>de</strong> suas<br />

experiências na condição <strong>de</strong> não-alfabetiza<strong>da</strong><br />

27


A vi<strong>da</strong> era coloca<strong>da</strong> com as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> leitura, peguei ônibus errado, fui para<br />

um lugar bem diferente, fiquei acompanhado a torre <strong>da</strong> Telemar, <strong>de</strong>sci do ônibus<br />

sem dinheiro, eu vi a torre, segui ela a p<strong>é</strong>, at<strong>é</strong> chegar lá. A vi<strong>da</strong> se torna mais difícil<br />

sem a escola [...] (grifo nosso)<br />

Queremos mostrar com o exemplo <strong>de</strong> Mirian que ela foi obriga<strong>da</strong> a criar, <strong>de</strong> acordo<br />

com as circunstâncias, uma estrat<strong>é</strong>gia, que a conduzisse ao seu <strong>de</strong>stino. Esta situação impôs a<br />

utilização <strong>de</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> inteligente, <strong>de</strong> se sobressair por meio <strong>de</strong> sua intuição e<br />

criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. A torre <strong>da</strong> Telemar acen<strong>de</strong>u assim, a luz <strong>de</strong> sua <strong>inteligência</strong> inventiva,<br />

conduzindo-a <strong>de</strong> forma correta ao ponto almejado.<br />

Constatamos diante do exposto que o(a) educador(a) po<strong>de</strong> agir e interagir com o seu<br />

educando, procurando conhecer a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> seu cotidiano, a fim <strong>de</strong> colaborar no<br />

reconhecimento <strong>de</strong> seu mundo e num olhar mais crítico sobre si mesmo e sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

que o cerca, <strong>de</strong>senvolvendo assim, sua <strong>inteligência</strong> educativa. Sobre esta questão Freire<br />

(2003, p. 49), inspirado em Karel Kosik, expressa claramente o saber gerado na cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

É o espaço-tempo em que a mente não opera epistemologicamente em face dos<br />

objetos, dos <strong>da</strong>dos, dos fatos. Se dá conta <strong>de</strong>les mas não apreen<strong>de</strong> a razão <strong>de</strong> ser<br />

mais profun<strong>da</strong>s dos mesmos. Isto não significa, por<strong>é</strong>m, que eu não possa e não <strong>de</strong>va<br />

tomar a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> e a forma como nela me movo no mundo como objeto <strong>de</strong><br />

minha reflexão; que não procure superar o puro <strong>da</strong>r-me conta dos fatos a partir <strong>da</strong><br />

compreensão crítica que <strong>de</strong>le vou ganhando.<br />

Assim, o(a) educador(a) po<strong>de</strong> esforçar-se em alargar as habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua<br />

<strong>inteligência</strong>, encontrando não um mo<strong>de</strong>lo, mas diversos caminhos que o possibilitem apren<strong>de</strong>r<br />

melhor, para fazer melhor. A <strong>inteligência</strong> não <strong>é</strong> singular, pronta e acaba<strong>da</strong>, “a <strong>inteligência</strong><br />

humana <strong>é</strong> efetivamente algo <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong> muito complexo que não se reduz a uma<br />

<strong>de</strong>finição perfeccionista, inflexível, imutável ou exclusivista”. (FONSECA VICTOR, 1995, p.<br />

38)<br />

Diante do exposto, importa que o(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos<br />

procure enten<strong>de</strong>r e sentir a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r continuamente, <strong>de</strong> se renovar, tentando<br />

atrav<strong>é</strong>s dos seus e dos saberes <strong>de</strong> outros se aperfeiçoar, encontrando varia<strong>da</strong>s e novas formas<br />

<strong>de</strong> usar a <strong>inteligência</strong> em seu fazer pe<strong>da</strong>gógico, revelando suas distintas aptidões. Como<br />

assinala Vasconcelos (2004, p. 8)<br />

[...] Compreen<strong>de</strong>u-se que o mundo natural e o <strong>de</strong> conhecimentos reúnem uma<br />

complexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>safia o indivíduo a <strong>de</strong>monstrar o seu saber-fazer. Para isso,<br />

ele necessita ativar a <strong>inteligência</strong> a partir do que apren<strong>de</strong>u e <strong>de</strong>senvolveu em seu<br />

c<strong>é</strong>rebro. Portanto, para gerar o máximo <strong>da</strong> cognição, <strong>é</strong> preciso projetar processos<br />

educativos que se originam <strong>de</strong> novas paisagens <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong>.<br />

28


De acordo com o exemplo acima exposto, queremos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que, os <strong>de</strong>safios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

humana impõem condições <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação, e, sobretudo, <strong>de</strong> transformação, <strong>de</strong>safiando a<br />

utilização <strong>de</strong> nossas múltiplas <strong>inteligência</strong>s.<br />

Morin (1999, p. 197-198), pensa em 15 quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s inteligentes que po<strong>de</strong>m ser<br />

utiliza<strong>da</strong>s como capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> humana, <strong>de</strong>ntre elas <strong>de</strong>stacamos apenas sete por melhor<br />

<strong>de</strong>screverem explicitamente a concepção <strong>de</strong> <strong>inteligência</strong> abor<strong>da</strong><strong>da</strong> nesta pesquisa, como<br />

aptidões <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> alfabetizadora eficaz na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA:<br />

1) [...] A aptidão para utilizar o acaso para fazer <strong>de</strong>scobertas e a aptidão para<br />

<strong>de</strong>monstrar perspicácia em situações inespera<strong>da</strong>s;<br />

2) A aptidão sherlock-holmesiana para reconstituir [...] um acontecimento ou um<br />

fenômeno a partir <strong>de</strong> rastros ou <strong>de</strong> índices fragmentários;<br />

3) Aptidão para conjecturar sobre o futuro, consi<strong>de</strong>rando as diferentes<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, [...] consi<strong>de</strong>rando incertezas e o surgimento do imprevisível;<br />

4) Aptidão para enriquecer, <strong>de</strong>senvolver, modificar a estrat<strong>é</strong>gia em função <strong>da</strong>s<br />

informações recebi<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> experiência adquiri<strong>da</strong>;<br />

5) Aptidão para reconhecer o novo sem o reduzir aos esquemas do conhecido e a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> situar o novo em relação ao conhecido;<br />

6) Aptidão para enfrentar/superar situações novas e a aptidão para inovar <strong>de</strong>ntro do<br />

apropriado;<br />

7) Aptidão para reconhecer o impossível, discernir o possível e elaborar roteiros<br />

associando o inevitável e o <strong>de</strong>sejável.<br />

A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana não se restringe aos conceitos já elaborados, ao<br />

contrário, ela existe atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>s experiências peculiares <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um, em condições surgi<strong>da</strong>s<br />

num <strong>de</strong>terminado momento histórico. A <strong>inteligência</strong> nesse sentido <strong>é</strong>, não apenas científica,<br />

mas oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> experiência <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, sendo ela tamb<strong>é</strong>m aberta, intuitiva, criativa e curiosa. É<br />

nesta direção que po<strong>de</strong> permear uma <strong>prática</strong> inteligente na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos,<br />

cabendo ao educador e a educadora i<strong>de</strong>ntificar suas <strong>inteligência</strong>s, exercitá-las e <strong>de</strong>senvolvêlas<br />

no processo ensino aprendizagem, reconhecendo-as como aspectos inteligentes <strong>da</strong> <strong>prática</strong><br />

educativa.<br />

2.2 Aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> educativa: abertura, intuição,<br />

criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

A <strong>inteligência</strong> humana tem sido analisa<strong>da</strong> em seus múltiplos significados e <strong>é</strong> ain<strong>da</strong> um<br />

universo plástico, num processo <strong>de</strong> contínua renovação, que caminha <strong>de</strong> acordo com as<br />

exigências <strong>da</strong> contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>. É nesse diverso e complexo movimento que a <strong>inteligência</strong><br />

29


<strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa navega, tendo em vista que ela <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r as<br />

exigências do mundo atual, que reclama novas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s no fazer pe<strong>da</strong>gógico.<br />

É nessa direção acima exposta, que a <strong>prática</strong> alfabetizadora po<strong>de</strong> trilhar. Cabe assim,<br />

ao educador e a educadora <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, atrav<strong>é</strong>s do amadurecimento<br />

<strong>de</strong> seus saberes constituídos por meio <strong>de</strong> suas experiências, tornar-se apto para ser mais<br />

aberto, intuitivo, criativo e curioso em sua ação educacional. To<strong>da</strong>via, esta só terá sentido<br />

nessa dimensão, se valorizar os saberes pr<strong>é</strong>vios do educando, constituídos atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> sua<br />

<strong>prática</strong> social, reconhecendo suas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Assim, o <strong>segredo</strong> <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa inteligente está no saber fazer uma <strong>prática</strong><br />

pe<strong>da</strong>gógica, capaz <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r aos interesses básicos dos educandos, valorizando suas<br />

experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, pois tanto o educando, quanto o próprio educador, são frutos (corpos) <strong>de</strong><br />

sua <strong>prática</strong> social, <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> cotidiana, que envolve seus anseios pessoais, seus sabores e<br />

dissabores, sua relação com o mundo. Essa <strong>prática</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>é</strong> inseparável <strong>da</strong> <strong>prática</strong><br />

profissional e assim, <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa.<br />

Nesse sentido, inspirados em <strong>de</strong>ntre outros, Morin, Gonçalves, Assmann, Freire e<br />

Alencar, consi<strong>de</strong>ramos nesta pesquisa, quatro aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana que<br />

<strong>de</strong>stacamos como fun<strong>da</strong>mentais à <strong>prática</strong> educativa do(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong><br />

jovens e adultos.<br />

O primeiro aspecto refere-se a uma <strong>prática</strong> educativa Aberta, frisamos nesse sentido, a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos ter uma postura flexível e<br />

atenta às transformações do mundo contemporâneo, sendo capaz <strong>de</strong> modificar e modificar-se,<br />

<strong>de</strong> aceitar o novo. Isso não quer dizer que, esta condição <strong>de</strong> flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>é</strong> <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aos fatos, significa, sobretudo, está atento ao novo. Pois, <strong>é</strong> necessário ter clareza do contexto<br />

histórico que envolve aspectos político, econômico, social, educacional e cultural <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado tempo e espaço, repleto <strong>de</strong> acontecimentos surpresas, que abalam as estruturas<br />

vigentes, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando incertezas e mu<strong>da</strong>nças. É necessário assim, está pronto para inteligir<br />

e captar essas transformações. Como assinala Morin (2003, p.16)<br />

Seria preciso ensinar princípios <strong>de</strong> estrat<strong>é</strong>gias que permitiriam enfrentar os<br />

imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu <strong>de</strong>senvolvimento, em<br />

virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s informações adquiri<strong>da</strong>s ao longo do tempo. É preciso apren<strong>de</strong>r a<br />

navegar em um oceano <strong>de</strong> incertezas em meio a arquip<strong>é</strong>lagos <strong>de</strong> certezas.<br />

[...] É necessário que todos os que se ocupam <strong>da</strong> educação constituam a vanguar<strong>da</strong><br />

ante a incerteza <strong>de</strong> nossos tempos”.<br />

30


É importante que o(a) educador(a), esteja tamb<strong>é</strong>m alerta nesta <strong>prática</strong> aberta, num<br />

estado <strong>de</strong> busca, à espera e à procura do novo, do inesperado, do imprevisível. “Apren<strong>de</strong>r a<br />

viver em alerta traz uma gran<strong>de</strong> vantagem: po<strong>de</strong>-se partilhar uma <strong>da</strong>s maiores invenções <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reter preciosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do que se vê e do que se sente a partir dos lugares<br />

mais improváveis” (GONÇALVES, 2003, p.10). Esta posição <strong>de</strong> prontidão permite ao<br />

educador e à educadora obter pistas que indiquem o caminho a ser trilhado em seu fazer<br />

pe<strong>da</strong>gógico, superando suas limitações <strong>prática</strong>s, teóricas e i<strong>de</strong>ológicas, <strong>de</strong>safiando-se e<br />

refazendo-se num exercício cotidiano e renovador <strong>de</strong> seu tempo. Sobre essa questão Morin<br />

(2003, p. 30) ressalta que<br />

O inesperado surpreen<strong>de</strong>-nos. É que nos instalamos <strong>de</strong> maneira segura em nossas<br />

teorias e id<strong>é</strong>ias, e estas não têm estrutura para acolher o novo. Entretanto, o novo<br />

brota sem parar. Não po<strong>de</strong>mos jamais prever como se apresentará, mas <strong>de</strong>ve-se<br />

esperar sua chega<strong>da</strong>, ou seja, esperar o inesperado [...]. E quando o inesperado se<br />

manifesta, <strong>é</strong> preciso ser capaz <strong>de</strong> rever nossa teoria e id<strong>é</strong>ias, em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o fato<br />

novo entrar à força na teoria incapaz <strong>de</strong> recebê-lo.<br />

Quando falamos do novo, lembramos <strong>de</strong> um termo que está sendo usado<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>: NEOFILIA, que quer dizer literalmente “amor ao novo. No<br />

sentido positivo significa a disposição <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptar-se à situações e circunstâncias novas. O<br />

gosto pelo novo, pela mu<strong>da</strong>nça, <strong>é</strong> palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m na seleção profissional” (ASSMANN,<br />

2004, p. 28).<br />

Esse entendimento acima exposto revela que, o ser humano precisa viver neste estado<br />

<strong>de</strong> busca do novo, especialmente quando nos referimos à educação e especificamente à<br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos que requer, diante <strong>de</strong> sua peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>, um trabalho<br />

competente que possa não apenas atrair jovens e adultos para a escola, mas, sobretudo, que os<br />

faça permanecer nela. Assim, o prazer pelo novo, a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou ain<strong>da</strong> a neofilia<br />

impulsionam, estimulam, colaboram para o <strong>de</strong>senvolvimento individual e coletivo,<br />

proporcionando o <strong>de</strong>sejo insaciável <strong>de</strong> querer saber mais, como diz Archanjo (Apud<br />

ASSMANN, op. cit. p. 37) “<strong>de</strong>sejando algo mais: a cor <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> cor”.<br />

Assim, como ressalta Assmann (2004, p. 30), o gosto pelo novo “<strong>é</strong> muito mais que um<br />

fator individual que potencializa o crescimento pessoal. É tamb<strong>é</strong>m um fator social<br />

imprescindível às culturas vivas e aos sistemas dinâmicos” <strong>é</strong> situar-se melhor no mundo. A<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> contemporânea, em constante estado <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças e inovações, exige do sujeito<br />

atitu<strong>de</strong>s e comportamentos <strong>de</strong> busca, em qualquer área <strong>de</strong> conhecimento, para que ele se torne<br />

capaz <strong>de</strong> participar ativamente <strong>de</strong> sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

31


O segundo aspecto <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa inteligente <strong>é</strong> a Intuição. A <strong>inteligência</strong><br />

intuitiva permite ao educador e a educadora <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, perceber<br />

rapi<strong>da</strong>mente, no movimento <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong> educativa, algo que está por vir. Essa intuição<br />

<strong>de</strong>sperta uma condição <strong>de</strong> abdução que, torna o sujeito capaz <strong>de</strong> absorver, <strong>de</strong> raptar o<br />

conhecimento em sua mente, antes mesmo <strong>de</strong>le emergir claramente. Como assinala<br />

Gonçalves, trata-se <strong>de</strong> uma “disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> abdutiva <strong>da</strong> mente humana capaz <strong>de</strong> permitir que<br />

sua imaginação e investigação adiantem um cenário e com certa coerência para <strong>da</strong>r conta dos<br />

aspectos obscuros <strong>da</strong> <strong>prática</strong>” (2003, p. 21).<br />

No entanto, <strong>é</strong> preciso compreen<strong>de</strong>r que para intuir sobre algo ou alguma coisa <strong>é</strong><br />

preciso antes ter uma id<strong>é</strong>ia ou conhecimento sobre o que se preten<strong>de</strong> fazer. Mas, essa<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “prever” o que po<strong>de</strong>rá acontecer no exercício do processo ensinoaprendizagem,<br />

em meio a esse movimento do fazer pe<strong>da</strong>gógico, só será possível se antes<br />

existir um saber, um planejamento <strong>de</strong>sse saber preparando-se para a <strong>prática</strong> com uma<br />

finali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como diz Freire (1992, p. 84)<br />

Planejar a <strong>prática</strong> significa ter uma id<strong>é</strong>ia clara dos objetivos que queremos alcançar<br />

com ela. Significa ter um conhecimento <strong>da</strong>s condições que vamos atuar, dos<br />

instrumentos e dos meios <strong>de</strong> que dispomos [...] Planejar significa prever os prazos,<br />

os diferentes momentos <strong>de</strong> ação que <strong>de</strong>ve estar sempre sendo avalia<strong>da</strong>. (grifos<br />

nossos)<br />

É imprescindível que o(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos perceba<br />

que estu<strong>da</strong>ndo, preparando-se para atuar no processo ensinar-apren<strong>de</strong>r, ele(a) obt<strong>é</strong>m uma<br />

maturi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que o(a) conduz para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas id<strong>é</strong>ias e convicções, po<strong>de</strong>ndo<br />

produzir uma <strong>inteligência</strong> intuitiva, que permitirá fluir sua maneira, sua forma particular <strong>de</strong><br />

exercer sua <strong>prática</strong> educativa. Nesse sentido, o educador(a) utiliza sua percepção <strong>de</strong> mundo,<br />

sua astúcia, argúcia no processo ensino-aprendizagem.<br />

Essa <strong>inteligência</strong> intuitiva na <strong>prática</strong> educativa nos faz pensar “a educação a partir <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana intrínseca (que não po<strong>de</strong> esperar) <strong>de</strong> estar apren<strong>de</strong>ndo” (GONÇALVES,<br />

op. cit. p.13), nos fazendo reportar naturalmente aos primeiros passos <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> na terra,<br />

quando homens e mulheres pr<strong>é</strong>-históricos sobreviviam atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação<br />

(flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong>), <strong>da</strong> intuição e <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> inventiva, para garantir suas vi<strong>da</strong>s.<br />

Portanto, esta <strong>inteligência</strong> se encontra presente em diversos e distantes contextos<br />

históricos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras aparições <strong>da</strong> esp<strong>é</strong>cie humana na terra, at<strong>é</strong> o momento atual,<br />

atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> invenções e habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s cria<strong>da</strong>s para garantir a sua sobrevivência. É o caso dos<br />

coletores, caçadores, navegadores, <strong>de</strong>tetives, jagunços que se a<strong>da</strong>ptam a <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s<br />

32


situações, que com sua experiência, seguem intuitivamente pistas que lhe possibilitam<br />

alcançar o alvo <strong>de</strong>sejado. Sobre essa questão Gonçalves (op. cit. p. 14) ain<strong>da</strong> assinala<br />

Cenários e autores possíveis, imaginários, tão <strong>de</strong>siguais [...]. Espaços e tempos<br />

singulares, distanciados entre si. Em to<strong>da</strong>s estas circunstâncias <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio à<br />

<strong>inteligência</strong> humana <strong>de</strong>sponta uma ausculta sensível, uma arte aberta às incertezas,<br />

ao que não se sabe, ao que não se entrega facilmente ao acúmulo dos saberes já<br />

instituídos e facilmente alinhavados nos livros e enciclop<strong>é</strong>dias.<br />

O terceiro aspecto <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> <strong>prática</strong> educativa na alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos <strong>é</strong> a Criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que necessita ser mais bem utiliza<strong>da</strong> no fazer pe<strong>da</strong>gógico. No<br />

entanto, há algo que precisa ser <strong>de</strong>smistificado, pois, geralmente quando se fala em<br />

criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> na educação, logo se pensa em dois fatores: primeiro, lembra-se <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong><br />

jogos, brinca<strong>de</strong>iras, músicas, t<strong>é</strong>cnicas artísticas; e, segundo, lembra-se <strong>da</strong> id<strong>é</strong>ia <strong>de</strong> que ter<br />

criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> intuitiva <strong>é</strong> um dom e privil<strong>é</strong>gio <strong>de</strong> poucos (ALENCAR, 1990, p. 26). Esta <strong>é</strong> uma<br />

visão limita<strong>da</strong> do termo. A <strong>inteligência</strong> criativa amplia to<strong>da</strong> essa percepção. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, ela<br />

significa o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão, análise e crítica, a fim <strong>de</strong> preparar o<br />

indivíduo para que seja um solucionador <strong>de</strong> problemas, <strong>de</strong>ixando-o disposto para enfrentar<br />

situações imprevisíveis na escola e na vi<strong>da</strong>.<br />

Ser criativo <strong>é</strong> ser um bom solucionador <strong>de</strong> problemas, <strong>é</strong> ser capaz <strong>de</strong> enxergar algo que<br />

algu<strong>é</strong>m ain<strong>da</strong> não enxergou, <strong>é</strong> ser capaz <strong>de</strong> fazer algo que algu<strong>é</strong>m ain<strong>da</strong> não fez.<br />

Assim, especialmente neste s<strong>é</strong>culo XXI, quando estamos vivendo momentos <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s e rápi<strong>da</strong>s transformações tecnológicas, cibern<strong>é</strong>ticas, virtuais, na medicina, na<br />

engenharia, na eletrônica, na informática, na gen<strong>é</strong>tica, que trazem exigências e <strong>de</strong>safios nas<br />

atitu<strong>de</strong>s humanas, cobrando do profissional melhor qualificação e <strong>de</strong>sempenho no trabalho. O<br />

profissional <strong>da</strong> educação não po<strong>de</strong> fugir <strong>de</strong>sse cenário, ao contrário, como educador(a) que<br />

trabalha com várias ciências e níveis educacionais, <strong>é</strong> necessário <strong>de</strong>senvolver sua criativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

neste universo <strong>de</strong>safiador, “uma vez que não basta ensinar o que <strong>é</strong> conhecido. É tamb<strong>é</strong>m<br />

necessário preparar o aluno para questionar, refletir e criar” (ALENCAR, 1990, p. 13). Tudo<br />

isso exige do(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>prática</strong>s mais inteligentes,<br />

questionadoras, reflexivas e criativas.<br />

Quando se trata <strong>da</strong> <strong>prática</strong> alfabetizadora <strong>de</strong> jovens e adultos, essas exigências acima<br />

expostas, se tornam mais <strong>de</strong>safiadoras, pois diante <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças do mundo atual, o educando<br />

<strong>de</strong>ssa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino precisa <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que ultrapassem o domínio <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong><br />

escrita; necessita <strong>de</strong> um fazer pe<strong>da</strong>gógico que use <strong>de</strong> artimanhas diversas, estimulando suas<br />

33


potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, preparando-os para uma melhor inclusão no mundo letrado.<br />

Sobre essa questão Alencar (Ibid. p. 13) assinala<br />

Observa-se tamb<strong>é</strong>m, no mundo atual, [...] uma preocupação em expandir e<br />

aproveitar o talento e o potencial presente em ca<strong>da</strong> indivíduo, a par <strong>de</strong> uma<br />

consciência crescente <strong>de</strong> que a solução para os problemas enfrentados exige muito<br />

esforço, talento e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Conseqüentemente, aqueles grupos ou instituições<br />

que souberem aproveitar o que existe <strong>de</strong> melhor em seus recursos humanos levarão<br />

uma gran<strong>de</strong> vantagem.<br />

O educando jovem e adulto tem gran<strong>de</strong>s potenciais que precisam ser <strong>de</strong>scobertos,<br />

revelados, explorados, estimulados e reconhecidos, para isso <strong>é</strong> importante que o(a)<br />

educador(a) tamb<strong>é</strong>m se <strong>de</strong>scubra, utilizando suas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s criativas como um fator<br />

inteligente no processo ensino-aprendizagem, e assim, em conjunto com outras <strong>inteligência</strong>s,<br />

realizar uma <strong>prática</strong> mais dinâmica e eficiente.<br />

O quarto aspecto <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> educativa <strong>é</strong> a Curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que<br />

nesta pesquisa, está relaciona<strong>da</strong> àquela pessoa que anseia apren<strong>de</strong>r, que se interessa em<br />

pesquisar aquilo que não sabe, <strong>de</strong>svelando conhecimentos. A curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>é</strong> a força impulsora<br />

que estimula algu<strong>é</strong>m a apren<strong>de</strong>r, como assinala Gelber, citado por Assmann (2004, p. 21)<br />

“todos os seres humanos nascem com o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r”. Este <strong>de</strong>sejo natural imbuído nas<br />

pessoas <strong>de</strong> querer saber <strong>é</strong> o que po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana. Assmann (Ibid, p.<br />

26-27) cita alguns conceitos consi<strong>de</strong>rados simples <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, como parte importante <strong>da</strong><br />

<strong>inteligência</strong> humana:<br />

A curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> representa a base <strong>da</strong> disposição para apren<strong>de</strong>r, <strong>da</strong> busca do<br />

conhecimento. É, portanto, uma dimensão marcante <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong>. Existem muitas<br />

pessoas que conseguem preservar uma curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> positiva ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a sua<br />

vi<strong>da</strong>. A curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> <strong>de</strong> uma criança são<br />

incentivados quando se dá atenção às suas perguntas [...].<br />

Para compreen<strong>de</strong>rmos melhor a importância <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> como um aspecto <strong>da</strong><br />

<strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> educativa, selecionamos três fatores que estão interligados: 1-<br />

a importância do tema curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>; 2- a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> como necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para<br />

qualificação profissional; 3- a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> no fazer pe<strong>da</strong>gógico.<br />

Nesses anos iniciais do s<strong>é</strong>culo XXI a importância do tema curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> tem sido<br />

discuti<strong>da</strong> em diversas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s: educacional, empresarial, religiosa, artística <strong>de</strong>ntre outras.<br />

Temos encontrado o termo curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> usado em vários contextos, com os seguintes tópicos:<br />

“A curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>: base <strong>da</strong> inovação; Curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>; Curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> acadêmica e<br />

34


disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e se<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento, curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e fantasia; a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>é</strong> o<br />

melhor recurso para a inovação” (ASSMANN, 2004, p.18-20).<br />

No entanto, vale ressaltar que a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> possui categoricamente uma compreensão<br />

pejorativa <strong>de</strong> seu termo. Geralmente em seu uso cotidiano, temos a id<strong>é</strong>ia, que a pessoa curiosa<br />

<strong>é</strong> aquela que se interessa pela vi<strong>da</strong> alheia, <strong>é</strong> a popularmente conheci<strong>da</strong> por “fofoqueira”, que<br />

tem o costume <strong>de</strong> “se meter on<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ve”. Esta id<strong>é</strong>ia prevaleceu – e ain<strong>da</strong> prevalece -<br />

durante muito tempo nas mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s pessoas, sendo at<strong>é</strong> ofensa ser chamado <strong>de</strong> curioso.<br />

Assmann (Ibid, p. 24) fala sobre isso assinalando que, “a palavra curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> tamb<strong>é</strong>m se<br />

aplica a atitu<strong>de</strong>s e hábitos socialmente nocivos, como a fofoca, a xeretice e, a mania <strong>de</strong> meter<br />

o be<strong>de</strong>lho [...] on<strong>de</strong> não conv<strong>é</strong>m, etc”. Contudo, esta percepção vem gra<strong>da</strong>tivamente<br />

mu<strong>da</strong>ndo, a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> está sendo usa<strong>da</strong> ca<strong>da</strong> vez mais <strong>de</strong> forma positiva, em vários setores<br />

profissionais e em especial na educação.<br />

A curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> como requisito para a qualificação profissional tem hoje gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staque. No atual momento histórico, quando falamos em bons profissionais, nos referimos<br />

àquelas pessoas que têm qualificação, isto <strong>é</strong>, que provaram no mercado <strong>de</strong> trabalho maior<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, como <strong>de</strong>screve Bunge (Apud Assmann, 2004, p. 18) “quem <strong>de</strong>seja<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r seu lugar <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>ve melhorar sua competência, isto <strong>é</strong>, <strong>de</strong>ve continuar<br />

apren<strong>de</strong>ndo”. Dessa forma, o(a) educador(a) que <strong>de</strong>seja apren<strong>de</strong>r, <strong>é</strong> caracterizado(a) como um<br />

ser curioso, consciente <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser um eterno apren<strong>de</strong>nte. “O significado básico <strong>de</strong><br />

curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>é</strong> o <strong>de</strong>sejo intenso <strong>de</strong> ver, ouvir, saber, experimentar alguma coisa” (ASSMANN,<br />

op.cit. p. 24).<br />

A curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> no fazer pe<strong>da</strong>gógico tem um sentido <strong>de</strong> investigação do saber, como<br />

uma disposição <strong>de</strong> buscar o apren<strong>de</strong>r, on<strong>de</strong> o(a) educador(a) procura continuamente conhecer<br />

mais, para fazer mais e melhor, envolvendo nesse movimento <strong>de</strong> busca curiosa, o<br />

conhecimento dos saberes do educando. Sobre essa questão Foucaut (Apud ASSMANN,<br />

2004, p. 186) lembra que<br />

Existe aqui uma super abundância <strong>de</strong> coisas que precisam ser conheci<strong>da</strong>s:<br />

fun<strong>da</strong>mentais, terríveis, maravilhosas, diverti<strong>da</strong>s, insignificantes e, ao mesmo<br />

tempo, cruciais. Existe uma enorme curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

conhecer [...].<br />

Ain<strong>da</strong> sobre essa questão Freire (1996, p. 95-96) pensa<br />

35


Como professor <strong>de</strong>vo saber que sem curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> que me move, que me inquieta, que<br />

me insere na busca, não aprendo nem ensino. Exercer a minha curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> forma<br />

correta <strong>é</strong> um direito que tenho como gente e a que correspon<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> lutar por<br />

ele, o direito a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Antes <strong>de</strong> qualquer tentativa <strong>de</strong> discussão <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas, <strong>de</strong> materiais, <strong>de</strong> m<strong>é</strong>todos para<br />

uma aula dinâmica assim, <strong>é</strong> preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache<br />

‘repousado’ no saber <strong>de</strong> que a pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>é</strong> a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> do ser humano. É<br />

ela que me faz perguntar, conhecer, atuar, mais perguntar, re-conhecer.<br />

Nesse sentido, Assmann (2004. p.16) lembra duas falas relaciona<strong>da</strong>s ao exercício <strong>da</strong><br />

curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> na educação, que vale a pena ressaltar: A primeira <strong>é</strong> a do exemplo do Primeiro-<br />

Ministro <strong>da</strong> Alemanha, Gerhard Schoröo<strong>de</strong>r e a segun<strong>da</strong>, <strong>é</strong> o exemplo <strong>da</strong> Ministra <strong>da</strong><br />

Educação tamb<strong>é</strong>m <strong>da</strong> Alemanha, E<strong>de</strong>lgard Bulmahn. Estas falas foram registra<strong>da</strong>s<br />

oficialmente no Congresso Nacional <strong>de</strong> 2003 dizendo <strong>de</strong>ntre outros aspectos<br />

__As escolas e instituições <strong>de</strong> formação precisam novamente promover a<br />

curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a se<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento e o pensamento próprio, em vez <strong>de</strong> produzir o<br />

estresse emocional e psíquico [...]. (grifo do autor)<br />

__Precisamos <strong>de</strong> escolas, nas quais as nossas crianças possam apren<strong>de</strong>r com<br />

alegria e curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se mantenha viva a sua se<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento. (grifo<br />

do autor)<br />

Queremos com isso, provocar uma reflexão sobre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do(a) educador(a) <strong>da</strong><br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos se i<strong>de</strong>ntificar como um ser curioso, como um ser apren<strong>de</strong>nte,<br />

que precisa estar sempre à procura <strong>de</strong> conhecimentos para construir uma <strong>prática</strong> competente,<br />

<strong>de</strong>spertando no educando o ser curioso que tamb<strong>é</strong>m o habita. Essa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser curioso<br />

faz lembrar o <strong>de</strong>poimento do aluno Davi quando “[...] aprendo tudo observando, tem que<br />

curiar e saber curiar”.<br />

Curiar <strong>de</strong>monstra, não apenas, uma disposição <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r para supostamente fazer,<br />

mas tamb<strong>é</strong>m, <strong>de</strong>monstra a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> humana <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver estrategicamente um<br />

mecanismo <strong>de</strong> observação que leve o indivíduo ao conhecimento <strong>de</strong>sejado. “O exercício <strong>da</strong><br />

curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> a faz mais criticamente curiosa, mais metodicamente ‘perseguidora’ do seu<br />

objeto. Quanto mais curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> espontânea se intensifica, mais, sobretudo, se ‘rigoriza’,<br />

tanto mais epistemologicamente vai se tornando” (FREIRE, 1996, p. 97).<br />

Vale ressaltar, que esta curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando, acima <strong>de</strong>stacado, <strong>de</strong>ve tamb<strong>é</strong>m<br />

pertencer ao educador e à educadora, pois <strong>é</strong> atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong>le(a), por meio <strong>de</strong> seu direcionamento,<br />

que o processo ensino-aprendizagem caminha, como diz Reboul (Apud ASMANN, op. cit. p.<br />

27) “a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> não <strong>é</strong> apenas um incentivo: <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m algo a ser aprendido e cultivado”.<br />

Nesse sentido, lembramos do pensamento <strong>de</strong> um autor <strong>de</strong>sconhecido “Nós crescemos<br />

não <strong>de</strong> resposta em resposta, mas <strong>de</strong> pergunta em pergunta”. A curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> nos leva a<br />

36


perguntar, questionar, procurar, caminhar por novos horizontes, realizando novas <strong>de</strong>scobertas.<br />

Essa <strong>é</strong> uma trajetória propulsora do apren<strong>de</strong>r, que <strong>de</strong>ve está sempre presente como um aspecto<br />

inteligente do fazer pe<strong>da</strong>gógico, como diz Freire (1996, p. 99) “Um dos saberes fun<strong>da</strong>mentais<br />

à minha <strong>prática</strong> educativo-crítica <strong>é</strong> o que me adverte <strong>da</strong> necessária promoção <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

espontânea e epistemológica”.<br />

O <strong>de</strong>sejo natural <strong>de</strong> querer saber, proporciona um conhecimento mais profundo e<br />

sistematizado. É a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> curiosa que leva a uma maior compreensão <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r ca<strong>da</strong> vez mais. “Satisfeita uma curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

inquietar-me e buscar continua em p<strong>é</strong>. Não haveria existência humana sem a abertura <strong>de</strong><br />

nosso ser ao mundo, sem a transitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa consciência” (FREIRE, 1996, p. 98).<br />

Importante compreen<strong>de</strong>r que, o educando jovem e adulto <strong>é</strong> num contexto geral<br />

produto <strong>da</strong> injustiça social, que foi impedido por diversos fatores <strong>de</strong> freqüentar a escola,<br />

sentindo-se muitas vezes <strong>de</strong>sacreditado por si mesmo e pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por isso, insistimos<br />

em <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do(a) educador(a) se preocupar com a utilização <strong>de</strong> um saber fazer<br />

inteligente: aberto, intuitivo, criativo e curioso, que aten<strong>da</strong> as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong>ssa<br />

população. Como assinala Garcia (1996, p. 15)<br />

No Brasil, o que tamb<strong>é</strong>m observamos, <strong>é</strong> que muitos <strong>de</strong>sconhecem que o potencial<br />

presente no ser humano <strong>é</strong> imenso [...] permanecendo muitas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s inibi<strong>da</strong>s e<br />

bloquea<strong>da</strong>s por falta <strong>de</strong> estímulo, <strong>de</strong> encorajamento e <strong>de</strong> um ambiente favorável a<br />

seu <strong>de</strong>senvolvimento [...]<br />

Levando em consi<strong>de</strong>ração os aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> educativa,<br />

o(a) educador(a) <strong>de</strong>senvolve uma <strong>prática</strong> confiável e confiante que o(a) chama à<br />

responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> importância do ato <strong>de</strong> educar com eficiência, acreditando no emergir do<br />

conhecimento e do re-conhecimento do educando.<br />

Dessa forma, ain<strong>da</strong> queremos mostrar que, o(a) alfabetizador(a) <strong>de</strong> jovens e adultos,<br />

conscientize-se <strong>de</strong> que, um <strong>segredo</strong> para possibilitar a aprendizagem do educando <strong>de</strong>ssa<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, está em optar por uma <strong>prática</strong> alfabetizadora inteligente, eficiente e<br />

capaz <strong>de</strong> encorajá-lo e estimulá-lo no apren<strong>de</strong>r a ler, a escrever e, sobretudo, a fazer a leitura<br />

<strong>de</strong> mundo, a ser atuante na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> a qual pertence.<br />

37


2.3 O <strong>segredo</strong> <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa inteligente<br />

O(a) educador(a) po<strong>de</strong> ensinar, contar, <strong>de</strong>screver a experiência do momento vivido,<br />

mas não po<strong>de</strong> oferecer o instante em que tudo se moveu na sua percepção, na sua <strong>prática</strong>. Este<br />

instante pertence a ele(a), <strong>é</strong> o seu <strong>segredo</strong>, <strong>é</strong> o seu jeito, <strong>é</strong> a sua forma peculiar <strong>de</strong> ser e fazer.<br />

Para isso a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> não <strong>é</strong> uma negação <strong>da</strong> práxis, <strong>é</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mobilizar teoria e <strong>prática</strong> nas circunstâncias imprevistas na sala <strong>de</strong> aula.<br />

O que queremos esclarecer com o termo <strong>segredo</strong>, <strong>é</strong> mostrar que na <strong>prática</strong> educativa<br />

tem, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> outros fatores, algo característico <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> educador(a), que se move no exercício<br />

<strong>de</strong> seu cotidiano com o educando, que não po<strong>de</strong> ser copiado ou <strong>da</strong>do como mo<strong>de</strong>lo. A forma<br />

que ca<strong>da</strong> educador(a) trabalha, seu jeito <strong>de</strong> ser e fazer, que o(a) faz agir intuitivamente,<br />

provisoriamente, abdutivamente 5 no momento do processo ensino-aprendizagem, <strong>é</strong> uma<br />

artimanha própria <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> educador(a), conduzindo o educando à aprendizagem. Assim, a<br />

<strong>prática</strong> educativa <strong>é</strong> um <strong>segredo</strong> singular <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> do(a) educador(a). Contudo,<br />

vale ressaltar que, não estamos aqui <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo uma <strong>prática</strong> educativa egoísta, individualista<br />

seria não apenas uma postura ingênua, mas sobretudo, equivoca<strong>da</strong>, pois as experiências<br />

retira<strong>da</strong>s <strong>de</strong>sses instantes, <strong>de</strong>ssas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>m ser partilha<strong>da</strong>s com o objetivo <strong>de</strong><br />

gerar novas <strong>inteligência</strong>s no fazer educativo <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

Dito <strong>de</strong> outro modo, o <strong>segredo</strong> <strong>é</strong> a condução <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, a forma como ca<strong>da</strong><br />

educador(a) atua em sua ação educativa com o educando, como ele(a) utiliza estrat<strong>é</strong>gias,<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua <strong>inteligência</strong> humana para aten<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse<br />

educando. Como assinala Lima (1965 p. 176) “<strong>é</strong> preciso que a alfabetização se apresente<br />

como um instrumento que, não <strong>de</strong>smerecendo o seu status, tenha valor <strong>de</strong> chave para a<br />

solução <strong>de</strong> sua problemática vital”.<br />

Assim, a compreensão do que seja o <strong>segredo</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, está na ação educativa dos(as)<br />

educadores(as), numa <strong>prática</strong> capaz, individual e coletiva, dinâmica, intuitiva, astuciosa,<br />

criativa, curiosa, envolvente, sensível, que vai se revelando no dia-a-dia, em conjunto com o<br />

educando, possibilitando-lhe um aprendizado <strong>de</strong> mundo, o re-conhecimento <strong>de</strong>sse mundo.<br />

Como assinala Cabe<strong>da</strong>, ao citar Azevedo (2004, p. 6), referindo-se ao avanço <strong>da</strong> tecnologia<br />

virtual “o <strong>segredo</strong> não está nem em normas, nem em tecnologias, está em pessoas, educadores<br />

capacitados para atuarem como animadores <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> coletiva em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s virtuais<br />

5 Uma condição abdutiva <strong>é</strong> estar apta para adiantar uma <strong>da</strong><strong>da</strong> situação antes que ela realmente aconteça, <strong>é</strong><br />

transformar uma coisa em outra, <strong>é</strong> um rapto, uma atitu<strong>de</strong> inteligente <strong>de</strong> abduzir uma compreensão.<br />

38


[...]”. É neste sentido que nos referimos à <strong>prática</strong> educativa na alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos.<br />

Nessa acepção, nota-se que o <strong>segredo</strong> <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa inteligente na<br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, não se encontra nos mo<strong>de</strong>los educacionais pr<strong>é</strong>estabelecidos,<br />

nem somente na utilização <strong>de</strong> tecnologias avança<strong>da</strong>s, se encontra,<br />

especialmente, no fazer dos(as) educadores(as) comprometidos com a eficiência do ensino.<br />

Pois <strong>alfabetizar</strong> no sentido mais amplo, como assinala Moura e Vóvio (op. cit. p. 7) significa:<br />

“[...] não reduzir a alfabetização apenas ao ‘saber ler e escrever’, mas [...] saber usar a leitura<br />

e a escrita em diferentes contextos [...] Comunicar-se”.<br />

Diante do exposto, <strong>é</strong> importante ressaltar que, não estamos nesta abor<strong>da</strong>gem<br />

<strong>de</strong>scartando a utilização <strong>de</strong> formas, exemplos ou paradigmas existentes na <strong>prática</strong><br />

alfabetizadora <strong>de</strong> jovens e adultos, nem a não utilização <strong>de</strong> tecnologias que se apresentam na<br />

contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>. O que se apresenta aqui, <strong>é</strong> que os m<strong>é</strong>todos <strong>da</strong> <strong>prática</strong> alfabetizadora<br />

sejam trabalhados numa <strong>prática</strong> inteligente, buscando alcançar resultados eficazes, pois o<br />

<strong>segredo</strong> está no saber fazer do(a) educador(a). E, para isso não há uma forma ou fórmula<br />

específica para que todos possam seguir, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> educador(a), <strong>de</strong> como ele(a)<br />

inteligentemente usa a abertura, a intuição, a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem como outros<br />

aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana, <strong>de</strong> como ele(a) vai atuar na <strong>prática</strong> com o educando, com o<br />

que já conhece e com o que ele(a) po<strong>de</strong> criar.<br />

O <strong>segredo</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, tamb<strong>é</strong>m se<br />

encontra em percebermos como educadores(as) que, o mundo exige <strong>de</strong> nós um exercício<br />

contínuo <strong>de</strong> análise e re-análise do nosso saber fazer, tornando-nos capazes <strong>de</strong> nos<br />

assumirmos como sujeitos abertos ao novo e ao porvir. Esta prontidão <strong>de</strong>safia o uso <strong>de</strong> nossas<br />

varia<strong>da</strong>s <strong>inteligência</strong>s. Sobre essa questão Vasconcelos (op. cit. p. 40) assinala:<br />

Apren<strong>de</strong>mos que esse mundo que elaboramos nos <strong>de</strong>safia a viver nele, não a<br />

dominá-lo, mas a viver com ele. O que nos <strong>é</strong> ofertado <strong>é</strong> a dádiva <strong>de</strong> sermos nós<br />

mesmo que, biologicamente programados, revelemos o potencial múltiplo <strong>de</strong> nossa<br />

<strong>inteligência</strong> e representamos o próprio mundo. Parece que o <strong>segredo</strong> estaria em<br />

conseguirmos ver que esse mundo guar<strong>da</strong> mist<strong>é</strong>rios que a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

c<strong>é</strong>rebro humano po<strong>de</strong> perceber (grifo nosso).<br />

Dessa forma, o <strong>segredo</strong> <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> inteligente está em utilizar varia<strong>da</strong>s estrat<strong>é</strong>gias<br />

e potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que colaborem no <strong>de</strong>senvolvimento do aprendizado do educando. Contudo,<br />

só será possível ter esta <strong>prática</strong> inteligente, se a abertura, a intuição, a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<br />

curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> do(a) educador(a) estiverem integrados as experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do educando no<br />

39


espaço escolar. Isto significa valorizar o conhecimento do educando na <strong>prática</strong> educativa,<br />

significa, sobretudo, encontrar um meio inteligente <strong>de</strong> integrá-lo com mais prazer no mundo<br />

letrado, sem <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar seu próprio mundo experiencial. Assim, o saber fazer do(a)<br />

educador(a) no processo ensinar-apren<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> ser um caminho para a aprendizagem do<br />

educando jovem e adulto.<br />

2.4 Reflexões acerca <strong>de</strong> saberes e fazeres no ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos<br />

Quando se faz educação, <strong>de</strong>ve-se pensar naturalmente na melhor maneira <strong>de</strong> exercê-la,<br />

<strong>de</strong> praticá-la, especialmente quando se refere ao ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos,<br />

que exige um saber fazer especial, por se tratar <strong>de</strong> pessoas a quem foi negado, durante muito<br />

tempo e por diversos fatores, o direito <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r, como assinala a professora entrevista<strong>da</strong><br />

Anita Garibaldi, “o aluno trabalhador [...] precisa <strong>de</strong> algo especial [...]”.<br />

O educando <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos precisa <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa que<br />

aten<strong>da</strong> suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> relação com o mundo, para que<br />

se torne um autêntico ci<strong>da</strong>dão e, sobretudo para que ele mesmo se perceba, como agente<br />

construtor <strong>de</strong> sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Assim, <strong>é</strong> no movimento do processo ensino-aprendizagem, nas<br />

experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, que educadores(as) e educandos constroem na cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar sua<br />

<strong>prática</strong> educativa.<br />

Contudo, <strong>é</strong> preciso compreen<strong>de</strong>r os limites e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa <strong>prática</strong> educativa,<br />

consi<strong>de</strong>rando o contexto sócio, político, econômico e cultural em que os sujeitos estão<br />

inseridos. E, tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> importante enten<strong>de</strong>r que na ação do(a) educador(a) se encontra sua<br />

visão <strong>de</strong> mundo e nela estão implícitas e explícitas as id<strong>é</strong>ias que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> e para quem as<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>. Como assinala Freire (2003, p. 46) “A compreensão dos limites <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong> indiscutivelmente a clari<strong>da</strong><strong>de</strong> política dos educadores com relação a sua proposta.<br />

Deman<strong>da</strong> que o educador assuma a politici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong>”.<br />

Assim, no cerne <strong>da</strong>s discussões sobre o ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos,<br />

vale salientar a percepção <strong>de</strong> mundo que o(a) educador(a) e a educadora revelam em sua<br />

<strong>prática</strong> educativa, <strong>de</strong>monstrando sua posição política frente aos acontecimentos sócioeducacionais<br />

na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> na qual estão inseridos. Como assinala Freire (2003, p. 47)<br />

40


Não posso reconhecer os limites <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa - política em que me envolvo<br />

se não sei, se não estou claro em face <strong>de</strong> a favor <strong>de</strong> quem pratico. O a favor <strong>de</strong> quem<br />

pratico me situa num certo ângulo, que <strong>é</strong> <strong>de</strong> classe, em que diviso o contra quem<br />

pratico e, necessariamente, o porquê pratico, isto <strong>é</strong>, o próprio sonho. O tipo <strong>de</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cuja invenção gostaria <strong>de</strong> participar.<br />

Nesse sentido, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong> forma como o sujeito compreen<strong>de</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a<br />

política, a escola, o trabalho, ele organiza para si sua concepção <strong>de</strong> mundo e, esta referenciará<br />

to<strong>da</strong> a sua <strong>prática</strong>. Assim, enten<strong>de</strong>-se por concepção <strong>de</strong> mundo o conjunto <strong>de</strong> saberes que<br />

conduz a i<strong>de</strong>ologia do indivíduo, numa relação que <strong>de</strong>termina seu fazer, que po<strong>de</strong>rá ser crítico<br />

ou acrítico, como ressalta Melo (In WEBER, 1993, p. 25)<br />

[...] o homem torna-se crítico consciente ou acrítico, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> suas relações<br />

com o mundo, com os outros homens e com as diferentes formas <strong>de</strong> ver e pensar a<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r certas crenças, certos princípios e valores sócio-culturais, o<br />

homem está construindo suas concepções <strong>de</strong> mundo.<br />

Dessa forma, o(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, com uma visão <strong>de</strong><br />

mundo crítica, se torna capaz <strong>de</strong> refletir sobre sua <strong>prática</strong>, apren<strong>de</strong>ndo a compreendê-la e a<br />

questioná-la atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> experiência <strong>de</strong> outros e <strong>de</strong> sua própria experiência <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

(consi<strong>de</strong>rando que na vi<strong>da</strong> já está inserido o profissional). É, especialmente por meio <strong>da</strong>s<br />

experiências do(a) educador(a), que se produz o saber fazer pe<strong>da</strong>gógico. Como diz Schön (In<br />

NÓVOA, 1992, p. 60), ao <strong>de</strong>stacar uma característica fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> profissão <strong>de</strong><br />

educador(a), “<strong>é</strong> uma profissão em que a própria <strong>prática</strong> conduz necessariamente à criação <strong>de</strong><br />

um conhecimento específico e ligado à ação, que só po<strong>de</strong> ser adquirido, atrav<strong>é</strong>s do contato<br />

com a <strong>prática</strong>, pois se trata <strong>de</strong> um conhecimento tácito, pessoal e não sistemático”.<br />

Sendo assim, o(a) educador(a) ao pensar seu saber fazer pe<strong>da</strong>gógico e suas<br />

experiências apreendi<strong>da</strong>s, constrói um conhecimento <strong>de</strong> si mesmo e <strong>de</strong> sua ação educativa,<br />

que lhe permite tornar-se aberto ao novo, compreen<strong>de</strong>ndo a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser flexível face às<br />

novas informações do mundo contemporâneo, estabelecendo condições <strong>de</strong> inteligir a real<br />

função do processo ensino-aprendizagem. Como assinalam Marland; Osborne (In NÓVOA,<br />

op. cit. p. 60), “esta nova perspectiva <strong>de</strong> análise <strong>da</strong> profissão docente tem vindo a <strong>de</strong>stacar a<br />

importância do estudo do pensamento prático do professor como fator que influencia e<br />

<strong>de</strong>termina sua <strong>prática</strong> <strong>de</strong> ensino”<br />

Este pensamento prático refere-se à compreensão que ca<strong>da</strong> educador(a), tem em<br />

particular do ensino, <strong>é</strong> uma forma peculiar <strong>da</strong> sua práxis educacional “verifica-se, assim, que<br />

os professores possuem teorias, (teorias <strong>prática</strong>s, implícitas, <strong>de</strong> ação) sobre o que <strong>é</strong> ensino.<br />

Estas teorias, que influenciam a forma como os professores pensam e atuam na aula,<br />

41


permanecem inconscientes para os professores ou poucos articulados internamente [...]” (Ibid.<br />

p. 60). É preciso que os(as) educadores(as) enten<strong>da</strong>m a importância <strong>de</strong> discutir o que pensam<br />

e o que fazem, em busca <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e aperfeiçoamento <strong>de</strong> um ensino-aprendizagem aberto a<br />

situações inusita<strong>da</strong>s.<br />

Ao preocupar-se a respeito do que pensa <strong>de</strong> sua ação no ambiente <strong>da</strong> escola, o(a)<br />

educador(a) apresenta em seu cotidiano escolar, uma <strong>prática</strong> educativa aberta e renovadora,<br />

permitindo possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> rever procedimentos, <strong>de</strong>spertando atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> erros e<br />

acertos, a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> para uma melhor <strong>prática</strong>. Como assinala Gómez (In NÓVOA, op. cit. p.<br />

110) “O profissional competente atua refletindo na ação, criando uma nova reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

experimentando, corrigindo e inventando atrav<strong>é</strong>s do diálogo que estabelece com essa mesma<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”.<br />

Queremos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que o(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, no<br />

processo ensino-aprendizagem encontra vários <strong>de</strong>safios exigindo, automaticamente, atitu<strong>de</strong>s<br />

que não estão previstas nos livros ou nos currículos pr<strong>é</strong>-estabelecidos, porque são<br />

provocações imprevisíveis que requerem, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> outros fatores, <strong>de</strong>sempenhos intuitivos e<br />

criativos. Como diz Gómez ao citar Schön (In NÓVOA, op. cit. 110)<br />

42<br />

Na vi<strong>da</strong> profissional, o professor <strong>de</strong>fronta-se com múltiplas situações para as<br />

quais não encontra respostas pr<strong>é</strong>-elabora<strong>da</strong>s e que não são suscetíveis <strong>de</strong> ser<br />

analisa<strong>da</strong>s pelo processo clássico <strong>de</strong> investigação científica. Na <strong>prática</strong><br />

profissional, o processo <strong>de</strong> diálogo com a situação <strong>de</strong>ixa transparecer aspectos<br />

ocultos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> divergente e cria novos marcos <strong>de</strong> referência, novas<br />

formas e perspectivas <strong>de</strong> perceber e <strong>de</strong> reagir.<br />

Desse modo, <strong>é</strong> necessário que, o(a) alfabetizador(a) <strong>de</strong> jovens e adultos seja capaz <strong>de</strong><br />

analisar e re-analisar sua <strong>prática</strong> docente, buscando um novo olhar sobre o que pensa e faz,<br />

sobre o que os outros pensam e fazem. E, <strong>de</strong>ssa forma, no exercício cotidiano com seu<br />

educando, encontra um novo saber fazer que, nunca ficará pronto e acabado, porque <strong>de</strong>ve ser<br />

sempre flexível ao contexto social, no qual está integrado. Nesse sentido, o(a) educador(a)<br />

têm que ser um pesquisador a fim <strong>de</strong> melhorar sua <strong>prática</strong> e ser sensível à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do<br />

educando. Como ressalta Garcia (1996, p. 22) “a investigação <strong>da</strong> professora <strong>é</strong> <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong><br />

sua preocupação em melhor ensinar e sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para compreen<strong>de</strong>r seus alunos e alunas,<br />

em melhor i<strong>de</strong>ntificar os fun<strong>da</strong>mentos teórico-epistemológico e i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong>”.<br />

O trabalho do(a) educador(a) tem to<strong>da</strong> uma organização anterior, teórica, reflexiva,<br />

metodológica, para que no exercício <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong>, seja capaz <strong>de</strong>, a partir do que já sabe, nas<br />

situações inespera<strong>da</strong>s que possam surgir no universo <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula, esteja apto para agir


coerentemente, numa postura aberta, atenta ao novo e ao imprevisível. É, como pensa Garcia<br />

(Ibid. p. 26), referindo-se à leitura <strong>de</strong> um texto artístico, “ca<strong>da</strong> autor vai aparecendo num<br />

momento oportuno, embora sempre estivesse esperando a hora <strong>de</strong> falar. São os nossos<br />

coringas, que não po<strong>de</strong>m ser gastos à toa [...]. O importante <strong>é</strong> não per<strong>de</strong>r a hora, e saber quem<br />

sabe faz a hora”.<br />

Queremos mostrar diante exposto, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos(as) educadores(as) construírem e<br />

<strong>de</strong>senvolverem saberes, <strong>inteligência</strong>s atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> suas teorias e experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, que lhes<br />

permitam uma construção <strong>de</strong> fazeres capazes, num movimento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m do<br />

ensinar-apren<strong>de</strong>r com seus educandos. A preocupação do(a) educador(a), em buscar um fazer<br />

melhor lhes proporcionará adquirir uma <strong>prática</strong> renovadora, intuitiva, criativa, <strong>da</strong>ndo-lhes<br />

condições <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r ao imprevisível no processo ensino-aprendizagem.<br />

Assim, ao caminhar na <strong>prática</strong>, o(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos,<br />

munidos <strong>de</strong> conhecimentos teórico e experiencial <strong>de</strong>vem estar abertos, flexíveis ao novo,<br />

características fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong> um fazer inteligente e capaz.<br />

Contudo, vale ressaltar que o saber fazer docente no ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens<br />

e adultos po<strong>de</strong>rá obter melhores resultados se estiverem em conexão com os saberes pr<strong>é</strong>existentes<br />

do educando. Estes se encontram em sua <strong>prática</strong> social, em sua experiência <strong>de</strong><br />

mundo que, se revela na sua orali<strong>da</strong><strong>de</strong>, como veremos no próximo capítulo.<br />

43


3 O EDUCANDO JOVEM E ADULTO CONSIDERADO A PARTIR DE<br />

SUA EXPERIÊNCIA DE MUNDO<br />

Neste capítulo, privilegiamos várias referências freireanas, acreditando serem elas<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>fensoras <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa inteligente na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

A inclusão <strong>da</strong>s várias obras <strong>de</strong> Paulo Freire nesta pesquisa e <strong>de</strong> modo especial neste capítulo,<br />

<strong>de</strong>ve ser entendi<strong>da</strong>, como um propósito mesmo <strong>de</strong> expô-las, a fim <strong>de</strong> ressaltar o seu legado<br />

educacional, especialmente no ensino <strong>da</strong> EJA, que sempre será lembrado na história <strong>da</strong><br />

educação brasileira, bem como na história <strong>da</strong> educação <strong>de</strong> vários países do mundo.<br />

A educação <strong>de</strong> jovens e adultos vem passando por diversas mu<strong>da</strong>nças ao longo do<br />

tempo, vivendo uma trajetória <strong>de</strong> profun<strong>da</strong>s reflexões em busca <strong>de</strong> melhores resultados,<br />

impondo aos alfabetizadores e às alfebetizadoras gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios na concretização <strong>de</strong> uma<br />

<strong>prática</strong> que sirva para a inclusão, a participação do educando, e sua compreensão do mundo<br />

letrado, consi<strong>de</strong>rando, sobretudo, seus saberes pr<strong>é</strong>vios. Tais saberes significam, os<br />

conhecimentos que o educando adquire por meio <strong>de</strong> sua vivência, fazendo-o perceber a<br />

violência, o <strong>de</strong>semprego, a fome, uma s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> situações que lhe permite a construção <strong>de</strong><br />

aprendizagens informais. Isto <strong>é</strong> o que ressalta a professora entrevista<strong>da</strong> Maria Quit<strong>é</strong>ria, ao<br />

referir-se a uma <strong>prática</strong> educativa na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos que valorize o<br />

conhecimento <strong>de</strong> mundo do educando. O educando, segundo ela “[...] não vem para a escola<br />

sabendo ler nem escrever, mas o que tem <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> po<strong>de</strong>-se <strong>da</strong>r uma aula”.<br />

Discutir sobre o conhecimento <strong>de</strong> mundo que, o educando jovem e adulto traz para a<br />

sala-<strong>de</strong>-aula <strong>é</strong> refletir como o(a) educador(a) po<strong>de</strong> aproveitar este potencial pr<strong>é</strong>vio na<br />

aprendizagem. A educação escolar, integra<strong>da</strong> aos saberes construídos no cotidiano do<br />

educando jovem e adulto, tem maior motivação, porque valoriza as experiências <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>,<br />

oferece condições para refazer sua leitura <strong>de</strong> mundo e, sobretudo, fazendo-o perceber-se como<br />

sujeito inteligente, capaz e participativo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

3.1 Saberes pr<strong>é</strong>vios e leitura <strong>de</strong> mundo<br />

A alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos vai construindo uma nova dimensão quando<br />

refletimos um saber fazer docente, numa percepção <strong>de</strong> valorização dos saberes constituídos no<br />

dia-a-dia do educando. De acordo com Freire (2003, p. 27),<br />

44


O conceito <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> adultos vai se movendo na direção do <strong>de</strong> educação<br />

popular na medi<strong>da</strong> em que a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> começa a fazer algumas exigências à<br />

sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e à competência científica dos educadores e <strong>da</strong>s educadoras. Uma<br />

<strong>de</strong>stas exigências tem que ver como a compreensão crítica dos educadores vem<br />

ocorrendo na cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> do meio popular. Não <strong>é</strong> possível a educadoras e<br />

educadores pensar apenas os procedimentos didáticos e os conteúdos a serem<br />

ensinados aos grupos populares. Os próprios conteúdos a serem ensinados não<br />

po<strong>de</strong>m ser totalmente estranhos àquela cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>. (grifos nossos).<br />

Nesta perspectiva, falar <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa do(a) educador(a) <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>é</strong><br />

falar, <strong>de</strong> um saber fazer concreto que vá al<strong>é</strong>m dos conteúdos, num trabalho crítico, que<br />

valorize efetivamente a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando, i<strong>de</strong>ntificando-o a partir <strong>de</strong> sua <strong>inteligência</strong> <strong>de</strong><br />

mundo. Como assinala a professora Anita Garibaldi:<br />

Alfabetizar <strong>é</strong> uma arte que não se apren<strong>de</strong> só nos livros, mas praticando,<br />

vivenciando, não <strong>é</strong> só ler e escrever, <strong>de</strong>ixando o aluno usar suas criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, suas<br />

opiniões. Educar <strong>é</strong> estar em contato com o aluno, observando, trabalhando <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno. Quando estou em sala <strong>de</strong> aula, estou conhecendo a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

meu aluno, suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Prática educativa <strong>é</strong> trabalhar minhas id<strong>é</strong>ias<br />

respeitando e ampliando as id<strong>é</strong>ias do aluno. (grifo nosso)<br />

Ao afirmar que <strong>alfabetizar</strong> <strong>é</strong> uma arte, e que esta por sua vez, só se apren<strong>de</strong><br />

vivenciando, Anita Garibaldi, nos faz lembrar Cunha (2006, p. 23), quando diz, “a arte, [...] <strong>é</strong><br />

passível <strong>de</strong> conhecimento, sendo <strong>de</strong>sta forma sujeita ao processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem.<br />

Este processo se dá quando envolvemos um outro aspecto: O fazer”. Biancho Filho (In<br />

CUNHA, op.cit. p.23.) diz “na medi<strong>da</strong> em que o fazer vai sendo concretizado, vai se<br />

<strong>de</strong>svelando em conhecimento”. Assim, esta tão importante arte <strong>de</strong> fazer conhecimento, <strong>é</strong><br />

própria não apenas do artista, mas tamb<strong>é</strong>m do(a) educador(a), que no movimento do seu fazer<br />

educativo produz em comunhão com o educando, o conhecimento, <strong>da</strong>ndo o melhor <strong>de</strong> si,<br />

como diz Barbosa (In CUNHA, 2006, p. 22) a “[...] arte representa o melhor trabalho do ser<br />

humano”.<br />

Ao tentar fazer o melhor na <strong>prática</strong> educativa, o(a) educador(a) ultrapassa os<br />

conteúdos pr<strong>é</strong>-elaborados e os pressupostos teóricos, não se limitando a eles, mas criando e<br />

re-criando seu fazer docente na vivência do ensinar-apren<strong>de</strong>r. Sobre essa questão Freire<br />

(op.cit.28) ressalta que<br />

A <strong>prática</strong> educativa reconhecendo-se como <strong>prática</strong> política, se recusa a <strong>de</strong>ixar-se<br />

aprisionar na estreiteza burocrática <strong>de</strong> procedimentos escolarizantes. Li<strong>da</strong>ndo com o<br />

processo <strong>de</strong> conhecer, a <strong>prática</strong> educativa <strong>é</strong> tão interessa<strong>da</strong> em possibilitar o ensino<br />

<strong>de</strong> conteúdos às pessoas quanto em sua conscientização.<br />

45


Dessa forma, na busca <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> conscientizadora, o(a) educador(a) <strong>da</strong><br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos precisa compreen<strong>de</strong>r que <strong>é</strong> possível unir as experiências <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong> dos educandos com os conteúdos dos currículos oferecidos pelo sistema formal <strong>de</strong> ensino<br />

<strong>da</strong> EJA, num esforço em facilitar o aprendizado <strong>de</strong> um novo mundo, mais consciente, mais<br />

participativo, mais inclusivo. Severino (In FREIRE, 2005, p. 8), ao referir a pe<strong>da</strong>gogia<br />

freireana, ressalta que “A leitura <strong>da</strong> palavra <strong>é</strong> sempre precedi<strong>da</strong> <strong>da</strong> leitura do mundo. E<br />

apren<strong>de</strong>r a ler, a escrever, <strong>alfabetizar</strong>-se <strong>é</strong>, antes <strong>de</strong> tudo, apren<strong>de</strong>r a ler o mundo,<br />

compreen<strong>de</strong>r o seu contexto [...] numa dinâmica que vincula linguagem com reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”.<br />

Entendi<strong>da</strong> <strong>de</strong>ssa forma e coloca<strong>da</strong> na <strong>prática</strong>, o ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos serve como meio <strong>de</strong> interação dos saberes escolares com os saberes oriundos <strong>da</strong>s<br />

experiências do educando. Estes conhecimentos constituem o que chamamos <strong>de</strong> saberes<br />

pr<strong>é</strong>vios, significando a compreensão que os jovens e adultos constroem ante a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

cultural, enxergando e vivendo a fome, o <strong>de</strong>semprego, a pobreza. Os saberes pr<strong>é</strong>vios <strong>é</strong> a<br />

própria vi<strong>da</strong>, <strong>é</strong> o processo <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> que constrói a noção que se tem <strong>da</strong>s coisas: família,<br />

escola, do bom, do ruim, <strong>da</strong>s coisas que estão ao seu redor. Como ressalta Freire (1996, p. 33)<br />

Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos <strong>de</strong> viver em áreas<br />

<strong>de</strong>scui<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo po<strong>de</strong>r público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e<br />

dos córregos e os baixos níveis <strong>de</strong> bem-estar <strong>da</strong>s populações, os lixões e os lixos que<br />

oferecem a saú<strong>de</strong> <strong>da</strong>s gentes. Por que não discutir com os alunos a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

concreta a que se <strong>de</strong>va associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

agressiva em que a violência <strong>é</strong> a constante e a convivência <strong>da</strong>s pessoas <strong>é</strong> muito<br />

maior com a morte do que com a vi<strong>da</strong>?<br />

Este <strong>é</strong> o fazer pe<strong>da</strong>gógico que só se valoriza efetivamente no processo ensinoaprendizagem,<br />

com a utilização dos conhecimentos pr<strong>é</strong>vios do educando, construídos em suas<br />

experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> num <strong>de</strong>terminado contexto histórico e/ou social.<br />

Ao reconhecer os conhecimentos pr<strong>é</strong>vios, o(a) educador(a) está consi<strong>de</strong>rando os<br />

saberes do educando jovem e adulto constituídos antes <strong>da</strong> escola, sua visão <strong>de</strong> mundo ante os<br />

acontecimentos sociais e econômicos nos quais estão envolvidos como: a violência, o<br />

<strong>de</strong>semprego, a fome, a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> social, bem como outros. Os educandos constroem para<br />

si diversas maneiras <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação no mundo letrado, <strong>de</strong>senvolvem, para sobreviver,<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>: operações matemáticas: somar, multiplicar, subtrair, dividir; <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar<br />

lugares, <strong>de</strong> assinar, <strong>de</strong> ler, sem necessariamente ter passado sistematicamente por um processo<br />

formal <strong>de</strong> ensino. Tais saberes, quando em harmonia com as informações adquiri<strong>da</strong>s na<br />

46


escola, auxilia os(as) educadores(as) em sua <strong>prática</strong> educativa, oferecendo aos educandos<br />

condições <strong>de</strong> reconstruir seus próprios conhecimentos.<br />

A preocupação que norteia esta pesquisa <strong>é</strong> i<strong>de</strong>ntificar uma <strong>prática</strong> educativa inteligente<br />

que, possibilite uma alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> que, sirva aos interesses e<br />

expectativas do educando, sendo uma forma <strong>de</strong> garantir sua maior inclusão social e<br />

conscientização acerca <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> do seu próprio reconhecimento como um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro<br />

ci<strong>da</strong>dão. Como diz Piconez (2002, p. 87) ao enten<strong>de</strong>r que<br />

[...] embora o aluno adulto não <strong>de</strong>tenha os códigos formais, nem opere <strong>de</strong> acordo<br />

com seus crit<strong>é</strong>rios, ele possui, ain<strong>da</strong> assim, as estruturas necessárias para<br />

compreendê-los [...] garantir uma escolari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> exige do professor<br />

acesso a tais conhecimentos, para que possa compreen<strong>de</strong>r os diferentes modos e<br />

estilos cognitivos <strong>de</strong> apropriação subjetiva <strong>da</strong> própria cultura que os alunos<br />

constituem, suas formas <strong>de</strong> expressão, e garantir um patamar comum <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

e atitu<strong>de</strong>s que lhe permitam a ampliação <strong>de</strong> suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação na<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que vive e nas diferentes <strong>da</strong> sua.<br />

Valorizar na <strong>prática</strong> educativa os saberes dos educandos, concretizá-los na dinâmica<br />

do ensino-aprendizagem, <strong>é</strong> dimensionar a forma <strong>de</strong> trabalho estabelecido pelos livros,<br />

produzindo criativamente um conhecimento <strong>de</strong> mundo que permita ao educando jovem e<br />

adulto comunicar-se <strong>de</strong> forma inteligível com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> letra<strong>da</strong>.<br />

Os jovens e adultos que não freqüentaram escola, produziram conhecimentos<br />

informais – como já mencionado - tendo como referência sua <strong>prática</strong> social. Sobre essa<br />

questão Piconez (2002, p. 73), referindo-se ao estudo realizado no Programa <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong><br />

Adultos 6 , assinala<br />

[...] os sujeitos que não tiveram escolarização em tempo regular apresentam<br />

construções mentais estrutura<strong>da</strong>s com base nas relações com o meio social e<br />

cultural, sem supostamente dispor dos instrumentos formais <strong>de</strong> registro dos seus<br />

raciocínios.<br />

Assim, vale ressaltar que a união dos conhecimentos pr<strong>é</strong>vios do educando, com os<br />

saberes formais <strong>da</strong> escola po<strong>de</strong> tornar a <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica mais coerente e proveitosa.<br />

Coaduna-se com essas explicações quando Piconez (2002, p. 81) expõe durante a sua<br />

pesquisa, um problema em sala <strong>de</strong> aula<br />

6 Estudo <strong>de</strong>senvolvido com alunos do Programa <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Adultos (funcionários do campus USP).<br />

47


[...] referiu-se ao preço <strong>de</strong> uma saca <strong>de</strong> arroz e à relação com o que o sujeito po<strong>de</strong>ria<br />

gastar na alimentação <strong>de</strong> sua família, um aluno revelou que não <strong>da</strong>va para resolver<br />

aquele problema, pois eles consumiam mais <strong>de</strong> um saco por mês em casa. Ele não<br />

conhecia a medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma saca.<br />

A partir <strong>da</strong> reflexão acima exposta, po<strong>de</strong>mos dizer que, quando o ensino na<br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos não reconhece os saberes pr<strong>é</strong>-existentes do educando, ele<br />

fica mais distante <strong>da</strong> aprendizagem ofereci<strong>da</strong> pela escola, e assim distante <strong>de</strong> alcançar um<br />

resultado satisfatório.<br />

Diante do exposto, queremos mostrar que, por meio dos conhecimentos pr<strong>é</strong>vios dos<br />

alfabetizandos jovens e adultos, o(a) educador(a) po<strong>de</strong> obter maior êxito, coerência e proveito,<br />

consi<strong>de</strong>rando assim, a leitura <strong>de</strong> mundo que eles já possuem <strong>da</strong> sua <strong>prática</strong> social, articulandoa<br />

com os conhecimentos formais <strong>da</strong> escola. “O interessante <strong>é</strong> a compreensão <strong>de</strong> que o<br />

professor po<strong>de</strong> mediar aprendizagens significativas, isto <strong>é</strong>, existe a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

intervenção pe<strong>da</strong>gógica, numa ampla gama <strong>de</strong> situações que po<strong>de</strong>m levar a construção ou<br />

mesmo à reconstrução <strong>de</strong> conhecimentos” (PICONEZ, Ibid. p. 87). Esta <strong>é</strong> uma <strong>prática</strong> docente<br />

em que o educando jovem e adulto <strong>é</strong> consi<strong>de</strong>rado no espaço escolar por meio <strong>de</strong> sua<br />

orali<strong>da</strong><strong>de</strong>, dialogando, <strong>de</strong>batendo, produzindo textos, realizando operações a partir <strong>da</strong>s<br />

experiências <strong>de</strong> seu cotidiano, colocando-o no processo <strong>de</strong> amadurecimento <strong>de</strong> seu mundo.<br />

Em função disso Freire (2003, p. 82) assinala,<br />

Era analisando com os alunos seus trabalhos concretos, sua experiência <strong>de</strong> re<strong>da</strong>ção,<br />

que eu ia, com indiscutível facili<strong>da</strong><strong>de</strong>, pondo sobre a mesa questões <strong>de</strong> sintaxe cujo<br />

estudo era previsto, na programação <strong>de</strong> conteúdos [...] Não era transplanta<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

páginas frias <strong>de</strong> uma gramática [...]<br />

Uma <strong>da</strong>s conseqüências óbvias <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> assim era o gosto com que os alunos<br />

se entregavam à escrita e à leitura. O gosto e a segurança.<br />

Nesse sentido, o(a) educador(a) encontra, ciente <strong>da</strong> dimensão e <strong>da</strong> importância <strong>de</strong><br />

reconhecer na <strong>prática</strong> educativa, o universo dos educandos atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> sua orali<strong>da</strong><strong>de</strong>, um meio<br />

facilitador <strong>de</strong> conduzi-los à libertação do senso comum, para o senso crítico, a fim <strong>de</strong> inserilos<br />

<strong>de</strong> forma efetiva no meio social do mundo letrado.<br />

Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar ain<strong>da</strong> que, não temos nesta pesquisa, o intuito <strong>de</strong> colocar imensas<br />

responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s sobre o(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. Estamos<br />

apenas ressaltando, o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> intervenção e direcionamento na <strong>prática</strong> educativa, a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua consciência crítica e, sobretudo, do seu fazer cônscio na ação concreta em<br />

sala <strong>de</strong> aula com seu educando. Pois, como expressa a professora Pagu, <strong>alfabetizar</strong> “É um<br />

processo que vai muito al<strong>é</strong>m do ler e escrever, <strong>é</strong> po<strong>de</strong>r proporcioná-los a leitura do que estar<br />

48


ao seu redor. É tendo conhecimento <strong>de</strong> mundo que o cerca, a alfabetização se torna mais fácil,<br />

pois os educandos trazem uma bagagem enorme do mundo <strong>de</strong>les”. Esta bagagem <strong>é</strong>,<br />

geralmente exposta por meio <strong>de</strong> sua orali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

3.2 O valor <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong> na <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa<br />

A mulher e o homem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança apren<strong>de</strong>m a se expressar, a usar a sua fala, a se<br />

fazer enten<strong>de</strong>r atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong>, só mais tar<strong>de</strong> na escola, apren<strong>de</strong>m a escrever o que já<br />

falavam. Enten<strong>de</strong>r e fazer-se enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma oral, significa, <strong>de</strong>ntre outras coisas, expressar<br />

a <strong>prática</strong> social na qual o sujeito está inserido. O uso inteligente <strong>de</strong>ssa orali<strong>da</strong><strong>de</strong> na<br />

alfabetização <strong>de</strong> adultos, por meio do fazer educativo do(a) educador(a), <strong>é</strong> um caminho para<br />

que, o educando possa ser capaz <strong>de</strong> fazer sua re-leitura <strong>de</strong> mundo, apren<strong>de</strong>ndo e reapren<strong>de</strong>ndo<br />

no seu cotidiano, transformando-se num sujeito ativo e participativo <strong>de</strong> sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. De<br />

acordo com Freire (2002, apud MORAES, p. 1) 7<br />

A aprendizagem <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita equivale a uma ‘releitura’ do mundo [...] as<br />

crianças pequenas, bem antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senharem letras, apren<strong>de</strong>m a falar, a manipular a<br />

linguagem oral [...] em segui<strong>da</strong>, apenas escrevem o que já apren<strong>de</strong>ram a dizer.<br />

Qualquer processo <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong>ve integrar essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica e social,<br />

utilizá-la metodicamente para iniciar o aluno a exercer, tão sistematicamente quanto<br />

possível a sua orali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que está infalivelmente liga<strong>da</strong> ao que chamo <strong>de</strong> ‘leitura <strong>de</strong><br />

mundo’.<br />

A função <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong> na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>é</strong> <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental<br />

importância, pois <strong>é</strong> atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> fala que as pessoas expõem sua percepção <strong>de</strong> mundo,<br />

informando peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s do seu fazer neste mundo, constituindo seus saberes, por meio <strong>de</strong><br />

suas experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Assim, o(a) educador(a) ao consi<strong>de</strong>rar a orali<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando, ouvindo a sua<br />

história, está reconhecendo seus saberes pr<strong>é</strong>vios no fazer pe<strong>da</strong>gógico, abor<strong>da</strong>ndo novos<br />

conhecimentos que, integrados com as informações <strong>da</strong> escola, constrói novas aprendizagens.<br />

Estas se <strong>de</strong>senvolvem <strong>de</strong> forma mais simples e mais compreensível, pois caminha primeiro<br />

pelo universo social e cultural do educando, para em segui<strong>da</strong>, reconstruir esses conhecimentos<br />

7 MORAES, Clovis Alberto Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> (2002). Texto traduzido. Paulo Freire conversa com Márcio D’olne<br />

Campos. Leitura <strong>da</strong> Palavra...Leitura <strong>de</strong> Mundo.<br />

49


no espaço escolar. O(a) educador(a) <strong>é</strong> então, mediador(a) entre os saberes pr<strong>é</strong>vios do aluno e<br />

os saberes formais <strong>da</strong> escola. Em função disso a professora entrevista<strong>da</strong> Margari<strong>da</strong> Alves diz,<br />

O educador tem que trabalhar em cima <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>le, as vezes você leva uma<br />

aula prepara<strong>da</strong> e eles vem com um tema que não tem na<strong>da</strong> haver com o assunto que<br />

você ia <strong>de</strong>senvolver, você aproveita e <strong>da</strong>r uma aula diferente, on<strong>de</strong> todos mostram<br />

interesse pelo tema. Aju<strong>da</strong>r a segura o aluno (em sala <strong>de</strong> aula) <strong>é</strong> saber escutá-lo em<br />

sala <strong>de</strong> aula, <strong>é</strong> muito importante saber ouvir as pessoas.<br />

Como educadores(as) somos conscientes <strong>de</strong> que a construção <strong>da</strong> escrita <strong>é</strong><br />

representação formal do saber, ficando a construção oral na história <strong>da</strong> educação, em últimos<br />

planos. No entanto, a orali<strong>da</strong><strong>de</strong> vem ganhando maior importância na EJA, atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong><br />

valorização dos saberes pr<strong>é</strong>-existentes do educando. Compreen<strong>de</strong>-se ao se tratar <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos que, eles já possuem uma história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, uma trajetória que lhes possibilitam<br />

construir uma visão e uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> mundo, sem usar os meios formais <strong>da</strong> escola. Como<br />

assinala Figueiras e Soares (2005. p. 8) 8<br />

A importância <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong>, na teoria e <strong>prática</strong> <strong>da</strong> lectoescrita, vem sendo ca<strong>da</strong> vez<br />

mais reconheci<strong>da</strong>, ao se tratar <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. Al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> se<br />

constituir num <strong>de</strong>safio para práxis alfabetizadora, ela <strong>é</strong> objeto <strong>de</strong> crescente interesse<br />

e reflexão por parte <strong>de</strong> estudiosos <strong>de</strong> várias áreas [...].<br />

É na procura <strong>de</strong> aperfeiçoamento do fazer pe<strong>da</strong>gógico, que se faz necessário um novo<br />

olhar e um ouvir mais atencioso à voz do educando jovem e adulto. Neste sentido o(a)<br />

educador(a) constrói uma postura alerta em sua <strong>prática</strong> educativa, <strong>de</strong>senvolvendo habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

que consi<strong>de</strong>re <strong>de</strong> forma imprescindível a utilização do conhecimento pr<strong>é</strong>vio do educando,<br />

como um meio inteligente e facilitador <strong>da</strong> aprendizagem. Sobre essa questão Figueira e<br />

Soares (Ibid. p. 9-10) ressaltam que,<br />

A busca <strong>de</strong> aprimoramento <strong>de</strong> nossa práxis educativa nos leva a reconhecer a<br />

especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua dimensão epistemológica, pois implica estar atento a<br />

todos os fatores que possam estar interferindo no processo <strong>de</strong> aprendizagem, al<strong>é</strong>m<br />

<strong>de</strong> suscitar um constante olhar crítico sobre nosso quefazer <strong>de</strong> educadores <strong>de</strong><br />

adultos. O papel <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong> – ou seja, a consciência <strong>de</strong> sua centrali<strong>da</strong><strong>de</strong> - po<strong>de</strong><br />

exercer nesse quefazer <strong>é</strong> o que po<strong>de</strong> vir a torná-lo mais rico e estimulante, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong><br />

mais complexo.<br />

8 Monografia apresenta<strong>da</strong> ao curso <strong>de</strong> pós-graduação “processo <strong>de</strong> Alfabetização na Vi<strong>da</strong> adulta” <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília – UNB, <strong>de</strong> Alberto Magno Barreto Filgueiras e Paulo Renato Escobar Soares. 2005.<br />

50


Por meio <strong>da</strong> linguagem oral do educando jovem e adulto, no processo ensinoaprendizagem,<br />

o(a) educador(a) i<strong>de</strong>ntifica seus saberes pr<strong>é</strong>vios e, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong>les, constrói-se<br />

uma <strong>prática</strong> mais envolvente, acerca <strong>da</strong> própria reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social e cultural do educando.<br />

Com a valorização dos conhecimentos do alfabetizando na escola, ele vai sentindo-se<br />

estimulado a apren<strong>de</strong>r mais sobre sua própria história, re<strong>de</strong>scobrindo-se, construindo uma<br />

visão crítica e transformadora <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que o cerca. É, nessa direção, que a cultura oral do<br />

educando jovem e adulto colabora, fun<strong>da</strong>mentalmente, no processo <strong>de</strong> construção formal <strong>da</strong><br />

linguagem escrita. Assim, como <strong>de</strong>staca Figueira e Soares (Ibid. p. 15),<br />

os educadores po<strong>de</strong>riam se valer <strong>da</strong> cultura oral pr<strong>é</strong>via dos educandos para conectar<br />

o conhecimento que ela contêm com novas aprendizagens, em diferentes áreas. Por<br />

exemplo, ao trabalhar a memória dos acontecimentos vividos, está-se tamb<strong>é</strong>m<br />

fazendo ‘história oral’, questionando a experiência do tempo vivido individual e<br />

coletivo, enriquecendo a elaboração <strong>de</strong> textos.<br />

Dito <strong>de</strong> outro modo, queremos mostrar diante do exposto que, um outro aspecto<br />

inteligente <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa do(a) alfabetizador(a) <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>é</strong> a utilização dos<br />

saberes pr<strong>é</strong>vios do educando, que se manifesta atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> sua orali<strong>da</strong><strong>de</strong>. É importante que o(a)<br />

educador(a) reconheça que tais saberes são constituídos atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>s experiências <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do educando, influenciando intrinsecamente na construção <strong>de</strong> sua linguagem oral.<br />

Esta, por sua vez, articula<strong>da</strong> no espaço escolar estabelece a linguagem escrita. Nesse sentido,<br />

a professora entrevista<strong>da</strong> Chiquinha Gonzaga <strong>de</strong>screve<br />

Gosto <strong>de</strong> iniciar a aula sempre com a leitura <strong>de</strong> um texto, trabalhando a auto-estima,<br />

eles são muito carentes e adoram este momento. (Conversa informal). Correção <strong>da</strong><br />

tarefa <strong>de</strong> casa. Partindo sempre <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s trazi<strong>da</strong>s por eles. Explicando o<br />

conteúdo. Às vezes copiando o conteúdo, pra amenizar (X<strong>é</strong>rox dos conteúdos).<br />

Exercícios em classe. Trabalhos para casa. Bingos, músicas, etc. Mo<strong>de</strong>stamente<br />

minha aula não <strong>é</strong> ruim. (grifos nossos)<br />

Chiquinha Gonzaga <strong>de</strong>monstra, em sua fala, uma <strong>prática</strong> educativa que valoriza, por<br />

meio do diálogo, <strong>da</strong> história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do educando, os conhecimentos que eles trazem consigo.<br />

A professora tamb<strong>é</strong>m expõe sua criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao trabalhar com músicas que abor<strong>da</strong>m as<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s do seu educando.<br />

Dessa forma, quando o(a) educador(a) reúne suas várias capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s: abertura,<br />

intuição, criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, apreciando os saberes pr<strong>é</strong>vios do educando jovem e adulto,<br />

está usando sua <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> alfabetizadora.<br />

51


Esta abor<strong>da</strong>gem <strong>é</strong> uma reflexão sobre a orali<strong>da</strong><strong>de</strong> no ato <strong>de</strong> <strong>alfabetizar</strong>, numa<br />

perspectiva <strong>de</strong> valorização no processo ensino-aprendizagem, <strong>da</strong>s experiências <strong>de</strong> mundo que<br />

o educando jovem e adulto traz consigo por meio <strong>de</strong> sua orali<strong>da</strong><strong>de</strong> para a escola. Sobre esta<br />

questão Freire (In MORAES, 2002, p.2) diz que,<br />

Insisto em afirmar: o ensino <strong>de</strong>ve sempre respeitar os diferentes níveis <strong>de</strong><br />

conhecimento que o aluno traz consigo à escola. Tais conhecimentos exprimem o<br />

que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural do aluno-ligado, evi<strong>de</strong>ntemente, ao<br />

conceito sociológico <strong>de</strong> classe. O educador <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar essa ‘leitura <strong>de</strong> mundo’<br />

inicial que o aluno traz consigo, ou melhor, em si. Ele forjou-a no contexto <strong>de</strong> seu<br />

lar, <strong>de</strong> seu bairro, <strong>de</strong> sua ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, marcando-a fortemente com sua origem social.<br />

Reconhecer os saberes que o educando já possui, seus conhecimentos experimentados,<br />

por meio <strong>de</strong> sua orali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>é</strong> i<strong>de</strong>ntificar seus saberes pr<strong>é</strong>vios na ação alfabetizadora, tão poucos<br />

utilizados na <strong>prática</strong> e tanto teoricamente discutidos.<br />

Vale ressaltar, que promover os saberes <strong>da</strong> experiência do educando na <strong>prática</strong><br />

educativa, não <strong>é</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar os conteúdos elaborados pelo sistema formal <strong>de</strong> ensino, como<br />

assinala Campos (apud MORAES, 2002, p. 4), “não se trata em absoluto <strong>de</strong> negar os meios,<br />

os instrumentos científicos <strong>de</strong> que dispomos, como livros, trabalhos <strong>de</strong> laboratório, conteúdo<br />

<strong>de</strong> programas – todo saber oficial, enfim”. Trata-se <strong>de</strong> construir uma ponte entre o que o<br />

educando jovem e adulto apren<strong>de</strong> na escola e o que ele apren<strong>de</strong> com suas experiências <strong>de</strong><br />

mundo.<br />

3.3 Desafios contemporâneos na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos<br />

A Alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos possui caracteres diversos que envolvem<br />

interesses <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pessoal, política, social e econômica <strong>de</strong> um país, exigindo, portanto,<br />

maiores e melhores investimentos. Em relação à questão <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pessoal, lembramos <strong>de</strong><br />

mulheres e homens, jovens e adultos num sentimento concreto <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>svalorização na<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, sendo colocados à margem do mundo letrado. Sobre essa questão Kalman (2000,<br />

In UNESCO-CEAAL-CREFAL-INEA, p.71) ressalta que,<br />

52


Apesar <strong>de</strong> ter existido gran<strong>de</strong>s “investimentos” em várias <strong>é</strong>pocas em to<strong>da</strong> a Am<strong>é</strong>rica<br />

Latina com o objetivo <strong>de</strong> alimentar as ofertas educacionais para crianças e jovens<br />

em i<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, existe ain<strong>da</strong> um número relevante <strong>de</strong> pessoas que nunca<br />

entraram na escola e os que entraram abandonaram antes <strong>de</strong> finalizar a educação<br />

obrigatória. Uma <strong>da</strong>s conseqüências <strong>de</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>é</strong> o número altíssimo <strong>de</strong> jovens<br />

com mais <strong>de</strong> 15 anos, que não sabem ler nem escrever.<br />

Essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>monstra um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas jovens e adultas, necessitando<br />

<strong>de</strong> maior atenção e interesse por parte <strong>de</strong> todos os envolvidos diretamente ou indiretamente na<br />

educação <strong>de</strong>ssa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, a União, os Estados, Municípios, as escolas (como um<br />

todo), os(as) educadores(as). Pois, como assinala Kalman (In UNESCO-CEAAL-CREFAL-<br />

INEA, 2000, p. 72) na V Conferência Internacional <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Adultos – V<br />

CONFINTEIA - “os mo<strong>de</strong>los tradicionais <strong>de</strong> alfabetização e educação <strong>de</strong> adultos [...] são<br />

ultrapassados e ineficazes, para aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>man<strong>da</strong> educacional <strong>da</strong> população adulta. E, que<br />

[...] se estabeleça novas estrat<strong>é</strong>gias que re-valorizem a EJA”.<br />

A V CONFINTEIA <strong>de</strong>dicou-se especialmente a analisar a alfabetização enquanto<br />

fenômeno social e individual. Destacando-se tamb<strong>é</strong>m nesse processo o exame <strong>da</strong>s <strong>prática</strong>s<br />

existentes, <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentações teóricas e dos novos rumos que se <strong>de</strong>sejam e precisam tomar<br />

em relação à situação <strong>da</strong> EJA.<br />

Assim, <strong>é</strong> relevante <strong>de</strong>senvolver serviços educativos <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> para aten<strong>de</strong>rem<br />

jovens e adultos que por motivos sociais, culturais e econômicos, foram obrigados a<br />

abandonar a escola antes do tempo ou nem sequer tiveram a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ingressar nela.<br />

Entrar no s<strong>é</strong>culo XXI com esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, como diz Rivero (1989) citado por Kalman (op.cit.<br />

2000, p. 72-73) “representa uma violação ao princípio <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os seres humanos e<br />

ao direito fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> educação, reconhecido como condição para o cumprimento <strong>de</strong><br />

outros direitos”.<br />

Por isso, <strong>é</strong> urgente <strong>de</strong>senvolver uma <strong>prática</strong> alfabetizadora inteligente, que possibilite<br />

<strong>de</strong>spertar e ampliar no educando sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> atuante contribuindo com sua formação <strong>de</strong><br />

sujeito consciente e sensível, transformador <strong>de</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como diz Freire (1980, p. 41)<br />

“[...] procurávamos uma metodologia que fosse um instrumento do educando, e não somente<br />

do educador, e que i<strong>de</strong>ntificasse [...] o conteúdo <strong>da</strong> aprendizagem com o processo mesmo <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r”. Pois não <strong>é</strong> fácil li<strong>da</strong>r com jovens e adultos no espaço escolar, a professora Raquel<br />

<strong>de</strong> Queiroz diz<br />

Driblar o analfabetismo não <strong>é</strong> na<strong>da</strong> fácil, <strong>é</strong> preciso ter muito amor, muita força <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong> e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Então, como po<strong>de</strong>mos aten<strong>de</strong>r as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos alunos,<br />

ao <strong>alfabetizar</strong>. Primeiro teremos que trabalhar com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno, e dá a<br />

ele oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar suas id<strong>é</strong>ias e opiniões próprias e experiências no seu<br />

dia-a-dia. (grifos nossos)<br />

53


Este <strong>de</strong>poimento traz consigo uma gran<strong>de</strong> reflexão, <strong>de</strong>stacando categorias como: amor,<br />

força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>terminam uma relação <strong>de</strong> muito comprometimento entre<br />

o(a) educador(a) e o educando <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, consi<strong>de</strong>rando, sobretudo,<br />

uma <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica que respeite as expressões, id<strong>é</strong>ias, sentimentos e visão <strong>de</strong> mundo do<br />

educando. É sem dúvi<strong>da</strong> uma <strong>prática</strong> <strong>de</strong>safiadora.<br />

O reconhecimento do(a) educador(a) em perceber que, trabalhar com jovens e adultos<br />

no momento atual, integrando a linguagem formal <strong>da</strong> escola com suas <strong>prática</strong>s sociais, <strong>é</strong> um<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio, <strong>é</strong>, em parte, a confirmação <strong>da</strong> conscientização <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong>. Sobre esta<br />

questão Freire (1992, p. 79) assinala que,<br />

[...] quem procura curso <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos quer apren<strong>de</strong>r a escrever e a ler<br />

sentenças, frases, palavras, quer <strong>alfabetizar</strong>-se. A leitura e a escrita <strong>da</strong>s palavras,<br />

contudo, passa pela leitura <strong>de</strong> mundo. Ler o mundo <strong>é</strong> um ato anterior à leitura <strong>da</strong><br />

palavra. O ensino <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita <strong>da</strong> palavra a que falte o exercício crítico <strong>da</strong><br />

leitura e <strong>da</strong> releitura do mundo <strong>é</strong>, científica, política e pe<strong>da</strong>gogicamente, capenga.<br />

A partir <strong>de</strong>sta reflexão po<strong>de</strong>mos dizer que, este tipo <strong>de</strong> ação educativa valoriza a<br />

leitura <strong>de</strong> mundo e promove as pessoas à condição <strong>de</strong> sujeito. E, <strong>é</strong>, exatamente neste sentindo<br />

que a alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos ganha força e tem sua eficácia. Sobre essa questão<br />

Freire afirma que (1980, p. 34), “para ser váli<strong>da</strong> [...] to<strong>da</strong> ação educativa <strong>de</strong>ve<br />

necessariamente estar precedi<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma reflexão sobre o homem e <strong>de</strong> uma análise do meio <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong> concreto, do homem concreto a quem queremos educar (ou melhor dito: a quem<br />

queremos aju<strong>da</strong>r a educar-se)”.<br />

Dessa forma, o(a) educador(a) <strong>é</strong> um facilitador(a) <strong>da</strong> aprendizagem do educando que,<br />

usando a sua <strong>inteligência</strong> aberta, intuitiva, criativa e curiosa, colabora com o educando, no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua consciência crítica no contexto em que vive. Como ressalta Freire<br />

(op. cit. p. 35) referindo-se ao educando, “quanto mais refletir sobre sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta,<br />

mais emerge, plenamente consciente, comprometido, pronto a intervir na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> para<br />

mudá-la”.<br />

Diante <strong>de</strong>sta reflexão surge um questionamento: mas quando o educando <strong>da</strong><br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos estará pronto para esta intervenção? Quando consciente o ser<br />

humano frente a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, integra-se a ela e constrói uma relação, não apenas <strong>de</strong><br />

a<strong>da</strong>ptação, mas <strong>de</strong> transformação, agindo e interagindo num movimento inteligente <strong>de</strong> sua<br />

<strong>prática</strong> social. É, neste processo <strong>de</strong> interação que ele vai <strong>de</strong>safiando seus próprios limites,<br />

54


tornando-se sujeito ativo <strong>de</strong> si mesmo e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> na qual está inserido, como assinala<br />

Freire (op. cit. 37)<br />

no ato mesmo <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>safios que lhe apresenta seu contexto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, o<br />

homem se cria, se realiza como sujeito, porque essa resposta exige <strong>de</strong>le reflexão,<br />

crítica, invenção, eleição, <strong>de</strong>cisão, organização [...] to<strong>da</strong>s essas coisas pelas quais se<br />

cria a pessoa e que fazem <strong>de</strong>la um ser não somente ‘a<strong>da</strong>ptado’ à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e aos<br />

outros, mais ‘integrado’.<br />

É nesta direção que o(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, consciente<br />

<strong>de</strong> sua função <strong>de</strong> <strong>alfabetizar</strong>, po<strong>de</strong>rá por meio <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong>, aju<strong>da</strong>r a promover no educando,<br />

a formação <strong>de</strong> uma consciência crítica, <strong>de</strong>senvolvendo a sua condição <strong>de</strong> sujeito participativo<br />

<strong>de</strong> seu contexto. Como assinala Freire (op. cit. p. 36), “na medi<strong>da</strong> em que o homem, integrado<br />

ao seu contexto, reflete sobre esse contexto e se compromete, constrói a si mesmo e chega a<br />

ser sujeito”.<br />

A partir <strong>de</strong>ssas acepções, surge um outro questionamento, os(as) educadores(as)<br />

alfabetizadores(as) <strong>de</strong> jovens e adultos estão preparados para essa <strong>prática</strong> alfabetizadora? Nos<br />

últimos tempos tem-se constatado, atrav<strong>é</strong>s do Minist<strong>é</strong>rio <strong>da</strong> Educação e Cultura bem como <strong>de</strong><br />

pesquisadores em EJA como, PAIVA (1987), MOURA (2004), SOARES (2003), RIBEIRO<br />

(1999), <strong>de</strong>ntre outros, uma gran<strong>de</strong> preocupação com o fazer alfabetizador nessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ensino. Essa preocupação exige dos(as) educadores(as) envolvidos na alfabetização <strong>de</strong><br />

jovens e adultos a rever <strong>de</strong> forma mais profun<strong>da</strong> e responsável sua ação pe<strong>da</strong>gógica, numa<br />

busca <strong>de</strong>safiadora <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa que possibilite o apren<strong>de</strong>r do educando, numa<br />

dimensão reveladora <strong>de</strong> si mesmo e do mundo que o cerca. Constantino e Takahashi (2006)<br />

recentemente na Folha <strong>de</strong> São Paulo 9 ressalta:<br />

Para especialistas, o maior problema dos supletivos <strong>é</strong> a falta <strong>de</strong> preparo dos<br />

professores para li<strong>da</strong>r com um público mais velho e que trabalha. O próprio<br />

MEC reconhece que <strong>é</strong> preciso avançar nesse ponto. ‘Há espaço para um<br />

acompanhamento mais <strong>de</strong>talhado’, afirmou à Folha o diretor do Departamento <strong>de</strong><br />

educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos do minist<strong>é</strong>rio, Timothy Ireland [...]<br />

‘O formato <strong>da</strong> escola para jovens e adultos não aten<strong>de</strong> às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas<br />

<strong>de</strong> aprendizagem’, disse Stela Piconez, docente <strong>da</strong> USP que coor<strong>de</strong>na o Núcleo <strong>de</strong><br />

Estudos sobre EJA e <strong>de</strong> Formação permanente <strong>de</strong> professores <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Piconez afirma que a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>senha<strong>da</strong> para um perfil <strong>de</strong> aluno<br />

que <strong>é</strong> mais velho e que já trabalha. ‘Os temas não são relacionados ao cotidiano<br />

do trabalho, e a gra<strong>de</strong> prevê cinco aulas diárias, o que <strong>é</strong> impossível para algu<strong>é</strong>m<br />

que já trabalhou oito horas no dia’. (grifos nossos)<br />

9 CONSTATINO, Luciano e TAKAHASHI, Fábio. < Supletivo cresceu 60%; cursos não são avaliados. Folha<br />

<strong>de</strong> São Paulo, Cotidiano. “Disponível em” 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006 >: Acesso em 30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006.<br />

55


A citação acima exposta confirma dois aspectos: primeiro, a carência <strong>de</strong> um trabalho<br />

educativo voltado especialmente para jovens e adultos reconhecendo, <strong>de</strong>ntre outros fatores, a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa que aten<strong>da</strong> com mais eficiência esse grupo <strong>de</strong><br />

estu<strong>da</strong>ntes trabalhadores. E, segundo, uma produção didática que esteja relacionado com o<br />

dia-a-dia <strong>de</strong>sse educando. Esta reflexão significa, tamb<strong>é</strong>m que a preocupação com uma<br />

<strong>prática</strong> inteligente na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, <strong>é</strong> <strong>de</strong> forma relevante, uma<br />

preocupação nacional, <strong>de</strong> setores e sujeitos que aspiram por melhores resultados nessa<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino.<br />

Nesse sentido, a professora entrevista<strong>da</strong> Maria Quit<strong>é</strong>ria, tamb<strong>é</strong>m reconhecendo a<br />

importância <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho direcionado para jovens e adultos, nos faz<br />

enten<strong>de</strong>r que <strong>é</strong> preciso realizar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diferentes que, reconheça a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social do<br />

educando, ela assinala, “meus alunos todos são trabalhadores, e são muitas as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s por<br />

conta do cansaço, temos que <strong>alfabetizar</strong> <strong>de</strong> forma que não seja rotineiro, nem cansativo,<br />

<strong>da</strong>ndo aula, levando em conta a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les”.(grifo nosso)<br />

Ante o exposto, verificamos que o fazer pe<strong>da</strong>gógico na alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos, voltado para a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando, entendi<strong>da</strong> por meio <strong>de</strong> sua orali<strong>da</strong><strong>de</strong> está<br />

sendo ponto <strong>de</strong> s<strong>é</strong>rias reflexões e pesquisas, como as realiza<strong>da</strong>s por educadores(as) e<br />

pesquisadores(as) (ver p. 56 ) nos últimos anos do s<strong>é</strong>culo XX e XXI. Estas pesquisas revelam<br />

profissionais que pensam e, sobretudo, agem na busca <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa que aten<strong>da</strong> às<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> população jovem e adulta que, ain<strong>da</strong> hoje, se encontra a margem do mundo<br />

letrado. Isto significa <strong>de</strong>ntre outras coisas que, esse grupo <strong>de</strong> educandos jovens e adultos, fica<br />

fora <strong>da</strong>s exigências <strong>de</strong> qualificação do trabalho formal na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> contemporânea.<br />

É preciso assim, pensar em t<strong>é</strong>cnicas, estrat<strong>é</strong>gias e habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas que aten<strong>da</strong>m<br />

as reais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do educando jovem e adulto no atual momento histórico.<br />

3.4 Refletindo t<strong>é</strong>cnicas, estrat<strong>é</strong>gias e habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas<br />

Quando nos referimos à utilização <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas, estrat<strong>é</strong>gias e habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s na <strong>prática</strong><br />

educativa <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, estamos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a utilização <strong>de</strong> uma forma<br />

inteligente <strong>de</strong> atuar no fazer docente, propiciando ao educando, “refletir sobre seu próprio<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> refletir [...] Esta educação corajosa, exigia um m<strong>é</strong>todo que permitisse ao educador<br />

56


aju<strong>da</strong>r o homem a aju<strong>da</strong>r-se, a fazer-se agente <strong>de</strong> sua própria recuperação atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> uma<br />

postura conscientemente crítica diante <strong>de</strong> seus problemas” (PAIVA, 2003, p. 252)<br />

Essa postura do fazer pe<strong>da</strong>gógico do (a) alfabetizador(a) <strong>de</strong> jovens e adultos, po<strong>de</strong> ser<br />

possível por meio <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> que, valorize o diálogo, a observação, o conhecimento <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural do educando. Este foi o caminho apontado por Freire, como forma <strong>de</strong><br />

colaborar com o educando a superar suas limitações e promover uma atitu<strong>de</strong> crítica diante <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que está inserido.<br />

A estrat<strong>é</strong>gia ofereci<strong>da</strong> por Freire pretendia, como assinala Paiva (Ibid. p. 253), “ser<br />

mais que o simples domínio psicológico e mecânico <strong>da</strong>s t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> leitura e escrita; pretendia<br />

formar uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação e recriação. Por isso, <strong>de</strong>via partir <strong>de</strong> situações concretas e se<br />

realizar atrav<strong>é</strong>s do diálogo”. Consi<strong>de</strong>rar na <strong>prática</strong> educativa a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando <strong>é</strong> não<br />

apenas conduzi-lo a uma revisão crítica <strong>da</strong> sua condição social, política, cultural, mas tamb<strong>é</strong>m<br />

ajudá-lo na transformação <strong>de</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Daí a preocupação <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> alfabetizadora<br />

libertadora que, possa aju<strong>da</strong>r a sair <strong>de</strong> uma concepção ingênua, para uma visão consciente,<br />

crítica <strong>de</strong> si mesmo e do mundo. Paiva (Ibid. p. 253) assim, esclarece o m<strong>é</strong>todo:<br />

A <strong>prática</strong> do m<strong>é</strong>todo tinha com base inicial o levantamento do universo vocabular<br />

dos grupos com os quais a equipe pretendia trabalhar. Em segui<strong>da</strong> eram escolhi<strong>da</strong>s<br />

as palavras no universo vocabular pesquisado, <strong>de</strong>vendo ser seleciona<strong>da</strong>s pela sua<br />

riqueza fonêmica, pelas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s fon<strong>é</strong>ticas e pelo engajamento <strong>da</strong> palavra numa<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social, cultural ou política. Tais palavras eram relaciona<strong>da</strong>s a<br />

situações existenciais típicas do grupo, que serviam como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

discussão, à qual se seguia a <strong>de</strong>composição <strong>da</strong>s famílias fonêmicas correspon<strong>de</strong>nte<br />

aos vocábulos geradores. Para esse trabalho era necessário uma a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong><br />

preparação dos coor<strong>de</strong>nadores e a confecção <strong>de</strong> material didático atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> sli<strong>de</strong>s e<br />

cartazes.<br />

Com o m<strong>é</strong>todo acima exposto, ou com a utilização <strong>de</strong>ssa t<strong>é</strong>cnica, tanto o papel do<br />

educando quanto do(a) educador(a) <strong>é</strong> inteiramente novo. O educando em vez <strong>de</strong> passivo,<br />

condicionado a respostas prontas e limita<strong>da</strong>s, torna-se ativo e reflexivo. Assim, o(a)<br />

educador(a) sai <strong>de</strong> uma condição tradicional, como mero transmissor <strong>de</strong> conhecimentos e<br />

funciona como sujeito motivador na <strong>prática</strong> educativa, como bem assinala Lima (1965, p.<br />

178)<br />

A t<strong>é</strong>cnica do círculo <strong>de</strong> cultura (...) o coor<strong>de</strong>nador (nome <strong>da</strong>do ao professor) não<br />

ensina: Cria uma situação <strong>de</strong> aprendizagem em que o próprio esforço motivado do<br />

aluno provoca a aprendizagem. Ora, uma função como esta não exige alta<br />

especialização em t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> alfabetização, mas apenas um pouco <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança para<br />

fazer um grupo atuar.<br />

57


Tudo isso nos faz pensar em t<strong>é</strong>cnicas que o(a) educador(a) po<strong>de</strong> criar para servir <strong>de</strong><br />

meios que aten<strong>da</strong>m as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do educando diante <strong>de</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, cabe ao<br />

educador e à educadora, por meio <strong>de</strong> seu fazer pe<strong>da</strong>gógico aberto, intuitivo, criativo, curioso,<br />

reconhecer as condições que seus educandos vivem, valorizando seus saberes pr<strong>é</strong>vios como<br />

forma <strong>de</strong> incentivo e gosto pela sua própria história, aju<strong>da</strong>ndo-o a apren<strong>de</strong>r e a reapren<strong>de</strong>r o<br />

seu mundo. Como ressalta a professora entrevista<strong>da</strong> Margari<strong>da</strong> Alves “Alfabetizar <strong>é</strong> criar, <strong>é</strong><br />

enten<strong>de</strong>r o aluno, <strong>é</strong> mostrar tudo o que você sabe, <strong>é</strong> dividir com os seus conhecimentos e<br />

mostrar ao aluno que ele <strong>é</strong> capaz”. Sobre essa questão Lima assinala (1965, p. 175), referindose<br />

ao M<strong>é</strong>todo Paulo Freire<br />

Compreen<strong>de</strong>u o formulador do novo processo que alfabetização, preten<strong>de</strong>ndo<br />

provocar profun<strong>da</strong> modificação no tipo <strong>de</strong> relacionamento do alfabetizando e a<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, só se impõe como força motivadora se for estabelecido forte liame<br />

psicológico entre a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> alfabetizante e as situações <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do analfabeto [...].<br />

Na busca <strong>de</strong> encontrar novas formas <strong>de</strong> atuação educacional na alfabetização <strong>de</strong> jovens<br />

e adultos, utilizou-se uma <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica não-diretiva, o m<strong>é</strong>todo Paulo Freire,<br />

sistematizado em 1962, consi<strong>de</strong>rado como um conjunto <strong>de</strong> ações educativas envolvente,<br />

consciente e colaboradora. Como assinala Paiva (2003, p. 251), “não era uma simples t<strong>é</strong>cnica<br />

neutra, mas todo um sistema coerente no qual a teoria informava a <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica e os<br />

seus meios”.<br />

Nesse sentido, a professora Chiquinha Gonzaga fala a respeito <strong>de</strong> uma estrat<strong>é</strong>gia<br />

inteligente na <strong>prática</strong> alfabetizadora, “referindo-se ao que tenho vivenciado, o primeiro passo<br />

parte <strong>de</strong> um diálogo <strong>de</strong>safiador, fazer reconhecer a importância e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer<br />

uma vi<strong>da</strong> escolar. Junto vem a reconstrução <strong>da</strong> auto-estima, partindo do ponto <strong>de</strong> que nunca <strong>é</strong><br />

tar<strong>de</strong> para quem realmente <strong>de</strong>seja algo [...]”.<br />

Diante do exposto, enten<strong>de</strong>mos com Lima (Ibid. p. 176), que a <strong>prática</strong> inteligente<br />

alfabetizadora atinge seu maior propósito – aju<strong>da</strong>ndo na aprendizagem concreta,<br />

conscientizadora <strong>da</strong> linguagem e <strong>da</strong> leitura <strong>de</strong> mundo – quando consi<strong>de</strong>ra o universo cultural<br />

do educando.<br />

É preciso não esquecer que o analfabeto obteve, bem ou mal, um sistema <strong>de</strong><br />

equilíbrio social em baixo nível, <strong>de</strong> modo que exija habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s to<strong>da</strong> especial para<br />

introduzir em sua equação vivencial elemento novo que provoque o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

<strong>alfabetizar</strong>-se como forma <strong>de</strong> readquirir equilíbrio em nível mais elevado.<br />

58


Alfabetizar jovens e adultos requer atenção especial, diferente <strong>da</strong>quela trabalha<strong>da</strong> para<br />

a criança, pois “as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> alfabetização infantil parecem ao adulto algo que não merece a<br />

atenção <strong>de</strong> um homem maduro, por conter forte conteúdo lúdico, apropriado a crianças”<br />

(PAIVA, op.cit. p. 253). O jovem e o adulto já percorreu uma história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que lhe impõe<br />

problemas, exigindo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> escola soluções <strong>prática</strong>s às suas reais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

É relevante frisar que, não se preten<strong>de</strong> indicar nesta pesquisa um mo<strong>de</strong>lo inteligente<br />

único e acabado para <strong>alfabetizar</strong> jovens e adultos, mesmo porque, <strong>de</strong> acordo com ca<strong>da</strong><br />

contexto emerge uma nova reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e <strong>é</strong> <strong>de</strong>sse novo, que o(a) educador(a) vai construindo<br />

uma nova <strong>prática</strong> em conjunto com o educando. O que queremos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>é</strong> o que Brandão<br />

(1981, p. 27) assinala, “o m<strong>é</strong>todo aponta regras <strong>de</strong> fazer, mas em coisa alguma ele <strong>de</strong>ve impor<br />

formas únicas, formas sobre como fazer. De uma situação para outra, <strong>de</strong> um tempo para o<br />

outro, sempre <strong>é</strong> possível criar sobre o m<strong>é</strong>todo, inovar instrumentos e procedimentos <strong>de</strong><br />

trabalho”.<br />

Assim, quando nos referimos ao m<strong>é</strong>todo exposto por Freire e sobre alguns aspectos <strong>da</strong><br />

<strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa (a abertura, a intuição, a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>) não<br />

estamos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo um mo<strong>de</strong>lo singular a ser seguidos pelos(as) educadores(as) e educandos,<br />

mas, sobretudo, estamos querendo mais uma vez provocar uma reflexão sobre o saber fazer<br />

alfabetizador. Este tem como objetivo maior, reconhecer no processo ensinar-apren<strong>de</strong>r, a<br />

orali<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando jovem e adulto, sua <strong>prática</strong> social, seu mundo existencial.<br />

Nesse sentido, a professora Anita Garibaldi expressa “trabalho utilizando jogos,<br />

quebra cabeça em forma <strong>de</strong> textos, comparação <strong>de</strong> palavras, fazer pesquisas, dinâmicas que,<br />

incentiva os alunos a falar. Textos que estejam mais perto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les [...]” (grifo<br />

nosso). E, assim, nessa dinâmica educativa entre o(a) educador(a) e o educando, re<strong>de</strong>scobrir o<br />

mundo <strong>de</strong>sse jovem e adulto, aju<strong>da</strong>ndo-o não apenas a apreen<strong>de</strong>r a t<strong>é</strong>cnica <strong>da</strong> linguagem<br />

oficial, mas <strong>da</strong> linguagem do seu mundo e do mundo letrado. Como assinala Brandão (op. cit.<br />

p. 49),<br />

Só assim a alfabetização cobra sentido. É a conseqüência <strong>de</strong> uma reflexão que o<br />

homem começa a fazer sobre sua própria capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir. Sobre sua posição<br />

no mundo. Sobre seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformar o mundo. Sobre o encontro <strong>da</strong>s<br />

consciências. Reflexão sobre a própria alfabetização, que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser assim algo<br />

externa ao homem, para ser <strong>de</strong>le mesmo.<br />

É necessário a conscientização do(a) alfabetizador(a) e que, ele(a) mesmo busque<br />

condições <strong>de</strong> enxergar e apren<strong>de</strong>r com sua própria história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, percebendo que <strong>é</strong> preciso<br />

romper seus limites, servindo como um efetivo colaborador <strong>da</strong> aprendizagem do<br />

59


alfabetizando. “A tarefa do educador <strong>é</strong>, antes <strong>de</strong> qualquer coisa, a <strong>de</strong> criar uma outra<br />

educação” (BRANDÃO, Ibid. p. 85).<br />

Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar ain<strong>da</strong> que novas propostas educacionais vêm ampliando o sentido<br />

e o conceito <strong>da</strong> <strong>prática</strong> alfabetizadora, exemplo disso <strong>é</strong> o m<strong>é</strong>todo do letramento <strong>de</strong>fendido por<br />

Soares(2003). É importante que, o(a) educador(a) enten<strong>da</strong> o letramento como uma maneira <strong>de</strong><br />

<strong>alfabetizar</strong>, valorizando o conhecimento <strong>de</strong> mundo do educando.<br />

3.5 Letramento: uso prático do conhecimento <strong>de</strong> mundo<br />

Ressaltamos ain<strong>da</strong> nesta pesquisa o letramento como proposta para a <strong>prática</strong><br />

alfabetizadora. Bem mais na busca <strong>de</strong> encontrar semelhanças do que diferenças entre<br />

<strong>alfabetizar</strong> e letrar, na busca <strong>de</strong> encontrar <strong>inteligência</strong>s e estrat<strong>é</strong>gias num saber fazer na<br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, vale ressaltar o que Soares (2003, p. 65-66) chama <strong>de</strong><br />

letramento, “letramento cobre uma vasta gama <strong>de</strong> conhecimentos, habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

valores, usos e funções; o conceito <strong>de</strong> letramento envolve, portanto, sutilezas e complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

difíceis <strong>de</strong> serem contempla<strong>da</strong>s em uma única <strong>de</strong>finição”.<br />

É necessário compreen<strong>de</strong>r que, apesar <strong>da</strong> complexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> que envolve o conceito <strong>de</strong><br />

letramento, não po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificá-lo apenas com uma t<strong>é</strong>cnica ou uma estrat<strong>é</strong>gia usa<strong>da</strong> para<br />

<strong>de</strong>senvolver habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s pessoais <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> escrita “letramento não <strong>é</strong> apenas e<br />

simplesmente um conjunto <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s individuais; <strong>é</strong> um conjunto <strong>de</strong> <strong>prática</strong>s sociais<br />

liga<strong>da</strong>s à leitura e a escrita, em que os indivíduos se envolvem em seu contexto social” ( Ibid.<br />

p. 72). Des<strong>de</strong> a d<strong>é</strong>ca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980 que o termo letramento vem aparecendo nos discursos <strong>de</strong><br />

alfabetização, seja <strong>de</strong> adultos ou <strong>de</strong> crianças, provocando <strong>de</strong>bates e polêmicas em meio a este<br />

universo ain<strong>da</strong> tão complexo na procura <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Ter letramento não significa exatamente ser alfabetizado, significa entre outras coisas,<br />

ter uso prático <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita em diferentes contextos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Exemplo disso são as<br />

cartas narra<strong>da</strong>s por um não-alfabetizado a um escrevedor (amigo, vizinho, professor) ou uma<br />

leitura ouvi<strong>da</strong> por um não-alfabetizado atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> um narrador. Enten<strong>de</strong>-se assim, que no<br />

letramento, o não- alfabetizado po<strong>de</strong>r ler e escrever atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> outras pessoas, faz uso prático<br />

<strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita sem ser alfabetizado. Dessa forma, a pessoa mesmo não sendo<br />

alfabetiza<strong>da</strong>, <strong>de</strong>senvolve habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s inteligentes <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r e fazer parte <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong><br />

escrita, sem apo<strong>de</strong>rar-se <strong>da</strong> t<strong>é</strong>cnica <strong>de</strong> ler e escrever. Como assinalam Moraes e Albuquerque<br />

60


(In ALBUQUERQUE; LEAL, 2005, p. 60) “falar <strong>de</strong> analfabeto que lê e escreve parece algo<br />

contraditório”.<br />

Os <strong>de</strong>fensores do letramento aparecem atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> Mary Kato, em 1986, com o livro no<br />

Mundo <strong>da</strong> Escrita: uma perspectiva psicolingüística, em que a autora diz acreditar, que a<br />

língua fala<strong>da</strong> “<strong>é</strong> conseqüência do letramento”. Dois anos <strong>de</strong>pois, se <strong>de</strong>staca Le<strong>da</strong> Vesdiani<br />

Tfouni, distinguindo alfabetização <strong>de</strong> letramento. Em 1995, Ângela Kleiman abor<strong>da</strong> este tema<br />

em: os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a <strong>prática</strong> social <strong>da</strong> escrita.<br />

(SOARES, 2003, p.15). E, em 1998, Mag<strong>da</strong> Soares (op.cit.p.81) apresenta o seu livro<br />

Letramento: em três gêneros, fazendo uma análise sobre os conceitos do Letramento e seus<br />

significados, <strong>de</strong>stacando, diversos autores, <strong>de</strong>ntre eles cita Haman (1970) numa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

letramento em três etapas<br />

O primeiro (estágio) <strong>é</strong> a concepção <strong>de</strong> letramento como um instrumento. O segundo<br />

<strong>é</strong> a aquisição do letramento, a aprendizagem <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ler escrever. O<br />

tecrceiro <strong>é</strong> a aplicação <strong>prática</strong> <strong>de</strong>ssas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s significativas para o<br />

aprendiz. Ca<strong>da</strong> estágio <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do anterior; ca<strong>da</strong> um <strong>é</strong> componente necessário do<br />

letramento.<br />

Freire (1982, p.49) em seu conceito <strong>de</strong> alfabetização ressalta, “apren<strong>de</strong>r a ler e<br />

escrever se faz assim uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para que mulheres e homens percebam o que<br />

realmente significa dizer a palavra: um comportamento humano que envolve ação e reflexão.<br />

Dizer a palavra em um sentido ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro, <strong>é</strong> o direito <strong>de</strong> expressar-se e expressar o mundo, <strong>de</strong><br />

criar e recriar, <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir, <strong>de</strong> optar”. Num conceito <strong>de</strong> letramento explicitado por Soares<br />

(2003, p. 43) ela nos diz que,<br />

letramento <strong>é</strong> usar a escrita para se orientar no mundo [...], nas ruas [...], para receber<br />

instruções [...], enfim, <strong>é</strong> usar a escrita para não ficar perdido. Letramento <strong>é</strong> <strong>de</strong>scobrir<br />

a si mesmo [...], <strong>é</strong> enten<strong>de</strong>r-se, lendo ou escrevendo [...], e <strong>é</strong> <strong>de</strong>scobrir alternativas e<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>scobrir o que você po<strong>de</strong> ser.<br />

Na alfabetização e no letramento po<strong>de</strong>-se fazer uso <strong>de</strong> recursos característicos <strong>de</strong> uma<br />

<strong>prática</strong> inteligente, integra<strong>da</strong> à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos sujeitos nela envolvidos, visando uma<br />

aprendizagem que, possibilite não apenas o domínio <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, mas o seu uso<br />

prático na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

61


O que interessa na presente análise <strong>é</strong> compreen<strong>de</strong>rmos que, o letramento exposto por<br />

Soares (2003) e a alfabetização <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por Freire (em suas diversas obras) 10 , revela uma<br />

<strong>prática</strong> educativa que permite i<strong>de</strong>ntificar as experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do educando no espaço<br />

escolar. Permite ao educando fazer a re-leitura <strong>de</strong> mundo, por meio <strong>da</strong> compreensão e <strong>da</strong><br />

utilização <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita na cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>, como exigência <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

contemporânea e como forma <strong>de</strong> sua maior inclusão e participação social.<br />

Diante do exposto, i<strong>de</strong>ntificamos o letramento na <strong>prática</strong> educativa <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong><br />

jovens e adultos, como uma proposta inteligente na ação alfabetizadora. Na busca em<br />

encontrar esta compreensão, bem como outras, <strong>é</strong> que refletimos e avaliamos os <strong>da</strong>dos obtidos<br />

nesta pesquisa no capítulo que se segue.<br />

10 Freire fala, explica, exemplifica, reflete sobre alfabetização em diversas <strong>de</strong> suas Obras, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ssa<br />

forma, citar apenas uma, mesmo porque, nesta pesquisa suas várias obras estão expostas.<br />

62


4 REFLEXÕES EM TORNO DOS DADOS PESQUISADOS<br />

Este capítulo apresenta resultados obtidos por meio <strong>de</strong> entrevistas e <strong>da</strong> dinâmica <strong>de</strong><br />

grupos focais, realiza<strong>da</strong> com educadoras e educandos <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos em<br />

Itamb<strong>é</strong>. Esta pesquisa encontrou por meio <strong>da</strong>s falas <strong>de</strong>sses interlocutores e interlocutoras<br />

alguns aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> alfabetizadora, que envolve nesta<br />

investigação: a abertura, a intuição, a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem como, encontrou<br />

outros achados relevantes acerca do ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

As falas <strong>da</strong>s educadoras apontam elementos que revelam gra<strong>da</strong>tivamente<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s <strong>prática</strong>s em seu fazer pe<strong>da</strong>gógico e novas abor<strong>da</strong>gens sobre o ensino <strong>da</strong><br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, como: 1- o saber fazer <strong>da</strong> educadora e a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

educando, 2- persistência do educando, um meio para o êxito, 3- a visão <strong>da</strong>s educadoras frente<br />

às expectativas do educando, 4- o livro didático na <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong><br />

jovens e adultos 5- o currículo diante <strong>da</strong> percepção <strong>da</strong>s educadoras, 6- as educadoras no<br />

espaço escolar. Estes elementos presentes no discurso <strong>da</strong>s alfabetizadoras trazem consigo suas<br />

experiências pessoais e apreciações sobre a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa na alfabetização<br />

<strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

Na fala dos educandos <strong>de</strong>stacamos: 1- os educandos e seus dizeres, 2- o cotidiano do<br />

educando não-alfabetizado, 3- as expectativas do educando quanto à <strong>prática</strong> social <strong>da</strong> leitura e<br />

<strong>da</strong> escrita, 4- o significado <strong>da</strong> falta às aulas para o educando jovem e adulto, 5- as educadoras<br />

diante <strong>da</strong> visão dos educandos, 6- o educando assumindo a condição <strong>de</strong> educador(a), 7- o que<br />

mudou para o educando com o processo <strong>da</strong> alfabetização? Estes itens <strong>de</strong>screvem <strong>prática</strong>s<br />

sociais do educando jovem e adulto, bem como suas experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e expectativas frente<br />

a sua alfabetização e a <strong>prática</strong> alfabetizadora.<br />

4.1 O saber fazer do(a) educador(a) e a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando<br />

Este item propõe i<strong>de</strong>ntificar a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> alfabetizadora frente à reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do alfabetizando.<br />

63


Na fala <strong>da</strong>s educadoras entrevista<strong>da</strong>s, observamos que em sua <strong>prática</strong> educativa há o<br />

reconhecimento <strong>da</strong>s experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do educando. Encontramos este resultado, quando as<br />

educadoras ressaltam que o contexto cultural e social do educando são trabalhados no espaço<br />

escolar por meio <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> alguns recursos didáticos, como: a observação, o diálogo, o<br />

<strong>de</strong>bate e a produção textual, captando a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do educando. Sobre essa questão,<br />

Freire (1992, p. 48) em meio a um diálogo com um camponês pergunta: “O que <strong>é</strong> ser<br />

camponês?” obtendo a seguinte resposta: “<strong>é</strong> não ter educação, posses, trabalhar <strong>de</strong> sol a sol<br />

sem direitos, sem esperança <strong>de</strong> um dia melhor [...]”.<br />

Ao provocar esse diálogo, Freire mostra em sua <strong>prática</strong> educativa, que cabe ao<br />

educador e à educadora, ao trabalhar com o educando jovem e adulto, direcionar (não<br />

manipular) sua ação pe<strong>da</strong>gógica num trabalho envolvente acerca <strong>da</strong> própria reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

educando, consi<strong>de</strong>rando seus saberes pr<strong>é</strong>vios, transformando e ultrapassando a aprendizagem<br />

puramente mecânica <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, em conhecimento <strong>de</strong> mundo. Nesse processo, o<br />

educando se torna sujeito pensante, escrevendo e lendo sua <strong>prática</strong> social, esclarecido sobre os<br />

acontecimentos que o cerca.<br />

Das sete alfabetizadoras, quatro <strong>de</strong>monstram uma preocupação <strong>de</strong> fazer em sua <strong>prática</strong><br />

algo especial, um trabalho que consi<strong>de</strong>re a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos educandos, valorizando as<br />

experiências do seu cotidiano. Elas externaram em seus discursos a importância <strong>de</strong> um saber<br />

fazer educativo contextualizado com o mundo vivido pelo educando, afirmando que este <strong>é</strong> um<br />

meio para um aprendizado eficaz, em que o educando apren<strong>de</strong> a ler e escrever a sua história.<br />

Como assinala a professora Anita Garibaldi, “O aluno trabalhador, [...] precisa <strong>de</strong> algo<br />

especial [...] livro com textos pequenos, estória que chama a atenção <strong>de</strong>les. Ex. sobre futebol,<br />

novelas, texto que conte pequenas estórias, relatando um fato [...]” (grifos nossos).<br />

Ao analisarmos a fala <strong>de</strong> Anita Garibaldi percebemos que ela compreen<strong>de</strong> o trabalho<br />

com a alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, como algo que precisa ser realizado <strong>de</strong> forma<br />

peculiar a esse grupo <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes. Ao in<strong>da</strong>gá-la sobre esta questão, num movimento com o<br />

grupo focal, a educadora explicitou que o algo especial que o educando necessita, refere-se à<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> do(a) educador(a) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos em produzir um material<br />

que não se encontra elaborado nos livros didáticos. Esta produção baseia-se <strong>de</strong> acordo com os<br />

fatos ocorridos na vi<strong>da</strong> do estu<strong>da</strong>nte, <strong>de</strong> acordo com os acontecimentos <strong>de</strong> seu cotidiano,<br />

valorizando sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social e cultural na <strong>prática</strong> educativa. Como assinala Freire (2003,<br />

p. 28), “a <strong>prática</strong> educativa consciente, crítica, política, não se permite limitar-se aos<br />

procedimentos escolarizantes”.<br />

64


De modo geral, notamos a preocupação <strong>da</strong>s educadoras em trabalhar com uma <strong>prática</strong><br />

diferente, por se tratar <strong>de</strong> um corpo discente composto <strong>de</strong> jovens e adultos (e não <strong>de</strong> crianças),<br />

já possuindo uma história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, que proporciona a construção <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> ser e fazer<br />

atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> suas experiências individuais, coletivas e sociais.<br />

Nesse sentido, a maioria <strong>da</strong>s educadoras dizem acreditar que o educando jovem e<br />

adulto tem maior êxito se, no processo ensino-aprendizagem, forem valoriza<strong>da</strong>s suas <strong>prática</strong>s<br />

sociais. Po<strong>de</strong>mos associar esta análise ao dizer <strong>de</strong> Freire (2003, p. 29), que estima um fazer<br />

pe<strong>da</strong>gógico consi<strong>de</strong>rando as experiências do educando, “respeitando os sonhos, as frustrações,<br />

as dúvi<strong>da</strong>s, os medos, os <strong>de</strong>sejos dos educandos, crianças, jovens ou adultos, os educadores e<br />

educadoras populares têm neles um ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para sua ação [...]”.<br />

Dito <strong>de</strong> outro modo, consi<strong>de</strong>ra-se por meio <strong>de</strong> suas falas, que a maioria <strong>da</strong>s educadoras<br />

investiga<strong>da</strong>s, mostram que há disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para atuar <strong>de</strong> forma inteligente: flexível,<br />

criativa, dinâmica e intuitiva, valorizando o contexto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus educandos, como<br />

po<strong>de</strong>mos verificar em seus <strong>de</strong>poimentos:<br />

-Anita Garibaldi - receber seu aluno bem, uma parte criativa que não <strong>de</strong>ixe o aluno<br />

cansado, incentivando a importância <strong>de</strong> ser alfabetizado [...] contando fábula <strong>de</strong><br />

incentivo.<br />

-Pagu - [...] procurar sempre elogiar e estimular seu aluno a não <strong>de</strong>sistir, ser flexível<br />

e dinâmico, preparar suas aulas com o foco voltado para seu aluno.<br />

-Chiquinha Gonzaga - <strong>é</strong> preciso ser “responsável, consciente e flexível às<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diversas que surgem, ter uma carreira acadêmica <strong>é</strong> <strong>de</strong> valiosíssima<br />

importância (grifos nossos).<br />

A professora Pagu, ain<strong>da</strong> diz que, a <strong>prática</strong> alfabetizadora <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>de</strong>ve ser<br />

“<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o contexto trabalhado em sala <strong>de</strong> aula seja <strong>de</strong> acordo<br />

com o seu cotidiano, o conteúdo tem que estar <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> vivência do aluno”(grifo nosso).<br />

As alfabetizadoras <strong>da</strong> EJA em Itamb<strong>é</strong>, <strong>de</strong>monstraram não ser possível pensar numa<br />

alfabetização que aten<strong>da</strong> às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos alunos trabalhadores sem reconhecer a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

na qual estão inseridos, sem valorizar suas experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> no espaço escolar, que se<br />

traduzem por meio <strong>da</strong> linguagem oral <strong>de</strong> sua cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>. I<strong>de</strong>ntificamos <strong>de</strong>ssa forma,<br />

atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> suas falas um discurso que po<strong>de</strong> apontar para uma <strong>prática</strong> flexível às<br />

transformações e <strong>de</strong>safios na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

Notamos ain<strong>da</strong>, que as educadoras alfabetizadoras <strong>de</strong>monstram, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> suas falas,<br />

uma preocupação com uma ação intuitiva, criativa e curiosa. Intuitiva porque <strong>de</strong>monstraram a<br />

preocupação <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> perceptiva, que busca <strong>de</strong>tectar nos educandos, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> suas<br />

experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, seu conhecimento <strong>de</strong> mundo. “É preciso que o(a) educador(a) saiba que<br />

65


seu ‘aqui’ e o seu ‘agora’ são quase sempre o ‘lá’ do educando [...] não <strong>é</strong> possível ao (a)<br />

educador(a) <strong>de</strong>sconhecer, subestimar ou negar os ‘saberes <strong>de</strong> experiência feitos’ com que os<br />

educandos chegam à escola” (FREIRE, 1992, p. 59).<br />

A criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> se encontra presente nesta investigação, principalmente quando as<br />

educadoras expressam a importância <strong>de</strong> um fazer diferente na alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos (como explicado anteriormente), utilizando sua <strong>inteligência</strong> inventiva. E, encontramos<br />

uma <strong>prática</strong> curiosa, quando as educadoras fazem enten<strong>de</strong>r, que precisam ser curiosas, estar<br />

sempre apren<strong>de</strong>ndo para apo<strong>de</strong>rar-se <strong>de</strong> uma ação educacional <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, procurar saber<br />

mais, para saber fazer melhor. Encontramos isso na fala <strong>da</strong> professora Chiquinha Gonzaga “<strong>é</strong><br />

preciso mais incentivo <strong>da</strong> parte do município, no que diz respeito a uma preparação <strong>de</strong><br />

professores e tamb<strong>é</strong>m a busca <strong>de</strong>ssa preparação pelos próprios professores. Atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong><br />

facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, cursos e especializações. Há sempre algo mais a fazer”(grifo nosso).<br />

4.2 Persistência do educando, um meio para o êxito<br />

Este tema chama a atenção do(a) alfabetizador(a) em enten<strong>de</strong>r a importância <strong>de</strong><br />

estimular o educando jovem e adulto a permanecer na escola, aju<strong>da</strong>ndo na construção <strong>de</strong> sua<br />

percepção crítica no processo ensino-aprendizagem, <strong>de</strong>spertando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />

alfabetizado, <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a se comunicar no mundo letrado. A professora Maria Quit<strong>é</strong>ria fala<br />

“[...] para o alfabetizando obter êxito <strong>é</strong> necessário muito estímulo e empenho do alfabetizador<br />

para li<strong>da</strong>r com suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s”. Sobre essa questão, a professora Margari<strong>da</strong> Alves observa<br />

“que o alfabetizando seja capaz <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que quanto mais ele freqüenta a escola ele<br />

enriquece seus conhecimentos, fazer ele compreen<strong>de</strong>r que um dia sem comparecer a aula <strong>é</strong><br />

como se fosse um dia sem registro em sua vi<strong>da</strong>”. Nesse sentido, os(as) educadores(as) se<br />

tornam responsáveis em promover por meio <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong>, uma compreensão no educando <strong>de</strong><br />

que <strong>é</strong> preciso acreditar, freqüentar, insistir no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> seguir sua trajetória educacional.<br />

Outro fator importante <strong>é</strong> a persistência do próprio educando em se lançar a sua<br />

aprendizagem. Os discursos <strong>da</strong>s educadoras entrevista<strong>da</strong>s revelam a firmeza, a força <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong> e a perseverança do educando, como requisitos fun<strong>da</strong>mentais para ele obter o<br />

aprendizado esperado. Como diz a professora Pagu “para o aluno esse <strong>de</strong>ve ser ca<strong>da</strong> dia mais<br />

persistente para não se <strong>de</strong>ixar vencer pelo cansaço do dia e ter muita força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> para<br />

vencer”.<br />

66


Assim, cabe especialmente ao educador e à educadora <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos, por meio <strong>de</strong> seu fazer pe<strong>da</strong>gógico, possibilitar ao educando, o entendimento concreto<br />

do significado <strong>de</strong> ser alfabetizado em to<strong>da</strong> a sua dimensão, fazendo-o enxergar que ele não<br />

po<strong>de</strong> se limitar apenas ao saber ler e escrever, mas, sobretudo, saber fazer sua própria leitura<br />

<strong>de</strong> mundo, comunicando-se com esse mundo.<br />

4.3 A visão <strong>da</strong>s educadoras frente às expectativas do educando<br />

Esta <strong>é</strong> uma abor<strong>da</strong>gem que tem o propósito <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r a percepção <strong>da</strong>s educadoras<br />

entrevista<strong>da</strong>s em relação às pretensões dos educandos, aos objetivos que eles <strong>de</strong>sejam<br />

alcançar por meio <strong>da</strong> alfabetização, a fim <strong>de</strong> que possam colaborar para aten<strong>de</strong>r suas<br />

expectativas.<br />

Assim, quando se perguntou genericamente às educadoras entrevista<strong>da</strong>s sobre as<br />

expectativas dos educandos diante <strong>da</strong> alfabetização, a maioria <strong>de</strong>las respon<strong>de</strong>ram que os<br />

educandos enten<strong>de</strong>m sua alfabetização como uma conquista pessoal, uma ponte para a<br />

realização <strong>de</strong> seus sonhos, que vai auxiliá-los para uma vi<strong>da</strong> melhor. Constatamos que estes<br />

sonhos caracterizam-se em saber ler e escrever, e a partir <strong>da</strong>í, ser bem sucedido na vi<strong>da</strong>, obter<br />

uma ascensão profissional e aprimorar as relações com os outros, integrando-se e<br />

relacionando-se <strong>de</strong> forma mais efetiva com sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sobre esta questão as educadoras<br />

expressam:<br />

-Maria Quit<strong>é</strong>ria - a escola noturna para os educandos <strong>é</strong> o único tempo que eles têm<br />

disponíveis para realizar os seus sonhos, que <strong>é</strong> ser alfabetizado.<br />

-Pagu - para ele, funciona como uma porta, on<strong>de</strong> a esperança <strong>é</strong> apren<strong>de</strong>r a ler e<br />

escrever para po<strong>de</strong>r ser bem sucedido. Ele <strong>de</strong>seja um lugar que aten<strong>da</strong> suas<br />

expectativas [...] um ambiente acolhedor.<br />

-Chiquinha Gonzaga - para a realização <strong>de</strong> seus sonhos [...] (grifos nossos).<br />

Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar ain<strong>da</strong>, nesta abor<strong>da</strong>gem uma outra expectativa do educando,<br />

aponta<strong>da</strong> pela professora Anita Garibaldi “ele espera ser atendido bem, uma aula que eles<br />

percebam que vai valer a pena [...] O professor <strong>de</strong>ve estar sempre disposto a ouvir o aluno,<br />

tem jovem carente que precisa que o professor dê atenção a sua história como já falei,<br />

conhecendo a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les” (grifos nossos). Esta fala reflete a percepção <strong>da</strong> educadora<br />

67


frente ao <strong>de</strong>sejo do educando <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, <strong>de</strong> ser bem recepcionado e<br />

<strong>de</strong> ter um ambiente acolhedor na escola.<br />

Depoimentos como estes acima ressaltados, <strong>de</strong>safiam os(as) educadores(as) a terem<br />

uma <strong>prática</strong> educativa amistosa, atenciosa, capaz <strong>de</strong> ouvir e sentir a história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos<br />

jovens e adultos, e, sobretudo, <strong>de</strong> respeitá-la. Mostrando que, o educando <strong>de</strong>ssa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ensino, po<strong>de</strong> ter uma educação que o i<strong>de</strong>ntifique como sujeito ativo, aju<strong>da</strong>ndo-o a<br />

reconhecer-se como agente atuante <strong>de</strong> sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, colaborando na realização <strong>de</strong> suas<br />

expectativas, sonhos e <strong>de</strong>sejos. Sobre essa questão adverte Georges Sny<strong>de</strong>rs, citado por Freire<br />

(1992, p. 83) “o ato <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r, <strong>de</strong> ensinar, <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> conhecer <strong>é</strong> difícil, sobretudo<br />

exigente, mas prazeroso”. Nesse sentido, Freire (op. cit. p. 83) assinala, “É preciso, pois, que<br />

os educandos <strong>de</strong>scubram e sintam a alegria nele embuti<strong>da</strong>, que <strong>de</strong>le faz parte e que está<br />

sempre disposta a tomar todos quantos a ele se entreguem”.<br />

4.4 O livro didático na <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos<br />

Nos preocupamos em analisar a forma como o livro didático <strong>é</strong> utilizado na <strong>prática</strong><br />

pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong>s educadoras, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> provocar uma reflexão acerca <strong>de</strong> seu uso na<br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

Mesmo sendo o livro didático uma abor<strong>da</strong>gem já muito <strong>de</strong>bati<strong>da</strong> em outros níveis <strong>de</strong><br />

ensino, na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA <strong>é</strong> rara a discussão, por isso fazemos questão <strong>de</strong> salientá-lo<br />

nesta pesquisa. Pois acreditamos que ele interfere <strong>de</strong> forma relevante na <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica do<br />

ensino <strong>de</strong> jovens e adultos, consi<strong>de</strong>rando que não há uma formação específica para essa<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino (Graduação), e nem sempre uma formação continua<strong>da</strong> impondo, assim,<br />

aos educadores e às educadoras a recorrerem com mais freqüência aos conteúdos dos livros<br />

didáticos, como meio facilitador <strong>de</strong> orientação em sua <strong>prática</strong> educativa, tornando, <strong>de</strong>sse<br />

modo, uma temática importante <strong>de</strong> ser refleti<strong>da</strong>.<br />

De forma geral, seis <strong>da</strong>s sete educadoras investiga<strong>da</strong>s, afirmaram que o livro <strong>é</strong><br />

complexo e está fora <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando, apesar <strong>de</strong> em alguns casos os textos<br />

apresentarem alguma consistência. O livro didático intitulado: Educação para Jovens e<br />

Adultos trabalha, segundo as alfabetizadoras, numa abor<strong>da</strong>gem que não trata <strong>da</strong> vivência do<br />

68


educando jovem e adulto, não consi<strong>de</strong>ra sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhador, sendo <strong>de</strong> difícil<br />

compreensão. As educadoras, assim, assinalam:<br />

-Anita Garibaldi - O livro sinceramente não gostei, nem meus alunos, textos<br />

muito gran<strong>de</strong>, não interessa muito aos meus alunos [...].<br />

-Maria Quit<strong>é</strong>ria - Nosso livro didático <strong>é</strong> rico em textos, que facilita uma boa<br />

alfabetização para eles. Quanto aos assuntos a serem abor<strong>da</strong>dos, muitos fogem<br />

do nosso planejamento. Pois são muito adiantados para eles.<br />

-Irmã Dulce - Na minha visão, achei um pouco complexo, para ser utilizado por<br />

pessoas (alunos) que estão ingressando no processo <strong>de</strong> alfabetização. Por não<br />

estarem tão preparados para enten<strong>de</strong>r textos com uma gran<strong>de</strong> proporção <strong>de</strong><br />

compreensão.<br />

-Margari<strong>da</strong> Alves - O livro não está <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno. Mas quando<br />

digo vamos ler, todo mundo se empolga e discute e fala e comenta, eles mostram<br />

que têm vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler [...] e o currículo não bate com o livro (grifos nossos).<br />

O livro didático avaliado nesta pesquisa foi o livro <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, (2005, p. 3), Educação<br />

<strong>de</strong> Jovens e Adultos 11 . Escolhemos inicialmente como referência a primeira página do livro<br />

que expõe a estrofe <strong>de</strong> uma música <strong>de</strong> Caetano Veloso, que diz:<br />

Um índio <strong>de</strong>scerá <strong>de</strong> uma estrela colori<strong>da</strong> brilhante<br />

De uma estrela que virá numa veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> estonteante<br />

E pousará no coração do hemisf<strong>é</strong>rio sul na Am<strong>é</strong>rica<br />

Num claro instante.<br />

Nota-se o conteúdo acima exposto complexo, <strong>de</strong>scontextualizado em que não se<br />

abor<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong> do educando jovem e adulto, tornando difícil usá-lo na <strong>prática</strong><br />

educativa <strong>de</strong> forma dinâmica, proveitosa e criativa. Verifica-se ain<strong>da</strong> no livro <strong>da</strong> EJA, textos<br />

gran<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> difícil compreensão, como: Amanhã <strong>é</strong> Jajá, <strong>de</strong> Lúcia Pimentel Góis (In<br />

MIRANDA, op.cit. p. 238), com duas páginas e meia <strong>de</strong> história. Assim, não <strong>é</strong> apenas<br />

complicado para o educando se interessar e apren<strong>de</strong>r, mas tamb<strong>é</strong>m para o(a) educador(a)<br />

aplicá-lo <strong>de</strong> forma eficaz em sua <strong>prática</strong>.<br />

A forma como os conteúdos são abor<strong>da</strong>dos nos livros didáticos, compromete<br />

seriamente o fazer docente e conseqüentemente a formação do educando. Os conteúdos<br />

programáticos oficiais, geralmente encontrados nos manuais adotados pelas escolas <strong>é</strong> aporte<br />

no direcionamento do processo ensino-aprendizagem que, por<strong>é</strong>m, se não for bem conduzido<br />

se torna um prontuário nas mãos do(a) educador(a).<br />

Avaliando a fala <strong>da</strong>s educadoras alfabetizadoras entrevista<strong>da</strong>s em Itamb<strong>é</strong>, constatamos<br />

que nos livros didáticos não há uma preocupação em ressaltar o contexto regional, em indicar<br />

11 MIRANDA, Anna Lúcia e outras. Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos - Integrado. Ensino Fun<strong>da</strong>mental – Primeiro<br />

Segmento – 1ª a 4ª s<strong>é</strong>rie. – Cultura. Dinâmica. 1ª edição, 2005. Material utilizado na EJA em Itamb<strong>é</strong>.<br />

69


um trabalho consi<strong>de</strong>rando a partir <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> local do educando. E, po<strong>de</strong>mos acrescentar a<br />

isso, a complexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos conteúdos nele expostos, <strong>de</strong> um nível fora do alcance dos<br />

educandos. O <strong>de</strong>scaso com o universo do educando <strong>é</strong> nítido nos livros didáticos. Em relação<br />

ao ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, há um gran<strong>de</strong> vácuo nos livros didáticos ao se<br />

tratar à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong> pelos educandos. Refletindo sobre essa questão, percebemos a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar numa maneira mais inteligente <strong>de</strong> utilizar o livro didático na <strong>prática</strong><br />

educativa na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

No entanto, vale frisar que apesar <strong>da</strong> crítica ao livro didático, não significa dizer que<br />

não se possa trabalhar e tirar bons proveitos <strong>de</strong>le; ao contrário trata-se <strong>de</strong> uma ferramenta <strong>de</strong><br />

trabalho, um referencial, que bem produzido e utilizado colabora <strong>de</strong> forma fun<strong>da</strong>mental como<br />

aporte <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa e, conseqüentemente, com o aprendizado do<br />

educando.<br />

O(a) educador(a) encontra no livro didático apropriado, assim, como em outras fontes<br />

<strong>de</strong> conhecimento, apoio para o seu trabalho pe<strong>da</strong>gógico. Os livros didáticos não são<br />

indispensáveis na <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica, mas não se <strong>de</strong>ve valorizá-los <strong>de</strong>mais, tampouco cair no<br />

outro extremo. Sem dúvi<strong>da</strong>, eles são valiosas fontes <strong>de</strong> informações e o seu uso <strong>de</strong>sperta no<br />

educando o gosto pela leitura. Por meio <strong>de</strong>le, em sala <strong>de</strong> aula, o(a) educador(a) terá mais um<br />

instrumento que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver no educando a <strong>prática</strong> <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r sozinho, <strong>de</strong> se informar<br />

com mais autonomia, o que po<strong>de</strong>rá levá-lo a adquirir mais in<strong>de</strong>pendência, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seu<br />

conteúdo seja a<strong>de</strong>quado e trabalhado <strong>de</strong> acordo com a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Contudo, <strong>é</strong> importante que o(a) educador(a) analise o livro didático e escolha o mais<br />

a<strong>de</strong>quado para o contexto <strong>de</strong> seu educando. O i<strong>de</strong>al seria passar por sua avaliação antes <strong>de</strong><br />

serem impostos nas escolas pelas secretarias <strong>de</strong> educação. Esta <strong>é</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que já<br />

encontramos, mas, que, por<strong>é</strong>m não funciona. Os(As) educadores(as) escolhem os livros num<br />

<strong>de</strong>terminado encontro pe<strong>da</strong>gógico, mas geralmente chegam outros sem maiores explicações.<br />

Dessa forma, consciente <strong>da</strong> importância <strong>de</strong> um bom livro didático, se faz necessário<br />

refletir e re-pensar na melhor forma <strong>de</strong> utilizá-lo na <strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica com jovens e adultos.<br />

Por<strong>é</strong>m, vale ressaltar, que as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do(a) educador(a) não po<strong>de</strong>m se resumir em transmitir<br />

aos educandos o conteúdo estabelecido pelo livro, diante <strong>da</strong>s limitações que ele apresenta no<br />

momento atual. Dito <strong>de</strong> outro modo, em nossa perspectiva <strong>de</strong> análise os textos didáticos não<br />

<strong>de</strong>vem constituir-se nos limites <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pe<strong>da</strong>gógicas, haja vista, compreen<strong>de</strong>rmos que o<br />

ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>de</strong>ve ter como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong><br />

pelos educandos.<br />

70


Atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> reflexão <strong>da</strong> utilização do livro didático na alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos, i<strong>de</strong>ntificamos uma outra preocupação, a compreensão <strong>de</strong> currículo pelas educadoras,<br />

enten<strong>de</strong>ndo que ambos (o livro didático e o currículo) estão interligados na <strong>prática</strong><br />

pe<strong>da</strong>gógica.<br />

4.5 O currículo diante <strong>da</strong> percepção <strong>da</strong>s educadoras<br />

Este tema tem a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a compreensão <strong>da</strong>s educadoras<br />

alfabetizadoras <strong>de</strong> Itamb<strong>é</strong>, frente ao currículo na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, visto que<br />

ele <strong>de</strong>ve ser articulado não apenas ao livro didático, bem como à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> contextual do<br />

educando.<br />

Atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>s análises dos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> entrevista e dos grupos focais, percebemos que não<br />

existe um entendimento comum entre as alfabetizadoras <strong>de</strong> jovens e adultos do que venha a<br />

ser currículo. Não há uma níti<strong>da</strong> noção sobre um conceito <strong>de</strong> currículo, verificando, assim a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um maior esclarecimento sobre esta questão.<br />

Das sete educadoras entrevista<strong>da</strong>s, duas respon<strong>de</strong>ram que o currículo <strong>é</strong> bom, a<strong>de</strong>quado<br />

e está bem elaborado. Como fala a professora Anita Garibaldi, o “[...] currículo estava bom,<br />

os assuntos bem elaborado, ótimo para <strong>de</strong>bate. E, a professora Pagu diz “[...] o currículo esse<br />

está a<strong>de</strong>quado”. No entanto, contraditoriamente, duas educadoras afirmaram que o currículo<br />

não está <strong>de</strong> acordo com o livro, como assinala o <strong>de</strong>poimento <strong>da</strong> professora Chiquinha<br />

Gonzaga “currículo tem que estar acompanhado do livro didático, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />

pessoas com quem se está li<strong>da</strong>ndo. O nosso está meio <strong>de</strong>sencontrado”. E a fala <strong>da</strong><br />

professora Raquel <strong>de</strong> Queirós [...] “Em relação ao currículo não bate com o livro, ficou<br />

fora <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do livro” (grifos nossos). Vale ressaltar que três educadoras não<br />

respon<strong>de</strong>ram esta questão.<br />

Diante do exposto acima, constatamos a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s educadoras <strong>da</strong> alfabetização<br />

<strong>de</strong> jovens e adultos se preocuparem em expandir seu conhecimento sobre currículo, pois<br />

verificamos que não há um consenso sobre um conceito <strong>de</strong> currículo, não há uma<br />

compreensão real do que venha a ser currículo.<br />

Como educadoras precisam perceber que o currículo direciona a <strong>prática</strong> educativa <strong>de</strong><br />

qualquer grau ou mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, mesmo não sendo um produto acabado e inflexível,<br />

mesmo enten<strong>de</strong>ndo que “a competência docente (no que se refere ao saber escolar) não se<br />

71


eduz à habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar e transmitir um saber pr<strong>é</strong>-<strong>de</strong>finido ou, domínio dos conteúdos<br />

que tradicionalmente constituem o currículo”. (MELO, In WEBER, 1993, p. 56).<br />

As concepções contemporâneas sobre o currículo se apresentam com atitu<strong>de</strong>s abertas e<br />

flexíveis. O currículo passou a ser visto como uma teoria do conhecimento, contrariando<br />

mo<strong>de</strong>los pr<strong>é</strong>-<strong>de</strong>terminados, oriundos <strong>de</strong> instituições formais, dos sistemas educacionais <strong>de</strong><br />

ensino. Ele, passou a ser uma construção <strong>de</strong> diversas fontes <strong>de</strong> saberes individuais, coletivos,<br />

<strong>de</strong> educadores(as) e educandos, <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional, <strong>de</strong> experiências vivi<strong>da</strong>s no<br />

cotidiano escolar (ou não). Passando a ser algo vivo, construído para aten<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

do educando. Como assinala Pereira, (2004, p. 1)<br />

O currículo <strong>é</strong> vi<strong>da</strong>. As vivências que se efetivam nos diferentes espaços sociais,<br />

entre os quais, a escola, apresentam-se à reflexão curricular. Novos olhares para as<br />

<strong>prática</strong>s curriculares começam a ser realizados no âmbito acadêmico. As linhas<br />

<strong>de</strong>mocráticas entre o social, o humano e o biológico configuram-se como lugares <strong>de</strong><br />

passagem. Acolhemos essa perspectiva como uma exigência vital: a escola pulsa,<br />

os campos e <strong>prática</strong>s <strong>de</strong> significação e aprendizagem multiplicam-se e diversificamse<br />

mediados por novas relações, atores e tecnologias.<br />

Nesse sentido, o currículo <strong>é</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimentos entrelaçados e/ou<br />

transversalizados, produzidos num <strong>de</strong>terminado tempo e espaço atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>prática</strong> educativa. Envolvido em novos acontecimentos, objetiva um processo ensinoaprendizagem<br />

mais eficaz e aberto às transformações do mundo atual.<br />

Neste contexto acima exposto, a construção do currículo envolve to<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

escolar, especialmente educadores(as) e educando, colaborando na condução <strong>da</strong>s ações<br />

educativas, consi<strong>de</strong>rando as experiências individuais e coletivas do educando, sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

cultural, sem necessariamente <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar os conteúdos formais <strong>da</strong> escola. A união <strong>de</strong>sses<br />

saberes formais e informais constrói teorias curriculares mais abertas, flexíveis e reflexivas,<br />

ante as mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>. E, como assinala Scocuglia (In PEREIRA, 2004, p. 113),<br />

caso seja<br />

Correto pensar que todo currículo <strong>de</strong>ve ser permeado por conteúdos e metodologias<br />

gerais e fun<strong>da</strong>mentais, tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> garantido [...] e necessário o exercício o direito <strong>de</strong><br />

participar <strong>de</strong>le, interferir e a<strong>de</strong>ntrar nele, sugeri-lo, modificá-lo e reinventá-lo com<br />

base na <strong>prática</strong> reflexiva e crítica <strong>da</strong>queles que fazem o processo educativo no seu<br />

dia-a-dia. Claro que esta <strong>prática</strong> crítica e reflexiva <strong>é</strong> um aprendizado diário <strong>de</strong> ouvir<br />

o outro para conseguir ser ouvido [...] <strong>de</strong> respeitar as id<strong>é</strong>ias e as <strong>prática</strong>s dos outros<br />

[...].<br />

72


Assim, o currículo na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, como em qualquer outro grau<br />

ou mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong>ve estar sempre em construção, que se produz e se reproduz nas<br />

<strong>prática</strong>s educativas, envolvendo todos os sujeitos nele integrados, interligando saberes,<br />

formando uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimentos tecidos atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>s diversas experiências e ações<br />

educativas. Tais experiências e ações educativas são construí<strong>da</strong>s, geralmente por<br />

educadores(as) em seu cotidiano no espaço escolar.<br />

4.6 As educadoras no espaço escolar<br />

Esta abor<strong>da</strong>gem tem o propósito <strong>de</strong> buscar no dia a dia escolar <strong>da</strong>s educadoras <strong>da</strong><br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, o dinamismo no seu fazer educativo, a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> sua<br />

<strong>prática</strong> educativa.<br />

Diante <strong>da</strong>s análises <strong>da</strong>s falas <strong>da</strong>s educadoras sobre seu cotidiano escolar, obtivemos<br />

um discurso que valoriza uma <strong>prática</strong> inteligente: aberta, intuitiva, criativa e curiosa, capaz <strong>de</strong><br />

possibilitar ao educando um aprendizado <strong>de</strong> mundo, do mundo letrado. Como assinala Vóvio<br />

(2002, p. 35),<br />

Enfim, a rotina <strong>de</strong> uma classe <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> jovens e adultos precisa ser<br />

diversifica<strong>da</strong> e motivadora, tornando o processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem mais<br />

significativo. Al<strong>é</strong>m <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r dos alunos jovens e adultos, os<br />

ingredientes essenciais <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula estimulante são a experiência,<br />

a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e inovar dos educadores.<br />

A maioria <strong>da</strong>s educadoras expôs que suas aulas são dinâmicas, numa <strong>prática</strong> em que os<br />

educandos participam no movimento <strong>da</strong>s aulas. Estas são previamente prepara<strong>da</strong>s,<br />

privilegiando um trabalho com fábulas, bingos educativos 12 , correção <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com<br />

participação do educando por meio <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> ao quadro e explicações. Como diz a<br />

professora Anita Garibaldi<br />

12 O bingo <strong>é</strong> um jogo que está muito presente entre jovens e adultos, <strong>é</strong> geralmente promovido para aju<strong>da</strong>r<br />

financeiramente quadrilhas juninas, bem como outras festivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s; essa vivência na <strong>prática</strong> educativa, segundo<br />

as alfabetizadoras, aju<strong>da</strong> o educando a compreen<strong>de</strong>r melhor o que está sendo trabalhado na sala <strong>de</strong> aula.<br />

73


Gosto <strong>de</strong> contar fábula para incentivar minha aula, com lição <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> faço<br />

leitura no quadro <strong>de</strong> banca a banca. Depois entro no assunto <strong>da</strong> mat<strong>é</strong>ria do dia. E<br />

termino minha aula com leitura, com palavra ou pequeno texto. Quando vou <strong>da</strong>r um<br />

assunto faço pesquisa em vários livros, para observar qual a melhor maneira do<br />

aluno pegar o conteúdo, pra mim o importante não <strong>é</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(grifo nosso).<br />

A professora Anita Garibaldi <strong>de</strong>monstra atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> sua fala, uma ação frente à<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> busca, a fim <strong>de</strong> melhorar sua <strong>prática</strong> educativa, não se limitando apenas ao que<br />

está pronto e estabelecido no currículo e nos livros didáticos. A educadora expõe ain<strong>da</strong> em<br />

seu discurso, o uso <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> na construção <strong>de</strong> fábulas, valorizando a história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do<br />

educando. A educadora mostra que utiliza sua habili<strong>da</strong><strong>de</strong> criativa numa t<strong>é</strong>cnica que, i<strong>de</strong>ntifica<br />

os saberes pr<strong>é</strong>vios do educando, pois a produção <strong>da</strong> fábula, representa, segundo ela, fatos<br />

ocorridos no cotidiano do educando jovem e adulto. A fábula <strong>é</strong>, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma produção<br />

textual, construí<strong>da</strong> a partir do diálogo, <strong>da</strong> observação, do <strong>de</strong>bate, do entrosamento entre<br />

educadora e educando.<br />

Nessa mesma direção, a professora Maria Quit<strong>é</strong>ria nos faz enten<strong>de</strong>r que <strong>é</strong> preciso<br />

renovar a ca<strong>da</strong> dia as aulas para se obter um bom resultado na alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos, como diz<br />

Trabalho todos os dias, procurando fórmulas que aten<strong>da</strong>m aos alunos, <strong>de</strong> forma<br />

que obtenham um bom <strong>de</strong>sempenho no seu aprendizado. Saber li<strong>da</strong>r com as<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que aparecem, <strong>de</strong>vido a minha sala <strong>de</strong> aula os alunos terem acima <strong>de</strong><br />

30 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, chegam cansados do trabalho e alguns com problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Ca<strong>da</strong> dia <strong>é</strong> um dia para se renovar, tanto com os alunos, como as experiências<br />

que nós professores adquirimos. (grifos nossos)<br />

Diante do <strong>de</strong>poimento <strong>da</strong> professora Maria Quit<strong>é</strong>ria, percebemos que ela tamb<strong>é</strong>m tem<br />

uma postura <strong>de</strong> busca, com o objetivo <strong>de</strong> encontrar um meio mais eficaz em sua <strong>prática</strong><br />

pe<strong>da</strong>gógico, para aten<strong>de</strong>r mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos educandos jovens e<br />

adultos. Demonstra tamb<strong>é</strong>m que está aberta aos <strong>de</strong>safios oriundos <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa,<br />

frisando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se renovar e refletir sobre suas experiências, bem como valorizar as<br />

experiências que os educandos trazem consigo.<br />

Vale ressaltar que os aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong> na <strong>prática</strong> alfabetizadora do docente não<br />

se restringe apenas ao que se está acima exposto, <strong>é</strong> preciso ir al<strong>é</strong>m, extrapolar os resultados<br />

aqui obtidos na busca <strong>de</strong> melhores resultados na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar, ain<strong>da</strong>, que al<strong>é</strong>m <strong>da</strong>s constatações obti<strong>da</strong>s atrav<strong>é</strong>s dos <strong>de</strong>poimentos<br />

<strong>da</strong>s educadoras, encontramos nos dizeres dos educandos, <strong>da</strong>dos que nos revelam outras<br />

74


eflexões acerca <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa inteligente e do próprio ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong><br />

jovens e adultos.<br />

4.7 Os educandos e seus dizeres<br />

Após analisarmos as falas <strong>da</strong>s interlocutoras educadoras <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos, refletiremos agora sobre a voz dos educandos, concernente especialmente à sua<br />

percepção <strong>de</strong> mundo diante <strong>da</strong> sua condição <strong>de</strong> não-alfabetizado.<br />

4.7.1 O cotidiano dos educandos não-alfabetizados<br />

Ao dialogar com o educando jovem e adulto, frente ao seu cotidiano na condição <strong>de</strong><br />

não-alfabetizado, objetivamos i<strong>de</strong>ntificar sua percepção <strong>de</strong> mundo, bem como suas estrat<strong>é</strong>gias<br />

<strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> letra<strong>da</strong> em que vive.<br />

Dos <strong>de</strong>zenove educandos entrevistados, todos afirmaram <strong>de</strong> forma geral, que viver at<strong>é</strong><br />

a i<strong>da</strong><strong>de</strong> adulta sem ser alfabetizado tudo se torna mais difícil. Eles asseguraram que não sendo<br />

alfabetiza<strong>da</strong> a pessoa fica cega, sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> algu<strong>é</strong>m. Ain<strong>da</strong>, segundo eles, sem<br />

saber ler e escrever, sem a alfabetização, dificulta as relações sociais, suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

básicas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, como por exemplo: escrever um bilhete, ler uma carta, uma receita, bula <strong>de</strong><br />

rem<strong>é</strong>dio, fazer compras, contar, ler as embalagens <strong>da</strong>s mercadorias, as placas nas ruas, ensinar<br />

os filhos, pegar ônibus, <strong>de</strong>ntre outros. Como está registrado no <strong>de</strong>poimento do educando<br />

Abraão“<strong>é</strong> ruim, vê um negócio e não saber ler” (grifo nosso) e no <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Jacó<br />

No início não tinha muita visão do que era ser analfabeto [...] fui trabalhar na usina,<br />

não sabia preencher a ficha, todos ignoraram [...] Senti a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo estudo,<br />

para trabalhar, o modo <strong>de</strong> falar, <strong>de</strong> respeitar os outros, alargar a compreensão<br />

do mundo. Ter que chamar outra pessoa pra ler pra você [...] (grifo nosso)<br />

Ain<strong>da</strong> sobre essa questão, o educando Simão diz “[...] me lembro que comprei um<br />

creme <strong>de</strong> cabelo por pasta, aí o colega percebeu [...] É dificultoso para quem não estu<strong>da</strong>”<br />

(grifo nosso).<br />

75


Estes <strong>de</strong>poimentos mostram claramente as múltiplas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que os jovens e os<br />

adultos não-alfabetizados passam numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> letra<strong>da</strong>. Chegar à i<strong>da</strong><strong>de</strong> adulta sem ser<br />

alfabetizado, sem apren<strong>de</strong>r a fazer a leitura <strong>da</strong>s coisas que o cerca, <strong>é</strong> um <strong>de</strong>safio cotidiano.<br />

Como expressa o já citado <strong>de</strong>poimento <strong>da</strong> aluna Mirian (p.32) referindo-se a sua difícil<br />

caminha<strong>da</strong>, sem saber ler nem escrever, seguindo a luz <strong>da</strong> Telemar na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> gran<strong>de</strong>, Recife.<br />

Ela <strong>de</strong>senvolveu uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> criativa, inventou inteligentemente, força<strong>da</strong> pelas<br />

circunstancias, uma estrat<strong>é</strong>gia para chegar ao seu <strong>de</strong>stino.<br />

São capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s inventivas com esta acima cita<strong>da</strong>, retira<strong>da</strong>s do cotidiano do educando,<br />

construí<strong>da</strong>s atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> suas experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como <strong>inteligência</strong>s, que po<strong>de</strong>m<br />

ser trabalha<strong>da</strong>s pelo(a) educador(a) em sala <strong>de</strong> aula, por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates, discussões, teatro,<br />

procedimentos educativos, que possibilitem ao educando no processo ensino-aprendizagem,<br />

uma maior compreensão do contexto cultural em que vive.<br />

Outros entrevistados dizem que, antes <strong>de</strong>ste momento atual - no estudo <strong>da</strong><br />

alfabetização no espaço escolar - trabalhavam (como ain<strong>da</strong> trabalham) e at<strong>é</strong> já sabiam<br />

escrever e ler. Por<strong>é</strong>m, geralmente não compreendiam o que escreviam nem o que liam. Os<br />

educandos afirmaram que freqüentavam a escola, mas não sabiam contar e não tinham<br />

incentivo nenhum <strong>de</strong> seus pais, como diz a aluna Sara “trabalhava no sítio, fui para a escola,<br />

escrevia, mas não entendia na<strong>da</strong> (grifo nosso). Quando via o outro lendo me sentia<br />

p<strong>é</strong>ssima, muito p<strong>é</strong>ssima”. E, a aluna Raquel ressalta “Trabalhava. O ensinamento <strong>de</strong><br />

antigamente era melhor, tinha cartilha. Na primeira s<strong>é</strong>rie estu<strong>da</strong>va o livro todinho. Não sei<br />

contar, esqueci dos estudos”(grifo nosso).<br />

Percebemos, diante dos <strong>de</strong>poimentos acima <strong>de</strong>stacados, algumas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses<br />

jovens e adultos não alfabetizados em seu dia a dia, numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> letra<strong>da</strong>. I<strong>de</strong>ntificamos<br />

tamb<strong>é</strong>m aqueles que, mesmo possuindo um pouco <strong>de</strong> escrita ou leitura, não compreendiam<br />

esta linguagem na <strong>prática</strong> social. Por isso <strong>é</strong> relevante uma <strong>prática</strong> educativa inteligente na<br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, trabalhando a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando, pois, <strong>é</strong> não<br />

apenas mais prazeroso para ele, como proveitoso.<br />

Dito <strong>de</strong> outro modo, nota-se que são gran<strong>de</strong>s os <strong>de</strong>safios do jovem e do adulto, em<br />

viver at<strong>é</strong> a i<strong>da</strong><strong>de</strong> adulta, num universo <strong>de</strong> letras e números sem compreendê-los, sendo<br />

necessário criar possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, ante aos<br />

empecilhos e as experiências vivi<strong>da</strong>s nessa reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, verificamos o <strong>de</strong>sejo contínuo dos<br />

jovens e adultos, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> faixa etária exigi<strong>da</strong> para o ensino regular, <strong>de</strong> começar ou<br />

recomeçar seus estudos.<br />

76


4.7.2 A expectativa do educando quanto à <strong>prática</strong> social <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita<br />

Contemplamos dois fatores em especial ao analisarmos as falas dos alfabetizandos<br />

jovens e adultos frente as suas expectativas e aspirações construí<strong>da</strong>s diante <strong>da</strong> <strong>prática</strong> social<br />

<strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita. Primeiro, a ascensão social e, segundo a auto-estima.<br />

A maioria dos entrevistados falou que ingressaram na alfabetização a fim <strong>de</strong> progredir<br />

na vi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>monstrando o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r para galgar melhores empregos, pois tem<br />

consciência que <strong>é</strong> necessário ser alfabetizado, não apenas para obter um título (ter um<br />

documento que prove sua escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>), mas para ter leitura, escrita e compreensão <strong>da</strong>s coisas<br />

que o cerca. Os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>monstram o interesse dos educandos em usarem a leitura e a<br />

escrita em sua vi<strong>da</strong>, no dia-a-dia, em seu cotidiano, como propósito <strong>de</strong> realização pessoal e<br />

ascensão social.<br />

Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar como primeiro fator, frente às expectativas do educando jovem e<br />

adulto, a sua ascensão social. Sobre essa questão, ressalta a aluna Maria “se tiver um<br />

concurso, aí, já posso participar. O que eu aprendi já vai garantir alguma coisa. Fazer<br />

curso <strong>de</strong> enfermagem”. E, a aluna Rute diz: “arrumar um serviço melhor e po<strong>de</strong>r aju<strong>da</strong>r<br />

meu filho [...]”. E ain<strong>da</strong>, o aluno Jacó afirma “Quero oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> melhor, como ela já<br />

estar sendo utiliza<strong>da</strong> em minha vi<strong>da</strong>” (grifos nossos). Estes <strong>de</strong>poimentos nos fazem in<strong>da</strong>gar: o<br />

ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>é</strong> uma ponte para a ascensão social?<br />

Notamos na fala dos interlocutores, que a ascensão social entendi<strong>da</strong> por eles, refere-se,<br />

na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a uma melhoria <strong>de</strong> sua condição <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, um emprego mais suave, não<br />

propriamente uma função intelectual, como expõe a aluna Judite, a alfabetização mudou<br />

“muita coisa, agora recebi at<strong>é</strong> um convite para trabalhar. Mudou a convivência, at<strong>é</strong> em<br />

conversar. Quem estu<strong>da</strong> se sai melhor. Eu não assinava, hoje eu assino, não escrevia, hoje eu<br />

escrevo” (grifo nosso).<br />

Nessa direção i<strong>de</strong>ntificamos na pesquisa realiza<strong>da</strong> por Gonsalves (1996, p. 82) 13 , com<br />

trabalhadores alfabetizandos, uma relação como que estamos <strong>de</strong>stacando aqui. Gonsalves<br />

i<strong>de</strong>ntificou que a compreensão <strong>de</strong> ascensão social via alfabetização pelos educandos, estava<br />

relaciona<strong>da</strong> a uma “mo<strong>de</strong>sta melhoria <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> limites que caracterizam o ‘trabalho pesado’ e<br />

que a escola po<strong>de</strong> oferecer”.<br />

13 GONSALVES, Elisa Pereira (1996). “Escola e Trabalhadores: revisando o tema <strong>da</strong> ascensão social pela<br />

educação escolar”. Pesquisa realiza<strong>da</strong> com alunos operários <strong>da</strong> construção civil em João Pessoa. (p.82).<br />

77


Diante do exposto acima, verificamos tamb<strong>é</strong>m que a expectativa <strong>de</strong> melhoria <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

do educando jovem e adulto em Itamb<strong>é</strong>, por meio <strong>da</strong> alfabetização, <strong>é</strong> significativa para sua<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social, pois são transformações frente ao uso <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita na sua <strong>prática</strong><br />

social. No entanto, isso não significa uma promoção em seu status, nem se refere a um<br />

crescimento material efetivo <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> uma classe social para outra. A ascensão social<br />

almeja<strong>da</strong> pelo alfabetizando, via alfabetização, não po<strong>de</strong> ser entendi<strong>da</strong> como um salto <strong>de</strong> uma<br />

condição social inferior para outra superior, isto <strong>é</strong>, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser pobre, para ser rico.<br />

Importante consi<strong>de</strong>rar ain<strong>da</strong> o segundo fator: a auto-estima. Os educandos preten<strong>de</strong>m,<br />

sobretudo, por meio <strong>da</strong> alfabetização, um avanço no que diz respeito especialmente às<br />

relações sociais, falando e se expressando melhor, pegando ônibus corretamente, lendo os<br />

preços <strong>da</strong>s mercadorias, um aperfeiçoamento <strong>de</strong> relacionamento com a família, amigos,<br />

trabalho, comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Enten<strong>de</strong>-se, assim, que os educandos buscam elevar sua auto-estima e se reconhecer<br />

como ci<strong>da</strong>dãos participativos em sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sobre essa questão Talita fala, com a<br />

alfabetização “Mudou muito. Aprendi mais a ler, aprendi mais o modo <strong>de</strong> falar com as<br />

pessoas. Às vezes as pessoas fala com a gente e a gente se per<strong>de</strong>, não enten<strong>de</strong> na<strong>da</strong>”. E, Jacó<br />

afirma, com a escola “Mudou muita coisa. Por exemplo: chegar nos cantos, saber se<br />

comportar. Tudo isso <strong>é</strong> importante em nossa vi<strong>da</strong>. Depois <strong>da</strong> escola meu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

foi muito gran<strong>de</strong>, tanto no profissional como no pessoal”. (grifos nossos)<br />

Dessa forma, estas pessoas procuram <strong>alfabetizar</strong>-se em um conceito mais amplo,<br />

ultrapassando os limites <strong>da</strong> <strong>de</strong>codificação <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, fazendo uso prático <strong>da</strong> leitura<br />

<strong>de</strong> mundo. Sobre essa questão a aluna Isabel ressalta, “eu quero apren<strong>de</strong>r ca<strong>da</strong> vez mais,<br />

porque hoje eu sei que a leitura <strong>é</strong> muito importante, quero <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser cega” e Edite,<br />

“apren<strong>de</strong>r e passar para algu<strong>é</strong>m que não sabe. Dizer como <strong>é</strong> importante a leitura”. (grifos<br />

nossos)<br />

Sendo relevante consi<strong>de</strong>rar, que os educandos jovens e adultos ain<strong>da</strong> frisam que<br />

estu<strong>da</strong>m para acompanhar seus filhos e incentivá-los, servindo-se <strong>de</strong> exemplo, como diz a<br />

aluna Sara “quero mostrar para meus filhos que vou apren<strong>de</strong>r mais ain<strong>da</strong>”. E, a<br />

alfabetizan<strong>da</strong> Fua diz, “eu quero mais apren<strong>de</strong>r para ensinar minha menina, porque eu já<br />

tenho meu emprego” (grifos nossos).<br />

É importante ressaltar nesta questão, que todos os alfabetizandos têm perspectivas ao<br />

ingressarem ou reingressarem na escola, criam anseios quando pensam em <strong>alfabetizar</strong>-se.<br />

Assim, a alfabetização para os jovens e adultos, a <strong>prática</strong> educativa nela inseri<strong>da</strong>, traz consigo<br />

um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> para os(as) educadores(as), pois, <strong>é</strong> vista pelos<br />

78


educandos como uma ponte para a realização <strong>de</strong> seus objetivos, expectativas, sonhos e<br />

<strong>de</strong>sejos.<br />

Vale ressaltar que os educandos <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos nos ensinam o<br />

sentido humano do convívio, <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> vital <strong>de</strong> se relacionar bem, <strong>de</strong> se comunicar<br />

melhor com os outros e com o mundo em que vive, e se preocupam efetivamente quando<br />

per<strong>de</strong>m esse contato na escola ao faltarem às aulas.<br />

4.7.3 O significado <strong>da</strong> falta às aulas para o educando jovem e adulto<br />

Um olhar sobre o significado <strong>da</strong> falta às aulas para o educando <strong>é</strong> um aspecto <strong>de</strong><br />

fun<strong>da</strong>mental importância para se refletir em recursos que colaborem com o seu acolhimento<br />

no espaço escolar. Por isso chamamos a atenção dos(as) educadores(as) alfabetizadores(as)<br />

quanto a este tema, pois constatamos a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência do educando, quando ele<br />

pensa nas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>rá encontrar ao retornar para a escola, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter faltado à<br />

um ou alguns dias <strong>de</strong> aula. Sobre essa questão <strong>de</strong>stacamos as falas dos educandos ao dizerem<br />

o que sentem quando freqüentam a escola:<br />

-Abraão - quando eu perco, chego aqui, não sei <strong>de</strong> na<strong>da</strong> do outro dia. O que ia<br />

apren<strong>de</strong>r, não aprendi.<br />

- Talita - penso em per<strong>de</strong>r muita coisa, as mat<strong>é</strong>rias que a professora passou, chegar<br />

aqui e não saber <strong>de</strong> na<strong>da</strong>.<br />

- Jacó - mais um assunto que eu perdi, eu sinto falta, fico agoniado.<br />

- Mirian - penso que perdi assunto. O que foi <strong>da</strong>do hoje, não vai ser <strong>da</strong>do no<br />

outro dia. E, quando pegamos assunto <strong>da</strong> outra pessoa, nunca <strong>é</strong> como a<br />

professora está explicando.<br />

- Davi - o que sinto <strong>é</strong> que agente vai per<strong>de</strong>r mais um dia, porque agente já<br />

per<strong>de</strong>u muito (grifos nossos).<br />

Diante dos <strong>de</strong>poimentos acima <strong>de</strong>stacados, notamos que os educandos quando faltam<br />

às aulas sentem-se fragilizados, angustiados, preocupados em não conseguirem acompanhar<br />

os assuntos que per<strong>de</strong>ram. Talvez seja este um fator que provoque o <strong>de</strong>sestímulo e a<br />

<strong>de</strong>sistência, cabendo assim aos educadores e as educadoras <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos, criar ou <strong>de</strong>senvolver habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s no sentido <strong>de</strong> possibilitar um ambiente <strong>de</strong><br />

acolhimento para esses educandos, que por motivos vários, não pu<strong>de</strong>ram comparecer às aulas,<br />

a fim <strong>de</strong> acabar ou minimizar com esta situação <strong>de</strong> constrangimento e fracasso.<br />

79


Vale ressaltar ain<strong>da</strong> que, quando o educando falta à aula ele sofre, <strong>de</strong>senvolvendo um<br />

sentimento <strong>de</strong> medo e insegurança. Constatamos isso em diversas falas e selecionamos como<br />

exemplo a aluna Rute, ao dizer que quando não vem à aula “sinto falta. Fico pensando o que<br />

a professora está pensando, hoje os outros vão apren<strong>de</strong>r e eu não”. E, quando a aluna Fua<br />

diz, “fico aperrea<strong>da</strong>, porque não vim, porque não sei do assunto. Fica difícil”. (grifos<br />

nossos).<br />

Assim, constatamos por meio <strong>da</strong>s revelações acima expostas, que a questão do<br />

acolhimento aos sentimentos dos educandos que faltam às aulas, não está sendo<br />

suficientemente consi<strong>de</strong>rado na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. Desse modo, como já<br />

mencionados em outros momentos <strong>de</strong>sta pesquisa, <strong>é</strong> urgente a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer uma<br />

<strong>prática</strong> educativa inteligente volta<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma específica para essa população jovem e adulta,<br />

a fim <strong>de</strong> resgatá-los efetivamente para a escola e para sua inserção e participação concreta na<br />

<strong>prática</strong> social do mundo letrado.<br />

4.7.4 As educadoras diante <strong>da</strong> visão dos educandos<br />

Este tema tem a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a <strong>prática</strong> educativa <strong>da</strong>s educadoras <strong>da</strong><br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos por meio <strong>da</strong> percepção do educando.<br />

Constatamos por meio <strong>da</strong> fala dos educandos entrevistados, que eles expressaram um<br />

gran<strong>de</strong> interesse no momento <strong>da</strong> leitura, <strong>da</strong> escrita, e <strong>da</strong> explicação, fazendo-nos enten<strong>de</strong>r que:<br />

este <strong>é</strong> o momento em que há maior interação entre educadora e educando; <strong>é</strong> o momento em<br />

que eles mais se i<strong>de</strong>ntificam com a aula, <strong>de</strong>monstrando que estão na leitura e na escrita seu<br />

maior <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> superação. Isso nos faz refletir sobre a forma como a educadora atua, sobre as<br />

habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s usa<strong>da</strong>s em sua <strong>prática</strong> educativa, para que o educando se sinta motivado a gostar<br />

mais <strong>de</strong>sse momento <strong>da</strong> aula. Como expressam os alfabetizandos,<br />

-Maria - gosto mais do [...] momento <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita.<br />

-Ruti - quando ta lendo e explicando, porque entendo melhor.<br />

-Talita - gosto mais <strong>de</strong> leitura e quando a professora está explicando.<br />

Diante do exposto, consi<strong>de</strong>ramos que a maioria dos educandos jovens e adultos gosta<br />

mais do momento <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita no espaço <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula, nos fazendo levantar dois<br />

questionamentos: Esse gostar <strong>da</strong> leitura, <strong>da</strong> escrita e <strong>da</strong> explicação, reflete uma <strong>prática</strong><br />

80


tradicional <strong>da</strong>s educadoras, em que elas falam e os educandos escutam, sem nenhum<br />

entrosamento? Ou reflete um momento em que os conteúdos em discussão entram em sintonia<br />

com os saberes pr<strong>é</strong>vios do educando?<br />

Assim, referindo-se ao primeiro questionamento, mesmo diante <strong>da</strong>s alfabetizadoras<br />

exporem que trabalham <strong>de</strong> forma dinâmica, valorizando a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos educandos,<br />

por meio <strong>da</strong> observação, do diálogo, do <strong>de</strong>bate, <strong>da</strong>s fábulas, elas tamb<strong>é</strong>m po<strong>de</strong>m exercer<br />

contraditoriamente, uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> liga<strong>da</strong> a ações tradicionais em que, o aluno vê, escuta e<br />

copia, sem um envolvimento do que fazem educadoras e educandos juntos.<br />

Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar ain<strong>da</strong> um outro aspecto, exposto atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> fala do educando<br />

Abraão, que afirma, o momento que mais gosta <strong>é</strong> <strong>da</strong> aula <strong>é</strong> <strong>da</strong> “matemática”, e Salom<strong>é</strong> que diz<br />

gostar mais “quando multiplica, que eu entendo e aprendo”. Nota-se, nos <strong>da</strong>dos pesquisados,<br />

que poucos concor<strong>da</strong>m com estas preferências, talvez porque a matemática esteja<br />

<strong>de</strong>sassocia<strong>da</strong> dos saberes pr<strong>é</strong>vios do educando e, portanto, <strong>da</strong>s suas condições concretas <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong>.<br />

Contudo, a maioria dos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>monstram que os educandos <strong>da</strong> alfabetização<br />

<strong>de</strong> jovens e adultos sentem-se atormentados pela matemática (característica <strong>de</strong> outros graus <strong>de</strong><br />

ensino). Eles falam que, o momento mais <strong>de</strong>sagradável <strong>da</strong> aula <strong>é</strong> exatamente quando a<br />

matemática está sendo trabalha<strong>da</strong>. Sobre essa questão <strong>de</strong>stacamos as falas <strong>da</strong>s alunas: Rute<br />

que diz a, “Matemática, <strong>é</strong> muito complicado, mais do que ler, minha cabeça dói”; Sara, diz<br />

“[...] aquela conta <strong>de</strong> dividir <strong>é</strong> complicado”; E, Judite assinala “a matemática, <strong>é</strong> meio dura<br />

para mim” (grifo nosso).<br />

Atrav<strong>é</strong>s dos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>stacados, levantamos um questionamento frente a esse<br />

sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgosto com o momento <strong>da</strong> aula <strong>da</strong> matemática: o(a) educador(a) está<br />

utilizando em sua <strong>prática</strong> educativa a experiência <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do educando, como referência para<br />

operacionalizar a matemática? Talvez seja este um fator relevante <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado na<br />

<strong>prática</strong> pe<strong>da</strong>gógica na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. Trabalhar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos<br />

educandos na matemática <strong>é</strong> uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> (como já constatado no núcleo <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong><br />

EJA em Matemática <strong>da</strong> USP), para se obter <strong>de</strong>le, não apenas o prazer pala matemática, mas a<br />

aprendizagem <strong>da</strong> matemática.<br />

4.7.5 O educando assumindo a condição <strong>de</strong> educador(a)<br />

Ao revelar o tipo <strong>de</strong> educador(a) que o educando jovem e adulto <strong>de</strong>sejaria ser, como<br />

ensinaria aquilo que sabe fazer, ele expressa naturalmente o perfil <strong>de</strong> um(a) educador(a) i<strong>de</strong>al.<br />

81


Nesta abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong>stacamos dois fatores: primeiro, o <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r observando e, segundo, o<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r fazendo.<br />

Em relação ao primeiro fator, apren<strong>de</strong>r observando, foi i<strong>de</strong>ntificado por meio <strong>da</strong>s falas<br />

<strong>da</strong> maioria dos entrevistados, que consi<strong>de</strong>rou a observação, a atenção pela explicação, um<br />

ponto <strong>de</strong>terminante para a aprendizagem, acreditando ser esta postura, um meio eficaz para<br />

apren<strong>de</strong>r. Esta compreensão se encontra bem explícita no <strong>de</strong>poimento <strong>da</strong> aluna Maria que diz,<br />

“ensinaria do jeito que aprendi. Quando fui morar na casa <strong>da</strong> minha sogra não sabia nem fritar<br />

um ovo, observava todos os movimentos <strong>de</strong>la. Você só apren<strong>de</strong> alguma coisa observando<br />

todos os movimentos <strong>de</strong> quem está lhe ensinando”.(grifo nosso)<br />

Sobre esta mesma questão, po<strong>de</strong>mos citar tamb<strong>é</strong>m a aluna Rute “[...] Eu explicaria o<br />

que era para fazer e fazia para ela ver como <strong>é</strong>”. E, ain<strong>da</strong> o aluno Mois<strong>é</strong>s fala, “eu ia<br />

ensinar do jeito que eu aprendi. Apren<strong>de</strong>ndo, an<strong>da</strong>ndo na rua, conversando com o povo.<br />

Era assim que eu ia ensinar. Porque eu vendia prestação, ven<strong>de</strong>ndo panela, conquistando,<br />

fazendo o cartão” (grifos nossos).<br />

A partir <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>clarações, po<strong>de</strong>mos afirmar que o educando jovem e adulto,<br />

i<strong>de</strong>ntifica a observação, a atenção, a repetição acompanha<strong>da</strong> e o diálogo, como fatores<br />

fun<strong>da</strong>mentais para a aprendizagem. Daí <strong>de</strong>ve estar a preocupação do(a) educador(a) em seu<br />

fazer pe<strong>da</strong>gógico, como diz Freire (2003, p.83) “minha <strong>prática</strong> dialógica com meus pais me<br />

preparara para continuar a vivê-la com meus alunos”. Ter uma <strong>prática</strong> educativa que valorize<br />

o diálogo <strong>é</strong> respeitar as id<strong>é</strong>ias, opiniões e críticas do educando. É ter a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conhecê-lo e conhecendo-o, apren<strong>de</strong>r com ele o seu mundo, aju<strong>da</strong>ndo-o, assim, a reaprendê-lo<br />

por meio <strong>de</strong> um outro olhar, do olhar alfabetizado. O movimento do diálogo e <strong>da</strong> observação,<br />

torna-se <strong>de</strong>ssa forma, um caminho para <strong>de</strong>spertar a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> na busca contínua <strong>de</strong><br />

encontrar melhores meios para aprendizagem do educando jovem e adulto.<br />

Um outro fator <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental importância <strong>é</strong> o apren<strong>de</strong>r fazendo. Uma boa parte dos<br />

investigados afirmou que, ensinaria man<strong>da</strong>ndo fazer o que ele faz. Os alunos citados assim<br />

falaram, ensinaria:<br />

-Sara - Levando para o sítio, plantando, colhendo, aguando, ensinando, com a<br />

enxa<strong>da</strong>, <strong>de</strong>pois com a mão. O outro aprendia fazendo.<br />

-Abraão - Eu chamava e ia ensinando, <strong>de</strong> pouco a pouco, jogar bola, pintar.<br />

-Judite - Sou dona <strong>de</strong> casa. Passar e lavar <strong>é</strong> o que sei. Ensinava man<strong>da</strong>ndo fazer o<br />

que eu faço. Eu ensinaria em casa passando o que eu sei para a pessoa. A pessoa<br />

comigo trabalhava na cozinha, <strong>é</strong> o que eu sei fazer. (grifos nossos).<br />

82


Nesse sentido, ressaltamos que apren<strong>de</strong>r fazendo, experimentando <strong>é</strong> uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do educando jovem e adulto. Ele acredita num apren<strong>de</strong>r concreto, vivenciando, como expressa<br />

o aluno Jacó, quando questionado sobre, como ensinaria o que saber fazer? “Da maneira<br />

que a professora passou para mim, na escrita, na <strong>prática</strong>. É fazer o serviço com as<br />

próprias mãos”. Davi, sobre isso respon<strong>de</strong>, “Eu levaria a pessoa comigo e ensinaria o que<br />

eu sei, ensinaria fazendo” (grifos nossos).<br />

É nesse processo <strong>da</strong> observação e ação, ou como estamos habituados a dizer, ação e<br />

reflexão, que a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa se manifesta, por meio <strong>da</strong>s estrat<strong>é</strong>gias<br />

utiliza<strong>da</strong>s na <strong>prática</strong> educativa, (que faz refletir sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta do educando),<br />

bingos educativos, construção <strong>de</strong> fábulas, <strong>de</strong>bates, bem como outras t<strong>é</strong>cnicas e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

observação, <strong>de</strong> investigação, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s nesta pesquisa, como aspectos <strong>da</strong> <strong>inteligência</strong><br />

humana, com o propósito <strong>de</strong> levar o educando a aprendizagem. Contudo, sabemos diante <strong>da</strong><br />

dimensão histórica <strong>da</strong> EJA, que <strong>é</strong> preciso mais do que a utilização <strong>de</strong>sses aspectos <strong>da</strong><br />

<strong>inteligência</strong> humana na <strong>prática</strong> educativa para se obter o sucesso <strong>de</strong>sejado e necessário na<br />

aprendizagem <strong>da</strong> alfabetização. Por<strong>é</strong>m, <strong>é</strong> imprescindível enten<strong>de</strong>r que, uma <strong>prática</strong><br />

pe<strong>da</strong>gógica inteligente <strong>é</strong>, induvi<strong>da</strong>velmente um caminho para a aprendizagem do educando.<br />

4.7.6 O que mudou para o educando com o processo <strong>de</strong> alfabetização?<br />

Esta questão acima <strong>de</strong>stacado foi elaborado com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, at<strong>é</strong> que<br />

ponto a alfabetização está aten<strong>de</strong>ndo às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e perspectivas do educando jovem e<br />

adulto no espaço escola <strong>da</strong> re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino.<br />

Dos <strong>de</strong>zenove alfabetizandos investigados, <strong>de</strong>zessete afirmaram que, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong><br />

alfabetização muita coisa mudou, sua letra, seu jeito <strong>de</strong> se expressar, <strong>de</strong> se relacionar,<br />

ampliando sua forma <strong>de</strong> ver o mundo e <strong>de</strong> participar diante <strong>de</strong>le, interferindo <strong>de</strong> forma<br />

fun<strong>da</strong>mental em sua vi<strong>da</strong> cotidiana.<br />

Diante dos <strong>de</strong>poimentos, <strong>de</strong>stacamos a aluna Maria que diz, “O que mudou para<br />

mim foi a caligrafia. O jeito <strong>de</strong> se expressar, <strong>de</strong> conversar com as pessoas. Conversava<br />

bem mais errado, trocava as palavras”. O alfabetizando Mois<strong>é</strong>s assinala, “Olhe, o que mudou<br />

na minha vi<strong>da</strong> com a escola, foi que me consi<strong>de</strong>rava um analfabeto e hoje não sou mais.<br />

Isso mudou muito na minha vi<strong>da</strong>”. E, ain<strong>da</strong> a aluna Sara diz “Mudou tudo, na leitura, na<br />

83


caligrafia, na educação, comigo e com meus filhos” (grifos nossos). Há ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> se<br />

consi<strong>de</strong>rar os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>:<br />

-D<strong>é</strong>bora - Mudou muita coisa, principalmente na rotina. O fim do dia era cansativo,<br />

agora vou para a escola. Hoje eu sou mais libera<strong>da</strong> para falar com as pessoas,<br />

para conviver melhor. Melhorei a caligrafia, perdi mais a vergonha <strong>de</strong> falar mais<br />

com amigos. Eu era tími<strong>da</strong>, estou apren<strong>de</strong>ndo mais, gostei tanto que o ano que vem<br />

vou continuar.<br />

-Sara - Muita coisa, amiza<strong>de</strong> com os colegas, união. A professora ensina muito<br />

bem...apren<strong>de</strong> e presta conta a professora. Mudou bastante, leio uma placa<br />

quando saio na rua, revista, carta, uma carta bem caprichosa.<br />

-Simão - Tudo, por tudo. Não sabia <strong>de</strong> na<strong>da</strong>, estou sabendo alguma coisa agora.<br />

Aprendi a ler, apanhar um Ônibus para viajar. O pouco que aprendo passo para<br />

os colegas, incentivando para vir tamb<strong>é</strong>m. Nunca <strong>é</strong> tar<strong>de</strong> para apren<strong>de</strong>r. (grifos<br />

nossos).<br />

Diante <strong>da</strong> análise <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>poimentos consi<strong>de</strong>ramos que o processo <strong>de</strong> alfabetização<br />

realiza gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s perspectivas dos educandos jovens e adultos, concretizando suas<br />

aspirações, quanto à leitura, a escrita, e ao uso prático <strong>de</strong>sse aprendizado, possibilitando<br />

comunicar-se melhor com o mundo.<br />

Sem dúvi<strong>da</strong>, a alfabetização <strong>é</strong> uma ponte significativa <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>sta mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong> para os alfabetizandos jovens e adultos em nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Constatamos que ela <strong>é</strong> um<br />

caminho na re<strong>de</strong>scoberta dos saberes dos educandos. Contudo, gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sses saberes<br />

são construídos fora do espaço escolar, assim o apren<strong>de</strong>r acontece em seu contexto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

com suas experiências. Cabe ao educador e a educadora <strong>de</strong>ssa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, usar a<br />

<strong>inteligência</strong> em sua <strong>prática</strong> alfabetizadora, tornando o conhecimento <strong>de</strong> mundo do educando<br />

jovem e adulto mais compreensível, mais presente e mais consciente em sua vi<strong>da</strong>.<br />

84


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Partindo <strong>de</strong> tudo que foi estu<strong>da</strong>do, tentamos i<strong>de</strong>ntificar alguns recursos utilizados na<br />

<strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. Assim, se faz necessário<br />

tecer algumas consi<strong>de</strong>rações pertinentes quanto à proposta e aos objetivos mais específicos<br />

<strong>de</strong>sta pesquisa e o que foi alcançado com o esforço <strong>de</strong>ste trabalho. Por<strong>é</strong>m, ao levantarmos tais<br />

consi<strong>de</strong>rações, não temos a pretensão <strong>de</strong> mostrar um produto pronto e acabado, pois, esta<br />

pesquisa <strong>é</strong> um veio aberto que precisa ser aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>, propondo <strong>de</strong>svelar novos<br />

<strong>de</strong>sdobramentos sobre o tema em questão.<br />

Todo o processo <strong>de</strong>sta investigação, percorrido atrav<strong>é</strong>s dos estudos em busca <strong>de</strong><br />

fun<strong>da</strong>mentação teórica, nos fez mergulhar em direção aos fazeres pe<strong>da</strong>gógicos inteligentes,<br />

voltados para uma efetiva aprendizagem dos educandos jovens e adultos. O contato e as<br />

discussões com as alfabetizadoras, bem como com os alfabetizandos, trouxeram alguns<br />

achados e <strong>de</strong>scobertas. Vale ressaltar que as <strong>de</strong>scobertas são muitas vezes imprevisíveis,<br />

contudo, nos levam ao encontro <strong>de</strong> prováveis respostas às nossas buscas, nos encaminhando<br />

gra<strong>da</strong>tivamente para as possíveis explicações <strong>de</strong> nossos eixos <strong>de</strong> análises.<br />

Verificamos por meio dos estudos e <strong>da</strong>s análises a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> utilização docente<br />

<strong>de</strong> um fazer pe<strong>da</strong>gógico inteligente, que consi<strong>de</strong>re a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> contextual e a experiência <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong> do educando. Conseguimos rever conceitos sobre a compreensão <strong>da</strong> alfabetização, mais<br />

especificamente acerca <strong>da</strong> leitura, <strong>da</strong> escrita e do conhecimento <strong>de</strong> mundo. A partir <strong>de</strong>ssas<br />

reflexões, trazemos as seguintes constatações retira<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s falas <strong>da</strong>s educadoras<br />

alfabetizadoras <strong>de</strong> jovens e adultos em Itamb<strong>é</strong>:<br />

A) As educadoras estão preocupa<strong>da</strong>s com a concretização <strong>de</strong> um fazer pe<strong>da</strong>gógico<br />

eficiente, cobrando um trabalho <strong>de</strong> formação e orientação por parte <strong>da</strong>s instituições<br />

liga<strong>da</strong>s à alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, a fim <strong>de</strong> aperfeiçoar sua <strong>prática</strong> docente;<br />

B) Elas percebem a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar e <strong>de</strong>senvolver suas potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s na ação<br />

alfabetizadora, por meio <strong>de</strong> sua qualificação profissional em cursos <strong>de</strong> graduação,<br />

informações e pesquisas pessoais, procurando apreen<strong>de</strong>r o universo <strong>da</strong> alfabetização<br />

<strong>de</strong> jovens e adultos.<br />

C) Os recursos inteligentes <strong>da</strong> <strong>prática</strong> educativa <strong>da</strong>s alfabetizadoras: abertura, intuição,<br />

criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, estão associados às t<strong>é</strong>cnicas, habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s que<br />

elas investem em seu fazer docente, por meio <strong>da</strong> produção textual, <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong><br />

bingos educativos, do diálogo, do <strong>de</strong>bate, <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> fábulas (enfocando fatos do<br />

85


cotidiano do educando), <strong>de</strong>ntre outras, utiliza<strong>da</strong>s como forma <strong>de</strong> integrar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

social e cultural do alfabetizando no espaço escolar;<br />

D) Compreen<strong>de</strong>m a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um fazer alfabetizador diferente <strong>da</strong>quele utilizado<br />

com as crianças, valorizando os saberes pr<strong>é</strong>vios do educando.<br />

Tais constatações acima <strong>de</strong>staca<strong>da</strong>s <strong>de</strong>monstram o <strong>de</strong>sejo <strong>da</strong>s alfabetizadoras <strong>de</strong> se<br />

superarem numa <strong>prática</strong> educativa inteligente, que aju<strong>de</strong> efetivamente os educandos jovens e<br />

adultos a realizarem suas expectativas com a alfabetização. Por<strong>é</strong>m vale ressaltar que, esse<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> superação <strong>da</strong>s alfabetizadoras se <strong>de</strong>para com inúmeras dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e obstáculos (<strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m política, econômica e social) imersas na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA.<br />

Trazemos tamb<strong>é</strong>m, as constatações com relação aos alfabetizandos jovens e adultos,<br />

parte fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong>sta pesquisa. Vimos (capítulo IV) que o educando jovem e adulto, antes<br />

<strong>da</strong> alfabetização, cria, diante <strong>da</strong> falta <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, mecanismos <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> mundo,<br />

produzindo um saber que o aju<strong>da</strong>, a a<strong>da</strong>ptar-se ao mundo letrado, mas <strong>de</strong> certa forma a<br />

compreendê-lo, por meio <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> outras pessoas para leituras e produções escritas, <strong>de</strong><br />

pontos <strong>de</strong> referências, superando, assim, com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s suas limitações. Diante disto<br />

comprovamos que os educandos:<br />

A) Constroem expectativas quando ingressam ou regressam ao ambiente escolar,<br />

acreditando que suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s serão elimina<strong>da</strong>s ou, ao menos, minimiza<strong>da</strong>s, e suas<br />

aspirações: sonhos, <strong>de</strong>sejos, objetivos, serão realizados;<br />

B) Esperam realizar, atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> alfabetização: uma melhor comunicação com as<br />

pessoas, orientar seus filhos estu<strong>da</strong>ntes, i<strong>de</strong>ntificar o ônibus correto, uma melhor<br />

forma <strong>de</strong> se expressar, <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e participar <strong>de</strong> forma mais atuante em seu contexto<br />

<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>de</strong> trabalho;<br />

C) Aspiram por meio do processo <strong>de</strong> alfabetização, se comunicar com o mundo que<br />

lhe <strong>é</strong> apresentado, do qual, por sua vez, querem se reapresentar alfabetizados e<br />

letrados, integrando-se melhor à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que estão inseridos.<br />

A alfabetização <strong>é</strong>, <strong>de</strong>ste modo, para o educando, um caminho para sua maior inclusão<br />

social e mo<strong>de</strong>sta melhoria <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Os alfabetizandos nos surpreen<strong>de</strong>ram com suas crenças,<br />

<strong>de</strong>monstrando que a alfabetização <strong>é</strong> um meio para a concretização <strong>de</strong> suas aspirações,<br />

<strong>de</strong>ixando explícito a obstinação <strong>de</strong> realizá-las efetivamente.<br />

Enten<strong>de</strong>r a alfabetização num sentido maior significa em primeiro lugar, que o(a)<br />

educador(a) tenha clareza do que pensam e sentem seus alfabetizandos, do que eles trazem<br />

humanamente e socialmente. Isso contribui para que se i<strong>de</strong>ntifique as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas e<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s do educando, suas experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, seus saberes pr<strong>é</strong>vios. E, em segundo<br />

86


lugar, compreen<strong>de</strong>r que para li<strong>da</strong>r com jovens e adultos, se faz necessário uma <strong>prática</strong><br />

educativa inteligente, ajusta<strong>da</strong> às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses aprendizes, integrando seus saberes pr<strong>é</strong>existentes<br />

aos conhecimentos escolares.<br />

A partir dos aspectos acima mencionados ousamos oferecer, sem ter a intenção <strong>de</strong><br />

apresentar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>terminado, algumas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão em direção a<br />

uma <strong>prática</strong> inteligente na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos:<br />

1) Enten<strong>de</strong>r a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer nos(as) educadores(as) <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong><br />

jovens e adultos profissionais capazes, investindo numa política pública que os<br />

valorize individualmente e coletivamente, estimulando-os em sua qualificação<br />

profissional e investindo em sua auto-estima. Desenvolvendo, com isso, um trabalho<br />

continuado que supere as simples capacitações, geralmente <strong>de</strong>scontínuas, aju<strong>da</strong>ndo-os<br />

na construção e no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas múltiplas <strong>inteligência</strong>s na <strong>prática</strong><br />

educativa;<br />

2) Consi<strong>de</strong>rar o fazer inteligente, a partir <strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver na <strong>prática</strong> alfabetizadora uma postura docente, aberta, intuitiva, criativa e<br />

curiosa, que viabilize a aprendizagem do educando jovem e adulto, a ir al<strong>é</strong>m <strong>da</strong> leitura<br />

e <strong>da</strong> escrita, atrav<strong>é</strong>s do conhecimento <strong>de</strong> mundo, do mundo letrado.<br />

3) Compreen<strong>de</strong>r que o sentido <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> inteligente, não está em usarmos uma<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> t<strong>é</strong>cnica e vê-la como algo ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira e singular, mas está em ficarmos,<br />

atentos, abertos, na busca criativa e curiosa, a fim <strong>de</strong> realizar um trabalho educativo<br />

específico para o jovem e o adulto, consi<strong>de</strong>rando seu contexto sócio-cultural;<br />

4) Oferecer, atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>s instâncias pe<strong>da</strong>gógicas liga<strong>da</strong>s a alfabetização <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos, formação contínua a fim <strong>de</strong> proporcionar às educadoras <strong>de</strong> jovens e adultos,<br />

rever conceitos <strong>de</strong> alfabetização e currículo, que possibilitem uma ampliação <strong>da</strong><br />

compreensão <strong>da</strong> <strong>prática</strong> alfabetizadora;<br />

5) Reconhecer a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> um material didático a<strong>de</strong>quado à<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando jovem e adulto;<br />

6) Consi<strong>de</strong>rar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s educadoras e profissionais <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens<br />

e adultos em direcionar um olhar para os educandos que faltam às aulas, criando no<br />

fazer pe<strong>da</strong>gógico, mecanismos que possibilitem um acolhimento mais específico neste<br />

caso. Pois constatamos o medo e a insegurança dos educandos em retornar às aulas<br />

quando se ausentam, uma ou várias vezes <strong>da</strong> escola. Sendo, tais ausências, possíveis<br />

razões para a <strong>de</strong>sistência do educando;<br />

87


7) Consi<strong>de</strong>rar relevante às educadoras preocuparem-se <strong>de</strong> forma efetiva e <strong>prática</strong>, em<br />

se lançar na busca contínua <strong>de</strong> um fazer docente educativo integrado aos saberes<br />

pr<strong>é</strong>vios do educando jovem e adulto. O que não se concebe mais <strong>é</strong> uma <strong>prática</strong><br />

educativa que <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>re os apren<strong>de</strong>ntes quanto às suas experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, a<br />

forma como criam estrat<strong>é</strong>gias <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação no universo letrado. É preciso preocuparse<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente em aten<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e interesses vitais <strong>de</strong>sse educando,<br />

com o intuito <strong>de</strong> ajudá-lo na sua real integração social.<br />

8) Contribuir para que educadores(as) e educandos utilizem sua <strong>inteligência</strong>,<br />

aju<strong>da</strong>ndo-os a pensar e enten<strong>de</strong>r as diversas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e reinterpretar<br />

o seu mundo no mundo letrado, a partir <strong>de</strong> sua própria reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Conclui-se que,<br />

os(as) educadores(as) por meio <strong>de</strong> sua <strong>prática</strong> educativa po<strong>de</strong>m inteligentemente<br />

explorar o potencial do educando atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> seus saberes pr<strong>é</strong>vios, que se manifestam<br />

no espaço escolar, por meio <strong>da</strong> convivência entre ambos, do aproveitamento <strong>da</strong><br />

observação, do diálogo e dos <strong>de</strong>bates no círculo <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula.<br />

9) Enten<strong>de</strong>r a <strong>inteligência</strong> <strong>da</strong> <strong>prática</strong>, não como negação a práxis, mas como aquela<br />

que mobiliza teoria e <strong>prática</strong> em circunstâncias imprevistas no fazer educativo.<br />

A Alfabetização <strong>de</strong> Jovens e Adultos clama por melhores espaços no sistema<br />

educacional brasileiro, seja no investimento na formação dos(as) educadores(as)<br />

alfabetizadores(as), na busca <strong>de</strong> melhores espaços para reflexões e discussões <strong>de</strong> <strong>prática</strong>s<br />

educativas inteligentes nesse nível <strong>de</strong> ensino, no investimento maior e mais responsável na<br />

formação continua<strong>da</strong> dos(as) educadores(as) <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> EJA (capacitações e<br />

orientações pe<strong>da</strong>gógicas), na utilização <strong>de</strong> um material didático a<strong>de</strong>quado à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

educando, seja, sobretudo, na valorização <strong>de</strong>sses profissionais alfabetizadores <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos que, tão quanto os educandos, ficam à margem do reconhecimento do sistema social,<br />

educacional e político nos Municípios, nos Estados e na União, sem uma política <strong>de</strong><br />

engajamento igualitário com outros setores <strong>da</strong> educação.<br />

É importante esclarecer que, este trabalho não tem a pretensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que, a<br />

<strong>prática</strong> educativa do(a) educador(a) <strong>é</strong>, por si só, a solução concreta ou <strong>é</strong> a única passagem<br />

para conquistar os melhores resultados no ensino <strong>da</strong> alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos (pois<br />

existem outros fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m contextual que <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados).<br />

A criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a abertura, a intuição e a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> são apenas alguns aspectos, que<br />

bem utilizados incentivam um fazer pe<strong>da</strong>gógico inteligente, eficaz e proveitoso na<br />

alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos. Contudo, outros aspectos ou recursos po<strong>de</strong>m se somar a<br />

eles, em busca <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong> educativa inteligente que consi<strong>de</strong>re os saberes pr<strong>é</strong>vios e aten<strong>da</strong><br />

88


às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e interesses dos educandos <strong>de</strong>ssa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino no atual momento<br />

histórico do país.<br />

Essa análise foi uma tentativa <strong>de</strong> melhor refletir sobre a importância <strong>de</strong> uma <strong>prática</strong><br />

educativa inteligente na alfabetização <strong>de</strong> jovens e adultos, não tendo a pretensão <strong>de</strong> oferecer<br />

respostas fecha<strong>da</strong>s aos problemas aqui analisados.<br />

Esperamos que as questões abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s sobre Alfabetizar: O <strong>segredo</strong> <strong>é</strong> a Inteligência <strong>da</strong><br />

Prática sirvam, <strong>de</strong> algum modo, como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para outras pesquisas nessa área <strong>de</strong><br />

estudo ain<strong>da</strong> tão complexa.<br />

89


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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93


ANEXOS<br />

ANEXO I<br />

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM AS EDUCADORAS<br />

1- Como po<strong>de</strong>mos pensar uma alfabetização que aten<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos alunos<br />

trabalhadores?<br />

2- O que, afinal o educando trabalhador espera <strong>da</strong> escola noturna?<br />

3- Que requisitos você apontaria para um professor alfabetizador obter existo no seu trabalho?<br />

Que requisitos você apontaria para um alfabetizando obter êxito no seu aprendizado?<br />

4- Como você analisa o livro didático? Bem como o currículo na EJA?<br />

5- Descreva seu cotidiano escolar.<br />

PRGUNTAS E RESPOSTAS<br />

1 - Como po<strong>de</strong>mos pensar uma alfabetização que aten<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos alunos<br />

trabalhadores?<br />

Professora Anita Garibaldi - O aluno trabalhador, ele precisa <strong>de</strong> algo especial, o que eu quero<br />

dizer com especial; livro com textos pequenos, estória que chama atenção <strong>de</strong>les. Ex: Sobre<br />

futebol, novelas, texto que conte pequenas estórias, relatando um fato. Se eu fosse escrever<br />

um livro para jovens e adultos, escreveria o texto, <strong>de</strong> duas maneiras, com letra <strong>de</strong> imprensa e<br />

traduzia para cursiva o mesmo texto, pelo menos, no início do livro. Outra coisa que <strong>de</strong>via vir<br />

no material dos jovens e adultos seria caixa <strong>de</strong> lápis, música etc.<br />

Professora Maria Quit<strong>é</strong>ria – Meus alunos, todos são trabalhadores, e são muitas as<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s por conta do cansaço, temos que os <strong>alfabetizar</strong> <strong>de</strong> forma que não sejam rotineiro,<br />

nem cansativo, <strong>da</strong>ndo aula, levando em conta a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les.<br />

94


Professora Pagu - Dentro <strong>de</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o contexto trabalhado em sala seja <strong>de</strong> acordo<br />

com o seu cotidiano, o conteúdo tem que estar <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> vivência do aluno.<br />

Professora, Chiquinha Gonzaga - A que temos não <strong>é</strong> <strong>de</strong> má quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Só <strong>é</strong> preciso mais<br />

incentivo <strong>da</strong> parte do município, no que diz respeito a uma preparação <strong>de</strong> professores e<br />

tamb<strong>é</strong>m a busca <strong>de</strong>ssa preparação pelos próprios professores. Atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, cursos e<br />

especializações. Há sempre algo mais a fazer.<br />

Professora Irmã Dulce - Cabe assim, ao profissional avançar em pesquisas que lhe<br />

proporcione maiores conhecimentos sobre teoria, m<strong>é</strong>todos e <strong>prática</strong>s pe<strong>da</strong>gógicas. Desse<br />

modo, se faz necessário que nós professores, pensem, num outro ensino diferente <strong>da</strong>queles<br />

<strong>de</strong>terminados pelos livros didáticos ou cartilhas e que comumente nos são apresentados.<br />

Depen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong> forma como o professor enten<strong>de</strong> o aluno e a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, construindo uma<br />

visão <strong>de</strong> mundo, do já existente, que <strong>é</strong> um conjunto <strong>de</strong> conceitos que conduz a i<strong>de</strong>ologia<br />

profissional.<br />

Professora Raquel <strong>de</strong> Queiroz - Driblar o analfabetismo não <strong>é</strong> na<strong>da</strong> fácil, <strong>é</strong> preciso ter muito<br />

amor, muita força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Então, como po<strong>de</strong>mos aten<strong>de</strong>r as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

dos alunos, ao <strong>alfabetizar</strong>. Primeiro teremos que trabalhar com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno, e dá a ele<br />

oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar suas id<strong>é</strong>ias e opiniões próprias e experiências no seu dia-a-dia.<br />

Professora Margari<strong>da</strong> Alves - Ca<strong>da</strong> um faz sua parte professor, coor<strong>de</strong>nador, diretor etc. Mas<br />

nem sempre agra<strong>da</strong> o aluno, eu acho que o ambiente interfere muito na aprendizagem do<br />

aluno, pois tenho aluno que não se sente bem no ambiente on<strong>de</strong> estu<strong>da</strong>.<br />

2 - O que, afinal o educando trabalhador espera <strong>da</strong> escola noturna?<br />

Professora Anita Garibaldi - Ele espera ser atendido bem, uma aula que eles percebam que vai<br />

valer a pena, assunto interessante, que chame sua atenção, eles vêm para apren<strong>de</strong>r, espera algo<br />

mais fácil como: escola perto <strong>de</strong> casa, professor simpático e paciente. O professor <strong>de</strong>ve está<br />

sempre disposto a ouvir o aluno, tem jovem carente que precisa que o professor dê atenção a<br />

sua história. Como já falei, conhecendo a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les.<br />

95


Professora Maria Quit<strong>é</strong>ria - A escola noturna para os educandos <strong>é</strong> o único tempo que eles tem<br />

disponíveis para realizar os seus sonhos que <strong>é</strong> ser alfabetizado.<br />

Professora Pagu - Para ele funciona como uma porta, on<strong>de</strong> a esperança <strong>é</strong> apren<strong>de</strong>r a ler e<br />

escrever para po<strong>de</strong>r ser bem mais sucedido. Ele <strong>de</strong>seja um lugar que aten<strong>da</strong> suas expectativas,<br />

um ambiente acolhedor.<br />

Professora Chiquinha Gonzaga - A realização <strong>de</strong> seus sonhos com aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> mesma.<br />

Professora Irmã Dulce - Creio que o educando espera muito mais do que apren<strong>de</strong>r ler e a<br />

escrever, mesmo sendo adulto e já compreen<strong>de</strong>ndo que a escrita representa a fala. Eles se<br />

<strong>de</strong>param com um mundo cheio <strong>de</strong> conceitos e interpretações, mas eles utilizam do seu próprio<br />

entendimento o interesse em apren<strong>de</strong>r mais do que compreen<strong>de</strong>r o que ele escrever. À vonta<strong>de</strong><br />

e a disposição <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho, em chegar em uma sala <strong>de</strong> aula<br />

cansado e muitas vezes at<strong>é</strong> com fome ultrapassando tudo isso, eles se sentem valorizados e<br />

importantes.<br />

Professora Raquel <strong>de</strong> Queiros - Eles esperam o melhor possível do professor, bem como o<br />

professor nunca trazer problemas para sala <strong>de</strong> aula e passar para os alunos, o professor tem<br />

que ser amigo, compreensivo.<br />

Professora Margari<strong>da</strong> Alves - Espera um lar diferente <strong>da</strong> convivência on<strong>de</strong> ele mora, espera<br />

encontrar um professor com rosto alegre, compreensivo, on<strong>de</strong> ele possa recuperar um tempo<br />

que pra ele hoje <strong>é</strong> como se fosse um resgate.<br />

3 – A) Que requisitos você apontaria para um professor alfabetizador obter existo no seu<br />

trabalho? B) Que requisitos você apontaria para um alfabetizando obter êxito no seu<br />

aprendizado?<br />

Professora Anita Garibaldi:<br />

A- O aluno não <strong>de</strong>via faltar aula, mesmo que chegasse atrasado, pois o aluno que falta aula<br />

vai ficar perdido, o professor volta o assunto novamente mas aquele que já apren<strong>de</strong>u vai<br />

per<strong>de</strong>r o interesse, pois já sabe do assunto. Alfabetizar <strong>é</strong> uma arte que, não se apren<strong>de</strong> só nos<br />

livros, mas praticando, vivenciando, não <strong>é</strong> só ler e escrever. Deixando o aluno usar suas<br />

96


criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Educar <strong>é</strong> estar em contato com o aluno, observando, trabalhando <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno. Quando estou em sala <strong>de</strong> aula, estou conhecendo a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do meu<br />

aluno, suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Prática educativa <strong>é</strong> trabalhar minhas id<strong>é</strong>ias, respeitando e ampliando<br />

as id<strong>é</strong>ias do aluno.<br />

Não trazer uma aula pronta, mas planejar e movimentar, não <strong>de</strong>ixar cair na rotina, está<br />

sempre utilizando algo novo. Elogiando o que ele faz, <strong>de</strong>ixando o aluno com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> quero<br />

mas, e uma aula bem mais elabora<strong>da</strong> e bem criativa, traz o aluno <strong>de</strong> volta para a escola.<br />

B- Para ter um bom resultado <strong>é</strong> não faltar tantas aulas. Sabemos que nem sempre <strong>é</strong> possível.<br />

Professora Maria Quit<strong>é</strong>ria:<br />

A- É saber li<strong>da</strong>r com as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>les, que são muitas, começando mesmo pela autoestima<br />

at<strong>é</strong> a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r os <strong>de</strong>terminados assuntos. [...] o modo <strong>de</strong> se trabalhar<br />

com o adulto, pondo em <strong>prática</strong> a educação que ca<strong>da</strong> um traz em seus anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, pois não<br />

vem para a escola sabendo ler nem escrever, mas, o que tem <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> po<strong>de</strong>se<br />

<strong>da</strong>r uma aula.<br />

B- Para o alfabetizando obter êxito <strong>é</strong> necessário muito estímulo e empenho do alfabetizador<br />

para lhe <strong>da</strong>r com suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s (alunos)<br />

Professora Pagu:<br />

A- Para o professor, esse tem que ser persistente, e procurar sempre elogiar e estimular seu<br />

aluno a não <strong>de</strong>sistir, ser flexível e dinâmico, preparar suas aulas com um foco voltado para o<br />

aluno. É um processo que vai muito al<strong>é</strong>m do ler e escrever, <strong>é</strong> po<strong>de</strong>r proporcioná-los a leitura<br />

do que está ao seu redor. É tendo o conhecimento <strong>de</strong> mundo que o cerca, a alfabetização se<br />

torna mais fácil, pois os alunos traz uma bagagem enorme do mundo <strong>de</strong>les.<br />

B) Para o aluno esse <strong>de</strong>ve ser ca<strong>da</strong> dia mais persistente para não se <strong>de</strong>ixar vencer pelo cansaço<br />

do dia e ter muita força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> para vencer.<br />

Professora Chiquinha Gonzaga:<br />

A- Responsável, consciente, flexível às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diversas que surgem ter já uma carreira<br />

acadêmica e <strong>de</strong> valiosíssima importância.<br />

B) Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> e vonta<strong>de</strong> não faltam, o problema maior <strong>é</strong> externo, conciliar trabalho e vi<strong>da</strong><br />

pessoal com a vi<strong>da</strong> escolar <strong>é</strong> um dos maiores problemas que eles enfrentam. Referindo-se ao<br />

que tenho vivenciado, o primeiro paço <strong>é</strong> um diálogo <strong>de</strong>safiador, fazer reconhecer a<br />

97


importância e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se faze ruma vi<strong>da</strong> escolar. Junto vem a reconstrução <strong>da</strong> autoestima,<br />

partindo do ponto <strong>de</strong> que nunca <strong>é</strong> tar<strong>de</strong> para quem realmente <strong>de</strong>seja algo.<br />

A <strong>prática</strong> educativa consiste em ter ou procurar as mais varia<strong>da</strong>s formas <strong>de</strong> conseguir<br />

um mesmo objetivo, que seja o nosso, educar. É chegar em meus alunos <strong>da</strong> melhor forma,<br />

porque quando o termo <strong>é</strong> educação, não há uma forma única para todos.<br />

Professora Irmã Dulce:<br />

A- O professor educador acredita na mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> concepção, não será um mero assimilador e<br />

reprodutor <strong>de</strong> conhecimentos consi<strong>de</strong>rado pronto e acabado. Que sua <strong>prática</strong> seja<br />

transformadora, que a escola possa tornar-se um espaço que contribua para a formação <strong>de</strong><br />

homens críticos, consciente no sentido <strong>de</strong> perceber-se como sujeito <strong>da</strong> construção do processo<br />

<strong>de</strong> ensino. Dentro <strong>de</strong>ste processo que o educador possa ter uma visão <strong>de</strong> filtrar e recriar em<br />

função <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta do educando. (Que o educador possa ter incentivo e<br />

treinamentos para melhor exercer e função).<br />

B- Interesse, responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, compromisso porque ele <strong>é</strong> uma <strong>da</strong>s partes fun<strong>da</strong>mentais do<br />

processo ensino-aprendizagem, por ser uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> primordial.<br />

Professora Raquel <strong>de</strong> Queiros:<br />

A- Para mim um bom educador <strong>é</strong> aquele que gosta do que faz, que se sente feliz ao chegar<br />

numa sala <strong>de</strong> aula e ver aqueles alunos esperando por você, muita <strong>de</strong>les cansados, <strong>de</strong> tanto<br />

trabalhar, mas não per<strong>de</strong> a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> se <strong>alfabetizar</strong>.<br />

B- Então o professor feliz <strong>é</strong> aquele que tem amor pela sua profissão, com isso, transmite essa<br />

energia positiva para o alunado e eles, os alunos terá bons resultados ao se <strong>alfabetizar</strong>-se.<br />

Professora Margari<strong>da</strong> Alves:<br />

A- Ser um professor atencioso, pontual, não man<strong>da</strong>r substituo sem necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>; mostrar<br />

carinho, saber enten<strong>de</strong>r a turma e mostrar a ele que nós, seres humanos somos todos iguais,<br />

não há diferença <strong>de</strong> raça, nem <strong>de</strong> cor e ali na sala <strong>de</strong> aula formamos um ciclo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

há só amigos, um sempre precisando do outro, sabendo respeitar opiniões diferentes.<br />

Alfabetizar <strong>é</strong> criar, <strong>é</strong> enten<strong>de</strong>r o aluno, <strong>é</strong> mostrar tudo o que você sabe, <strong>é</strong> dividir com ele seus<br />

conhecimentos e mostrar ao aluno que ele <strong>é</strong> capaz.<br />

O educador tem que trabalhar em cima <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>le, as vezes você leva uma aula<br />

prepara<strong>da</strong> e eles vem com um tema que não tem na<strong>da</strong> haver com o assunto que você ia<br />

<strong>de</strong>senvolver, você aproveita e <strong>da</strong>r uma aula diferente, on<strong>de</strong> todos mostra interesse sobre o<br />

98


tema. Aju<strong>da</strong> a segurar o aluno, <strong>é</strong> saber escutá-lo em sala <strong>de</strong> aula, <strong>é</strong> muito importante saber<br />

ouvir as pessoas.<br />

B - Para que haja um diálogo e não uma crítica na opinião <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um, que o aprendizado seja<br />

capaz <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que quanto mais ele freqüenta a escola ele enriquece seus conhecimentos,<br />

fazer ele compreen<strong>de</strong>r que um dia sem comparecer a aula <strong>é</strong> como se fosse um dia sem registro<br />

em sua vi<strong>da</strong>.<br />

4 – A) Como você analisa o livro didático? B)Bem como o currículo na EJA?<br />

Professora Anita Garibaldi:<br />

A - O livro sinceramente não gostei, nem meus alunos, textos muito gran<strong>de</strong>, não interessa<br />

muito ao meus alunos, apesar do incentivo <strong>de</strong> minha parte. O livro tem assunto muito<br />

interessante fala <strong>da</strong> cultura do índio.<br />

B - Currículo estava bom, os assuntos bem elaborados, ótimo para <strong>de</strong>bate.<br />

Professora Maria Quit<strong>é</strong>ria:<br />

A - Nosso livro didático <strong>é</strong> rico em textos, que facilita uma boa alfabetização para eles. Quanto<br />

aos assuntos a serem abor<strong>da</strong>dos, muitos fogem do nosso planejamento. Pois são muito<br />

adiantados para eles.<br />

B- Não respon<strong>de</strong>u.<br />

Professora Pagu:<br />

A- O livro, alguns conteúdos não está <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno.<br />

B- Já o currículo esse está a<strong>de</strong>quado.<br />

Professora Chiquinha Gonzaga:<br />

A- Não respon<strong>de</strong>u.<br />

B- O currículo tem que estar acompanhado do livro didático, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas<br />

com quem se está li<strong>da</strong>ndo. O nosso está meio <strong>de</strong>sencontrado.<br />

99


Professora Irmã Dulce:<br />

A- Na minha visão, achei um pouco complexo, para ser utilizado por pessoas (alunos) que<br />

estão ingressando no processo <strong>de</strong> alfabetização. Por não estarem tão preparados para enten<strong>de</strong>r<br />

textos com uma gran<strong>de</strong> proporção <strong>de</strong> compreensão.<br />

B- Não respon<strong>de</strong>u.<br />

Professora Raquel <strong>de</strong> Queiros:<br />

A- Para mim o livro foi bom, mas só que chegou muito tar<strong>de</strong>, e obtemos pouquíssimo tempo<br />

para trabalhar com ele.<br />

B- Em relação ao currículo não bate com o livro, ficou fora <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do livro.<br />

Professora Margari<strong>da</strong> Alves:<br />

A- Gosto dos textos, pois mostro atrav<strong>é</strong>s dos textos a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje o dia a dia, para mim<br />

só <strong>é</strong> proveitoso os textos e na opinião dos alunos tamb<strong>é</strong>m, eles ficam meio perdido na parte <strong>da</strong><br />

gramática, matemática.<br />

B- Não respon<strong>de</strong>u.<br />

5 - Descreva seu cotidiano escolar<br />

Professora Anita Garibal<strong>de</strong> - Minha maneira <strong>de</strong> trabalhar <strong>é</strong> o seguinte: Na 1ª uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, não<br />

acho que o aluno esteja preparado para trabalhar com texto, <strong>da</strong> 2ª em diante po<strong>de</strong>mos<br />

trabalhar texto. Pois o aluno chega na escola analfabeto, como vai encontrar palavra no texto<br />

logo <strong>de</strong> início? Gosto <strong>de</strong> contar fábula para incentivar minha aula, com lição <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> faço<br />

leitura no quadro ou banca a banca. Depois entro no assunto <strong>da</strong> mat<strong>é</strong>ria do dia. E termino<br />

minha aula com leitura, com palavra ou pequeno texto. Quando vou <strong>da</strong>r um assunto faço<br />

pesquisa em vários livros, para observar qual a melhor maneira do aluno pegar o conteúdo,<br />

pra mim o importante não <strong>é</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Professora Maria Quit<strong>é</strong>ria - Trabalho todos os dias, procurando fórmulas que aten<strong>da</strong>m aos<br />

alunos, <strong>de</strong> forma que obtenham um bom <strong>de</strong>sempenho no seu aprendizado. Saber lhe <strong>da</strong>r com<br />

as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que aparecem, <strong>de</strong>vido a minha sala <strong>de</strong> aula os alunos terem acima <strong>de</strong> 30 anos<br />

100


<strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, chegam cansados do trabalho e alguns com problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Ca<strong>da</strong> dia <strong>é</strong> um dia<br />

para se renovar, tanto com os alunos, como as experiências que nós professores adquirimos.<br />

Professora Pagu - Preparo minhas aulas e sempre com exposições <strong>de</strong> cartazes, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

extras, chama<strong>da</strong> ao quadro-<strong>de</strong>-giz, dinâmicas e reflexões.<br />

Professora Chiquinha Gonzaga - Gosto <strong>de</strong> iniciar a aula sempre com a leitura <strong>de</strong> um texto,<br />

trabalhando a auto-estima, eles são muito carentes e adoram este momento, (Conversa<br />

informal). Correção <strong>da</strong> tarefa <strong>de</strong> casa, partindo sempre <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s trazi<strong>da</strong>s por eles,<br />

explicando o conteúdo, as vezes copiando o conteúdo, pra amenizar (X<strong>é</strong>rox dos conteúdos),<br />

exercícios em classe, trabalhos para casa, bingos, músicas, etc. Mo<strong>de</strong>stamente minha aula não<br />

<strong>é</strong> ruim.<br />

Professora Irmão Dulce - Preparo-me materialmente e psicologicamente para fazer a minha<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> melhor maneira que posso. Preparo o material, pesquiso em livros, estudo, tiro<br />

algumas dúvi<strong>da</strong>s com outros professores mais experientes quando <strong>é</strong> necessário, tento<br />

vivenciar o assunto <strong>de</strong>batido com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos alunos, estimulo a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les, com<br />

perguntas e exemplos vividos e permito que eles possam ser críticos com algum fato que eles<br />

possam não concor<strong>da</strong>r, perguntando sempre se houve compreensão do assunto <strong>de</strong>batido.<br />

Por<strong>é</strong>m sempre existe alguns que não tem interesse no apren<strong>de</strong>r, mas tento ao máximo chamar<br />

sua atenção e compreensão.<br />

Professora Raquel <strong>de</strong> Queiroz - O meu cotidiano <strong>é</strong> muito simples e normal, converso sobre<br />

situações a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s no dia-a-dia, faço dinâmica, solicito a alunos que façam trabalhos com<br />

material reciclável, incentivo ca<strong>da</strong> aluno a justificar sua avaliação no dia-a-dia etc.<br />

Para mim <strong>é</strong> muito importante o diálogo entre professor e aluno, <strong>da</strong>í ficará mais fácil avaliar o<br />

processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem e distinguir se o aluno realmente atingiu ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

estrat<strong>é</strong>gias que o educador esperava alcançar <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> aluno.<br />

Professora Margari<strong>da</strong> Alves - Minha aula <strong>é</strong> boa, pois sempre trabalho textos, gramática, a<br />

parte <strong>de</strong> matemática eles gostam, faço leitura <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>bates e as <strong>de</strong>mais mat<strong>é</strong>rias tamb<strong>é</strong>m.<br />

101


TABULAÇÃO DAS RESPOSTAS DAS EDUCADORAS<br />

1ª) Como po<strong>de</strong>mos pensar uma alfabetização que aten<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos alunos<br />

trabalhadores?<br />

Total <strong>de</strong> Entrevistados 07<br />

Respon<strong>de</strong>ram 100%<br />

Fazendo algo especial, uma alfabetização volta<strong>da</strong> para o cotidiano do aluno, para 04<br />

sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, explorando sua experiência <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>, o conteúdo tem que estar<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> vivência do aluno.<br />

Incentivo <strong>da</strong>s instituições governamentais para a formação dos professores e a 01<br />

busca <strong>de</strong>ssa formação pelos próprios professores<br />

Ter muita força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> 02<br />

TOTAL 07<br />

2ª) O que, afinal o educando espera <strong>da</strong> escola noturna?<br />

Total <strong>de</strong> Entrevistados 07<br />

Respon<strong>de</strong>ram 100%<br />

Espera apren<strong>de</strong>r, um professor simpático, paciente e confiante, espera o melhor 02<br />

do professor, ser bem atendido.<br />

Funciona como uma porta on<strong>de</strong> a esperança <strong>é</strong> apren<strong>de</strong>r a ler e escrever, para ser 05<br />

bem sucedido, espera mais do que apren<strong>de</strong>r a ler e escreve, esperam realizar o seu<br />

sonho.<br />

TOTAL 07<br />

3ª) A -Que requisitos você apontaria para um alfabetizador obter êxito no seu trabalho? B –<br />

que requisitos você apontaria para um educando obter êxito no seu aprendizado?<br />

Total <strong>de</strong> entrevistados 07<br />

Respon<strong>de</strong>ram 100%<br />

A – Receber bem seu aluno, uma aula criativa, ser flexível e dinâmico, gostar do 05<br />

que faz e ser pontual, não ser faltoso, ter uma <strong>prática</strong> transformadora.<br />

Trabalhar a auto-estima do aluno, ter uma <strong>prática</strong> volta<strong>da</strong> para sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ser 02<br />

consciente, ter uma carreira acadêmica, ter treinamento.<br />

TOTAL 07<br />

B - Perceber a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> não faltar, ser persistente, ter estímulo. 04<br />

Interesse, responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, compromisso do aluno. 01<br />

Ter um professor que transmita boa energia, segurança e estímulo. 02<br />

TOTAL 07<br />

102


4ª) a - Como você analisa o livro didático? b - bem como o currículo <strong>da</strong> EJA?<br />

Total <strong>de</strong> entrevistados 07<br />

Respon<strong>de</strong>ram 100%<br />

A - Não gostei, nem os alunos, livro complexo, apesar <strong>de</strong> ser rico em textos. O 06<br />

livro rico em textos, mas quanto ao assunto foge do planejamento, <strong>é</strong> adiantado, o<br />

conteúdo não está <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno.<br />

Livro bom 01<br />

TOTAL 07<br />

B - O currículo está <strong>de</strong>sencontrado com o livro. 02<br />

O currículo bom, assuntos bem elaborado, a<strong>de</strong>quado. 02<br />

Não respon<strong>de</strong>ram 03<br />

TOTAL 07<br />

5ª) Descreva seu cotidiano escolar<br />

Total <strong>de</strong> entrevistados 07<br />

Respon<strong>de</strong>ram 100%<br />

Faço dinâmica, trabalho com material reciclável, peço a ca<strong>da</strong> aluno para fazer 05<br />

auto-avaliação, preparo a aula antes, Corrijo as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, explico conteúdos,<br />

faço exercícios, bingos, trabalho com música, exposições <strong>de</strong> cartazes, trabalho<br />

com textos e <strong>de</strong>bates.<br />

Trabalho todos os dias procurando fórmulas que aten<strong>da</strong>m aos alunos para 02<br />

obterem um bom resultado, ca<strong>da</strong> dia <strong>é</strong> um dia para se renovar, gosto <strong>de</strong> contar<br />

fábulas com história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

TOTAL 07<br />

103


ANEXO II<br />

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS EDUCANDOS<br />

1- O que uma pessoa faz para viver sem escola at<strong>é</strong> a i<strong>da</strong><strong>de</strong> adulta?<br />

2- O que você quer fazer com a leitura e a escrita?<br />

3- Que momento <strong>da</strong> aula você mais gosta? Qual o que menos gosta? Quando tem <strong>de</strong> faltar à<br />

aula o que você pensa?<br />

4- Na sua profissão como você seria um professor do que você sabe?<br />

5- O que mudou na sua vi<strong>da</strong> com a escola?<br />

PERGUNTAS E RESPOSTAS<br />

1 - O que uma pessoa faz para viver sem escola at<strong>é</strong> a i<strong>da</strong><strong>de</strong> adulta?<br />

Maria - A pessoa fica <strong>de</strong>sativa<strong>da</strong>, <strong>de</strong>z anos sem escola me <strong>de</strong>sligou.<br />

Rute - Fica uma pessoa cega, sem informação, sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> algu<strong>é</strong>m, <strong>de</strong>pois que me<br />

separei pensei em estu<strong>da</strong>r. Sentia vergonha. Deixei <strong>de</strong> trabalhar porque não sabia ler, <strong>de</strong>i<br />

rem<strong>é</strong>dio errado a patroa.<br />

Raquel - Trabalha, o ensinamento <strong>de</strong> antigamente era melhor, tinha cartilha. Na primeira s<strong>é</strong>rie<br />

estu<strong>da</strong>va o livro todinho. Não sei contar, esqueci dos estudos.<br />

Mois<strong>é</strong>s - Namorava muito. Nunca meus pais cobravam escola. Fui trabalhar sem muita<br />

vonta<strong>de</strong>. Recebia cartinha <strong>da</strong>s namora<strong>da</strong>s e os outros liam antes <strong>de</strong> mim, aí o <strong>segredo</strong> não era<br />

só meu. Casei e a esposa dizia: _ Coitado, coitadinho.<br />

104


Me separei. Vou mostrar que vou apren<strong>de</strong>r a ler. No dia do <strong>de</strong>sfile queria mostrar que estava<br />

estu<strong>da</strong>ndo. Agora se uma pessoa man<strong>da</strong>r uma carta: _ amor venha aqui que eu quero falar<br />

com você, agora ningu<strong>é</strong>m sabe mais meu <strong>segredo</strong>. Mas, nunca me senti inferior, podia vir o<br />

Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República.<br />

Sara - Trabalhava no sítio, limpando mandioca. Fui para a escola, escrevia, mas não entendia<br />

na<strong>da</strong>. Quando via o outro lendo me sentia p<strong>é</strong>ssima, muito p<strong>é</strong>ssima.<br />

Abraão - É ruim, ver um negócio e não saber ler. Ficava em casa, jogava bola. Meus avós me<br />

incentivavam a ir a escola, mas eu não ia.<br />

Talita - É ruim, trabalhar em casa <strong>de</strong> família. Casei cedo, <strong>de</strong>senrolava na vi<strong>da</strong>.<br />

Judite - Vegetar, per<strong>de</strong> tempo. Uns tem chance, outros não quiseram. Eu pensava em estu<strong>da</strong>r,<br />

mas nunca tive chance, trabalhava. Depois veio os filhos. Só agora, vim estu<strong>da</strong>r.<br />

Jacó - No início não tinha muita visão do que era ser analfabeto, meus pais foram embora,<br />

vivi menino <strong>de</strong> rua, <strong>de</strong>pois fui trabalhar no campo, fugi encontrei uma mulher com 16 anos.<br />

Fui trabalhar numa usina, não sabia preencher a ficha. Todos ignoraram. Comecei então com<br />

o incentivo <strong>da</strong> minha mulher a estu<strong>da</strong>r em casa, <strong>de</strong>pois na escola, hoje sou chefe <strong>de</strong> jardinaria,<br />

ensino aos outros. Senti a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo estudo para trabalhar, o modo <strong>de</strong> falar, <strong>de</strong> respeitar<br />

os outros, alargar a compreensão do mundo. Passa por dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, porque várias<br />

oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s aparecem, e atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong>ssas oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho tem <strong>de</strong> ter um pouquinho<br />

<strong>de</strong> estudo, e não tem. Eu tiro por mim, <strong>de</strong>pois que eu comecei a estu<strong>da</strong>r mudou muita coisa<br />

para mim. Saber o nome <strong>de</strong> mercadorias, eu posso chegar num mercado fazer conta, saber que<br />

produto <strong>é</strong> aquele, como po<strong>de</strong> ser usado, eu não sabia. Ter que chamar outra pessoa para ler<br />

para você. A força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, vem na consciência, quanto tempo você não<br />

per<strong>de</strong>u.<br />

Mirian - A vi<strong>da</strong> era coloca<strong>da</strong> com as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> leitura. Peguei ônibus errado, fui para um<br />

lugar bem diferente. Fiquei acompanhado a torre <strong>da</strong> Telemar. Deci do ônibus sem dinheiro, eu<br />

vi a torre, segui ela a p<strong>é</strong>, at<strong>é</strong> chegar lá. A vi<strong>da</strong> se torna mais difícil sem a escola. Às vezes a<br />

patroa pedia para fazer um bolo pela receita e eu não sabia.<br />

105


Salom<strong>é</strong> - fui trabalhar na dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> quando era para enfrentar o estudo. Hoje posso sair, fui<br />

para o Rio e me sai muito bem. E, quero continuar. Escrevo meu nome hoje sem fazer<br />

nenhuma careta. Uma coisa que sempre tive na mente, quero apren<strong>de</strong>r. Eu queria tanto estu<strong>da</strong>r<br />

e minha mãe não me colocava e eu pequena não podia me matricular. A vonta<strong>de</strong> era <strong>de</strong> mim<br />

mesmo e não <strong>de</strong> mãe, nem <strong>de</strong> pai.<br />

D<strong>é</strong>bora - Perdia trabalho bom. Na última prova <strong>da</strong> 4ª s<strong>é</strong>rie, meu pai foi buscar a gente na<br />

escola, quebrou ca<strong>de</strong>ira, quebrou tudo, aí at<strong>é</strong> hoje. Passei 14 anos sem estu<strong>da</strong>r. Não tive<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> nenhuma.<br />

S<strong>é</strong>fora - Eu não era ningu<strong>é</strong>m. O estudo <strong>é</strong> importante para todos nós. Parei porque fui trabalhar<br />

na fábrica <strong>de</strong> tecidos. Depois adoeci. Trabalhei com barbante. Não tinha muita dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Faz 15 anos que aprendi relógio.<br />

Davi - Fiz alfabetização com sucesso, aprendi meu nome na segun<strong>da</strong> s<strong>é</strong>rie, por causa do<br />

trabalho fui estu<strong>da</strong>r a noite, mas tinha problema <strong>de</strong> vista, mas minha mãe não ligou, aí eu<br />

<strong>de</strong>sistia sempre. Aí quando fiz exame <strong>de</strong> vista, faz 5 anos, voltei a estu<strong>da</strong>r. Eu tenho meus<br />

trabalhos, sou eletricista, sou relojoeiro, sou barbeiro e alguma coisa mais.<br />

Fua - Fazia era rapar mandioca na casa <strong>de</strong> farinha, plantava batata, que meus pais botava a<br />

gente n<strong>é</strong>? Morava no sítio. Nunca se importaram em botar a gente na escola. Tenho uma irmã,<br />

hoje que <strong>é</strong> revolta<strong>da</strong>. Comecei estu<strong>da</strong>r agora. Nenhum <strong>da</strong> gente estudou. A única que estudou<br />

lá foi eu.<br />

Lídia - Quando a gente falava em estu<strong>da</strong>r, pai dizia: Eu sei qual <strong>é</strong> o estudo – a enxa<strong>da</strong>.<br />

Simão - trabalhava. Meus pais sempre pediam para tirar aquela tarefa. Estava ligado na<br />

escola, mas não tinha oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Me lembro que comprei um creme <strong>de</strong> cabelo por pasta.<br />

Aí o colega percebeu. Quando ia para a escola corria. É dificultoso para quem não estu<strong>da</strong>.<br />

Isabel - Minha mãe me colocava na escola, eu <strong>é</strong> que era muito <strong>da</strong>na<strong>da</strong>. Eu levei muito nome<br />

<strong>de</strong> burra. Comecei a trabalhar muito cedo. Eu não sabia ensinar a minha menina.<br />

Edite - Era difícil. Não estu<strong>da</strong>va porque meu pai não <strong>de</strong>ixava.<br />

106


2 - O que você quer fazer com a leitura e a escrita?<br />

Maria - Se tiver um concurso, aí, já posso participar. O que eu aprendi já vai garantir alguma<br />

coisa. Fazer curso <strong>de</strong> enfermagem.<br />

Rute - Arrumar um serviço melhor e po<strong>de</strong>r aju<strong>da</strong>r meu filho. Mostrar para meu filho que não<br />

<strong>de</strong>sista, eu voltei.<br />

Raquel - Mostrar para os meus filhos que eu sou o mesmo que eles são.<br />

Mois<strong>é</strong>s - O que eu quero fazer com a leitura, <strong>é</strong> mostrar para as minhas namora<strong>da</strong>s que era<br />

analfabeto e hoje não sou mais. Hoje elas me ver aí, <strong>de</strong>sfilando na escola.<br />

Sara - Quero mostrar para meus filhos que vou apren<strong>de</strong>r mais ain<strong>da</strong>.<br />

Abraão - Arrumar um emprego melhor.<br />

Talita - Arrumar um emprego melhor. Quem tem estudo tem esperança.<br />

Judite - Apesar <strong>da</strong> minha i<strong>da</strong><strong>de</strong> alta, mais <strong>é</strong> ter uma vi<strong>da</strong> melhor, o que eu pegar, eu ler, eu<br />

escrever.<br />

Jacó - Quero oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> melhor, como ela já estar sendo utiliza<strong>da</strong> em minha vi<strong>da</strong>.<br />

Mirian - Quero <strong>de</strong>senvolver ca<strong>da</strong> dia para no futuro ter um trabalho mais diferente, que não<br />

seja casa <strong>de</strong> família. E, passar tudo isso para meus filhos.<br />

Salom<strong>é</strong> - Um emprego no futuro. Saber ler e escrever sem errar. Quando arrumar um emprego<br />

e segurar.<br />

D<strong>é</strong>bora - Ensinar meus filhos. Quando eles chegarem em casa, eu saber explicar o exercício e<br />

se aparecer um emprego, se Deus quiser...<br />

107


S<strong>é</strong>fora - A boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber ler mais um pouquinho. A professora ensina bem, mas eu<br />

tenho a cabeça curta para matemática.<br />

Davi - Aperfeiçoar a leitura e a minha escrita, não por falta <strong>de</strong> emprego, porque o que faço dá<br />

um pouco <strong>de</strong> sustento, escrever corretamente. Eu preciso um pouco mais, terminar para fazer<br />

um curso, para ter um emprego.<br />

Fua - Eu quero mais apren<strong>de</strong>r para ensinar minha menina. Porque eu já tenho meu emprego.<br />

Lídia - Bom, quero fazer muitas coisas, quero pegar o manual <strong>da</strong> minha revista <strong>de</strong> crochê, ler<br />

bem e escrever.<br />

Simão - Vou estu<strong>da</strong>r at<strong>é</strong> a 5ª s<strong>é</strong>rie para ser candi<strong>da</strong>to a vereador do partido do PT e aju<strong>da</strong>r a<br />

população.<br />

Isabel - Eu quero apren<strong>de</strong>r ca<strong>da</strong> vez mais, porque hoje eu sei que a leitura <strong>é</strong> muito importante,<br />

quero <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser cega.<br />

Edite - Apren<strong>de</strong>r e passar para algu<strong>é</strong>m que não sabe. Dizer como <strong>é</strong> importante a leitura.<br />

3 – A)Que momento <strong>da</strong> aula você mais gosta? B)Qual o que menos gosta? Quando tem<br />

<strong>de</strong> C)faltar à aula o que você pensa?<br />

Maria - A- O momento <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita; B- Quando só ta falando; C- As vezes sinto<br />

falta. As vezes estou muito cansa<strong>da</strong>, me acordo as 4 horas.<br />

Rute – A- Quando ta lendo e explicando, porque entendo melhor; B- Matemática. É muito<br />

complicado mais do que ler, minha cabeça dói; C- Sinto falta. Fico pensando o que a<br />

professora estar pensando, hoje os outros vão apren<strong>de</strong>r e eu não.<br />

Raquel - Não respon<strong>de</strong>u.<br />

108


Mois<strong>é</strong>s - A- Português. Porque a professora fica lendo e a gente fica mais atencioso;<br />

B- Quando eu to escrevendo e uma pessoa fica na frente do quadro e quando está conversando<br />

<strong>de</strong>mais; C- Fico pensando nas meninas e na professora que vai colocar falta em mim.<br />

Sara - A- Todos os momentos; B- matemática, aquela conta <strong>de</strong> dividir <strong>é</strong> complicado;<br />

C- Penso nos <strong>de</strong>veres que fica para traz. Sinto falta <strong>da</strong>s meninas e <strong>da</strong> professora.<br />

Abraão - A- Matemática; B- Ciência; C- Quando eu perco, chego aqui, não sei <strong>de</strong> na<strong>da</strong> do<br />

outro dia. O que ia apren<strong>de</strong>r, não aprendi.<br />

Talita - A- gosto mais <strong>de</strong> leitura e quando a professora estar explicando; B- É pouquinho <strong>da</strong><br />

matemática e quando o pessoal está fazendo sua<strong>da</strong>. É melhor o silêncio; C- Penso em per<strong>de</strong>r<br />

muita coisa, as mat<strong>é</strong>rias que a professora passou, chegar aqui e não saber <strong>de</strong> na<strong>da</strong>.<br />

Judite - A- De ler e escrever. Agora tenho dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>. Meu sonho <strong>é</strong> pegar um livro e ler sem<br />

gaguejar, sem errar; B- Da matemática, <strong>é</strong> meia dura para mim; C- É mais um dia que eu perco<br />

uma chance <strong>de</strong> pegar aquele assunto. Aí atrasa tudo.<br />

Jacó - A- Quando eu to lendo em sala <strong>de</strong> aula, apren<strong>de</strong>ndo, acho muito bom; B- Quando na<br />

aula <strong>de</strong> história, a professora está explicando um assunto e o colega quer na<strong>da</strong>, atrapalha; C-<br />

Mas um assunto que eu perdi, eu sinto falta, fico agoniado.<br />

Mirian - A- Quando a professora está <strong>da</strong>ndo explicação e quando estamos com dúvi<strong>da</strong> e<br />

tiramos a dúvi<strong>da</strong>; B- Quando o assunto <strong>é</strong> matemática; C- Penso que perdi assunto. O que foi<br />

<strong>da</strong>do hoje, não vai ser <strong>da</strong>do no outro dia. E, quando pegamos assunto <strong>da</strong> outra pessoa, nunca <strong>é</strong><br />

como a professora está explicando.<br />

Salom<strong>é</strong> - A- Quando multiplica, que eu entendo e aprendo; B- Quando ela explica e eu não<br />

entendo, tenho <strong>de</strong> perguntar <strong>de</strong> novo; C- Penso que vou per<strong>de</strong>r o assunto n<strong>é</strong>, e tamb<strong>é</strong>m fico<br />

impaciente, enquanto eu não mando algu<strong>é</strong>m avisar porque eu não vim. Eu não gosto <strong>de</strong> faltar.<br />

D<strong>é</strong>bora - A- Os momentos <strong>de</strong> teste e no momento <strong>de</strong> copiar; B- Quando não faço o melhor,<br />

quando tiro notas baixas, erro. Sempre quero tirar o melhor, <strong>da</strong>r o máximo, ter uma m<strong>é</strong>dia;<br />

C- Que a gente tem <strong>de</strong> tirar a tarefa <strong>de</strong> outra pessoa.<br />

109


S<strong>é</strong>fora - A- A presença <strong>da</strong> professora que <strong>é</strong> muito importante; B- Menos a matemática, mas<br />

respeito tudo; C- Não respon<strong>de</strong>u.<br />

Davi - A- Gosto quando a professora explica para a gente memorizar melhor para o teste,<br />

quando passa o <strong>de</strong>ver; B- Quando para, para o recreio. A gente per<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler e escrever;<br />

C- O que sinto <strong>é</strong> que a gente vai per<strong>de</strong>r mais um dia, porque a gente já per<strong>de</strong>u muito.<br />

Fua - A- Quando ela começa a escrever no quadro; B- Gosto <strong>de</strong> todos; C- Fico aperrea<strong>da</strong><br />

porque não vim, porque não sei do assunto. Fica difícil.<br />

Lídia - A- Português; B- Matemática; C- Só não venho quando estou doente, penso, fico<br />

atrasa<strong>da</strong> nas aulas.<br />

Simão - A- Gosto <strong>de</strong> todos os momentos. Na<strong>da</strong> sei, comecei do zero. Todos os momentos<br />

para mim <strong>é</strong> importante; B- Gosto <strong>de</strong> todos, tendo aula para mim; C- Faço tudo para não faltar.<br />

Penso ca<strong>da</strong> vez mais ficar atrasado.<br />

Isabel - A- Matemática; B- Não tenho, só arte; C- Acho mais ruim porque estou per<strong>de</strong>ndo<br />

assunto.<br />

Edite - A- Sempre gosto <strong>da</strong> aula to<strong>da</strong>; B- Matemática, negócio <strong>de</strong> matemática eu não gosto<br />

não; C- Penso que vou per<strong>de</strong>r uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r.<br />

4 - Na sua profissão como você seria um professor do que você sabe?<br />

Maria - Ensinaria do jeito que aprendi. Quando fui morar na casa <strong>da</strong> minha sogra não sabia<br />

nem fritar um ovo, observava todos os movimentos <strong>de</strong>la. Você só apren<strong>de</strong> alguma coisa<br />

observando todos os movimentos <strong>de</strong> quem está lhe ensinando.<br />

Rute - Fiz <strong>de</strong> tudo um pouco. Trabalhei na roça, <strong>de</strong>pois <strong>é</strong> que eu passei a trabalhar na casa <strong>de</strong><br />

família. Eu explicaria o que era para fazer e fazia para ela ver como <strong>é</strong>.<br />

110


Raquel - Seria assim: Passaria a leitura que eu tenho para a pessoa que não sabe, fazia<br />

primeiro isso. Depois o que eu sei, lavar e passar...passar como ensinei as minhas filhas <strong>de</strong><br />

pouquinho, engomar uma calcinha.<br />

Mois<strong>é</strong>s - Eu ia ensinar do jeito que eu aprendi. Apren<strong>de</strong>ndo, an<strong>da</strong>ndo na rua, conversando<br />

com o povo. Era assim que eu ia ensinar. Porque eu vendia prestação, ven<strong>de</strong>ndo panela,<br />

conquistando, fazendo o cartão.<br />

Sara - Levando para o sítio, plantando, colhendo, aguando, ensinando, com a enxa<strong>da</strong>, <strong>de</strong>pois<br />

com a mão. O outro aprendia fazendo.<br />

Abraão - Eu chamava e ia ensinando, <strong>de</strong> pouco a pouco, jogar bola, pintar.<br />

Talita - Eu sei não. Explicando.<br />

Judite - Sou dona <strong>de</strong> casa. Passar e lavar <strong>é</strong> o que sei. Ensinava man<strong>da</strong>ndo fazer o que eu faço.<br />

Eu ensinaria em casa passando o que eu sei para a pessoa. A pessoa comigo trabalhava na<br />

cozinha, <strong>é</strong> o que eu sei fazer.<br />

Jacó - Da maneira que a professora passou para mim, na escrita, na <strong>prática</strong>. É fazer o<br />

serviço...Com as próprias mãos.<br />

Mirian - Não compareceu.<br />

Salom<strong>é</strong> - Ensinaria o que eu sei dialogando, mostrando o que eu faço, para que a pessoa olhe<br />

e apren<strong>da</strong>.<br />

D<strong>é</strong>bora - Da mesma forma que aprendi. Ser organiza<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ixar tudo em dia. Aprendia<br />

fazendo. O que aprendi com minha mãe faço com meus filhos, porque para outra pessoa não<br />

sou professora, só para meus filhos.<br />

S<strong>é</strong>fora - Sou dom<strong>é</strong>stica. O que aprendi vou ensinar. Ensinar comi<strong>da</strong>, lavar, passar, cozinhar<br />

comi<strong>da</strong>...comi<strong>da</strong> simples. Ensina bem a vonta<strong>de</strong>, com prazer.<br />

111


Davi - Eu levaria a pessoa comigo e ensinaria o que eu sei, ensinaria fazendo.<br />

Fua - Sou dom<strong>é</strong>stica. Eu ensinaria a mesma coisa que faço em casa: lavo roupa, cuido <strong>da</strong>s<br />

crianças, <strong>da</strong> casa. Chamava ela para perto <strong>de</strong> mim e explicava, ela olhando.<br />

Lídia - Passar para as pessoas, o que eu sei, muitas coisas.<br />

Simão - Ensinava passando o que eu sei, conversando, palestrando. Ensinando o que <strong>é</strong> bom e<br />

o que <strong>é</strong> errado. Sou servente.<br />

Isabel - Sou feirante. Vendo comi<strong>da</strong>. Chamando a pessoa que estava interessa<strong>da</strong>, ela querendo<br />

apren<strong>de</strong>r presta atenção.<br />

Edite - Sou dom<strong>é</strong>stica. Chamando e ensinando, pedindo para ela olhar, apren<strong>de</strong>r comigo.<br />

5 - O que mudou na sua vi<strong>da</strong> com a escola?<br />

Maria - O que mudou para mim foi a caligrafia. O jeito <strong>de</strong> se expressar, <strong>de</strong> conversar com as<br />

pessoas. Conversava bem mais errado, trocava as palavras.<br />

Rute - Sinceramente não mudou na<strong>da</strong>. Me sinto mais empolga<strong>da</strong> quando as pessoas dizem:<br />

nunca <strong>é</strong> tar<strong>de</strong>, vá em frente. É muito bom ouvir isso.<br />

Raquel - Para mim mudou muita coisa. Aprendi mais a ler, a escrever. Aprendi a falar com<br />

mais educação com meus filhos. Para mim, isso foi a coisa mais importante <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>.<br />

Mois<strong>é</strong>s - Olhe, o que mudou na minha vi<strong>da</strong> com a escola, foi que me consi<strong>de</strong>rava um<br />

analfabeto e hoje não sou mais. Isso mudou muito na minha vi<strong>da</strong>.<br />

Sara - Mudou tudo, na leitura, na caligrafia, na educação, comigo e com meus filhos.<br />

112


Abraão - O que eu não sabia fazer eu sei agora. Eu sabia fazer meu nome, mas eu quando<br />

chegava na feira <strong>de</strong> ciências. Assinava e errava, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sse dia não fui mais.<br />

Talita - Mudou muito. Aprendi mais a ler, aprendi mais o modo <strong>de</strong> falar com as pessoas. Às<br />

vezes as pessoas fala com a gente e a gente se per<strong>de</strong>, não enten<strong>de</strong> na<strong>da</strong>.<br />

Judite - Muita coisa, agora recebi at<strong>é</strong> um convite para trabalhar. Mudou a convivência, at<strong>é</strong> em<br />

conversar. Quem estu<strong>da</strong> se sai melhor. Eu não assinava, hoje eu assino, não escrevia, hoje eu<br />

escrevo.<br />

Jacó - Mudou muita coisa. Por exemplo: chegar nos cantos, saber se comportar. Tudo isso <strong>é</strong><br />

importante em nossa vi<strong>da</strong>. Depois <strong>da</strong> escola meu <strong>de</strong>senvolvimento foi muito gran<strong>de</strong>, tanto no<br />

profissional como no pessoal.<br />

Mirian - Não compareceu.<br />

Salom<strong>é</strong> - Mudou muita coisa. Antes eu era uma pessoa que não sabia ler, era cega, tinha<br />

vergonha. Para assinar alguma coisa era trêmula e agora não sou mais. Tinha inveja <strong>de</strong> quem<br />

sabia ler e escrever. E, agora não tenho mais isso.<br />

D<strong>é</strong>bora - Mudou muita coisa, principalmente na rotina. O fim do dia era cansativo, agora vou<br />

para a escola. Hoje eu sou mais libera<strong>da</strong> para falar com as pessoas, para conviver melhor.<br />

Melhorei a caligrafia, perdi mais a vergonha <strong>de</strong> falar mais com amigos. Eu era tími<strong>da</strong>, estou<br />

apren<strong>de</strong>ndo mais, gostei tanto que o ano que vem vou continuar.<br />

S<strong>é</strong>fora - Muita coisa, amiza<strong>de</strong> com os colegas, união. A professora ensina muito bem, agente<br />

apren<strong>de</strong> e presta conta a professora. Mudou bastante, leio uma placa quando saio na rua,<br />

revista, carta, uma carta bem caprichosa.<br />

Davi - Devido a esse ano, gostaria <strong>de</strong> ter insistido antes. Se eu tinha dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, hoje mu<strong>de</strong>i<br />

muito. Passei a pegar o en<strong>de</strong>reço mais correto, o nome do cliente. Se não fosse o retorno <strong>de</strong>sse<br />

ano para a escola, eu não sabia o que fazer. Apesar <strong>de</strong> ser curioso, aprendo tudo observando.<br />

Ele tem que curiar e saber curiar.<br />

113


Fua - Mudou muita coisa. Eu não sabia <strong>de</strong> na<strong>da</strong>. Naquele tempo eu chorava, não sabia nem<br />

pegar ônibus. Hoje eu sei, sei ler algumas palavras. Não sabia na<strong>da</strong>. Sei fazer o meu nome, <strong>da</strong><br />

minha família.<br />

Lídia - Mudou tudo. Meu jeito <strong>de</strong> ser. Eu não era como sou. Eu era ignorante, porque fui<br />

cria<strong>da</strong> no sítio, tinha poucas pessoas e na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> tem muitas pessoas.<br />

Simão - Tudo, por tudo. Não sabia <strong>de</strong> na<strong>da</strong>, estou sabendo alguma coisa agora. Aprendi a ler,<br />

apanhar um Ônibus para viajar. O pouco que aprendo passo para os colegas, incentivando<br />

para vir tamb<strong>é</strong>m. Nunca <strong>é</strong> tar<strong>de</strong> para apren<strong>de</strong>r.<br />

Isabel - Mudou muita coisa. Por exemplo: não leio muito, mas leio pouco. Ningu<strong>é</strong>m me<br />

engana com conta. Eu tenho um sonho <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a ler ca<strong>da</strong> vez mais, para ler a bíblia, um<br />

jornal, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser cega realmente e mostrar para as outras pessoas que nunca <strong>é</strong> tar<strong>de</strong> para<br />

apren<strong>de</strong>r.<br />

Edite - Mudou uma coisa muito boa. Tinha inveja <strong>de</strong> quem fazia, hoje faço. Isso <strong>é</strong> muito<br />

importante.<br />

TABULAÇÃO DAS RESPOSTAS DOS EDUCANDOS<br />

1)- O que uma pessoa faz sem a escola para viver at<strong>é</strong> a i<strong>da</strong><strong>de</strong> adulta?<br />

Total <strong>de</strong> Entrevistados 19<br />

Respon<strong>de</strong>ram 100%<br />

Trabalhavam, mas sem a escola a pessoa fica cega, <strong>de</strong>sliga<strong>da</strong>, sempre<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> algu<strong>é</strong>m.<br />

Trabalhava, sabia escrever, mas não entendia na<strong>da</strong>, ia para a escola, mas não<br />

sabia contar e não tinha incentivo dos pais.<br />

TOTAL 19<br />

15<br />

04<br />

114


2)- O que você quer fazer com a leitura e a escrita?<br />

Total <strong>de</strong> Entrevistados 19<br />

Respon<strong>de</strong>ram 100%<br />

Conseguir um trabalho melhor, fazer concurso, ter uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> melhor. 05<br />

Aju<strong>da</strong>r meus filhos e mostrar que sou igual a eles. 04<br />

Viver e se relacionar melhor, ler melhor, compreen<strong>de</strong>r mais as coisas. 08<br />

Arrumar um serviço melhor e aju<strong>da</strong>r meus filhos 02<br />

TOTAL 19<br />

3- A- Que momento <strong>da</strong> aula você mais gosta? B- qual o que menos gosta? C- quando tem<br />

<strong>de</strong> faltar à aula o que você pensa?<br />

Total <strong>de</strong> Entrevistados 19<br />

Respon<strong>de</strong>ram 100%<br />

A- Momento <strong>da</strong> leitura, <strong>da</strong> escrita, <strong>da</strong> explicação, português. 12<br />

A – Todos os momentos. 02<br />

A – matemática. 03<br />

A – Não respon<strong>de</strong>ram 02<br />

TOTAL 19<br />

B – Matemática. 08<br />

B – Arte, ciência, quando para a aula para o recreio e quando só ta falando. 04<br />

B- Quando os colegas atrapalham a explicação, quando não entendo, quando<br />

não faço o melhor.<br />

B – não respon<strong>de</strong>u 03<br />

TOTAL 19<br />

C- Sinto que perdi a chance <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, penso que perdi, os <strong>de</strong>veres ficam para<br />

traz, o que ia apren<strong>de</strong>r não aprendi, fico aperreado.<br />

C – fico pensado na falta, que agente tem que tirar a tarefa do outro 02<br />

C – Não respon<strong>de</strong>u 02<br />

TOTAL 19<br />

04<br />

15<br />

115


4)- Na sua profissão como você seria um professor do que você sabe?<br />

Total <strong>de</strong> Entrevistados 19<br />

Respon<strong>de</strong>ram<br />

Dom<strong>é</strong>sticas, ensinaria do jeito que aprendi, observando, explicaria e fazia para<br />

ela ver como <strong>é</strong>, dialogando.<br />

O outro aprendia fazendo, fazer o serviço com as próprias mãos. 05<br />

Não respon<strong>de</strong>u. 02<br />

TOTAL 19<br />

5- O que mudou na sua vi<strong>da</strong> com a escola?<br />

Total <strong>de</strong> Entrevistados 19<br />

Respon<strong>de</strong>ram<br />

Mudou tudo, muita coisa, no comportamento, na letra, no jeito <strong>de</strong> falar, antes<br />

eu era cega.<br />

Deixei <strong>de</strong> ser analfabeto 01<br />

Mudou tudo, aprendia falar com mais educação com meus filhos, melhorou a<br />

caligrafia.<br />

Sinceramente não mudou na<strong>da</strong>. 01<br />

Não respon<strong>de</strong>u 01<br />

TOTAL 19<br />

12<br />

14<br />

02<br />

116

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