alfabetizar: o segredo é a inteligência da prática - Centro de ...

2.3 O segredo de uma prática educativa inteligente
O(a) educador(a) pode ensinar, contar, descrever a experiência do momento vivido,
mas não pode oferecer o instante em que tudo se moveu na sua percepção, na sua prática. Este
instante pertence a ele(a), é o seu segredo, é o seu jeito, é a sua forma peculiar de ser e fazer.
Para isso a inteligência da prática não é uma negação da práxis, é uma capacidade de
mobilizar teoria e prática nas circunstâncias imprevistas na sala de aula.
O que queremos esclarecer com o termo segredo, é mostrar que na prática educativa
tem, além de outros fatores, algo característico de cada educador(a), que se move no exercício
de seu cotidiano com o educando, que não pode ser copiado ou dado como modelo. A forma
que cada educador(a) trabalha, seu jeito de ser e fazer, que o(a) faz agir intuitivamente,
provisoriamente, abdutivamente 5 no momento do processo ensino-aprendizagem, é uma
artimanha própria de cada educador(a), conduzindo o educando à aprendizagem. Assim, a
prática educativa é um segredo singular da inteligência da prática do(a) educador(a). Contudo,
vale ressaltar que, não estamos aqui defendendo uma prática educativa egoísta, individualista
seria não apenas uma postura ingênua, mas sobretudo, equivocada, pois as experiências
retiradas desses instantes, dessas peculiaridades, podem ser partilhadas com o objetivo de
gerar novas inteligências no fazer educativo da alfabetização de jovens e adultos.
Dito de outro modo, o segredo é a condução da prática, a forma como cada
educador(a) atua em sua ação educativa com o educando, como ele(a) utiliza estratégias,
capacidades e habilidades de sua inteligência humana para atender às necessidades desse
educando. Como assinala Lima (1965 p. 176) “é preciso que a alfabetização se apresente
como um instrumento que, não desmerecendo o seu status, tenha valor de chave para a
solução de sua problemática vital”.
Assim, a compreensão do que seja o segredo da prática, está na ação educativa dos(as)
educadores(as), numa prática capaz, individual e coletiva, dinâmica, intuitiva, astuciosa,
criativa, curiosa, envolvente, sensível, que vai se revelando no dia-a-dia, em conjunto com o
educando, possibilitando-lhe um aprendizado de mundo, o re-conhecimento desse mundo.
Como assinala Cabeda, ao citar Azevedo (2004, p. 6), referindo-se ao avanço da tecnologia
virtual “o segredo não está nem em normas, nem em tecnologias, está em pessoas, educadores
capacitados para atuarem como animadores da inteligência coletiva em comunidades virtuais
5 Uma condição abdutiva é estar apta para adiantar uma dada situação antes que ela realmente aconteça, é
transformar uma coisa em outra, é um rapto, uma atitude inteligente de abduzir uma compreensão.
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