14.06.2013 Views

folha dos Bairros - cpvsp.org.br

folha dos Bairros - cpvsp.org.br

folha dos Bairros - cpvsp.org.br

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

FõTha <strong>dos</strong> B<<strong>br</strong> />

PUBLICAÇÃO DA ETAPAS - RECIFE, ABRIL / MAIO DE 1990 ANO IV N? 29<<strong>br</strong> />

É muito descaso<<strong>br</strong> />

com tantas favelas<<strong>br</strong> />

0 tempo não pára, mas<<strong>br</strong> />

tem gente que dá o prego<<strong>br</strong> />

e estaciona no tempo. E<<strong>br</strong> />

a Prefeitura não dá ponto<<strong>br</strong> />

sem nó, diante das 300<<strong>br</strong> />

favelas existentes no<<strong>br</strong> />

Recife. Ferramentes<<strong>br</strong> />

importantes são deixadas<<strong>br</strong> />

de lado por falta de<<strong>br</strong> />

compreensão e<<strong>br</strong> />

mobilização. Enquanto<<strong>br</strong> />

pouca gente sabe o que<<strong>br</strong> />

são Zeis, Prezeis, a atual<<strong>br</strong> />

administração<<strong>br</strong> />

Joaquim/Gilberto, velhos<<strong>br</strong> />

camaleões, pintam e<<strong>br</strong> />

bordam novos disfarces.<<strong>br</strong> />

Em relação às Zeis.<<strong>br</strong> />

só fizeram placas. Págs.<<strong>br</strong> />

6e7<<strong>br</strong> />

DE OLHO<<strong>br</strong> />

"0 Plano desce do governo para a<<strong>br</strong> />

realidade, rezando para que a<<strong>br</strong> />

realidade o aceite e o agüente".<<strong>br</strong> />

"Os capitalistas deveriam aceitar<<strong>br</strong> />

alegres e patrioticamente do<<strong>br</strong> />

governo Collor tudo aquilo contra o<<strong>br</strong> />

qual lutariam até a morte no<<strong>br</strong> />

governo Lula". "Na realidade não<<strong>br</strong> />

é o plano ou o caos. pode até ser o<<strong>br</strong> />

plano e o caos". "Mas. ninguém<<strong>br</strong> />

conseguiu provar que só através<<strong>br</strong> />

de processos autoritários se<<strong>br</strong> />

combate a inflação". Veja a<<strong>br</strong> />

opinião de Herbert de Souza so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

a lógica autoritária do Plano<<strong>br</strong> />

Collor. Págs. 8 e 9.<<strong>br</strong> />

ros<<strong>br</strong> />

NCz$ 10,00<<strong>br</strong> />

Cidadania na<<strong>br</strong> />

Lei Orgânica:<<strong>br</strong> />

vamos à prática<<strong>br</strong> />

Com a atual Constituição Munici-<<strong>br</strong> />

pal começa uma nova fase, on-<<strong>br</strong> />

de pode haver uma maior parti-<<strong>br</strong> />

cipação popular. Mas, muitos<<strong>br</strong> />

princípios ainda precisam ser re-<<strong>br</strong> />

gulamenta<strong>dos</strong>. E se as pedras<<strong>br</strong> />

não rolam, criam limbo. Pág. 3<<strong>br</strong> />

Valei-me Santana!<<strong>br</strong> />

Terreno doado<<strong>br</strong> />

não tem volta<<strong>br</strong> />

A Prefeitura não voltou atrás na<<strong>br</strong> />

doação do terreno de Santana,<<strong>br</strong> />

que deveria ser vendido para fi-<<strong>br</strong> />

nanciar casas populares desti-<<strong>br</strong> />

nadas às áreas do Projeto Re-<<strong>br</strong> />

cife. A luta do Movimento Po-<<strong>br</strong> />

pular não teve o necessário fô-<<strong>br</strong> />

lego e militantes <strong>dos</strong> Torrões<<strong>br</strong> />

fazem uma análise crítica do<<strong>br</strong> />

processo. Págs. 4 e 5<<strong>br</strong> />

A sátira <strong>dos</strong> grupos de teatro popular Despertar, Teimosinho e<<strong>br</strong> />

Novos Tempos animou a manifestação contra o plano "Brasil<<strong>br</strong> />

Novo", realizada pela CUT no dia 24 de a<strong>br</strong>il, nas ruas do<<strong>br</strong> />

Recife. Na foto, o karateca Collor de Melo dá golpes na democracia<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileira.


OPINIÃO Folha <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong><<strong>br</strong> />

r:<<strong>br</strong> />

Companheiros da Folha <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong><<strong>br</strong> />

0 objetivo desta é agradecer e elogiar a publicação da "Folha", a qual<<strong>br</strong> />

é de muita utilidade para o nosso trabalho, (...).<<strong>br</strong> />

Aproveitamos para solicitar aos companheiros um maior número de<<strong>br</strong> />

jornais, pois atualmente não só adquirimos um, e como trabalhamos com<<strong>br</strong> />

vários grupos (mulher, criança, jovem), to<strong>dos</strong> ficam interessa<strong>dos</strong> em ad-<<strong>br</strong> />

quiri-los, (...).<<strong>br</strong> />

A "Folha <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong>" tem matérias muito boas quanto à política atual<<strong>br</strong> />

e à região.<<strong>br</strong> />

Se para isto {conseguir mais exemplares) for necessário uma ajuda fi-<<strong>br</strong> />

nanceira, pedimos aos companheiros que nos comuniquem, para que pos-<<strong>br</strong> />

samos analisar e providenciar se estiver ao nosso alcance.<<strong>br</strong> />

Grupo Benvira<<strong>br</strong> />

Afoga<strong>dos</strong> da Ingazeira<<strong>br</strong> />

Folha <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong>: Ficamos gratos ao saber que este jornal contribui<<strong>br</strong> />

com o trabalho do Benvira. A aquisição de mais exemplares por edição<<strong>br</strong> />

pode ser feita através da ampliação de assinaturas por parte <strong>dos</strong> interes-<<strong>br</strong> />

sa<strong>dos</strong>.<<strong>br</strong> />

FOLHA DOS BAIRROS RETIFICA<<strong>br</strong> />

A chamada da capa da edição n 9 28, onde refere-se à cartilha so<strong>br</strong>e Mo-<<strong>br</strong> />

vimento de <strong>Bairros</strong> entre 155 e 1989, deve ser entre 1955 e 1989.<<strong>br</strong> />

Nome.<<strong>br</strong> />

Endereço.<<strong>br</strong> />

Bairro<<strong>br</strong> />

Estado _<<strong>br</strong> />

Folha<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

ASSINE<<strong>br</strong> />

Pgt 2 cheque nominal à: ETAPAS<<strong>br</strong> />

Equipe Técnica, Pesquisa e Ação Social.<<strong>br</strong> />

Rua <strong>dos</strong> Médicis, 67 - Boa Vista - Recife/PE<<strong>br</strong> />

Telefone: (081) 231-0745-Cx. Postal 1510<<strong>br</strong> />

Individual<<strong>br</strong> />

NCz$ 80,00<<strong>br</strong> />

Assinatura Semestral<<strong>br</strong> />

□ Ent. popular<<strong>br</strong> />

NCz$ 100,00 □<<strong>br</strong> />

.Cidade.<<strong>br</strong> />

_CEP.<<strong>br</strong> />

APOIO<<strong>br</strong> />

De boas intenções o<<strong>br</strong> />

inferno está cheio<<strong>br</strong> />

Com um mês e meio de novo go-<<strong>br</strong> />

verno, não foi dito claramente para<<strong>br</strong> />

que ele veio. Isto, porque a Presi-<<strong>br</strong> />

dência declara intenções e suas<<strong>br</strong> />

ações apontam para outros interes-<<strong>br</strong> />

ses. Aliás, esta postura já é bem<<strong>br</strong> />

conhecida desde a campanha elei-<<strong>br</strong> />

toral. Fica uma lição: as aparências<<strong>br</strong> />

enganam. Mas, os fatos permitem<<strong>br</strong> />

esboçar alguns traços do Projeto<<strong>br</strong> />

Collor.<<strong>br</strong> />

Para decifrar o "enigma" collorl-<<strong>br</strong> />

do, é bom ter cuidado com a versão<<strong>br</strong> />

oficial ou "global" do fato, procu-<<strong>br</strong> />

rando analisá-lo por to<strong>dos</strong> os la<strong>dos</strong>.<<strong>br</strong> />

No caso do confisco <strong>dos</strong> cruza<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

novos, a versão <strong>dos</strong> porta-vozes do<<strong>br</strong> />

governo, especialmente a Rede Glo-<<strong>br</strong> />

bo, é de que os ricos foram penali-<<strong>br</strong> />

za<strong>dos</strong> e os po<strong>br</strong>es beneficia<strong>dos</strong>. Na<<strong>br</strong> />

realidade, nenhum grande empresá-<<strong>br</strong> />

rio, banqueiro ou latifundiário faliu.<<strong>br</strong> />

As elites continuam elites, porque<<strong>br</strong> />

podem usar mil artifícios, inclusive a<<strong>br</strong> />

demissão em massa. Os po<strong>br</strong>es<<strong>br</strong> />

continuam po<strong>br</strong>es, com o exército de<<strong>br</strong> />

desemprega<strong>dos</strong> mais reforçado. Afi-<<strong>br</strong> />

nal, não se conhece rico desempre-<<strong>br</strong> />

gado.<<strong>br</strong> />

Atento aos fatos e desconfiado<<strong>br</strong> />

com a versão oficial, pode-se identi-<<strong>br</strong> />

ficar alguns traços marcantes da<<strong>br</strong> />

política federal.<<strong>br</strong> />

O controle da economia, provo-<<strong>br</strong> />

cando o desmantelamento das pe-<<strong>br</strong> />

quenas e médias empresas, combi-<<strong>br</strong> />

nado com o vasto apoio do empre-<<strong>br</strong> />

sariado nacional, <strong>dos</strong> capitalistas<<strong>br</strong> />

internacionais e do governo america-<<strong>br</strong> />

no, indicam que haverá uma avas-<<strong>br</strong> />

saladora penetração do capital es-<<strong>br</strong> />

trangeiro no Brasil, o que ameaça<<strong>br</strong> />

profundamente a soberania nacional.<<strong>br</strong> />

Este aspecto é o traço central do<<strong>br</strong> />

Projeto Collor de Mello. Encaixa-se<<strong>br</strong> />

perfeitamente com suas ações par-<<strong>br</strong> />

ciais, tais como: venda de Estatais,<<strong>br</strong> />

demissão em massa de funcionários<<strong>br</strong> />

públicos, conivência com as demis-<<strong>br</strong> />

sões no setor privado, defesa da li-<<strong>br</strong> />

vre negociação entre patrão e em-<<strong>br</strong> />

pregado, defesa da economia de<<strong>br</strong> />

mercado onde vence o mais forte, e<<strong>br</strong> />

controle progressivo so<strong>br</strong>e o Con-<<strong>br</strong> />

gresso.<<strong>br</strong> />

Tratam-se de intervenções, apa-<<strong>br</strong> />

rentemente moralizantes e disper-<<strong>br</strong> />

sas, mas que têm um destino certo<<strong>br</strong> />

e programado: a internacionalização<<strong>br</strong> />

da economia do País.. Para tanto, o<<strong>br</strong> />

Presidente utiliza-se de formas e<<strong>br</strong> />

conteú<strong>dos</strong> populistas, artifícios bas-<<strong>br</strong> />

tante eficazes para conseguir a<<strong>br</strong> />

aceitação das massas "em<strong>br</strong>iaga-<<strong>br</strong> />

das". Nisto se enquadram as quali-<<strong>br</strong> />

dades de coragem, vigor, jovialidade,<<strong>br</strong> />

beleza e autoridade. Características<<strong>br</strong> />

que, com a mãozinha <strong>dos</strong> meios de<<strong>br</strong> />

comunicação, ofusca a visão da po-<<strong>br</strong> />

pulação so<strong>br</strong>e os atos autoritários e<<strong>br</strong> />

despóticos do respeitado Presidente.<<strong>br</strong> />

Este é um quadro perigoso a<<strong>br</strong> />

qualquer nação que se deseja demo-<<strong>br</strong> />

crática, especialmente o Brasil, que<<strong>br</strong> />

há 30 anos tenta livrar-se da dita-<<strong>br</strong> />

dura.<<strong>br</strong> />

rolha <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong><<strong>br</strong> />

Publicação Mensal da Equipe Técnica de Assessoria, Pesquisa e<<strong>br</strong> />

Ação Social - ETAPAS. Rua <strong>dos</strong> Médicis, 67 Boa Vista, CEP 50.070, Reci-<<strong>br</strong> />

fe-PE Fone: (081) 2310745 Coordenação da Etapas: André Gerard, Neide<<strong>br</strong> />

Silva; Conselho Editorial: Etapas; Editora: Vanderlúcia Silva; Redação:<<strong>br</strong> />

Edmundo Ribeiro, Vanderlúcia; Diagramação e Arte Final: Edmilson Bar-<<strong>br</strong> />

bosa; Composição: MPL Publicações Ltda. Impressão: Gráfica Recife; Ti-<<strong>br</strong> />

ragem: 2.000 exemplares.<<strong>br</strong> />

A Federação Metropolitana de <strong>Bairros</strong> informa seu novo endereço: rua da Aurora, 295, Edifício São Cristóvão, sala 415, Boa Vista<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio


<strong>folha</strong> <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong><<strong>br</strong> />

No ar mais uma novela da<<strong>br</strong> />

Rede Globo: Plano Callote<<strong>br</strong> />

0 Plano Collor provocou efeitos<<strong>br</strong> />

devastadores so<strong>br</strong>e a vida econômi-<<strong>br</strong> />

ca <strong>br</strong>asileira. 0 impacto inicial fez<<strong>br</strong> />

com que vários segmentos <strong>org</strong>aniza-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> da sociedade, em particular o<<strong>br</strong> />

movimento sindical, adotassem um<<strong>br</strong> />

posicionamento cauteloso no en-<<strong>br</strong> />

frentamento da nova realidade.<<strong>br</strong> />

Apesar disso, desde os primeiros<<strong>br</strong> />

momentos, a CUT se posicionou<<strong>br</strong> />

fortemente contra o "plano callote".<<strong>br</strong> />

No nosso entendimento as causas<<strong>br</strong> />

estruturais da crise nacional não fo-<<strong>br</strong> />

ram atacadas. A falta de medidas<<strong>br</strong> />

concretas quanto à dívida externa,<<strong>br</strong> />

reforma agrária, desprivatização do<<strong>br</strong> />

Estado, elimina qualquer possibilida-<<strong>br</strong> />

de de êxito no que se refere à nor-<<strong>br</strong> />

malização da economia e à retoma-<<strong>br</strong> />

da do seu crescimento.<<strong>br</strong> />

Na verdade, o plano "callote" se-<<strong>br</strong> />

gue rigidamente a receita do FMI. Is-<<strong>br</strong> />

so implica na continuidade do paga-<<strong>br</strong> />

mento da divida externa e conse-<<strong>br</strong> />

quentemente na remessa de 35 mi-<<strong>br</strong> />

lhões de dólares mensais para cre-<<strong>br</strong> />

dores internacionais, só de juros da<<strong>br</strong> />

dívida!<<strong>br</strong> />

Como decorrência maior temos a<<strong>br</strong> />

recessão e o desemprego em massa<<strong>br</strong> />

que já atinge a alarmante quantidade<<strong>br</strong> />

FATOS DO MES<<strong>br</strong> />

Primeiro de maio é dia de luta.<<strong>br</strong> />

Neste dia, o pessoal da Muribeca<<strong>br</strong> />

decidiu em plebiscito destituir a atual<<strong>br</strong> />

diretoria da Associação <strong>dos</strong> Mora-<<strong>br</strong> />

dores, por não estar cumprindo seu<<strong>br</strong> />

papel de lutar pela área.<<strong>br</strong> />

Foram 1.024 votos "sim" (pela<<strong>br</strong> />

destituição) e apenas 11 "não", de<<strong>br</strong> />

um total de 1.035 votantes. Ficou<<strong>br</strong> />

aprovada também uma diretoria pro-<<strong>br</strong> />

visória e a convocação de novas<<strong>br</strong> />

eleições até o dia 30 de julho próxi-<<strong>br</strong> />

mo. Para agitar mais, houve ainda<<strong>br</strong> />

torneio de futebol, transmitido pela<<strong>br</strong> />

rádio cultural do bairro e show com<<strong>br</strong> />

artistas locais.<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio<<strong>br</strong> />

de 500 mil trabalhadores no País.<<strong>br</strong> />

Em Pernambuco, o número de de-<<strong>br</strong> />

semprega<strong>dos</strong> chega a 20 mil. Além<<strong>br</strong> />

disso, o plano "callote" pune vio-<<strong>br</strong> />

lentamente os trabalhadores na me-<<strong>br</strong> />

dida que impõe perdas salariais ex-<<strong>br</strong> />

traordinárias: os da<strong>dos</strong> do Dieese<<strong>br</strong> />

(Departamento Intersindical de Es-<<strong>br</strong> />

tatísticas e Estu<strong>dos</strong> Sócio-econômi-<<strong>br</strong> />

cos) apontam 122,8%, correspon-<<strong>br</strong> />

dente à inflação acumulada de mar-<<strong>br</strong> />

ço e a<strong>br</strong>il (março, 84% e a<strong>br</strong>il, 24%).<<strong>br</strong> />

Outro aspecto que merece consi-<<strong>br</strong> />

deração é a privatização desenfreada<<strong>br</strong> />

das empresas estatais, sob o falso<<strong>br</strong> />

argumento de que são as causado-<<strong>br</strong> />

ras principais do déficit público. É<<strong>br</strong> />

bom esclarecer que as estatais no<<strong>br</strong> />

Brasil surgiu a partir da constatação<<strong>br</strong> />

de que o Estado capitalista precisava<<strong>br</strong> />

exercer controle so<strong>br</strong>e os setores<<strong>br</strong> />

estratégicos da economia, tais como<<strong>br</strong> />

a informática, as telecomunicações,<<strong>br</strong> />

a energia, a biotecnologia etc, como<<strong>br</strong> />

A Central Única <strong>dos</strong> Trabalhadores de Pernambuco protesta contra o Plano Collor 24.04.90<<strong>br</strong> />

Desemprego<<strong>br</strong> />

forma de estabelecer regras de re-<<strong>br</strong> />

lacionamento com as demais na-<<strong>br</strong> />

ções, alicerçadas na autonomia e in-<<strong>br</strong> />

dependência. 0 sucateamento do<<strong>br</strong> />

nosso parque estatal significa jogar o<<strong>br</strong> />

país no fosso do atraso científico<<strong>br</strong> />

e tecnológico e por conseguinte,<<strong>br</strong> />

condená-lo a permanecer a reboque<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> países de economia central.<<strong>br</strong> />

Por fim, faz-se necessário anali-<<strong>br</strong> />

sar os componentes políticos do<<strong>br</strong> />

plano "callote". O presidente Collor,<<strong>br</strong> />

cujo perfil se aproxima do ex-ditador<<strong>br</strong> />

Benito Mussolini, evidentemente<<strong>br</strong> />

sem possuir a mesma estatura his-<<strong>br</strong> />

tórica, tenta resgatar o Estado auto-<<strong>br</strong> />

ritário dando-lhe uma nova face.<<strong>br</strong> />

Tem procurado sistematicamente<<strong>br</strong> />

colocar-se acima <strong>dos</strong> parti<strong>dos</strong> políti-<<strong>br</strong> />

cos, das entidades de classe e <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

poderes legislativo e judiciário.<<strong>br</strong> />

Através.da famigerada Rede Glo-<<strong>br</strong> />

bo, Collor passa a imagem de ho-<<strong>br</strong> />

mem jovem, inteligente, forte e de-<<strong>br</strong> />

cidido e apela diretamente às mas-<<strong>br</strong> />

sas des<strong>org</strong>anizadas e aos "desca-<<strong>br</strong> />

misa<strong>dos</strong>" para que não o abandone<<strong>br</strong> />

nessa cruzada de salvação nacional.<<strong>br</strong> />

Enfim, o presidente eleito com o<<strong>br</strong> />

voto do povo é candidato a ditador.<<strong>br</strong> />

Resta, portanto, à classe traba-<<strong>br</strong> />

lhadora e à sociedade civil <strong>org</strong>aniza-<<strong>br</strong> />

da mobilizar-se para derrotar essa<<strong>br</strong> />

farsa "collorida" que, de forma gol-<<strong>br</strong> />

pista, tenta restaurar a ditadura no<<strong>br</strong> />

Brasi.<<strong>br</strong> />

Jairo Ca<strong>br</strong>al, presidente da CUT-PE<<strong>br</strong> />

(Central Única <strong>dos</strong> Trabalhadores)<<strong>br</strong> />

Moradores de Brasília Teimosa<<strong>br</strong> />

foram às urnas, no dis 22 de a<strong>br</strong>il, e<<strong>br</strong> />

votaram, em plebiscito, a favor da<<strong>br</strong> />

mudança do percurso da linha de<<strong>br</strong> />

ônibus "Brasília", proposta pelo<<strong>br</strong> />

Conselho de Moradores. Antes, os<<strong>br</strong> />

oíiibus só iam até a avenida Nossa<<strong>br</strong> />

Senhora do Carmo, na cidade. Agora,<<strong>br</strong> />

percorrem a Conde da Boa Vista,<<strong>br</strong> />

Agamenon Magalhães, rua do Prínci-<<strong>br</strong> />

pe, Parque 13 de Maio e retornam ao<<strong>br</strong> />

bairro.<<strong>br</strong> />

De um total de 2.477 votantes,<<strong>br</strong> />

2.382 disseram "sim" ao novo inti-<<strong>br</strong> />

nerário, 72 "não", 10 nulos e 13<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>ancos. Foi uma grande vitória. Com mobilização, Brasília Teimosa consegue da EMTU mudança no intinerário do ônibus


Projeto Recife JL Uf&AAci* ULCf SlS> JCPuiÂJL JL USl<<strong>br</strong> />

Santana: faltou gás na mobilização<<strong>br</strong> />

0 melancólico fim da luta pelo<<strong>br</strong> />

terreno de Santana nos leva a sentir<<strong>br</strong> />

a necessidade de se refletir so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />

atual situação em que se encontra o<<strong>br</strong> />

Movimento Popular. Qual ou quais<<strong>br</strong> />

as razões de tanta desmobilização,<<strong>br</strong> />

desencontros e. apatia? A luta pelo<<strong>br</strong> />

terreno de Santana nos parece ter<<strong>br</strong> />

sido uma das melhores chances que<<strong>br</strong> />

teve o Movimento Popular de fazer<<strong>br</strong> />

frente a política elitista do prefeito<<strong>br</strong> />

Joaquim Francisco, cuja administra-<<strong>br</strong> />

ção foi toda voltada para o favore-<<strong>br</strong> />

cimento das classes privilegiadas da<<strong>br</strong> />

sociedade.<<strong>br</strong> />

O descaso da maioria das lideran-<<strong>br</strong> />

ças do Movimento Popular e suas<<strong>br</strong> />

entidades representativas, com a<<strong>br</strong> />

questão do terreno de Santana, só<<strong>br</strong> />

igualou a desatenção com que o<<strong>br</strong> />

prefeito tratou os gritos de protestos<<strong>br</strong> />

O vereador Carlos Eduardo defende na Câmara Municipal a rescisão do contrato de doação do terreno<<strong>br</strong> />

de alguns poucos militantes que se<<strong>br</strong> />

arrojaram contra a vergonhosa doa-<<strong>br</strong> />

ção do terreno de Santana, feita pela<<strong>br</strong> />

URB.<<strong>br</strong> />

Vender o parque para ter casas<<strong>br</strong> />

Localizado no bairro no<strong>br</strong>e de Ca-<<strong>br</strong> />

sa Forte, o chamado Parque de<<strong>br</strong> />

Santana, desde a gestão do prefeito<<strong>br</strong> />

Jarbas Vasconcelos, deveria ser<<strong>br</strong> />

vendido e com o dinheiro obtido na<<strong>br</strong> />

negociação viabilizar a construção de<<strong>br</strong> />

cerca de mil casas populares. Tal<<strong>br</strong> />

destinação para o terreno foi fruto de<<strong>br</strong> />

um acordo firmado entre a Prefeitura<<strong>br</strong> />

e o Movimento Popular, após ampla<<strong>br</strong> />

consulta às comunidades envolvidas<<strong>br</strong> />

no Projeto Recife, que seriam bene-<<strong>br</strong> />

ficiadas com a venda.<<strong>br</strong> />

Já na administração de Joaquim<<strong>br</strong> />

Francisco, esta mesma comissão<<strong>br</strong> />

geral se reuniu com a coordenadoria<<strong>br</strong> />

do Projeto Recife, a senhora Regina<<strong>br</strong> />

Mareia, para saber como andava a<<strong>br</strong> />

questão do terreno de Santana. Na<<strong>br</strong> />

ocasião a coordenadoria disse que<<strong>br</strong> />

tudo estava na mesma e que seria<<strong>br</strong> />

mantido o acordo anterior. Algum<<strong>br</strong> />

tempo depois, no entanto, os jornais<<strong>br</strong> />

noticiaram que a URB havia doado<<strong>br</strong> />

em termos de comodato, parte do<<strong>br</strong> />

terreno para o Clube de Engenharia,<<strong>br</strong> />

que deverá ali construir sua sede e<<strong>br</strong> />

outra parte para o Centro Cultural<<strong>br</strong> />

Islâmico, que deverá construir no lo-<<strong>br</strong> />

cal uma grande mesquita.<<strong>br</strong> />

Diante da imoralidade da doação,<<strong>br</strong> />

que espelha o descaso da prefeitura<<strong>br</strong> />

do senhor Joaquim Francisco com a<<strong>br</strong> />

situação de moradia <strong>dos</strong> recifenses,<<strong>br</strong> />

algumas lideranças do Movimento<<strong>br</strong> />

Popular, com o apoio das entidades<<strong>br</strong> />

de assessoria, resolveram se reunir<<strong>br</strong> />

para fazer frente à "trambicagem"<<strong>br</strong> />

da URB. To<strong>dos</strong> que estavam pre-<<strong>br</strong> />

sentes, na primeira reunião, eram<<strong>br</strong> />

unânimes em afirmar que teríamos<<strong>br</strong> />

amplas chances de vitórias em bar-<<strong>br</strong> />

rar esse ato da URB.<<strong>br</strong> />

A doação fora feita de maneira<<strong>br</strong> />

ilegal, pois a área não poderia ser<<strong>br</strong> />

destinada à construção de um clube<<strong>br</strong> />

e foi utilizado o tráfico de influências,<<strong>br</strong> />

já que a senhora Regina Márcia, co-<<strong>br</strong> />

ordenadora do Projeto Recife, é es-<<strong>br</strong> />

posa do senhor Luiz Arnaldo, presi-<<strong>br</strong> />

dente do Clube de Engenharia.<<strong>br</strong> />

Ação popular contra a maracutaia<<strong>br</strong> />

Decidimos então que entraríamos<<strong>br</strong> />

com uma ação popular contra a<<strong>br</strong> />

prefeitura, visando anular a doação.<<strong>br</strong> />

Para entrega da ação ficou definido<<strong>br</strong> />

que os bairros envolvi<strong>dos</strong> com o<<strong>br</strong> />

Projeto Recife mobilizariam pessoas<<strong>br</strong> />

para comparecerem ao Fórum Paula<<strong>br</strong> />

Batista, com o intuito de criar um<<strong>br</strong> />

fato político e pressionar o juiz de-<<strong>br</strong> />

signado para julgá-la. Tamanha foi a<<strong>br</strong> />

decepção ao observarmos que pou-<<strong>br</strong> />

cos cumpriram o prometido e a ação<<strong>br</strong> />

popular foi entregue com um peque-<<strong>br</strong> />

no número de "insistentes" com fai-<<strong>br</strong> />

xas e cartazes.<<strong>br</strong> />

Houve debates no Clube de Enge-<<strong>br</strong> />

nharia e no Conselho Regional de<<strong>br</strong> />

Engenharia e Arquitetura-CREA, para<<strong>br</strong> />

discutir o assunto e poucas lideran-<<strong>br</strong> />

ças do moyimento compareceram.<<strong>br</strong> />

O vereador Carlos Eduardo entrou<<strong>br</strong> />

com um requerimento na Câmara<<strong>br</strong> />

Municipal solicitando do Prefeito a<<strong>br</strong> />

rescisão do contrato de doação do<<strong>br</strong> />

terreno. Ficou acordado em reunião,<<strong>br</strong> />

que no dia da votação do requeri-<<strong>br</strong> />

mento as lideranças das comunida-<<strong>br</strong> />

des do Projeto Recife se compro-<<strong>br</strong> />

meteriam a lotar as galerias da Câ-<<strong>br</strong> />

mara, com o objetivo de pressionar<<strong>br</strong> />

os vereadores liga<strong>dos</strong> ao Prefeito<<strong>br</strong> />

para que aprovassem o requeri-<<strong>br</strong> />

mento. Mais uma vez, poucas áreas<<strong>br</strong> />

estiveram presentes.<<strong>br</strong> />

A Etapas elaborou um vídeo con-<<strong>br</strong> />

tando a história da doação. Este ví-<<strong>br</strong> />

deo deveria ser exibido nos bairros<<strong>br</strong> />

como instrumento de mobilização,<<strong>br</strong> />

mas faltou interesse da maioria das<<strong>br</strong> />

lideranças em promover a exibição e<<strong>br</strong> />

a posterior discussão do assunto.<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio


Folha <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong> Projeto Recife<<strong>br</strong> />

Poucas andorinhas I**<<strong>br</strong> />

não fazem verão<<strong>br</strong> />

Pintou inverno na questão de Santana por não haver maior<<strong>br</strong> />

empenho de todas as <strong>org</strong>anizações populares.<<strong>br</strong> />

Apesar <strong>dos</strong> percalços, alguns "in-<<strong>br</strong> />

sistentes" ainda se reuniram e foi<<strong>br</strong> />

dada entrada a uma ação caute-<<strong>br</strong> />

lar solicitando sustar qualquer<<strong>br</strong> />

construção no terreno até o julga-<<strong>br</strong> />

mento da ação popular. Para que<<strong>br</strong> />

o juiz deferisse a ação cautelar, ava-<<strong>br</strong> />

liou-se que seria necessário fazer<<strong>br</strong> />

um outro ato público na frente do<<strong>br</strong> />

Fórum Paula Batista, como forma de<<strong>br</strong> />

pressão. Lamentavelmente, esse<<strong>br</strong> />

ato sequer foi preparado, pois as li-<<strong>br</strong> />

deranças não compareceram às<<strong>br</strong> />

reuniões de preparação. Sem sèr<<strong>br</strong> />

pressionado, o juiz não deu parecer<<strong>br</strong> />

favorável a ação cautelar.<<strong>br</strong> />

É hora, portanto, do Movimento<<strong>br</strong> />

Popular avaliar-se e ver que lição<<strong>br</strong> />

pode tirar da luta contra a doação do<<strong>br</strong> />

terreno de Santana. Houve muitas<<strong>br</strong> />

desculpas para uma participação tão<<strong>br</strong> />

medíocre, nada porém justifica tanto<<strong>br</strong> />

desinteresse e omissão. A luta pelo<<strong>br</strong> />

terreno de Santana era de todo mo-<<strong>br</strong> />

vimento e deveria ter sido encampa-<<strong>br</strong> />

da com seriedade pela Femeb, Fea-<<strong>br</strong> />

ca, MDF e todas as associações e<<strong>br</strong> />

conselhos de moradores das áreas<<strong>br</strong> />

atendidas pelo Projeto Recife.<<strong>br</strong> />

O que não se justifica<<strong>br</strong> />

Uma das desculpas mais usadas<<strong>br</strong> />

pelas lideranças do Movimento Po-<<strong>br</strong> />

pular é que a conjuntura atual da<<strong>br</strong> />

administração municipal não viabiliza<<strong>br</strong> />

a mobilização das comunidades, ou<<strong>br</strong> />

seja, depois que Joaquim Francisco<<strong>br</strong> />

assumiu a Prefeitura o movimento<<strong>br</strong> />

tem encontrado dificuldades para or-<<strong>br</strong> />

ganizar o "povo", principalmente<<strong>br</strong> />

porque as reivindicações não são<<strong>br</strong> />

atendidas, o que provoca apatia e<<strong>br</strong> />

descrença. Será mesmo esse o mo-<<strong>br</strong> />

tivo para o marasmo em que se en-<<strong>br</strong> />

contra o Movimento Popular?<<strong>br</strong> />

Sabemos que a gestão de Joa-<<strong>br</strong> />

quim Francisco é autoritária e que<<strong>br</strong> />

não atende às reivindicações por<<strong>br</strong> />

melhorias para as comunidades.<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio<<strong>br</strong> />

Mas parece que as lideranças não<<strong>br</strong> />

estão sabendo usar essa conjuntura<<strong>br</strong> />

adversa no sentido de estimular a<<strong>br</strong> />

conscientização das pessoas. Se as<<strong>br</strong> />

solicitações não são atendidas é o<<strong>br</strong> />

caso de se mostrar aos moradores o<<strong>br</strong> />

porquê da negativa, desmistifican-<<strong>br</strong> />

do as atitudes da prefeitura, educan-<<strong>br</strong> />

do-os para que consigam fazer um<<strong>br</strong> />

confronto entre administrações pú-<<strong>br</strong> />

blicas mais democráticas e aquelas<<strong>br</strong> />

autoritárias, que representam os in-<<strong>br</strong> />

teresses das classes privilegiadas.<<strong>br</strong> />

Ocorre, porém, que tudo isso implica<<strong>br</strong> />

em muito trabalho para as lideran-<<strong>br</strong> />

ças comunitárias e pelo que vemos<<strong>br</strong> />

nem to<strong>dos</strong> parecem dispostos para<<strong>br</strong> />

tal.<<strong>br</strong> />

A rmracutaia da administração Joaquim Francisco frustrou milhares de favela<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

Quando as portas se fecham<<strong>br</strong> />

Na gestão Jarbas Vasconcelos, o<<strong>br</strong> />

Movimento Popular foi prestigiado.<<strong>br</strong> />

Qualquer líder comunitário tinha livre<<strong>br</strong> />

acesso aos gabinetes <strong>dos</strong> secretá-<<strong>br</strong> />

rios e discutia cara a cara com as<<strong>br</strong> />

autoridades da administração pública<<strong>br</strong> />

municipal. Isso fazia com que muitas<<strong>br</strong> />

pessoas se sentissem importantes<<strong>br</strong> />

por poder colocar a mão so<strong>br</strong>e o<<strong>br</strong> />

om<strong>br</strong>o do prefeito, chamá-lo de<<strong>br</strong> />

companheiro ou criticar de forma de-<<strong>br</strong> />

saforada qualquer representante do<<strong>br</strong> />

poder público. As conquistas de<<strong>br</strong> />

melhorias para os bairros também<<strong>br</strong> />

repercutiam em prestígio pessoal<<strong>br</strong> />

para alguns líderes. Mas esse tempo<<strong>br</strong> />

passou e hoje as portas <strong>dos</strong> gabi-<<strong>br</strong> />

nentes da prefeitura estão fechadas.<<strong>br</strong> />

Parece-nos também que um <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

fatores principais para os descami-<<strong>br</strong> />

nhos do Movimento Popular, é, hoje,<<strong>br</strong> />

o fato da Femeb, Feaca e MDF ainda<<strong>br</strong> />

não se entenderem. Uma prova da<<strong>br</strong> />

imaturidade dessas entidades é que<<strong>br</strong> />

elas não avançaram no sentido de<<strong>br</strong> />

buscar a unidade do Movimento Po-<<strong>br</strong> />

pular, ficando muitas vezes mais<<strong>br</strong> />

preocupadas com suas divergências.<<strong>br</strong> />

O momento, no entanto, exige uma<<strong>br</strong> />

outra postura, é chegada o tempo de<<strong>br</strong> />

assumirem de fato algumas bandei-<<strong>br</strong> />

ras de luta que no discurso são bem<<strong>br</strong> />

tratadas, mas que no cotidiano se<<strong>br</strong> />

perdem, por falta de ação concreta.<<strong>br</strong> />

Hoje, praticamente perdemos o ter-<<strong>br</strong> />

reno de Santana, amanhã não se sa-<<strong>br</strong> />

be que coisas mais o Movimento Po-<<strong>br</strong> />

pular vai se dá ao luxo de perder.<<strong>br</strong> />

Infelizmente, por causa da inope-<<strong>br</strong> />

rância do Movimento Popular, agora<<strong>br</strong> />

só nos resta aguardar que os islâmi-<<strong>br</strong> />

cos construam seu templo e levar<<strong>br</strong> />

nossas crianças para conhecer o que<<strong>br</strong> />

eles chamam de "a maior mesquita<<strong>br</strong> />

do Norte e Nordeste do País". E<<strong>br</strong> />

quem sabe o Clube de Engenharia<<strong>br</strong> />

não nos "permita" tomar um banho<<strong>br</strong> />

de piscina, após uma boa partida de<<strong>br</strong> />

tênis.<<strong>br</strong> />

Marcelo Teles, Valéria Nepomuceno<<strong>br</strong> />

CONSELHO DE MORADORES DO<<strong>br</strong> />

BAIRRO DOS TORRÕES


Moradia Folha<strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong><<strong>br</strong> />

Faz um ano. A Folha do <strong>Bairros</strong><<strong>br</strong> />

publicou na sua edição<<strong>br</strong> />

maio-junho/89: "Prefeitura<<strong>br</strong> />

entrava Prezeis". De lá para cá,<<strong>br</strong> />

alguns cabelos ficaram <strong>br</strong>ancos.<<strong>br</strong> />

0 Brasil foi atacado pela praga<<strong>br</strong> />

collorida. Recife foi contaminada<<strong>br</strong> />

pela fe<strong>br</strong>e amarela. Muita gente<<strong>br</strong> />

deu uma de camaleão... e o<<strong>br</strong> />

Fórum do Prezeis continuou<<strong>br</strong> />

pálido. Diante disso, percebe-se<<strong>br</strong> />

uma série de contradições: o<<strong>br</strong> />

movimento está parado, a<<strong>br</strong> />

Prefeitura freiou a participação<<strong>br</strong> />

popular e acelerou a<<strong>br</strong> />

"popularidade". Logo de cara,<<strong>br</strong> />

tais constatações podem tirar<<strong>br</strong> />

qualquer um de tempo.<<strong>br</strong> />

Prefeitura despreza favela<strong>dos</strong> e lei do Prezeis<<strong>br</strong> />

"Vejo o futuro repetir o passado. Vejo um museu de grandes novidades, O tempo não pára, não<<strong>br</strong> />

pára" (Cazuza), É, mas têm gente e coisas que param no tempo, O Fórum do Prezeis é uma delas.<<strong>br</strong> />

O que resta do Fórum do Prezeis são suas reuniões quinzenais<<strong>br</strong> />

Prezeis é coisa que se preze<<strong>br</strong> />

Para início de conversa, pouca<<strong>br</strong> />

gente sabe realmente o que é Prezeis<<strong>br</strong> />

(Plano de Regularização das Zonas<<strong>br</strong> />

Especiais de Interesse Social). No<<strong>br</strong> />

próprio Fórum do Prezeis, falta uma<<strong>br</strong> />

compreensão mais ampla das finali-<<strong>br</strong> />

dades desta ferramenta tão impor-<<strong>br</strong> />

tante para as populações po<strong>br</strong>es do<<strong>br</strong> />

Recife. Esta deficiência é reconhecida<<strong>br</strong> />

por alguns representantes do movi-<<strong>br</strong> />

mento popular, entre eles, Luís Car-<<strong>br</strong> />

los, presidente da Femeb (Federação<<strong>br</strong> />

Metropolitana de Entidades de Bair-<<strong>br</strong> />

ros) e Almir Cosme, do MDF (Movi-<<strong>br</strong> />

mento de Defesa <strong>dos</strong> Favela<strong>dos</strong>).<<strong>br</strong> />

Segundo eles, a Prefeitura tem<<strong>br</strong> />

duas caras: mostra uma bonitinha nas<<strong>br</strong> />

reuniões do Fórum; e na prática bota<<strong>br</strong> />

as unhas de fora, emperrando o an-<<strong>br</strong> />

damento do Prezeis. Por sua vez, o<<strong>br</strong> />

movimento popular não reage ao des-<<strong>br</strong> />

caso da administração Joaquim Fran-<<strong>br</strong> />

cisco/Gilberto Marques. Em relação a<<strong>br</strong> />

esta questão, nos últimos doze me-<<strong>br</strong> />

ses, a única comunidade que realizou<<strong>br</strong> />

manifestações foi a de Caranguejo e<<strong>br</strong> />

Tabaiares (quatro passeatas só este<<strong>br</strong> />

ano), reivindicando a transformação<<strong>br</strong> />

das duas favelas em Zeis (Zonas Es-<<strong>br</strong> />

peciais de Interesse Social).<<strong>br</strong> />

No protesto do dia 9 de a<strong>br</strong>il houve<<strong>br</strong> />

até um incidente, em frente à Urb,<<strong>br</strong> />

quando o funcionário Alberto Costa,<<strong>br</strong> />

da diretoria de Habitação e Projetos<<strong>br</strong> />

Especiais do órgão municipal jogou<<strong>br</strong> />

seu Escort amarelo, placa SE 3282,<<strong>br</strong> />

PE-Olinda, contra os manifestantes.<<strong>br</strong> />

Ao tentar sair do estacionamento da<<strong>br</strong> />

Urb, ele "não podia" esperar alguns<<strong>br</strong> />

minutos, enquanto aqueles que ali<<strong>br</strong> />

estavam esperando há décadas por<<strong>br</strong> />

moradia e melhores condições de vi-<<strong>br</strong> />

da. Com os ânimos à flor da pele, por<<strong>br</strong> />

pouco não aconteceu algo mais grave.<<strong>br</strong> />

O que são Zeis<<strong>br</strong> />

As Zeis (Zonas Especiais de Inte-<<strong>br</strong> />

resse Social) são áreas de favelas<<strong>br</strong> />

onde a lei prevê planos de urbaniza-<<strong>br</strong> />

ção e legalização da terra. Ou seja,<<strong>br</strong> />

este é um passo legal para evitar a<<strong>br</strong> />

expulsão <strong>dos</strong> moradores, partindo de-<<strong>br</strong> />

pois para conquistar melhorias para o<<strong>br</strong> />

local.<<strong>br</strong> />

As Zeis estão incluídas na lei do<<strong>br</strong> />

uso e ocupação do solo urbano, de<<strong>br</strong> />

1983, que na divisão da cidade prevê<<strong>br</strong> />

também outros tipos de áreas, zonas<<strong>br</strong> />

industriais, onde se podem instalar fá-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>icas e indústrias; zonas de preser-<<strong>br</strong> />

vação ambiental, destinadas à con-<<strong>br</strong> />

servação do meio ambiente (matas,<<strong>br</strong> />

parques, praças etc.) e zonas resi-<<strong>br</strong> />

denciais, onde se podem construir<<strong>br</strong> />

moradias (casas e edifícios).<<strong>br</strong> />

Naquela época, foram criadas 27<<strong>br</strong> />

Zeis que ficaram só no papel até<<strong>br</strong> />

1987. Para sair desse faz-de-conta,<<strong>br</strong> />

setores do movimento popular, com<<strong>br</strong> />

ajuda da antiga Comissão de Justiça e<<strong>br</strong> />

Paz elaboraram a lei do Prezeis -<<strong>br</strong> />

Plano de Regularização das Zonas<<strong>br</strong> />

Especiais de Interesse Social. A pro-<<strong>br</strong> />

posta foi aprovada pela Câmara Muni-<<strong>br</strong> />

cipal e assinada, em março daquele<<strong>br</strong> />

ano, pelo então prefeito Jarbas Vas-<<strong>br</strong> />

concelos.<<strong>br</strong> />

Nas áreas que entram na lei do<<strong>br</strong> />

Prezeis, qualquer ação da Prefeitura<<strong>br</strong> />

tem que passar pelas Comissões de<<strong>br</strong> />

Urbanização e Legislação (Comuls),<<strong>br</strong> />

que se reúnem semanalmente. Elas<<strong>br</strong> />

são formadas por dois representantes<<strong>br</strong> />

da comunidade, escolhi<strong>dos</strong> em as-<<strong>br</strong> />

sembléia geral, um de uma entidade<<strong>br</strong> />

de assessoria ao movimento popular,<<strong>br</strong> />

um da OAB-PE, um da Secretaria de<<strong>br</strong> />

Assuntos Jurídicos da Prefeitura, um<<strong>br</strong> />

da Urb e um do órgão executor do<<strong>br</strong> />

projeto no local (Urb ou Cohab).<<strong>br</strong> />

Prezeis é ferramenta de luta<<strong>br</strong> />

Com o Prezeis fica garantida a terra<<strong>br</strong> />

para os moradores, evitando assim<<strong>br</strong> />

que sejam expulsos ou joga<strong>dos</strong> para<<strong>br</strong> />

lugares mais distantes. Além disso, a<<strong>br</strong> />

Prefeitura deve promover a urbaniza-<<strong>br</strong> />

ção da área e a instalação de escolas,<<strong>br</strong> />

postos de saúde e outros melhora-<<strong>br</strong> />

mentos.<<strong>br</strong> />

A elaboração e a execução<<strong>br</strong> />

desses projetos são coordena<strong>dos</strong> e<<strong>br</strong> />

fiscaliza<strong>dos</strong> pelas Comuls.<<strong>br</strong> />

Atualmente só existem 15 Comuls,<<strong>br</strong> />

nas 36 Zeis já criadas no Recife, de<<strong>br</strong> />

um total de mais de 300 favelas da<<strong>br</strong> />

cidade. Com o objetivo de juntar todas<<strong>br</strong> />

as Comuls em tomo de discussões de<<strong>br</strong> />

interesse geral, foi criado o Fórum do<<strong>br</strong> />

Prezeis, no final da administração<<strong>br</strong> />

Jarbas Vasconcelos. Trata-se de um<<strong>br</strong> />

espaço institucional que tem caráter<<strong>br</strong> />

consultivo, mas pode servir como<<strong>br</strong> />

instrumento de pressão.<<strong>br</strong> />

Funcionário da Urb joga seu Escort amarelo contra favela<strong>dos</strong> de Caranguejo<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio<<strong>br</strong> />

O Fórum do Prezeis é composto<<strong>br</strong> />

por dois representantes da Urb-Recife<<strong>br</strong> />

um da Secretaria Municipal de As-<<strong>br</strong> />

suntos Jurídicos, um da Secretaria<<strong>br</strong> />

Municipal de Ação Social, um da Co-<<strong>br</strong> />

hab, dois representantes de cada Zeis<<strong>br</strong> />

com comissão formalizada, três de<<strong>br</strong> />

entidades gerais do movimento popu-<<strong>br</strong> />

lar (Femeb, MDF e Feaca), dois de ór-<<strong>br</strong> />

gãos profissionais liga<strong>dos</strong> à questão<<strong>br</strong> />

urbana (Mestrado de Desenvolvi-<<strong>br</strong> />

mento Urbano - MDU, da UFPE e<<strong>br</strong> />

OAB-PE) e três de entidades de as-<<strong>br</strong> />

sessoria ao movimento popular (Ceas,<<strong>br</strong> />

Arruar e Comissão de Justiça e Paz).<<strong>br</strong> />

Moradores de Caranguejo e Tabaiares lutam para transformar suas áreas em Zeis<<strong>br</strong> />

Saco vazio não fica em pé<<strong>br</strong> />

As reuniões do Fórum são realiza-<<strong>br</strong> />

das quinzenalmente, no auditório da<<strong>br</strong> />

Urb, desde o início da atual adminis-<<strong>br</strong> />

tração até agora. Já faz 16 meses e o<<strong>br</strong> />

Prezeis continua ruim das pernas, to-<<strong>br</strong> />

talmente desprezado pela Prefeitura.<<strong>br</strong> />

E o que é pior, os representantes do<<strong>br</strong> />

movimento popular, quando não fal-<<strong>br</strong> />

tam às reuniões, vem se perdendo em<<strong>br</strong> />

questões menores. Assim, ou há um<<strong>br</strong> />

esvaziamento em termos de presença<<strong>br</strong> />

ou em conteúdo e poder de pressão.<<strong>br</strong> />

Ou os dois juntos.<<strong>br</strong> />

Isso dá mais espaço para a Urb ir<<strong>br</strong> />

cozinhando o Prezeis em banho-maria.<<strong>br</strong> />

„£ até a<strong>br</strong>e <strong>br</strong>echas para tentativas de<<strong>br</strong> />

descaracterização do Fomm, como<<strong>br</strong> />

ocorreu na reunião do dia 6 de a<strong>br</strong>il,<<strong>br</strong> />

quando a coordenadora do Programa<<strong>br</strong> />

de Implantação das Zeis, Marcele<<strong>br</strong> />

Gaudêncio (representante da Urb), de<<strong>br</strong> />

forma irresponsável, acusou o pes-<<strong>br</strong> />

soal do movimento popular que faz<<strong>br</strong> />

parte das Comuls de danificar com-<<strong>br</strong> />

putadores, telefones e outros equi-<<strong>br</strong> />

pamentos daquele órgão público. Na-<<strong>br</strong> />

quela ocasião, faltou uma reação<<strong>br</strong> />

mais imediata e mais forte por parte<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> representantes populares a tão<<strong>br</strong> />

grave acusação.<<strong>br</strong> />

Por outro lado, sabe-se que a ad-<<strong>br</strong> />

ministração Joaquim Francisco/Gil-<<strong>br</strong> />

berto Marques nada fez em favor do<<strong>br</strong> />

Prezeis. Não foi criada Zeis alguma.<<strong>br</strong> />

Muito pelo contrário, só jogou contra,<<strong>br</strong> />

atrasando os cadastramentos e le-<<strong>br</strong> />

vantamentos das áreas que já são<<strong>br</strong> />

Zeis (como no caso da favela Entra-<<strong>br</strong> />

Apulso), não atendendo os pedi<strong>dos</strong> de<<strong>br</strong> />

transformação em Zeis (nos casos do<<strong>br</strong> />

Chie, Caranguejo e Tabaiares). A Urb<<strong>br</strong> />

alega falta de verbas, de técnicos<<strong>br</strong> />

Eis as 36 Zeis<<strong>br</strong> />

do Recife. Só 15<<strong>br</strong> />

têm Comissões<<strong>br</strong> />

1 - Cavaleiro<<strong>br</strong> />

2 - Pacheco<<strong>br</strong> />

3 - Areias<<strong>br</strong> />

4 - Barro<<strong>br</strong> />

5 - Estância / Capuá<<strong>br</strong> />

6 - Eng. do Meio / Vila Redenção<<strong>br</strong> />

7 - Areias / Caçote<<strong>br</strong> />

8 - Jiquiá / Mangueira *<<strong>br</strong> />

9 - San Martin / Vietnam<<strong>br</strong> />

10 -Torrões *<<strong>br</strong> />

11 -Torrões<<strong>br</strong> />

12 - Engenho do Meio / Cuba<<strong>br</strong> />

13-Casa Amarela<<strong>br</strong> />

14 - Alto do Mandu / Santa Isabel<<strong>br</strong> />

15 - Afoga<strong>dos</strong> / Vila São Miguel »<<strong>br</strong> />

16 ~ Jiquiá / Remédios<<strong>br</strong> />

17 - Prado / Novo Prado<<strong>br</strong> />

18 - Prado<<strong>br</strong> />

19 - Prado / Madalena *<<strong>br</strong> />

20 - Dois Uni<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

21 - Coque *<<strong>br</strong> />

22 - Linha do Tiro<<strong>br</strong> />

23 - Encanta Moça (Pina) *<<strong>br</strong> />

24 - Fundão de Fora<<strong>br</strong> />

25 - Brasília Teimosa *<<strong>br</strong> />

26 - Ilha de Joaneiro<<strong>br</strong> />

27 - Bairro <strong>dos</strong> Coelhos»<<strong>br</strong> />

28 - Entra-Apulso *<<strong>br</strong> />

29 - João de Barros *<<strong>br</strong> />

30 - Rua do Rio *<<strong>br</strong> />

31 - Sítio Car<strong>dos</strong>o *<<strong>br</strong> />

32 - Beirinha *<<strong>br</strong> />

33 - Coronel Fa<strong>br</strong>iciano *<<strong>br</strong> />

34 - Jordão / Ibura *<<strong>br</strong> />

35 - Borborema<<strong>br</strong> />

36 - Jardim Uchoa<<strong>br</strong> />

* Estas Zeis possuem Comuls -<<strong>br</strong> />

Comissões de Urbanização e Legislação<<strong>br</strong> />

disponíveis e problemas das terras<<strong>br</strong> />

em questão na Justiça. Enquanto vai<<strong>br</strong> />

empurrando o problema com a barriga,<<strong>br</strong> />

a prefeitura vai colocando placas vis-<<strong>br</strong> />

tosas identificando as Zeis já exis-<<strong>br</strong> />

tentes desde as administrações pas-<<strong>br</strong> />

sadas. Está na cara que as desculpas<<strong>br</strong> />

da Urb não passam de conversa para<<strong>br</strong> />

a "boiada popular" dormir. Para não<<strong>br</strong> />

deixar o cachimbo cair, o pessoal das<<strong>br</strong> />

Comuls precisa sair da comodidade<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> jetons e passar a injetar mais<<strong>br</strong> />

ânimo na mobilização para tocar o<<strong>br</strong> />

Prezeis para frente. 0 Prezeis está in-<<strong>br</strong> />

cluído na nova Lei Orgânica do Recife,<<strong>br</strong> />

mas precisa ser regulamentado na le-<<strong>br</strong> />

gislação ordinária.


Conjuntura <strong>folha</strong> <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong><<strong>br</strong> />

Lógica autoritária da "era" Collor<<strong>br</strong> />

Herbert de Souza (sociólogo e diretor<<strong>br</strong> />

executivo do IBASE)<<strong>br</strong> />

0 Plano Collor pode ser conside-<<strong>br</strong> />

rado "perfeito" pelos economistas,<<strong>br</strong> />

mas se mostra irrealizável na práti-<<strong>br</strong> />

ca. A economia não pertence ao<<strong>br</strong> />

Olimpo da razão pura ou da vontade<<strong>br</strong> />

do príncipe, mas ao mundo <strong>dos</strong> se-<<strong>br</strong> />

res humanos.<<strong>br</strong> />

É tudo ou nada. Vencer ou vencer.<<strong>br</strong> />

Não há outra saída, aprovação ou<<strong>br</strong> />

caos. 0 plano é perfeito. 0 esquema<<strong>br</strong> />

é absolutamente lógico. A recessão<<strong>br</strong> />

é inevitável. Haverá recessão mas<<strong>br</strong> />

não haverá desemprego. Não se po-<<strong>br</strong> />

de mexer no plano, senão nada dará<<strong>br</strong> />

certo, pabe ao Congresso aprovar.<<strong>br</strong> />

Tudo será feito para o bem de to<strong>dos</strong>.<<strong>br</strong> />

Opor-se ao plano é impatriótico. A<<strong>br</strong> />

hiperinflação levaria inevitavelmente<<strong>br</strong> />

ao caos. Assim pensam os que<<strong>br</strong> />

apoiam o plano do governo, incluindo<<strong>br</strong> />

entre eles grande parte <strong>dos</strong> econo-<<strong>br</strong> />

mistas de esquerda, e a maioria da<<strong>br</strong> />

população, segundo as pesquisas de<<strong>br</strong> />

opinião.<<strong>br</strong> />

Domesticar a realidade<<strong>br</strong> />

Foi pensando assim que a equipe<<strong>br</strong> />

do governo decidiu abater a inflação<<strong>br</strong> />

de uma só vez, seqüestrando o ca-<<strong>br</strong> />

pital que estava depositado na rede<<strong>br</strong> />

bancária. Fizeram um plano, como<<strong>br</strong> />

se sabe, perfeito para o seqüestro e<<strong>br</strong> />

anunciaram ao mundo que seu único<<strong>br</strong> />

destino é o sucesso. Esqueceram no<<strong>br</strong> />

entanto de avisar à realidade que ela<<strong>br</strong> />

deveria se comportar exatamente<<strong>br</strong> />

como está escrito no texto do go-<<strong>br</strong> />

verno.<<strong>br</strong> />

Os capitalistas deveriam aceitar<<strong>br</strong> />

alegres e patrioticamente do governo<<strong>br</strong> />

Collor aquilo contra o qual lutariam<<strong>br</strong> />

até a morte no governo Lula: a de-<<strong>br</strong> />

sapropriação (temporária) de seus<<strong>br</strong> />

bens com promessa de retorno. As<<strong>br</strong> />

empresas deveriam continuar produ-<<strong>br</strong> />

zindo normalmente sem ter condi-<<strong>br</strong> />

ções no entanto sequer de pagar<<strong>br</strong> />

suas <strong>folha</strong>s de pagamento (um de-<<strong>br</strong> />

talhe, obviamente, para quem se<<strong>br</strong> />

preocupa com a macro economia).<<strong>br</strong> />

Os capitalistas deveriam<<strong>br</strong> />

aceitar alegres e<<strong>br</strong> />

patrioticamente aquilo<<strong>br</strong> />

contra o qual lutariam até<<strong>br</strong> />

a morte no governo Lula.<<strong>br</strong> />

Os empresários, paralisa<strong>dos</strong>, não<<strong>br</strong> />

devem pensar em demitir seus em-<<strong>br</strong> />

prega<strong>dos</strong> já que as demissões po-<<strong>br</strong> />

dem por a perder o plano. Não se<<strong>br</strong> />

explica como eles podem manter os<<strong>br</strong> />

emprega<strong>dos</strong> nas fá<strong>br</strong>icas sem pa-<<strong>br</strong> />

gamento de salários, já que no capi-<<strong>br</strong> />

talismo as empresas só produzem<<strong>br</strong> />

quando podem .vender e não se pode<<strong>br</strong> />

vender quando ninguém compra ou<<strong>br</strong> />

compra muito menos do que o habi-<<strong>br</strong> />

tual. Os assalaria<strong>dos</strong> por sua vez<<strong>br</strong> />

devem receber e só gastar o essen-<<strong>br</strong> />

cial, mesmo que os preços estejam<<strong>br</strong> />

baixos.<<strong>br</strong> />

Como se vê, o plano do governo<<strong>br</strong> />

quer um Brasil capitalista totalmente<<strong>br</strong> />

novo, moderno, internacionalizado,<<strong>br</strong> />

O plano desce do governo<<strong>br</strong> />

para a realidade, rezando<<strong>br</strong> />

para que a realidade o<<strong>br</strong> />

aceite e o agüente.<<strong>br</strong> />

onde os empresários não buscam<<strong>br</strong> />

lucros excessivos, os banqueiros<<strong>br</strong> />

não especulam, os comerciantes<<strong>br</strong> />

não tiram vantagens da intermedia-<<strong>br</strong> />

ção, os operários não fazem greves<<strong>br</strong> />

por aumento de salários e onde. o<<strong>br</strong> />

governo fica com a mão na torneira<<strong>br</strong> />

para dar uma mão à mão invisível do<<strong>br</strong> />

mercado. Para isso o plano desce do<<strong>br</strong> />

governo para a realidade, rezando<<strong>br</strong> />

para que a realidade o aceite e o<<strong>br</strong> />

agüente. Pede ao Congresso que ab-<<strong>br</strong> />

dique de seus poderes constitucio-<<strong>br</strong> />

nais e de vários princípios recém<<strong>br</strong> />

vota<strong>dos</strong> por esse Congresso em<<strong>br</strong> />

nome da nova ordem e implora à so-<<strong>br</strong> />

ciedade que acredite piamente que<<strong>br</strong> />

se todo mundo acreditar tudo dará<<strong>br</strong> />

certo.<<strong>br</strong> />

MEDIDA pROVtóP'A<<strong>br</strong> />

Descamisa<strong>dos</strong> fora do jogo<<strong>br</strong> />

Acontece que o capitalismo <strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />

sileiro não nasceu hoje, já é interna-<<strong>br</strong> />

cionalizado, tem história, atores, in-<<strong>br</strong> />

teresses cristaliza<strong>dos</strong>, tem proces-<<strong>br</strong> />

sos de funcionamento estabeleci<strong>dos</strong>.<<strong>br</strong> />

O capitalismo é, pelo que eu saiba, o<<strong>br</strong> />

modo dominante de produção no<<strong>br</strong> />

Brasil e os grandes empresários, in-<<strong>br</strong> />

cluin<strong>dos</strong> os banqueiros, constituem a<<strong>br</strong> />

classe dominante, até agora. Pelo<<strong>br</strong> />

que eu saiba, até agora, os descami-<<strong>br</strong> />

sa<strong>dos</strong> não decidem praticamente<<strong>br</strong> />

nada em termos da economia formal<<strong>br</strong> />

e jamais participaram das decisões e<<strong>br</strong> />

do jogo dessa classe dominante que<<strong>br</strong> />

não será abolida através de decre-<<strong>br</strong> />

tos, leis e instruções do Banco Cen-<<strong>br</strong> />

tral.<<strong>br</strong> />

Seqüestrar o capital circulante do<<strong>br</strong> />

país, incluindo o <strong>dos</strong> bancos, e en-<<strong>br</strong> />

tregar a administração desse capital<<strong>br</strong> />

aos próprios banqueiros, supondo<<strong>br</strong> />

que eles vão aceitar de bom grado<<strong>br</strong> />

tudo o que aconteceu e colaborar<<strong>br</strong> />

com o governo é um modo de pen-<<strong>br</strong> />

sar estranho ao bom senso ou à ló-<<strong>br</strong> />

gica formal.<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio


Folha <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong> Conjuntura<<strong>br</strong> />

O plano pode ser<<strong>br</strong> />

lógico e ruim<<strong>br</strong> />

Também perfeito, mas não na prática. E até louco!<<strong>br</strong> />

Afirmar que vai construir um novo<<strong>br</strong> />

capitalismo no Brasil e paralisar às<<strong>br</strong> />

atividades do capitalismo real pode<<strong>br</strong> />

ser um excelente exercício acadêmi-<<strong>br</strong> />

co, se praticado num programa de<<strong>br</strong> />

computador, mas pode resultar<<strong>br</strong> />

muito mais facilmente num imenso<<strong>br</strong> />

Na realidade não é tudo ou nada.<<strong>br</strong> />

Não é vencer ou vencer. Não é o<<strong>br</strong> />

plano ou o caos, pode até ser o pla-<<strong>br</strong> />

no e o caos. Assim como esse plano<<strong>br</strong> />

foi elaborado poderiam ter sido ela-<<strong>br</strong> />

bora<strong>dos</strong> muitos outros planos e<<strong>br</strong> />

muito diferentes desse. Esse plano<<strong>br</strong> />

pode ser lógico e ruim. Poder ser<<strong>br</strong> />

perfeito e irrealizável, porque a eco-<<strong>br</strong> />

nomia não pertence ao Olimpo da ra-<<strong>br</strong> />

zão pura ou da vontade indomável do<<strong>br</strong> />

Príncipe, mas ao mundo pedestre <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

seres humanos reais, com seus in-<<strong>br</strong> />

teresses, vontades, liberdades, cria-<<strong>br</strong> />

tividade e capacidade de reagir.<<strong>br</strong> />

Tentar impor o plano de surpresa,<<strong>br</strong> />

por inteiro e à força ao conjunto da<<strong>br</strong> />

sociedade é uma decorrência da ló-<<strong>br</strong> />

gica autoritária, economicista e vo-<<strong>br</strong> />

luntarista que inspirou o plano e que<<strong>br</strong> />

encontrou eco em to<strong>dos</strong> aqueles que<<strong>br</strong> />

vivem ou vêem a economia e a so-<<strong>br</strong> />

ciedade sob esse prisma.<<strong>br</strong> />

Mas ninguém conseguiu<<strong>br</strong> />

provar que só através de<<strong>br</strong> />

processos autoritários se<<strong>br</strong> />

combate a inflação.<<strong>br</strong> />

É fundamental repetir uma vez<<strong>br</strong> />

mais que o fim não justifica os meios<<strong>br</strong> />

em nenhuma região da realidade ou<<strong>br</strong> />

especialidade, incluindo muito espe-<<strong>br</strong> />

cialmente a economia e os econo-<<strong>br</strong> />

mistas. Por processos autoritários e<<strong>br</strong> />

voluntaristas não se constrói uma<<strong>br</strong> />

sociedade democrática. Poderiam<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio<<strong>br</strong> />

O plano e o caos<<strong>br</strong> />

desastre que acabará com a hiper<<strong>br</strong> />

inflação e com o próprio país. Nesse<<strong>br</strong> />

sentido eu prefiro o capitalismo, com<<strong>br</strong> />

o qual não concordo, ao caos que<<strong>br</strong> />

tornará impossível por muito tempo<<strong>br</strong> />

construir a nova sociedade com que<<strong>br</strong> />

to<strong>dos</strong> sonhamos.<<strong>br</strong> />

Os "descamisado?' precisam tirar essa corda do pescoço<<strong>br</strong> />

nos dizer que uma hiperinflação<<strong>br</strong> />

também não nos leva a essa socie-<<strong>br</strong> />

dade. Muito bem, mas ninguém con-<<strong>br</strong> />

seguiu provar ainda que só através<<strong>br</strong> />

de processos autoritários se com-<<strong>br</strong> />

bate a inflação. Nas sociedades ca-<<strong>br</strong> />

pitalistas liberal democráticas a in-<<strong>br</strong> />

flação não é um caso de polícia. Não<<strong>br</strong> />

é porque se prende gerente de ban-<<strong>br</strong> />

co, dono de supermercado ou qual-<<strong>br</strong> />

quer tipo de capitalista que devemos<<strong>br</strong> />

nos alegrar e abdicar do estado de<<strong>br</strong> />

direito e do respeito aos direitos civis<<strong>br</strong> />

conquista<strong>dos</strong> na nova Constituição.<<strong>br</strong> />

Essa Constituição não decidiu que<<strong>br</strong> />

economia é caso de poiícia e que<<strong>br</strong> />

funcionário público é interno de colé-<<strong>br</strong> />

gio submetido a regime de delação e<<strong>br</strong> />

policiamento ideológico, como pro-<<strong>br</strong> />

põe a Medida Provisória n 9 159.<<strong>br</strong> />

Não interessa que a esquerda te-<<strong>br</strong> />

nha lutado por uma série de pontos<<strong>br</strong> />

que estão contempla<strong>dos</strong> no pacote<<strong>br</strong> />

do governo, se esses pontos estão<<strong>br</strong> />

sendo propostos através de méto-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> autoritários que ignoram a insti-<<strong>br</strong> />

tucionalidade recém aprovada com o<<strong>br</strong> />

apoio dessa mesma esquerda. Lula<<strong>br</strong> />

não aplicaria esse plano, não porque<<strong>br</strong> />

lhe falta coragem ou audácia, mas<<strong>br</strong> />

porque respeitaria a decisão da<<strong>br</strong> />

maioria que demarcou uma etapa de<<strong>br</strong> />

nossa história que é capitalista e que<<strong>br</strong> />

só deverá deixar de ser capitalista<<strong>br</strong> />

por decisão da maioria e não de um<<strong>br</strong> />

golpe por mais revolucionário e bem<<strong>br</strong> />

intencionado que fosse. Longe de<<strong>br</strong> />

mim dizer que Collor quer construir<<strong>br</strong> />

um Brasil socialista, tenho sérios<<strong>br</strong> />

temores é que ele queira construir<<strong>br</strong> />

um capitalismo pelo caminho do<<strong>br</strong> />

caos que resultará dessa espécie de<<strong>br</strong> />

Cambodja neoliberal imposta por<<strong>br</strong> />

PHds de laboratório.<<strong>br</strong> />

Lula não aplicaria esse<<strong>br</strong> />

plano, não porque lhe falta<<strong>br</strong> />

coragem ou audácia, mas<<strong>br</strong> />

porque respeitaria a decisão<<strong>br</strong> />

da maioria.<<strong>br</strong> />

0 governo Collor apenas começa<<strong>br</strong> />

e já começa com a aposta no tudo<<strong>br</strong> />

ou nada, da ordem ou caos, da sub-<<strong>br</strong> />

missão à sua vontade ou à subver-<<strong>br</strong> />

são da oposição. Como é uma lide-<<strong>br</strong> />

rança in<strong>org</strong>ânica e sem compromis-<<strong>br</strong> />

sos com as forças reais de seu pró-<<strong>br</strong> />

prio projeto que é claramente capita-<<strong>br</strong> />

lista, pode-se esperar por muitas<<strong>br</strong> />

outras medidas que igualmente virão<<strong>br</strong> />

no seu formato autoritário, de sur-<<strong>br</strong> />

presa e altamente desarticuladoras<<strong>br</strong> />

da sociedade onde vivemos. Esses<<strong>br</strong> />

planos, projetos, medidas serão to-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> lógicos, perfeitos em seu enca-<<strong>br</strong> />

deamento. E por serem assim nada<<strong>br</strong> />

impede que não sejam loucos, por-<<strong>br</strong> />

que como dizia Chesterton, o louco é<<strong>br</strong> />

aquele que perdeu tudo, tudo, menos<<strong>br</strong> />

a razão.<<strong>br</strong> />

Submissão<<strong>br</strong> />

e autoritarismo<<strong>br</strong> />

A questão será ainda mais grave<<strong>br</strong> />

se a sociedade abdicar de decidir e<<strong>br</strong> />

se transformar em espectadora, o<<strong>br</strong> />

Congresso se submeter e os parti-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> se dedicarem a arte da perplexi-<<strong>br</strong> />

dade, se a esquerda também se de-<<strong>br</strong> />

dicar à procura de coincidência de<<strong>br</strong> />

pontos de vista que a impedirá de<<strong>br</strong> />

distinguir entre democracia e dita-<<strong>br</strong> />

dura, porque a lógica que se instau-<<strong>br</strong> />

rou com o auxílio de economistas de<<strong>br</strong> />

to<strong>dos</strong> os matizes ideológicos tem<<strong>br</strong> />

um conteúdo básico, é autoritária e<<strong>br</strong> />

com ela jamais chegaremos à de-<<strong>br</strong> />

mocracia.<<strong>br</strong> />

Nesse momento é fundamental<<strong>br</strong> />

também distinguir democracia de<<strong>br</strong> />

maioria, lem<strong>br</strong>ar-se de que regimes<<strong>br</strong> />

autoritários contaram com amplo<<strong>br</strong> />

apoio de maiorias e que não é porque<<strong>br</strong> />

uma proposta tem aceitação de 90%<<strong>br</strong> />

da população que ela passa a ser<<strong>br</strong> />

justa e democrática. A democracia<<strong>br</strong> />

não se quantifica, se qualifica, por-<<strong>br</strong> />

que o fundamento da democracia<<strong>br</strong> />

não é o Ibope, mas a ética.<<strong>br</strong> />

Já reivindiquei o direito à diferen-<<strong>br</strong> />

ça, agora reivindico o direito a pensar<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e o nosso destino comum com a<<strong>br</strong> />

minha própria cabeça, decidir com a<<strong>br</strong> />

minha própria vontade, e trabalhar<<strong>br</strong> />

pelo nosso futuro como democracia<<strong>br</strong> />

num mundo de cidadãos livres que<<strong>br</strong> />

se movem por princípios e não pelo<<strong>br</strong> />

medo. Nesse mundo, o Estado de-<<strong>br</strong> />

verá estar subordinado à sociedade,<<strong>br</strong> />

o governo à cidadania, o Executivo<<strong>br</strong> />

ao Congresso, e a vontade do Prínci-<<strong>br</strong> />

pe subordinada pelo menos ao senso<<strong>br</strong> />

comum e à Constituição.<<strong>br</strong> />

Herbert de Souza (sociólogo e diretor<<strong>br</strong> />

executivo do IBASE)


Conjuntura follia <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong><<strong>br</strong> />

Assessorias Populares põem em<<strong>br</strong> />

questão o Pacote Collor<<strong>br</strong> />

Com o novo plano, projetos populares foram suspensos, entidades de assessoria paralisaram<<strong>br</strong> />

trabalhos e o Brasil fica aberto ao capital internacional<<strong>br</strong> />

0 Pacote Collor entrou em toda<<strong>br</strong> />

casa, afetou to<strong>dos</strong> os setores. Se foi<<strong>br</strong> />

para melhorar, ainda não se sabe.<<strong>br</strong> />

Mas, no caso do Movimento Popular<<strong>br</strong> />

e das assessorias são muitos os<<strong>br</strong> />

estragos.<<strong>br</strong> />

Os projetos sociais de diversas<<strong>br</strong> />

<strong>org</strong>anizações populares, como gru-<<strong>br</strong> />

pos de saúde, creches e escolas<<strong>br</strong> />

comunitárias, bem como atividades<<strong>br</strong> />

econômicas tipo padarias comunitá-<<strong>br</strong> />

rias, fá<strong>br</strong>icas de sorvetes para me-<<strong>br</strong> />

nores, etc, realizam seus trabalhos<<strong>br</strong> />

através de recursos da cooperação<<strong>br</strong> />

internacional ou do poder público<<strong>br</strong> />

(LBA, Secretaria do Estado, etc).<<strong>br</strong> />

Outras atividades do Movimento Po-<<strong>br</strong> />

pular referentes à educação política<<strong>br</strong> />

e social contam com o apoio técnico<<strong>br</strong> />

das entidades de assessoria, através<<strong>br</strong> />

de seus profissionais.<<strong>br</strong> />

0 efeito imediato do "Plano Brasil<<strong>br</strong> />

Novo" foi a medida provisória 168,<<strong>br</strong> />

que confisca os cruza<strong>dos</strong> novos<<strong>br</strong> />

desses grupos e instituições. Recur-<<strong>br</strong> />

sos destina<strong>dos</strong> à essas atividades,<<strong>br</strong> />

que não têm fins lucrativos e muito<<strong>br</strong> />

menos especulativos.<<strong>br</strong> />

Para corrigir este descuido, o go-<<strong>br</strong> />

verno liberou, em 29 de março, os<<strong>br</strong> />

recursos das entidades sem fins lu-<<strong>br</strong> />

crativos com personalidade jurídica e<<strong>br</strong> />

inscritas no Conselho Nacional de<<strong>br</strong> />

Serviço Social-CNSS. Conseguir<<strong>br</strong> />

este registro significa ter sua apro-<<strong>br</strong> />

vação pelas câmaras municipais,<<strong>br</strong> />

estaduais e federal. Nessa jornada,<<strong>br</strong> />

é necessário contar com um padri-<<strong>br</strong> />

nho parlamentar que facilite o aval<<strong>br</strong> />

em cada nível do legislativo.<<strong>br</strong> />

É claro que a maioria das entida-<<strong>br</strong> />

des de assessoria e quase a totali-<<strong>br</strong> />

dade das <strong>org</strong>anizações populares<<strong>br</strong> />

não conseguiram sua inscrição no<<strong>br</strong> />

CNSS. De mais de mil instituições<<strong>br</strong> />

dessa natureza, apenas cerca de 70<<strong>br</strong> />

NO COLLOfí<<strong>br</strong> />

m m roRNmm<<strong>br</strong> />

oftA**<<strong>br</strong> />

A Casa de Passagem, que trabalha na reintegração de meninas de rua, está ameaçada de fechar, por causa do confisco de seus três milhões<<strong>br</strong> />

de cruzeiros pelo governo Collor. Em 7 de maio, meninas da Casa protestam para reaver o dinheiro da entidade.<<strong>br</strong> />

estão inscritas nesse órgão. Dessas,<<strong>br</strong> />

a maioria são entidades "filantrópi-<<strong>br</strong> />

cas" criadas por vereadores, depu-<<strong>br</strong> />

ta<strong>dos</strong> e senadores. Por trás dessas<<strong>br</strong> />

entidades escondem-se, na realida-<<strong>br</strong> />

de, verdadeiros comitês eleitorais.<<strong>br</strong> />

ASSESSORIAS ATENTAS<<strong>br</strong> />

As Organizações Não Governa-<<strong>br</strong> />

mentais-ONGs, como são identifica-<<strong>br</strong> />

das as entidades de assessoria, es-<<strong>br</strong> />

tão preocupadas não apenas com o<<strong>br</strong> />

confisco, mas so<strong>br</strong>etudo com "os<<strong>br</strong> />

efeitos mais ou menos perversos<<strong>br</strong> />

para os setores populares" com os<<strong>br</strong> />

quais trabalham. "Não há dúvidas,<<strong>br</strong> />

tampouco, de que o Plano Brasil<<strong>br</strong> />

Novo, com seu impacto recessivo<<strong>br</strong> />

ou até mesmo depressivo, afetará<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>utalmente as condições de vida<<strong>br</strong> />

das camadas populares, com o de-<<strong>br</strong> />

semprego e um forte impacto de-<<strong>br</strong> />

sestruturador so<strong>br</strong>e as pequenas e<<strong>br</strong> />

médias empresas e o setor informal<<strong>br</strong> />

da economia", declaram em docu-<<strong>br</strong> />

mento de 29 de março de 1990.<<strong>br</strong> />

0 fato é que muitas ONGs ou<<strong>br</strong> />

Projetos Populares foram paralisa-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> ou tiveram suas atividades redu-<<strong>br</strong> />

zidas após a decretação do Pacote.<<strong>br</strong> />

A Etapas exemplifica bem este qua-<<strong>br</strong> />

dro. Ela foi impossibilitada de lançar<<strong>br</strong> />

a edição de a<strong>br</strong>il/90 do Folha <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

<strong>Bairros</strong>, reduziu a equipe de redação<<strong>br</strong> />

pela metade e fechou o setor de as-<<strong>br</strong> />

sessoria em Rádio Popular. Na<<strong>br</strong> />

mesma situação encontram-se di-<<strong>br</strong> />

versas instituições que assessoram<<strong>br</strong> />

o Movimento Popular, tendo que re-<<strong>br</strong> />

duzir salários, demitir técnicos e en-<<strong>br</strong> />

cerrar projetos de educação e pes-<<strong>br</strong> />

quisa popular.<<strong>br</strong> />

CORAÇÃO DO PROBLEMA<<strong>br</strong> />

- Preocupa-nos sem som<strong>br</strong>a de<<strong>br</strong> />

dúvida os componentes autoritários<<strong>br</strong> />

da política do novo governo. Revela<<strong>br</strong> />

o documento das ONGs. Afinal, o<<strong>br</strong> />

novo governo feriu a Constituição,<<strong>br</strong> />

deu um tratamento policialesco a<<strong>br</strong> />

situações da economia e exerceu<<strong>br</strong> />

grande pressão so<strong>br</strong>e o Congresso<<strong>br</strong> />

Nacional.<<strong>br</strong> />

No coração do Pacote, se é que<<strong>br</strong> />

este pacote tem coração, há sinais<<strong>br</strong> />

claros das suas ligações com inte-<<strong>br</strong> />

resses do capital internacional. Col-<<strong>br</strong> />

lor deseja e afirma que o Brasil tem<<strong>br</strong> />

que se colocar entre os países do<<strong>br</strong> />

Primeiro Mundo, nem que seja o úl-<<strong>br</strong> />

timo. E daí, qual é a parte do Brasil<<strong>br</strong> />

que irá gozar da modernidade do<<strong>br</strong> />

Primeiro Mundo? Pois, já está claro<<strong>br</strong> />

há muito tempo que no Brasil convi-<<strong>br</strong> />

vem a abundância de alguns com a<<strong>br</strong> />

miséria da maioria. É uma mistura de<<strong>br</strong> />

Bélgica com índia, que gerou a de-<<strong>br</strong> />

nominação Belíndia.<<strong>br</strong> />

Portanto, é sempre pertinente o<<strong>br</strong> />

ditado popular "quando a esmola é<<strong>br</strong> />

grande o cego desconfia". Cabe a<<strong>br</strong> />

atenção para cada passo do gover-<<strong>br</strong> />

no, principalmente quando se referir<<strong>br</strong> />

às transações com o capital interna-<<strong>br</strong> />

cional. Não é por acaso que Collor<<strong>br</strong> />

tem o apoio <strong>dos</strong> grandes empresá-<<strong>br</strong> />

rios nacionais e internacionais, do<<strong>br</strong> />

FMI e da Casa Branca.<<strong>br</strong> />

10 A<strong>br</strong>il/Maio


íõlha <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong> Lei Orgânica<<strong>br</strong> />

Participação deve sair do papel<<strong>br</strong> />

Tem muito pano para as mangas na Lei Orgânica, lei maior do município. É preciso que as <strong>org</strong>anizações<<strong>br</strong> />

populares não caiam na lei do menor esforço, senão a vaca vai para o <strong>br</strong>ejo.<<strong>br</strong> />

São quase 200 princípios gerais<<strong>br</strong> />

que não podem ficar apenas como<<strong>br</strong> />

uma carta de boas intenções, princi-<<strong>br</strong> />

palmente no campo da participação<<strong>br</strong> />

popular. Os avanços não foram "da-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> de mão beijada", sendo resulta-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> da pressão iniciada no processo<<strong>br</strong> />

constituinte nacional.<<strong>br</strong> />

Cabe agora ao movimento popular<<strong>br</strong> />

analisar o texto final e participar de<<strong>br</strong> />

forma conseqüente da elaboração<<strong>br</strong> />

das mais de 60 leis necessárias para<<strong>br</strong> />

regulamentar a Lei Orgânica do Re-<<strong>br</strong> />

cife. Nesse processo, os avanços<<strong>br</strong> />

precisam ser garanti<strong>dos</strong>. É bom que<<strong>br</strong> />

se avalie a ausência ou fraca atua-<<strong>br</strong> />

ção de alguns setores do movimento<<strong>br</strong> />

e a intervenção corporativista de ou-<<strong>br</strong> />

tros. Houve quem só se preocupas-<<strong>br</strong> />

se com sua área, esquecendo-se de<<strong>br</strong> />

lutar pelas reinvindacações mais<<strong>br</strong> />

amplas, de interesse geral das ca-<<strong>br</strong> />

madas populares.<<strong>br</strong> />

As <strong>org</strong>anizações populares devem<<strong>br</strong> />

participar de forma mais direta junto<<strong>br</strong> />

aos vereadores, ao prefeito e demais<<strong>br</strong> />

autoridades municipais. Têrri nas<<strong>br</strong> />

mãos a faca e o queijo para acabar<<strong>br</strong> />

com essa de votar e ficar esperan-<<strong>br</strong> />

do, de forma passiva, que os eleitos<<strong>br</strong> />

façam alguma coisa em favor da<<strong>br</strong> />

maioria da população.<<strong>br</strong> />

PARTICIPAÇÃO TROCADA<<strong>br</strong> />

EM MIÚDOS<<strong>br</strong> />

0 movimento popular poder ter<<strong>br</strong> />

uma participação graúda junto à ad-<<strong>br</strong> />

ministração pública municipal (pre-<<strong>br</strong> />

feitura e câmara de vereadores),<<strong>br</strong> />

através das seguintes ferramentas:<<strong>br</strong> />

iniciativa popular no processo legis-<<strong>br</strong> />

lativo, tribuna popular, conselhos e<<strong>br</strong> />

câmaras setoriais institucionais, au-<<strong>br</strong> />

diências públicas nas comissões<<strong>br</strong> />

técnicas permanentes, plebiscito<<strong>br</strong> />

e referendo. Mas isso tudo não é um<<strong>br</strong> />

bicho de sete cabeças? Nem tanto.<<strong>br</strong> />

Iniciativa popular no processo<<strong>br</strong> />

legislativo. Antes, só os vereado-<<strong>br</strong> />

res e o prefeito podiam mandar pro-<<strong>br</strong> />

jetos de lei para serem aprecia<strong>dos</strong> e<<strong>br</strong> />

vota<strong>dos</strong> pela Câmara Municipal.<<strong>br</strong> />

Agora, qualquer <strong>org</strong>anização popular<<strong>br</strong> />

também pode elaborar e apresentar<<strong>br</strong> />

projetos de lei de seu interesse, in-<<strong>br</strong> />

clusive emendas à Lei Orgânica.<<strong>br</strong> />

Para isso, é necessário que cada<<strong>br</strong> />

proposta seja assinada por, no míni-<<strong>br</strong> />

mo, 5% <strong>dos</strong> eleitores do Recife, de-<<strong>br</strong> />

vendo ser defendida por um <strong>dos</strong> as-<<strong>br</strong> />

sinantes na Tribuna Popular.<<strong>br</strong> />

A Tribuna Popular é um meca-<<strong>br</strong> />

nismo a ser utilizado no plenário nos<<strong>br</strong> />

termos do regimento interno. Dessa<<strong>br</strong> />

forma, torna-se indispensável uma<<strong>br</strong> />

A participação popular deve se dar nas ruas e nos bairros, como neste caso da Colina<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio<<strong>br</strong> />

É preciso avançar marcando presença, também, na Câmara de Vereadores<<strong>br</strong> />

marcação cerrada <strong>dos</strong> representan-<<strong>br</strong> />

tes do movimento popular junto aos<<strong>br</strong> />

vereadores quando da elaboração do<<strong>br</strong> />

regimento para que o espaço da Tri-<<strong>br</strong> />

buna Popular seja o mais amplo<<strong>br</strong> />

possível.<<strong>br</strong> />

CONSELHO NÃO SE DÁ, SE<<strong>br</strong> />

CONQUISTA<<strong>br</strong> />

Os conselhos e câmaras se-<<strong>br</strong> />

toriais são instrumentos de partici-<<strong>br</strong> />

pação popular junto ao Executivo<<strong>br</strong> />

Municipal, com caráter deliberativo<<strong>br</strong> />

(poder de decisão) e composição pa-<<strong>br</strong> />

ritária (número de representantes da<<strong>br</strong> />

sociedade civil igual ao do poder pú-<<strong>br</strong> />

blico).<<strong>br</strong> />

A Lei Orgânica do Recife determi-<<strong>br</strong> />

na o funcionamento de conselhos<<strong>br</strong> />

nas áreas <strong>dos</strong> direitos humanos,<<strong>br</strong> />

defesa do consumidor, comunicação<<strong>br</strong> />

social (estes três primeiros consi-<<strong>br</strong> />

dera<strong>dos</strong> ferramentas de conscienti-<<strong>br</strong> />

zação e defesa da cidadania) e nas<<strong>br</strong> />

áreas de educação, cultura, saúde e<<strong>br</strong> />

meio ambiente.<<strong>br</strong> />

A maioria <strong>dos</strong> vereadores não<<strong>br</strong> />

aprovou o Conselho Municipal de<<strong>br</strong> />

Transportes. Isso é avaliado como<<strong>br</strong> />

uma grande perda para os recifenses<<strong>br</strong> />

que continuarão no corre-corre para<<strong>br</strong> />

pegar latas de sardinhas, adminis-<<strong>br</strong> />

tradas pela EMTU.<<strong>br</strong> />

As audiências públicas também<<strong>br</strong> />

são importantes instrumentos de<<strong>br</strong> />

participação popular, devendo ser<<strong>br</strong> />

solicitadas por entidades represen-<<strong>br</strong> />

tantivas, na forma do regimento in-<<strong>br</strong> />

terno. Este é mais um princípio a ser<<strong>br</strong> />

regulamentado, o que reforça a ne-<<strong>br</strong> />

cessidade de se ficar de olho no dia<<strong>br</strong> />

a dia da Câmara Municipal.<<strong>br</strong> />

Por essas comissões de verea-<<strong>br</strong> />

dores, divididas por áreas (Legisla-<<strong>br</strong> />

ção e Justiça, Educação, etc.) pas-<<strong>br</strong> />

sam inicialmente os projetos apre-<<strong>br</strong> />

senta<strong>dos</strong> que vão receber pareceres<<strong>br</strong> />

pela aprovação ou pela não aprova-<<strong>br</strong> />

ção. Em seguida, as propostas, de-<<strong>br</strong> />

pois de esperar a entrada na ordem<<strong>br</strong> />

do dia, são submetidas ao plenário,<<strong>br</strong> />

onde se realizam as sessões com<<strong>br</strong> />

"to<strong>dos</strong>" os vereadores, isto é, quan-<<strong>br</strong> />

do comparecem. Ora, se um projeto<<strong>br</strong> />

vem de uma comissão técnica com<<strong>br</strong> />

uma "recomendação" de não apro-<<strong>br</strong> />

vação, praticamente já pode ser<<strong>br</strong> />

considerado derrotado. É funda-<<strong>br</strong> />

mental a pressão popular em to<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

os momentos, desde as audiências<<strong>br</strong> />

até no plenário (na tribuna e nas ga-<<strong>br</strong> />

lerias).<<strong>br</strong> />

Por outro lado, a nova Lei Orgâni-<<strong>br</strong> />

ca assegura às entidades da socie-<<strong>br</strong> />

dade civil audiências públicas com o<<strong>br</strong> />

prefeito ou qualquer outra autoridade<<strong>br</strong> />

do município. Nessas ocasiões de-<<strong>br</strong> />

verão ser da<strong>dos</strong> os devi<strong>dos</strong> esclare-<<strong>br</strong> />

cimentos a respeito de atos ou pro-<<strong>br</strong> />

jetos da administração municipal.<<strong>br</strong> />

Através do plebiscito e refe-<<strong>br</strong> />

rendo, os cidadãos têm o direito de<<strong>br</strong> />

decidir so<strong>br</strong>e questões de interesse<<strong>br</strong> />

do município, inclusive leis e projetos<<strong>br</strong> />

de lei. Ambos podem ser solicita<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

por 5% <strong>dos</strong> eleitores do município.<<strong>br</strong> />

Agora, é só arregaçar as mangas e<<strong>br</strong> />

garantir estes avanços.<<strong>br</strong> />

11


Ameriea Latina <strong>folha</strong> <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong><<strong>br</strong> />

Panamá continua invadido pelos EUA<<strong>br</strong> />

Neste país a ocupação militar norte-americana começou no fim de 1989. Não dá para esquecer a República Dominicana<<strong>br</strong> />

em 1965, o Chile em 1973, as Ilhas Malvinas em 1984... A síndrome do Vietnã acabou?<<strong>br</strong> />

Grupo de Solidariedade do Recife<<strong>br</strong> />

aos Povos da América Central<<strong>br</strong> />

Na verdade, os objetivos da invasão do<<strong>br</strong> />

Panamá foram destruir as Fortalezas Ar-<<strong>br</strong> />

madas panamenhas e eliminar um governo<<strong>br</strong> />

com reivindicações nacionalistas. Isto ga-<<strong>br</strong> />

rante a permanência das tropas norte-ame-<<strong>br</strong> />

ricanas no Canal do Panamá, sem sequer<<strong>br</strong> />

modificar os trata<strong>dos</strong> Torrijos-Carter, assi-<<strong>br</strong> />

na<strong>dos</strong> em 1977, onde estabelecem a saída<<strong>br</strong> />

do território panamenho do último soldado<<strong>br</strong> />

americano no último dia de 1999, e que a<<strong>br</strong> />

proteção do Canal ficará em mãos das For-<<strong>br</strong> />

ças Armadas do Panamá. Sem essas for-<<strong>br</strong> />

ças, os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> podem, ainda sem<<strong>br</strong> />

mexer nos trata<strong>dos</strong>, permanecer no Canal<<strong>br</strong> />

para "protegê-lo" e garantir seu funciona-<<strong>br</strong> />

mento.<<strong>br</strong> />

De forma <strong>br</strong>utal, foram destruí<strong>dos</strong> bair-<<strong>br</strong> />

ros populares e instalações militares do<<strong>br</strong> />

País, nas principais cidades (Panamá e<<strong>br</strong> />

Colón) e em vários pontos do interior. Ar-<<strong>br</strong> />

mamentos militar sofisticado, táticas e<<strong>br</strong> />

mano<strong>br</strong>as (com 40 mil solda<strong>dos</strong>) ocasio-<<strong>br</strong> />

naram a morte de aproximadamente cinco<<strong>br</strong> />

mil panamenhos, sendo a maioria civis que<<strong>br</strong> />

dormiam às 00:45h, quando iniciou-se os<<strong>br</strong> />

bombardeios no bairro popular Chorrillo,<<strong>br</strong> />

hoje, desaparecido. Bairro onde ficava o<<strong>br</strong> />

Quartel Geral das Forças Armadas do Pa-<<strong>br</strong> />

namá.<<strong>br</strong> />

Após a chacina vieram as detenções de<<strong>br</strong> />

todo aquele que pudesse ser potencial qua-<<strong>br</strong> />

dro de resistência à invasão. Quatro mil pa-<<strong>br</strong> />

namenhos foram converti<strong>dos</strong> em presos<<strong>br</strong> />

políticos, desarticulando a Dirigência Na-<<strong>br</strong> />

cionalista e debilitando focos de resistência<<strong>br</strong> />

patriótica. Porém, a luta continua, saindo<<strong>br</strong> />

12<<strong>br</strong> />

do enfrentamento direto para a re<strong>org</strong>aniza-<<strong>br</strong> />

ção de forças que se ajustem às novas car-<<strong>br</strong> />

eterísticas da invasão (ocupação militar).<<strong>br</strong> />

Hoje, as tropas ocupam mas, colégios, pra-<<strong>br</strong> />

ças, hospitais, instituições públicas, inclu-<<strong>br</strong> />

sive a Presidência da República.<<strong>br</strong> />

Enquanto o povo-defendia-se das bom-<<strong>br</strong> />

bas e lutava pela soberania, Guillermo En-<<strong>br</strong> />

dara se autoproclamava "Presidente",<<strong>br</strong> />

História do canal do Panamá<<strong>br</strong> />

O Panamá, com um território menor que o do Estado de Per-<<strong>br</strong> />

nambuco e com uma população de 2 milhões de habitantes (um pouco<<strong>br</strong> />

maior que a do Recife), tornou-se historicamente importante, devido a<<strong>br</strong> />

sua posição yeográfica.<<strong>br</strong> />

Em 1903, reconheceu-se República Independente, devido, princi-<<strong>br</strong> />

palmente, à pressão intervencionista <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, preocupa<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

econômico-militarmente com a construção de um canal pelo Istmo Cen-<<strong>br</strong> />

tro-americano, que servisse aos seus interesses estratégicos.<<strong>br</strong> />

Assim, no mesmo ano da "independência", foi-lhes imposto à jo-<<strong>br</strong> />

vem República do Panamá o tratado de Canal Bunneau Varilla-Hay, que<<strong>br</strong> />

out<strong>org</strong>ava a perpetuidade do controle de uma faixa de terras paname-<<strong>br</strong> />

nhas, onde operaria o canal e sua "segurança", através de bases militares<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.<<strong>br</strong> />

Estabelece-se, ao mesmo tempo, a luta panamenha pela modifi-<<strong>br</strong> />

cação <strong>dos</strong> termos humilhantes daquele tratado. A luta de gerações do<<strong>br</strong> />

povo panamenho logrou seu mais significativo avanço com a negociação<<strong>br</strong> />

e assinatura do tratado Torrijos-Carter, em 1977, que progressivamente<<strong>br</strong> />

o<strong>br</strong>iga à retirada de todo o aparelho militar norte-americano, o desman-<<strong>br</strong> />

telamento das bases militares e a retomada do controle administrativo do<<strong>br</strong> />

Canal às mãos panamenhas, até chegar à devolução total no último dia<<strong>br</strong> />

de 1999.<<strong>br</strong> />

dentro de uma base militar <strong>dos</strong> E.U.A.<<strong>br</strong> />

(Fort Clayton). Assim, eles dizem reesta-<<strong>br</strong> />

belecer a "democracia", um <strong>dos</strong> objetivos<<strong>br</strong> />

declarado pelo presidente Bush, para tentar<<strong>br</strong> />

justificar a sangrenta ação militar.<<strong>br</strong> />

0 resultado é evidente. Hoje, o Panamá<<strong>br</strong> />

não tem nem democracia, nem soberania.<<strong>br</strong> />

0 País está nas mãos de tropas estrangei-<<strong>br</strong> />

ras e de um governo dócil e obediente aos<<strong>br</strong> />

desígnios de Washigton. Cumpra-se assim,<<strong>br</strong> />

o que a nova direita receitou no documento<<strong>br</strong> />

de Santa Fé II: liquidar a liderança militar<<strong>br</strong> />

de Noriega, transformar o caráter naciona-<<strong>br</strong> />

lista das Forças Armadas panamenhas, im-<<strong>br</strong> />

por um governo capaz de "entender" e<<strong>br</strong> />

"colaborar" com os interesses <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

Uni<strong>dos</strong>. E Guillermo Endare garante isto.<<strong>br</strong> />

Há mudanças na Constituição para apagar<<strong>br</strong> />

vestígios nacionalistas e alterar o sistema<<strong>br</strong> />

judiciário.<<strong>br</strong> />

A tragédia de 20 de dezem<strong>br</strong>o no Pa-<<strong>br</strong> />

namá afeta diretamente to<strong>dos</strong> os países la-<<strong>br</strong> />

tino-americanos. Afinal, as bases norte-<<strong>br</strong> />

americanas já tiveram marcante participa-<<strong>br</strong> />

ção na dolorosa história <strong>dos</strong> nossos países.<<strong>br</strong> />

Quem poderia esquecer a República Domi-<<strong>br</strong> />

nicana em 1965, o Chile em 1973, as Ilhas<<strong>br</strong> />

Malvinas na Argentina em 1984, etc. Não<<strong>br</strong> />

podemos esquecer que estas bases milita-<<strong>br</strong> />

res têm objetivos de controle e intervenção<<strong>br</strong> />

direta na região.<<strong>br</strong> />

Mas a agressão à América Latina tam-<<strong>br</strong> />

bém vai ao campo político, pois a invasão<<strong>br</strong> />

ao Panamá, ordenada pelo Ge<strong>org</strong>e Bush,<<strong>br</strong> />

desconhece a decisão <strong>dos</strong> governos da re-<<strong>br</strong> />

gião so<strong>br</strong>e o respeito à soberania paname-<<strong>br</strong> />

nha, posição aprovada em consenso no<<strong>br</strong> />

Fórum da OEA pela não-intervenção.<<strong>br</strong> />

Contudo, depois do Panamá, é fácil<<strong>br</strong> />

acreditar que se preparem novas agressões.<<strong>br</strong> />

Não foi por acaso que as tropas invasoras<<strong>br</strong> />

cercaram militartnente e hostilizaram as<<strong>br</strong> />

sedes diplomáticas da Nicarágua e de Cuba<<strong>br</strong> />

no Panamá. Ocuparam e revistaram a resi-<<strong>br</strong> />

dência do embaixador da Nicarágua e pren-<<strong>br</strong> />

deram momentaneamente o embaixador de<<strong>br</strong> />

Cuba. Fatos políticos e diplomáticos ex-<<strong>br</strong> />

tremamente graves.<<strong>br</strong> />

Amanhã, estes 40 mil solda<strong>dos</strong> poderão<<strong>br</strong> />

ocupar outra região. Este pode ser o início<<strong>br</strong> />

da regionalização da guerra, atingindo cada<<strong>br</strong> />

vez mais toda a América Latina.<<strong>br</strong> />

Para os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, é vergonhoso<<strong>br</strong> />

aceitar que seu projeto "democratizar" no<<strong>br</strong> />

Panamá não consiga sustentar-se sem as<<strong>br</strong> />

balas e os canhões.<<strong>br</strong> />

Para o Panamá, é seguro o ressurgir,<<strong>br</strong> />

mais unido e combativo, de uma liderança<<strong>br</strong> />

que retomará o caminho nacionalista e de-<<strong>br</strong> />

mocrático daqueles que se sacrificaram nas<<strong>br</strong> />

ruas do Chorrillo e San Miguelito, e <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

que com outra sorte, exila<strong>dos</strong> ou presos,<<strong>br</strong> />

acreditam nessa longa, dolorosa, mas con-<<strong>br</strong> />

seqüente luta pela recuperação da soberania<<strong>br</strong> />

panamenha."<<strong>br</strong> />

Para a América Latina, duas perguntas<<strong>br</strong> />

de transcendência se colocam: Se os re-<<strong>br</strong> />

sulta<strong>dos</strong> e avaliações desta invasão, para<<strong>br</strong> />

os norte-americanos, significam o fim ou<<strong>br</strong> />

não da síndrome de Vietnã? Se a resposta é<<strong>br</strong> />

afirmativa, quem será a próxima vítima?<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!