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Folha <strong>dos</strong> <strong>Bairros</strong> Conjuntura<<strong>br</strong> />

O plano pode ser<<strong>br</strong> />

lógico e ruim<<strong>br</strong> />

Também perfeito, mas não na prática. E até louco!<<strong>br</strong> />

Afirmar que vai construir um novo<<strong>br</strong> />

capitalismo no Brasil e paralisar às<<strong>br</strong> />

atividades do capitalismo real pode<<strong>br</strong> />

ser um excelente exercício acadêmi-<<strong>br</strong> />

co, se praticado num programa de<<strong>br</strong> />

computador, mas pode resultar<<strong>br</strong> />

muito mais facilmente num imenso<<strong>br</strong> />

Na realidade não é tudo ou nada.<<strong>br</strong> />

Não é vencer ou vencer. Não é o<<strong>br</strong> />

plano ou o caos, pode até ser o pla-<<strong>br</strong> />

no e o caos. Assim como esse plano<<strong>br</strong> />

foi elaborado poderiam ter sido ela-<<strong>br</strong> />

bora<strong>dos</strong> muitos outros planos e<<strong>br</strong> />

muito diferentes desse. Esse plano<<strong>br</strong> />

pode ser lógico e ruim. Poder ser<<strong>br</strong> />

perfeito e irrealizável, porque a eco-<<strong>br</strong> />

nomia não pertence ao Olimpo da ra-<<strong>br</strong> />

zão pura ou da vontade indomável do<<strong>br</strong> />

Príncipe, mas ao mundo pedestre <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />

seres humanos reais, com seus in-<<strong>br</strong> />

teresses, vontades, liberdades, cria-<<strong>br</strong> />

tividade e capacidade de reagir.<<strong>br</strong> />

Tentar impor o plano de surpresa,<<strong>br</strong> />

por inteiro e à força ao conjunto da<<strong>br</strong> />

sociedade é uma decorrência da ló-<<strong>br</strong> />

gica autoritária, economicista e vo-<<strong>br</strong> />

luntarista que inspirou o plano e que<<strong>br</strong> />

encontrou eco em to<strong>dos</strong> aqueles que<<strong>br</strong> />

vivem ou vêem a economia e a so-<<strong>br</strong> />

ciedade sob esse prisma.<<strong>br</strong> />

Mas ninguém conseguiu<<strong>br</strong> />

provar que só através de<<strong>br</strong> />

processos autoritários se<<strong>br</strong> />

combate a inflação.<<strong>br</strong> />

É fundamental repetir uma vez<<strong>br</strong> />

mais que o fim não justifica os meios<<strong>br</strong> />

em nenhuma região da realidade ou<<strong>br</strong> />

especialidade, incluindo muito espe-<<strong>br</strong> />

cialmente a economia e os econo-<<strong>br</strong> />

mistas. Por processos autoritários e<<strong>br</strong> />

voluntaristas não se constrói uma<<strong>br</strong> />

sociedade democrática. Poderiam<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>il/Maio<<strong>br</strong> />

O plano e o caos<<strong>br</strong> />

desastre que acabará com a hiper<<strong>br</strong> />

inflação e com o próprio país. Nesse<<strong>br</strong> />

sentido eu prefiro o capitalismo, com<<strong>br</strong> />

o qual não concordo, ao caos que<<strong>br</strong> />

tornará impossível por muito tempo<<strong>br</strong> />

construir a nova sociedade com que<<strong>br</strong> />

to<strong>dos</strong> sonhamos.<<strong>br</strong> />

Os "descamisado?' precisam tirar essa corda do pescoço<<strong>br</strong> />

nos dizer que uma hiperinflação<<strong>br</strong> />

também não nos leva a essa socie-<<strong>br</strong> />

dade. Muito bem, mas ninguém con-<<strong>br</strong> />

seguiu provar ainda que só através<<strong>br</strong> />

de processos autoritários se com-<<strong>br</strong> />

bate a inflação. Nas sociedades ca-<<strong>br</strong> />

pitalistas liberal democráticas a in-<<strong>br</strong> />

flação não é um caso de polícia. Não<<strong>br</strong> />

é porque se prende gerente de ban-<<strong>br</strong> />

co, dono de supermercado ou qual-<<strong>br</strong> />

quer tipo de capitalista que devemos<<strong>br</strong> />

nos alegrar e abdicar do estado de<<strong>br</strong> />

direito e do respeito aos direitos civis<<strong>br</strong> />

conquista<strong>dos</strong> na nova Constituição.<<strong>br</strong> />

Essa Constituição não decidiu que<<strong>br</strong> />

economia é caso de poiícia e que<<strong>br</strong> />

funcionário público é interno de colé-<<strong>br</strong> />

gio submetido a regime de delação e<<strong>br</strong> />

policiamento ideológico, como pro-<<strong>br</strong> />

põe a Medida Provisória n 9 159.<<strong>br</strong> />

Não interessa que a esquerda te-<<strong>br</strong> />

nha lutado por uma série de pontos<<strong>br</strong> />

que estão contempla<strong>dos</strong> no pacote<<strong>br</strong> />

do governo, se esses pontos estão<<strong>br</strong> />

sendo propostos através de méto-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> autoritários que ignoram a insti-<<strong>br</strong> />

tucionalidade recém aprovada com o<<strong>br</strong> />

apoio dessa mesma esquerda. Lula<<strong>br</strong> />

não aplicaria esse plano, não porque<<strong>br</strong> />

lhe falta coragem ou audácia, mas<<strong>br</strong> />

porque respeitaria a decisão da<<strong>br</strong> />

maioria que demarcou uma etapa de<<strong>br</strong> />

nossa história que é capitalista e que<<strong>br</strong> />

só deverá deixar de ser capitalista<<strong>br</strong> />

por decisão da maioria e não de um<<strong>br</strong> />

golpe por mais revolucionário e bem<<strong>br</strong> />

intencionado que fosse. Longe de<<strong>br</strong> />

mim dizer que Collor quer construir<<strong>br</strong> />

um Brasil socialista, tenho sérios<<strong>br</strong> />

temores é que ele queira construir<<strong>br</strong> />

um capitalismo pelo caminho do<<strong>br</strong> />

caos que resultará dessa espécie de<<strong>br</strong> />

Cambodja neoliberal imposta por<<strong>br</strong> />

PHds de laboratório.<<strong>br</strong> />

Lula não aplicaria esse<<strong>br</strong> />

plano, não porque lhe falta<<strong>br</strong> />

coragem ou audácia, mas<<strong>br</strong> />

porque respeitaria a decisão<<strong>br</strong> />

da maioria.<<strong>br</strong> />

0 governo Collor apenas começa<<strong>br</strong> />

e já começa com a aposta no tudo<<strong>br</strong> />

ou nada, da ordem ou caos, da sub-<<strong>br</strong> />

missão à sua vontade ou à subver-<<strong>br</strong> />

são da oposição. Como é uma lide-<<strong>br</strong> />

rança in<strong>org</strong>ânica e sem compromis-<<strong>br</strong> />

sos com as forças reais de seu pró-<<strong>br</strong> />

prio projeto que é claramente capita-<<strong>br</strong> />

lista, pode-se esperar por muitas<<strong>br</strong> />

outras medidas que igualmente virão<<strong>br</strong> />

no seu formato autoritário, de sur-<<strong>br</strong> />

presa e altamente desarticuladoras<<strong>br</strong> />

da sociedade onde vivemos. Esses<<strong>br</strong> />

planos, projetos, medidas serão to-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> lógicos, perfeitos em seu enca-<<strong>br</strong> />

deamento. E por serem assim nada<<strong>br</strong> />

impede que não sejam loucos, por-<<strong>br</strong> />

que como dizia Chesterton, o louco é<<strong>br</strong> />

aquele que perdeu tudo, tudo, menos<<strong>br</strong> />

a razão.<<strong>br</strong> />

Submissão<<strong>br</strong> />

e autoritarismo<<strong>br</strong> />

A questão será ainda mais grave<<strong>br</strong> />

se a sociedade abdicar de decidir e<<strong>br</strong> />

se transformar em espectadora, o<<strong>br</strong> />

Congresso se submeter e os parti-<<strong>br</strong> />

<strong>dos</strong> se dedicarem a arte da perplexi-<<strong>br</strong> />

dade, se a esquerda também se de-<<strong>br</strong> />

dicar à procura de coincidência de<<strong>br</strong> />

pontos de vista que a impedirá de<<strong>br</strong> />

distinguir entre democracia e dita-<<strong>br</strong> />

dura, porque a lógica que se instau-<<strong>br</strong> />

rou com o auxílio de economistas de<<strong>br</strong> />

to<strong>dos</strong> os matizes ideológicos tem<<strong>br</strong> />

um conteúdo básico, é autoritária e<<strong>br</strong> />

com ela jamais chegaremos à de-<<strong>br</strong> />

mocracia.<<strong>br</strong> />

Nesse momento é fundamental<<strong>br</strong> />

também distinguir democracia de<<strong>br</strong> />

maioria, lem<strong>br</strong>ar-se de que regimes<<strong>br</strong> />

autoritários contaram com amplo<<strong>br</strong> />

apoio de maiorias e que não é porque<<strong>br</strong> />

uma proposta tem aceitação de 90%<<strong>br</strong> />

da população que ela passa a ser<<strong>br</strong> />

justa e democrática. A democracia<<strong>br</strong> />

não se quantifica, se qualifica, por-<<strong>br</strong> />

que o fundamento da democracia<<strong>br</strong> />

não é o Ibope, mas a ética.<<strong>br</strong> />

Já reivindiquei o direito à diferen-<<strong>br</strong> />

ça, agora reivindico o direito a pensar<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e o nosso destino comum com a<<strong>br</strong> />

minha própria cabeça, decidir com a<<strong>br</strong> />

minha própria vontade, e trabalhar<<strong>br</strong> />

pelo nosso futuro como democracia<<strong>br</strong> />

num mundo de cidadãos livres que<<strong>br</strong> />

se movem por princípios e não pelo<<strong>br</strong> />

medo. Nesse mundo, o Estado de-<<strong>br</strong> />

verá estar subordinado à sociedade,<<strong>br</strong> />

o governo à cidadania, o Executivo<<strong>br</strong> />

ao Congresso, e a vontade do Prínci-<<strong>br</strong> />

pe subordinada pelo menos ao senso<<strong>br</strong> />

comum e à Constituição.<<strong>br</strong> />

Herbert de Souza (sociólogo e diretor<<strong>br</strong> />

executivo do IBASE)

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