PROGRAMA do FESTIVAL 2006 em formato PDF - Companhia de ...
PROGRAMA do FESTIVAL 2006 em formato PDF - Companhia de ...
PROGRAMA do FESTIVAL 2006 em formato PDF - Companhia de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
08<br />
DON, MÉCÈNES ET ADORATEURS (DOM, MECENAS E ADORADORES)<br />
DE ALEXANDRE OSTROVSKI | TEATRO<br />
THÉÂTRE DE GENNEVILLIERS – CENTRE DRAMATIQUE NATIONAL<br />
ENCENAÇÃO DE BERNARD SOBEL, COM A COLABORAÇÃO<br />
DE MICHÈLE RAOUL-DAVIS<br />
FRANÇA<br />
Dom, Mecenas e A<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>res é uma das<br />
últimas peças <strong>de</strong> Ostrovski (data <strong>de</strong> 1882) e a<br />
sua acção situa-se no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> teatro: a sua<br />
heroína, Néguina, é uma actriz. Em seu torno<br />
gravitam: a outra jov<strong>em</strong> ve<strong>de</strong>ta <strong>do</strong> grupo, boa<br />
camarada mas s<strong>em</strong> as exigências intelectuais,<br />
morais e artísticas <strong>de</strong> Néguina; o dramaturgo,<br />
forçosamente alcoólico e indigente; o director <strong>do</strong><br />
teatro, verda<strong>de</strong>iro profissional mas submeti<strong>do</strong><br />
aos po<strong>de</strong>rosos da terra; o a<strong>de</strong>recista, um ancião<br />
culto, antigo proprietário <strong>do</strong> teatro que a sua<br />
paixão arruinou mas por cujos interesses ainda<br />
vela.<br />
Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>patia<br />
MICHÈLE RAOUL-DAVIS<br />
Da mesma forma que se diz “gostaria <strong>de</strong><br />
encenar o Shakespeare to<strong>do</strong>”, eu gostaria <strong>de</strong><br />
encenar to<strong>do</strong> o Ostrovski. E porque o meu encontro<br />
com o poeta Ostrovski foi essencial na minha<br />
vida, espero que possa também sê-lo para os<br />
especta<strong>do</strong>res. Ostrovski t<strong>em</strong> uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>patia com os seres humanos que lhe permite<br />
dar-se conta <strong>do</strong> seu sofrimento e não da sua<br />
<strong>de</strong>gradação. Neste teatro também há qualquer<br />
coisa <strong>de</strong> vital, que faz com que eu não tenha a<br />
impressão <strong>de</strong> estar a tratar apenas com fantasmas<br />
saí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da cabeça <strong>do</strong> autor, s<strong>em</strong><br />
outra existência senão a literária. Estou a tratar<br />
com um hom<strong>em</strong> que observa os homens no<br />
próprio meio <strong>em</strong> que ele vive e trabalha — e<br />
trata-se <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> brutal — s<strong>em</strong> os julgar <strong>de</strong><br />
forma alguma, qualquer que seja a barbarida<strong>de</strong><br />
ou a ignomínia daquilo a que assiste, e qualquer<br />
que seja o seu ponto <strong>de</strong> vista sobre um mun<strong>do</strong><br />
on<strong>de</strong> tais coisas são possíveis.<br />
Nunca olha os outros <strong>de</strong> alto. E isto é essencial.<br />
Esta faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>patia com o ser mais<br />
COM A PARTICIPAÇÃO DO JEUNE THÉÂTRE NATIONAL<br />
COM O APOIO DO CONSEIL GÉNÉRAL DES<br />
HAUTS-DE-SEINE<br />
miserável, mais indigente, mais diferente <strong>de</strong> si,<br />
espanta-me. Quan<strong>do</strong> penso <strong>em</strong> Ostrovski, penso<br />
também nesse velho poeta chinês <strong>do</strong> século XIII,<br />
Kuan Han Chi. Ambos têm essa faculda<strong>de</strong> rara <strong>de</strong><br />
saber não julgar tu<strong>do</strong> e ter s<strong>em</strong>pre um ponto <strong>de</strong><br />
vista, <strong>de</strong> procurar s<strong>em</strong>pre o que é que cada ser<br />
humano, mesmo coloca<strong>do</strong> nas piores condições,<br />
po<strong>de</strong>rá ter <strong>de</strong> precioso. Talvez certos países, certas<br />
épocas <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a dureza, <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a miséria,<br />
permitam a certos autores, certos poetas<br />
tocar no essencial, aquilo que s<strong>em</strong> eles seria<br />
in<strong>de</strong>finível. Mesmo que o teatro <strong>de</strong> Ostrovski nos<br />
mostre actos, situações e comportamentos sórdi<strong>do</strong>s,<br />
miseráveis, crápulas, nunca nos recusamos a<br />
partilhar da humanida<strong>de</strong> das suas personagens,<br />
sejam elas como for<strong>em</strong>.<br />
Alexandre Ostrovski<br />
BERNARD SOBEL<br />
Cont<strong>em</strong>porâneo <strong>de</strong> Dostoievski, Tourgueniev<br />
e Tolstoi, Alexandre Ostrovski, nasci<strong>do</strong> <strong>em</strong> 1823<br />
<strong>em</strong> Moscovo, pertence à ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouro da literatura<br />
russa. Des<strong>de</strong> 1847 até à sua morte, <strong>em</strong> 1886,<br />
<strong>de</strong>u ao teatro russo um repertório consi<strong>de</strong>rável<br />
(mais <strong>de</strong> sessenta peças).<br />
A sua obra consagra-se principalmente à<br />
pintura <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s comerciantes, uma espécie<br />
<strong>de</strong> burguesia <strong>de</strong>tentora <strong>do</strong> capital, atraída pelo<br />
lucro, pelo luxo e por uma alegria grosseira.<br />
Inscreve-se na tradição <strong>de</strong> um realismo crítico, o<br />
que lhe confere uma verda<strong>de</strong>ira mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />
Entre Gogol e Tchecov, Ostrovski é um autor s<strong>em</strong><br />
cujo conhecimento se torna impossível compreen<strong>de</strong>r<br />
a história <strong>do</strong> teatro russo, <strong>de</strong>signadamente<br />
os gran<strong>de</strong>s avanços teóricos e estéticos a<br />
que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> no principio <strong>do</strong> século XX, e que<br />
influenciaram to<strong>do</strong> o teatro mundial.<br />
Entre as suas peças mais famosas encon-