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30 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010<br />
Hoje em dia, há um boom da imagem da neuroimagem,<br />
tanto na literatura técnica quanto na imprensa leiga, na qualidade<br />
de “fotografia da mente”. Face a este desenvolvimento<br />
emergente e vertiginoso, pesquisadores deste segmento<br />
devem se questionar sobre os usos e abusos dos recursos da<br />
neuroimagem. Destacam-se atualmente as seguintes tecnologias<br />
de imagem: TC (Tomografia Computadorizada), fMRI<br />
(Imagem de Ressonância Magnética Funcional), PETscan<br />
(Tomografia por Emissão de Pósitrons) e SPECT (Tomografia<br />
por Emissão de Fóton Único). Peres (2009) exemplifica<br />
que, até o ano de 2007, muitos estudos envolveram o método<br />
PET com uso em 48%, o SPECT com 33% e fMRI em 19%,<br />
que vem crescendo significativamente por se tratar de um<br />
método não invasivo e não usar radiação ionizante comum<br />
na energia nuclear. Por isto, não é correto usar o termo ressonância<br />
magnética nuclear, apesar de algumas pessoas ainda<br />
insistirem nessa nomenclatura.<br />
A Tomografia Computadorizada é uma técnica que se baseia<br />
em emissão de Raios-X. Esse aparelho consiste em uma<br />
fonte de raios-X que é acionada, ao mesmo tempo em que<br />
realiza um movimento circular ao redor da cabeça do paciente,<br />
emitindo um feixe de raios-X em forma de leque.<br />
Já as imagens de ressonância magnética têm maior capacidade<br />
de demonstrar diferentes estruturas no cérebro e facilita<br />
visualizações de mínimas alterações na maioria das<br />
doenças. Também possibilita avaliar estruturas como hipocampos,<br />
núcleos da base e cerebelo – que é de difícil avaliação<br />
por meio da TC (Amaro Júnior e Yamashita, 2001).<br />
A técnica de fMRI é semelhante a um exame clínico com<br />
MRI, diferenciando a particularidade de se obter informações<br />
relativas à determinada função cerebral. Por exemplo, que partes<br />
do cérebro são mais ativas durante estimulação cognitiva<br />
do tipo escutar uma música, concentrar-se em uma imagem<br />
agradável ou não, relembrar memórias de longo prazo. Tem<br />
como vantagens alta resolução espacial e temporal; permite a<br />
correlação da atividade neural com a anatomia subjacente; diversos<br />
paradigmas podem ser utilizados com um simples<br />
exame e permite vários ensaios em um intervalo curto de<br />
tempo, favorecendo a avaliação estrutural de transtornos psiquiátricos.<br />
Essa técnica baseia-se no fato de que a atividade<br />
cerebral requer energia, e a glicose é a forma de energia processada<br />
pelo cérebro. Quando observamos qual área cerebral<br />
está consumindo maior quantidade de glicose, então, pode-se<br />
MENTE, CÉREBRO E RESSONÂNCIA MAGNÉTICA<br />
inferir onde o cérebro está funcionando mais energicamente.<br />
Como descrito por Costa, AP Oliveira e Bressan (2001),<br />
os métodos PETscan e SPECT, baseiam-se no princípio básico<br />
que a instrumentação utilizada é apenas receptora de informação,<br />
ou seja, para se obter as imagens, é necessário administrar<br />
aos pacientes um radiofármaco marcado (um contraste,<br />
uma forma de glicose radioativa leve), seja um emissor de pósitron<br />
para PET, seja um emissor de fóton simples no caso do<br />
SPECT. Sabe-se que a eficácia de detecção do sinal radioativo<br />
é maior no PET do que no SPECT, mesmo assim seu uso é limitado,<br />
pois os radioisótopos de emissão de pósitrons têm<br />
vida radioativa curta de minutos, no máximo cerca de duas<br />
horas para o flumazenil, tornando um instrumento oneroso e<br />
restrito às grandes universidades públicas e clínicas privadas,<br />
favorecendo ao SPECT uma alternativa mais viável.<br />
N que pese a necessidade de ultrapassar problemas significativos<br />
com tais metodologias, ainda são bastante necessários<br />
nas seguintes situações clínicas: diagnóstico<br />
diferencial das demências, incluindo a depressão dos idosos;<br />
avaliação pré-cirúrgica de doentes com epilepsia focal; confirmação<br />
de morte cerebral; avaliação das sequelas neuropsiquiátricas<br />
após traumatismos encefálicos; diagnóstico<br />
diferencial entre doença de Parkinson e parkinsionismo induzido<br />
por fármacos. Além de estudar uma gama maior de<br />
funções cerebrais principalmente em relação à neurotransmissão<br />
e os neuroreceptores do que os exames de ressonância<br />
magnética funcional.<br />
As vantagens do PET e SPECT, respectivamente, são:<br />
exames com dinâmicas temporais, ou seja, mensura variações<br />
ao longo do procedimento; permite boa localização espacial<br />
em regiões ativas e uso de distintos marcadores para estudos<br />
metabólicos. Favorece a aquisição das imagens na tomografia<br />
posterior à tarefa em desenvolvimento, reduzindo artefatos<br />
de movimento; privacidade ao sujeito; usam-se<br />
marcadores da atividade neural mais estável, como meia-vida<br />
mais longa entre quatro e seis horas. Na mesma ordem, as<br />
desvantagens compreendem exame invasivo; em um curto<br />
período de tempo o experimento não pode ser repetido; restrição<br />
a estudos com tarefas sem variações; imobilidade dos<br />
sujeitos envolvidos. Baixa resolução não adquire anatomia;<br />
restrição ao estudo com tarefas sem variações e os demais<br />
quesitos do PET.<br />
Do ponto de vista da filosofia da mente, neurocientistas<br />
e médicos pesquisadores apóiam-se na neuroimagem como<br />
reforço do materialismo reducionista e ao materialismo eliminativo.<br />
Ao passo que a neuroimagem nos fornece apenas<br />
localização cerebral. Esta não deve ser confundida com localização<br />
anatômica, o que não nos permite inferir uma tese<br />
identitarista e reducionista para o problema mente-corpo.<br />
Observa-se, desde os primórdios dessa técnica, que a neuroimagem<br />
sugere um cérebro mais parecido com uma rede, em<br />
que uma função cognitiva tem vários locais dentro de uma<br />
concepção equipotencialista, conexionista ou holista. Pensemos,<br />
estudos feitos com linguagem e memória levam à conclusão<br />
de que são várias áreas cerebrais envolvidas no<br />
desenvolvimento do discurso e que muitos são os papéis assumidos<br />
pelo cérebro pré-frontal esquerdo nessa produção,<br />
o qual pode acessar significado, resgatar palavras da memória,<br />
gerar representações internas e acessar informação fonológica.<br />
Todavia, aquilo que é capturado pela neuroimagem –<br />
o brilho - refere-se em parte o que está ocorrendo no cérebro<br />
quando uma determinada função cognitiva é realizada. Portanto,<br />
uma função não se reduz a uma única região anatômica,<br />
mas sim multilocalizada. (TEIXEIRA, 2008;<br />
DAMÁSIO, 2000; LLOYD, 2000).<br />
Com base nesta linha de raciocínio, Teixeira (2008), sugere<br />
que a neuroimagem associada à ideia do mental como<br />
virtual, ao territorializar o lugar do psíquico e do anatômico,<br />
não caracteriza em si o reducionismo nem independência<br />
da relação mente-corpo, mas nos possibilita uma<br />
teoria do aspecto dual, sendo assim, o mental e físico são<br />
modos de descrição de uma única e mesma realidade.<br />
Dessa forma, no campo das psicoterapias os métodos da<br />
neuroimagem têm favorecido<br />
o estudo de sujeitos<br />
com transtornos de personalidade,<br />
transtornos de estresse<br />
pós-traumático,<br />
depressão maior, transtorno<br />
obsessivo-compulsivo, fobia<br />
social e específica.<br />
Eleonardo Rodrigues<br />
Prof. Msc. da UESPI e<br />
Faculdade Santo Agostinho<br />
eleonardopr@hotmail.com<br />
SAÚDE MENTAL EM PICOS: UM PROJETO, UMA PROPOSTA<br />
No campo da saúde mental, a conceituação que exprime relação<br />
entre loucura e estigma está fortemente presente nas discussões<br />
atuais. Ao contrário dos séculos XV a XIX, nos quais o<br />
conceito de loucura passou de natural a patológico (AMARANTE,<br />
2002), os debates desse século em torno da saúde mental discutem<br />
pontos nodulares pela necessidade de ressignificações sociais/culturais,<br />
sob o enfoque do novo objeto: o portador de transtorno,<br />
outrora denominado doente mental.<br />
Em breve trajetória acerca da história da loucura no mundo<br />
(FOUCAULT, 1972), nota-se que a sociedade utilizou diversas<br />
denominações para o fenômeno em questão, conforme as necessidades<br />
e os interesses das classes dominantes, fazendo com que<br />
o termo “loucura” e “louco” fossem adquirindo conotações divergentes,<br />
com o passar dos anos. Não bastasse haver mudança<br />
em seus significados, também havia transformações nas práticas<br />
de cuidado para aqueles que frequentavam os asilos, hospitais e,<br />
mais tarde, hospícios ou manicômios.<br />
A loucura, que inicialmente era considerada fenômeno integrante<br />
da natureza humana, mais tarde assumiria o papel de causar<br />
malefícios à sociedade, por meio daqueles por ela<br />
acometidos. Os alienados (loucos) eram seres perigosos, por<br />
serem agressivos, fazendo com que os profissionais de saúde optassem<br />
por acorrentá-los e segregá-los em celas-fortes, sob o pretexto<br />
de que o isolamento por si só tinha o poder de cura<br />
(Oliveira, 2002).<br />
No Brasil, com inúmeras mortes ocorrendo nesses manicômios,<br />
e considerando inútil o tipo de prática no tratamento do<br />
louco, os trabalhadores de saúde mental se organizaram através<br />
de intensa mobilização em diversas cidades do país. Esse marco,<br />
conhecido como Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental<br />
(MTSM) culminou com um processo bastante complexo denominado<br />
de Reforma Psiquiátrica (AMARANTE, 2002) e com a<br />
promulgação da Lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001, que redi-<br />
reciona o modelo assistencial de saúde mental (BRASIL, 2001).<br />
Por ser ainda recente esta Lei, os passos rumo a uma nova<br />
forma de pensar e lidar com o processo de sofrimento psíquico<br />
no Brasil suscitam ainda amplo debate, discussões e divulgações<br />
em prol da participação dos envolvidos e da sociedade em suas<br />
instâncias democráticas, para que não seja apenas implantado o<br />
novo, mas que seja passível de acompanhamento e gerência pela<br />
população (MEDEIROS; GUIMARÃES, 2002).<br />
O portador de transtorno mental continua sendo visto<br />
como um indivíduo que necessita ser recolhido a um espaço<br />
físico de cuidado terapêutico, devendo receber medicações e<br />
controlar suas crises, pois é incapaz de realizar atividades<br />
rotineiras, sob a alegação de anormalidade. Assim, a sociedade<br />
que busca a garantia dos direitos humanos é a mesma que retira<br />
do portador de transtorno mental esse direito, pois estabelece<br />
relação estreita entre cidadania e normalidade;<br />
portanto, o louco estaria definitivamente excluído da condição<br />
de cidadão (Oliveira, 2002).<br />
Assim, considerando urgente criar espaços de discussão<br />
acerca da saúde mental, um grupo de pesquisadores formado por<br />
estudantes de Enfermagem e docentes da Universidade Federal<br />
do Piauí elaboraram uma proposta para redução do estigma da<br />
loucura na cidade de Picos-PI, submetendo-a à apreciação e<br />
apoio pelo CNPq, através do Edital 033/2008. Sendo aprovado<br />
no processo seletivo, o projeto teve início no mês de março de<br />
2009, formado por quatro alunos da graduação em Enfermagem,<br />
duas alunas do Mestrado em Enfermagem, três docentes e dezoito<br />
servidores técnico-administrativos da UFPI/Picos. Através<br />
da metodologia da pesquisa-ação, estratégia que permite que<br />
ocorra um processo simultâneo de investigação e ação cuja intenção<br />
primordial é o conhecimento e a resolução do problema<br />
coletivo, a partir dos fatos observados, e que culmina na transformação<br />
dos pesquisadores e dos participantes envolvidos no<br />
contexto social sítio do problema (THIOLLENT, 2008), diversas<br />
reuniões foram realizadas durante o ano de 2009, nas quais havia<br />
a oportunidade de troca de experiências, estudos em grupo, leitura<br />
de textos, assistência e discussão de filmes sobre saúde<br />
mental, encontros que resultaram em trabalhos apresentados<br />
em congressos e elaboração de artigos. Para 2010, serão elaboradas<br />
cartilhas sobre saúde mental/transtorno mental que<br />
serão distribuídas nos diversos espaços sociais picoenses, para<br />
que as lacunas que separam o portador de transtorno mental<br />
da sociedade sejam cada vez menores e para a sensibilização<br />
da população, no sentido de redução do estigma. O projeto iniciou<br />
em janeiro de 2009 com término para dezembro de 2010.<br />
Maria Rosilene C. Moreira – Profa. da UFPI (Picos)<br />
rosilene@ufpi.br<br />
Edina Araújo R. Oliveira – Profa. da UFPI (Picos)<br />
edinasam@bol.com.br<br />
Claudete F. de S. Monteiro – Profa. Dra. da UFPI<br />
claudetefmonteiro@hotmail.com<br />
Jonathan Veloso Costa – Acadêmico<br />
em enfermagem da UFPI (Picos)<br />
jvcenfermagem@hotmail.com