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6 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010<br />

VOLUMOSOS DE BAIXO VALOR NUTRITIVO NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES<br />

A necessidade do atendimento às demandas por alimentos<br />

para a população humana impõe aos sistemas de produção animal<br />

maior produtividade, para o que se faz necessário o fornecimento<br />

de alimentos de alto valor nutritivo, o que tem<br />

provocado a inclusão de elevada proporção de grãos nas dietas<br />

de ruminantes. Este fato reflete em aumento da competitividade<br />

por alimento entre seres humanos e animais, uma vez que<br />

um terço dos grãos produzidos no mundo é disponibilizado<br />

para a alimentação animal, gerando competitividade com a alimentação<br />

humana.<br />

Além disso, na região Nordeste do Brasil ocorrem prolongados<br />

períodos de estiagem e irregular distribuição de<br />

chuvas, o que provoca sazonalidade na produção de forragem,<br />

levando também à produção estacional dos rebanhos.<br />

Dessa forma, uma alternativa para contornar estes problemas<br />

é priorizar a utilização de alimentos volumosos e, preferencialmente,<br />

alimentos alternativos na alimentação de ruminantes,<br />

visando suprir parte das exigências nutricionais de<br />

mantença dos rebanhos. Dentre estes, destaca-se alternativas<br />

que reflitam na diminuição dos custos de produção, como a<br />

utilização de gramíneas em idade avançada, resíduos do beneficiamento<br />

da cana-de-açúcar, palhadas, restolhos de culturas<br />

agrícolas e resíduos do beneficiamento de grãos de<br />

culturas anuais, como o milho, a soja e o arroz.<br />

O milho é o principal cereal cultivado no Brasil e, segundo<br />

a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), em 2009,<br />

foram cultivados quase 3 milhões de hectares com esta cultura<br />

agrícola, o que resulta em disponibilidade de grande quantidade<br />

de palhada e restolho. Considera-se restolho a parte aérea<br />

da planta de milho sem as espigas, a qual difere da palhada por<br />

ser colhido antes da secagem natural a campo. Este volumoso<br />

se mostra promissor para a alimentação de ruminantes, devido<br />

35 a 45% do nitrogênio retido pela planta ser translocado à<br />

parte aérea; ao potencial energético pela proporção de parede<br />

celular utilizável pelos ruminantes; além da possibilidade de<br />

adoção de técnicas para conservação deste resíduo de cultura<br />

por técnicas de ensilagem ou fenação.<br />

Contudo, resíduos agrícolas, em geral, apresentam baixo<br />

valor nutritivo, devido à lignificação da parede celular, correspondendo<br />

a cerca de 70 a 80% da matéria seca e baixo teor de<br />

proteína bruta, com degradabilidade da matéria seca bastante<br />

reduzida. Estes fatores podem ser melhorados, a partir de pesquisas<br />

para avaliação de tecnologias simples e adequadas,<br />

como a amonização com ureia.<br />

A amonização de alimentos volumosos fibrosos consiste<br />

do tratamento químico com ureia ou amônia anidra sob condições<br />

ideais de temperatura, umidade, quantidade aplicada (em<br />

% da matéria seca) e qualidade da forragem. As pesquisas<br />

sobre tratamento químico de resíduos da cultura do milho no<br />

Brasil são recentes, com resultados satisfatórios, quanto ao aumento<br />

do teor e retenção de nitrogênio, à redução dos constituintes<br />

da parede celular e ao incremento da degradabilidade<br />

AGRICULTURA FAMILIAR CAMPONESA: TERRITÓRIOS EM QUESTÃO<br />

Este artigo parte da definição teórica segundo a qual<br />

camponeses não são apenas aqueles que possuem propriedade<br />

jurídica sobre uma pequena extensão de terra.<br />

Ao contrário, trabalhadores sem-terra que produzem<br />

para si mesmos, em regime de subsistência e para os<br />

donos legais de terras, na condição de meeiros, sob contrato<br />

de parceria, ou através da venda pura e simples da<br />

força de trabalho, sob a designação de diarista (ou “companheiro”),<br />

também podem ser considerados camponeses,<br />

desde que vivam na (e da) terra e detenham, por isso<br />

mesmo, conhecimentos ou saberes necessários à realização<br />

dos ciclos de produção, do cultivo à colheita<br />

agrícola e/ou das fases em que se estrutura a pecuária<br />

leiteira e de corte e da relação com a extração/preservação<br />

de recursos naturais, além de estabelecerem,<br />

entre si, laços de reciprocidade sociocultural.<br />

Por isso, em termos teóricos, os territórios, constituídos<br />

por agricultores familiares camponeses “com-terra”<br />

e “sem-terra” (costa Neto, C. 2007. Diversidade social e<br />

tecnológica em unidades de produção familiar. In: LIMA,<br />

E. et alli. Mundo Rural IV. Configurações rural-urbanas:<br />

poderes e políticas. Rio de Janeiro: Edur/UFRRJ, p. 261-<br />

271), apresentam grande diversidade sociocultural, am-<br />

da matéria seca e de constituintes da parede celular.<br />

As principais vantagens do uso de uréia no tratamento de<br />

volumosos de baixa qualidade são a fácil aplicação; não polui<br />

o meio ambiente; fornece nitrogênio não protéico (NNP); provoca<br />

decréscimo na proporção de parede celular, por quebra de<br />

ligações ésteres entre moléculas do complexo lignocelulose e<br />

de outros carboidratos, provoca solubilização da hemicelulose;<br />

aumenta a digestibilidade; e ainda conserva as forragens com<br />

elevado teor de umidade.<br />

A amonização consiste em dois processos, ureólise, uma<br />

reação enzimática que, na presença de uréase, produzida por<br />

bactérias ureolíticas, sob condições ideais de umidade, libera<br />

a amônia da molécula de ureia e gera efeitos na parede celular<br />

da forragem; e, hidrólise alcalina, resultante da reação do hidróxido<br />

de amônia, uma base fraca formada por reação da uréia<br />

com água e ligações ésteres entre os carboidratos estruturais.<br />

As recomendações quanto à quantidade de uréia para tratamento<br />

da forragem variam muito, em função do material<br />

tratado e das condições ambientais. Algumas pesquisas resultaram<br />

em maior eficiência do tratamento quando do uso<br />

de 3 a 8% de ureia na MS em volumosos com 30% de umidade.<br />

Neste tratamento, a uréia é dissolvida em água e aspergida<br />

sobre o material a ser tratado e, posteriormente, este é<br />

armazenado em ambiente hermeticamente fechado, com auxílio<br />

de lona plástica, evitando-se a liberação da amônia<br />

(NH3). O tempo de armazenamento sob tratamento é de até<br />

35 dias, e é inversamente proporcional à dose de uréia aplicada.<br />

A temperatura também influencia no tratamento de volumosos<br />

com ureia, verificando-se reações quase imediatas<br />

em ambientes com temperatura mais elevada (34 a 35°C), estando<br />

esta diretamente relacionada com a dose de ureia e<br />

com a umidade do material. Ainda quanto à interação dos fatores,<br />

o aumento do período de amonização de forragens<br />

pode não trazer benefícios em termos de elevação do conteúdo<br />

de nitrogênio. Assim, é recomendado o mínimo de 15<br />

dias de armazenamento em regiões de temperatura elevada e<br />

30 dias sob temperatura amena. Quanto pior o valor nutritivo<br />

da forragem tratada, mais evidentes serão os resultados da<br />

amonização sobre os constituintes da parede celular e degradabilidade<br />

da matéria seca.<br />

O Grupo de Pesquisa e Difusão Tecnológica em Nutrição<br />

de Ruminantes do Departamento de Zootecnia da Universidade<br />

Federal do Piauí, cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento<br />

Científico e Tecnológico (CNPq), tem desenvolvido<br />

vários trabalhos quanto à utilização de alimentos<br />

alternativos para ruminantes. Em especial, com alimentos disponíveis<br />

na região Nordeste com potencial para redução dos<br />

custos de produção de dietas, como vagens de leguminosas tropicais,<br />

resíduos da agroindústria, e mais recentemente, com volumosos<br />

de baixa qualidade, como fenos de gramíneas em<br />

idade avançada e resíduos de culturas anuais. Em Pesquisa de<br />

Dissertação do Mestrado em Ciência Animal da UFPI, foi ava-<br />

biental. Neste sentido, percebemos os territórios camponeses<br />

contemporâneos como redes intercomunicáveis<br />

(Haesbaert, R, 2007. Concepções de território para entender<br />

a desterritorialização. In: Santos, M. e Becker, B K.<br />

Território, territórios, ensaios sobre ordenamento territorial.<br />

Lamparina Rio de Janeiro. p.43-71), para além das<br />

cercas das propriedades jurídico-legais.<br />

Tomando como ponto de partida esta caracterização<br />

teórica, consideramos possível assinalar que os territórios<br />

camponeses passam atualmente por transformações em<br />

suas dinâmicas sociais. No campo brasileiro, convivem<br />

latifundiários e famílias camponesas. Estabelece-se, ali,<br />

uma relação mediada pelos diversos grupos de camponeses,<br />

entre eles e deles com a terra, dando sentido à organização<br />

social de cada família e das formas de produção<br />

e/ou geração de renda.<br />

Atualmente, estamos realizando uma pesquisa sobre a<br />

comunidade dos “agricultores do Pontão”, na Zona da Mata<br />

de Minas Gerais. Nela, entrevistamos e convivemos, durante<br />

algum tempo, com oito famílias camponesas: seis famílias<br />

de proprietários de terra e duas de não proprietários. A<br />

complexidade da estruturação territorial resultante da intensa<br />

relação entre estas famílias apontou para situações,<br />

liado o feno de restolho da cultura do milho (FRCM) obtido<br />

sob diferentes níveis de adubação nitrogenada (40, 120 e 200<br />

kg de N/ha), não tratado e amonizado com 3% de uréia na matéria<br />

seca. O feno de restolho da cultura do milho não tratado<br />

apresentou, em média, 5,2±0,75% de proteína bruta,<br />

62,9±1,27% de fibra em detergente neutro (FDN) e<br />

35,4±0,79% de fibra em detergente ácido (FDA) e, em % do<br />

nitrogênio total, 18,5±1,81% de nitrogênio insolúvel em detergente<br />

ácido (NIDA). A amonização com 3% de uréia resultou<br />

em 86% de aumento no teor de proteína bruta em relação ao<br />

feno não tratado, justificável pela adição de NNP na forma de<br />

hidróxido de amônia (NH4OH), podendo este composto ser utilizado<br />

como substrato para crescimento da população microbiana<br />

do rúmen. Verificou-se ainda solubilização dos<br />

constituintes da parede celular, uma vez que os teores de FDN<br />

e FDA reduziram 9,5 e 7,7%, respectivamente.<br />

A degradação ruminal in situ da matéria seca, proteína<br />

bruta e FDN foi 48,7±17,2; 56,5±13,3; 33,6±23,4%, respectivamente.<br />

A degradação da proteína bruta aumentou 33,3%<br />

com a amonização, indicando maior disponibilidade da proteína<br />

bruta, tanto por adição de NNP, quanto pela redução<br />

de 93,5% no teor de nitrogênio associado ao complexo lignocelulose<br />

(NIDA). A degradação da FDN aumentou 14,4%<br />

com a amonização em relação ao FRCM não amonizado, o<br />

que pode ser explicado ação da amônia sobre os constituintes<br />

da parede celular.<br />

Considerando a disponibilidade de restolho da cultura do<br />

milho no estado do Piauí, principalmente na agricultura familiar,<br />

se justifica a adoção da associação das técnicas de fenação<br />

e amonização deste volumoso para superação dos déficits nutricionais<br />

dos rebanhos ruminantes nos períodos de estiagem.<br />

Esta conclusão se justifica pelos efeitos significativos da amonização<br />

com 3% de uréia sobre os teores de proteína bruta e<br />

dos constituintes fibrosos do FRCM e incremento da degradação<br />

in situ da proteína e FDN.<br />

Arnaud A. Alves – Prof. Dr. da UFPI<br />

arnaud@ufpi.edu.br<br />

Miguel Arcanjo M. Filho - Doutorando em Ciência<br />

Animal na UFPI<br />

miguelarcanjo@agronomo.eng.br<br />

tais como: diaristas camponeses, sem-terra, trabalhando<br />

assalariadamente para camponeses proprietários e vivendo<br />

em terras cedidas por latifundiário; meeiros camponeses,<br />

sem-terra, cultivando terra de camponeses proprietários e<br />

vivendo na terra destes proprietários; diaristas camponeses,<br />

com-terra, trabalhando assalariadamente para camponeses<br />

proprietários, com relação de parentesco entre eles<br />

e vivendo em sua própria terra etc.<br />

Sugerimos, portanto, que as relações sociais nos mundos<br />

territoriais rurais estão postas em questão, já que somente<br />

as tradicionais relações territoriais entre latifundiários, pequenos<br />

proprietários camponeses<br />

e não proprietários agrários não<br />

são suficientes para identificar e<br />

permitir avaliações acerca das<br />

atuais conformações socioespaciais<br />

rurais, em torno das comunidades<br />

camponesas.<br />

Canrobert Costa Neto<br />

Prof. Dr. da Universidade<br />

Federal Rural do Rio de Janeiro<br />

canrobertp@uol.com.br

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