18.06.2013 Views

Jornal Sapiencia Internet ESPECIAL ARTIGOS_Layout 1.qxd

Jornal Sapiencia Internet ESPECIAL ARTIGOS_Layout 1.qxd

Jornal Sapiencia Internet ESPECIAL ARTIGOS_Layout 1.qxd

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

8 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010<br />

DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE<br />

PESQUISANDO O SETOR MOVELEIRO DE TERESINA<br />

A indústria de móveis, bem como a maioria dos outros segmentos<br />

industriais, produz, durante o processo produtivo, resíduos.<br />

Depois que saem da unidade industrial, os móveis<br />

também podem se transformar em resíduo (pós-venda/pósconsumo).<br />

Isso acontece quando o sujeito que o adquiriu, na<br />

impossibilidade de vendê-lo ou doá-lo, faz o seu descarte. O<br />

princípio do poluidor-pagador estabelece que o fabricante é o<br />

responsável pelo descarte desse material. No entanto, para que<br />

isso aconteça, o móvel tem que fazer o caminho de volta, o que<br />

requer uma logística que aconteça no sentido inverso, a logística<br />

reversa.<br />

A logística reversa é a responsável pelo retorno dos produtos<br />

aos fabricantes, para que eles possam reaproveitar os seus<br />

componentes ou lhes dar um destino ambientalmente adequado.<br />

Dessa maneira, o objetivo da pesquisa nas indústrias de móveis<br />

de Teresina/Piauí foi analisar a viabilidade da implantação da<br />

logística reversa nesse setor, motivada por seu suporte econômico<br />

e ambiental, o que possibilitando o desenvolvimento de<br />

estratégias de gestão através das quais os resíduos passam a<br />

agregar valor de diversas naturezas, por meio da sua reintegração<br />

ao ciclo produtivo e/ou de negócios.<br />

Como a logística reversa ainda não se constitui uma obrigação<br />

legal, o estudo da sua viabilidade passa pela observação<br />

de outros fatores ligados à atividade industrial. Há três pontos<br />

que, nesta pesquisa, consideramos fundamentais para as empresas<br />

que potencialmente poderiam aplicar a logística reversa:<br />

empresas que se preocupam com a gestão da qualidade, com a<br />

segurança e que apresentam indícios de cumprimento de sua<br />

responsabilidade socioambiental.<br />

Identificamos 52 indústrias no setor moveleiro de Teresina,<br />

a partir do Guia da Federação das Indústrias do Estado do Piauí<br />

(FIEPI) e do Telelistas.net. Foram visitadas dezesseis, entrevistamos<br />

os seus administradores e observamos os tipos de móveis<br />

produzidos, as matérias-primas utilizadas e a sua origem,<br />

as etapas do processo produtivo, os tipos e volumes de embalagens<br />

utilizadas para o acondicionamento dos móveis, os tipos<br />

de resíduos gerados e o gerenciamento adotado por essas indústrias<br />

para os mesmos, além dos aspectos gerais de segurança,<br />

qualidade e meio ambiente.<br />

Dividimos as indústrias visitadas em dois segmentos: as<br />

que produzem móveis para residência (sofás, guarda-roupas,<br />

colchões, tábuas de passar roupa, cozinhas e dormitórios feitos<br />

sob medida) e as que produzem móveis para escritórios, escolas<br />

e hospitais (armários, estantes, mesas, cadeiras, carteiras escolares,<br />

gôndolas, estruturas porta-pallets, entre outros). Verificamos<br />

que, geralmente, as indústrias do segmento de móveis<br />

para residência fabricam móveis de alta qualidade e com maior<br />

número de detalhes de acabamento; pois, em sua maioria, são<br />

feitos a partir de projetos para um consumidor final específico;<br />

enquanto o outro segmento, de móveis para escritórios, escolas<br />

e hospitais, as indústrias produzem móveis padronizados, em<br />

maior escala.<br />

As principais matérias-primas utilizadas nos dois segmentos<br />

são a madeira, o compensado de madeira, o MDF (Medium<br />

Density Fiberboard – Fibra de Média Densidade), chapas de<br />

ferro e de aço. Utilizam-se, também, tubos de aço-carbono,<br />

tubos de aço-inox, laminados de PVC, fibras de plástico, tecidos,<br />

couros, espuma (para os acentos das cadeiras), cola fórmica,<br />

cola branca, selador, prego, solventes e tintas. A<br />

matéria-prima é proveniente de diversos estados: Piauí, Ceará,<br />

Pará, Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco, Minas<br />

Gerais e Rio Grande do Sul.<br />

Comumente, a cadeia produtiva do setor de móveis de Teresina<br />

é formada somente pelos fornecedores de matérias-primas,<br />

fabricantes dos móveis e pelos consumidores finais pois,<br />

em sua maioria, os próprios fabricantes comercializam o seu<br />

produto. Dessa maneira, essas indústrias atuam, também, como<br />

distribuidoras dos seus produtos, fazendo com que assumam<br />

um duplo papel na cadeia produtiva.<br />

Das indústrias visitadas, somente duas apresentaram setor<br />

de reforma, onde é feita a reparação dos móveis que apresenta-<br />

DIVULGAÇÃO<br />

ram algum problema no pós-venda e dos que precisam de manutenção.<br />

As demais consideram que os custos são elevados e<br />

não compensa. Dessa forma, eles optam por somente fabricar.<br />

Para um dos administradores entrevistados, é possível que a indústria<br />

receba o material para reforma, desde que o cliente se<br />

comprometa a comprar o móvel novamente (fidelização do<br />

cliente), o que já acontece nessa indústria. Os custos da reforma<br />

são, em média, 35% do valor do produto novo.<br />

Na opinião de três administradores entrevistados, existe a<br />

possibilidade de reinserir o material pós-consumo na cadeia<br />

produtiva e de negócios, através de reformas, aplicação de<br />

novos revestimentos, trocas de estofamentos e pintura. Para os<br />

demais entrevistados, a reinserção do material pós-consumo na<br />

cadeia produtiva e de negócios não é possível, por conta da inexistência<br />

de espaço físico nas suas indústrias para o recebimento<br />

e o reprocessamento desses materiais, além da falta de<br />

mercado para esses produtos.<br />

Em geral, a estrutura das indústrias visitadas é precária,<br />

não possuindo compartimentação dos locais onde são realizadas<br />

as distintas etapas do processo produtivo, além de possuírem<br />

piso rústico e pouca ventilação.<br />

Há um consenso por parte dos administradores da necessidade<br />

de qualificação da mão-de-obra para o setor de móveis.<br />

Inexistem, em Teresina, cursos profissionalizantes direcionados<br />

para esse segmento industrial. Dessa maneira, os administradores<br />

têm dificuldade em repor mão-de-obra. Em sua maioria,<br />

os funcionários aprendem o ofício durante a atividade na própria<br />

indústria.<br />

Durante as visitas, observou-se que poucos funcionários<br />

utilizavam os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs),<br />

pois a segurança do trabalho não pareceu ser fator de relevância<br />

para essas indústrias, tendo em vista que elas não chegam<br />

a possuir um setor responsável pela segurança dos trablhadores,<br />

como a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes<br />

(CIPA), com exceção de uma, apenas. Contudo, mesmo nessa<br />

indústria, nem todos os funcionários utilizavam os EPIs no<br />

momento da visita.<br />

A gestão da qualidade ainda não é valorizada pelo setor<br />

moveleiro de Teresina, somente uma indústria possui certificação<br />

ISO 9000 (a mesma que tem CIPA). Embora, durante as entrevistas,<br />

tenha sido observado que os administradores têm a<br />

preocupação de inserir um produto de qualidade no mercado,<br />

estes desconhecem os procedimentos necessários para a certificação<br />

e desconsideram que ela seja importante para a fidelização<br />

do cliente, pois acreditam que a melhor propaganda é a<br />

satisfação dos seus clientes.<br />

Com relação à responsabilização socioambiental, as indús-<br />

trias visitadas não apresentam nenhum indicativo direto de reconhecimento<br />

desse fator. Se o fazem, é para fins de licenciamento<br />

ambiental ou para a economia de matéria-prima,<br />

como no caso do seu corte, que é realizado somente após definição<br />

de projeto, de modo a minimizar perdas, motivo pelo<br />

qual o setor de móveis gera poucos resíduos durante o seu<br />

processo produtivo.<br />

O estabelecimento da logística reversa no setor moveleiro<br />

demanda uma série de atividades, que envolve a coleta,<br />

inspeção, separação (desmontagem), reprocessamento<br />

(transformar o móvel usado em um móvel reutilizável) e<br />

a sua redistribuição. O móvel recuperado pode voltar<br />

para o comprador inicial ou pode ser inserido em um<br />

mercado secundário.<br />

Existe um fator considerado favorável para o estabelecimento<br />

da logística reversa nas indústrias de móveis de Teresina:<br />

os próprios fabricantes atuam como distribuidores dos<br />

seus produtos, o que faz com que tenham um contato direto<br />

com o consumidor final, facilitando no momento do resíduo<br />

pós-consumo fazer o caminho de volta.<br />

Assim, constatou-se que, mesmo havendo possibilidades<br />

reais de aplicação da logística reversa no setor moveleiro de<br />

Teresina, a sua efetivação é inviável, pois as indústrias não<br />

apresentam modelos voltados para a gestão da qualidade, segurança<br />

e responsabilidade socioambiental, fatores importantes<br />

que antecedem a sua aplicação. Enquanto não houver<br />

pressão da sociedade e regulamentação que obrigue a implementação<br />

da logística reversa, as empresas analisadas não<br />

terão condição de efetivá-la.<br />

Elaine Aparecida da Silva – Mestranda em<br />

Desenvolvimento e Meio Ambiente na UFPI<br />

elaine@ufpi.edu.br<br />

José Machado Moita Neto – Prof. Dr. na UFPI<br />

jmoita@ufpi.edu.br

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!