01.07.2013 Views

O egoísmo lógico e a sua superação - Centro de Filosofia

O egoísmo lógico e a sua superação - Centro de Filosofia

O egoísmo lógico e a sua superação - Centro de Filosofia

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Velocida<strong>de</strong> e acordo: O carácter metafórico das i<strong>de</strong>ias estéticas 349<br />

seremos capazes <strong>de</strong> transformar essa crença em matéria <strong>de</strong> conhecimento teorético.<br />

Assim, a consciência da ligação entre o belo natural e o conceito da finalida<strong>de</strong><br />

subjectiva da Natureza, que emerge da pura contemplação da <strong>sua</strong> forma, ocasiona o<br />

mesmo tipo <strong>de</strong> aceleração do fluxo cognitivo entre a Imaginação e o Entendimento<br />

que ocorre durante a apreciação <strong>de</strong> um objecto <strong>de</strong> arte. E é <strong>de</strong>vido a esta aceleração<br />

similar que o belo natural po<strong>de</strong> ser tomado como expressão <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia estética41.<br />

Tal como qualquer outra i<strong>de</strong>ia estética, esta é capaz <strong>de</strong> “dar muito que pensar” §49)<br />

mas sem gerar qualquer conceito <strong>de</strong>terminado. É uma metáfora semelhante às metáforas<br />

poéticas: se o belo natural nos permite homologar a Natureza como um autor<br />

com finalida<strong>de</strong>, a Natureza como <strong>de</strong>signer, ele também nos permite “expandir o nosso<br />

conceito <strong>de</strong> Natureza, nomeadamente, da Natureza como mero mecanismo, até ao<br />

conceito <strong>de</strong>ssa mesma Natureza como arte” (§23). (Acrescente-se que se trata <strong>de</strong> uma<br />

analogia com dois gumes pois a partir <strong>de</strong>la po<strong>de</strong>mos também construir a metáfora<br />

simétrica da arte qua Natureza, uma outra forma <strong>de</strong> perceber porque falamos “da<br />

beleza como se ela fosse uma proprieda<strong>de</strong> das coisas” (§7) à maneira do seu tamanho<br />

ou do seu formato42.)<br />

Como qualquer outra analogia, ela permite que a adoptemos como centro gravitacional<br />

<strong>de</strong> uma miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> conceitos secundários e <strong>de</strong> representações. A diferença,<br />

nesse caso, entre as i<strong>de</strong>ias estéticas da arte e as da Natureza consiste no facto <strong>de</strong> as<br />

primeiras se apresentarem <strong>de</strong> uma forma mais explícita43. Em arte, é o conceito <strong>de</strong><br />

um objecto (e. g., a águia <strong>de</strong> Júpiter) que adquire uma inesperada extensão do seu<br />

significado quando se encontra aplicado numa relação osmótica com um conceito<br />

sem objecto (e. g., “majesta<strong>de</strong>”). Esta extensão do significado – traduzida numa forma<br />

– dirige a nossa experiência da forma. No caso do belo natural, porém, dispensamos<br />

a ligação àquele outro objecto. E isto constitui, <strong>de</strong> facto, “a superiorida<strong>de</strong> da beleza<br />

natural sobre a artística, nomeadamente, que (…) ela é a única beleza que excita um<br />

interesse directo” (§42) por pura contemplação da forma. Mas este “interesse directo”<br />

não dispensa o facto <strong>de</strong> o observador assumir um interesse especial na existência<br />

efectiva44 do objecto <strong>de</strong> beleza natural (§42). A <strong>sua</strong> existência é uma prova material<br />

da ligação transcen<strong>de</strong>ntal entre a Natureza e o sujeito, e é, <strong>de</strong> novo, uma expressão<br />

41 Cf. Elliott, 1968: 250-251.<br />

42 É óbvio que esta analogia entre a arte e a Natureza também terá um forte impacto na avaliação da objectivida<strong>de</strong><br />

dos juízos <strong>de</strong> gosto. Cf. M. W. Rowe, “The objectivity of aesthetic judgments” in The British<br />

Journal of Aesthetics, vol. 39, n. º 1, Oxford: Oxford University Press, 1999.<br />

43 Cf. Elliott, 1968: 253.<br />

44 Note-se que existe uma possível contradição entre esta passagem da secção 42 e o que Kant havia escrito na<br />

secção 5: “o juízo <strong>de</strong> gosto (…) é puramente contemplativo, ou seja, é um juízo que é indiferente à existência<br />

do objecto” (§5). Deve ser ressalvado, no entanto, que na secção 42, Kant está explicitamente a falar sobre<br />

a experiência do belo natural, <strong>de</strong>signadamente, a contemplação solitária (e sem a intenção <strong>de</strong> comunicar a<br />

outros as <strong>sua</strong>s observações) da “bela forma <strong>de</strong> uma flor selvagem, <strong>de</strong> uma ave, <strong>de</strong> um insecto, etc.” (§42).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!