01.07.2013 Views

O egoísmo lógico e a sua superação - Centro de Filosofia

O egoísmo lógico e a sua superação - Centro de Filosofia

O egoísmo lógico e a sua superação - Centro de Filosofia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A I<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Deus em Kant e Wittgenstein 585<br />

indivisível.”18 Ora, Wittgenstein, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> nos afirmar, na linha do atomismo <strong>lógico</strong>,<br />

que “o mundo é constituído <strong>de</strong> factos [Tatsachen]”19 e que “os factos no espaço<br />

<strong>lógico</strong> constituem o mundo”20, sendo os “factos, a existência <strong>de</strong> estados <strong>de</strong> coisas<br />

[Sachverhalten]”21, – a saber, é um facto, por exemplo, que existe, pelo menos, uma<br />

ca<strong>de</strong>ira neste mundo, do mesmo modo que é um facto que não estamos, neste momento,<br />

em Marte; por <strong>sua</strong> vez, os objectos estão interligados entre si em “estados <strong>de</strong> coisas”<br />

e aquilo que po<strong>de</strong>mos afirmar é a existência ou não <strong>de</strong>sses “estados <strong>de</strong> coisas”;<br />

quando afirmamos a <strong>sua</strong> existência ou a negamos, enunciamos um facto. No entanto,<br />

apesar <strong>de</strong> comungar esta visão in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e plural do mundo, sustenta, no<br />

parágrafo 6. 45, que “o sentimento do mundo como um todo limitado é o místico”22.<br />

Assim, Wittgenstein mostra-nos que o místico não está no postulado da metafísica<br />

tradicional e da mística clássica <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> absoluta, <strong>de</strong> um uno englobante<br />

que dissolve, dialecticamente ou não, a multiplicida<strong>de</strong> e a diferença, mas antes no<br />

sentimento do mundo como um “todo limitado”. Como sublinha Bouveresse, a<br />

palavra-chave aqui não é a “totalida<strong>de</strong>”, mas antes a percepção <strong>de</strong> uma “totalida<strong>de</strong><br />

limitada”23. O misticismo não é, assim, a percepção no mundo <strong>de</strong> uma substância<br />

infinita, oceânica, em que a pluralida<strong>de</strong> seria apenas, na expressão metafórica <strong>de</strong><br />

Virginia Woolf, um conjunto <strong>de</strong> “ondas perseguindo-se umas às outras perpetuamente”24,<br />

mas, sim, o sentimento <strong>de</strong> um “todo limitado”. Se é verda<strong>de</strong> que não<br />

po<strong>de</strong>mos enunciar nenhuma proposição com sentido sobre este sentimento <strong>de</strong> limite<br />

do todo – e cabe à filosofia a clarificação crítica <strong>de</strong>sta impossibilida<strong>de</strong> – é possível,<br />

no entanto, afirmar que o todo é “tudo o que é o caso”25 e que “tudo o que é o caso”<br />

18 “The logic which I shall advocate is atomistic, as opposed to the monistic logic […]. When I say that<br />

my logic is atomistic, I mean that I share the common-sense belief that there are many separate things;<br />

I do not regard the apparent multiplicity of the world as consisting merely in phases and unreal divisions<br />

of a single indivisible Reality.” (Bertrand Russell, “The Philosophy of Logical Atomism” (1918) in<br />

Logic and Knowledge. Essays 1901-1950, ed. Robert Charles Marsh, London/New York, Routledge,<br />

1988 [1956], p. 178).<br />

19 “Die Welt ist die Gesamtheit <strong>de</strong>r Tatsachen” (Wittgenstein, Tractatus § 1. 1).<br />

20 “Die Tatsachen im logischen Raum sind die Welt.” (I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m § 1. 13).<br />

21 “die Tatsache, ist das Bestehen von Sachverhalten.” (I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m § 2).<br />

22 “Das Gefühl <strong>de</strong>r Welt als begrenztes Ganzes ist das mystische.” (Wittgenstein, Tractatus § 6. 45).<br />

23 “Lorsque Wittgenstein dit que l’attitu<strong>de</strong> mystique est la perception (le «sentiment») du mon<strong>de</strong> comme<br />

totalité limitée, le mot important n’est donc vraisemblablement pas le mot «totalité», mais le mot<br />

«limitée».” (Jacques Bouveresse, Wittgenstein: la rime et la raison. Science, éthique et esthétique, Paris,<br />

Minuit, 1973, p. 42).<br />

24 “Gradually as the sky whitened a dark line lay on the horizon dividing the sea from the sky and the grey<br />

cloth became barrred with thick strokes moving, one after another, beneath the surface, flollowing each<br />

other, pursuing each other, perpetually.” (Virginia Woolf, The Waves, Herfortshire, Wordsworth Edition,<br />

2000 (1931), p. 3).<br />

25 “Die Welt ist alles, was <strong>de</strong>r Fall ist” (Wittgenstein, Tractatus 1).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!