01.07.2013 Views

O egoísmo lógico e a sua superação - Centro de Filosofia

O egoísmo lógico e a sua superação - Centro de Filosofia

O egoísmo lógico e a sua superação - Centro de Filosofia

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

712<br />

Fernanda Bernardo<br />

«aliança <strong>de</strong> paz» e visando a «paz perpétua», tem uma dimensão estritamente<br />

jurídico-política e é, além do mais, informada por uma certa concepção do político67<br />

a <strong>de</strong>ver ser repensada – uma concepção onto-teológica, apesar do reivindicado<br />

laicismo da Aufklärung kantiana. Será justamente a esta aliança que Derrida contraporá<br />

uma outra: uma aliança universal <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> viventes singulares,<br />

ainda não <strong>de</strong>finidos pela cidadania, isto é, pela <strong>sua</strong> condição <strong>de</strong> sujeitos <strong>de</strong> direito<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado Estado. Uma aliança universal <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s antes e para<br />

além do político que é o próprio do que o pensador-filósofo <strong>de</strong>signará por «<strong>de</strong>mocracia<br />

por vir»68 ou por «nova Internacional» <strong>de</strong>mocrática.<br />

E esta dimensão estritamente jurídico-filosófica da hospitalida<strong>de</strong> em se<strong>de</strong><br />

kantiana vai reafirmar a <strong>sua</strong> condicionalida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>finição que <strong>de</strong>la dá o próprio<br />

filósofo. O que nos leva agora a atentar na segunda palavra sublinhada por Kant no<br />

próprio enunciado <strong>de</strong>ste Terceiro Artigo Definitivo para a Paz Perpétua, a saber, a<br />

palavra Hospitalität, <strong>de</strong>r allgemeinen Hospitalität – hospitalida<strong>de</strong>, hospitalida<strong>de</strong><br />

universal. Pelo uso <strong>de</strong>sta palavra alemã <strong>de</strong> etimologia latina Kant elabora ao mesmo<br />

tempo a constituição e a auto-<strong>de</strong>sconstrução do seu conceito e da <strong>sua</strong> lei da<br />

hospitalida<strong>de</strong> universal.<br />

Com efeito para <strong>de</strong>finir a hospitalida<strong>de</strong>, Kant usa uma palavra alemã <strong>de</strong><br />

etimologia latina, o que é uma formidável questão se tivermos, para já, em conta<br />

pelo menos duas coisas. Uma, o facto <strong>de</strong>, para o bem e para o mal, e digo bem, para<br />

o bem e para o mal, para ambas as coisas, a hospitalida<strong>de</strong> passar sempre pela língua<br />

ou pelo idioma69 e <strong>de</strong>ixar por isso sempre muito a <strong>de</strong>sejar70… Outra, o facto <strong>de</strong>,<br />

lembremo-lo, tanto Hegel como Hei<strong>de</strong>gger71 fazerem questão <strong>de</strong> afirmar as virtu<strong>de</strong>s<br />

politique reste dominant, au moment même où beaucoup <strong>de</strong> forces sont en train <strong>de</strong> le disloquer: la<br />

souveraineté <strong>de</strong> l’État n’est plus liée à un territoire, les technologies <strong>de</strong> communication et la stratégie<br />

militaire non plus, et cette dislocation met effectivement en crise le vieux concept européen du<br />

politique.», Apprendre à vivre enfin, Galilée/Le mon<strong>de</strong>, Paris, 2005, p. 48.<br />

68 «Ce que j’appelle “démocratie à venir” débor<strong>de</strong>rait les limites du cosmopolitisme, c’est-à-dire d’une<br />

citoyenneté du mon<strong>de</strong>. Elle s’accor<strong>de</strong>rait avec ce qui laisse «vivre ensemble» <strong>de</strong>s vivants singuliers<br />

(n’importe qui), là où ils ne sont pas encore définis par une citoyenneté», J. Derrida, «Auto-immunités,<br />

suici<strong>de</strong>s réels et symboliques» in op. cit., p. 190.<br />

69 Cf. J. Derrida, Da hospitalida<strong>de</strong>, pp. 68, 86-88. A língua é, notemo-lo, o elemento da universalida<strong>de</strong> ou<br />

da generalida<strong>de</strong> que fere, não só a singularida<strong>de</strong> do outro, como a relação incondicional que o acolhe.<br />

70 Cf. também Fernanda Bernardo, «Como uma língua por inventar, a hospitalida<strong>de</strong> poética <strong>de</strong> Derrida.<br />

Tradução, hospitalida<strong>de</strong> e altermundialização» in Phainomenon, nº 9, Out., 2004, pp. 9-67.<br />

71 «Je pense à la parenté particulière qui est à l’intérieur <strong>de</strong> la langue alleman<strong>de</strong> avec la langue <strong>de</strong>s Grecs<br />

et leur pensée. C’est une chose que les Français aujourd’hui me confirment sans cesse. Qu’ils commencent<br />

à penser, ils parlent allemand: ils assurent qu’ils n’y arriveraient pas dans leur langue.», Hei<strong>de</strong>gger,<br />

interrogé par Der Spiegel, Réponses et Questions sur l’histoire et la politique, Mercure <strong>de</strong> France,<br />

MCMLXXXVIII, pp. 66-67.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!