03.07.2013 Views

Transformando corpos em pergaminhos - Nucleo de Humanidades ...

Transformando corpos em pergaminhos - Nucleo de Humanidades ...

Transformando corpos em pergaminhos - Nucleo de Humanidades ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Emilene Leite <strong>de</strong> Sousa<br />

chamamos <strong>de</strong> crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> provocada pela <strong>de</strong>scentração, <strong>de</strong>slocamento<br />

e fragmentação das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas (HALL, 2005).<br />

A primeira dificulda<strong>de</strong> para enten<strong>de</strong>r esta crise, resi<strong>de</strong> na própria<br />

<strong>de</strong>finição do termo i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, pois “esse processo amplo <strong>de</strong> mudanças<br />

<strong>de</strong>sloca estrutura e processos centrais das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas<br />

e os quadros <strong>de</strong> referências que davam aos indivíduos uma ancorag<strong>em</strong><br />

estável do mundo social” (HALL, 2005).<br />

Assim teríamos, grosso modo, três concepções básicas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Uma primeira concepção individualista do sujeito e <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />

resultante do iluminismo, que aposta no sujeito com uma essência,<br />

unos, indiviso. Uma concepção essencialista da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Uma segunda concepção do sujeito sociológico, on<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

resultaria do diálogo, interação ou confronto entre sujeito e estrutura.<br />

Uma interpretação sociológica da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

E uma terceira concepção, essa pós-mo<strong>de</strong>rna, com uma noção<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> líquida, não-fixa e circunstancial (BAUMAN, 2001; BHABHA,<br />

1998).<br />

É importante enfatizar que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coerente resulta <strong>em</strong><br />

gran<strong>de</strong> parte da narrativa do “eu”, e a mudança se dá exatamente<br />

porque a Sociologia cont<strong>em</strong>porânea prefere, <strong>de</strong> certa forma, falar da<br />

pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “eus” <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> um eu essencial. Além disso,<br />

esses eus múltiplos não seriam necessariamente harmoniosos, po<strong>de</strong>ndo<br />

entrar <strong>em</strong> conflito <strong>em</strong> algumas situações (GOFFMAN, 1985).<br />

Também porque as socieda<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>porâneas são socieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> mudanças constantes, rápidas, socieda<strong>de</strong>s efêmeras, o que resulta<br />

<strong>em</strong> parte dos impactos da globalização sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural<br />

(BAUMAN, 1998; HALL, 2005; SEMPRINI, 1999).<br />

Assim, t<strong>em</strong>os cada vez mais a diferença como característica<br />

<strong>de</strong>stas socieda<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> sinais diacríticos e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s são parcialmente<br />

articulados, não <strong>de</strong>sintegrando socieda<strong>de</strong>s e compondo a história.<br />

Agora a força da socieda<strong>de</strong> é o movimento, a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, a<br />

fragmentação, a ruptura, o <strong>de</strong>slocamento (HANNERZ, 1997).<br />

Por essa razão, alguns autores acreditam que o termo mais<br />

a<strong>de</strong>quado para falar <strong>de</strong>sse processo pelo qual passa o sujeito<br />

<strong>de</strong>scentrado seria “i<strong>de</strong>ntificação” e não “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>”, pois i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

nos r<strong>em</strong>ete a algo dado, pronto, acabado e i<strong>de</strong>ntificação nos faz pensar<br />

na construção constante da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> a partir da ação, como<br />

processo e não como produto e cuja ênfase estaria no 5por-vir, no vira-ser,<br />

no <strong>de</strong>vir, no “está sendo”.<br />

Assim, as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s da pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> são híbridos culturais<br />

(HANNERZ, 1997): línguas, religiões, costumes, tradições, sentimen-<br />

58 Ciências Humanas <strong>em</strong> Revista - São Luís, V.5, n.2, <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro 2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!