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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO<br />

GRANDE DO SUL – UNIJUÍ<br />

CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS<br />

A PRÁTICA DO ENSINAR E DO APRENDER A FAZER<br />

PESQUISA EM COMPONENTES CURRICULARES DE UM<br />

CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA<br />

Maio/2007<br />

JUDITE SCHERER WENZEL<br />

Orientadora:<br />

Profª Drª Lenir Basso Zanon


UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO<br />

GRANDE DO SUL – UNIJUÍ<br />

CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS<br />

A PRÁTICA DO ENSINAR E DO APRENDER A FAZER<br />

PESQUISA EM COMPONENTES CURRICULARES DE UM<br />

CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA<br />

JUDITE SCHERER WENZEL<br />

Orientadora:<br />

Profª Drª Lenir Basso Zanon<br />

Label1<br />

Texto apresentado para a Defesa Final<br />

Maio / 2007<br />

Data: 04 / 05 / 2007<br />

Comissão Julgadora:<br />

Profª. Drª. Maria do Carmo Galiazzi<br />

Prof. Dr. Otavio Aloisio Maldaner<br />

Prof. Dr. Milton Antônio Auth<br />

2


AGRADECIMENTOS<br />

- à minha orientadora Lenir Basso Zanon, que durante esta caminhada sempre<br />

recebeu a mim e ao meu trabalho, com disponibilidade, respeito e muita dedicação.<br />

- ao Leandro, pelo acompanhamento, pelo incentivo e por me ajudar a concretizar<br />

mais esta etapa de minha vida.<br />

- aos meus pais, à minha irmã e demais familiares pela preocupação constante, pela<br />

confiança depositada em mim e pelas palavras de incentivo durante toda a<br />

caminhada.<br />

- aos professores do Mestrado que sempre estavam dispostos a ajudar, em especial,<br />

aos professores Dr. Otávio Aloisio Maldaner e Dr. Milton Auth pelas valiosas<br />

contribuições na ocasião do exame de qualificação.<br />

- ao grupo de bolsistas do GIPEC pela boa acolhida, pela companhia, pela amizade<br />

e pela disponibilidade de ajuda.<br />

- aos licenciandos que participaram da pesquisa, pelo seu empenho, sua<br />

disponibilidade e atenção.<br />

- aos meus companheiros de viagem a Ijuí, pelas conversas, pela companhia, pela<br />

ajuda, pelas palavras de incentivo e pela amizade que foi sendo construída.<br />

- à família da minha orientadora, que sempre me acolheu com muito carinho e<br />

atenção em sua casa.<br />

- enfim, agradeço a todas as pessoas, que de alguma maneira conviveram comigo<br />

durante esta importante e muitas vezes difícil etapa de minha vida, pela sua<br />

compreensão nas ausências, pela torcida e pelo amor transmitido.<br />

- à CAPES pelo financiamento da pesquisa.<br />

3


RESUMO<br />

O presente trabalho insere-se nas discussões, no âmbito educacional, quanto à<br />

problemática da formação inicial docente, especificamente, da formação inicial de<br />

professores de Química. A discussão traz o aprender a fazer pesquisa como uma<br />

possibilidade para a superação do modelo de formação docente calcado na racionalidade<br />

técnica. Parte-se do pressuposto de que para a melhoria da formação inicial docente é<br />

necessário uma (re)construção histórica e cultural das concepções com base nas quais são<br />

organizados os currículos e as práticas formativas, criando novos espaços interativos<br />

pautados na inovação quanto a modelos de formação que ampliem a visão do ser professor<br />

e do ensinar química. Nessa perspectiva, o referencial teórico tem como base, além do<br />

apoio teórico da literatura que trata da pesquisa educacional do professor em formação, a<br />

perspectiva histórico-cultural, cujo precursor é o psicólogo russo L. S. Vigotski, cujo princípio<br />

central consiste na visão de que o desenvolvimento do individuo é resultado de um processo<br />

mediado histórica e culturalmente, nas interações sociais, enfatizando o papel da linguagem<br />

e da aprendizagem no desenvolvimento humano. Conta-se com apoio teórico de autores<br />

que defendem o educar pela pesquisa na formação do professor, como Demo, Lüdke,<br />

André, Maldaner, Galiazzi, Moraes, Ramos, Schnetzler, entre outros. São analisados<br />

espaços curriculares que, ao longo da formação docente inicial, propiciam o aprender a<br />

fazer pesquisa. A hipótese de investigação acredita na importância da inserção destes<br />

espaços, e vê a participação do licenciando em cada etapa do fazer pesquisa como<br />

participante na sua constituição como um professor que se torne pesquisador de sua<br />

prática. Para isso foram realizadas análises documentais do Projeto do Curso de Química<br />

Licenciatura, das Ementas Curriculares, dos Planos de Ensino dos Componentes<br />

Curriculares acompanhados. Foram aplicados questionários e realizadas entrevistas semiestruturadas,<br />

gravadas em áudio e posteriormente degravadas, com licenciandos que<br />

vivenciaram na sua formação inicial processos do aprender a fazer pesquisa. Também<br />

foram analisados alguns relatórios finais de pesquisa elaborados pelos mesmos, com o<br />

objetivo de qualificar a pesquisa por eles vivenciada. Os relatórios analisados constituem-se<br />

no primeiro ensaio de pesquisa, na primeira prática do fazer pesquisa vivenciada pelos<br />

licenciandos, em sua formação. Com o objetivo de verificar a prática do aprender a fazer<br />

pesquisa em sala de aula foram acompanhadas aulas, com registros em caderno de campo,<br />

para posterior análise. Inicialmente discute-se com o referencial teórico as limitações do<br />

modelo de formação baseado na racionalidade técnica, que acredita ser o professor um<br />

transmissor de verdades prontas, desconsiderando a complexidade da prática escolar,<br />

partindo dessa problemática defende-se a inserção de espaços do fazer pesquisa como<br />

propiciadores de um outro caminho de formação. Discute-se diferentes concepções de<br />

professor pesquisador, bem como, de entendimentos sobre o que é pesquisa e sobre os<br />

diferentes níveis de pesquisa, numa visão que supera entendimentos simplistas de tais<br />

práticas. Os resultados denotam uma multiplicidade de fatores envolvidos na prática do<br />

ensinar e aprender a fazer pesquisa no âmbito da formação inicial, evidenciando a<br />

importância da significação da linguagem específica, de instrumentos culturais, como a<br />

linguagem (pela fala ou pela escrita) e a leitura, necessários de ser significados no fazer<br />

pesquisa. Essa significação ocorre mediante necessárias mediações do professor<br />

orientador, que já é um pesquisador. São apontados e discutidos, também, limites e<br />

potencialidades da prática no contexto acompanhado.<br />

4


ABSTRACT<br />

The present project takes part in the discussion, in the educational sphere, concerning the<br />

problematic of teacher initial formation, especifiically chemistry-teacher initial formation. The<br />

discussion tackles the researching learning as a possibility to overcome the based on technic<br />

rationality teacher-formating pattern. We start with the supposition that to improve the<br />

teacher initial formation it's necessary to (re)build cultural and historically the conceptions on<br />

which the curriculum components and the formative practices are based, creating new<br />

interactive spaces supported by an innovation in formation patterns so that the perception of<br />

being a teacher and teaching chemistry is enlarged. In this perspective, the theoric reference<br />

is concreted by the historical and cultural issue, whose precursor is L. S. Vigotski, apart from<br />

the theoric support given by the literature related to the educational research of the teacher<br />

in formation. Vigotski is a russian psychologist who has as main principle the assertive that<br />

the individuals development results of a process controlled by history and culture in the<br />

social interactions, emphasizing the role of language and learning in the human<br />

development. The theorical support of authors who defend the teaching by research in<br />

teachers formation, like Demo, Lüdke, André, Maldaner, Galiazzi, Moraes, Ramos,<br />

Schnetzler, is counted on. Curricular spaces that give the opportunity to learn how to<br />

research properly along the teacher initial formation are analysed. The investigation<br />

hypothesis afirms the importance of allowing such spaces and hopes the participation of<br />

each formating teacher in every phase of the reseaching process, becoming a teacher<br />

reseacher of its own practice. Therefore, documental analysis were accomplished in the<br />

Bachelor Degree Chemestry Course Project, in the Curricular Amendments and in the<br />

Teaching Plans of Curricular Components. Questionnaires were aplied and semi-structural<br />

interviews were made, recorded in audio and later derecorded, with bacheloring teachers<br />

that experimented processes involving the research know-how in their teacher initial<br />

formation. Also final relatories made by such interviewed people were analysed, aiming at a<br />

qualification of the research experimented by them. These relatories make up the first<br />

experience of research of the bacheloring, in its formation. With the objective of verifying the<br />

practice of learning how to research in classroom, classes were watched, with latter register<br />

in camp notebook for analysing. Initially, it is discussed with the theoric reference the<br />

limitations of the formation pattern based on technic rationality, which shows the teacher as a<br />

conveyor of finished facts. Considering the complexity in the teaching practice, we defend<br />

the inclusion of the researching as opportunity to other formation ways. Different teacherresearcher<br />

conceptions are discussed, like the understanding about what research is in fact,<br />

different levels of research, and so on, in a point of view that overcome simple understanding<br />

about such practices. The results show plenty of factors involving the teaching and learning<br />

how to research in the initial formation, evidencing the importance of the especifical language<br />

meaning, of cultural tools, as the language and the reading, necessary in the research<br />

practice. The meaning becomes possible through mediations taken by the guide teacher,<br />

who already is a researcher. Limits and potencialities of such practice are also discussed.<br />

5


SUMÁRIO<br />

Introdução ..............................................................................................................07<br />

As Origens da Caminhada da Investigação ...........................................................07<br />

Um Olhar para o Fazer Pesquisa no Cenário da Formação Docente Inicial...........09<br />

O Contexto e os Caminhos Percorridos na Execução da Pesquisa .......................15<br />

Cap 1. O Contexto Problemático da Formação Inicial de Professores<br />

de Química ......................................................................................................27<br />

1.1. Modelo de Formação Inicial Pautado na Racionalidade Técnica.................... 27<br />

1.2. A Problemática da Desarticulação dos Saberes no Âmbito da Racionalidade<br />

Técnica.............................................................................................................. 32<br />

1.3. Caminhos em Busca de uma Nova Racionalidade Articuladora de<br />

Saberes..............................................................................................................37<br />

Cap 2. A Pesquisa Como Aliada na Formação Inicial de Professores ...............40<br />

2.1. O Fazer Pesquisa como Caminho e a Constituição do Professor Pesquisador<br />

em Formação Inicial........................................................................................41<br />

2.2. De Qual Pesquisa Falamos? ..........................................................................50<br />

2.3. A Busca por uma Qualificação do Fazer Pesquisa em Sala de Aula .............56<br />

2.4. A mediação do Outro no Ensinar e no Aprender a Fazer Pesquisa ...............64<br />

2.5. A Apropriação dos Instrumentos Culturais do Fazer Pesquisa na Constituição<br />

do Professor Pesquisador em Formação Inicial ...............................................66<br />

Cap 3. A Formação Inicial pela Pesquisa – Interlocuções no Âmbito<br />

Prático do Contexto Investigado ..............................................................75<br />

3.1. Um Olhar ao Projeto Curricular do Curso Acompanhado................................75<br />

3.1.1. O Fazer Pesquisa num Olhar para as Ementas Curriculares ......................80<br />

3.1.2. Uma Análise dos Planos de Ensino dos Componentes Curriculares<br />

Investigados ....................................................................................................81<br />

3.2. Percepções dos Licenciandos sobre o Fazer Pesquisa Vivenciado................85<br />

3.2.1. Percepções Gerais dos Licenciandos sobre o Aprender a Fazer Pesquisa..86<br />

3.2.2. As Etapas do Fazer Pesquisa Vivenciadas pelos Licenciandos nos<br />

Componentes Curriculares Acompanhados....................................................95<br />

3.2.3. Os Limites do Fazer Pesquisa para os Licenciandos no Contexto<br />

Investigado ......................................................................................................103<br />

3.2.4. Contribuições da Prática do Fazer Pesquisa Vivenciada para a Formação<br />

Docente ........................................................................................................107<br />

3.3. Qualificação do Fazer Pesquisa, Partindo da Análise de Relatórios de<br />

Pesquisa ..........................................................................................................114<br />

3.4. Descrição de uma Prática do Aprender a Fazer Pesquisa ...........................120<br />

Considerações Finais ...........................................................................................124<br />

Referências ............................................................................................................129<br />

6


INTRODUÇÃO<br />

As Origens da Caminhada da Investigação<br />

A presente pesquisa é decorrente de preocupações durante e, em especial,<br />

ao final da minha formação inicial num curso de química licenciatura. Realizada em<br />

uma universidade pública bastante tradicional e reconhecida, não esperava vivenciar<br />

problemas que muito me angustiaram, devido a um grande distanciamento e<br />

desarticulação entre as disciplinas de conteúdos específicos de química e as<br />

‘pedagógicas’, como costumávamos chamar. As primeiras tinham uma maior carga<br />

horária e, pelo seu maior nível de ‘cobrança’ em provas, eram mais valorizadas<br />

pelos próprios acadêmicos, meus colegas, enquanto que as ‘pedagógicas’ ficavam<br />

sempre em segundo plano. Talvez tal desvalorização fosse decorrente da falta de<br />

abordagem sobre o ensino de química no âmbito das disciplinas pedagógicas, e<br />

vive-versa, dificultando a participação e a compreensão das mesmas.<br />

Vale ressaltar que uma das maiores dificuldades vivenciadas por mim e pelos<br />

meus colegas foi na ocasião da realização do estágio curricular, apenas nos últimos<br />

semestres do curso. Era visível e preocupante o distanciamento e a falta de<br />

interação entre a universidade e a escola, de encontros sistemáticos que nos<br />

possibilitassem formas de reflexão sobre as ações de planejamento e sobre nossas<br />

primeiras práticas docentes, bem como, sobre os nossos próprios processos de<br />

formação. Antes da prática em sala de aula, vivenciamos alguns momentos de<br />

observação em sala de aula, porém, os mesmos não foram objetos de discussão, de<br />

estudos e orientação, por isso, preocupávamo-nos com a precariedade da<br />

contribuição de tais observações para a nossa formação docente inicial.<br />

Em decorrência dessas dificuldades vivenciadas, passei, na graduação, a<br />

buscar e fazer leituras sistemáticas sobre a formação docente. Vários referenciais<br />

lidos abordavam a necessidade do professor pesquisador, crítico e reflexivo, de<br />

novos modelos e novas práticas de formação inicial, mais direcionadas a contribuir<br />

7


para a promoção das mudanças na educação escolar. As leituras propiciaram<br />

questionamentos e idéias que começaram a inquietar-me sempre mais. Comecei a<br />

defender a idéia de que para o professor se tornar um pesquisador de sua prática,<br />

uma alternativa seria aprender a fazer pesquisa já na sua formação inicial. Desta<br />

idéia decorriam vários questionamentos: como a prática do fazer pesquisa na<br />

graduação poderia contribuir para uma melhor formação docente inicial? Como<br />

poderia ser essa prática de formação, diferente da por mim vivenciada? Seria melhor<br />

em que sentido? Conseguiria superar as dicotomias que eu vivenciei? Como a<br />

pesquisa contribuiria para a formação do professor pesquisador? Como ela poderia<br />

ser trabalhada, inserida e articulada num currículo de formação de professores de<br />

química? Que prática de pesquisa seria essa?<br />

Esses são alguns dos questionamentos que me levaram a prosseguir nos<br />

estudos no âmbito da educação, em nível de mestrado, e realizar uma pesquisa na<br />

área da educação química, especificamente, quanto à pesquisa na formação<br />

docente inicial. Para a continuidade dos estudos busquei o Programa de Pós-<br />

Graduação em Educação nas Ciências da <strong>Unijuí</strong>. Durante a caminhada, os estudos<br />

e reflexões propiciados ajudaram a enriquecer minhas concepções teóricas relativas<br />

à formação docente inicial e à educação de modo geral. Ainda são amplos os<br />

questionamentos e as inquietações que demandam aprofundamentos nos estudos e<br />

nas investigações.<br />

O que é apresentado neste trabalho resulta da investigação que desenvolvi<br />

na perspectiva de apontar alguns caminhos que poderão servir aos cursos de<br />

licenciatura como um todo, acenando para o desenvolvimento de uma formação<br />

docente inicial menos tecnicista, sobre a qual passo a discorrer, a seguir, tendo a<br />

prática do ensinar e do aprender a fazer pesquisa como alternativa de superação do<br />

modelo de formação inicial por mim vivenciado.<br />

8


Um Olhar para o Fazer Pesquisa no Cenário da Formação Docente Inicial<br />

Os estudos e as preocupações com a formação de professores têm se<br />

acentuado a partir da última década do século passado, o que está relacionado,<br />

também, com as novas políticas educacionais, aliadas às reformas da educação<br />

básica e universitária no país. Entre os anos de 1980 e 1990 houve um crescente<br />

movimento de profissionalização do ensino, que repercutiu nas reformas da<br />

formação dos professores. Pesquisas educacionais passaram a dar ênfase na<br />

questão dos saberes e às competências na formação inicial de professores.<br />

Segundo Laranjeira et al (1999), apud Borges e Tardif:<br />

o novo referencial para a formação de professores reconhece que o docente<br />

é um profissional; que a natureza do seu trabalho é definida em função do<br />

entendimento de que o professor atua com e nas relações humanas; que a<br />

gestão em sala de aula, tarefa que é de sua responsabilidade por<br />

excelência, exige o confronto com situações complexas e singulares, cuja<br />

solução nem sempre é dada a priori (BORGES, Cecília; TARDIF, Maurice,<br />

2001, p.14).<br />

Essas repercussões do movimento de profissionalização se prolongam nas<br />

diferentes reformas em curso no Brasil. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação<br />

Nacional (Lei nº 9.394/96) propõe a Educação Básica com um caráter não<br />

propedêutico e com uma visão mais rica de aprendizagem e desenvolvimento dos<br />

educandos. Nos dizeres de Pereira, a visão de ensino articulada nesta Lei,<br />

está alicerçada na concepção de desenvolvimento e aprendizagem como<br />

processos, na idéia de que não se constroem conhecimentos significativos<br />

de forma cumulativa e no pressuposto de que os conhecimentos se<br />

produzem nas interações e vivências, em empreendimentos, na busca de<br />

respostas às perguntas que os educandos se fazem (PEREIRA, 1999,<br />

p.115).<br />

Porém, o que se percebe é que as mudanças propostas nesta visão de<br />

ensino, pouco chegam às salas de aula efetivamente. As propostas educacionais<br />

vigentes, segundo Brasil (1999), são caracteristicamente de caráter apenas<br />

propedêutico, preparatórias para séries e graus de ensino seguintes, numa visão<br />

linear, conteudista e cumulativa de ensino, pouco se preocupando com a<br />

necessidade de desenvolver uma educação voltada para a melhoria da convivência<br />

e da qualidade da vida nas práticas sociais.<br />

9


Ainda no âmbito da reforma educacional em andamento, as atenções<br />

passaram a se voltar para Cursos de Formação Docente Inicial. Traçaram-se as<br />

Diretrizes Curriculares Nacionais, aprovadas em 2001 pelo Conselho Nacional de<br />

Educação, diretrizes que enfocam diferentes funções da Educação no meio social e<br />

também o exercício profissional dos professores. Segundo as Diretrizes Curriculares<br />

Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em cursos de nível<br />

superior,<br />

as questões a serem enfrentadas na formação são históricas. No caso da<br />

formação nos cursos de licenciatura, em seus moldes tradicionais, a ênfase<br />

está contida na formação nos conteúdos da área, onde o bacharelado surge<br />

como a opção natural que possibilitaria, como apêndice, também, o diploma<br />

de licenciado. Neste sentido, nos cursos existentes, é a atuação do físico,<br />

do historiador, do biólogo, por exemplo, que ganha importância, sendo que<br />

a atuação destes como “licenciados” torna-se residual e é vista, dentro dos<br />

muros da universidade, como “inferior”, em meio à complexidade dos<br />

conteúdos da “área”, passando muito mais como atividade “vocacional” ou<br />

que permitiria grande dose de improviso e auto-formulação do “jeito de dar<br />

aula” (BRASIL, 2001, p. 13).<br />

Essa problemática não é recente, e ela precisa ser vista em sua<br />

complexidade, remetendo para discussões em torno do modelo formativo baseado<br />

na racionalidade técnica que, apesar de criticado, ainda predomina, amplamente,<br />

nos cursos de formação. Conforme refere Pereira (1999), a formação docente<br />

constituída pela conhecida fórmula “3 + 1”, em que as disciplinas de natureza<br />

pedagógica, cuja duração prevista era de um ano, justapunham-se às disciplinas de<br />

conteúdo, com duração de três anos, na literatura educacional, é uma expressão<br />

visível do modelo da racionalidade técnica. Nos dizeres de Schön:<br />

a racionalidade técnica diz que os profissionais são aqueles que solucionam<br />

problemas instrumentais, selecionando os meios técnicos mais apropriados<br />

para propósitos específicos. Profissionais rigorosos solucionam problemas<br />

instrumentais claros, através da teoria e da técnica derivadas de<br />

conhecimento sistemático, de preferência científico (SCHÖN, 2000, p. 15).<br />

No modelo da racionalidade técnica, o docente é formado como um técnico<br />

que executa determinadas tarefas mediante a aplicação de teorias produzidas fora<br />

da prática, por grupos de especialistas, desconsiderando a complexidade e a<br />

dinamicidade das relações entre teorias e práticas docentes. Decorrente desta<br />

formação, o professor torna-se refém de livros didáticos, pois, não se considera um<br />

sujeito capaz de participar da (re)construção de conhecimentos, predominando em<br />

10


sala de aula um ensino baseado no modelo de ‘transmissão-recepção’, que pouco<br />

contribui para a formação e o desenvolvimento dos estudantes.<br />

Prevalece a visão de senso comum do ser professor. Acredita-se que para ser<br />

professor basta dominar os conteúdos específicos da disciplina que vai ensinar e<br />

usar algumas “técnicas pedagógicas”, teorias e técnicas produzidas fora dos<br />

contextos práticos, a serem, depois, aplicadas na prática de sala de aula. Reforça-se<br />

com isso a concepção de que “ensinar é fácil” e que, assim, qualquer um pode se<br />

tornar professor, independente da sua formação, pois não se considera a<br />

complexidade da prática escolar (Carvalho e Gil-Péres, 1993).<br />

Concorda-se que o conhecimento específico da disciplina a ser ensinado pelo<br />

professor é primordial para a ação docente, porém essa não é condição suficiente.<br />

Os programas de formação docente inicial precisam ir além da aquisição de<br />

conhecimentos específicos, superando as concepções de que os problemas<br />

educacionais se reduzem a soluções técnicas, numa visão de aplicabilidade direta<br />

da teoria, elaborada por outros, em qualquer prática de sala de aula.<br />

A visão simplista do ser professor, na maioria dos cursos de formação inicial,<br />

conforme Marcelo (1997), não é problematizada, permanecendo predominante nas<br />

práticas pedagógicas dos futuros docentes como sendo algo natural e correto em<br />

decorrência de toda a sua ‘formação ambiental’ ao longo da escolarização. Por isso,<br />

para mudar as práticas educacionais, ainda vigentes, é necessário rever os espaços,<br />

os modelos e as práticas de formação dos professores.<br />

Em particular, neste trabalho, a atenção se volta para a formação inicial de<br />

professores de Química, inserida num processo de formação docente continuada,<br />

nunca reduzido à formação inicial de um curso de licenciatura. A idéia de formação<br />

continuada supera, por outro lado, a visão simplista de que o aprender a ser<br />

professor será apenas com a prática de sala de aula, reduzindo a atividade docente<br />

em um saber fazer que reproduz modelos observados. Defende-se uma formação<br />

continuada que busque uma articulação da prática com teorias que a iluminem e a<br />

critiquem, nos dizeres de Pimenta e Lima:<br />

11


o papel das teorias é iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para a<br />

análise e investigação que permitam questionar as práticas<br />

institucionalizadas e as ações dos sujeitos e, ao mesmo tempo, colocar elas<br />

próprias em questionamento, uma vez que as teorias são explicações<br />

sempre provisórias da realidade (PIMENTA e LIMA, p. 43, 2004).<br />

Acredita-se na importância de ocorrer, na formação inicial de professores,<br />

uma conscientização em relação à necessidade de sempre ir à busca de outros<br />

conhecimentos, de um referencial teórico e de outras práticas. O Curso em<br />

investigação propõe como caminho para a conscientização da necessidade da<br />

formação continuada o aprender a fazer pesquisa desde o inicio da graduação, com<br />

a perspectiva da formação de professores pesquisadores.<br />

A literatura (Maldaner, 2003; Galiazzi, 2003; Moraes, 2002; Lüdke 2001;<br />

André, 2001; Schnetzler 2000; Zeichner 2005; Perrenoud 1999; Tardif 2002) têm<br />

apontado para a importância de instituir dinâmicas de organização curricular<br />

articuladas por espaços de formação pela pesquisa, como alternativa para a<br />

superação do modelo tecnicista de formação, pautado na racionalidade técnica. A<br />

pesquisa vem sendo entendida, por alguns dos autores, como uma atividade de<br />

‘aprender a aprender’, propiciando aos sujeitos recursos para argumentar, construir<br />

e reconstruir conhecimentos. Segundo Galiazzi e Moraes:<br />

a iniciativa de repensar e reestruturar a formação inicial de professores com<br />

base no educar pela pesquisa, para poder atingir a melhoria de sua<br />

qualidade, parte da convicção da necessidade de superar a aula<br />

caracterizada pela simples cópia, transformando os licenciandos, de<br />

objetos, em sujeitos das relações pedagógicas assumindo-se autores de<br />

sua formação por meio da construção de competências de crítica e de<br />

argumentação, o que leva a um processo de aprender a aprender<br />

(GALIAZZI e MORAES, 2002, p. 238).<br />

A falta de articulação de ensino e pesquisa na formação inicial docente é<br />

apontada nos dizeres das Diretrizes Curriculares Nacionais, “a formação de<br />

professores para os diferentes segmentos da escola básica tem sido realizada<br />

muitas vezes em instituições que não valorizam a prática investigativa” (p. 19).<br />

Percebe-se uma preocupação em relação à inserção e articulação do fazer pesquisa<br />

na formação inicial de professores, no entanto, ainda são incipientes as iniciativas de<br />

desenvolvê-la na prática, justificando-se, assim, a importância de promovê-la e<br />

investigá-la, a exemplo do presente trabalho.<br />

12


Exigências das reformas curriculares poderão vir a desdobrar-se em formas<br />

mais amplas de superação do modelo da racionalidade técnica, cabendo aos cursos<br />

de licenciatura redefinir sua organização de modo a proporcionar um repensar do<br />

perfil do docente formado, não mais como um mero técnico aplicador de<br />

conhecimentos externos a ele e ao seu trabalho, mas como sujeito da construção e<br />

reconstrução do conhecimento. Novas proposições, orientações e regulamentações<br />

estão sendo apresentadas, como é o caso da valorização da pesquisa do professor<br />

em formação inicial, visando melhor responder à problemática da formação, na<br />

perspectiva de superar problemas encontrados e denunciados nas pesquisas e no<br />

cotidiano da sala de aula, a partir das próprias realidades vivenciadas e<br />

problematizadas.<br />

Toda essa preocupação com a formação docente inicial decorre da<br />

complexidade do fazer docente num mundo em constantes transformações e<br />

incertezas. Segundo André:<br />

a tarefa do professor no dia-a-dia de sala de aula é extremamente<br />

complexa, exigindo decisões imediatas e ações, muitas vezes<br />

imprevisíveis. É extremamente importante que ele aprenda a observar, a<br />

formular questões e hipóteses e a selecionar instrumentos e dados que o<br />

ajudem a elucidar seus problemas e a encontrar caminhos alternativos na<br />

sua prática docente. E nesse particular os cursos de formação têm um<br />

importante papel: o de desenvolver, com os professores, essa atitude<br />

vigilante e indagativa, que os leve a tomar decisões sobre o que fazer e<br />

como fazer nas suas situações de ensino, marcadas pela urgência e pela<br />

incerteza (ANDRÉ, 2001, p. 59).<br />

O que se espera, portanto, é a criação de novos espaços e tempos formativos<br />

que tendo a prática do fazer pesquisa como aliada, propiciem aos futuros docentes<br />

habilidades decorrentes de tal prática, como selecionar problemas, de sua escola e<br />

da sala de aula, que demandam pesquisa e, assim, poder produzir novos<br />

conhecimentos profissionais, aliados à ousadia de questionar, de discutir e de<br />

propor, responsavelmente, novos caminhos para o exercício profissional, bem como,<br />

de se tornarem orientadores da pesquisa de seus alunos.<br />

No presente estudo, com apoio da literatura já mencionada, o processo de<br />

formação inicial é entendido numa perspectiva de superação da formação vista<br />

como um mero processo de repasse de determinados conhecimentos teóricos, de<br />

13


superação da aula entendida como simples cópia; bem como, na superação da<br />

visão simplista de que ser professor é equivaler-se a um técnico ‘repassador’ de<br />

conhecimentos verdadeiros, externos a ele e a sua realidade escolar.<br />

Neste sentido, o tema em estudo, é a formação inicial de professores de<br />

química, especificamente, na qualificação de espaços do ensinar e do aprender a<br />

fazer pesquisa, enquanto componente essencial à formação para o exercício<br />

profissional, acreditando numa formação menos fragmentada, menos tecnicista,<br />

numa problemática que pode vir a superar os descompassos postos pelo modelo da<br />

racionalidade técnica. Partindo das necessidades de mudanças na formação inicial<br />

de professores, apresenta-se resultados de um estudo de alguns Componentes<br />

Curriculares em implantação, que propõem espaços do fazer pesquisa num Curso<br />

de Licenciatura em Química que inicialmente se encontrava em fase de implantação<br />

e teve sua aprovação no decorrer da pesquisa.<br />

Focalizando o olhar para a prática do ensinar e do aprender a fazer pesquisa<br />

no âmbito do contexto formativo investigado, o estudo esteve orientado pelos<br />

seguintes objetivos:<br />

- compreender como acontece a formação docente inicial nos espaços de<br />

formação pela pesquisa propostos em componentes curriculares do programa de<br />

formação inicial acompanhado;<br />

- estudar como o fazer pesquisa ocorre no âmbito da formação inicial e se ele<br />

auxilia os estudantes na construção/reconstrução de entendimentos quanto ao ser<br />

professor;<br />

- analisar o fazer pesquisa nos componentes curriculares acompanhados, de<br />

como ele propicia interações e como elas contribuam na formação docente inicial;<br />

- qualificar o fazer pesquisa realizado nos espaços curriculares investigados,<br />

com atenção para a identificação e qualificação de etapas do fazer pesquisa e de<br />

níveis de pesquisa atingidos;<br />

14


- analisar a relação pedagógica entre professor e aluno, entre ‘orientador’ e<br />

‘pesquisador’, neste ambiente do ‘educar pela pesquisa’, com atenção à participação<br />

e aprendizado dos estudantes pela mediação do professor, num processo em que<br />

os estudantes, tendencionalmente, passam de objetos a sujeitos interativos da<br />

relação pedagógica;<br />

- produzir compreensões quanto a como o aprender a fazer pesquisa nos<br />

componentes curriculares co-participa na constituição dos licenciandos enquanto<br />

professores pesquisadores em formação inicial.<br />

São explicitados, a seguir, os caminhos percorridos no desenvolvimento da<br />

investigação, frente aos objetivos mencionados, justifica-se a escolha metodológica.<br />

Situa-se e caracteriza-se o contexto empírico do estudo e, ao final, apresenta-se a<br />

organização geral do trabalho.<br />

O Contexto e os Caminhos Percorridos na Execução da Pesquisa<br />

Num primeiro momento, explicitei e procurei discutir as intenções da<br />

pesquisa, o que eu pretendia buscar responder, o tema e os objetivos, percorrendo,<br />

ainda na imaginação, caminhos desconhecidos e incertos. No entanto, havia um<br />

estímulo e um grande desafio a minha frente, uma ansiedade e ao mesmo tempo<br />

uma grande motivação em relação ao objeto de estudo da pesquisa em construção.<br />

Isto, em decorrência da minha formação num curso de licenciatura em química,<br />

como eu já referi. Acreditava ser o mestrado a oportunidade de colocar na prática as<br />

minhas intenções, na perspectiva de contribuir para o entendimento e nas<br />

discussões em torno do problema de pesquisa. Aos poucos, foi possível delinear<br />

uma trajetória de trabalho e um caminho para a investigação.<br />

O trabalho se caracteriza como uma pesquisa qualitativa (Lüdke e André,<br />

1986) que, segundo Bogdan e Biklen (apud Lüdke e André, 1986, p. 11), “supõe o<br />

contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está<br />

sendo investigada, via de regra, através de um trabalho intensivo de campo”. Isso,<br />

considerando uma característica bastante importante, frente à visão de que<br />

15


o desenvolvimento do estudo aproxima-se a um funil: no início há questões<br />

ou focos de interesse muito amplos, que no final se tornam mais diretos e<br />

específicos. O pesquisador vai precisando melhor estes focos à medida que<br />

o estudo se desenvolve (LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p.13).<br />

No início da investigação havia uma amplitude de intenções e perspectivas,<br />

tendo sido procedido ‘recortes’ de determinados rumos e caminhos. Muitas eram as<br />

angústias e as questões relevantes, mas era necessário selecioná-las, focalizar o<br />

olhar, delimitar o ângulo da visão.<br />

A pesquisa de caráter qualitativo, organizada como estudo de caso, possui<br />

características de descrição e interpretação da realidade investigada. O estudo de<br />

caso segundo Lüdke e André, “é sempre bem delimitado, devendo ter seus<br />

contornos claramente definidos no desenrolar do estudo” (p.17). Com base em<br />

Goode e Hatt, as autoras colocam que “o caso se destaca por se constituir numa<br />

unidade dentro de um sistema mais amplo (...) quando queremos estudar algo<br />

singular, que tenha um valor em si mesmo, devemos escolher um estudo de caso”<br />

(p.17).<br />

Na execução da pesquisa, partiu-se de uma problematização inicial,<br />

cerceando questionamentos que tiveram sua origem em leituras sobre a formação<br />

docente inicial, em busca de melhor situar e compreender a modalidade de formação<br />

que vivenciei durante a minha graduação. Eu buscava, na literatura, explicações<br />

outras para as minhas angústias e decepções no decorrer do curso. O tema ‘educar<br />

pela pesquisa’ ou “pesquisa educacional do professor em formação inicial” parecia<br />

responder à minha demanda de investigar um contexto de formação inicial<br />

diferenciado daquele que eu havia vivenciando. Isso orientou e dimensionou o meu<br />

questionamento central: de que forma o ‘educar pela pesquisa’ pode contribuir para<br />

a formação inicial de professores de química?<br />

A partir desse questionamento geral, alguns focos de estudo e leitura vinham<br />

associados a interlocutores teóricos que intermediavam os olhares, os interesses e<br />

os caminhos em construção, orientando o âmbito empírico, a organização do estudo,<br />

em busca de analisar uma prática, buscando subsídios e indícios junto a sujeitos de<br />

pesquisa, com vistas a responder e compreender tal linha de questionamento: o<br />

16


‘educar pela pesquisa’ contribui na formação inicial de professores de química? Em<br />

quê contribui? De que forma, como? Para que contribui? Por quê?<br />

As questões passaram a ser objeto de desdobramentos quanto aos<br />

respectivos caminhos metodológicos, na medida em que estudos e atividades de<br />

pesquisa iam se desenvolvendo ao longo da realização do trabalho. Como colocar<br />

em prática a investigação? Logo, mantidos alguns contatos com a instituição local,<br />

foram sendo explicitadas algumas idéias, concretizando-se a intenção de pesquisar<br />

o âmbito de algum curso de química licenciatura que já teria iniciado um processo de<br />

reforma curricular que contemplasse, de alguma forma, o ‘fazer pesquisa’ como<br />

princípio da formação inicial. O interesse era o de desenvolver uma pesquisa em<br />

contexto empírico sobre tal temática e, como eu estava cursando o Mestrado na<br />

<strong>Unijuí</strong>, foi bastante fácil e ágil a certificação de que, nesta universidade, o Curso de<br />

Licenciatura em Química havia sido objeto de um processo de reconstrução<br />

curricular que contemplava a ‘pesquisa’ como um eixo importante da formação. A<br />

nova Proposta Curricular encontrava-se em implantação, sendo que, na fase inicial<br />

do meu trabalho, o Curso estava em processo de reconhecimento junto ao MEC.<br />

Numa primeira etapa da pesquisa, foi, então, planejada e procedida uma<br />

análise documental focalizando as características e a estrutura curricular do Curso,<br />

em atenção a aspectos da reforma curricular em implantação. Observou-se que no<br />

curso ‘novo’ havia vários componentes curriculares que, já em sua denominação,<br />

mencionavam o ‘educar pela pesquisa’. Frente ao interesse e ao foco da<br />

investigação, exatamente no ‘educar pela pesquisa’, no aprender a ‘fazer pesquisa’,<br />

buscou-se junto à Coordenação do Curso o acesso ao Projeto Curricular do mesmo,<br />

às Ementas Curriculares, para proceder a uma análise em busca de uma visão e<br />

compreensão iniciais, em sentido mais amplo, sobre o mesmo.<br />

Assim, na etapa inicial da investigação, foi realizada uma análise documental<br />

criteriosa, buscando, conforme referem Caulley, (apud Lüdke e André, 1986, p. 38)<br />

“identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses<br />

de interesse”. Guba e Lincoln, (apud Lüdke e André, 1986, p. 39) fazem um relato<br />

das vantagens do uso de documentos. Segundo estes autores, os documentos são<br />

17


fonte repleta de informações sobre a natureza do contexto que nunca deve ser<br />

ignorada, independente dos outros métodos de investigação.<br />

Verificou-se, a partir da análise da proposta do Curso, explicitada no Projeto<br />

Político Pedagógico, haja vista a própria composição curricular e de algumas<br />

ementas, que o Curso como um todo contempla uma boa articulação da formação<br />

inicial ‘pela pesquisa’.<br />

Uma revisão bibliográfica passou logo a orientar o processo da investigação,<br />

a partir de uma busca teórica sobre o que é entendido como pesquisa no âmbito do<br />

‘educar pela pesquisa’, de como se processa tal educar no contexto da sala de aula,<br />

a exemplo de contribuições de autores como Demo (1998; 1999); Moraes (1998);<br />

Moraes, Galiazzi e Ramos (1998); Marques (2001); Galiazzi (2003).<br />

O apoio teórico dos autores acima mencionados permitiu identificar, entre<br />

outros focos de interesse, categorizações prévias como a proposição da escrita, da<br />

argumentação, da participação dos alunos e da comunicação/socialização da<br />

pesquisa como elementos e fatores propulsores da prática do ‘fazer pesquisa’ em<br />

sala de aula. Após estas leituras, partiu-se para a análise das Ementas Curriculares<br />

do Curso, que permitiu identificar algumas disciplinas do Curso como sendo<br />

articuladoras do ‘educar pela pesquisa’.<br />

A partir dessa etapa (análise documental), a questão de pesquisa passou a<br />

focalizar a seguinte configuração: como os novos espaços formativos que propõem,<br />

em suas ementas curriculares, a prática do fazer pesquisa, estão se desenvolvendo<br />

na prática do Curso? Como eles estão sendo percebidos e vivenciados pelos<br />

estudantes do Curso?<br />

No Curso são oferecidos vários Componentes Curriculares que, de acordo<br />

com suas Ementas, abordam etapas do fazer pesquisa, mas dentre estes, alguns<br />

ainda não foram cursados por nenhuma turma, pelo fato do Curso estar em processo<br />

de implantação. Por outro lado, seria inacessível a análise de todos os<br />

Componentes que propõem a prática do fazer pesquisa já cursados.<br />

18


Isso levou a um novo afunilamento na busca de resposta à questão de<br />

pesquisa, ‘recortando-a’ mais um pouco, para a seguinte formulação: como os<br />

Componentes Curriculares “Pesquisa em Ensino de Ciências I” (PEC I) e Pesquisa<br />

em Ensino de Ciências II” (PEC II), que propõem em suas Ementas a prática do<br />

fazer pesquisa, estão se desenvolvendo? Como eles estão sendo percebidos e<br />

vivenciados pelos estudantes do Curso?<br />

Restringe-se, assim, o âmbito empírico da investigação a apenas dois dos<br />

Componentes Curriculares que contemplam o ‘fazer pesquisa’ (PEC I e PEC II). O<br />

critério de escolha considerou o fato de serem os primeiros Componentes cursados,<br />

no Curso em implantação, cujas Ementas propiciam aos estudantes um contato com<br />

a escola e que apresentam uma proposta segundo a qual os licenciandos participam<br />

de todo o processo do fazer pesquisa na formação.<br />

Considerou-se, também, o fato de serem Componentes cursados<br />

recentemente pelos licenciandos do sexto semestre do curso. Assim, o estudo de<br />

caso estava bem definido, visto que, dentre vários cursos de licenciatura em<br />

química, escolheu-se um Curso, o da <strong>Unijuí</strong> (regime regular, campus Ijuí).<br />

Feita essa delimitação, partiu-se para a análise dos Planos de Ensino dos<br />

dois Componentes Curriculares, para verificar a organização da proposição do fazer<br />

pesquisa e para se ter uma maior familiarização com os Componentes, seus<br />

objetivos, atividades de ensino, procedimentos, recursos.<br />

Tendo em mãos os resultados prévios da analise documental, partiu-se para a<br />

análise da prática do fazer pesquisa no Curso. Decidiu-se aplicar questionários e<br />

realizar entrevistas semi-estruturadas, visto que este tipo de entrevista permite que o<br />

entrevistador faça as necessárias adaptações, a partir de um esquema básico e de<br />

um instrumento orientador. Segundo Lüdke e André:<br />

na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera<br />

de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde.<br />

Especialmente nas entrevistas não totalmente estruturadas, onde não há<br />

imposição de uma ordem rígida de questões. (...) A grande vantagem da<br />

entrevista sobre as outras técnicas é que ela permite a captação imediata e<br />

corrente da informação desejada. (...) Enquanto outros instrumentos têm<br />

19


seu destino selado no momento em que saem das mãos do pesquisador<br />

que os elaborou, a entrevista ganha vida ao se iniciar o diálogo entre o<br />

entrevistador e o entrevistado (LÜDKE e ANDRÉ, p.33 e 34, 1986).<br />

Precisava-se definir os sujeitos que estavam vivenciando a prática do fazer<br />

pesquisa, estudantes do Curso, que haviam cursado os Componentes Curriculares<br />

em investigação. Eles seriam parceiros e colaboradores fundamentais para o<br />

desenvolvimento deste trabalho.<br />

A pergunta que surgia era: a quem entrevistar? Concluiu-se que, como o<br />

Curso é novo, seria adequado fazer as entrevistas com estudantes que já teriam<br />

cursado um maior número de disciplinas do Curso, ou seja, tendo uma maior<br />

vivência no programa de formação como um todo.<br />

Definido isso, faltava ainda configurar critérios de escolha e ‘características’<br />

dos sujeitos de pesquisa. Decidiu-se buscar uma amostra heterogênea em relação<br />

às condições da dedicação pessoal do estudante da turma ao Curso, ou seja, do<br />

tempo disponível para os estudos. Optou-se então por uma amostra com três ‘tipos’<br />

de sujeitos: (i) estudantes trabalhadores e, dentre estes, os que cumprem uma maior<br />

carga horária de trabalho e que cursam um maior número de disciplinas, (ii)<br />

estudantes bolsistas – qualquer modalidade e (iii) estudantes com maior carga<br />

horária disponível para os estudos, que se dedicassem o mais exclusivamente<br />

possível ao Curso. Esses critérios foram considerados tendo em vista, também, o<br />

fato de o Curso ser noturno.<br />

Buscou-se a Coordenação do Curso a fim de conseguir uma relação dos<br />

estudantes ingressos no primeiro ano do Curso em implantação, partindo-se, então,<br />

para uma análise dos cadernos de registro (folhas de chamada do segundo<br />

semestre de 2005) do Curso de Licenciatura em Química acompanhado, o qual<br />

correspondia ao sexto semestre do Curso, isto é, ao semestre mais avançado e,<br />

portanto, o semestre da primeira turma de ingresso no Curso novo.<br />

A partir da análise das folhas de chamada, fez-se uma relação entre os<br />

acadêmicos e os componentes curriculares. Conforme mostra o quadro a seguir, o<br />

que se verificou foi que muitos estudantes estavam cursando apenas um ou dois<br />

20


componentes curriculares do sexto semestre. Resolveu-se, então, selecionar<br />

aqueles estudantes que estavam cursando um maior número de componentes<br />

curriculares.<br />

Quadro das matrículas dos acadêmicos nos componentes curriculares do semestre:<br />

Acadêmicos<br />

Para selecionar a amostra dos estudantes para a entrevista, foi entregue um<br />

questionário, anexo I, que foi respondido, por escrito, pelos seis acadêmicos que<br />

estavam cursando pelo menos três componentes curriculares. Este primeiro<br />

questionário teve como objetivo saber a situação de cada estudante, verificar quais<br />

os componentes curriculares já cursados e especificamente, se já haviam cursado<br />

os Componentes selecionados para a investigação, saber sua disponibilidade de<br />

tempo para os estudos, ou seja, se trabalha ou não, quantas horas. Enfim, foi um<br />

levantamento do ‘perfil’ destes licenciandos, com vista a poder eleger os sujeitos de<br />

pesquisa.<br />

Físico<br />

Química III<br />

Química<br />

Orgânica I<br />

Química<br />

Analítica<br />

Quantitativa.<br />

Pesquisa em<br />

Ensino de<br />

Química I<br />

Prát. Pedag. VII:<br />

Teorias do Ensino<br />

de Ciências.<br />

Jarbas X<br />

Natália X X<br />

José X X X X X<br />

Maurício X X X<br />

Júlia X X<br />

Paulo X X X X X<br />

Andressa X X<br />

Maria X X<br />

Larissa X X<br />

Mateus X X<br />

Fátima X X<br />

Bruna X<br />

Joana X X X X<br />

Clara X X X X<br />

Antonio X X<br />

Ana X X X X<br />

Viviane X<br />

André X X<br />

Augusto X<br />

Sabrina X<br />

Janaina X<br />

Marina X X<br />

Murilo X<br />

Lara X<br />

Fernanda X X<br />

Laura X<br />

21


Dos seis estudantes selecionados, cinco responderam e entregaram este<br />

primeiro questionário. Destes cinco, um é bolsista de iniciação científica, uma é<br />

secretária de escola, com uma carga horária de 40 horas semanais, uma é auxiliar<br />

de laboratório com carga horária também de 40 horas semanais, um estudante com<br />

total disponibilidade de tempo aos estudos, uma auxiliar de processamento de dados<br />

com uma carga horária de seis horas semanais. De acordo com estes ‘perfis’ a<br />

amostra é bem heterogênea corroborando com as características buscadas.<br />

Antes de realizar as entrevistas com os sujeitos selecionados, foi enviado<br />

mais um questionário (anexo II) para os cinco licenciandos selecionados, com<br />

questões referentes ao Curso de Licenciatura como um todo, bem como, com uma<br />

maior ênfase no entendimento dos sujeitos sobre ‘pesquisa’ e a percepção quanto<br />

aos Componentes Curriculares PEC I e PEC II. Esses questionários foram<br />

entregues, deixando um intervalo de uma semana para a devolução dos mesmos,<br />

ficando cada estudante livre em escolher se respondia ou não ao mesmo.<br />

Passada uma semana, começou-se a recolher os questionários. Dos cinco<br />

estudantes, quatro o devolveram respondido. O estudante que não possuía<br />

nenhuma atividade além de estudar, não respondeu ao questionário. Houve então<br />

um repensar da amostra de licenciandos para as entrevistas. Como dos quatro<br />

estudantes remanescentes dois possuíam a mesma carga horária de trabalho (40<br />

horas), um era bolsista, e um com carga horária menor de trabalho (6 horas) decidiu-<br />

se que destes, todos, se tivessem disponibilidade, iriam participar das entrevistas,<br />

configurando assim, uma amostra heterogênea, conforme definido anteriormente.<br />

Antes da execução das entrevistas, fez-se uma análise das respostas dos<br />

questionários e, a partir dessa análise, foram elaborados os instrumentos, para a<br />

realização das entrevistas semi-estruturadas. Os instrumentos (anexo III) possuíam<br />

uma estrutura geral para todos os estudantes, porém, com algumas diferenças de<br />

acordo com suas respostas anteriores, sendo passível de mudanças no decorrer da<br />

conversa, em coerência com a modalidade de procedimento metodológico adotado.<br />

Realizou-se as entrevistas semi-estruturadas junto a três estudantes, tendo<br />

sido procedidos registros em áudio, seguidos de transcrição (degravação) das falas,<br />

22


para servir de material empírico a ser usado na construção de resultados de<br />

pesquisa. Um dos quatro estudantes ficou impossibilitado de participar no encontro<br />

para a entrevista, pois começou a trabalhar com maior carga horária, e residia em<br />

outra cidade, somente vindo a Ijuí nos horários das aulas, não tendo sido possível<br />

marcar um horário compatível.<br />

A análise das entrevistas, com a construção e discussão de resultados de<br />

pesquisa foi mediada pelos objetivos e pressupostos do trabalho, em busca de<br />

compreender como acontece a formação inicial pela pesquisa nos espaços<br />

acompanhados, como o fazer pesquisa ocorre no âmbito da formação inicial e como<br />

ele contribui na construção de entendimentos sobre o ser professor.<br />

Os estudantes explicitaram dificuldades, percepções sobre o processo<br />

vivenciado e contribuições do fazer pesquisa, bem como, sobre as etapas (os<br />

passos) do fazer pesquisa e a relação pedagógica desse aprender.<br />

Para qualificar, de maneira mais satisfatória, as etapas e o nível das<br />

pesquisas desenvolvidas e, também, buscar um maior entendimento quanto ao uso<br />

dos instrumentos culturais da pesquisa, de que forma eles compareceram no<br />

processo de ensino e de aprendizagem do fazer pesquisa vivenciado, optou-se por<br />

fazer uma análise, também, de produções escritas dos acadêmicos, no âmbito dos<br />

Componentes Curriculares (PEC I e PEC II). Teve-se acesso aos relatórios finais de<br />

pesquisa elaborados pelos mesmos licenciandos entrevistados. Foi analisado um<br />

relatório final de pesquisa do Componente Curricular PEC I, visto que dois dos<br />

licenciandos entrevistados, executaram toda a pesquisa, trabalhando num mesmo<br />

grupo, tendo apresentado um relatório em conjunto.<br />

Essa análise teve o objetivo de identificar o uso de instrumentos culturais do<br />

fazer pesquisa, considerando, em especial, a escrita e o comparecimento de leituras.<br />

Buscou-se analisar como o ‘outro’ comparece na elaboração escrita do relatório de<br />

pesquisa, com atenção a cada uma das etapas do fazer pesquisa vivenciado, desde<br />

a construção da questão de pesquisa até a análise e validação dos resultados<br />

construídos. O ‘outro’, aqui, é entendido, segundo Marques, como ‘vozes’<br />

assimetricamente participantes no discurso escrito, oriundas da mediação do<br />

23


professor, de referenciais teóricos (da literatura da área), dos sujeitos de pesquisa<br />

(da realidade), articuladamente a voz dos próprios estudantes pesquisadores. A<br />

análise objetivava, também, a partir do comparecimento e da presença do ‘outro’,<br />

qualificar diferentes níveis atingidos na elaboração da mesma pesquisa.<br />

A metodologia abrangeu repetidas leituras do relatório, buscando perceber e<br />

analisar a qualidade da pesquisa desenvolvida. Foi analisada cada parte do<br />

relatório, com o objetivo de identificar as diferentes interlocuções (as dos estudantes,<br />

suas concepções e posições), as dos autores (literatura), a fala dos sujeitos de<br />

pesquisa. Algumas eram ‘duvidosas’, que poderiam ser dos próprios estudantes ou<br />

da literatura. Houve, também, um olhar para a preocupação quanto ao uso e a<br />

significação da linguagem específica ao âmbito da ‘pesquisa’.<br />

Numa etapa final de construção dos resultados, julgou-se importante inserir<br />

um acompanhamento do ensinar a fazer pesquisa em sala de aula, para observar a<br />

vivência do aprender a fazer pesquisa, em sua prática, com a realização de registros<br />

em caderno de campo. Os registros foram realizados na oportunidade do Estágio de<br />

Docência na Graduação. Foram acompanhadas as aulas do Componente Curricular<br />

PEQ I (Pesquisa em Ensino de Química I), junto a uma outra turma de licenciandos,<br />

visto que os licenciandos entrevistados já haviam cursado esse Componente.<br />

Algumas mudanças na semestralização do Curso fizeram com que o Componente<br />

PEQ I fosse trabalhado antes de PEC I, conforme mostram os anexos IV e V,<br />

sendo, portanto, a primeira prática do fazer pesquisa vivenciada pela referida turma,<br />

assim como foi PEC I para os licenciandos entrevistados. Justifica-se o<br />

acompanhamento das aulas de PEQ I, com a sua Ementa Curricular que traz as<br />

mesmas proposições que as Ementas de PEC I e II, e também, pelo fato de o<br />

professor de PEC I e II ser o mesmo de PEQ I. Com isso ampliou-se o campo<br />

empírico da investigação que, nesta etapa, abrangeu um Componente Curricular<br />

correlato e adicional.<br />

Em síntese, os procedimentos metodológicos da investigação abrangeram, na<br />

fase da coleta de informações: análise documental, aplicação de questionários,<br />

realização de entrevistas semi-estruturadas com registros em áudio e posterior<br />

degravação e, ainda, observações em sala de aula com registros em caderno de<br />

24


campo. O projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da<br />

<strong>Unijuí</strong>, sendo aprovado como mostra o Parecer no Anexo VI.<br />

Descreve-se, a seguir, sucintamente, a organização dos capítulos que<br />

integram este texto, com uma síntese dos conteúdos de cada um.<br />

No capítulo 1, que está subdividido em três tópicos, relata-se a problemática<br />

da formação inicial docente de professores de ciências. Com base no referencial<br />

teórico discute-se alguns limites da formação docente inicial inserida no modelo da<br />

racionalidade técnica. Problematiza-se diferentes dicotomias e fragmentações de<br />

saberes decorrentes desse modelo formativo. Atenção também é dada para visões<br />

simplistas que predominam em relação ao conhecimento científico, numa visão de<br />

ciência neutra e objetiva.<br />

No capítulo 2, que está subdividido em cinco tópicos, aprofunda-se a<br />

interlocução com teóricos que defendem o fazer pesquisa. O inicio do capítulo traz<br />

uma breve explicitação do histórico em defesa da pesquisa como articuladora na<br />

formação docente, com a idéia de professor pesquisador. Na segunda parte do<br />

capítulo contextualiza-se e busca-se uma definição não simplista sobre o<br />

entendimento de pesquisa e que é defendida ao longo deste trabalho. Com base em<br />

Demo, Beillerot e Galiazzi aborda-se, na terceira parte do capítulo, uma<br />

categorização de diferentes níveis, etapas de pesquisas. Finaliza-se o capítulo com<br />

uma reflexão quanto à constituição do licenciando como um professor pesquisador<br />

em formação inicial, mediante a internalização de instrumentos culturais utilizados no<br />

decorrer do fazer pesquisa vivenciado, numa abordagem histórico-cultural.<br />

No capítulo 3, a atenção se volta para a prática do ensinar a fazer pesquisa<br />

no contexto formativo acompanhado. Na primeira parte são relatados resultados<br />

construídos mediante análise documental, mostrando aspectos gerais da formação<br />

pela pesquisa acompanhada. Diferentes espaços que contemplam a prática do fazer<br />

pesquisa são identificados, no âmbito do Curso acompanhado, com foco em<br />

aspectos dos Componentes Curriculares PEC I e II, suas Ementas Curriculares e<br />

seus Planos de Ensino. Na segunda parte do capítulo, são trazidos relatos dos<br />

licenciandos entrevistados em relação ao fazer pesquisa por eles vivenciado, com<br />

25


atenção a categorias de pesquisa abrangidas. Na continuidade do capítulo, discute-<br />

se a qualificação do fazer pesquisa no âmbito das PEC I e II, partindo dos resultados<br />

da análise dos relatórios de pesquisa de licenciandos. E finaliza-se o capítulo com a<br />

apresentação de resultados construídos mediante análise de registros em agenda<br />

de campo, ao acompanhar as aulas de PEQ I, com o objetivo de explicitar a prática<br />

do aprender a fazer pesquisa observada em sala de aula.<br />

Em seguida são apresentadas algumas considerações quanto à importância<br />

do comparecimento da prática do fazer pesquisa na formação docente inicial, com<br />

base, nos resultados construídos e analisados, sendo trazidas questões que<br />

continuam sem respostas e que poderão ser objeto de novas investigações.<br />

26


CAP. 1 – O CONTEXTO PROBLEMÁTICO DA FORMAÇÃO INICIAL DE<br />

PROFESSORES DE QUÍMICA<br />

Este capítulo está subdividido em três tópicos. Inicialmente, problematiza-se,<br />

a partir de interlocuções com o referencial teórico que serve de apoio à investigação,<br />

a temática da formação inicial de Professores de Química baseada no modelo da<br />

racionalidade técnica, discutindo algumas limitações decorrentes de tal modelo, a<br />

visão simplista do ser professor, a dicotomia entre teorias e práticas na formação, a<br />

importância de se considerar implicações das relações pedagógicas entre professor<br />

e aluno em salas de aula e quanto a visões epistemológicas de conhecimento<br />

científico decorrentes desse modelo de formação e implicações para o ensino de<br />

Química. O segundo tópico trata da problemática que diz respeito à desarticulação<br />

entre saberes diversificados que integram a formação docente inicial. Dos<br />

descompassos decorrentes da formação inicial calcada na racionalidade técnica, a<br />

terceira parte do capítulo mostra caminhos para a formação docente inicial, um deles<br />

o do aprender e vivenciar os passos da pesquisa.<br />

1.1. O Modelo de Formação Inicial Pautado na Racionalidade Técnica<br />

A raiz do modelo de formação docente que se tornou hegemônico nos Cursos<br />

de Licenciatura pautados na racionalidade técnica está na revolução científica<br />

iniciada no século XVI, tendo sido desenvolvido a partir das Ciências Naturais, e<br />

estendido às Ciências Sociais emergentes do século XIX. Condições históricas<br />

criadas, na racionalidade técnica, levaram a práticas curriculares que concebem e<br />

27


veiculam os conhecimentos especializados de forma fragmentada, cumulativa e<br />

linear (Maldaner, 2000 p. 74 e 77). É sobre essas características que se busca<br />

refletir, para um repensar transformador da formação inicial, o que remete para<br />

entendimentos sobre as origens de tal problemática, na busca de mudanças que<br />

possam atingi-la em sua essencialidade mediante o reconhecimento crítico de seus<br />

limites, pela reconstrução histórica e cultural de concepções com base nas quais são<br />

organizados currículos e práticas formativas. A centralidade das atenções, nesse<br />

repensar, está, pois, na promoção de mudanças que atinjam a racionalidade restrita<br />

da qual decorrem as práticas curriculares que se tornaram convencionais na<br />

formação docente inicial.<br />

Um dos limites que têm sido objeto de críticas, nesse sentido, está na<br />

organização dos currículos de formação profissional que tendem a dicotomizar ‘o<br />

mundo acadêmico’ do ‘mundo da prática’, a universidade da escola. O docente é<br />

‘formado’ distantemente do seu espaço de atuação profissional, com base em<br />

modelos ideais de aluno, de escola e de professor, não coerentes com a realidade<br />

escolar. Mc Dermott ressalta que<br />

se os métodos de ensino não são estudados no contexto no qual serão<br />

implementados, os professores podem não saber identificar aspectos<br />

essenciais, nem adaptar estratégias instrucionais que lhes foram<br />

apresentadas em termos abstratos à sua matéria específica ou a novas<br />

situações (apud Schnetzler, 2000 p. 17).<br />

Tal dicotomia entre teorias e práticas é problematizada nos dizeres de<br />

Marques de que “não se pode, para a teoria e a prática, estabelecer lugares<br />

distintos, nem no ensino escolar, nem no campo da atuação profissional”. Importa<br />

articular teoria e prática, pesquisa e formação, universidade e escola básica, ao<br />

longo de todo o curso da licenciatura, na dinâmica do currículo como um todo (1992<br />

p. 87).<br />

Ainda que os cursos contemplem vivências formativas em distintos lugares<br />

sociais (universitário e escolar), a falta de articulação entre os aprendizados<br />

desenvolvidos compromete a construção por parte dos futuros docentes, já na<br />

formação inicial, de saberes constitutivos do exercício profissional. Tal problemática<br />

foi por mim vivenciada na graduação, como já referi. Tardif refere-se a uma<br />

28


multiplicidade de saberes necessários para a prática escolar, entre estes, os saberes<br />

da experiência, que, segundo o autor, compreendem as relações e interações que<br />

os professores estabelecem com os demais atores no campo de sua prática, e em<br />

relação às obrigações e normas de seu trabalho. A negligência no tratamento a<br />

esses saberes na formação inicial “para alguns docentes é vivida como um choque,<br />

o choque da ‘dura realidade’ dos grupos e das turmas” (Tardif; Lessard & Lahaye,<br />

1991 p.229). Foi um tipo de impacto como esse que vivenciei em minha formação<br />

docente inicial, conforme já referi.<br />

No modelo da racionalidade técnica percebe-se, por outro lado, uma relação<br />

dicotomizante e de estranhamento entre conhecimentos específicos de química e<br />

conhecimentos didático-pedagógicos. Segundo Schnetzler,<br />

a grade curricular da maioria dos cursos de licenciatura manifesta e enfatiza<br />

dois caminhos paralelos, que não se aproximam sequer, um do outro,<br />

durante os vários semestres, mas que só vão se cruzar e se articular em<br />

disciplinas de natureza tal como de Prática de Ensino, a de Didática<br />

Específica e/ou de Instrumentação para o ensino. Isto significa que as<br />

disciplinas de conteúdo específico, propriamente ditas, seguem seu curso<br />

independente e isolado das disciplinas pedagógicas e vice-versa<br />

(SCHNETZLER, 2000, p. 14).<br />

A autora, considerando essa dicotomia, ressalta a ausência na formação<br />

inicial de uma adequada “transformação pedagógica” dos conteúdos específicos de<br />

química, dificultando aos licenciandos saber sobre ‘o que, como e porque’ ensinar<br />

determinado conteúdo na educação básica, visto que não poderão ensinar os<br />

conteúdos da mesma maneira como os aprenderam nas disciplinas de conteúdo<br />

específico. Perrenoud (apud Schnetzler 2000 p. 18) define essa transformação<br />

pedagógica, como “transposição didática”, ou seja, como uma articulação dos<br />

conhecimentos de química com os conhecimentos de cunho pedagógico sobre o<br />

processo de ensino e aprendizagem. Com base em Lopes (1997), adota-se a<br />

expressão “mediação didática” que, segundo a autora, “é essencialmente um<br />

processo de tornar assimilável, compreensível, implicando, necessariamente um<br />

processo de (re)construção” (p.57).<br />

Nesse sentido, as origens da formação criada a partir da racionalidade<br />

técnica, no âmbito do paradigma moderno, podem ser remetidas ao paradigma<br />

ontológico do saber, que se caracteriza pela ‘pedagogia da essência’, fundado na<br />

29


visão de conhecimento como uma “verdade” que existe a priori, como algo<br />

escondido na realidade física das coisas, a espera de ser descoberto de forma<br />

objetiva, isenta de pré-concepções e interesses por parte do observador (Chalmers,<br />

1993).<br />

Marques (1992) critica o ensino concebido numa concepção metafísica, que<br />

consiste em transmitir fielmente verdades aprendidas como imutáveis em que, por<br />

outro lado, a aprendizagem é a assimilação passiva de verdades ensinadas, em que<br />

“ensinar é repetir; aprender é memorizar. É decisivo o papel do professor,<br />

insubstituível em sua qualidade de portador individual dos conhecimentos da<br />

tradição cultural” (p. 551), prevalecendo um ensino denominado tradicional, no qual<br />

predomina a fala do professor como detentor de verdades únicas. A sala de aula é<br />

caracterizada pela cópia de conhecimentos mecanicamente memorizados pelos<br />

alunos e ‘devolvidos’ na avaliação feita pelo professor. Esse ensino apenas<br />

disciplinar e academicista forma sujeitos considerados, nesta racionalidade, como<br />

sendo passivos e acríticos perante a sociedade. Os conteúdos não são relacionados<br />

com o todo e, marcados pela separação entre teoria e prática, acarretam numa<br />

simplificação e disjunção de saberes.<br />

Concepções de Ciência, Racionalidade e Formação<br />

Na racionalidade técnica, decorrente da lógica positivista, os conhecimentos<br />

científicos são vistos como verdades descobertas, objetivamente, pelos cientistas, a<br />

serem transmitidas aos estudantes, como se as leis e a ordem natural simplesmente<br />

existissem e fossem imutáveis, a serem captadas de forma direta,<br />

independentemente da subjetividade humana. Ensina-se com base na visão<br />

aristotélica, segundo a qual, “a mente humana é como uma ‘tábua rasa’, um papel<br />

em branco, onde serão impressas as sensações provenientes do mundo exterior”<br />

(Salvatore, 1999, p.30).<br />

Essas concepções de ciência e de conhecimento têm se refletido,<br />

amplamente, nos programas de formação docente, sendo importante refletir sobre a<br />

visão ainda dominante de um professor transmissor de conhecimentos repetitivos<br />

que, ‘descobertos’ pelos cientistas, numa apriorística de conhecimento, são<br />

30


transmitidos ao professor, e depois aos alunos da escola, numa via única de direção<br />

e sentido, ou seja, numa visão em que o conhecimento do cientista, resultante da<br />

impressão do objeto sobre o sujeito, é uma cópia fiel do real, sendo reproduzido na<br />

formação do professor e no ensino escolar.<br />

Quando o professor de ciências é visto como detentor de verdades a serem<br />

digeridas pelos estudantes numa relação direta de correspondência com a realidade,<br />

esse é um indício da visão positivista de uma ciência neutra, objetiva e cumulativa,<br />

em que conhecimentos novos somam-se aos antigos de forma progressiva e<br />

continuística. Essas concepções têm raízes no século XVII, com o empirismo e o<br />

indutivismo, os quais são as bases do positivismo formulado no século XIX por<br />

Comte, que incluiu as mesmas visões nas ciências sociais (Borges, 1996).<br />

Tal visão da Ciência moderna, genericamente denominada de empirista e<br />

positivista, tem sua raiz em Francis Bacon, que disse “se quisermos compreender a<br />

natureza devemos consultar a natureza e não os escritos de Aristóteles” (Chalmers,<br />

1993 p.23), que acreditava ser a experiência a única fonte confiável de<br />

conhecimento, ocorrendo, objetivamente, de fora (do meio físico natural) para<br />

dentro, independente das concepções do observador.<br />

Desse modo de conceber a produção do conhecimento científico decorreu a<br />

visão do único método válido, ‘o’ método indutivo de investigação científica (método<br />

científico), o único que assegura a descoberta das verdades científicas de maneira<br />

fidedigna, neutra e objetiva, acreditando-se que um conhecimento para ser científico<br />

deve ser objetivável, sem a interferência do sujeito, de seus interesses e pré-<br />

concepções. Ou seja, a visão epistemológica dessa aceitação está na separação da<br />

relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Segundo Chalmers:<br />

a objetividade da ciência indutivista deriva do fato de que tanto a<br />

observação como o raciocínio indutivo são eles mesmos objetivos.<br />

Proposições de observação podem ser averiguadas por qualquer<br />

observador pelo uso normal dos sentidos. A validade das proposições de<br />

observação, quando corretamente alcançada, não vai depender do gosto,<br />

da opinião, das esperanças ou expectativas do observador (CHALMERS,<br />

1993, p. 35).<br />

31


Nesta concepção, cada observador tem as mesmas potencialidades de visão,<br />

independente dos seus interesses e de conhecimentos anteriores, e assim a partir<br />

de uma observação ou de um experimento pode-se obter o conhecimento científico.<br />

No entanto, como refere o mesmo autor (Chalmers, 1993), o que um observador vê,<br />

isto é, a experiência visual que um observador tem ao ver um objeto, depende em<br />

parte de sua experiência passada, de seu conhecimento e de suas expectativas.<br />

Segundo Níaz:<br />

as observações não podem ser tão objetivas, mas estão impregnadas pelo<br />

referencial teórico do cientista. Uma das grandes falhas do positivismo é a<br />

idéia de que o conhecimento existe sem a interação de um ser<br />

cognoscente. Em outras palavras, o conhecimento existe para além do<br />

cientista que, através de suas investigações objetivas, descobre as leis,<br />

teorias e princípios de nossa realidade (apud Maldaner, 2003 p.103).<br />

Crenças epistemológicas positivistas, mecanicistas e pragmáticas quanto à<br />

produção da ciência e tecnologia estão presentes no meio científico, em especial,<br />

entre os que ensinam Ciências Naturais e, assim, o círculo vicioso fica mantido<br />

porque os ocupantes dos postos na produção e reprodução do conhecimento<br />

científico e técnico são constantemente formados dentro da mesma crença<br />

epistemológica (Maldaner, 2003). E, dessas concepções epistemológicas, decorrem<br />

práticas amplamente criticadas no ensino e em Ciências, por isso a importância de<br />

estudos que contribuam para sua re-construção.<br />

Essa é uma problemática importante de ser compreendida e melhor<br />

considerada nos contextos de formação docente, desde a formação inicial de<br />

professores. No item que segue busca-se avanços na compreensão de como<br />

saberes diversificados co-participam nos processos complexos da formação.<br />

1.2. A Problemática da Desarticulação dos Saberes na Racionalidade Técnica<br />

Um dos problemas dos cursos de formação docente inicial calcados na<br />

racionalidade técnica está na carência de reflexões sobre crenças, saberes, teorias e<br />

práticas que vão constituindo o futuro professor, de reflexões sobre o entendimento<br />

sobre a natureza da ciência e do conhecimento científico e suas implicações no<br />

ensino e na formação. Segundo Maldaner:<br />

32


a reflexão epistemológica pode proporcionar uma visão mais ampla para o<br />

que diz respeito a conhecimento, sujeitos em interação, currículo,<br />

metodologia, ensino e aprendizagem em todos os processos do<br />

desenvolvimento humano, que acontecem tanto nos processos educativos<br />

formais e informais, quanto na pesquisa e nas reflexões filosóficas<br />

(MALDANER, 2000 p. 61).<br />

Sem essa reflexão, os docentes formados no âmbito da racionalidade<br />

instrumental são constituídos como técnicos que, ao final de seus cursos de<br />

licenciatura, vêem-se desprovidos de conhecimentos e de ações que lhes ajudem a<br />

dar conta da complexidade escolar. Pois, na visão tecnicista de ensino, cabe-lhes<br />

aplicar modelos e técnicas produzidos externamente à realidade escolar, elaborados<br />

por ‘especialistas’, pouco contribuindo para o seu fazer docente. Segundo Schön<br />

(2000), “a incerteza, a singularidade e os conflitos de valores, que são zonas<br />

indeterminadas da prática, escapam dos cânones da racionalidade técnica” (p. 17).<br />

O currículo de formação inicial calcado nessa racionalidade apresenta<br />

dicotomias que, como já referido, impedem que os licenciandos consigam<br />

contextualizar os saberes docentes e articulá-los, em seu conjunto. Sendo assim, é<br />

importante levar em conta que os futuros professores possuem uma relação de<br />

exterioridade em relação aos saberes desenvolvidos em sua formação. Segundo<br />

Guarnieri,<br />

numa tentativa de superar o modelo da racionalidade técnica, as pesquisas<br />

e os cursos de formação de professores precisam redirecionar as relações<br />

entre teoria e prática, centrando as análises na prática docente, visto que a<br />

profissão vai sendo constituída à medida que o professor articula o<br />

conhecimento teórico-acadêmico. Muitas vezes o professor iniciante rejeita<br />

os conhecimentos teóricos acadêmicos recebidos na formação por<br />

dificuldades em aplicá-los (apud, NUNES 2001, p.35).<br />

No âmbito do paradigma da racionalidade técnica, predomina a crença numa<br />

ciência neutra e verdadeira, vista como única fonte confiável para a solução dos<br />

problemas sociais, tornando os sujeitos submissos perante as novas ‘descobertas’<br />

científicas. É necessário que a formação do professor o ajude a pensar sobre o<br />

desenvolvimento técnico-científico da sociedade, que reflete conseqüências<br />

diretamente na vida das pessoas, que propicia a difusão de informações de maneira<br />

cada vez mais veloz, a exemplo de novos produtos lançados constantemente no<br />

mercado, vistos como sendo melhores por serem ‘cientificamente comprovados’.<br />

33


Chassot enfatiza a necessidade de os professores tratarem de imagens de Ciência,<br />

desmistificando-as, bem como as relações entre Ciência e Tecnologia. Menciona<br />

duas figuras que denomina “fada e bruxa”:<br />

Não podemos ver na Ciência apenas a fada benfazeja que nos proporciona<br />

o conforto no vestir e na habitação, nos enseja remédios mais baratos (...).<br />

Ela pode ser - ou é - também uma bruxa malvada que programa grãos ou<br />

animais que são fontes alimentares da humanidade para se tornarem<br />

estéreis numa segunda reprodução (CHASSOT, 2003, p.104).<br />

Cabe ao professor juntamente com seus colegas e estudantes uma análise<br />

crítica de cada situação, buscando um ensino de Química significativo e socialmente<br />

mais relevante, propiciando novas visões e ações no mundo social. Edgar Morin em<br />

seu livro “Ciência com Consciência”, entre outros, ressalta a problemática e também<br />

a ilusão desta visão de Ciência como sendo neutra, objetiva, ao referir que,<br />

é preciso deixar de sonhar com uma ciência pura, uma ciência libertada de<br />

toda ideologia, uma ciência cuja verdade seria tão absoluta como a verdade<br />

“2 + 2 = 4”, isto é, uma ciência “verdadeira” de uma vez por todas; pelo<br />

contrário, é preciso que haja conflitos de idéias no interior da ciência, e a<br />

ciência comporta ideologia. Todavia, a ciência não é uma ideologia pura e<br />

simples porque animada pela obsessão da objetividade, estabelece um<br />

comércio permanente com o mundo e aceita a validade das observações e<br />

experimentações, sejam quais forem sua raça, cor, opiniões etc (MORIN,<br />

2003 p. 150).<br />

Na visão deste autor, os conhecimentos científicos são compreendidos como<br />

construção humana, histórica, não neutra e nem linear, sujeitos a refutações e a<br />

incertezas. E assim, segundo Morin, o desenvolvimento científico “determina o<br />

desenvolvimento da sociedade ao mesmo tempo em que é determinado pela<br />

organização desta mesma sociedade” (2003, p.126).<br />

Apesar do paradigma da racionalidade técnica ainda estar presente na nossa<br />

realidade, ele vem sendo objeto de críticas e se encontra em crise já há<br />

praticamente um século, haja vista os próprios avanços nas ciências da natureza,<br />

com Einstein, Heisenberg, já no inicio do século XX. Novas concepções<br />

epistemológicas precisam ser amplamente incorporadas e discutidas nos processos<br />

de reconstrução da formação dos professores. Segundo Marques:<br />

34


o incontestável progresso da ciência não é acúmulo de verdades, segundo<br />

o critério da validação; nem é simples eliminação de erros, na crivagem da<br />

falsificabilidade. Rompem-se as ilusões do caráter empiricamente unificado<br />

do conhecimento e da realidade. Ampliando-se os espaços do<br />

conhecimento, ampliam-se também as fronteiras do desconhecido, na<br />

direção do infinitamente grande e do infinitamente pequeno, para além do<br />

alcance dos homens e para o interior dos arcanos da subjetividade<br />

(MARQUES, 1993 p.56).<br />

Exige-se um professor que, a cada momento, tenha a postura de um<br />

intelectual, de alguém que reflete criticamente, que compreende e atua para<br />

transformar a sociedade para melhor, influindo, intencionalmente, na cultura, na<br />

educação, na reconstrução da escola, do ensino e da aprendizagem. É primordial<br />

que o professor de Química se perceba, enquanto educador 1 , como um agente<br />

capaz de intervir na sociedade, com capacidade de argumentar e de empreender<br />

mudanças, participando na reconstrução social pela reforma da educação escolar.<br />

Nesse sentido, no dia-a-dia da prática escolar, tem-se, segundo Tardif, a<br />

convivência com uma pluralidade de saberes envolvidos, que nem sempre é levada<br />

em conta na formação inicial. A relação dos docentes com os saberes não se reduz<br />

a uma função de transmissão dos conhecimentos já constituídos, e sua prática<br />

integra diferentes saberes, com os quais mantém diferentes relações. O autor define<br />

o saber docente “como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos<br />

coerente, de saberes oriundos da formação profissional, dos saberes das disciplinas,<br />

dos currículos e da experiência” (2002, p. 36).<br />

Segundo Tardif (2002), os ‘saberes da formação profissional’ são<br />

caracterizados como um conjunto de saberes aliados às instituições de formação de<br />

professores, entre estes, as ciências da educação e a ideologia pedagógica. Quanto<br />

aos ‘saberes das disciplinas’, o autor os caracteriza como correspondentes aos<br />

diversos campos do conhecimento, tal qual se encontram hoje integrados - sob a<br />

forma de disciplinas - à universidade, no quadro de faculdades e departamentos<br />

distintos. Em relação aos ‘saberes curriculares’, aponta que se apresentam<br />

concretamente sob a forma de programas e planos educativos (objetivos, conteúdos,<br />

métodos) que o professor deve implementar. Já os ‘saberes da experiência’ são<br />

1 “alguém que educa em Química, isto é, faz com que a Química seja também um instrumento para<br />

as pessoas crescerem” (CHASSOT, 1990,p.14).<br />

35


produzidos nos âmbitos da experiência e são por ela validados, incorporando-se à<br />

vivência individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber fazer<br />

e de saber ser (p.36-38).<br />

Em decorrência da formação baseada no modelo da racionalidade técnica a<br />

relação dos professores com os saberes tem sido a de “agente de transmissão”, de<br />

“depositário ou de objeto” de saberes, não de produtores de um saber ou de<br />

saberes, constatando-se uma exterioridade do professor em relação aos saberes<br />

curriculares e da formação profissional (Tardif; Lessard & Lahaye,1991 p.221).<br />

A base curricular deste modelo, fundamentada apenas na lógica disciplinar,<br />

linear e fragmentada estabelece uma separação entre a pesquisa (produção do<br />

conhecimento), a formação (formação relativa a esses conhecimentos) e a prática<br />

(mobilização dos conhecimentos), tendo-se assim uma divisão social do trabalho<br />

docente, dicotomizando instâncias responsáveis pela “produção e legitimação” de<br />

saberes (grupos de pesquisa, academia) das instâncias de “execução e aplicação”<br />

(grupos de professores) de tais saberes. “Os educadores e os pesquisadores, o<br />

corpo docente e a comunidade científica tornam-se dois grupos cada vez mais<br />

distintos, destinados a tarefas especializadas de transmissão e de produção de<br />

saberes sem nenhuma relação entre si” (Tardif, 2002, p. 35).<br />

Em decorrência dessa formação o professor, na maioria das vezes, torna-se<br />

refém dos livros didáticos, pois não se considera um sujeito capaz de participar da<br />

construção de conhecimentos, visto que a sua formação com base neste modelo<br />

estava centrada numa racionalidade tecnicista, segundo a qual o docente apenas<br />

executa determinada tarefa imposta por um grupo de especialistas. Esse cenário<br />

justifica a importância de se apostar, sempre mais, no desenvolvimento de novas<br />

concepções, saberes e práticas docentes, no âmbito da formação inicial, de se<br />

construir novos caminhos, capazes de romper com uma tradição difícil de superar.<br />

36


1.3. Caminhos em Busca de uma Racionalidade Articuladora de Saberes<br />

Após discutir algumas características da formação inicial pautada no modelo<br />

racionalidade técnica e alguns problemas dela decorrentes, apontado para a<br />

necessidade de mudanças que dinamizem reflexões sobre a natureza da ciência e a<br />

formação de professores, a abordagem passa a tratar de alguns caminhos<br />

alternativos, nessa direção.<br />

Possibilitar aos estudantes em formação, e aos seus professores, discutir a<br />

natureza dos conhecimentos integrantes da prática profissional docente, analisando<br />

e refletindo criticamente sobre eles, é uma forma de buscar transformar, de alguma<br />

forma, a realidade vigente, sendo primordial a conscientização de que a ciência não<br />

é neutra, nem objetiva, mas uma construção humana, histórica e social. Bachelard<br />

(1996) defende uma posição racionalista na qual, a ciência é vista como um objeto<br />

socialmente construído, cujos critérios de cientificidade são coletivos e setoriais às<br />

diferentes ciências, ou seja, ele defende a visão de ciência não como uma única<br />

verdade, mas como uma criação humana. O autor propõe a ruptura epistemológica<br />

com o real dado, com a percepção primeira, para que o conhecimento seja possível,<br />

buscando-o através da reflexão, numa visão de ciência que traz a marca da<br />

atividade humana, da atividade refletida, diligente, normatizante (Lopes, 1996).<br />

Tal mudança epistemológica pode criar novas perspectivas e novos<br />

significados para o ensinar e o aprender Química, sobre quem ensina e quem<br />

aprende, superando o modelo tradicional de ensino por transmissão-recepção.<br />

Compreender que o conhecimento químico/científico é uma construção humana,<br />

histórica, não neutra nem linear e trazer isso para a formação inicial do professor<br />

pode tornar o ensino de Química mais significativo, frente à realidade dos<br />

educandos e das escolas, na sociedade contemporânea.<br />

O modelo da racionalidade técnica, mecanicista e determinista, não favorece<br />

a relação dialógica entre o real e os conceitos, nem estes entre si, pois dicotomiza a<br />

relação entre o sujeito e o real, fragmentando e reduzindo o processo do<br />

conhecimento. Segundo Morin:<br />

37


o paradigma da simplificação (redução-disjunção) é insuficiente e mutilante.<br />

Torna-se necessário um paradigma da complexidade que, ao mesmo tempo<br />

disjunte e associe, que conceba os níveis de emergência da realidade sem<br />

reduzi-los às unidades elementares e às leis gerais (MORIN, 2005, p.55).<br />

O mesmo autor defende uma racionalidade pautada num paradigma que<br />

busca produzir conhecimento dentro do contexto, integrando os saberes, captando<br />

“o que está tecido em conjunto”, numa superação da separação e da fragmentação<br />

predominantes no modelo da racionalidade técnica (2005, p. 55).<br />

Nesse sentido, em busca de uma formação que considere a complexidade e a<br />

dinamicidade da prática docente, muitos estudos têm evidenciado a importância da<br />

inserção da pesquisa na formação inicial como alternativa para a superação do<br />

modelo da racionalidade técnica.<br />

A partir da análise dos cursos de licenciatura e seus problemas argumento<br />

em favor da pesquisa como instrumento de transformação na formação<br />

inicial de professores, em razão de a pesquisa se sustentar no princípio<br />

formativo, na construção de qualidade, na construção de conhecimento<br />

mais complexo e na possibilidade de complexificação do entendimento<br />

epistemológico sobre a ciência, o conhecimento científico e seu modo de<br />

construção (GALIAZZI, 2003, p. 64).<br />

É possível desenvolver uma formação docente na qual estudantes e<br />

professores deixem de perceber a construção do conhecimento como um processo<br />

linear, sem tropeços e erros. Mas, para isso, é necessário que eles se percebam<br />

como agentes na produção de conhecimento, diminuindo a dicotomia entre<br />

estâncias vistas como de produção de saberes e outras, vistas como de mera<br />

execução e aplicação. Moraes e Ramos (apud Galiazzi, 2003 p. 56) apontam a<br />

pesquisa em educação como contribuinte para o entendimento de aspectos<br />

epistemológicos relacionados ao conhecimento profissional do professor.<br />

A presente investigação aponta para a importância de, durante a formação<br />

inicial, o licenciando desenvolver, pela vivência da pesquisa, um olhar crítico e<br />

reconstrutivo da realidade do ensino e de aprendizagem escolar, para, assim,<br />

ampliar a idéia de que para ser um ‘bom professor’ basta dominar os conhecimentos<br />

específicos de química. Com Marcelo (1997) defende-se que, se essa visão<br />

simplista de ser professor não for problematizada durante a formação inicial, ela<br />

38


permanecerá predominante nas práticas pedagógicas dos futuros docentes, como<br />

sendo algo natural e correto em decorrência de toda a sua formação ambiental ao<br />

longo da escolarização.<br />

O pensar numa reforma educacional tem remetido para a necessidade de<br />

mudar o modelo ainda predominante nas instituições formadoras de profissionais,<br />

em particular de professores, na maioria das vezes pautado na racionalidade<br />

técnica, que fragmenta saberes e práticas, simplificando o fazer pedagógico<br />

fundamentado numa mera reprodução/cópia. De acordo com Morin (2005), “a<br />

dificuldade chave que revela o fracasso de todas as reformas sucessivas do ensino<br />

é a de que não se pode reformar a instituição sem ter previamente reformado os<br />

espíritos e as mentes” (2005, p.75) dos sujeitos que nela atuam.<br />

Partindo dessas linhas problemáticas impostas pelo modelo da racionalidade<br />

técnica, da visão de um ensino que torna os sujeitos meros reprodutores das<br />

realidades, que apenas transmitem conhecimentos externos, busca-se<br />

compreensões frente à hipótese básica desta investigação que remete para a<br />

necessidade de se criar novos espaços interativos pautados na inovação da<br />

formação docente inicial.<br />

É nesse sentido que se defende, mediante a criação de novos espaços<br />

formativos (como os propostos nos Componentes Curriculares investigados), a<br />

instituição de uma formação inicial que, articulada pelo fazer pesquisa, torne o<br />

licenciando capaz de participar ativamente na construção de seus próprios<br />

conhecimentos profissionais, tornando-se participativo e crítico, na relação<br />

pedagógica em sala de aula, construindo novas visões do ser professor, do ensinar<br />

e do aprender, na interação com outros, contando, sistematicamente, com a<br />

imprescindível ajuda de referenciais teóricos diferenciados.<br />

Isso remete para a discussão trazida no capítulo que segue, que tratará,<br />

especificamente, da pesquisa do professor em formação inicial, tema que se<br />

constitui no foco de estudo da presente investigação.<br />

39


CAP 2 – A PESQUISA COMO ALIADA NA FORMAÇÃO INICIAL DE<br />

PROFESSORES<br />

Este capítulo trata de concepções e interlocuções no âmbito da temática do<br />

ensinar e do aprender a fazer pesquisa na formação inicial de professores. Dialoga-<br />

se, inicialmente, com diferentes autores que defendem o fazer pesquisa articulando-<br />

a na formação inicial docente, evidenciando-se a importância da prática na<br />

constituição de sujeitos mais críticos e participativos, que se tornem pesquisadores<br />

de sua prática. Na segunda parte do capítulo, são discutidas diferentes concepções<br />

de pesquisa, em especial explicitando o entendimento de pesquisa defendido no<br />

âmbito deste trabalho. Na terceira parte, busca-se propor meios de qualificar o<br />

processo do fazer pesquisa do contexto acompanhado, contando-se com<br />

intervenções teóricas. Na quarta parte, a atenção volta-se para diferentes<br />

possibilidades de articular pesquisa e ensino ao longo da formação docente inicial e,<br />

com base no referencial histórico-cultural a atenção se volta para a importância da<br />

mediação do ‘outro’ no ensinar e aprender a fazer pesquisa. Ao final do capítulo<br />

discute-se, com base na abordagem histórico-cultural, a significação dos<br />

instrumentos culturais da pesquisa no âmbito da constituição do licenciando como<br />

professor pesquisador em formação inicial.<br />

40


2.1. – O Fazer Pesquisa como Caminho e a Constituição do Professor<br />

Pesquisador em Formação Inicial<br />

O modelo vigente de formação docente, assim como de outra formação<br />

profissional, está inserido em diferentes discursos e em diferentes práticas de ensino<br />

que, sendo históricas, fazem parte de sociedades e são objeto de reformulações e<br />

revisões, ao longo dos anos. A literatura da área de Formação de Professores<br />

(Pimenta (2002); LüdKe (2001, 2001a, 2000); André (2001); García (1999) e outros,<br />

tem criticado algumas abordagens em torno das metáforas relativas ao ‘ser<br />

professor’, a exemplo do professor reflexivo, do professor pesquisador. Sobre as<br />

metáforas do ‘ser professor’, Perez Gomes (1992) diz que “cada uma delas possui<br />

uma determinada concepção de escola e de ensino; uma teoria do conhecimento, da<br />

sua transmissão e aprendizagem; uma relação própria das relações entre teoria e<br />

prática, entre a investigação e ação” (p. 96).<br />

Gauthier e Tardif (1997) categorizam três dimensões do ser professor, a<br />

primeira remetida ao século XVII denominada pelos autores, como saber tradicional,<br />

na qual acreditava-se que para ser professor a pessoa deveria possuir um dom,<br />

aliado ao modelo de docente de “um artesão cujo saber é fundado sobre a<br />

experiência e uma tradição própria ao seu oficio” fundando-se a prática pedagógica<br />

em crenças divinas. Na segunda, remetida aos meados do século XIX, o ser<br />

professor se reduzia a um “técnico cujo saber fazer é fundado em uma técnica<br />

rigorosa”. Acreditava-se na ciência como fonte da verdade única. A terceira, no<br />

século XX, se aproxima dos dias atuais, e o modelo de docente é visto como um<br />

profissional “cujo saber fazer é fundado sobre a reflexão antes durante e após a<br />

ação” (p.39). Os autores remetem a importância de o professor ser percebido e<br />

formado como profissional:<br />

Conceber o docente como um profissional significa compreendê-lo como<br />

alguém dotado de saberes e que, confrontado com uma situação complexa<br />

na qual torna-se impossível utilizar estes saberes conforme eles deveriam<br />

ser aplicados diretamente, deve, por conseguinte, deliberar, refletir sobre a<br />

situação e decidir (GAUTHIER e TARDIF, 1997, p. 46).<br />

A partir da consideração do professor como profissional, diferentemente da<br />

concepção da prática docente como um mero ofício, pesquisas voltam-se para os<br />

41


conhecimentos ou saberes docentes, tratados por vários autores (Tardif, 2000,<br />

Gauthier, 1998 e outros), articuladamente a tematizações sobre as competências e a<br />

identidade do professor (Perrenoud, 1993, 1999, Nóvoa, 1991, 1995) e sobre a<br />

questão do professor pesquisador (Zeichner, 1993, 1997, 1998), sendo que, com<br />

esta ênfase da pesquisa educacional, começam importantes reformas no âmbito da<br />

formação docente (Lüdke 2001, p. 79 e 80).<br />

A partir da década de 80 e com um crescimento nos anos 90, a pesquisa<br />

sobre a formação do professor pesquisador tem crescido no âmbito educacional.<br />

Segue um breve histórico, a partir de Lüdke (2001, 2001a, 2000), García (1999) e<br />

outros autores, sobre concepções do ‘ser professor’ anteriores à assunção da<br />

metáfora do professor pesquisador, e relacionadas com sua origem.<br />

Em 1975, com o trabalho de L. Stenhouse na Inglaterra, sobre o<br />

desenvolvimento de currículo, a concepção de professor passava a ser destacada,<br />

pois o autor reivindicava para o professor uma posição de artista. Segundo<br />

Stenhouse o professor deveria, através de experimentações, de ‘ensaios’ buscar<br />

diferentes formas, estratégias, para melhorar o ensino. Também considerava o<br />

professor um investigador, um profissional autônomo. Este autor é considerado um<br />

dos pioneiros da investigação-ação. Na Inglaterra, Elliott (1993), expandindo as<br />

idéias de Stenhouse, propõe a investigação-ação, como uma aliada para o<br />

crescimento profissional do professor. Nesta mesma linha, Lüdke, destaca também,<br />

os trabalhos de Carr e Kemmis (1986), com a análise da importância da dimensão<br />

crítica no pensamento do professor.<br />

Fiorentini et al. (1998) considerando as propostas e concepções de pesquisa-<br />

ação de Stenhouse e Elliott ou Carr e Kemmis identifica semelhanças e<br />

descompassos entre as propostas destes pesquisadores. Segundo o autor:<br />

ambas atribuem como objetivo da pesquisa-ação a melhoria da prática<br />

pedagógica, o desenvolvimento curricular centrado na escola, o<br />

desenvolvimento auto-reflexivo na escola e na melhoria das condições para<br />

o trabalho pedagógico investigativo. Entretanto embora, ambas valorizem as<br />

questões ético-políticas que norteiam os fins da pesquisa-ação, a<br />

concepção de Carr e Kemis diferencia-se da elliottiana ao vincular o projeto<br />

de pesquisa-ação a um projeto político emancipador de sociedade (...)<br />

Enquanto Carr e Kemmis defendem uma relação dialética entre teoria e<br />

prática, isto é defendem “a unidade de uma teoria educativa com uma<br />

42


prática educativa”, Elliott propõe a formação de professores reflexivos a<br />

partir da prática (FIORENTINI et al., 1998, p.329-330).<br />

Outra abordagem da formação docente é a que tem Donald Schön, como<br />

autor, ao propor a formação do practicum reflexivo. Schön (1992) traz uma crítica ao<br />

modelo da racionalidade técnica no qual, “primeiro ensinam-se os princípios<br />

científicos relevantes, depois a aplicação destes princípios, e por último, tem-se um<br />

practicum cujo objetivo é aplicar à prática quotidiana os princípios da ciência<br />

aplicada” (p.91). O autor (2000) defende um ensino prático reflexivo que traria a<br />

aprendizagem através do fazer para o centro desse núcleo, não deixando o fazer<br />

apenas para o final do currículo de formação (p.227).<br />

Perez Gomes (1992) ressalta que para compreender a atividade do<br />

profissional como um prático reflexivo deve-se considerar as três idéias centrais<br />

propostas por Schön: o conhecimento na ação, a reflexão na ação e a reflexão sobre<br />

a reflexão na ação. Sendo o conceito de reflexão-na-ação um processo mediante o<br />

qual os práticos, e nestes incluem-se os professores, aprendem através da análise e<br />

interpretação da sua própria atividade.<br />

Lüdke também destaca a obra de Schön, o Reflexive Practitioner, de 1983,<br />

pois, segundo a autora é a partir daí que se difundiu a idéia de professor reflexivo.<br />

Nos dizeres da autora:<br />

a enorme difusão das idéias de Schön levou a toda a comunidade<br />

educacional uma onda na direção da imagem de um professor mais ativo,<br />

crítico e autônomo em relação às suas escolhas e decisões, contrariamente<br />

àquela de aplicador de soluções prontas, emanadas de esferas externas,<br />

sobretudo as marcadas com o selo da racionalidade técnica (LÜDKE,<br />

2001a, p.30).<br />

Em decorrência das idéias do professor reflexivo, iniciou-se o<br />

desenvolvimento de idéias sobre ‘a pesquisa junto ao fazer docente’ e, assim, a<br />

idéia do professor pesquisador. Lüdke (2001a) diz que, “o entusiasmo despertado<br />

pelas idéias de Schön tem inspirado manifestações que aproximam muito as idéias<br />

de reflexão e de pesquisa, a um ponto de quase propor uma unificação entre o<br />

professor reflexivo e o professor pesquisador” (p.30). A autora enfatiza, porém, que<br />

“nem todo o professor por ser reflexivo é também pesquisador, embora a recíproca<br />

seja verdadeira”. E com base em Contreras, a mesma autora afirma que, “a<br />

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atividade de pesquisa implica uma posição reflexiva, e, ambas, a reflexão e a<br />

pesquisa, devem envolver um componente crítico” (2001a, p.31).<br />

Lüdke (2001a, p. 31-33) faz uma breve explicitação em relação ao conceito de<br />

reflexão, entendido por Contreras. Segundo a autora, ele aponta para a necessidade<br />

da reflexão não ficar limitada à sala de aula. É preciso, segundo Contreras, remeter<br />

um conteúdo crítico para o processo de reflexão, que abranja a realidade mais<br />

ampla, todo o contexto, numa perspectiva transformadora. Para esse processo de<br />

reflexão, Contreras defende ser a teoria uma aliada indispensável à transformação<br />

da prática, o que também é defendido por Carr e kemmis (1986), além de outros<br />

autores.<br />

Neste sentido, Pimenta (2002), entre outros autores, aponta a necessidade de<br />

superar a visão de uma reflexão como caráter individualista, isto é, “fruto de uma<br />

reflexão em torno de si própria”, de se tornar um modismo, na crença de que a<br />

reflexão possa ser suficiente para resolver os problemas da prática (p.22). A autora<br />

traz diferentes concepções de reflexão, em especial, as diferenças nas propostas de<br />

Schön e de Liston e Zeichner. Com base em Rocha, Pimenta diz que:<br />

a reflexão desenvolvida por Schön aplica-se a profissionais individuais,<br />

cujas mudanças que conseguem operar são imediatas: eles não<br />

conseguem alterar as situações além das salas de aula. Zeichner e Liston<br />

acreditam que Schön tinha consciência dessa limitação dos profissionais<br />

reflexivos (PIMENTA, 2002 p. 22 e 23).<br />

A mesma autora aponta que Liston e Zeichner “consideram que o enfoque de<br />

Schön é reducionista e limitante por ignorar o contexto institucional e propor a prática<br />

reflexiva de modo individual” (p. 23). Os autores mencionados, segundo Pimenta,<br />

enfatizam que, apesar da prática do professor ser momentaneamente individual, ela<br />

está inserida num contexto político, social e institucional, e que este contexto deve<br />

estar presente na reflexão sobre a prática. Acredita-se que, apesar das limitações,<br />

não se pode desconsiderar o importante mérito de Schön em criticar o modelo<br />

tecnicista de formação, a dicotomia entre teoria e prática, e de propor a necessidade<br />

de superar a visão do professor como um técnico que apenas executa tarefas.<br />

Outros aspectos vêm enriquecendo suas críticas e novas abordagens enriquecem os<br />

conhecimentos e proposições.<br />

44


Voltando a atenção para a ‘formação pela pesquisa’, segundo André (2001)<br />

“existe um consenso na literatura educacional de que a pesquisa é um elemento<br />

essencial na formação profissional do professor” (p. 55). No Brasil, um dos autores<br />

que propõe a indissociabilidade entre ensino e pesquisa é Pedro Demo (2005, 1999,<br />

1996). Outros autores também evidenciam a importância das práticas de pesquisa,<br />

como André, 2001; Galiazzi, 2003; Lüdke 2001, 2001a, 2000; Maldaner, 1999, 2003;<br />

Moraes, 1998; Moraes, Galiazzi e Ramos, 1998, entre outros. Marli André (2001)<br />

alerta para o risco de diferentes concepções do formar o professor pesquisador,<br />

Para alguns, formar o professor pesquisador significa levar o futuro docente<br />

a realizar um trabalho prático ou uma atividade de estágio, que envolve<br />

tarefas de coleta e de análise de dados. Para outros significa levar futuros<br />

professores a desenvolver e implementar projetos ou ações nas escolas. E<br />

há ainda os que se valem do prestígio comumente associado à pesquisa<br />

para divulgar essa idéia como um novo selo, um modismo ou uma marca de<br />

propaganda (ANDRÉ, 2001, p. 57).<br />

A autora defende que é preciso examinar com cuidado a proposta de formar<br />

professores pesquisadores, não a reduzindo nem a simplificando, mas também não<br />

lhe atribuir soluções mágicas para os problemas educacionais.<br />

Ramos (2000) expõe diferentes tipos de professor e de pesquisa que podem<br />

ser atribuídos à expressão professor pesquisador. Segundo o autor, tem-se o<br />

professor que pesquisa o conhecimento específico que ensina, e neste caso, apesar<br />

do professor ser um pesquisador, um sujeito que participa da comunidade científica,<br />

que produz conhecimentos específicos não realiza na sua sala de aula um ensino<br />

diferenciado, não propõe a iniciação à investigação, realiza sua prática docente de<br />

forma tradicional, repassando conhecimentos copiados. Este ‘tipo’ de professor<br />

pesquisador é muito comum nas universidades, a atividade de pesquisa do professor<br />

não propicia melhoras no seu fazer em sala de aula, sendo que a atividade docente<br />

é vista como secundária, cabendo muitas vezes a bolsistas desempenhar esta<br />

função. Nos dizeres de Ramos,<br />

esses docentes enquanto entendem o seu próprio conhecimento como<br />

produto de uma construção, constituído através de sua investigação,<br />

percebem o conhecimento que ensinam como algo a ser transmitido, muitas<br />

vezes sem espaço para qualquer questionamento (...) desvelando uma<br />

contradição (RAMOS, 2000, p. 45).<br />

45


Apesar de serem renomados pesquisadores, sua prática de sala de aula é<br />

obsoleta e não contribui para uma aprendizagem significativa.<br />

Outra categorização de professor pesquisador que Ramos referencia é o<br />

professor que pesquisa a própria prática em sala de aula, tendo uma prática de<br />

reflexão na ação buscando interagir com o coletivo, segundo Ramos:<br />

isso têm grande importância, porque, muitas vezes, a aula que está<br />

acontecendo na cabeça do professor não é a mesma aula que está ‘rolando’<br />

no meio do grupo dos alunos. A pesquisa, o diálogo, a reflexão é que<br />

podem nos mostrar a aula real e como podemos transformá-la e melhorá-la<br />

(RAMOS, 2000, p.45).<br />

O autor enfatiza a importância dessa prática de pesquisa por parte dos<br />

professores, assinalando que ela deve acontecer com a participação de outros<br />

professores, a fim de validar os resultados, bem como, de ser uma prática que<br />

possibilite a problematização do fazer docente, buscando melhorias no fazer<br />

pedagógico. Entende-se que o professor que pesquisa sua prática busca inovação,<br />

seleciona conteúdos, constrói o seu material didático, busca referencial teórico que<br />

possibilite uma melhor interpretação da sua prática.<br />

Uma terceira definição de professor pesquisador considerada por Ramos é a<br />

do professor que propõe atividades de pesquisa aos seus alunos, assume a<br />

pesquisa em sala de aula como princípio didático. Este professor deve ser<br />

pesquisador para poder orientar os estudantes nas diversas etapas da pesquisa e<br />

assim se constituir um co-investigador do processo e reconstruir seus<br />

conhecimentos pelas diferentes vivências no decorrer da experiência (2000, p.47).<br />

Na presente investigação, ao defender-se a importância de a formação<br />

docente inicial contemplar uma inserção da prática do aprender a fazer pesquisa,<br />

acredita-se que tal formação contribua para a saída de professores pesquisadores<br />

da formação inicial. O professor pesquisador defendido, no âmbito deste trabalho,<br />

refere-se às duas últimas definições de professor pesquisador anteriormente<br />

apresentadas. Assume-se, que o professor pesquisador deve ser um sujeito<br />

interativo na construção e reconstrução de conhecimentos, um professor que não<br />

seja apenas um transmissor de conhecimentos externos, que participe da sociedade,<br />

46


que torne seu ensino mais significativo, que busque a constante melhora de sua<br />

prática pedagógica de maneira autônoma, ou seja, em interação com o coletivo,<br />

seus pares teóricos e práticos. Com os dizeres de Maldaner, defende-se que o<br />

professor pesquisador é também um professor reflexivo e a reflexão na e sobre a<br />

sua prática, com uma visão crítica, lhe permite ser um sujeito construtor de<br />

conhecimentos:<br />

aquele capaz de refletir a respeito de sua prática de forma crítica, de ver a<br />

sua realidade de sala de aula para além do conhecimento na ação e de<br />

responder, reflexivamente, aos problemas do dia-a-dia nas aulas. É o<br />

professor que explicita suas teorias tácitas, reflete sobre elas e permite que<br />

os alunos expressem o seu próprio pensamento e estabeleçam um diálogo<br />

reflexivo recíproco para que, dessa forma, o conhecimento e a cultura<br />

possam ser criados e recriados junto a cada indivíduo (MALDANER, 2003,<br />

p.30).<br />

Maldaner (2003), na defesa da pesquisa como aliada na melhoria da<br />

competência profissional, explicita, com base em Schön, que na sala de aula não há<br />

situação-padrão para a qual possam-se aplicar soluções estudadas e delas abstrair<br />

as condições reais. Nesse sentido, o autor, defende a necessidade de que o<br />

professor seja capaz de observar, buscar respostas não evidentes à primeira vista,<br />

entender o processo de ensino e aprendizagem em sua concretude, e assim, atuar<br />

sobre o real, que é único e repleto de incertezas.<br />

Com base em pressupostos como os apontados, considerando-se a<br />

complexidade da problemática concernente à articulação da pesquisa à prática da<br />

formação docente inicial, buscou-se investigar a articulação do fazer pesquisa em<br />

Componentes Curriculares de um Curso de Licenciatura, enquanto possibilidade<br />

para a constituição de professores pesquisadores. Acredita-se, com base no<br />

referencial teórico de apoio, que a prática do fazer pesquisa durante a formação<br />

inicial é contribuinte para a formação de novos professores que reajam às atuais<br />

condições de trabalho, que busquem a melhoria para o seu fazer profissional, que<br />

vejam a autonomia como conquista e a prática curricular como algo em constante<br />

processo de reconstrução social, nas interações.<br />

Sabe-se que em muitos espaços educacionais são precárias as condições<br />

para a inserção da pesquisa no perfil profissional dos professores, devido às<br />

47


condições de trabalho, a falta de apoio de material teórico, pouco tempo fora de sala<br />

de aula, rotatividade de professores de uma escola para outra. Porém é importante<br />

lembrar que apesar destas limitações, vários estudos têm evidenciado exemplos de<br />

pesquisas realizadas por professores da escola básica (Lüdke 2001a, Maldaner<br />

2003, Rosa 2000).<br />

Parte-se da hipótese básica de que para o professor da escola básica saber<br />

pesquisar e compreender a importância de pesquisar é primordial que ele vivencie<br />

os passos do fazer pesquisa em situações reais, no âmbito de sua formação inicial<br />

ou continuada, sendo essencial a sua participação em todo o processo do fazer<br />

pesquisa. Neste sentido, em defesa da inserção do fazer pesquisa ao longo da<br />

formação docente, Maldaner diz que,<br />

se defendemos que os professores devem atuar como pesquisadores em<br />

sua ação docente, porque diante de práticas complexas que exigem a<br />

produção de saberes e conhecimentos na ação, a prática da pesquisa deve<br />

estar presente, também, na formação inicial (MALDANER, 2003, p.91).<br />

Na sua investigação, Lüdke (2001a) aponta que “a participação em uma<br />

pesquisa em realização constitui a melhor preparação para o futuro pesquisador, em<br />

todas as áreas” (p.42). A referida autora defende que é<br />

necessário introduzir o futuro professor no universo da pesquisa, em sua<br />

formação inicial e também na formação continuada, garantindo assim a<br />

possibilidade de exercício do magistério de maneira muito mais crítica e<br />

autônoma (LÜDKE, 2001a, p.51).<br />

Esta perspectiva corrobora a hipótese da presente investigação, de ser a<br />

vivência do fazer pesquisa na formação docente inicial um caminho para a<br />

constituição de um profissional que seja capaz de atuar com maior competência em<br />

sala de aula, reconhecendo as diferentes relações entre o seu fazer pedagógico e a<br />

realidade social, também, sendo um sujeito capaz de construir e (re)construir<br />

conhecimentos, sistematicamente, com abertura, nas interações com outros.<br />

Segundo a reorganização da educação básica e profissional que está ocorrendo no<br />

país, “competências são as modalidades estruturais da inteligência, ou melhor,<br />

ações e operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos,<br />

situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer” (Brasil, 2001).<br />

48


Nesse sentido, acredita-se que o professor iniciado na pesquisa durante sua<br />

formação inicial terá maiores condições de realizá-la, posteriormente, na sua prática<br />

docente, terá condições de no âmbito escolar delimitar questões que realmente<br />

demandem e possam contar com a relevante contribuição da pesquisa. Acredita-se<br />

que esse aprender a fazer pesquisa, vivenciado na sua formação, permitirá que ele<br />

crie em sua sala de aula um ambiente de pesquisa, vindo a ser um bom orientador<br />

das pesquisas dos seus alunos.<br />

Gonçalves e Gonçalves (2000), ao tratarem da formação inicial de<br />

professores, também enfatizam a importância da contribuição da participação dos<br />

licenciandos no fazer pesquisa em Ensino de Ciências e Matemática, valorizando o<br />

desenvolvimento da atitude da reflexão,<br />

pois assim estarão sendo iniciados no processo de pesquisa, recebendo,<br />

com isto, estímulo e competência para seus trabalhos futuros como<br />

professores, podendo, então, investigar também suas próprias práticas, cujo<br />

resultado os levará provavelmente, a uma reflexão constante de suas<br />

atividades como educadores (GONÇALVES e GONÇALVES, 2000, p.123).<br />

Por outro lado, para a prática da pesquisa se tornar relevante no processo de<br />

formação é necessário, conforme Galiazzi (2003), que “os futuros professores<br />

participem da pesquisa em todo o processo, que aprendam a compreender a ciência<br />

como busca pelo conhecimento nunca acabado, sempre político, que precisa de<br />

qualidade formal” (p.55). Com base nestes entendimentos, para o fazer pesquisa ao<br />

longo da formação inicial ser significativo, não basta ao licenciando ter um simples<br />

envolvimento com a pesquisa, nos dizeres de Perrenoud,<br />

enquanto se formar os estudantes para a pesquisa fazendo-os recolher e<br />

sistematizar dados em função de hipóteses de pesquisa para cuja definição<br />

eles não contribuíram, se manterá a ilusão de que se forma pesquisadores<br />

quando, na verdade, se treina técnicos (PERRENOUD, 1999, p.16).<br />

É o envolvimento do licenciando em todo o processo, participando de cada<br />

etapa do fazer pesquisa que contribui para a sua constituição como professor<br />

pesquisador, sendo necessário que os licenciandos aprendam a buscar<br />

conhecimentos, e a partir destes, a construir seus próprios argumentos, enriquecidos<br />

por novos conhecimentos, que extrapolem suas anteriores teorias pessoais, bem<br />

como, que aprendam a explicitar e escrever suas intenções de pesquisa, que<br />

49


produzam e divulgam/validem resultados de suas investigações, no âmbito da sala<br />

de aula e/ou fora, e que saibam orientar as pesquisas de seus alunos, não aceitando<br />

trabalhos copiados mas que saibam incentivar o estudante a realizar leituras<br />

significativas para que ele possa se posicionar e debater sobre um determinado<br />

assunto, superando a prática da cópia.<br />

É neste sentido, que se defende a importância do envolvimento dos<br />

licenciandos em cada etapa do fazer pesquisa, a importância da articulação da<br />

pesquisa ao longo da formação docente inicial, fazendo com que o licenciando<br />

participe de cada passo da sua execução, enquanto elemento formativo fundante de<br />

novos conhecimentos, concepções e práticas educativas.<br />

Assim, o fazer pesquisa articulado à formação inicial de professores é visto e<br />

investigado como caminho que contribui, significativamente, para a superação da<br />

formação tecnicista baseada na racionalidade técnica, que torna o licenciando<br />

parceiro do desenvolvimento, superando a posição de um sujeito que apenas<br />

executa tarefas pré-determinadas, para a de sujeito, participante e ativo, ao longo de<br />

sua formação. É nesse âmbito de compreensão que referendamos a potencialidade<br />

de contribuições do fazer pesquisa para a superação do modelo de formação de<br />

profissionais professores que saibam enfrentar os problemas buscando e<br />

(re)produzindo conhecimentos e soluções, interagindo dinamicamente com seus<br />

pares, com outros, com a literatura para, assim, responder aos desafios postos no<br />

decorrer de sua formação e prática. Isso, a partir de interações em contextos<br />

diversificados, considerando a relevante e imprescindível participação da pesquisa<br />

do professor em formação inicial.<br />

2.2. De Qual Pesquisa Falamos?<br />

Ao buscar contribuições da prática do aprender a fazer pesquisa como<br />

caminho para superar o modelo de formação inicial pautado na racionalidade<br />

técnica, torna-se imprescindível clarificar o significado de ‘pesquisa’, de ‘pesquisar’,<br />

explicitar de qual ‘prática de pesquisa’ o trabalho se refere. Assim, considerando a<br />

50


importância de ampliar, com base em diferentes autores, o entendimento de<br />

pesquisa e de pesquisar, a abordagem que segue busca explicitar tal entendimento.<br />

Um dos teóricos nacionais, anteriormente referido, que aborda o “Educar pela<br />

Pesquisa” é Pedro Demo. Na obra “Pesquisa princípio científico e educativo”, (1999)<br />

o autor deixa clara sua posição de defesa em relação à pesquisa como sendo uma<br />

proposta emancipatória 2 . Para o autor a pesquisa não pode ser vista como um<br />

processo iluminado e restrito apenas para algumas pessoas. Em seus dizeres,<br />

ressalta que “libertar a pesquisa do exclusivismo sofisticado não pode levá-la ao<br />

exclusivismo oposto da banalização cotidiana mágica”. Acredita que é fundamental<br />

criticar a separação artificial entre o ensino e a pesquisa (p.12).<br />

Pesquisa é um processo que deve aparecer em todo trajeto educativo,<br />

como princípio educativo que é, na base de qualquer proposta<br />

emancipatória. Se educar é, sobretudo motivar a criatividade do próprio<br />

educando, para que surja o novo mestre, jamais o discípulo, a atitude de<br />

pesquisa é parte intrínseca. Pesquisar toma aí contornos muito próprios e<br />

desafiadores, a começar pelo reconhecimento de que o melhor saber é<br />

aquele que sabe superar-se (DEMO, 1999 p.16 e 17).<br />

O autor defende a pesquisa como indissociável do ensino, dando novas<br />

margens ao processo de ensino e aprendizagem. Nesta mesma obra Demo traz uma<br />

distinção entre duas visões de pesquisa, uma considerada “pesquisa como princípio<br />

científico e educativo”, que nos seus dizeres, “faz parte integrante de todo o<br />

processo emancipatório, no qual se constrói o sujeito histórico auto-suficiente, crítico<br />

e auto-crítico, participante capaz de reagir contra a situação de objeto e de não<br />

cultivar os outros como objeto”. E a outra “pesquisa como diálogo”, sendo esta vista<br />

como “processo cotidiano, integrante do ritmo da vida, produto e motivo de<br />

interesses sociais em confronto, base da aprendizagem que não se restrinja à mera<br />

reprodução” (p.42 e 43).<br />

A partir destas duas visões o autor conclui que “dialogar com a realidade<br />

talvez seja a definição mais apropriada de pesquisa, porque a apanha como<br />

2 Segundo o autor “emancipação é um processo histórico de conquista e exercício da qualidade de<br />

ator consciente e produtivo. Trata-se da formação de um sujeito capaz de se definir e de ocupar<br />

espaço próprio, recusando ser reduzido a objeto” (DEMO, 1999, p.78).<br />

51


principio científico e educativo” (p.44). E com base em Franchi, 1988, complementa<br />

que:<br />

pesquisar não é somente produzir conhecimento é, sobretudo aprender em<br />

sentido criativo. É possível aprender escutando aulas, tomando nota, mas<br />

aprende-se de verdade quando se parte para a elaboração própria,<br />

motivando o surgimento do pesquisador, que aprende construindo (DEMO,<br />

1999, p. 44).<br />

Neste sentido a prática do fazer pesquisa torna os sujeitos participantes do<br />

processo de aprendizagem, enquanto reconstrução de significados, fazendo, assim,<br />

com que o sujeito não absorva de forma passiva as informações, mas as analise<br />

criticamente, expressando posicionamentos e desenvolvendo condições de<br />

elaboração própria. Na obra “Educar pela Pesquisa”, Demo (2005) ressalta que a<br />

educação pela pesquisa consagra o questionamento 3 reconstrutivo 4 , com qualidade<br />

formal e política, e compreende a pesquisa como<br />

atitude cotidiana em primeiro lugar, ou seja, capacidade de estabelecer o<br />

questionamento reconstrutivo como propedêutica diária e da vida como tal,<br />

com destaque para a qualidade política, e em segundo lugar, habilidade de<br />

(re)construir conhecimento próprio para inovar (qualidade formal) e intervir<br />

(qualidade política). (DEMO, 2005, p. 87).<br />

Dessa forma, o autor acredita que a prática da pesquisa possibilita ao<br />

professor ser um sujeito que se assuma como um educador, que através da<br />

pesquisa construa e reconstrua conhecimentos e que participe da sociedade<br />

buscando alternativas e assumindo-se como sujeito histórico e participativo. Galiazzi<br />

(2003), com base em Demo, defende a pesquisa “como um processo de construção<br />

de conhecimento, e que a sala de aula precisa ser espaço de vivência desse<br />

processo” (p.61), defendendo a pesquisa como princípio educativo constituinte da<br />

prática do educar.<br />

Uma discussão muito presente na literatura educacional quanto a essa<br />

temática consiste na diferenciação entre pesquisa acadêmica, vista como sendo<br />

3 Segundo Demo, questionamento é compreendido como a superação da condição de objeto, para a<br />

de sujeito que seja capaz de criticar e com base nesta crítica propor alternativas, com capacidade de<br />

mudanças. (2005, p.10)<br />

4 Reconstrução, conforme Demo, compreende-se como conhecimento inovador, sempre renovado,<br />

sendo um conhecimento reconstruído, com interpretação própria, num sentido do aprender a<br />

aprender (2005, p.11).<br />

52


científica e a pesquisa do professor, vista como pesquisa escolar. Neste âmbito,<br />

segue uma discussão sobre posições teóricas de alguns autores que problematizam<br />

essa questão.<br />

Demo (2002) defende a necessidade de desmistificação da pesquisa vista<br />

como “fetiche acadêmico”, entendida como uma construção do conhecimento novo<br />

como atividade rara e com um ambiente de neutralidade, numa visão de que<br />

somente algumas pessoas são capazes de pesquisar. Este autor defende que a<br />

pesquisa deve ser vista como um “desafio de reconstrução do conhecimento,<br />

partindo do que já se conhece refazendo o que já está feito” (p.52). Criticando o<br />

sentido mecanicista, de cópia o autor defende o sentido de transformação e<br />

reconstrução.<br />

Num outro texto o mesmo autor (2002) afirma ser preciso minimizar ou evitar<br />

dois extremos de pesquisa, um que considera a pesquisa como algo sofisticado para<br />

pesquisadores profissionais e o outro que considera a pesquisa como qualquer<br />

coisa, fazendo desta idéia uma nova moda vazia, e reafirma novamente que uma<br />

definição mínima para pesquisa “seria a de questionamento reconstrutivo” (p.112).<br />

Ainda com relação a essa diferenciação entre pesquisa científica e escolar, Galiazzi,<br />

com base em Cañal (1999) afirma que:<br />

fazer pesquisa em sala de aula não é o mesmo que fazer pesquisa<br />

científica, embora a qualidade dos resultados possa ser equivalente ou<br />

mesmo uma pesquisa escolar possa chegar a ser científica, se percorrer o<br />

processo de validação de uma comunidade científica. As finalidades do<br />

conhecimento que está sendo construído são diferentes em um e outro<br />

contexto, os problemas abordados são diferentes, porque o<br />

desenvolvimento intelectual dos participantes é diferente, as exigências<br />

sobre os significados também são diferentes (GALLIAZZI, 2002, p. 295).<br />

A autora além de explicitar as diferenças, busca algumas aproximações no<br />

fazer destes dois ‘tipos’ de pesquisa:<br />

ambas ocorrem pelo questionamento de uma realidade, pela construção de<br />

argumentos validados em uma comunidade, pela necessidade de clareza<br />

na expressão das idéias, pelo rigor e sistematização, pela busca de<br />

fundamentação teórica, pela análise de dados empíricos, pelo exercício da<br />

escrita, pela comunicação dos resultados (GALIAZZI, 2002, p. 295).<br />

Lüdke (2001a), ao investigar professores da educação básica que fazem<br />

pesquisa, chama a atenção, a partir da “ambigüidade registrada em relação ao<br />

53


conceito de pesquisa” de que “pesquisa é um conceito não consensual”. A autora<br />

mostra que os professores ao definirem o seu entendimento sobre pesquisa<br />

“parecem divididos entre uma pesquisa voltada para uma meta acadêmica e uma<br />

outra voltada para a situação de sua prática como docentes” (p.37). Na continuidade<br />

do texto, ela assim se posiciona:<br />

é arriscado e simplificador aceitarmos para a pesquisa feita na escola<br />

básica uma classificação exclusiva, pois ela poderia trazer consigo uma<br />

conotação restritiva e limitadora, com prejuízo para o próprio conceito de<br />

pesquisa e para a sua função de construção do conhecimento para os<br />

problemas que pedem solução. (LÜDKE, 2001a, p. 39).<br />

Neste sentido, André (2001a, p. 64) também assinala uma preocupação<br />

quanto à contraposição entre “pesquisa acadêmica e pesquisa dos profissionais das<br />

escolas, conhecimentos científicos e conhecimentos úteis à prática”. Com base nos<br />

estudos de Huberman, afirma que, “a relação entre a pesquisa acadêmica e a<br />

pesquisa dos profissionais da escola não deve ser vista de forma dicotômica, mas<br />

como uma possível combinação, com benefícios para ambos os lados”. A referida<br />

autora traz também um posicionamento quanto aos fins e a natureza dos<br />

conhecimentos produzidos numa pesquisa. Diz que:<br />

há por um lado, os que consideram como principal objetivo da pesquisa a<br />

produção de conhecimentos novos, obtidos através de procedimentos<br />

sistemáticos e rigorosos de coleta e análise dos dados (Beillerot 1991;<br />

Foster 1999). Há por outro lado, os que julgam a pesquisa educacional<br />

irrelevante para o trabalho do professor e criticam-na por oferecer poucas<br />

contribuições à melhoria da prática (ANDRÉ, 2001a,p. 64).<br />

A mesma autora, ao continuar sua análise, afirma que entre posições<br />

contrárias, há um consenso quanto ao requisito de a pesquisa exigir rigor e<br />

sistematização na coleta e análise de dados. Por outro lado, no sentido de romper<br />

com a dicotomia entre a pesquisa acadêmica e a pesquisa do professor, Zeichner e<br />

Pereira (2005) ao discutirem a pesquisa-ação, referem que:<br />

em publicação anterior, Zeichner (1995) defende a necessidade de<br />

suplantarmos a divisão entre a pesquisa dos educadores e a pesquisa<br />

acadêmica em educação. O autor sugere três estratégias principais para<br />

romper com essa separação: por meio do envolvimento dos profissionais<br />

das escolas em discussões sobre o significado e a importância das<br />

investigações desenvolvidas nas universidades e demais instituições de<br />

pesquisa; por intermédio do desenvolvimento de projetos de pesquisa em<br />

colaboração com os professores nas escolas em que velhos modelos<br />

54


hierárquicos são realmente superados; e, finalmente, por meio do apoio a<br />

projetos de pesquisa-ação desenvolvidos pelos educadores, levando muito<br />

a sério o conhecimento produzido nesse processo. Zeichner lamenta o<br />

isolamento entre os professores nas escolas e os acadêmicos nas<br />

universidades e reafirma a necessidade da construção de alianças entre<br />

eles para a melhoria da educação e, mais especificamente, do ensino, e<br />

para a transformação social (ZEICNHER; PEREIRA, 2005).<br />

Isso remete para a importância de se analisar todo o processo da pesquisa,<br />

não apenas o seu produto, de não se ter a mera preocupação em rotular a pesquisa<br />

como sendo científica ou não, alertando para a importância de ambas, possuindo<br />

diferentes contextos, diferentes validações e diferentes funções, mas tendo,<br />

também, alguns critérios em comum. O que deve prevalecer não é uma mera<br />

comparação entre os dois processos de pesquisa, sendo importante desenvolver<br />

parcerias entre ambos os tipos de pesquisadores, num intercâmbio de<br />

conhecimentos.<br />

No âmbito da presente investigação a hipótese básica traz, com o apoio<br />

teórico anteriormente referido, um entendimento de pesquisa e de fazer pesquisa<br />

como fator propiciador de uma aprendizagem e de uma formação mais significativas,<br />

em que os sujeitos atuem como participantes interativos do processo pedagógico,<br />

com capacidade de argumentar, na busca da reconstrução de conhecimentos,<br />

contando com referenciais teóricos dinamicamente articulados na interpretação de<br />

realidades, desenvolvendo adequadas formas de elaboração teórico-metodológica,<br />

de análise cuidadosa de dados, construídos a partir da pesquisa empírica, aliada a<br />

uma elaboração escrita sobre os resultados, com validação perante os pares<br />

(colegas) e, se possível, junto à comunidade da respectiva área de conhecimento.<br />

Tal concepção de formação supera o ensino baseado na racionalidade<br />

técnica, supera a visão de sujeitos passivos na relação pedagógica. Com base no<br />

referencial histórico cultural, pode-se afirmar com Góes (2000) que “o sujeito não é<br />

passivo nem apenas ativo: é interativo” (p.25). A prática de formação pela pesquisa<br />

mostra que é na interação com os outros que o sujeito participa e critica. Nesse<br />

sentido as interações promovidas na prática do aprender a fazer pesquisa são vistas<br />

como eixo central da formação pela pesquisa.<br />

55


Em se tratando de uma realidade bastante complexa, para investigá-la,<br />

buscou-se fundamentos na perspectiva de construir um caminho que ajudasse na<br />

tentativa de buscar uma qualificação dos passos e dos níveis do fazer pesquisa,<br />

conforme está expresso a seguir.<br />

2.3. A Busca por uma Qualificação do Fazer Pesquisa em Sala de Aula<br />

Já foi referida a polêmica em torno da dicotomia entre pesquisas ‘científicas’ e<br />

‘escolares’. Sem buscar formas de cerceamento de tal polêmica, buscou-se, com<br />

apoio principal em Beillerot, Galliazi e Demo, qualificar a ‘participação da pesquisa’<br />

na formação docente inicial, tendo como base diferentes níveis de pesquisa<br />

propostos por esses autores, objetivando-se organizar categorias de análise do fazer<br />

pesquisa no contexto da formação inicial acompanhada.<br />

Beillerot (2001) no texto “A ‘Pesquisa’: esboço de uma análise”, traduzido por<br />

Lüdke (2001a), propõe uma definição do entendimento de pesquisa.<br />

Trata-se de um esforço mental assim como de um esforço de ações,<br />

significando com isso que se exclui da pesquisa aquilo que é encontrado<br />

por acaso ou por intuição: nem toda descoberta poderá ser relacionada com<br />

a pesquisa (BEILLEROT, 2001, p. 72).<br />

Ao continuar sua definição de pesquisa e ao se perguntar “em qual condições<br />

pode-se falar em pesquisa” (p.74), Beillerot propõe o reconhecimento de alguns<br />

procedimentos, como sendo característicos de uma “pesquisa mínima”, ou uma<br />

pesquisa de “primeiro nível”. Esses procedimentos são: “uma produção de<br />

conhecimentos novos (critério nº 1); um procedimento de investigação rigoroso<br />

(critério nº 2); uma comunicação dos resultados (critério nº 3)” (p. 74).<br />

Conforme Beillerot estes são os critérios que precisam ser contemplados para<br />

se atingir um nível mínimo de pesquisa. No âmbito da pesquisa do professor em<br />

formação inicial, é importante que tais critérios sejam adequadamente<br />

dimensionados, considerando-se o estágio do envolvimento dos sujeitos no<br />

processo formativo.<br />

56


Quanto ao primeiro critério, o ‘novo’, segundo o autor, consideraria o âmbito<br />

de um determinado grupo, de uma comunidade familiarizada com o assunto. No<br />

presente trabalho de investigação, este critério pode corresponder ao âmbito da sala<br />

de aula, junto ao contexto de formação dos licenciandos, numa discussão com o<br />

professor pesquisador e com os colegas. E num âmbito mais amplo, o “novo”, pode<br />

ser definido pela comunidade da área de Educação em Ciências e de Educação<br />

Química.<br />

O segundo critério é importante de ser considerado, tendo em vista possíveis<br />

dificuldades nas definições da organização teórico-metodológica da pesquisa, em<br />

especial quanto aos procedimentos adotados desde a elaboração do projeto até a<br />

execução dos demais passos da pesquisa.<br />

Quanto ao terceiro critério o autor afirma que: “não haveria pesquisa caso não<br />

houvesse o objetivo de comunicar” (p. 75).<br />

Contudo, para uma pesquisa atingir um “outro nível”, ou para a pesquisa ser<br />

considerada de “segundo grau”, Beillerot propõe, além dos três critérios acima<br />

mencionados mais três critérios. O quarto introduz a dimensão de crítica e reflexão<br />

sobre as fontes, os métodos e os modos de trabalho. O quinto critério proposto é<br />

referente à sistematização de coleta de dados. E o sexto estabelece a presença de<br />

interpretações enunciadas segundo teorias reconhecidas e atuais, permitindo a<br />

interpretação dos dados.<br />

Segundo este autor, as pesquisas de “segundo nível” são as vistas como de<br />

grau “superior” ou “universitárias”, recaindo na posição social que distingue essas<br />

das demais pesquisas (p.77). Nos dizeres de Beillerot:<br />

não é cabível reservar o termo “pesquisa” apenas às investigações às quais<br />

se aplica a totalidade dos critérios. Em compensação, as pesquisas não se<br />

efetuam todas nas mesmas condições e não dão lugar às mesmas<br />

produções (...) mas uma pesquisa que tivesse somente dois dos três<br />

primeiros critérios não seria simplesmente uma pesquisa (BEILLEROT,<br />

p.78, 2001).<br />

57


Nesse sentido, a análise do ‘fazer pesquisa’ por parte dos licenciandos é<br />

dimensionada, por exemplo, de forma a levar em conta o ‘lugar’ histórico-cultural em<br />

que eles se encontram, em seus processos de aprendizagem e formação,<br />

procurando não dimensionar o ‘nível’ de execução das pesquisas, cientes de que<br />

elas podem ter alguns critérios bem sucedidos e outros nem tanto, como também<br />

alerta Beillerot (p. 78).<br />

Pedro Demo retrata uma outra visão em relação a níveis e etapas que<br />

categorizam uma pesquisa. O autor afirma que:<br />

é mister superar a visão unilateral de considerar como pesquisa apenas<br />

seus estágios sofisticados, representados pelos produtos solenes do mestre<br />

ou do doutor (...) Por outra, pesquisa não é qualquer coisa, papo furado,<br />

conversa solta, atividade largada” (DEMO, 2005, p. 10),<br />

Demo sistematiza alguns níveis de pesquisa. Em ordem crescente, como um<br />

primeiro nível, o autor entende:<br />

a Interpretação Reprodutiva, no sentido de tomar um texto e sintetizar de<br />

modo a reproduzir com fidedignidade. A reprodução fidedigna contém<br />

alguma criatividade, porque supõe pelo menos alguma forma de<br />

interpretação (...) Uma cópia bem feita pode servir de primeiro passo, e não<br />

ter outro sentido. Não sendo cópia literal, contém algo de interpretação,<br />

que poderia aparecer pelo menos na capacidade de síntese (DEMO, 1996,<br />

p. 40).<br />

Em relação ao segundo nível, o autor o define como, “Interpretação Própria”,<br />

no sentido de ler um texto e conferir-lhe uma interpretação pessoal. Para o autor,<br />

neste nível o sujeito busca dizer com as suas palavras, fazendo uma interpretação<br />

ativa, com um tipo de leitura que discute o texto (1996, p.40).<br />

Um terceiro nível Demo caracteriza como:<br />

reconstrução, no sentido de tomar construção vigente como ponto de<br />

partida e refazer sob o signo de uma proposta própria. Trata-se de<br />

movimentar-se com autonomia no meio do que já existe, ou de questionar o<br />

que existe e repor proposta própria (DEMO, 1996, p.41).<br />

Roque Moraes que também defende o ‘educar pela pesquisa’, afirma que<br />

atingir o nível reconstrutivo constitui o objetivo suficiente para a pesquisa em sala de<br />

58


aula, visto que a reconstrução pode encaminhar para produções mais autônomas,<br />

para produções próprias (2002, p. 209).<br />

O quarto nível definido por Demo é o da “Construção, no sentido de tomar o<br />

que já existe como simples referência e abrir caminhos novos. Trata-se de ocupar<br />

caminho científico próprio produtivo no contexto dos paradigmas”. (1996, p.42) E o<br />

quinto nível, delineia-se, segundo o autor como “Criação/Descoberta, no sentido da<br />

introdução de novos paradigmas metodológicos, teóricos ou práticos. Trata-se de<br />

negar fases anteriores, questionar radicalmente, opor-se frontalmente à existência<br />

de paradigmas, perseguindo o novo como tal” (1996, p.42).<br />

Ao propor o ‘educar pela pesquisa’ no âmbito da formação docente inicial<br />

Galiazzi e Moraes (2002) enfatizam a transformação dos licenciandos, de objetos,<br />

em sujeitos das relações pedagógicas, num processo de aprender a aprender, e<br />

uma constante superação da aula copiada (p. 238).<br />

Alguns autores propõem maneiras diferenciadas de articulação entre ensino e<br />

pesquisa durante a formação. André (2001) propõe que,<br />

uma delas é que a pesquisa se torne um eixo ou um núcleo do curso, ou<br />

seja, que ela integre o projeto de formação inicial e continuada da<br />

instituição, construído pelos seus participantes, levando em conta os<br />

recursos e as condições disponíveis. Nesta perspectiva pode traduzir-se<br />

numa organização curricular, em que as disciplinas e atividades sejam<br />

planejadas coletivamente, com o objetivo de desenvolver habilidades e<br />

atitudes de investigação nos futuros professores. Pode, além disso, traduzirse<br />

no uso da pesquisa como mediação, ou seja, que as disciplinas e as<br />

atividades do curso incluam a análise das pesquisas que retratem do<br />

cotidiano escolar, visando aproximar os futuros docentes da realidade das<br />

escolas, levando-os a refazer o processo da pesquisa e a discutir sua<br />

metodologia e seus resultados (ANDRÉ, 2001, p.61).<br />

Galiazzi (2003) ao se perguntar “como usar a pesquisa nos cursos de<br />

formação de professores?”, propõe alguns caminhos. A autora inicia discutindo a<br />

problemática de que na maioria dos cursos de graduação o envolvimento dos alunos<br />

com a prática do fazer pesquisa se limita a bolsas de iniciação científica, e que<br />

poucos são os licenciandos com bolsas de iniciação científica. A autora também<br />

remete para o fato destes bolsistas atuarem geralmente em pesquisas nas áreas de<br />

59


Química, Física ou Biologia, e que pouco contribuem para a sua formação como<br />

futuro professor (p.58).<br />

Galiazzi defende que uma das maneiras de mudar o estado atual dos cursos<br />

de licenciatura é a de possibilitar a oportunidade de pesquisa a todos os<br />

licenciandos, e que seja incentivada a pesquisa na área de atuação profissional do<br />

licenciando, ou seja, a pesquisa em educação.<br />

A referida autora sugere algumas possibilidades para essa mudança. Uma<br />

delas é a de que todo professor, independente de sua disciplina, faça pesquisa<br />

relacionada com aspectos didáticos de sua sala de aula, para assim o aluno<br />

aprender com o exemplo deste professor. Outra possibilidade está vinculada à idéia<br />

de todos os estudantes atuarem em projetos de pesquisa em educação, e assim,<br />

participarem das diferentes etapas do projeto de pesquisa atuando como<br />

pesquisadores. E uma terceira alternativa proposta por Galiazzi é a de transformar<br />

qualquer disciplina em ambiente de pesquisa, é fazer da pesquisa um modo de<br />

aprender (p.59-60).<br />

A presente investigação analisa espaços curriculares que contemplam a<br />

segunda possibilidade proposta por Galiazzi, a de os alunos participarem em<br />

projetos de pesquisa vinculados com o ensino, propiciando a todos os licenciandos a<br />

vivência de fazer pesquisa, em todas as suas etapas, desde a elaboração do projeto<br />

até a sua execução e validação. Segundo Galiazzi, as diferenças desta proposta<br />

com as propostas que usualmente acontecem nas universidades estão no<br />

entendimento do papel desempenhado pelo estudante.<br />

Com esse entendimento ele participa do processo como pesquisador,<br />

mesmo que iniciante, com possibilidade de argumentação e decisão em<br />

todas as ações do projeto. O aluno participa de todas as etapas<br />

desenvolvidas durante o seu vínculo a esse tipo de disciplina (GALIAZZI,<br />

2003, p. 60).<br />

É esse processo do fazer pesquisa vivenciado pelos licenciandos que é objeto<br />

de estudo, nesta investigação, com atenção para percepções dos estudantes quanto<br />

a sua posição enquanto sujeito participativo da relação pedagógica e no trabalho<br />

60


como um todo. Busca-se um olhar para limites e contribuições desse modo de fazer<br />

pesquisa no contexto acompanhado.<br />

A prática do ‘educar pela pesquisa’ segundo Galiazzi e Moraes (2002) pode<br />

ser compreendida como um “ciclo de questionamento, argumentação e validação<br />

crítica”, os autores enfatizam também que o papel do professor neste processo é o<br />

de mediador (p.242). Este ciclo, segundo os autores, pode ser organizado em<br />

diferentes modos estruturais tanto pelo envolvimento da turma em um único projeto,<br />

ou por vários projetos em grupos menores. No contexto acompanhado foram<br />

executados vários projetos por pequenos grupos.<br />

Num outro texto, Galiazzi, Moraes e Ramos (2002) explicitam mais<br />

detalhadamente as ‘etapas’ do ‘educar pela pesquisa’ num ambiente de sala de<br />

aula. Os autores discutem três momentos que, segundo eles, compõem o ciclo do<br />

‘educar pela pesquisa’,<br />

a pesquisa em sala de aula pode ser compreendida como um movimento<br />

dialético, em espiral, que se inicia com o questionar dos estados do ser, do<br />

fazer e conhecer dos participantes, construindo-se a partir disso novos<br />

argumentos que possibilitam atingir novos patamares desse ser, fazer e<br />

conhecer, estágios esses então comunicados a todos os participantes do<br />

processo (2002, p.11).<br />

Como primeiro momento os autores colocam o questionar, afirmando que a<br />

pesquisa inicia com um problema, e assim afirmam um primeiro princípio de<br />

pesquisa em sala de aula:<br />

para que algo possa ser aperfeiçoado, é preciso criticá-lo, questioná-lo,<br />

perceber seus defeitos e limitações. È isto que possibilita pôr em movimento<br />

a pesquisa em sala de aula. O questionar se aplica a tudo que constitui o<br />

ser, quer sejam conhecimentos, atitudes, valores, comportamentos e modos<br />

de agir (GALIAZZI; MORAES e RAMOS, 2002, p.12).<br />

Os autores afirmam ainda “que é importante que o próprio sujeito da<br />

aprendizagem se envolva neste perguntar” (p.13). Assim é bom que seja o estudante<br />

que questione, que traga o problema a ser pesquisado, por alguma angústia sua,<br />

pelo seu conhecimento, pela sua vivência anterior. E ao questionar este<br />

conhecimento buscar novas alternativas e, assim, segundo os autores, assumir a<br />

sua condição de sujeito histórico, capaz de participar da construção da realidade.<br />

61


Deixando de aceitar a realidade simplesmente tal como imposta por outros, pelo<br />

discurso do grupo social em que estão inseridos (2002, p.14).<br />

No segundo momento do fazer pesquisa em sala de aula Galiazzi, Moraes e<br />

Ramos colocam como princípio que,<br />

a pesquisa em sala de aula precisa do envolvimento ativo e reflexivo<br />

permanente de seus participantes. A partir do questionamento é<br />

fundamental pôr em movimento todo um conjunto de ações, de construção<br />

de argumentos que possibilitem superar o estado atual e atingir novos<br />

patamares do ser, do fazer e do conhecer (GALIAZZI; MORAES e RAMOS,<br />

2002, p.16).<br />

Este momento, segundo os autores, implica em diversas atividades como, ler,<br />

discutir, argumentar, reunir dados para a análise e a interpretação, e isso, de acordo<br />

com eles, pode ocorrer tanto em grupo como individualmente (2002, p. 17).<br />

Quanto ao princípio do terceiro momento proposto, é dito que,<br />

é importante que a pesquisa em sala de aula atinja um estágio de<br />

comunicar resultados, de compartilhar novas compreensões, de manifestar<br />

novo estado do ser, do fazer e do conhecer, o que contribui para a sua<br />

validação na comunidade em que este processo está se dando. (GALIAZZI;<br />

MORAES e RAMOS, 2002, p.19)<br />

Segundo os referidos autores, a comunicação pode ser entendida em dois<br />

momentos, num primeiro momento fica restrita para um pequeno grupo, como por<br />

exemplo, a própria sala de aula, isso ainda no decorrer da execução da pesquisa. E<br />

no segundo momento a apresentação dos resultados já para uma comunidade mais<br />

ampla, com apresentação do trabalho em eventos, publicações e assim, segundo os<br />

autores, “possibilitar uma crítica por uma comunidade científica mais ampla” (p. 21).<br />

Enfatizam, ainda, que os resultados do trabalho realizado não podem ser,<br />

apenas, a publicação resultante, mas que,<br />

na pesquisa em sala de aula, é muito mais importante destacar produtos<br />

como a construção de habilidades de questionar, de construir argumentos<br />

com qualidade e saber comunicar os resultados à medida que são<br />

produzidos. Tudo isso expressa a qualidade de transformação dos sujeitos<br />

que se envolvem no processo (GALIAZZI, MORAES e RAMOS, 2002 p. 21 -<br />

22).<br />

62


Percebe-se a importância dada ao envolvimento, à participação interativa de<br />

cada sujeito no processo do fazer pesquisa. É com base nessa qualidade da<br />

transformação dos sujeitos, que se acredita na hipótese de ser o fazer pesquisa na<br />

formação inicial um caminho para buscar a melhoria do processo de ensino e<br />

aprendizagem na formação docente inicial.<br />

Tendo como base as diferentes etapas e níveis propostos pelos autores, bem<br />

como o entendimento já explicitado sobre pesquisa, buscou-se qualificar a pesquisa<br />

desenvolvida nos Componentes Curriculares do Curso de Licenciatura, discutindo<br />

em que medida ela contempla determinados níveis e etapas, a exemplo dos<br />

aspectos que seguem:<br />

- como o referencial teórico comparece e como ele ilumina o processo da<br />

investigação (como cópia ou auxiliando na interpretação, numa relação de dialogo<br />

transformador da realidade), desde a construção da questão de pesquisa, da<br />

hipótese básica, até a definição dos procedimentos metodológicos, a elaboração dos<br />

instrumentos, dos registros, a construção e análise dos resultados (rigor).<br />

- a contribuição do sujeito em expressar entendimentos e posicionamentos<br />

próprios iniciais, no âmbito do tema pesquisado, na busca de evidenciar<br />

interpretações envolvendo reconstruções de conhecimentos, na perspectiva de<br />

mudanças nas suas concepções iniciais (pesquisa como reconstrução de<br />

conhecimentos);<br />

- como os sujeitos de pesquisa comparecem nos textos elaborados, em especial,<br />

na análise e discussão dos resultados (qual referencial teórico, categorias de<br />

análise);<br />

- como ocorre a comunicação dos resultados de pesquisa em sala de aula ou<br />

junto à comunidade da área (pesquisa necessita ser divulgada).<br />

Esses são exemplos de parâmetros que permitem qualificar o fazer pesquisa<br />

vivenciado por licenciandos nos Componentes Curriculares acompanhados e que<br />

63


servem de referência na construção de categorias de análise de resultados, nesta<br />

investigação.<br />

Segue uma abordagem em busca de fundamentar um outro aspecto<br />

importante: a necessária mediação nos processos do ensinar e do aprender a fazer<br />

pesquisa, com a qualidade remetida a tal aprender.<br />

2.4. A Mediação do Outro no Ensinar e no Aprender a Fazer Pesquisa<br />

Vários estudos referentes à formação inicial de professores vêm apontando a<br />

inserção da pesquisa como forma de superação do modelo de formação baseado na<br />

racionalidade técnica, como anteriormente referido. Galiazzi e Moraes (2002)<br />

afirmam que “a qualidade da formação inicial de professores pode ser melhorada<br />

com a integração da pesquisa no processo desta formação” (p. 237).<br />

Maldaner (1999) expressa o seguinte entendimento do exercício da pesquisa:<br />

o exercício da pesquisa é uma qualidade, eminentemente humana,<br />

desenvolvida na cultura e na história humanas. Através dela o ser humano<br />

criou instrumentos práticos e teóricos que lhe permitem agir e pensar de<br />

uma certa forma sobre a natureza e obter respostas desejadas. Com ela<br />

mudaram as relações dos homens com a natureza, mudou o homem e<br />

mudaram as relações entre os homens. Porém como prática cultural e<br />

histórica, a pesquisa não é uma herança biológica, assim como não são os<br />

conceitos científicos e toda a prática científica e tecnológica. Elas devem ser<br />

construídas e reconstruídas junto a cada indivíduo nos processos<br />

educacionais (MALDANER, 1999).<br />

O mesmo autor (2003) complementa que a pesquisa neste âmbito de<br />

entendimento deve ter uma aprendizagem mediada, de maneira intencional, na<br />

forma de ensino dentro de um currículo de formação (p. 91). Galiazzi (2003) também<br />

corrobora com esta visão do fazer pesquisa afirmando que a pesquisa “é um produto<br />

cultural que pode ser aprendido e desenvolvido na escola e outros espaços<br />

pedagógicos” (p.142).<br />

Com base neste entendimento, reafirma-se que o individuo, como é o caso do<br />

professor em formação inicial ou continuada, não irá aprender a pesquisar, nem<br />

compreender a importância de pesquisar, se ele não vivenciar a pesquisa em<br />

situações práticas que lhe propiciem tal aprendizado, sendo essencial a sua<br />

64


participação em todo o processo do fazer pesquisa, contando com a ajuda do ‘outro’<br />

mais experiente. Isso remete para a discussão sobre a necessária mediação a ser<br />

considerada na análise do aprender os passos do fazer pesquisa.<br />

O aprendizado, conforme Vigotski (1998), consiste num “aspecto necessário e<br />

universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente<br />

organizadas e especificamente humanas” (p. 118). Segundo o mesmo autor, o<br />

aprendizado<br />

desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes<br />

de operar somente quando uma criança interage com pessoas em seu<br />

ambiente e quando em cooperação com os seus companheiros. Uma vez<br />

internalizados esses processos tornam-se parte das aquisições do<br />

desenvolvimento independente da criança (VIGOTSKI, 1998, p.118).<br />

No entendimento de Vigotski, o aprender não se dá de forma passiva de ‘fora<br />

para dentro’ como se acreditou durante muito tempo, no modelo da transmissão–<br />

recepção, necessário de ser superado. Contando com apoio do referencial histórico-<br />

cultural, assume-se que o aprender é um processo construído interativamente, de<br />

forma dialética, em que todos se envolvam no processo coletivo, sendo importante<br />

considerar, nele, a importância dos modos não simétricos de mediação de cada<br />

sujeito. Nesta perspectiva, é importante considerar, também, que o conhecimento<br />

não pode ser passado do professor para o aluno, de forma passiva, sendo<br />

importante valorizar a visão de um envolvimento interativo num processo em que<br />

tanto quem aprende quanto quem ensina sejam interativos, nas relações<br />

pedagógicas não simétricas.<br />

A orientação do professor no processo investigado, com base em Vigotski<br />

(1998), é importante considerar a visão da imitação e da assistência como<br />

propulsoras da aprendizagem. A imitação, defendida pelo autor não é entendida<br />

como um processo simplista, puramente mecânico, de cópia e repetição, mas, sim,<br />

no sentido de possibilitar a (re)constução do que é observado externamente pelo<br />

sujeito. Referindo-se à imitação, Vigotski (2000) diz que, “para imitar, é preciso ter<br />

alguma possibilidade de passar do que eu sei fazer para o que eu não sei” (p.328).<br />

Para ele<br />

65


o momento central para toda a psicologia da aprendizagem é a<br />

possibilidade de que a colaboração se eleve a um grau superior de<br />

possibilidades intelectuais, a possibilidade de passar daquilo que a criança<br />

consegue fazer para aquilo que ela não consegue por meio da imitação<br />

(VIGOTSKI, 2000, p.331).<br />

Para Vigotski (1998), o fundamental da aprendizagem é aprender algo novo,<br />

porque na sua perspectiva, uma aprendizagem eficiente cria e atua na “zona de<br />

desenvolvimento proximal” 5 que “define aquelas funções que ainda não<br />

amadureceram, mas que estão em processos de maturação” (p.113). Na prática do<br />

aprender a fazer pesquisa o que se observa é que, no inicio, o licenciando aprende<br />

os passos da pesquisa seguindo os modelos do professor que já é um pesquisador,<br />

porém, exige-se um envolvimento de cada licenciando de se impregnar no tema a<br />

ser pesquisado, em torno do problema delimitado.<br />

Considerando as considerações quanto à complexidade das etapas e dos<br />

níveis do fazer pesquisa, o processo de ensinar e aprender tal fazer remetem para a<br />

apropriação de necessários instrumentos culturais, bastante específicos. A temática<br />

desenvolvida neste tópico passa a ter uma continuidade, a seguir, tratando, mais<br />

especificamente, de tal apropriação e, contando, ainda, com o apoio do referencial<br />

histórico-cultural.<br />

2.5. A Apropriação dos Instrumentos Culturais do Fazer Pesquisa na<br />

Constituição do Professor Pesquisador em Formação Inicial<br />

A abordagem que segue refere-se à importância da significação e do uso de<br />

instrumentos culturais bastante específicos, considerados fundamentais de serem<br />

significados na prática do fazer pesquisa, para propiciar a constituição do licenciando<br />

como professor pesquisador em formação inicial.<br />

Os recursos culturais usados na educação escolar, como é o caso do<br />

aprender a fazer pesquisa na formação inicial, precisam ser internalizados, e a<br />

5 Zona de Desenvolvimento Proximal, segundo Vigotski é: a distância entre o nível de<br />

desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e<br />

o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação<br />

de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (1998, p. 112).<br />

66


internalização segundo Vigotski consiste na transformação de uma atividade externa<br />

para uma atividade interna, de um processo interpessoal para um processo<br />

intrapessoal. Smolka identifica a internalização,<br />

como um construto teórico central na perspectiva histórico cultural, que se<br />

refere ao processo de desenvolvimento e aprendizagem humana como<br />

incorporação da cultura, como domínio dos modos culturais de agir, pensar<br />

de se relacionar com outros, consigo mesmo, e que aparece como contrário<br />

de uma perspectiva inativa naturalista ou inatista (SMOLKA, 2000, p.27 e<br />

28).<br />

No âmbito da perspectiva inatista o desenvolvimento e a aprendizagem<br />

ocorrem independentes da influência e da interação com a cultura. Nessa<br />

perspectiva, segundo Rego (2000), acredita-se numa “’essência humana’ a priori. O<br />

mundo externo (os objetos, o grupo cultural) tem a reduzida função de subsidiar o<br />

que já está determinado previamente no indivíduo” (p. 96). Nesta visão o ensino e a<br />

educação pouco contribuem para o desenvolvimento e a constituição do sujeito. A<br />

mesma autora (Rego, 2000) traz uma crítica à visão inatista de constituição do<br />

sujeito e, contrapondo-se a ela, assume, com base na abordagem histórico-cultural,<br />

que:<br />

o individuo se constitui através de suas interações socais, a partir das trocas<br />

estabelecidas com seus semelhantes. (...) as funções psíquicas humanas<br />

estão intimamente vinculadas ao aprendizado, à apropriação (por intermédio<br />

da linguagem) do legado cultural de seu grupo (REGO, 2000, p. 106).<br />

É assim, com esta perspectiva da constituição social do sujeito, com base em<br />

Vigotski, que se assume a visão de que a cognição do sujeito e também o<br />

desenvolvimento de suas características especificamente humanas acontecem na<br />

interação mediada com o mundo sociocultural no qual o sujeito está inserido, com a<br />

utilização de instrumentos e signos culturalmente produzidos e sistematicamente<br />

mediados, nas interações com os outros. A mediação, conforme Pino (2000a), “é<br />

toda a intervenção de um terceiro ‘elemento’ que possibilite a interação entre os<br />

‘termos’ de uma relação” (p. 38). Vigostki (1998) representa esta relação num<br />

esquema triangular:<br />

67


Neste esquema triádico o terceiro ‘elemento’ referido por Pino está<br />

representado pelo termo X, que consiste num estímulo auxiliar, um instrumento<br />

cultural (constituído por signos) e que desempenha conexões (S-X, R-X) com<br />

estímulos (S e R), conferindo à operação psicológica caminhos diferentes e formas<br />

qualitativamente novas e superiores.<br />

Com base nesta representação, os instrumentos culturais constituídos por<br />

signos (termo X) são comparados, por Vigotski (1998), com os instrumentos<br />

técnicos: “O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira<br />

análoga ao de um instrumento no trabalho” (p.70).<br />

Em outras palavras, Giordan (2006), com base em Vigotski, diz que “a<br />

ferramenta psicológica recria e reorganiza toda a estrutura do comportamento, assim<br />

como o instrumento técnico recria e reorganiza toda a estrutura das operações do<br />

trabalho” (p. 27). Entende-se que, no âmbito do referencial histórico-cultural, o signo<br />

relaciona-se com o âmbito do imaginário, do simbólico, do psicológico, enquanto que<br />

o instrumento relaciona-se com as ações práticas dos sujeitos no meio social.<br />

Vigotski inclui instrumentos e signos na mesma categoria “da atividade<br />

mediada” (p. 71), sendo que, uma é técnica e a outra é semiótica. Nos dizeres de<br />

Pino (2000) “é a criação dos mediadores semióticos que opera nas relações dos<br />

homens com o mundo físico e social” (p.59). Quanto a essa dimensão dialética,<br />

Giordan (2006), diz que “as interações do ser humano no ambiente social,<br />

diferentemente dos outros animais, são duplamente mediadas, por instrumentos e<br />

por signos” (p. 27). O mesmo autor complementa ainda que “por operar por dupla<br />

mediação, o homem enquanto dá forma nova à natureza, confere significação à<br />

forma nova, o que lhe permite transformar a si próprio” (p.36). E é a significação, nos<br />

dizeres de Pino “que confere ao social sua condição humana, fazendo da<br />

sociabilidade animal uma sociabilidade humana” (p.59).<br />

S<br />

X<br />

R<br />

68


Vigotski (1998) valoriza a importância de explicitar e considerar a diferença<br />

entre signo e instrumento quanto à orientação do comportamento humano. Segundo<br />

o autor, o uso do signo propicia aos homens mudanças no seu comportamento,<br />

transformando-os dialeticamente e conduzindo–os “a uma estrutura específica de<br />

comportamento que se destaca do comportamento biológico e cria novas formas de<br />

processos psicológicos enraizados na cultura” (p.54), enquanto que, por sua vez, o<br />

uso de instrumentos técnicos possibilita a ação do homem sobre o objeto. Nos<br />

dizeres de Vigotski:<br />

a função do instrumento é servir como um condutor da influência humana<br />

sobre o objeto da atividade; ele é orientado externamente; deve<br />

necessariamente levar a mudanças nos objetos. (...) O signo, por outro lado,<br />

não modifica em nada o objeto da operação psicológica. Constitui um meio<br />

da atividade interna dirigido para o controle do próprio indivíduo; o signo é<br />

orientado internamente (VIGOTSKI, 1998, p. 72-73).<br />

Galiazzi (2003) enfatiza que nós, seres humanos, nos constituímos pelo uso<br />

de ferramentas culturais. Ressalta que não são apenas ferramentas materiais<br />

citando como exemplos canetas, computadores. Mas, sim, ferramentas semióticas,<br />

que são produtoras de significados, entre elas, a autora cita “a linguagem, o signo, o<br />

símbolo e o mito”. A autora diz ainda, que é “pela apropriação destas ferramentas<br />

que o sujeito se insere e se transforma na sociedade”.<br />

Com base nesses entendimentos, a atenção, na análise do aprender a fazer<br />

pesquisa, volta-se, em especial, para a importância dos diferentes instrumentos<br />

culturais importantes de serem significados no decorrer do fazer pesquisa, entre os<br />

instrumentos ou ferramentas culturais utilizados pode-se dizer que assumem um<br />

papel central a linguagem (pela fala, e/ou pela escrita) e a leitura. Segundo Galiazzi,<br />

Moraes e Ramos,<br />

a linguagem adquire papel essencial, pois é por meio dela que se pode<br />

transmitir e construir significados e compreensões que permitem constituir o<br />

conhecimento. É a linguagem que nos constitui e nos diferencia dos outros<br />

seres vivos por sua característica de permitir ampliar, e ao mesmo tempo<br />

conservar o conhecimento produtivo (GALIAZZI, MORAES e RAMOS, 2002<br />

p. 89).<br />

Os mesmos autores enfatizam, também, que ao aceitar a linguagem como<br />

um instrumento de mediação para a apropriação e reconstrução do conhecimento,<br />

69


assume-se que a diferença enquanto seres humanos dos demais seres vivos é<br />

justamente a capacidade da construção de significados pela linguagem numa<br />

“diversidade e complexidade de culturas e de suas manifestações” (p. 97). Os<br />

autores também assumem que ao falar da educação pela pesquisa, crêem “nos<br />

artefatos semióticos desenvolvidos pelos seres humanos como mediadores na<br />

elaboração de conhecimento, pela negociação argumentativa de significados” (p.97).<br />

Os usos dos instrumentos culturais anteriormente referidos propiciam,<br />

portanto, a complexificação do conhecimento e a transformação dos processos<br />

cognitivos do sujeito, ampliando a sua inteligência. Nos dizeres de Galiazzi:<br />

se somos produtos da linguagem e da cultura, que se construiu pela<br />

possibilidade de armazenar informações, e nisso a escrita desempenhou um<br />

papel fundamental, podemos pensar que os recursos culturais como a<br />

linguagem e a escrita formaram e continuam formando a percepção, a ação<br />

e, na verdade, a consciência. Os recursos culturais, portanto,<br />

desempenham um papel fundamental na cognição (GALIAZZI, 2003, p.96).<br />

O escrever e o falar constituem modos de aprender interativos, pois<br />

possibilitam ao sujeito o envolvimento em discussões, argumentando e defendendo<br />

seus pontos de vista, e também a ouvir os colegas e o professor orientador,<br />

buscando melhor compreender e reconstruir idéias, percepções e argumentações.<br />

Requerem do sujeito uma posição de crítica perante as produções dos outros.<br />

Também articulam a comunicação do aprendido/pesquisado, que pode ser por<br />

escrito, em relatórios ou outras formas de comunicação.<br />

As atividades propiciadas pela linguagem, escrita ou falada, corroboram com<br />

uma definição de pesquisa abordada por Demo (1999) de ela ser vista como um<br />

“diálogo inteligente com a realidade” aliada à essencialidade da comunicação.<br />

Segundo o autor, “tem o que comunicar quem pesquisa e quem não pesquisa<br />

apenas escuta a comunicação dos outros de forma passiva” (p.37 e 38). Concorda-<br />

se com Demo quanto à importância da comunicação do que foi pesquisado, porém,<br />

com base na teoria histórico-cultural amplia-se esta visão. O sujeito não é<br />

considerado um receptor passivo nem um repetidor de informações externas. Ele é<br />

sempre interativo no processo (Cf p. 53).<br />

70


A abordagem histórico-cultural extrapola a visão da dimensão e da função<br />

apenas comunicativa da linguagem nas interações sociais, valorizando o seu papel<br />

constitutivo no desenvolvimento tipicamente humano. Com base nela, acredita-se na<br />

importância da comunicação como propiciadora de interações transformadoras dos<br />

sujeitos em seu meio. É na interação com os ‘outros’, através das trocas com seus<br />

colegas, professores e demais pesquisadores da área, que o sujeito reconstrói seus<br />

conhecimentos, (re)direciona suas buscas e aumenta a sua capacidade individual.<br />

Pino (2000) diz que “a palavra dirigida ao outro produz efeito também naquele que a<br />

pronuncia” (p.59) e assim a comunicação é constitutiva do sujeito, num duplo<br />

sentido, para quem fala e para quem escuta.<br />

Moraes (2002) enfatiza que a produção escrita “é uma das formas de os<br />

sujeitos construírem a sua competência de argumentar e de assumirem sua<br />

qualidade política de intervenção e transformação” (p.137). Nesta mesma direção,<br />

Ramos, diz que:<br />

a competência argumentativa é acompanhada pela competência lingüística.<br />

A comunicação escrita, sendo mais complexa que a comunicação oral,<br />

encerra conhecimentos mais consistentes da língua natural, fundamental<br />

para a argumentação e para a constituição do sujeito (RAMOS, 2002, p. 46).<br />

O exercício da escrita, segundo Vigotski (1998), não deve ser reduzido a uma<br />

habilidade motora, mas sim considerá-la como ”um sistema particular de símbolos e<br />

signos cuja dominação prenuncia um ponto crítico em todo o desenvolvimento<br />

cultural da criança” (p. 140). Galiazzi (2003), com base em Wells, diz que a escrita é<br />

mais abstrata do que a fala em três sentidos:<br />

primeiro porque envolve um simbolismo do que foi escrito, que representa<br />

palavras que também são símbolos; segundo porque o interlocutor está<br />

fisicamente ausente; terceiro, porque a transmissão da mensagem se faz<br />

através das palavras escolhidas pelo autor, mas gestos e entonações e<br />

possibilidades de checar são impossíveis de acontecer (GALIAZZI, 2003, p.<br />

97).<br />

Marques (2001) corrobora com esta posição ao afirmar que as diferentes<br />

relações transformadas entre a oralidade e a escrita “fazem da escrita algo muito<br />

mais valioso do que se fosse ela simples decodificação da linguagem oral”. O<br />

mesmo autor diz que a escrita é “um novo espaço de reconstrução social da<br />

71


ealidade, das personalidades e da cultura, em que a educação assume nova<br />

relevância enquanto provocação de aprendizagens significativas” (p. 69). Neste<br />

mesmo sentido, Rego (1995), com base em Vigotski, salienta que a escrita promove<br />

modos diferenciados e mais abstratos de pensamento, de relacionamento com as<br />

pessoas e com o conhecimento.<br />

Marques (2001) enfatiza também que durante o escrever ocorrem<br />

interlocuções de diferentes vozes, as quais “agitam, conduzem, animam, perturbam”<br />

todo o processo do escrever. E é com esta amplitude de perspectivas, nesta<br />

interlocução de diferentes vozes que, segundo o autor, há a “abertura de novos<br />

horizontes, construção de sabres novos”. Assim, a construção destes “novos<br />

saberes” ocorre a partir dos saberes anteriores, numa reconstrução deles, na<br />

desmontagem e na recuperação. E assim, os saberes de cada interlocutor e os<br />

saberes do sujeito se fundem e se transformam, reformulam-se, num processo de<br />

reconstrução (p. 26).<br />

Este mesmo autor nos remete para um outro instrumento cultural do fazer<br />

pesquisa, a leitura, afirmando que ”a escrita necessita ser lida e interpretada por<br />

leitores surgidos da situação de falantes capazes de recitar, capazes de narrar” (p.<br />

69). O exercício da leitura, segundo Demo (2005) não pode ser resumido a um<br />

procedimento mecânico, “uma coisa é ler, tomando conhecimento do que está no<br />

livro. Outra coisa é elaborar o que se leu, imprimindo interpretação própria” (p. 28).<br />

Segundo Demo deve-se ter uma leitura sistemática com dupla finalidade, que<br />

consiste em:<br />

estar a par do conhecimento disponível, participar do fluxo cultural<br />

constante, informar-se de modo permanente, e alimentar o processo de<br />

formulação própria, de argumentar e contra-argumentar, questionar e<br />

reconstruir (DEMO, 2005, p. 31).<br />

Apropriar-se de leituras não se reduz a apenas cópia e transcrição do que foi<br />

lido, mas a um diálogo com elas, usando palavras suas e re-escrevendo as leituras<br />

conforme a sua interpretação. Nos dizeres de Demo:<br />

uma coisa é manejar textos, copiá-los, decorá-los e reproduzi-los. Outra é<br />

interpretá-los com alguma autonomia, para saber fazê-los e refazê-los. Na<br />

72


primeira condição, o aluno ainda é objeto de ensino. Na segunda, começa a<br />

despontar o sujeito com proposta própria (DEMO, 2005, p. 23).<br />

Inicialmente, o aprendiz do fazer pesquisa pode até iniciar com a cópia de<br />

textos, mas deverá progredir no sentido de construir interpretações e se posicionar<br />

perante as leituras. Neste sentido, há uma superação de sujeito que não participa<br />

diretamente em sala de aula, para a de sujeito que participa do processo de ensino e<br />

assim se constitui o professor pesquisador num processo de aprender reconstrutivo.<br />

Reafirma-se, então, a visão de que a pesquisa possui uma linguagem<br />

específica, aliada a pensamentos, conceitos e significados conceituais também<br />

bastante específicos, impossíveis de serem construídos de forma direta pelos<br />

sujeitos e, por isso, necessária de ser mediada, apropriada, significada e usada por<br />

eles. Por exemplo, a concepção de ‘projeto de pesquisa’, com todas as partes que o<br />

compõem - o problema de pesquisa, a hipótese básica, os objetivos, o tema, a<br />

metodologia, o referencial teórico, as categorias prévias de análise - é uma, entre<br />

outras concepções, que envolve significados socialmente produzidos.<br />

Além do projeto, há na pesquisa, outras etapas no ‘ritual’ bastante específico,<br />

a exemplo de etapas de sua execução. Em especial, é importante valorizar, no<br />

âmbito deste trabalho, aspectos do aprender a fazer pesquisa, relacionados com a<br />

construção e análise dos resultados, considerando-se a perspectiva de uma<br />

elaboração escrita qualificada, que se aproxime das exigências formais da<br />

publicação/validação de resultados, dentro ou fora do âmbito da formação.<br />

O professor do Componente Curricular, que já é um pesquisador, dispõe de<br />

vivências, conceitos e significações mais amplas do que os licenciandos, que são<br />

iniciantes no fazer pesquisa. Portanto, há conhecimentos que são necessários de<br />

serem assimetricamente mediados e significados no decorrer dos aprendizados do<br />

fazer pesquisa. Nesse sentido, com as contribuições de Vigotski (2000), em suas<br />

abordagens sobre o desenvolvimento dos conceitos científicos, busca-se relações<br />

com o desenvolvimento de conhecimentos sobre o fazer pesquisa.<br />

Segundo o referido autor, os conceitos científicos são construídos, em sala de<br />

aula, num movimento de “cima para baixo”, começando com uma definição verbal<br />

73


com aplicações não espontâneas e posteriormente podendo adquirir um nível de<br />

concretude impregnando-se na experiência (p.350). Remetendo essa visão para o<br />

foco deste trabalho, infere-se que conhecimentos diversificados são dinamicamente<br />

enriquecedores das interações dos sujeitos no contexto da sala de aula. Os sentidos<br />

trazidos pelos estudantes são ampliados e transformados pelas mediações das<br />

explicações do professor, sendo marcantes para o avanço do aprender na direção<br />

de um significado mais geral.<br />

Dando importância para a apropriação dos instrumentos culturais da<br />

pesquisa, a análise dos relatórios finais de pesquisa, leva em conta a visão dos<br />

instrumentos culturais anteriormente mencionados, quais sejam, a escrita, a fala e a<br />

leitura, especificamente, no âmbito da explicitação dos diferentes passos do fazer<br />

pesquisa, como o problema de pesquisa, a hipótese, os resultados etc. Buscaram-se<br />

indícios, na análise do relatório, quanto ao comparecimento da mediação de tais<br />

instrumentos culturais no aprender a fazer pesquisa vivenciado pelos estudantes.<br />

O capítulo a seguir passa a apresentar e discutir resultados construídos no<br />

processo da investigação, com base nos pressupostos teóricos anteriormente<br />

explicitados.<br />

74


Cap 3 – A Formação Inicial pela Pesquisa - Interlocuções no Âmbito do<br />

Contexto Prático Investigado<br />

No presente capítulo é explicitada a vivência do aprender a fazer pesquisa no<br />

âmbito do Curso acompanhado. Inicia-se por apresentar os resultados das análises<br />

documentais do Projeto do Curso, das Ementas Curriculares e dos Planos de<br />

Ensino. Na segunda parte do capítulo, com base na análise dos questionários e das<br />

entrevistas realizadas com os licenciandos relata-se a vivência do fazer pesquisa<br />

nos Componentes Curriculares acompanhados, com atenção para algumas<br />

categorias de pesquisa. Na continuidade do capítulo discute-se os resultados da<br />

análise dos relatórios finais de pesquisa dos licenciandos, objetiva-se a qualificação<br />

da pesquisa executada por eles, quanto a modos de apropriação dos instrumentos<br />

culturais do fazer pesquisa. E ao finalizar este capítulo traz-se os resultados obtidos<br />

da análise dos registros do caderno de campo das aulas de PEQ I, num objetivo de<br />

explicitar a prática do aprender a fazer pesquisa no âmbito de uma sala de aula.<br />

3.1. Um Olhar sobre o Projeto Curricular do Curso Acompanhado<br />

A análise documental do Projeto do Curso mostrou que a sua proposta<br />

inovadora consiste na “preocupação com a formação do professor de Ciências e<br />

Química ao longo de todo o desenvolvimento do Curso”. Também comparece no<br />

referido Projeto que a formação “será orientada pela pesquisa nesses campos e pela<br />

pesquisa executada pelos próprios estudantes em interação com os professores da<br />

Licenciatura” (Projeto do Curso, p. 04).<br />

75


O episódio recortado na apresentação do Curso denota que a preocupação<br />

que permeia o Curso é a formação do professor, e que para melhoria da formação<br />

inicial é proposto o fazer pesquisa junto aos licenciandos. Num outro momento do<br />

Projeto isto fica mais evidenciado:<br />

temos desenvolvido a pesquisa como prática formativa dos professores,<br />

acreditando que isso possa produzir mudanças mais permanentes e<br />

sólidas (p.08).<br />

Decorre destes dizeres que o Curso assume a importância do fazer pesquisa<br />

ao longo da formação docente inicial, corroborando assim com o campo empírico<br />

que estava sendo buscado.<br />

A análise mostrou que um aspecto destacado nos dizeres do Projeto do<br />

Curso está relacionado à preocupação deste com a melhoria da formação docente,<br />

e que, neste âmbito, foi criado<br />

um grupo de professores e pesquisadores voltado especificamente à<br />

formação dos professores e ao desenvolvimento de currículo no ensino de<br />

ciências nas escolas em interação com os professores de ciências. É o<br />

GIPEC-UNIJUÍ [Grifo nosso] (p.13).<br />

O trecho transcrito denota que a criação de tal grupo tem como preocupação<br />

específica a formação docente. Segundo o Projeto do Curso, a criação deste grupo<br />

se justifica devido aos professores da área da Química, estarem<br />

mais preocupados em transmitir conhecimentos específicos desses<br />

campos necessários para os novos profissionais, mas distantes das<br />

necessidades de formação de professores (p.13).<br />

Este posicionamento remete para a problemática ainda persistente quanto à<br />

dicotomia entre um grupo de professores que se preocupa ‘especificamente’ com a<br />

formação do professor, de outro grupo, com preocupação em ensinar os conteúdos<br />

específicos de Química, sem se preocupar diretamente com a formação docente. O<br />

episódio mostra indícios de que a prática do Curso ainda denota resquícios de um<br />

modelo baseado na lógica tecnicista de formação, remetendo para a importância de<br />

articular alguns dos professores, aos quais cabe a formação ‘pedagógica’ com<br />

outros, aos quais cabe a formação ‘específica’. O problema está na usual<br />

76


desarticulação entre os dois grupos. Acredita-se que a necessidade de formação de<br />

um grupo que se preocupe com a formação do professor como um todo, como é o<br />

caso do GIPEC (Grupo Interdepartamental de Pesquisa sobre Educação em<br />

Ciências) também pode ser visto como uma alternativa de caminho que busca a<br />

superação da formação apenas tecnicista a qual supervaloriza os conhecimentos da<br />

área específica.<br />

Considerando a importância das investigações concernentes a este grupo de<br />

docentes, o Projeto referencia que:<br />

este grupo tem entre seus objetivos produzir um entendimento do que seja<br />

a Educação Básica na formação dos adolescentes, vendo-a muito mais do<br />

que um simples trampolim para a Educação Universitária (p.13).<br />

A importância deste grupo, como refere o projeto, está na possibilidade de<br />

ampliar concepções quanto ao aprender e o ensinar química numa superação do<br />

modelo usual de ensino de ciências centrado na reprodução, cópia, memorização de<br />

conteúdos escolares.<br />

Outro aspecto do Projeto do Curso que, mediante análise, foi considerado<br />

propulsor para a superação ao modelo tecnicista é o que diz respeito à importância<br />

da articulação entre teoria e prática, concebendo uma formação inicial com vistas à<br />

superação de um ensino tradicional, como mostram os dizeres do Projeto,<br />

a dinâmica de organização curricular do Curso se configura através de<br />

espaços - tempos instituídos e articulados pela pesquisa com vistas à<br />

superação: do modelo apenas disciplinar de ensino e formação, da<br />

desarticulação entre teoria e prática (p.16).<br />

Denota-se que a prática da pesquisa, articulada ao longo da formação é vista<br />

como propulsora na superação de descompassos decorrentes da racionalidade<br />

técnica, como a dicotomia entre teoria e prática. São esses alguns dos pressupostos<br />

trazidos na hipótese deste trabalho e que se almeja investigar no contexto prático do<br />

fazer pesquisa em Componentes Curriculares do Curso em questão.<br />

Quanto ao perfil do profissional que o Curso se propõe a formar, de acordo<br />

com os dizeres do Projeto, consiste num professor<br />

77


com conhecimentos, habilidades, atitudes, posturas e comportamento<br />

próprios do educador de Ciências no Ensino Fundamental e Química no<br />

Ensino Médio (p.17).<br />

A análise do Projeto mostrou, ainda, que há expectativa de que o profissional<br />

egresso do Curso tenha vivenciado e incorporado características como:<br />

domínio dos conteúdos, com metodologias de ensino adequadas, com<br />

postura crítica sobre o ensino e a avaliação, com visão objetiva clara<br />

dentro da Escola e da Sociedade, que tenha meios e condições para<br />

contribuir de forma decisiva, na promoção de melhorias em vários<br />

aspectos da vida do Homem, principalmente nos ligados ao meio<br />

ambiente, à natureza, à alimentação, à saúde, à energia, à agricultura, à<br />

tecnologia, com vistas à melhoria da qualidade da vida entendida como um<br />

todo (p.18).<br />

Entende-se que esta proposta de formação amplia e supera a visão simplista<br />

de que para ser professor bastaria saber os conteúdos específicos que vai ensinar,<br />

pois, considera que o professor não é um sujeito a par da sociedade, mas que se<br />

encontra inserido nela, que é acima de tudo um cidadão, que precisa contribuir para<br />

o desenvolvimento desta sociedade. Denota-se uma perspectiva da formação de um<br />

profissional crítico, comprometido com o seu fazer social, que busque melhorias para<br />

sua prática de ensino, que busque propiciar aprendizagens significativas, que se<br />

atualize, que busque informações (Cf p.17-18). Esta proposta de formação referida<br />

no Projeto do Curso corrobora com a perspectiva de formação de um professor<br />

pesquisador em formação inicial.<br />

A análise do Projeto do Curso mostrou ainda aspectos da organização<br />

curricular, sendo que esta compõe quatro eixos de formação, que estão “articulados<br />

entre si com vistas à formação plena do profissional” (p 19). Quanto aos conteúdos<br />

curriculares de natureza científico-cultural, no projeto é dito que:<br />

visam ao domínio dos conhecimentos científicos em cada área,<br />

abrangendo os conteúdos necessários ao desenvolvimento das<br />

competências exigidas para o exercício profissional (...) nestes estão<br />

previstos os componentes da formação geral humanística os quais<br />

possibilitam uma visão crítica da complexidade educacional possibilitando<br />

a reelaboração de concepções de Tecnologia, Desenvolvimento,<br />

Sociedade, Política e Cultura (p.19).<br />

78


E quanto aos demais componentes é relatado que:<br />

propiciam o conhecimento teórico das diferentes concepções sobre<br />

temáticas da formação do professor, através de estudos, análises,<br />

reflexões sobre teorias do conhecimento, da aprendizagem enfocando<br />

aspectos pedagógicos, psicológicos, epistemológicos e metodológicos,<br />

estruturantes do processo ensino aprendizagem. Visam, também articular<br />

os diferentes componentes curriculares entre si, buscando a inserção dos<br />

estudantes na realidade escolar (p. 20).<br />

O Anexo IV mostra a organização geral do currículo e a semestralização do<br />

Curso acompanhado. A análise da organização curricular mostrou que há propostas<br />

que visam superar alguns aspectos decorrentes do modelo da racionalidade técnica.<br />

Segundo Schnetzler os currículos deste modelo tendem a<br />

separar o mundo acadêmico do mundo da prática. Por isso, procuram<br />

propiciar um sólido conhecimento básico-teórico no início do curso, com a<br />

subseqüente introdução de disciplinas de ciências aplicadas desse<br />

conhecimento para, ao final, chegarem à prática profissional com os<br />

estágios usuais de final de curso ( SCHNETZLER, 2000, p. 21).<br />

A proposta de formação que decorre da análise da organização curricular e<br />

dos dizeres do Projeto do Curso consiste numa busca de articulação universidade<br />

escola que perpassa ao longo dos semestres, não apenas no final do Curso,<br />

conforme mostra o trecho recortado:<br />

a interação no espaço profissional e a formação pela pesquisa perpassam<br />

o curso como um todo, desde o primeiro semestre, assim como a inserção<br />

na universidade e no curso se prolonga até o seu final (p. 22).<br />

A preocupação da interação do licenciando no espaço escolar desde o inicio<br />

do Curso evidencia aspectos de superação quanto à dicotomia entre teoria e prática<br />

concernente ao modelo tecnicista de formação. No episódio acima descrito, também<br />

é reafirmado a ‘formação pela pesquisa’ como elemento articulador da formação<br />

docente inicial.<br />

79


3.1.1 O Fazer Pesquisa num Olhar para Ementas Curriculares<br />

Partindo da organização geral do currículo do Curso, e devido aos resultados<br />

obtidos mediante a análise do Projeto do mesmo, que denotou ser a pesquisa um<br />

eixo articulador do currículo perpassando ao longo de todos os semestres, em<br />

diferentes componentes curriculares, realizou-se uma análise da Grade Curricular e<br />

das Ementas Curriculares de todos os componentes do Curso.<br />

O foco de investigação voltou-se para os espaços curriculares que<br />

propunham a prática do fazer pesquisa. Tais espaços identificados foram analisados<br />

quanto a como são articuladores do fazer pesquisa, com base nos critérios<br />

propostos por autores e já referidos, como Demo (1998; 1999); Galiazzi (2003);<br />

Marques (2001); Moraes (1998); Moraes, Galiazzi e Ramos (1998).<br />

No processo de análise foram identificados aspectos do fazer pesquisa em<br />

diversos componentes curriculares, tendo sido mais explicitamente presentes os que<br />

seguem:<br />

- Seminário de I à V;<br />

- Pesquisa e Formação;<br />

- Pesquisa em Ensino de Química I e II;<br />

- Pesquisa no Ensino de Ciências I e II;<br />

- Trabalho de Conclusão de Curso.<br />

Esses componentes, de acordo com as suas propostas, implicam a<br />

participação dos licenciandos na busca de conhecimentos, numa visão diferenciada<br />

de ensino. Corroboram com os dizeres de Moraes quanto ao educar pela pesquisa:<br />

a educação pela pesquisa, superando as limitações da aula tradicional,<br />

cópia da cópia, pretende a transformação dos alunos de objetos em<br />

sujeitos da relação pedagógica, envolvendo-os individualmente e em<br />

grupos em reconstruções e produções, atingindo uma nova compreensão<br />

do aprender tanto para os alunos como para os professores (MORAES,<br />

1998, p. 136).<br />

Foi nesse sentido mais amplo, o da superação da aula tradicional ‘cópia da<br />

cópia’, que os diferentes componentes curriculares foram selecionados como sendo<br />

articuladores do fazer pesquisa, pois propõem nas suas ementas:<br />

80


• elaboração de relatórios, de memoriais buscando aliar a prática à teoria com<br />

base no exercício do escrever, e da reflexão sobre o ensino;<br />

• desenvolvimento de projetos de pesquisas pelos próprios licenciandos;<br />

tornando-os sujeitos participantes de todos os passos da realização da<br />

pesquisa;<br />

• elaboração de artigos, resumos, apresentações com o objetivo de socializar a<br />

pesquisa desenvolvida pelos diferentes grupos de estudantes;<br />

• em todas elas, de forma diferenciada, pode-se perceber a proposta de<br />

participação dos alunos, da produção escrita, da leitura como mediadora do<br />

processo de aprendizagem.<br />

A análise das ementas mostrou também que os Componentes Curriculares,<br />

Pesquisa em Ensino de Ciências I e II (PEC I e II) e Pesquisa em Ensino de Química<br />

I e II (PEQ I e II) propõem que todos os estudantes executem projetos de pesquisa<br />

em diferentes temáticas relativas ao ensino, participando de cada etapa de<br />

execução da pesquisa. Corroboram a posição de Galiazzi (2003), de que uma das<br />

formas de possibilitar uma articulação significativa da pesquisa ao longo da<br />

formação consiste na proposta de todos os licenciandos atuarem em projetos de<br />

pesquisa em educação e, assim, participarem das diferentes etapas desde a<br />

elaboração e execução do projeto de pesquisa atuando como pesquisadores<br />

iniciantes, argumentando e tomando decisões.<br />

No entanto, como já referido, esta pesquisa focalizou os componentes PEC I<br />

e II. Posteriormente, incluiu PEQ I. A seguir, são apresentados aspectos da análise<br />

dos Planos de Ensino, especificamente, dos Componentes Curriculares recortados,<br />

compondo o campo empírico da investigação.<br />

3.1.2. Uma Análise dos Planos de Ensino dos Componentes Curriculares<br />

Investigados<br />

Em decorrência dos resultados da análise das Ementas Curriculares, e<br />

considerando a importância dada ao licenciando em participar de todas as etapas<br />

dos processos do fazer pesquisa, com vistas à constituição de um professor<br />

pesquisador em formação inicial, selecionou-se os Componentes Curriculares:<br />

81


Pesquisa em Ensino de Ciências I e Pesquisa em Ensino de Ciências II para serem<br />

investigados. A seguir são apresentados e discutidos resultados da análise dos seus<br />

Planos de Ensino.<br />

A análise mostrou que, apesar de serem dois Componentes Curriculares,<br />

possuem vínculos de continuidade entre si. Nos dizeres dos Planos de Ensino<br />

constituem uma unidade de formação que visa a ensinar a pesquisa como<br />

processo formativo na Área de Ciências e em seu processo pedagógico.<br />

Evidenciou-se que o objetivo principal destes Componentes é o “ensinar a<br />

pesquisa como processo formativo”. A análise dos Planos de Ensino evidenciou que<br />

os procedimentos realizados para este ensinar a pesquisa consistem na elaboração<br />

e execução de um projeto de pesquisa, até a socialização dos resultados<br />

construídos.<br />

As atividades propostas no Componente Curricular de Pesquisa em Ensino de<br />

Ciências I (PEC I) são:<br />

elaboração do ‘Memorial sobre a Formação Escolar em Ciências’,<br />

momento de reflexão sobre vivências anteriores e atuais no campo de<br />

exercício da prática docente, construindo subsídios importantes para a<br />

composição da problemática da pesquisa.<br />

Decorre desta proposta de trabalho que os licenciandos partam da sua<br />

vivência como estudantes, das suas memórias quanto a diferentes formas de ensino<br />

de Ciências, suas dificuldades ou satisfações vivenciadas.<br />

A elaboração do memorial consistiu num primeiro exercício de escrita<br />

individual. Partindo deste memorial, os licenciandos, com a orientação do professor,<br />

constroem suas propostas de pesquisa, como mostra o episódio que segue:<br />

Partindo de seu próprio memorial sobre a formação anterior em Ciências, o<br />

estudante da licenciatura será orientado a identificar problemas e possíveis<br />

questões de pesquisa e para a elaboração de um projeto de pesquisa, que<br />

será desenvolvido à medida que vai aprofundando a compreensão da Área<br />

de Ciências e seus desdobramentos no ensino.<br />

82


Tal atividade de escrita do memorial têm coerência com os dizeres das<br />

Diretrizes Curriculares Nacionais quanto à<br />

importância de experiências individuais, como a produção do memorial do<br />

professor em formação, a recuperação de sua história de aluno, suas<br />

reflexões sobre sua atuação profissional, projetos de investigação sobre<br />

temas específicos (BRASIL, 2001, p. 42).<br />

O exercício da escrita do memorial de cada licenciando é visto como<br />

alternativa para a melhoria da formação docente. Acredita-se que ao escrever seu<br />

memorial o licenciando busca refletir e problematizar diferentes concepções do ser<br />

professor e do ensinar ciências decorrentes de toda a escolarização anterior.<br />

É importante destacar do trecho anteriormente citado, os dizeres de que “o<br />

estudante de licenciatura será orientado a identificar (...)”. Denota a importância<br />

dada para a orientação do professor, desde o inicio das atividades no âmbito do<br />

aprender a fazer pesquisa. O professor atua como mediador deste processo,<br />

ajudando o licenciando a delimitar, de acordo com o seu memorial, um problema de<br />

pesquisa e posteriormente a escolher um caminho de pesquisa. Reafirma-se, com<br />

isso, que as diferentes etapas que constituem o fazer pesquisa necessitam ser<br />

significadas junto aos estudantes que são iniciantes do fazer pesquisa através da<br />

orientação do professor que já é um pesquisador.<br />

A análise mostrou, ainda, que é a execução das diferentes etapas do fazer<br />

pesquisa que compõe as atividades no decorrer do Componente Curricular:<br />

Pesquisa em Ensino de Ciências I (PEC I). Nos dizeres do Plano de Ensino o que se<br />

propõe é:<br />

elaboração do projeto piloto da pesquisa sobre a realidade escolar em<br />

Ciências; execução da parte empírica da pesquisa, em fase piloto, com a<br />

elaboração dos registros referentes ao contexto escolar; construção,<br />

análise e discussão de dados de pesquisa com construção de trabalhos<br />

em forma escrita usando formatos e tecnologias recomendados para a<br />

divulgação científica (resumos, artigos, apresentação na forma de pôsteres<br />

e na forma oral, com uso de multimídias, incluindo o uso do projetor);<br />

socialização de resultados preliminares da pesquisa no âmbito da<br />

disciplina.<br />

As atividades propostas no decorrer do Componente Curricular: Pesquisa em<br />

Ensino de Ciências II (PEC II), são:<br />

83


(re)elaboração do projeto da pesquisa sobre a realidade escolar, em<br />

Ciências; execução da parte empírica da pesquisa com a elaboração dos<br />

registros sobre o contexto escolar; atividades de interação com<br />

professor(es) da escola - participantes na condição de sujeitos de pesquisa<br />

visando mediar processos de construção de melhorias no ensino escolar;<br />

construção, análise e discussão dos dados de pesquisa com a construção<br />

dos trabalhos em forma escrita, incluindo formas de publicação de<br />

resultados, usando formatos e tecnologias recomendados para a<br />

divulgação científica (resumos, artigos, apresentação em forma de<br />

pôsteres e na forma oral, com uso de multimídias, incluindo o uso do<br />

projetor); socialização dos resultados da pesquisa dentro e/ou fora do<br />

âmbito da disciplina.<br />

As atividades propostas nos Planos de Ensino evidenciam que os dois<br />

Componentes Curriculares propõem a execução das diferentes etapas do fazer<br />

pesquisa por parte dos licenciados, uma de forma piloto, mais fechada para o âmbito<br />

da própria disciplina e a outra já com proposições de uma socialização mais ampla,<br />

fora do âmbito do Curso. Estas etapas de execução serão discutidas<br />

posteriormente, com atenção, também, para a produção decorrente deste processo<br />

de pesquisa.<br />

Um aspecto importante que decorre da análise do Plano de Ensino do<br />

Componente PEC II foi a atenção dada à importância do comparecimento<br />

sistemático do referencial teórico no fazer pesquisa, como mostra o trecho<br />

selecionado:<br />

os estudantes vivenciam processos de construção e análise de dados de<br />

pesquisa mediante o uso de referenciais teóricos que permitem inseri-los<br />

numa abordagem atual sobre a pesquisa em educação, na área.<br />

Neste sentido Maldaner (2003) ressalta a importância de o professor já na sua<br />

formação inicial ter contato com a pesquisa educacional. Nos dizeres deste autor, “o<br />

professor está afastado das pesquisas educacionais porque o espaço não lhe foi<br />

indicado em sua formação inicial e nem em sua formação continuada“ (p.89). Tem-<br />

se uma atenção voltada para como pode ser percebida nas produções dos<br />

estudantes a articulação entre os referenciais teóricos, as suas concepções e os<br />

resultados empíricos da pesquisa por eles realizada.<br />

84


O outro Componente Curricular PEQ I, incluído posteriormente para ser<br />

investigado, propõe em sua ementa:<br />

partindo do próprio memorial sobre a formação escolar em Química, uma<br />

primeira tematização de pesquisa permitirá a aprendizagem da elaboração<br />

de pequenos projetos de pesquisa. Esses projetos serão desenvolvidos na<br />

forma de um projeto piloto até o seu relatório final, permitindo que cada<br />

acadêmico sozinho e/ou em pequeno grupo siga todos os passos de<br />

elaboração de uma pesquisa.<br />

A referida ementa mostra que a sua proposta de trabalho coincide com a<br />

proposta desenvolvida em PEC I e II, sendo que PEQ I e II estão voltadas para a<br />

formação para o Ensino de Química (no Ensino Médio), enquanto as PEC são<br />

voltadas para a formação em Ciências (Ensino Fundamental). Mas as atividades<br />

propostas são semelhantes. 6<br />

Segue a apresentação e discussão de resultados a partir de percepções<br />

expressas por licenciandos que vivenciaram o fazer pesquisa em estudo.<br />

3.2. Percepções dos Licenciandos sobre o Fazer Pesquisa Vivenciado<br />

Tendo sido aplicados os questionários, conforme já mencionado, foram<br />

planejadas e realizadas entrevistas semi-estruturadas com três licenciandos que<br />

vivenciaram o fazer pesquisa nos Componentes Curriculares PEC I e PEC II. Com a<br />

transcrição das fitas magnéticas (gravadas em áudio), aliada aos questionários,<br />

foram produzidos importantes materiais empíricos. Seguem-se alguns resultados,<br />

construídos mediante recortes procedidos nos materiais empíricos, articuladamente<br />

à identificação das categorias de análise, abaixo citadas e caracterizadas, no âmbito<br />

dos Componentes Curriculares PEC I e II.<br />

(I) Percepções gerais sobre o aprender a fazer pesquisa<br />

Nesta categoria os licenciandos expressam percepções gerais quanto ao<br />

processo do fazer pesquisa vivenciado, estabelecendo relações com outros<br />

6 PEQ I aconteceu antes de PEC I para a turma que foi acompanhada em sala de aula, como<br />

mostram os anexos IV e V.<br />

85


componentes curriculares, com atenção especial à relação professor-aluno, aos<br />

conteúdos, à metodologia, à avaliação.<br />

(II) Percepções sobre como foi e se foi realizado o fazer pesquisa<br />

Nessa categoria, os licenciandos expressam diferentes percepções sobre<br />

como foram, e se foram realizadas, diferentes etapas do fazer pesquisa propostas<br />

nos respectivos Planos de Ensino.<br />

(III) Percepções sobre limites vivenciados na prática do fazer pesquisa<br />

Os licenciandos manifestam suas visões quanto a dificuldades ou limites por<br />

eles percebidos e vivenciados, na prática do fazer pesquisa.<br />

(IV) Percepções sobre contribuições dos Componentes para a formação<br />

A atenção dos licenciandos volta-se para contribuições dos Componentes<br />

investigados para a sua formação de professor, enquanto professor pesquisador.<br />

Cada um destes aspectos é tratado, separadamente, a seguir.<br />

3.2.1 Percepções Gerais dos Licenciandos sobre o Aprender a Fazer<br />

Pesquisa<br />

Na análise dos questionários e das entrevistas dos licenciandos 7 foram<br />

procedidos recortes de suas respostas, representativos de suas visões sobre os<br />

Componentes Curriculares PEC I e II enquanto espaços articuladores do fazer<br />

pesquisa em sala de aula. No episódio que segue, a licencianda Joana justifica a<br />

consideração de tais Componentes Curriculares como espaços de ‘formação pela<br />

pesquisa’. No questionário, ela escreveu que:<br />

L. Joana: não são aulas de conteúdos específicos, nem aulas com<br />

atividades experimentais, mas aulas em que você discute, opina, busca<br />

compreender melhor, analisar e pesquisar sobre a educação.<br />

7 Os nomes utilizados no decorrer da análise são nomes fictícios, preservando assim, a identificação<br />

dos sujeitos participantes da pesquisa.<br />

86


A análise da escrita de Joana denota características da sua percepção em<br />

relação a outras disciplinas do Curso. A licencianda remete o fazer pesquisa aos<br />

componentes que discutem questões relativas à educação. De acordo com Joana<br />

não são “aulas de conteúdos específicos” químicos e nem “aulas com atividades<br />

experimentais”. Na oportunidade da entrevista, solicitou-se que Joana explicasse<br />

melhor este seu posicionamento em relação às diferenças entre as disciplinas de<br />

conteúdo específico, das aulas com experimentação, e as que abordam a educação:<br />

L. Joana (...) a maior diferença é no conteúdo, porque estas, pedagógicas,<br />

geralmente, quase nunca tem prova; a primeira coisa é só trabalho e<br />

pesquisa. E nas atividades experimentais, laboratório, geralmente é<br />

receita pega lá mistura (...) E disciplinas como Orgânica, Inorgânica é<br />

conteúdo, não têm, é horrível aquilo.<br />

Joana explicita a sua percepção quanto a diferenças nos conteúdos e nas<br />

metodologias entre as disciplinas que abordam o fazer pesquisa das demais. A visão<br />

expressa por Joana denota que, no âmbito de seu Curso de Licenciatura,<br />

possivelmente, apenas nas disciplinas relacionadas com a educação teriam sido<br />

vivenciadas práticas do fazer pesquisa, possibilitando espaços do ‘educar pela<br />

pesquisa’ em sala de aula.<br />

Joana aponta, também, diferenças quanto à avaliação, de ter ou não prova.<br />

Em relação aos métodos de avaliação, a licencianda Clara também se pronunciou<br />

sobre a avaliação vivenciada nos Componentes Curriculares investigados. Em sua<br />

entrevista, ela dizia que:<br />

L. Clara (...) foi avaliado tudo, todo o processo porque a gente escreveu e<br />

durante muito tempo você pesquisa e realmente é avaliado o conjunto, não<br />

é em partes.<br />

Os dizeres de Clara denotam um entendimento de que ocorreu uma avaliação<br />

de todo o processo. Esta avaliação, numa sala de aula com pesquisa, corrobora com<br />

a posição de Demo (2005) que destaca a importância da avaliação ser entendida<br />

como um “processo constante de acompanhamento da evolução do aluno” (p. 37).<br />

Este autor afirma, ainda, ser importante que o estudante tenha “a confiança de que é<br />

avaliado pelo desempenho geral e globalizado” (p. 37), e assim, a avaliação deixa<br />

87


de ser um ato isolado, e passa a ser algo natural envolvida no decorrer de todo o<br />

processo.<br />

Clara, ao caracterizar os Componentes Curriculares investigados como<br />

espaços de ‘formação pela pesquisa’, escreveu, no questionário:<br />

L. Clara: é preciso leituras, entrevistas, e construção de significados<br />

próprios a partir dessas idéias. O que contribui muito para a nossa<br />

formação.<br />

Clara, expressou diferentes etapas vivenciadas no processo, como leituras, a<br />

parte metodológica, a construção de resultados, de entendimentos próprios. Sua<br />

manifestação denota uma visão importante sobre o fazer pesquisa, ao mencionar a<br />

“construção de significados próprios a partir dessas idéias”. Retorna-se,<br />

posteriormente, a essa ênfase, quanto às diferentes etapas do fazer pesquisa.<br />

Uma escrita de Joana, no questionário, mostra a valorização da sua<br />

participação nos Componentes,<br />

L. Joana: foi de grande valia, pelo fato de aprender de outra maneira,<br />

deixando de lado o modo tradicional.<br />

Na oportunidade da entrevista, solicitou-se que explicasse melhor o seu<br />

entendimento quanto ao modo tradicional de ensino e o vivenciado em PEC I e II.<br />

Joana assim se expressou:<br />

L. Joana: quanto ao modo tradicional é o professor lá na frente o aluno<br />

sentado na classe escutando. Com a pesquisa a gente aprende muito<br />

mais, porque tem dias que tu fica sentado na sala e não consegue prestar<br />

atenção, fica só o corpo presente, na pesquisa não, tu te envolve, tu<br />

consegue fazer.<br />

Neste sentido, considerando a posição de Joana, percebe-se que a licencianda<br />

vivenciou as interações na prática do fazer pesquisa, considerando tal prática mais<br />

motivadora, sendo que, nos seus dizeres afirma que na aula com pesquisa “tu te<br />

envolve, tu consegue fazer”. Esta licencianda denota uma posição de que nas aulas<br />

do “modo tradicional”, há uma maior dificuldade de participação no processo de ensino<br />

88


e aprendizagem. Joana também se posiciona quanto a sua experiência de aluna em<br />

séries anteriores:<br />

L. Joana (...) se tu começa desde a quinta, sexta série tendo uma<br />

professora que te instigue a pesquisar, que faz perguntas, tu não vai<br />

chegar na faculdade e ficar quieto. Isso é toda uma vivência.<br />

Na fala de Joana percebe-se a sua conscientização, a partir de sua vivência e<br />

da sua formação inicial, de que é preciso uma mudança nas práticas de sala de<br />

aula. Ela sugere o fazer pesquisa no decorrer de toda formação escolar como<br />

propiciador da formação de sujeitos mais participativos em sala de aula, superando<br />

a visão de um aluno que apenas escuta. Não problematizar essas visões é algo que<br />

dificulta as propostas de mudança na educação.<br />

Na sala de aula com pesquisa prevalece tendencionalmente a participação do<br />

estudante nas atividades, numa superação de sujeito que apenas ‘reproduz’, copia<br />

para a de sujeito que participa interativamente e busca (re) construir. Portanto, é<br />

válida a argumentação em favor de espaços do aprender a fazer pesquisa durante a<br />

escolarização, em particular, durante a formação inicial docente e na importância da<br />

participação dos licenciandos em cada etapa do fazer pesquisa.<br />

Acredita-se, com base nos resultados construídos, que esta vivência é<br />

importante na constituição do licenciando como um sujeito interativo da relação<br />

pedagógica. E deve ser vista como contribuinte para a constituição de um professor<br />

que se torne capaz de argumentar, de criticar, de expor a sua opinião, visto que<br />

cultiva na sua formação inicial dimensões da crítica, da participação, alimentando o<br />

processo de construção própria, de que não deve ser refém apenas das idéias dos<br />

outros, mas que é capaz de construir seus próprios conhecimentos. Esta perspectiva<br />

é salientada na fala do licenciando José:<br />

L. José: estas disciplinas contribuíram bastante. Criam uma certa<br />

consciência do estudante de questionar mais, tirar suas dúvidas (...)<br />

Porque você vê que pode mesmo construir uma resposta.<br />

89


A fala recortada denota que o licenciando passa a se considerar capaz de<br />

construir conhecimentos ao vivenciar uma prática em sala de aula diferente da<br />

tradicional, na qual é o professor que expõe o conhecimento e o aluno apenas<br />

escuta. A fala do licenciando, de que estes componentes do fazer pesquisa “criam<br />

uma certa consciência do estudante de questionar mais, tirar as suas dúvidas”,<br />

remete para a afirmação de Demo (2005), de que numa sala de aula com pesquisa,<br />

“é essencial desfazer a noção de ‘aluno’ como sendo alguém subalterno, tendente a<br />

ignorante, que comparece para escutar, tomar nota, engolir ensinamentos” (p. 15).<br />

Segundo o mesmo autor (2005) “é fundamental que se passe de objeto a<br />

sujeito, implicando a participação plena do aluno, que, no fundo, deixa de ser aluno,<br />

para tornar-se parceiro de trabalho” (p.12). Entende-se a posição de ‘parceiro’ numa<br />

relação pedagógica que é assimétrica, onde, é importante considerar, também, que<br />

o conhecimento não pode ser passado do professor para o aluno, de forma passiva,<br />

sendo importante valorizar a visão de um envolvimento interativo num processo em<br />

que tanto quem aprende quanto quem ensina sejam ativos, nas relações<br />

pedagógicas não simétricas. No episódio que segue, transcrito a partir de uma das<br />

entrevistas realizadas, um licenciando aponta a visão deste espaço do aprender a<br />

fazer pesquisa como articulador de uma participação em que o sujeito é sempre<br />

interativo:<br />

L. José: (...) nestas disciplinas o professor ouve mais o que a gente fala,<br />

porque a gente está com dúvidas. A gente já vem com dúvida e a gente<br />

pergunta para ele, ele tenta responder para a gente seguir a pesquisa.<br />

Coisa que não é muito comum nas outras disciplinas, tipo, lá você fica um<br />

pouco mais fechado.<br />

Os dizeres mostram que o licenciando reconhece e explicita a sua percepção<br />

quanto à diferença do seu próprio comportamento nos diferentes componentes<br />

curriculares do Curso. Caracteriza a sua posição quanto à sala de aula com<br />

pesquisa, como sendo um espaço interativo em que todos os sujeitos são<br />

participativos, diferentemente das demais disciplinas do Curso que não trabalham<br />

com o fazer pesquisa. É importante o licenciando conseguir se posicionar quanto as<br />

diferentes práticas pedagógicas por ele vivenciadas, direcionar a atenção para a sua<br />

própria formação docente. A licencianda Joana também expressou uma posição<br />

nesse sentido:<br />

90


L. Joana (...) em certas aulas você fica quieta, você só escuta, você não<br />

consegue entender. Nestas [PEC I e II] todo mundo sabia o que estava<br />

fazendo. Tinha o objetivo claro, que era o projeto. Tinha o assunto, trouxe<br />

para sala de aula a realidade das escolas. Todo mundo opinou. Todos<br />

perguntaram o que aconteceu na escola. Isso é legal!<br />

A licencianda expressava-se, em tom incisivo, quanto à importância da<br />

participação ativa dos estudantes que, cientes e aliados aos propósitos do ensino<br />

vivenciado, são ativamente envolvidos no processo, tendo o que dizer, em cada<br />

etapa do trabalho coletivo. O próprio estudante vai a cada etapa de realização da<br />

pesquisa rediscutindo as teorias e os resultados, e isso possibilita a ele ter dúvidas e<br />

questionamentos sobre o seu próprio trabalho. Também a participação de cada<br />

licenciando aumenta. Isso, considerando, também que a prática do fazer pesquisa<br />

foi vivenciada em grupos, portanto, há uma troca de idéias e de conhecimento<br />

primeiramente entre os sujeitos do pequeno grupo e posteriormente uma discussão<br />

com o grande grupo.<br />

Nas entrevistas, outra licencianda expressou, ao caracterizar a vivência do<br />

fazer pesquisa em sala de aula, a sua percepção quanto à relação professor-aluno,<br />

valorizando a visão do professor que, de forma diferente, atua como um orientador,<br />

como um mediador do processo.<br />

L. Clara: (...) o professor deixou que a gente escrevesse com as nossas<br />

palavras, que a gente desenvolvesse as nossas idéias, que a gente<br />

aprendesse por si, mas, ao mesmo tempo, ele estava ali para mediar o<br />

que estava certo ou errado. E nas outras disciplinas, muitas vezes,<br />

simplesmente é colocado “isto é certo”, e a gente tem que aprender a<br />

aceitar. É aquilo e deu. Não há esta mediação.<br />

O uso, na fala da licencianda, das expressões ‘para mediar’ e ‘esta mediação’<br />

denota que ela já se apropriou, de alguma forma, de um importante conceito a ser<br />

significado neste e noutros espaços da formação inicial de professores. Ela valoriza<br />

uma visão quanto à autoridade do professor no processo de mediação em sala de<br />

aula, diferenciando-a da relação de autoritarismo.<br />

O referencial histórico-cultural chama a atenção para a importância de<br />

compreender as interações dos sujeitos e, assim, desenvolvê-las de forma<br />

consciente e intencionalmente construtiva, nos espaços de convivência como os das<br />

91


salas de aula. Isso, considerando que é na relação com o outro, numa atividade<br />

prática comum, que o sujeito se constitui e se desenvolve como ser humano. No<br />

contexto formativo acompanhado, isso implica que é essencialmente na relação com<br />

o professor do Componente Curricular como orientador, que os licenciandos passam<br />

a se constituir como professores pesquisadores, na medida em que aprendem, pela<br />

vivência, cada passo do fazer pesquisa na área da Educação em Ciências.<br />

Esta interação, a possibilidade de aprender com o outro, da necessidade da<br />

mediação e da imitação que extrapola a simples cópia, mas que, propicia a<br />

reconstrução do que é observado externamente pelo sujeito. Este processo é<br />

explicitado por uma fala de um licenciando ao referir-se à construção de categorias<br />

de análise:<br />

L. José: (...) o professor começou deu algumas dicas para nós de como<br />

fazer categorização, que a gente não tinha muita idéia de como fazer. Foi<br />

a primeira pesquisa mesmo. Ele deu um exemplo: ‘neste trecho fala disso<br />

então pode fazer as seguintes categorias’, ‘e neste outro trecho tem tal<br />

categoria’. Pronto, daí a gente pegou, leu tudo, categorizou. Conseguimos<br />

algumas novas categorias, que o professor não tinha falado. Foi bem<br />

difícil! Mas ele deu as orientações de como seguir.<br />

Neste sentido, da importância do aprender a fazer pesquisa sob supervisão<br />

de um professor pesquisador, Lüdke (2001a) diz que:<br />

com o auxílio desse professor, pode-se assegurar a introdução do elemento<br />

crítico, imprescindível em todas as fases da formação do futuro<br />

pesquisador, seja no domínio da teoria, onde ele vai se familiarizar, com as<br />

questões básicas pertinentes ao problema estudado, seja no campo da<br />

metodologia, onde ele vai conhecer os recursos que o permitam escolher os<br />

caminhos apropriados para enfrentar o desafio de construir conhecimentos<br />

a respeito desse problema (LÜDKE, 2001a, p. 49-50).<br />

É com a orientação do professor que os licenciandos aprendem a executar os<br />

passos de uma pesquisa. Neste sentido, a licencianda Clara reconhece a<br />

importância do auxílio do professor no decorrer do processo, como mostra o<br />

episódio que segue:<br />

L. Clara: no inicio parecia tudo muito difícil, quando o professor colocou<br />

que nós iríamos fazer um projeto, e nós não sabíamos como fazer (...) No<br />

momento em que a gente foi realizando, o professor foi ajudando e a gente<br />

foi aprendendo e foi se motivando. No final o resultado foi de um trabalho<br />

muito positivo.<br />

92


Denota-se da fala da licencianda Clara que esse aprendizado não é simples e<br />

exige a participação e o empenho de cada estudante e também do professor como<br />

mediador no decorrer do processo. A fala da licencianda Joana corrobora com estas<br />

considerações, como mostra o episódio que segue:<br />

L. Joana: Foi difícil. Foi o primeiro projeto que a gente fez no curso.<br />

Tivemos que re-elaborar duas ou três vezes, precisamos da orientação do<br />

professor, que dava sugestões para melhorar. Mas já na Pesquisa em<br />

Ensino de Química, foi mais fácil.<br />

Reafirma-se então que a prática do fazer pesquisa precisa ser ensinada,<br />

precisa ser mediada por um professor que já é um pesquisador, que saiba trabalhar<br />

cada etapa de uma pesquisa, para assim auxiliar na constituição de novos<br />

pesquisadores. Os dizeres de Joana de que no Componente Curricular Pesquisa em<br />

Ensino de Química (PEQ), cursado posteriormente a PEC I e II, a execução do<br />

projeto foi mais “fácil” corrobora com a concepção de aprendizagem proposta por<br />

Vigotski de que aquilo que um sujeito pode fazer com assistência hoje, será capaz<br />

de fazer sozinho amanhã (1998).<br />

Ainda no âmbito de qualificar este fazer pesquisa vivenciado em sala de aula,<br />

no decorrer dos Componentes Curriculares PEC I e II, a licencianda Clara assim se<br />

expressou:<br />

L. Clara: nessas disciplinas de PEC I e II a gente aprendeu a ler. Pesquisar<br />

fez com que a gente criasse talvez um hábito até muitas vezes deixado de<br />

lado (...) o escrever se tornou interessante, você começa a analisar, a<br />

fazer críticas e no meio do processo você vai criando ânimo.<br />

Clara, neste trecho, relata os diferentes instrumentos culturais usados na<br />

prática do fazer pesquisa, o ler e o escrever. A análise da fala de Clara quando diz<br />

que “a gente aprendeu a ler” evidencia a importância dada a esta vivência de leitura.<br />

Sua posição denota, também, que não é qualquer leitura e nem qualquer modo de<br />

ler que vai contribuir, mas que é a apropriação de leituras que se faz necessária ou<br />

seja, a importância de aprender a dialogar com os diferentes referenciais teóricos e<br />

assim, (re)construir suas idéias. Acredita-se que Clara, ao se referir ao ‘aprender a<br />

ler’, se referiu a esse processo de leitura, num ambiente de argumentação e de<br />

críticas. Clara em sua fala também mencionou a escrita como sendo participante da<br />

93


prática do fazer pesquisa. Com base no referencial teórico, referenda-se a visão da<br />

prática do escrever como instrumento cultural bastante específico que supera a<br />

cópia, pois a sua prática requer do sujeito uma maior reflexão sobre o seu trabalho,<br />

e possibilita que ao discutir com as diferentes vozes, que perpassam o processo da<br />

escrita, o licenciando amplie e reorganize os seus conhecimentos.<br />

A análise dos questionários e das entrevistas dos licenciandos, nesta primeira<br />

categoria de pesquisa, que discute percepções dos licenciandos quanto à prática do<br />

fazer pesquisa por eles vivenciada, mostrou que eles caracterizam os Componentes<br />

PEC I e II como articuladores do fazer pesquisa em sala de aula, considerando-os<br />

como espaços de ‘formação pela pesquisa’ numa relação que mostra diferenças<br />

entre estes componentes curriculares de outros componentes.<br />

Decorre também da análise dos questionários e das entrevistas a importância<br />

dada, pelos licenciandos, ao comparecimento de uma relação pedagógica<br />

assimétrica entre eles e o professor, que já é um pesquisador, no aprender a fazer<br />

pesquisa. Sem essa assimetria seria impossível esse aprendizado.<br />

Outro ponto a ser destacado foi quanto à importância dada, pelos<br />

licenciandos, ao seu posicionamento em sala de aula, reafirmando a concepção de<br />

que a prática do fazer pesquisa propicia tendencionalmente a participação de cada<br />

um no processo e que os estudantes passam de objetos a sujeitos interativos da<br />

relação pedagógica. Acredita-se com base nos resultados obtidos, que foi possível<br />

para os licenciandos produzirem compreensões quanto ao fazer pesquisa no<br />

decorrer dos Componentes Curriculares investigados. E que esta vivência co-<br />

participa na constituição dos licenciandos como professores pesquisadores.<br />

O que segue traz resultados e discussões sobre as etapas do fazer pesquisa<br />

no âmbito dos Componentes Curriculares analisados.<br />

94


3.2.2. As Etapas do Fazer Pesquisa Vivenciadas pelos Licenciandos nos<br />

Componentes Curriculares Acompanhados<br />

No decorrer da entrevista foi solicitado, também, que os licenciandos<br />

contassem, de uma maneira geral, o que lembravam dos Componentes Curriculares<br />

PEC I e PEC II. Suas falas denotaram diferentes etapas do fazer pesquisa, por<br />

exemplo, a elaboração escrita e execução do projeto, com todas as partes<br />

envolvidas, as leituras, os processos de construção e análise dos resultados, as<br />

formas de apresentação dos resultados.<br />

As falas que seguem apresentam dizeres que denotam o comparecimento de<br />

etapas da prática do fazer pesquisa por eles vivenciada. De acordo com José:<br />

L. José: (...) É, a gente começou, e o professor trouxe textos que falavam<br />

sobre epistemologia das ciências. Foram textos para a gente se situar,<br />

começar a se envolver com ler alguma coisa diferente. Eram os primeiros<br />

textos que a gente estava lendo que falavam sobre pesquisa mesmo. E<br />

depois disso, a gente começou a escolher um projeto, que, tipo, foi por<br />

escolha. Eu não me lembro se foram colocados no quadro os temas, mas<br />

acho que fomos nós que levantamos alguns temas. E depois, foram<br />

escolhidos os grupos. Depois, a gente começou a elaborar o projeto,<br />

metodologia.<br />

O inicio da fala remete para a prática de leitura, com o objetivo de iniciar os<br />

estudantes no âmbito da pesquisa e ampliar seu entendimento sobre a prática do<br />

fazer pesquisa. Em seguida, José se refere a “escolha” do projeto de pesquisa,<br />

também referenciou a busca do tema de pesquisa e da metodologia. O licenciando<br />

José ao descrever a prática de pesquisa vivenciada explicitou mais as primeiras<br />

etapas do fazer pesquisa, bem como, aspectos que perpassam a prática do fazer<br />

pesquisa, como a leitura e a escrita na elaboração do projeto e execução da<br />

pesquisa. O licenciando não se posicionou, neste momento da entrevista, frente à<br />

obtenção e a divulgação dos resultados da pesquisa.<br />

Joana ao descrever a prática vivenciada, elucidou outros aspectos, como<br />

mostram os dizeres que seguem:<br />

95


L. Joana: os alunos escolheram o tema. O professor deixou livre a escolha<br />

dos grupos, sem sorteio, cada um escolheu. Eu fiz em grupo. Éramos em<br />

três. Cada um pesquisou, pegou material e sexta à noite a gente se<br />

encontrava para elaborar. Mandava por e-mail. Todos colaboraram. A<br />

gente apresentou na semana científica o trabalho de PEC II. Na I foi sobre<br />

experimentação no ensino fundamental e na II do ensino médio.<br />

As falas mostram a organização do grupo enquanto pesquisadores, com a<br />

conclusão de que “todos colaboraram”, sendo este um dos propósitos do aprender a<br />

fazer pesquisa, a importância da interação entre colegas, enquanto grupo<br />

colaborativo. Joana, na sua fala, elucidou a apresentação da sua pesquisa na<br />

“semana científica”, mostrando novamente a importância da socialização da<br />

pesquisa para a sua constituição de pesquisadora. A licencianda também se referiu<br />

ao processo de continuidade entre os Componentes Curriculares PEC I e II, como já<br />

foi discutido nos resultados da análise dos Planos de Ensino dos mesmos (item<br />

3.1.2).<br />

Segue o relato da Licencianda Clara sobre a prática do fazer pesquisa,<br />

L. Clara: o que eu lembro é que foi feito grupo. A gente, primeiramente,<br />

tentou lembrar lá do ensino fundamental, como que eram as nossas aulas<br />

de ciências. A gente fez um memorial; este foi individual, e depois nos<br />

grupos a gente escolheu um determinado assunto para pesquisar, para<br />

fazer entrevista, para fazer um projeto piloto. Aí neste projeto piloto cada<br />

um escolheu um assunto. O assunto do meu grupo era sobre o livro<br />

didático, que tem uma seqüência tradicional, e daí a gente foi pesquisar<br />

primeiramente em várias fontes. E fomos, depois do projeto já pronto,<br />

visitar uma escola e fazer entrevistas com professores de Ciências lá no<br />

ensino fundamental, vimos também as bibliografias dos livros, de dois<br />

livros que eram usados pelos professores, um era do Carlos Barros, outro<br />

do Daniel Cruz. E a partir daí, a gente chegou a várias conclusões: que<br />

ainda continuam sendo usados os livros didáticos com seqüências<br />

tradicionais de conteúdos, de quinta a oitava série. Então, eu acho, assim,<br />

que foi muito importante. Isso foi em Pesquisa do Ensino de Ciências I e<br />

depois em Pesquisa do Ensino de Ciências II foi aprofundado aquele<br />

assunto de PEC I. Então assim, foi muito interessante porque cada<br />

assunto depois de discutido, do que cada grupo fez, a gente conseguiu ter<br />

uma noção de várias coisas, (...) os outros grupos fizeram outros trabalhos<br />

com os quais a gente pode também notar, descobrir coisas.<br />

Clara na sua fala explicou mais detalhadamente algumas das etapas do fazer<br />

pesquisa. A exemplo da escolha do tema de pesquisa, que, conforme seu<br />

depoimento, ocorreu a partir da escrita do Memorial da formação escolar em<br />

96


Ciências, no âmbito da PEC I. Partindo da escrita do Memorial, a escolha do tema<br />

de pesquisa é decorrente da vivência do licenciando como estudante. Em grupos<br />

(duplas ou trios), elegem um tema sobre algum ponto de sua vivência que lhes<br />

chamou atenção, que foi problemático. E neste contexto, é possibilitado, ao<br />

licenciando, buscar compreender diferentes práticas pedagógicas vivenciadas<br />

contribuindo, assim, para a sua formação de professor.<br />

Além da escolha do tema Clara esclarece os recursos metodológicos<br />

utilizados para a obtenção dos dados de pesquisa, como a realização de entrevistas,<br />

análise de livros didáticos. A mesma licencianda em sua fala ainda explicitou a<br />

continuidade dos trabalhos em PEC I e II, e também mostrou que valoriza a<br />

socialização de todas as pesquisas realizadas no contexto da sala de aula, conforme<br />

seus dizeres: “os outros grupos fizeram outros trabalhos, com os quais a gente pode<br />

também notar, descobrir coisas”.<br />

Os depoimentos mostram que os licenciandos envolveram-se ativamente e de<br />

forma organizada no desenvolvimento do fazer pesquisa, coerentemente com os<br />

propósitos do Componente Curricular. Indícios evidenciam a vivência das diferentes<br />

etapas, desde a identificação do tema e a elaboração do projeto até a execução e a<br />

validação dos resultados, numa organização do ‘fazer pesquisa educacional’, na<br />

formação, que pode ser relacionada com o ‘fazer pesquisa científica’, conforme<br />

referido por Moraes (2002), com base em Demo:<br />

cada aluno elabora uma pesquisa com marca científica; é organizado um<br />

cronograma de fases evolutivas de produção e apresentação de trabalhos;<br />

faz-se um questionamento e crítica públicos dos trabalhos; as aulas são<br />

transformadas em suporte operativo da pesquisa (MORAES, 2002, p.206).<br />

Relatos dos licenciandos, como os apresentados, corroboram a visão de que<br />

tal prática é possível de ser desenvolvida na formação inicial, numa organização em<br />

que, segundo Moraes, cada licenciando participa e executa cada uma das etapas do<br />

fazer pesquisa. Acredita-se com base no referencial teórico abordado que ao<br />

exercitar os passos da pesquisa, os licenciandos constroem, pela mediação, seus<br />

próprios significados do que seja pesquisar, a partir dos registros de informações, da<br />

construção de dados de pesquisa e da sua análise, com a ajuda de referenciais<br />

97


teóricos aliados a leituras sistematicamente procedidas, na interação com o<br />

professor orientador.<br />

A partir dos relatos de cada licenciando, procurou-se, no decorrer das<br />

entrevistas semi-estruturadas, aprofundar alguns dos aspectos percebidos sobre a<br />

vivência do fazer pesquisa, por exemplo, como foi a participação do grupo, a<br />

participação individual no decorrer do trabalho, como foi a escolha do tema de<br />

pesquisa, as leituras, a definição e implementação da metodologia, a construção e a<br />

interpretação dos dados com a construção de categorias de análise, a escrita e<br />

outros.<br />

Na oportunidade da entrevista, solicitamos aos licenciandos que explicassem<br />

o porquê da escolha do assunto pesquisado, como foi, no grupo, a decisão sobre ‘o<br />

que’ pesquisar. O licenciando José, que pesquisou sobre experimentação, assim se<br />

expressou:<br />

L. José: (...) acho que de alguma falha de nosso ensino, algum problema<br />

que a gente achou que tinha que ter sido elaborado, aprendido melhor.<br />

Experimentação, por exemplo, eu pouco tive no ensino médio, tive aqui na<br />

universidade, e eu entendo que ela ajudou muito o meu aprendizado. Por<br />

isso eu acho interessante pesquisar experimentação.<br />

Denota-se, dos dizeres de José, que a escolha do tema de pesquisa partiu de<br />

uma problemática por ele vivenciada quando aluno no ensino fundamental e médio.<br />

Acredita-se que esta investigação será importante na sua constituição como<br />

professor, ampliando seus conhecimentos quanto à experimentação no ensino de<br />

química. A escolha dos temas de pesquisa, partindo de vivências dos estudantes,<br />

possibilita aos licenciandos, pelo fazer pesquisa, na interação com outras teorias,<br />

uma reflexão crítica e reconstrutiva do ser professor e do ensinar química.<br />

O ensino do fazer pesquisa investigado abrangeu uma atividade, no decorrer<br />

do Componente Curricular PEC I, que, segundo os licenciandos contribuiu para a<br />

visualização do processo de uma pesquisa como um todo, desde a elaboração do<br />

projeto até a escrita do relatório final. Os dizeres do licenciando José, que seguem,<br />

descrevem essa atividade.<br />

98


L. José: a gente pegou um artigo de pesquisa, de alguma revista e a gente<br />

separou a metodologia, os objetivos, a justificativa, a conclusão daquele<br />

referencial.<br />

Como mostra a fala de José, a partir da leitura de um “artigo de pesquisa”, ou<br />

seja, um artigo científico da área da Educação em Ciências, os estudantes<br />

identificaram as partes constituintes da pesquisa, a exemplo dos objetivos, da<br />

metodologia, entre outros aspectos.<br />

Ficou clara, a partir de diversos depoimentos dos estudantes que, diante<br />

dessa ‘situação real’ vivenciada no âmbito dessa atividade, foi possível aos<br />

licenciandos, a partir de sentidos expressos e discutidos para cada etapa do fazer<br />

pesquisa identificada no artigo em estudo, construírem significados e entendimentos<br />

de conceitos específicos de tal prática. Neste sentido, o entendimento e a<br />

significação de conceitos que compõe a compreensão do fazer pesquisa superam,<br />

em muito, a fase da simples cópia e da memorização mecânica de certos conteúdos<br />

e definições formais. Esta prática corrobora com a posição de Vigotski de que, no<br />

processo de desenvolvimento humano, a significação dos conceitos,<br />

requer o desenvolvimento de toda uma série de funções como a atenção<br />

arbitrária, a memória lógica, a abstração, a comparação e a discriminação, e<br />

todos esses processos psicológicos sumamente complexos não podem ser<br />

simplesmente memorizados, simplesmente assimilados (VIGOTSKI, 2000,<br />

p.246).<br />

Inúmeros depoimentos dos licenciandos, alguns apresentados no âmbito do<br />

presente trabalho, outros não, permitiram constatar que eles vivenciaram, na prática,<br />

todas as etapas do fazer pesquisa já mencionadas. Identificaram o tema, elaboraram<br />

o projeto, de forma organicamente apresentada, procederam aos registros de<br />

informações, construíram, analisaram e apresentaram dados de pesquisa, em forma<br />

escrita e oral. Não cabe, aqui, pela extensão deste trabalho, a descrição e análise,<br />

com detalhes, de cada etapa vivenciada. Os dados apresentados a seguir denotam,<br />

indiretamente, que todas as etapas foram realizadas, possibilitando chegar a um<br />

término do processo de fazer pesquisa na formação inicial.<br />

99


Quanto à etapa final da prática do fazer pesquisa, já tratada (item 3.1.2) na<br />

análise dos Planos de Ensino dos Componentes Curriculares, que se refere à<br />

socialização e validação de resultados produzidos pelos licenciandos, o licenciando<br />

José pronunciou-se como mostra a fala que segue:<br />

L. José: A gente apresentou o projeto e os resultados aos colegas. O<br />

projeto, na Pesquisa em Ensino de Ciências I e o projeto já desenvolvido,<br />

com as conclusões na Pesquisa de Ensino de Ciências II. A gente fez um<br />

resumo, bem nas normas de publicação. Até a gente publicou! Apresentou,<br />

mais adiante, num seminário de iniciação científica, e no EDEQ [Encontro<br />

de Debates do Ensino de Química] a gente apresentou como pôster. Acho<br />

que ficou bem bom, um trabalho bem construído. Gostei mesmo de fazer.<br />

O depoimento denota a importância dada pelo licenciando às publicações,<br />

apresentações e, também, para a construção de um artigo em formato publicável.<br />

José explicita, em sua fala, que houve a apresentação das pesquisas para os<br />

colegas, no âmbito da sala de aula, além da apresentação num ‘seminário de<br />

iniciação científica’. Ou seja, houve a socialização no âmbito do Curso, da<br />

universidade e, também, em âmbitos de fora, como foi o caso do EDEQ. Segundo<br />

Galiazzi, Moraes e Ramos (2002), a sala de aula seria a comunidade mais restrita<br />

em que a pesquisa ocorreu, e finalmente a apresentação em um evento científico,<br />

seria uma comunidade mais ampla (p.20 e 21). Nesse sentido, Moraes diz que:<br />

uma produção dentro do contexto de aula com pesquisa não pode limitar-se<br />

à construção de novas compreensões num sentido individual ou de<br />

pequeno grupo. Pela sua própria pretensão de cientificidade, necessita ser<br />

colocada à crítica, necessita ser comunicada a um grupo maior para analise<br />

e avaliação (MORAES, 2002, p. 212).<br />

Acredita-se na importância desta vivência de socialização da pesquisa para a<br />

constituição do licenciando como um sujeito que se perceba capaz de produzir<br />

conhecimentos. Nesse sentido, Clara, que também apresentou seu trabalho no<br />

EDEQ em forma de Pôster, disse na entrevista que:<br />

L. Clara: é interessante porque no momento em que as pessoas passam e<br />

vêem teu trabalho lá exposto, elas chegam, perguntam e você tem a<br />

oportunidade de falar sobre o teu assunto pesquisado. E isso é bem<br />

interessante.<br />

Clara na sua fala, ao mesmo tempo em que afirma a importância da<br />

socialização da pesquisa, aponta a importância da mesma como uma “oportunidade<br />

100


de falar sobre o teu assunto pesquisado”. Com base no referencial histórico-cultural,<br />

ao mesmo tempo em que fala da sua pesquisa, o licenciando, dialeticamente,<br />

escuta, o que contribui no enriquecimento de seus conhecimentos e de sua<br />

formação. Nas interações, ele internaliza signos e (re)constrói significados<br />

conceituais. É nesse âmbito de entendimentos que se defende a importância da<br />

interação com ‘outros’, desde a identificação do tema, no pequeno grupo, até a<br />

socialização da pesquisa, dentro e fora do âmbito do Curso.<br />

Sobre a interação com os colegas, na turma, a licencianda Joana se<br />

pronuncia conforme segue:<br />

L. Joana: sempre tu vai aprender alguma coisa com o teu colega, o outro<br />

sempre vai ter alguma coisa para acrescentar para dizer. Se ele já está<br />

trabalhando na escola ele traz para o grupo a realidade da escola. E<br />

individual tu fica com o teu pensamento.<br />

A fala de Joana, também em outros depoimentos aqui não trazidos, mostra a<br />

valorização das trocas de conhecimentos e de experiências ao longo da vivência dos<br />

passos do fazer pesquisa acompanhado. O processo de aprender coletivo, que<br />

acontece numa sala de aula com pesquisa denota o envolvimento de cada<br />

participante, uma valorização da compreensão de um conhecimento nunca acabado,<br />

sempre em reconstrução ao longo do andamento da pesquisa. Na sala de aula com<br />

pesquisa prevalece, portanto, a participação do estudante nas atividades, numa<br />

superação da posição de sujeito que apenas ‘reproduz’, copia mecanicamente para<br />

a de sujeito que participa, interage e (re)constrói seus conhecimentos, com a ajuda<br />

de outros.<br />

Nesse sentido, a análise dos resultados construídos na presente investigação,<br />

denota a importância da ‘interação com outros’, como fator de grande influência no<br />

processo de cada etapa do fazer pesquisa; na interação dos licenciandos com o<br />

professor orientador, com os colegas do pequeno ou do grande grupo, com os<br />

professores de escola, com pessoas presentes no espaço da socialização dos<br />

resultados, bem como com autores com os quais os estudantes “dialogam” na<br />

construção de pressupostos teóricos. O licenciando José reconhece a importância<br />

101


da interação com o referencial teórico no decorrer da realização da pesquisa,<br />

afirmando que:<br />

L. José: com eles a gente pode aprofundar mais. Lendo a gente pode ter<br />

outras idéias (...) se a gente pegasse uma coisa somente nossa, a gente<br />

não iria conseguir fazer uma pesquisa. Já se a gente pega um referencial,<br />

a gente vai construindo mesmo, vai mais além.<br />

Da fala de José percebe-se que a valorização do referencial teórico no fazer<br />

pesquisa mostra uma posição quanto ao entendimento, por parte dos estudantes, do<br />

que é fazer pesquisa. Subentende-se que para fazer uma pesquisa é preciso<br />

dialogar com teorias, para ampliar seus conhecimentos, numa constante<br />

reconstrução. Esta posição do licenciando corrobora com os dizeres de Moraes de<br />

que:<br />

o envolvimento em projetos de trabalhos e pesquisa permite aos<br />

participantes um melhor conhecimento de si mesmos e do mundo,<br />

estabelecendo relações significativas entre conhecimentos que já têm e<br />

novos conhecimentos investigados (MORAES, 2002, p. 207).<br />

A análise dos resultados desta categoria, que se refere às etapas do fazer<br />

pesquisa analisado, mostrou aspectos da participação do licenciando nas mesmas.<br />

Também mostrou que os licenciandos internalizaram de algum modo a linguagem<br />

específica do fazer pesquisa, pois evidenciam nas etapas do fazer pesquisa a<br />

construção do projeto, a escolha do tema de pesquisa, do referencial teórico, dos<br />

objetivos, da socialização entre outros.<br />

A análise denota também que os temas em estudo, partindo da formação<br />

ambiental dos licenciandos enquanto estudantes de Ciências/Química possibilitam,<br />

na interação com outros – o professor orientador, os autores dos referenciais<br />

teóricos construídos, os colegas, os sujeitos de pesquisa, os interlocutores na<br />

socialização/validação da pesquisa – a reflexão crítica sobre o ser professor e o<br />

ensinar química.<br />

Em seguida explicitam-se algumas limitações desta prática do fazer pesquisa,<br />

as dificuldades vivenciadas pelos licenciandos no aprender a fazer pesquisa.<br />

102


Investigado<br />

3.2.3. Os Limites do Fazer Pesquisa para os Licenciandos no Contexto<br />

A prática do ‘fazer pesquisa’ em sala de aula também é movida pela<br />

dificuldade, pela resistência, pela insegurança. A licencianda Joana na entrevista<br />

disse que uma das dificuldades foi, a de inicialmente não entender esta nova prática<br />

de ensino:<br />

L. Joana: no inicio acho que todos não entendiam, a primeira aula foi<br />

complicado ele [professor] teve que explicar umas quantas vezes como<br />

seria o trabalho, foi complicado.<br />

Os dizeres de Joana mostram a ruptura e os entendimentos que devem ser<br />

propiciados no âmbito de uma sala de aula com pesquisa, considerando-se que esta<br />

prática de ensino é diferente da prática acostumada.<br />

Neste âmbito de mudanças a dificuldade evidenciada pela licencianda Clara<br />

foi a de entender a posição de aluno na prática do fazer pesquisa. Clara diz que na<br />

prática do fazer pesquisa é<br />

L. Clara: tu que tem que se monitorar, não é só ir à aula.<br />

A fala de Clara denota a diferença percebida quanto à posição do aluno, que<br />

no ensino tradicional permanece calado, recebendo o conteúdo por transmissão e<br />

que na vivência do ‘educar pela pesquisa’ é preciso participar, fazendo leituras,<br />

argumentando para, assim, reconstruir os seus conhecimentos. Neste sentido, não<br />

basta “só ir à aula”, é necessário participar, interagir na sala de aula. Muitas vezes é<br />

mais fácil e mais cômodo ficar na posição de sujeito que apenas assiste aula, sem<br />

nenhum compromisso de participação efetiva. No âmbito da sala de aula com<br />

pesquisa busca-se estudantes que discutem, que se envolvam no processo de<br />

pesquisar, mas nem sempre a posição do estudante é essa. Com base na teoria<br />

histórico-cultural acredita-se que um estudante mais introspectivo também pode se<br />

envolver em cada etapa do fazer pesquisa, num nível de apropriação diferenciado.<br />

Este âmbito muitas vezes é considerado como de dificuldades e de resistências.<br />

103


Conforme Galiazzi et al “existe sempre uma tensão na apropriação de um novo<br />

significado por um indivíduo ou grupo”, e com base em Wertsch, a autora argumenta<br />

que “professores e alunos, enquanto resistem, apropriam-se, em níveis<br />

diferenciados, dos significados do discurso que circula em aula” (2003, p. 236).<br />

Portanto, esta resistência, ou a dificuldade encontrada por algum licenciando<br />

em participar interativamente do processo de ensino e aprendizagem proposto numa<br />

sala de aula com pesquisa, faz com que cada um, de forma diferenciada, se aproprie<br />

desta prática do fazer pesquisa e se constitua ao longo do processo, como um<br />

sujeito mais co-participativo e questionador. Vale ressaltar que, para os licenciandos,<br />

estas foram as primeiras práticas do fazer pesquisa, e que ao longo do Curso terão<br />

outras oportunidades de participar, executar uma pesquisa.<br />

Foram apontadas outras dificuldades vivenciadas particularmente por cada<br />

um dos licenciandos. Clara destacou que a sua dificuldade foi na escrita:<br />

L. Clara: a principal dificuldade é escrever. Enquanto a gente está<br />

realizando o projeto, não é tão difícil, mas no momento em que você<br />

constrói o texto, é a parte mais difícil, porque você não sabe muitas vezes<br />

como citar aquela determinada frase, determinado contexto. Então,<br />

escrever é a parte mais difícil.<br />

Mas a própria licencianda reconhece que este processo vivenciado no<br />

decorrer do fazer pesquisa, apesar das dificuldades contribuiu para:<br />

L. Clara: aprender a escrever melhor [e complementa dizendo], com<br />

certeza eu posso dizer que agora eu escrevo bem melhor do que eu<br />

escrevia antes.<br />

Neste sentido, o licenciando José apontou como principal dificuldade<br />

vivenciada, por ele, a criação de um diálogo entre o referencial teórico e a prática<br />

pesquisada, diz que:<br />

L. José: eu achei bastante dificuldade no referencial teórico de pegar as<br />

metodologias e juntar com as análises, com os resultados das categorias e<br />

fazer um negócio que desce uma liga, sabe. Tive bastante dificuldade<br />

nesta parte.<br />

104


Este diálogo entre o referencial teórico, o campo empírico e o pesquisador<br />

será analisado com maior ênfase posteriormente (item 4,2) nos resultados da análise<br />

do projeto de pesquisa.<br />

No âmbito das dificuldades evidenciadas pelos licenciandos uma limitação<br />

apontada pela licencianda Clara, no decorrer da sua entrevista, foi a da necessidade<br />

de mais tempo para aprender e executar a pesquisa:<br />

L. Clara: como os trabalhos são muitos, eu acho que teria que ter mais<br />

tempo, mais encontros.<br />

Os dizeres de Clara denotam uma limitação quanto à carga horária dos<br />

Componentes, PEC I e II, no âmbito do Curso. O reduzido tempo de aula destes<br />

Componentes, dificulta, segundo a licencianda, o aprendizado do fazer pesquisa.<br />

Outra dificuldade apontada, por Joana, é o não seguimento de PEC I num<br />

semestre e PEC II no outro, segundo a licencianda, geralmente há falha de um ou<br />

mais semestres, porém, não é o que se verifica no curso. Nos dizeres de Joana:<br />

L. Joana: o problema é as turmas. Elas não abrem, porque geralmente não<br />

fazem estas de pesquisa. Todo mundo pega mais as de Orgânica,<br />

Inorgânica. Eles acham que estas são mais importantes, acham que é<br />

essencial fazer estas e deixar as pedagógicas de lado.<br />

A fala de Joana denota que há uma predominância entre os próprios colegas<br />

de Curso de uma visão simplista, de que para ser professor de química, basta saber<br />

os conteúdos específicos de química, como os citados: “Orgânica, Inorgânica”. Esta<br />

concepção, segundo Joana, é vista como um obstáculo para a abertura de turmas<br />

nos componentes curriculares que não são específicos de química.<br />

Assume-se uma posição de que os espaços do fazer pesquisa estão<br />

conseguindo mudar a organização curricular baseada apenas no modelo tecnicista<br />

de formação, porém, o que se percebe ainda, é uma desvalorização destes<br />

Componentes em relação aos componentes específicos de química.<br />

105


Neste âmbito curricular em que, apesar das mudanças, ainda prevalecem<br />

resquícios do modelo baseado na racionalidade técnica, os licenciandos que<br />

vivenciaram a prática do fazer pesquisa conseguem fazer críticas ao próprio Curso<br />

de formação. Percebem a dicotomia que ainda persiste entre as disciplinas<br />

específicas de química e as de pesquisa, como reforça a fala que segue:<br />

L. Clara: essas disciplinas específicas de química, que trabalham<br />

especificamente o conteúdo são aulas onde os professores ainda<br />

continuam sendo professores tradicionais. Então eu acho que isso não tem<br />

que ser separado, tipo, esta disciplina de pesquisa, onde a gente só faz<br />

pesquisa e aprende toda esta questão de método de aula, questão de<br />

atitude, e no outro momento tu tem uma aula parece que totalmente<br />

isolada, com outro método de ensino que tu aprende na teoria que não<br />

deve ser. Então é bem contraditório (,,,) Eu acho que nas próprias<br />

disciplinas de conteúdos específicos os professores deveriam atuar desta<br />

forma, com pesquisa, de ter um método de ensino mais motivador, não ter<br />

simplesmente aquela aula tradicional de passar o conteúdo e nós assimilar<br />

e pronto.<br />

Com base neste depoimento, que evidencia um contexto de dicotomias e<br />

desvalorização, corroboramos com os dizeres de Galiazzi, que ao explicitar as<br />

dificuldades do fazer pesquisa no âmbito de um Curso de Formação Inicial Docente<br />

expõe que:<br />

a grade curricular com o seu conjunto de disciplinas, o tempo que os alunos<br />

gastam em assistir aulas ou mesmo os trabalhos solicitados aos alunos sem<br />

que haja uma conexão entre disciplinas, mostra o entendimento dominante<br />

da formação de professores e como nesse discurso, uma proposta com<br />

ênfase na aprendizagem tem dificuldades de ser desenvolvida. É como o<br />

sistema dominante e homogêneo resiste (GALIAZZI, 2003, p. 187).<br />

Uma outra limitação que surge no decorrer do fazer pesquisa é a situação dos<br />

alunos, haja vista este curso ser noturno e a maioria dos licenciandos trabalhar na<br />

parte diurna. José que é bolsista de Iniciação Científica afirma que:<br />

L. José: eu sou de Iniciação Científica, eu tenho um certo tempo de fazer<br />

pesquisa, de me empenhar bastante, mas outros não, trabalham o dia<br />

inteiro, fazem três, quatro disciplinas, tem poucas noites livres.<br />

Clara que trabalha 40 horas semanais relata que:<br />

L. Clara: Muitas vezes a gente não consegue achar muito tempo pra ler,<br />

então tinha que ser no final de semana, ou algumas noites que eu não<br />

tinha aula, mas é mais complicado do que se eu tivesse todo tempo livre.<br />

106


A situação de Clara é a situação de grande parte dos acadêmicos,<br />

principalmente de faculdades particulares e que procuram cursos noturnos por<br />

trabalharem durante o dia. Com certeza uma situação difícil, nos dizeres de Demo,<br />

talvez o problema mais difícil sejam os cursos noturnos, que representam ao<br />

mesmo tempo, a chance para a juventude que trabalha durante o dia (...)<br />

dificilmente se lê, maneja dados, procura material pertinente, elabora com<br />

mão própria. A imagem do aluno cansado e que ainda vai enfrentar uma<br />

viagem de volta, domina a cena, contribuindo tanto mais para que a<br />

complacência seja preferida à competência (DEMO, 2005, p. 84).<br />

Concorda-se com Demo, quanto à situação difícil dos estudantes que<br />

trabalham num turno e que estudam no outro, porém, essa particularidade não<br />

impediu que neste Curso de Química Licenciatura, de modalidade noturno, fossem<br />

implantados diferentes espaços do fazer pesquisa. E que apesar das diferentes<br />

restrições e dificuldades por parte da condição social dos licenciandos a pesquisa<br />

está sendo posta em prática e resulta em trabalhos muito ricos propiciando uma<br />

formação melhorada para estes licenciandos.<br />

Apesar das limitações apresentadas no decorrer desta prática do fazer<br />

pesquisa ela se constitui como uma oportunidade de diferentes crescimentos. Em<br />

seguida serão apresentadas percepções dos licenciandos quanto a contribuições do<br />

aprender a fazer pesquisa para a sua formação docente. Acredita-se que as<br />

interlocuções com referenciais teóricos adequados, com o professor orientador, com<br />

o contexto empírico investigado, vão constituindo o licenciando como um sujeito<br />

mais crítico e argumentativo.<br />

3.2.4 Contribuições da Prática do Fazer Pesquisa Vivenciada para a<br />

Formação Docente<br />

Licenciandos, ao falarem de seu Curso de Licenciatura, citavam o fazer<br />

pesquisa como ponto positivo do seu Curso. O licenciando José, no questionário,<br />

escreveu a percepção em relação ao Curso:<br />

L. José: O Curso está voltado bastante para a pesquisa, quanto à<br />

profissão de ser professor, e não preocupado apenas em aprender<br />

química.<br />

107


Na entrevista, o mesmo licenciando disse:<br />

L. José: (...) eu acho que é um curso bem diversificado, comparando com<br />

outras universidades que a gente sabe, acredito, já que tem bastante<br />

envolvimento com a pesquisa no curso de graduação.<br />

Percebe-se na fala de José o fazer pesquisa como sendo um diferencial, uma<br />

característica do seu Curso de Graduação, bem como, ressalta a importância do<br />

Curso estar voltado para a formação de professor, e denota-se ser a prática do fazer<br />

pesquisa contribuinte para a formação docente.<br />

Joana, ao caracterizar pontos negativos e positivos do Curso, explicita a<br />

pesquisa como um ponto positivo para quem se forma como bacharel, expressando<br />

uma visão simplista de quem pesquisa, da pesquisa servir apenas para o bacharel<br />

em química e não para o professor,<br />

L. Joana: O positivo, que é voltado bastante para pesquisa, isso ajuda para<br />

o lado do bacharel porque, pesquisa no ensino de química, de ciências, a<br />

gente aprendeu a fazer um trabalho bem elaborado. Eu não sei o que<br />

ajuda para a licenciatura.<br />

Mesmo tendo esta opinião, Joana busca explicitar possíveis contribuições<br />

para a sua formação de professora. Conclui seu pensamento dizendo que, mesmo<br />

num Curso de Licenciatura,<br />

L. Joana: não se pode deixar de lado a pesquisa [e num outro momento<br />

explicita que] (...) toda pesquisa por menor que seja contribui para a<br />

formação.<br />

A posição de Joana denota que a contribuição do fazer pesquisa para ela,<br />

ainda não está bem evidenciado, sendo que, o primeiro episódio mostra que para a<br />

licencianda a prática do fazer pesquisa contribui apenas para o bacharelado. Mas<br />

num segundo momento retoma o fazer pesquisa como indispensável também para a<br />

formação docente. Talvez Joana não tenha vivenciado com muita intensidade todo<br />

este processo.<br />

108


Clara, quanto à importância do fazer pesquisa para a sua formação disse que:<br />

L. Clara: através da pesquisa a gente aprende muito, além do que não<br />

simplesmente só o conteúdo em si. Mas a gente aprende muito, porque a<br />

gente tem que ir buscar e indo buscar fora você vê outras realidades, você<br />

questiona outras coisas. Então, eu acho bastante produtivo (...). Nessas<br />

disciplinas de pesquisa, a gente lendo e conversando em sala de aula e<br />

fazendo entrevista com os próprios professores a gente tira conclusões<br />

muito importantes para a nossa formação.<br />

Por sua vez, a fala de Clara evidencia a importância do fazer pesquisa, como<br />

sendo um processo “produtivo” e isso decorre, conforme Clara, a partir de leituras,<br />

conversas em sala de aula e com professores de escola, novamente a importância<br />

das interações com o referencial teórico, com os colegas, com o professor orientador<br />

e com o contexto empírico pesquisado.<br />

Neste sentido, a fala de Clara mostra a importância de a pesquisa estar<br />

relacionada com professores atuantes, com práticas de ensino concretas,<br />

diminuindo-se assim a dicotomia universidade escola. A posição desta licencianda<br />

corrobora com os dizeres de Perrenoud (1993) de que não é qualquer tipo de<br />

pesquisa que contribui para o processo de formação docente, para ter contribuição<br />

estas investigações devem estar relacionadas às questões de ensino, do fazer<br />

pedagógico.<br />

Galiazzi também enfatiza a importância de nos cursos de licenciatura a<br />

pesquisa ser em Educação, visto que esta será a área de atuação profissional do<br />

licenciando (2003, p.59). Esta defesa da pesquisa estar relacionada com o ensino<br />

também é encontrada nos dizeres das Diretrizes Curriculares Nacionais, “o foco<br />

principal do ensino da pesquisa nos cursos de formação docente é o próprio<br />

processo de ensino e de aprendizagem dos conteúdos escolares na educação<br />

básica” (BRASIL, 2001, Parecer CNE/CP 9/2001, p.28).<br />

Toda a vivência do fazer pesquisa amplia a visão do ser professor, pois,<br />

propicia leituras na área da Educação Química, investigações em âmbitos práticos,<br />

numa interação dos licenciandos com professores, escolas e diferentes realidades<br />

educacionais, como mostra o episódio que segue:<br />

109


L. Clara: estas pesquisas que a gente fez, abriu bastante o caminho de a<br />

gente ver que a gente tem que tentar não ser aquele professor tradicional<br />

que simplesmente quer colocar o conteúdo na cabeça dos alunos.<br />

A fala de Clara, de que “a gente tem que tentar não ser aquele professor<br />

tradicional” denota que a interação em contexto escolar propiciada pela pesquisa e a<br />

reflexão mediada pelos referenciais teóricos e pelo professor do componente<br />

curricular auxiliam na constituição de um olhar mais crítico do fazer docente e na<br />

reconstrução da sua concepção quanto aos modelos de ensino e de professor, como<br />

fica evidenciado no episódio que segue:<br />

L. Clara: Saber o conteúdo, claro que é muito importante, só que eu acho<br />

que não é somente o que se precisa, porque ir para uma sala de aula<br />

sabendo apenas o conteúdo qualquer um poderia ir, então não precisaria de<br />

uma formação específica de licenciatura.<br />

A fala de Clara denota a sua concepção de que para ser professor não basta<br />

saber química. Denota uma superação da visão simplista, de senso comum, de que<br />

ensinar é fácil. Com base em Marcelo (1998) assume-se que melhorar a formação<br />

docente é buscar promover formas de reflexão quanto ao ser professor.<br />

Nesse sentido, no âmbito da investigação, com base no referencial teórico é<br />

primordial referendar a importância da pesquisa como aliada na formação inicial de<br />

professores de Química enquanto propiciadora de ajudar na (re)estruturação de<br />

concepções sobre o ser professor. Pois, submete a formação ambiental a uma<br />

reflexão crítica, ampliando a “visão unilateral da docência” desenvolvida até o<br />

momento (Gil Perez, 2000, p. 40). Dizemos com Galiazzi (2003) que, “o uso da<br />

pesquisa contribui para a competência do professor (...) tornando possível a<br />

superação de conhecimentos simplistas e de senso comum sobre o que é ser<br />

professor” (p.55).<br />

No ambiente de formação é primordial também uma reflexão epistemológica<br />

sobre o conhecimento científico e suas implicações no ensino, superando a visão<br />

tradicional de ciência, como neutra, a-histórica, imutável e verdadeira. Segundo<br />

Moraes e Ramos (apud Galiazzi 2003, p. 56) “a pesquisa em Educação pode<br />

contribuir também para o entendimento de aspectos epistemológicos relacionados<br />

110


com a natureza da ciência”. Resultados denotam que a prática do fazer pesquisa<br />

acompanhada contribuiu para uma visão crítica do conhecimento, de ciência. Nos<br />

dizeres que seguem, José expressa uma percepção relacionada com essa dimensão<br />

formativa, no âmbito da vivência dos passos do aprender a fazer pesquisa.<br />

L. José: (...) é uma forma que nos faz entender que devemos sempre estar<br />

nos qualificando, pesquisando, visto que os conhecimentos não são<br />

prontos, acabados e isentos de interesse.<br />

Resultados como esses permitem afirmar que a prática do fazer pesquisa<br />

acompanhada contribuiu para o desenvolvimento de uma atitude reflexiva e de uma<br />

visão mais crítica sobre o conhecimento e a ciência. No âmbito da formação inicial,<br />

em particular, de professores de química é fundamental esta abordagem<br />

epistemológica, para propiciar um ensino mais significativo, superando as crenças<br />

quanto ao entendimento do que é ciência e sua cientificidade.<br />

Nessa perspectiva, resultados da pesquisa corroboram a visão de que é na<br />

vivencia com diferentes espaços e métodos educacionais que o licenciando vai<br />

percebendo e construindo percepções quanto aos diferentes modos de ensinar,<br />

constitutuindo-se um professor com maoir autonomia e abertura para participar<br />

ativamente na reforma educativa necessária de ser concretizada nas práticas<br />

escolares. Diferentes práticas e concepções pedagógicas passam a ser objeto de<br />

discussão e reflexão, como mostra a fala do licenciando José:<br />

L. José: (...) alguns professores exigem, são bem caxias, uma resposta<br />

que seja mais ‘certinha’. Tem professores que não gostam que você<br />

escreva um ‘monte’ de coisas, querem uma coisa que seja aquilo mesmo,<br />

não querem que você vá construindo, sabe.<br />

A fala do licenciando José denota que em alguns espaços da sua formação<br />

ele se sente inibido em expor as suas respostas, suas dúvidas, por causa do<br />

professor, do método de ensino, dos limites postos em algumas disciplinas. Acredita-<br />

se que o licenciando somente critica estes espaços de formação, acima referidos,<br />

devido a sua vivência em componentes curriculares que propiciam um modo<br />

diferente de aprendizagem. Também as leituras sobre diferentes modelos de<br />

ensinar, e discussões propiciadas nestes espaços do fazer pesquisa vão<br />

constituindo a posição do licenciando e o entendimento deste, frente ao processo de<br />

111


ensinar e aprender. E assim, assume-se que o importante é o sujeito saber<br />

diferenciar as práticas pedagógicas de maneira crítica, defendendo a sua posição a<br />

partir das suas vivências, e buscar ampliar a sua participação nos diversos âmbitos<br />

formativos.<br />

Foram muitas as manifestações dos licenciandos que expressavam<br />

contribuições do aprender a fazer pesquisa para a formação docente inicial,<br />

extrapolando as anteriormente referidas. Além dessas, cabe colocar em destaque a<br />

constituição do licenciando como um professor pesquisador em formação inicial que<br />

denota um nível de desenvolvimento como um sujeito capaz de argumentar e<br />

construir conhecimentos, mostrando indícios de superação da racionalidade técnica,<br />

em detrimento da mera reprodução de proposições e saberes de fora.<br />

Acredita-se que a vivência do fazer pesquisa no âmbito de um Curso de<br />

Licenciatura deve ser vista como co-participativa para a constituição de um professor<br />

que se torne capaz de pesquisar a sua prática, que saiba, no âmbito escolar,<br />

delimitar questões que realmente demandam à pesquisa. Assume-se que este<br />

aprendizado do fazer pesquisa na formação inicial de professores é que permitirá<br />

que o professor crie na sua sala de aula um ambiente de pesquisa. A licencianda<br />

Clara, na entrevista expressou a sua conscientização da importância de permanecer<br />

pesquisando:<br />

L. Clara: depois que a gente se formar com certeza não vai ter como não<br />

continuar pesquisando, vai ser uma coisa assim quase que obrigatória<br />

estar sempre constantemente informada (...) Eu acho que a pesquisa é<br />

algo fundamental. Não tem como viver sem ela. Sendo professora vai ser<br />

impossível viver a prática docente sem pesquisar.<br />

Denota-se da fala de Clara que, ao vivenciar a prática do fazer pesquisa, o<br />

licenciando “aprende que a atitude da pesquisa é um cotidiano, e que o professor<br />

nunca está preparado suficientemente”, porque a pesquisa enseja a reconstrução<br />

permanente da formação, ao longo da carreira profissional (Frizzo, p. 186, 1998). E<br />

assim pode-se reafirmar que o professor em formação inicial ou continuada, não irá<br />

aprender a pesquisar nem compreender a importância de pesquisar, se ele não se<br />

apropriar dos diferentes instrumentos culturais do fazer pesquisa num processo<br />

mediado por um orientador, que já é pesquisador.<br />

112


Também os dizeres de Clara, da pesquisa ser constitutiva do professor, da<br />

“impossibilidade da prática docente sem pesquisar”, corroboram com o entendimento<br />

de Freire (1996) de que “em sua formação permanente o professor se perceba e se<br />

assuma, por que professor, como pesquisador” (p.32). Neste sentido, outro<br />

licenciando explicita a conscientização da necessidade da formação continuada<br />

dizendo que,<br />

L. José: as pesquisas fazem com que a gente sempre esteja em busca,<br />

sabe, de procurar novas formas de ensinar, novos caminhos para seguir,<br />

de nunca parar, de não pensar que agora estou formado e pronto, que<br />

agora não preciso mais.<br />

Corroborando a posição expressa pelo licenciando, defende-se, juntamente<br />

com os dizeres de Maldaner (2003), a necessidade da “formação continuada como<br />

inerente ao exercício profissional de professor, de complexidade crescente” (p.391).<br />

José na sua fala evidencia que o fazer pesquisa no âmbito da formação inicial,<br />

contribui para a conscientização da necessidade de sempre buscar teorias e práticas<br />

novas, superando a visão simplista do ser professor, que apenas executa modelos<br />

de ensino propostos por especialistas que se encontram fora do contexto escolar.<br />

O aprender a fazer pesquisa contribui, conforme mostraram os depoimentos<br />

dos licenciandos, para a formação de professores mais críticos e conscientes da<br />

importância de pesquisar a sua prática. A análise das entrevistas mostrou, também,<br />

que os estudantes evidenciaram a importância da mediação do professor no ensinar<br />

e aprender os passos do fazer pesquisa, denotando que a prática do fazer pesquisa<br />

precisa ser ensinada. Acredita-se que linguagens e conceitos são instrumentos<br />

culturais que, em cada etapa do fazer pesquisa, precisam ser significados junto aos<br />

estudantes, pela mediação do professor orientador. A importância dada a esta<br />

mediação, no processo do aprender a fazer pesquisa, nos faz acreditar na<br />

necessidade de se implantar em todos os cursos de formação inicial docente esta<br />

prática a fim de possibilitar a atuação de professores pesquisadores em sala de aula,<br />

pois o fazer pesquisa precisa ser ensinado e mediado por professores<br />

pesquisadores.<br />

113


Com o objetivo de qualificar a pesquisa realizada pelos licenciandos são<br />

apresentados a seguir os resultados da análise dos relatórios de pesquisa dos<br />

licenciandos entrevistados.<br />

3.3. Qualificação do Fazer Pesquisa, Partindo da Análise de Relatórios de<br />

Pesquisa<br />

A análise do relatório levou em conta a visão dos instrumentos culturais<br />

anteriormente mencionados, como a escrita, a fala, a leitura, especificamente, no<br />

âmbito da explicitação dos diferentes passos do fazer pesquisa, na definição do<br />

problema de pesquisa, da hipótese básica, a construção, análise e validação dos<br />

resultados e outros. Buscou-se indícios, na análise do relatório, quanto ao<br />

comparecimento da mediação de tais instrumentos culturais no aprender a fazer<br />

pesquisa vivenciado pelos estudantes.<br />

Assim, a atenção estava voltada para verificar como comparecem ‘diferentes<br />

vozes’ na escrita do relatório da pesquisa. Vozes que, segundo Marques (2001), são<br />

constituídas pelas teorias do autor, pelas teorias buscadas nas leituras e dos sujeitos<br />

de pesquisa. Questionou-se sobre como, e até que ponto, os licenciandos teriam se<br />

apropriado de discursos diversificados e como os estudantes “trazem” tal<br />

apropriação em seus discursos, inserindo, de forma mais ou menos dialética, vozes<br />

diversificadas na escrita do relatório da pesquisa.<br />

Dialética, entendida, aqui, como uma forma de diálogo entre interlocutores<br />

diversificados, com caráter transformador de conhecimentos, superando a mera<br />

cópia ou a forma de justaposição de vozes, no âmbito do tema específico da<br />

pesquisa. Com base em Machado pode-se dizer que “é no discurso e pelo discurso<br />

que os conhecimentos são elaborados” (p.110) e com as palavras de Bakhtin, a<br />

autora complementa que:<br />

a consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo<br />

organizado no curso de suas relações sociais. Os signos são alimento da<br />

consciência individual, a matéria de seu desenvolvimento, e Lea relete sua<br />

lógica e suas leis. A lógica da consciência é a lógica da comunicação<br />

114


ideológica, da interação semiótica de um grupo social. Se privarmos a<br />

consciência de seu conteúdo semiótico e ideológico, não sobra nada.<br />

(BAKHTIN, apud MACHADO, 2000, p. 110).<br />

Com essa compreensão e valorização da essencialidade da participação dos<br />

signos e seus significados na constituição da consciência, da mente, dos sujeitos em<br />

formação, o foco do olhar, na investigação, foi direcionado, especificamente, para a<br />

forma de comparecimento da linguagem expressa pelos licenciandos, no sentido de<br />

como ela denotava a apropriação de um discurso sobre um fazer bastante<br />

específico, o do fazer pesquisa, de como a linguagem usada na elaboração do<br />

relatório denotava compreensões sobre cada passo de tal fazer, incluindo o<br />

problema de pesquisa, a hipótese, os objetivos, o referencial teórico, a descrição<br />

metodológica, a execução da parte empírica da pesquisa, a construção e análise<br />

dos resultados, as considerações. Ao entendermos a linguagem como constitutiva<br />

do sujeito, consideramos que, ao longo da prática do fazer pesquisa, a significação<br />

desta linguagem, aliada aos conceitos e aos significados a eles atribuídos, pode ter<br />

sido apropriada de diferentes modos e diferentes níveis por parte de cada<br />

licenciando, de acordo com sua dedicação à pesquisa, suas operações mentais, no<br />

contexto, como referem os dizeres de Candela:<br />

a construção de significados, em uma situação de interação entre muitos<br />

indivíduos como é a sala de aula, é um processo complexo, desigual e<br />

combinado, que evolui tanto para a construção de alguns significados<br />

compartilhados como de outros também alternativos. No processo, são<br />

aperfeiçoadas formas de comunicação. Mas aparecem também<br />

incompreensões e construções paralelas (CANDELA, apud MACHADO,<br />

2000, p. 103-104).<br />

Aborda-se, a seguir, um resultado da análise de um dos relatórios finais da<br />

pesquisa realizada no âmbito da PEC I, escrito por um grupo de três licenciandos<br />

que vivenciou pela primeira vez cada etapa do fazer pesquisa, conforme referido<br />

anteriormente. O título da pesquisa, constante no relatório analisado, é: “O Ensino<br />

Experimental na Educação em Ciências Naturais”.<br />

O relatório analisado contém um total de 31 páginas. Após a capa e a folha de<br />

rosto (contra-capa), consta o Sumário, contendo os itens: Introdução p. 03; Capítulo I<br />

– “Origem e Função da Experimentação no Ensino de Ciências Naturais” p.04;<br />

Capítulo II – “Experimentação no Ensino de Ciências Naturais Segundo Percepção<br />

115


de Professoras e Organização de Livros Didáticos” p.08; Considerações Finais p.18;<br />

Referências p. 20; Anexos p.22.<br />

No relatório analisado, inicialmente, é apresentado o âmbito geral da<br />

pesquisa, como referido na introdução do mesmo:<br />

esta pesquisa traz uma análise da experimentação na educação em<br />

Ciências Naturais, realizada por acadêmicos de licenciatura em química (p<br />

03).<br />

Ainda no primeiro parágrafo da introdução são apresentados os objetivos,<br />

dando margem a uma certa ‘mistura de idéias’, uma vez que a mesma frase trata,<br />

também, da metodologia da pesquisa, conforme segue:<br />

tendo como propósito a análise de experiências de livros didáticos de 8ª<br />

série e uma conversa com professores da mesma série com o objetivo de<br />

sabermos quais as dificuldades que enfrentam no ato de ensinar ciências<br />

(p. 03).<br />

Também, neste trecho, há uma certa desatenção quanto à especificidade ao<br />

assunto enfocado que é o ensino experimental de ciências, e não o ensinar ciências<br />

como um todo.<br />

A hipótese, que se encontra na introdução, está formulada de uma forma<br />

bastante clara e consistente, coerentemente com a pesquisa realizada:<br />

Salientamos que a experimentação é uma atividade fundamental no ensino<br />

de Ciências Naturais. Nesse sentido, nossa hipótese de pesquisa é de que<br />

as escolas e os professores não dispõem das condições necessárias para<br />

a realização de atividades experimentais, exigindo do professor uma boa<br />

capacidade de improvisação. Além disso, os livros didáticos apresentam,<br />

uma má estruturação, em que conceitos/conteúdos são separados por<br />

áreas, ou seja dividem a disciplina de Ciências Naturais em Biologia,<br />

Química e Física (p.03).<br />

Ainda, na introdução, consta uma descrição sobre o que será tratado em<br />

cada parte do relatório, situando o leitor, como mostra o recorte que segue:<br />

segue breve fundamentação teórica sobre a experimentação e, finalmente,<br />

descrevemos a análise de dados e a partir desta análise apresentamos<br />

algumas considerações sobre as possibilidades de futuras pesquisas a<br />

respeito deste assunto (p.03).<br />

116


No capítulo I, é apresentada a fundamentação teórica. Uma explanação da<br />

teoria, da problemática sobre o assunto a ser pesquisado. O referencial teórico<br />

segundo os resultados da análise, foi considerado adequado, considerando-se,<br />

também, o estágio da formação. Alguns problemas foram identificados quanto a sua<br />

descrição, limitando-se a citações indiretas, sendo que algumas passagens denotam<br />

a presença de trechos apenas transcritos de outros autores, mas que não estão<br />

devidamente evidenciadas com aspas. Um exemplo é o trecho que segue:<br />

(...) a experiência de sala de aula de cada professor é insuficiente para<br />

mostrar que a crença de que a maioria dos alunos possa chegar à<br />

conclusão correta a partir da experimentação, sem que algo tenha que ser<br />

dito, é infundada (p.04).<br />

A autoria destes dizeres está indicada após o parágrafo de forma indireta,<br />

porém, parece que falta uma explicitação das palavras apenas transcritas da autora,<br />

como é subentendido no trecho anterior. Ainda que compareçam episódios que<br />

denotam dizeres, não próprios dos licenciandos e que, por isso, mereceriam ser<br />

mais bem especificados quanto a sua autoria, a análise mostrou que ao longo do<br />

referencial teórico, ocorre uma superação da simples cópia. Os licenciandos<br />

posicionam-se e defendem as suas opiniões, como no episódio que segue:<br />

(...) conforme nossas vivências/aprendizados, constatamos, que outra<br />

grande carência é a má estruturação dos livros didáticos (...) (p.06).<br />

A análise evidencia que os licenciandos não apenas copiam, mas se<br />

posicionam, expressam pontos de vista decorrentes de suas vivencias, mas que<br />

também é ‘iluminado’ por teorias a partir do que buscaram, leram e inseriram no<br />

processo do fazer pesquisa. Isso remete à consideração do enriquecimento do<br />

“discurso” que é portador de teorias, as pessoais e outras. Num outro momento,<br />

dizem que,<br />

definimos as experiências (atividades experimentais) na educação das<br />

ciências naturais de fundamental importância para os alunos interagirem e<br />

compreenderem o que aconteceu (...) Sabemos que, as aulas teóricas são<br />

de difícil compreensão e fixação para os alunos (p. 06).<br />

Ainda no âmbito do primeiro capítulo o tema da pesquisa se apresenta bem<br />

explicitado e justificado mediante uma explanação teórica que aborda, de forma<br />

117


fundamentada, a problemática do ensino experimental de ciências. Os licenciandos,<br />

ao final deste capítulo que traz uma explanação teórica, referem que:<br />

por tudo isso resolvemos desenvolver o tema de ensino experimental na<br />

educação em Ciências Naturais para ser discutido, avaliado e analisado<br />

pelo nosso grupo (p.06).<br />

Nesse trecho além de reafirmarem o tema da pesquisa, justificam a pesquisa<br />

realizada de uma forma adequada considerando o referencial teórico discutido<br />

anteriormente.<br />

Ainda no primeiro capítulo, apresentam a metodologia usada:<br />

propomos analisar três livros didáticos de 8ª série utilizados nas escolas<br />

públicas, pesquisando nesses a estruturação e a organização, ou seja,<br />

verificando a existência de experimentos, como estão inseridos no assunto<br />

abordado, a linguagem utilizada, e se apresentam sugestões de como<br />

realizar os mesmos com materiais/equipamentos alternativos. Além disso,<br />

realizamos uma entrevista/diálogo com três professoras de 8ª série do<br />

ensino fundamental de escolas públicas (p.07).<br />

Denota-se clareza quanto à explicitação da metodologia empregada. Num<br />

outro momento, justificam a escolha do campo empírico para a coleta de dados,<br />

como mostra o episódio que segue:<br />

Escolhemos a 8ª série porque os livros didáticos utilizados são inseridos os<br />

primeiros conceitos de Química e Física (...) (p.07).<br />

O material empírico do trabalho, obtido mediante entrevistas com docentes e<br />

a partir da análise dos livros didáticos, foi interpretado, no capítulo II, pelos<br />

licenciandos, mediante a criação de categorias de análise, denotando bom nível de<br />

elaboração enquanto pesquisa. Algumas das respostas obtidas nas entrevistas<br />

foram transcritas no decorrer da interpretação.<br />

A análise mostrou que o grupo buscou trazer o referencial teórico para<br />

interpretar algumas posições das professoras entrevistadas, denotando o<br />

comparecimento de um nível de interlocução, ainda que com caráter inicial,<br />

considerando-se ser a primeira vivência do fazer pesquisa. Vale ressaltar que no<br />

118


âmbito das análises os licenciandos novamente se posicionam, como mostra o<br />

episódio:<br />

Percebemos que se faz necessária uma formação continuada dos<br />

professores, para que estes possam evoluir e desenvolver/construir aulas<br />

diferentes que busquem o interesse dos alunos (...) Acreditamos também<br />

que a deficiência das atividades experimentais em Ciências Naturais na 8ª<br />

série não é culpa dos livros didáticos, pois, analisamos três e constatamos<br />

que há várias experiências com linguagem bem acessível e com<br />

ilustrações que facilitam na hora de fazer um experimento (p.15).<br />

Denota-se, com a análise, que este posicionamento dos licenciandos é<br />

iluminado pela literatura, sendo que estas problemáticas foram discutidas no capítulo<br />

I quando apresentaram o referencial teórico. Também há um contraste com os seus<br />

resultados obtidos mediante a investigação dos livros didáticos com algumas<br />

perspectivas teóricas abordadas, numa posição de que se constituíram<br />

pesquisadores, visto que possuem uma posição que supera a cópia de resultados<br />

anteriores.<br />

Nas “Considerações Finais (p. 18)”, os licenciandos acrescem novo estágio de<br />

interpretação dos resultados, utilizando o referencial de forma implícita. Subentende-<br />

se que a interpretação é decorrente das teorias estudadas, mas não são referidas de<br />

maneira explicita.<br />

Vale destacar que as considerações expressas denotam a visão de que<br />

pesquisa é algo nunca acabado, sempre em reconstrução. Os licenciandos trazem<br />

uma proposta de continuidade para a pesquisa mediante outros caminhos:<br />

poderíamos abranger mais desenvolvendo a pesquisa com escolas de<br />

outros municípios (...) realizando entrevistas com alunos, com ênfase nas<br />

aulas experimentais, se os mesmos aprendem como são realizadas (p.19).<br />

E finalizam a escrita do relatório novamente se posicionando, de forma bem<br />

articulada, no contexto da pesquisa realizada.<br />

reconhecendo que a atividade experimental é de fundamental importância<br />

no ensino de Ciências Naturais, acreditamos que elas devem ser muito<br />

bem planejadas e organizadas para proporcionar aos alunos um<br />

desenvolvimento integral e dinâmico (p.19).<br />

119


Denota-se que este posicionamento é decorrente de toda a pesquisa<br />

realizada, das interlocuções teóricas, práticas, das reflexões propiciadas. Acredita-se<br />

que esta visão os vai constituindo e, prospectivamente, quando atuarem como<br />

docentes vão estar cientes da problemática do ensino experimental e da importância<br />

da sua sistematização e investigação.<br />

A análise e a interpretação do relatório de pesquisa evidenciaram vários<br />

pontos em que os licenciandos se posicionam, em que superam a simples cópia.<br />

Denota-se que os seus pontos de vista são fortemente influenciados pela sua<br />

vivência como alunos, mas principalmente pela reflexão desta vivência propiciada ao<br />

longo da sua pesquisa, pelas leituras realizadas e pelas mediações, orientações do<br />

professor em sala de aula.<br />

O grupo de licenciandos, como mostrou a análise do seu relatório de<br />

pesquisa, usou no decorrer da escrita do relatório a linguagem específica da<br />

pesquisa. Diferentes conceitos foram por eles significados e inseridos de maneira<br />

criativa ao longo do seu relatório. Foram-se constituindo como professores<br />

pesquisadores, pois se apropriaram em diferentes níveis da linguagem específica da<br />

pesquisa: definiram um problema de pesquisa, delimitaram um tema, apresentaram<br />

os objetivos da pesquisa, construíram a hipótese de pesquisa, propuseram caminhos<br />

metodológicos para a execução da investigação, aliaram-se a teorias do seu<br />

referencial teórico e buscaram interpretar, num diálogo, mesmo que ainda<br />

insuficiente, os dados empíricos obtidos na prática.<br />

3.4. Descrição de uma Prática do Aprender a Fazer Pesquisa.<br />

Acompanhou-se as aulas do Componente Curricular: Pesquisa em Ensino de<br />

Química I, PEQ I, com licenciandos do terceiro semestre do Curso. Os encontros<br />

eram nas quintas feiras com inicio as 19h30min e término às 10h30min, iniciaram no<br />

dia 04 de maio até o dia 29 de junho. O acompanhamento no decorrer dos encontros<br />

objetivou a análise quanto ao ensinar e o aprender a fazer pesquisa neste âmbito de<br />

formação. Apresenta-se a seguir, uma narrativa sucinta sobre a prática<br />

acompanhada, elaborado a partir dos registros que foram procedidos no caderno de<br />

campo.<br />

120


Para o trabalho a turma foi dividida em grupos, e cada grupo escolheu um<br />

assunto para pesquisar. Paralelamente foi solicitado que os estudantes começassem<br />

a buscar referenciais teóricos do seu assunto de pesquisa. E já no segundo encontro<br />

foi efetuado um ‘ensaio’ de escrita sobre o assunto. Nesta prática ficou evidenciada<br />

a grande dificuldade dos licenciandos em escrever, ou seja, em superar a simples<br />

cópia.<br />

Num outro encontro, o professor ensinou as partes ‘fundamentais’ de um<br />

projeto de pesquisa. Com a participação dos estudantes foi construído o tema Geral<br />

das pesquisas – relacionado ao ensino de química: “Aprendizagem de conceitos<br />

básicos para produzir pensamento químico sobre o mundo”. A justificativa e a<br />

delimitação do tema ficou a cargo de cada grupo (explicitar sobre o assunto, que<br />

conceito que irá pesquisar). Em cada explicação da etapa da pesquisa, do projeto, o<br />

professor problematiza a visão do ensino de química, do ser professor de química e<br />

traz também para os estudantes diferentes sugestões de referenciais bibliográficos<br />

para serem lidos no decorrer da pesquisa. As diferentes partes constituintes de um<br />

projeto foram discutidas em sala de aula, como a metodologia, os objetivos, a<br />

construção das categorias de análise, todos sempre com exemplificações.<br />

Nessa aula os estudantes foram participativos e questionavam bastante, pois<br />

esta prática do ‘fazer pesquisa’ para a maioria estava sendo vivenciada pela primeira<br />

vez. Também se observava uma ansiedade e várias dúvidas surgiam no decorrer do<br />

processo.<br />

Em seguida, cada grupo começou a elaborar, organizar o projeto de pesquisa,<br />

o professor sempre orientando cada grupo, muitas dúvidas, os estudantes<br />

questionam, buscam saber o que será feito. Num dos encontros, de<br />

encaminhamento do projeto, foi solicitado que cada grupo construísse o seu<br />

problema de pesquisa e suas questões de pesquisa. Muitas dúvidas neste momento,<br />

uma pergunta que predominou no âmbito da sala de aula, de modo geral: ‘o que é<br />

um problema de pesquisa’? Novamente foi fundamental a participação do professor,<br />

que explicou, indo de grupo em grupo. Acompanhou-se a explicação num grupo.<br />

Para este grupo o problema de pesquisa era um conjunto de questões, estas muitas<br />

vezes nem relacionadas ao tema de pesquisa. O professor então explicou que o<br />

121


problema de pesquisa deve estar relacionado ao tema geral de pesquisa, se<br />

restringindo ao problema específico de cada grupo. O professor auxiliou então o<br />

grupo, na construção de um problema, o qual deveria ser ampliado pelo grupo. Em<br />

seguida, juntamente com os estudantes, o professor co-participou na elaboração das<br />

questões de pesquisa. Outra vez aqui o apoio do referencial histórico-cultural é<br />

importante na análise dos resultados da investigação. Percebe-se claramente a<br />

importância e a necessidade da ajuda do professor orientador, da mediação<br />

realizada por ele para o aprender a fazer pesquisa. Fica evidenciado que o fazer<br />

pesquisa precisa ser ensinado, ninguém nasce sabendo fazer pesquisa.<br />

Os estudantes perguntaram então, se deveriam responder essas questões<br />

para colocar no projeto: “já tenho que responder estas perguntas para colocar no<br />

projeto?”. Percebe-se aí que ainda não está bem definido, para os licenciandos, a<br />

distinção entre o projeto de pesquisa, a sua finalidade, e a execução da pesquisa<br />

propriamente dita. Assim, verificam-se diferentes dificuldades e a importância de<br />

cada etapa do ‘fazer pesquisa’ ser aprendido pela mediação de um pesquisador<br />

experiente, e a necessidade da significação de cada etapa, da linguagem específica<br />

que compõe a prática do fazer pesquisa.<br />

No decorrer dos encontros foram sendo desenvolvidas categorias de análise<br />

para as respostas das questões, e também discussões sobre o andamento da<br />

pesquisa, e a entrega do projeto. No último encontro em sala de aula, sendo que os<br />

encontros posteriores seriam para orientação, fora da sala de aula, a atividade<br />

proposta foi a de que cada grupo apresentasse um artigo científico relacionado com<br />

a Educação Química, no qual, deveriam ser identificados os objetivos, o tema, o<br />

problema e a metodologia.<br />

A maior parte dos grupos conseguiu identificar as partes de um relato de<br />

pesquisa, mostrando o seu entendimento quanto ao problema, objetivos,<br />

metodologia. Um grupo apresentou um relato de experiência e não uma pesquisa,<br />

mas foi bastante válida essa apresentação, por exemplo, permitindo a percepção de<br />

diferenças entre um relato de pesquisa e um relato de experiência.<br />

122


Ficou evidenciada certa ‘frustração’ de um grupo, quanto à atribuição da nota<br />

do final do semestre. Esse tipo de preocupação, simplista, da avaliação decorre de<br />

toda a escolaridade, suscitando a visão de que o importante é ‘tirar’ uma nota boa e<br />

passar de ano. O professor explicitou aos licenciandos a importância da<br />

apresentação, como indicativo de diferenças do que é validado como pesquisa, com<br />

todas as partes identificadas nos relatos de pesquisa, diferentemente de um relato<br />

de experiência. A continuidade da pesquisa se prolongaria durante o período de<br />

férias de julho, com a entrega do relatório de pesquisa até o final de agosto, tendo<br />

ficado bem explícito que este primeiro ensaio de pesquisa teria continuidade no<br />

Componente Curricular PEQ II.<br />

As observações reforçaram a visão de que o aprendizado do fazer pesquisa<br />

não pode ser visto como algo simples, pois exige a participação ativa e o empenho<br />

de cada estudante e do professor como mediador no decorrer de todo o processo.<br />

Ficou evidenciado que a aprendizagem da pesquisa é possível somente com a<br />

orientação de um professor pesquisador experiente. É com a mediação dele que os<br />

licenciandos aprendem a desenvolver os passos de uma pesquisa.<br />

123


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Com base nos resultados construídos e com o diálogo com os referenciais<br />

teóricos, são apresentadas, a seguir, algumas considerações relativas ao trabalho<br />

realizado, buscando enfatizar a importância do comparecimento do ensinar e do<br />

aprender a prática do fazer pesquisa na formação inicial docente. Na medida em que<br />

se conclui um trabalho de investigação, surgem novas questões, como as trazidas,<br />

posteriormente, e que apontam para novos processos de investigação.<br />

O trabalho desenvolvido chega a um termo de conclusão trazendo<br />

contribuições para as discussões acerca da problemática da formação inicial<br />

docente, no âmbito da necessidade de (re)discutir os modelos de formação nas<br />

licenciaturas, a partir da análise de um novo caminho de formação que, tendo a<br />

prática do ensinar e do aprender a fazer pesquisa como foco de formação, consegue<br />

mostrar contribuições para a superação do modelo tecnicista, tão criticado no âmbito<br />

educacional.<br />

A literatura da área tem alertado que superar um modelo formativo<br />

institucionalizado há tanto tempo não pode ser visto como uma tarefa fácil nem<br />

simples, sendo importante evitar posturas imediatistas que desconsideram a<br />

complexidade das práticas e das mudanças e, por outro lado, evitar posturas<br />

continuísticas pautadas na alienação, acomodação ou resistência a mudanças. A<br />

prática investigada mostrou indícios de superação de algumas das dicotomias e<br />

limitações do modelo tecnicista. São apresentados a seguir alguns pontos<br />

considerados importantes, decorrentes da construção e análise de resultados a partir<br />

do contexto formativo investigado.<br />

Inicialmente a preocupação voltava-se para modos como o fazer pesquisa<br />

poderiam participar da formação, em um curso de licenciatura, e como este fazer<br />

contribuiria para uma melhora na formação docente. No Curso de Licenciatura em<br />

Química da UNIJUÍ, encontrou-se indícios de espaços do fazer pesquisa, e a<br />

construção dos resultados ao longo do trabalho mostrou que, no decorrer da<br />

formação inicial, os licenciandos vivenciam e aprendem os passos do fazer<br />

pesquisa.<br />

124


A discussão com o referencial teórico, sobre o entendimento de pesquisa, e<br />

sobre o que é considerado como pesquisa, ainda que, sem um consenso, defende-<br />

se, no âmbito deste trabalho, com base em alguns autores, (i) que uma pesquisa<br />

precisa partir de um problema e que este seja rigorosamente investigado, (ii) que a<br />

investigação deve ser orientada por um referencial teórico adequado, que permita<br />

construir conhecimentos e (iii) que haja uma comunicação dos resultados<br />

produzidos, passo esse considerado, pelos licenciandos, bastante relevante e<br />

indispensável no fazer pesquisa.<br />

Na prática do fazer pesquisa acompanhada ficou evidenciada, a importância<br />

da orientação do professor, em todo o processo, haja vista, ter sido as primeiras<br />

práticas de pesquisa vivenciadas pelos licenciandos. Partindo dos resultados,<br />

afirma-se que para saber pesquisar e para entender a importância desta prática, ela<br />

precisa ser ensinada e aprendida. Cada etapa do fazer pesquisa precisa ser<br />

mediada pelo professor orientador, que já é um pesquisador. Instrumentos culturais<br />

que perpassam a prática do fazer pesquisa precisam ser significados junto aos<br />

licenciandos, incluindo a linguagem (escrita e falada) e a leitura.<br />

A prática acompanhada em sala de aula mostrou que é necessário ensinar ao<br />

licenciando o exercício da elaboração escrita, no sentido da superação de uma<br />

simples cópia. De fazer com que o licenciando busque por diferentes referencias<br />

teóricos e que ele construa um texto que inclua a dimensão da interpretação, com<br />

posicionamentos e argumentações, num diálogo com diferentes ‘vozes’ em<br />

interação. Para isso também ficou evidenciada a importância da prática da leitura,<br />

em especial, de uma leitura com caráter dialógico, transformador dos discursos em<br />

construção. É importante salientar que, ao vivenciar a prática do fazer pesquisa, o<br />

licenciando passa a conhecer e a dialogar com referenciais teóricos, no caso, da<br />

área de Educação em Ciências/Química. Com isso, ele, em sua formação inicial, já<br />

vivencia um estágio de inserção em tal comunidade, remetendo para a crença de<br />

que, em sua posterior prática docente, ele continuará buscando interagir com tais<br />

referenciais.<br />

Outro aspecto importante é a percepção, no decorrer da análise dos<br />

resultados, de que os projetos de pesquisa vivenciados proporcionaram uma<br />

125


interação do licenciando com o contexto escolar, com professores ou estudantes. A<br />

elaboração e execução dos projetos de pesquisa, relacionados com o Ensino de<br />

Ciências/Química, propiciam aos licenciandos importantes momentos de reflexão<br />

quanto ao ser professor, quanto ao aprender e ensinar química, contribuição que<br />

também pode ser atribuída aos ricos momentos de socialização e discussão dos<br />

resultados das pesquisas desenvolvidas a partir de algum contexto escolar.<br />

Resultados construídos denotam que a inserção da prática do ensinar a fazer<br />

pesquisa e do aprender a pesquisar no âmbito de espaços como o acompanhado,<br />

num período de um semestre, não é fácil, nem simples. Porém resultados mostram<br />

que tal prática é capaz de iniciar os licenciandos nos diferentes passos do fazer<br />

pesquisa, ensinar a eles a construção de um projeto de pesquisa, a execução de<br />

cada passo, a construção e análise de resultados, a elaboração escrita de relatórios,<br />

a divulgação, cabendo salientar que, durante o Curso de formação, vários<br />

componentes curriculares corroboram com a prática do fazer pesquisa, e assim, o<br />

licenciando tem a oportunidade de evoluir em cada prática formativa vivenciada.<br />

Ainda que tenham sido inseridos espaços do aprender e do ensinar a fazer<br />

pesquisa, percebeu-se, em algumas falas dos licenciandos que ainda a articulação<br />

entre componentes curriculares do Curso é precária ou inexistente, em especial,<br />

quanto aos que trabalham com pesquisa e com a formação específica em química.<br />

Ao finalizar este trabalho, para mim, como pesquisadora, permanece a<br />

sensação de que ele não chegou ao fim. Não se tratava, em nenhum momento, de<br />

se pretender emitir algum juízo quanto ao Curso de Formação, contudo, indícios<br />

mostram que os espaços acompanhados acenam para a perspectiva de uma<br />

superação, em situação real, quanto à formação tecnicista que se tornou<br />

convencional. Com base nisso, acredito, prospectivamente, na potencialidade de<br />

uma ampliação da prática do fazer pesquisa para outros componentes curriculares,<br />

ou ainda, para uma maior articulação entre componentes curriculares do Curso,<br />

superando possíveis dicotomias, ainda persistentes. Em atenção a exigências<br />

postas pelo próprio desafio de realizar a investigação, a pesquisa não abrangeu um<br />

olhar para o Curso em sentido mais amplo, nem buscas de informações mais amplas<br />

quanto às origens da nova proposta curricular, tendo em vista à premência de se ter<br />

126


um olhar focalizado, na pesquisa, restrito a alguns componentes, que, ainda,<br />

precisaram ser selecionados.<br />

Uma questão importante comparece no âmbito da problemática abordada:<br />

como será a prática e quais serão as concepções e posturas destes licenciandos,<br />

em suas futuras atividades profissionais em contexto escolar? Com base neste<br />

trabalho, a partir dos referenciais teóricos e dos resultados construídos, acredita-se<br />

que, com a vivência do fazer pesquisa acompanhada, o licenciando estará muito<br />

mais bem preparado para se tornar um professor pesquisador em sua prática, visto<br />

que teve uma iniciação do fazer pesquisa e já foi percebendo a força e a importância<br />

dessa prática para construir conhecimentos, criar abertura para mudanças, para<br />

continuar produzindo e divulgando resultados de pesquisas e reflexões sobre as<br />

práticas, buscando e produzindo avanços sistemáticos em sua formação intelectual<br />

e profissional. Para este licenciando, será mais próximo e mais fácil buscar e usar<br />

referenciais teóricos, no âmbito da área, pois ele teve, ao longo de sua formação<br />

inicial, o contato e a interação transformadora com a literatura da área de formação.<br />

Ao final, alguns questionamentos retornam, acenando para a continuidade da<br />

pesquisa e do estudo sobre uma problemática tão recorrente. Um caminho que eu<br />

pretendia seguir, mas não o fiz, é realizar entrevistas com professores orientadores<br />

que atuam nos componentes PEC I e II e PEQ I e II, em busca de respostas para<br />

indagações como: como percebem e caracterizam estas práticas do fazer pesquisa?<br />

Como qualificam a participação do licenciando na construção e reconstrução de<br />

conhecimentos? Quais as principais dificuldades observadas e como são<br />

enfrentadas, tanto no âmbito de sala de aula como no curso como um todo? Qual a<br />

mudança ‘pedagógica’ percebida, em relação à superação do ensino ‘tradicional’? ;<br />

Como a prática do fazer pesquisa se relaciona com a perspectiva da superação do<br />

modelo educacional de formação, vigente na racionalidade técnica? Como a prática<br />

de ensinar a fazer pesquisa contribui na formação profissional enquanto docente<br />

universitário? A prática possibilita reflexões sobre o ser professor formador? Quais?<br />

Como?<br />

Enfim, reafirma-se que resultados da investigação mostraram a importância<br />

da contribuição do fazer pesquisa, desenvolvido em níveis qualificados na formação<br />

127


inicial de professores. Ao mesmo tempo, inúmeras indagações persistem em aberto,<br />

corroborando a importância do objeto em estudo continuar articulando novas<br />

investigações, em busca de compreensões com implicações cada vez mais capazes<br />

de contribuir na concretização das reformas educativas amplamente discutidas e<br />

buscadas, no país.<br />

128


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construindo possibilidades. In. ________; LIMA, Valderez Marina do Rosário (orgs.).<br />

Pesquisa em sala de aula: tendências para a educação de novos tempos. Porto<br />

Alegre: EDIPUCRS, 2002, p. 203 - 235.<br />

131


MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. 3.<br />

ed. São Paulo: Cortez: 2005. 104p.<br />

________. Ciência com consciência. Tradução Maria D. Alexandre e Maria Alice<br />

Sampaio Dória. 7.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 350p.<br />

NUNES, Célia Maria Fernandes. Saberes docentes e formação de professores: Um<br />

panorama da pesquisa brasileira. In Revista Educação e Sociedade: Saberes dos<br />

Docentes e Sua Formação. n 0 74, abril 2001. p. 27-42.<br />

PERRENOUD, Philippe. Formar professores em contextos sociais em mudança.<br />

Prática reflexiva e participação crítica. Trad. Denice Barbara Catani. In: Revista<br />

Brasileira de Educação. 1999, nº 12, p. 5- 21<br />

PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. As licenciaturas e as novas políticas educacionais<br />

para a formação docente. In: Educação e Sociedade, ano XX, nº 68, dezembro<br />

1999, p. 109-125.<br />

________ e ZEICHNER, Kenneth M. Pesquisa dos educadores e formação docente<br />

voltada para a transformação social. In: Caderno de. Pesquisa. vol.35, nº.125, São<br />

Paulo Mai/Ago. 2005, disponível em http:/www.scielo.br, acesso em 14 de novembro<br />

2006.<br />

PIMENTA, Selma Garrido. Professor reflexivo: construindo uma crítica. In:________;<br />

GHEDIN, Evandro (orgs.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um<br />

conceito. 2. ed. São Paulo, Cortez, 2002. p.17 – 52.<br />

________ e LIMA, Maria. S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004<br />

(Coleção docência em formação. Série saberes pedagógicos) 296p.<br />

RAMOS, Maurivan Güntzel. Os significados da pesquisa na ação docente e a<br />

qualidade do ensino. In. Educação, v. 21, n. 40, Porto Alegre, 2000. p.39-56<br />

REGO, Tereza Cristina R.. A origem da singularidade humana na visão dos<br />

educadores. In. Cadernos Cedes, nº 35, ano XX, julho, 2000 p. 96 -113.<br />

ROSA, Maria I. de F. P. dos S., A Pesquisa Educativa no Contexto da Formação<br />

Continuada de Professores de Ciências, 2000, p. 220, Tese de Doutorado,<br />

Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, disponível em<br />

http://libdigi.Unicamp.br/document, acesso em 20 de agosto de 2006.<br />

SALVATORE, D’Onófrio. Metodologia do Trabalho Intelectual. São Paulo Ed:<br />

Atlas, 1999. 120p.<br />

SCHNETZLER, Roseli Pacheco. O Professor de Ciências: problemas e tendências<br />

de sua formação. In: ________ .(org.). Ensino de Ciências: fundamentos e<br />

abordagens. Campinas, Ed. Ltda, 2000 p.12-41.<br />

132


SHÖN, Donald. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o<br />

ensino e a aprendizagem. Trad. Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artes<br />

Médicas Sul, 2000. 256p.<br />

________. Formar Professores como Profissionais Reflexivos. In: NÓVOA, A. (org).<br />

Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. p. 77-91.<br />

SCHWARTZ, Susana. De objetos a Sujeitos da Relação pedagógica: a pesquisa na<br />

sala de aula. In: MORAES, Roque; LIMA, Valderez Marina do Rosário (orgs.).<br />

Pesquisa em sala de aula: tendências para a educação de novos tempos. Porto<br />

Alegre: EDIPUCRS, 2002, p. 159-170.<br />

SMOLKA, Ana Luisa Bustamante. O (im)próprio e o (im)pertinente na<br />

apropriação das práticas sociais. In. Cadernos Cedes, nº 50, ano XX, abril, 2000<br />

p. 26 – 39.<br />

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 3ª. ed. Petrópolis,<br />

RJ: Vozes, 2002. 325 p.<br />

TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude & LAHAYE, Louise. Os professores face ao<br />

saber. Esboço de uma problemática do saber docente. In Teoria & Educação,<br />

n.4, 1991 p. 215-233.<br />

VIGOTSKI, L. S. Formação Social da Mente. 6ª edição, 1998, 4ª tiragem, 2000,<br />

Martins Fontes, SP.<br />

VIGOTSKI, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. Trad. Paulo<br />

Bezerra, 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, 296 p.<br />

133


ANEXO I<br />

Prezado (a) aluno (a) de Química Licenciatura da <strong>Unijuí</strong>.<br />

Ao preencheres este questionário estarás colaborando com uma pesquisa que<br />

está sendo desenvolvida aqui na <strong>Unijuí</strong>, no Mestrado em Educação nas<br />

Ciências.<br />

- Perfil dos Acadêmicos da Turma de Química Licenciatura – que estão cursando<br />

componentes (de 3 a 5) curriculares oferecidos durante o sexto semestre do curso.<br />

01. Dados de Identificação:<br />

Nome:<br />

Data de Nascimento:<br />

Residência (município):<br />

a) Você mora no interior ou na cidade?<br />

02. Tipologia do Curso do Ensino Médio (profissional, magistério...) e ano de<br />

conclusão.<br />

3.0 Você exerceu alguma atividade profissional? ( ) sim ( ) não<br />

Se sim qual?<br />

3.1 E atualmente qual você exerce? E qual a carga horária desta atividade?<br />

4.0 Você exerceu ou exerce atividades de ‘extensão’ (bolsista – iniciação científica;<br />

monitor; estagiário...)? ( ) sim ( ) não<br />

Se sim qual?<br />

4.1 Em que período do curso?<br />

4.2 E qual a carga horária semanal desta atividade?<br />

5.0 Você se dedica exclusivamente ao curso, aos estudos? ( ) sim ( ) não<br />

6.0 Assinale com “X”, independente de ter sido aprovado ou não:<br />

134


Componente Curricular<br />

Seminário III<br />

Prática Pedagógica VII: Teorias<br />

do Ensino de Ciências<br />

Pesquisa em Ensino de Química II<br />

Prática Pedagógica VI: Pesquisa<br />

em Ensino de Ciências II<br />

Prática Pedagógica V: Pesquisa<br />

em Ensino de Ciências I<br />

Prática Pedagógica IV:<br />

Didática Geral<br />

Seminário II<br />

Prática Pedagógica III : Estrutura<br />

e Funcionamento da Educação<br />

Básica<br />

Pesquisa em Ensino de Química I<br />

Prática Pedagógica II: Psicologia<br />

da Aprendizagem e<br />

Desenvolvimento<br />

Prática Pedagógica I:<br />

Fundamentos Teóricos e Práticos<br />

em Ciências<br />

Pesquisa e Formação<br />

Seminário I<br />

Já Cursei Estou<br />

Cursando<br />

Não<br />

Cursei<br />

Não Lembro<br />

Obrigada pela sua colaboração.<br />

<strong>Judite</strong> Scherer <strong>Wenzel</strong> – Mestranda do Programa de Pós Graduação da <strong>Unijuí</strong> –<br />

Mestrado em Educação nas Ciências<br />

135


ANEXO II<br />

FIDENE/UNIJUÍ – Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências<br />

Projeto: “A Pesquisa como Aliada na Formação de Professores de Química”<br />

Prezado(a) acadêmico(a),<br />

Ao responder as questões abaixo, você estará participando novamente na<br />

pesquisa acima referida, que analisa espaços de formação inicial de professores,<br />

no âmbito da Licenciatura de Química da <strong>Unijuí</strong>. Partes de suas respostas<br />

poderão ser transcritas e usadas na dissertação, porém você não será<br />

identificado, uma vez que serão atribuídos nomes fictícios para os sujeitos<br />

colaboradores de pesquisa: apenas a pesquisadora saberá da autoria das<br />

respostas. Espero novamente poder contar com a sua importante contribuição.<br />

Coloco-me ao inteiro dispor para esclarecer possíveis dúvidas ou atender<br />

solicitações. Caso necessário você pode utilizar o verso da folha, ou uma folha<br />

em anexo, para completar suas respostas.<br />

<strong>Judite</strong> Scherer <strong>Wenzel</strong><br />

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação nas Ciências da <strong>Unijuí</strong><br />

- juditescherer@yahoo.com.br<br />

1. Procure descrever, resumidamente, sobre o que o levou a escolher este Curso de<br />

Graduação, sobre possíveis motivos que influenciaram na sua escolha.<br />

1.1 De uma maneira geral, quais eram as suas expectativas, quando você ingressou<br />

no Curso?<br />

1.2 E quais as suas percepções ou expectativas sobre curso, hoje?<br />

2. Em termos gerais, o que é “pesquisa” para você?<br />

3. No seu Curso de Graduação, você percebe a existência, ou não, de espaços de<br />

formação “pela pesquisa” (disciplinas, vivências)?<br />

3.1 Se sim, quais?<br />

3.2 Porque você os caracteriza como espaços de formação “pela pesquisa”?<br />

4. De acordo com o primeiro questionário respondido, você já cursou os<br />

componentes curriculares “Pesquisa em Ensino de Ciências I e II”.<br />

Especificamente sobre eles, responda:<br />

4.1 Segundo sua percepção, no decorrer destes componentes curriculares foram<br />

desenvolvidos possíveis ‘processos de educar pela pesquisa’?<br />

4.2 Se sim: quais processos foram esses?<br />

4.3 Comente sobre a sua participação em tais processos.<br />

136


4.4 Procure caracterizar (qualificar) tal vivência de “formação pela pesquisa”?<br />

4.5 Do seu ponto de vista, o que funcionou bem nas duas disciplinas (o que você<br />

considera pontos positivos)? Por que?<br />

4.6 E, segundo sua percepção, o que não funcionou bem? Por que? Comente<br />

possíveis dificuldades, ou insatisfações que você percebeu ao longo destes<br />

componentes curriculares.<br />

4.7. Você pode descrever outros aspectos sobre como foram desenvolvidas as<br />

atividades (o que foi feito, como foi feito) nestes componentes, por exemplo, como<br />

você percebeu o envolvimento/participação da turma, do professor, ou outros?<br />

4.8. Expresse como você percebeu/percebe possíveis contribuições desses dois<br />

componentes curriculares (PEC I e PEC II) para a sua formação de ser professor(a)<br />

de química. Procure justificar ou argumentar sua resposta.<br />

4.9. Se você tiver mais alguma opinião, em relação a estes componentes<br />

curriculares, ou sobre a sua formação no decorrer do Curso, por favor, descreva-a.<br />

137


Modelo Geral de entrevista:<br />

ANEXO III<br />

Primeiro me apresento, e inicio a conversa. Comento que tenho interesse, também,<br />

em comentar ou solicitar algum esclarecimento sobre as respostas do questionário.<br />

E esclarecer que irei fazer algumas perguntas, mas que o licenciando poderá<br />

comentar outras coisas, se for de seu interesse.<br />

Questão introdutória/geral.<br />

01. Dando inicio a nossa conversa gostaria que você comentasse um pouco sobre<br />

alguns aspectos (alguns pontos) gerais em relação ao curso de Química<br />

Licenciatura.<br />

- Quanto aos pontos que você considera como positivos no curso, procure<br />

lembrar e comentar um pouco sobre eles, quais são, por que, etc.<br />

- E agora, comente sobre os pontos que você considera negativos. (Por que?)<br />

- refletindo, especificamente, sobre como está acontecendo a sua formação<br />

(como futuro professor de química), como você percebe possíveis contribuições do<br />

Curso? Se sim, quais? Por que? Comente, ou explique, melhor, ou um pouco mais.<br />

- Você teria alguma sugestão que possa vir a melhorar o seu curso, nesse<br />

sentido? O que você acha/gostaria que poderia ter sido diferente (do como foi)?<br />

Questão 2- No questionário quando perguntamos se você percebia ou não a<br />

existência de espaços de “formação pela pesquisa” no seu Curso de Graduação,<br />

você respondeu que sim, citando as disciplinas de PEC I e II, PEQ I e II, teorias no<br />

ensino de Ciências.<br />

- Na sua opinião, o que você diria sobre as demais disciplinas que você cursou,<br />

quanto a elas talvez também trabalharem desta forma (“com pesquisa”)? ... Por que?<br />

Questão 3- Gostaria que você falasse, agora, especificamente, sobre as disciplinas<br />

PEC I e II.<br />

- Sobre como ocorreu o desenvolvimento da disciplina, no seu questionário, você se<br />

referiu a produções de textos, artigos, pesquisas, produção de aulas, seminários.<br />

Tente recordar e contar/comentar sobre como foi a produção destes textos destas<br />

pesquisas, o que funcionou bem, dificuldades, etc.<br />

- Houve etapas? Comente sobre cada etapa.<br />

- Comente um pouco sobre a organização dos trabalhos, como foi em grupo ou<br />

individual?. Funcionou bem? Teve momentos de trabalho individual? (Se sim, foi<br />

mais/menos do que em dupla?) Como foi a sua participação durante a pesquisa?<br />

138


Comente sobre possíveis vantagens ou desvantagens, do seu ponto de vista, tanto<br />

quanto a esse trabalho individual ou em dupla. Por que?<br />

- Teve a elaboração de um projeto? Quem elaborou o projeto? Como acontecia<br />

isso?<br />

- Como foi a escolha do tema a ser pesquisado?<br />

- Quem escolheu, como foi a decisão sobre a metodologia e parte empírica?<br />

Comente sobre as entrevistas, onde e quem entrevistar, como foi o contato com<br />

professores na escola, dificuldades, etc.<br />

- E sobre as leituras? Como eram buscadas e escolhidas? (comente sobre a<br />

possível importância de referenciais teóricos na pesquisa desenvolvida).<br />

- Quem construiu e como foi a construção e análise dos dados?<br />

- E sobre a produção escrita possibilitada pela pesquisa. Que tipo de produção<br />

(relatório, texto ...)? Quem escreveu? Como foi a organização para isso?<br />

- E como foi a apresentação (divulgação) de resultados? Quem apresentou? Para<br />

quem? Como você se sentiu? Isso contribuiu de alguma forma? Por que? (em<br />

relação à pesquisa, a sua formação)<br />

- Você no decorrer destas disciplinas, desta execução dos projetos teve algumas<br />

dificuldades? Procure lembrar.<br />

- E o que para você funcionou bem?<br />

- Você percebeu algum progresso individual ou no grupo como um todo, que você<br />

atribuiria a essa experiência/vivência de pesquisa?<br />

- Para finalizar, expresse sua percepção quanto a como você se sentia, em sentido<br />

geral, durante a realização das atividades. Fazia-as sentindo-se mais movida pela<br />

“obrigação” de fazer as tarefas? Eram momentos “chatos, ruins”? Por que? Ou<br />

momentos “gostosos, prazerosos” (quanto a fazer as tarefas)? Por que? Havia<br />

alguma motivação ou engajamento seu, nos trabalhos, quem sabe, pela perspectiva<br />

de alcançar resultados? Em que sentido?<br />

Questão 4. Você teria alguma outra coisa a dizer? Sobre a pesquisa na formação?<br />

Sobre PEC I e II? Sobre relações com a sua formação no Curso?<br />

- ‘Alguma outra sugestão, no sentido de contribuir, especificamente, para estes dois<br />

componentes curriculares (lembrando que o Curso está sob processo de<br />

implantação/mudança e que suas contribuições seriam bem vindas)’.<br />

139


ANEXO IV<br />

1.4- ORGANIZAÇÃO GERAL DO CURRÍCULO E SEMESTRALIZAÇÃO DO<br />

CURSO (dos licenciandos entrevistados)<br />

Semestre Componentes Curriculares Cr. Carga<br />

1º<br />

2º<br />

3º<br />

Química em Situações Prática<br />

Fundamentos de Matemática 1<br />

Química Geral I<br />

Recursos de Informática na Formação Profissional<br />

Sociedade, Política e Cultura 1<br />

Seminário I<br />

04<br />

04<br />

04<br />

04<br />

04<br />

01<br />

Horária<br />

Total 21 315h<br />

Biologia 1<br />

Química Geral II<br />

Física I<br />

Prática pedagógica I: Fund. Teóricos e Prat. Em Ciências<br />

Pesquisa e Formação<br />

Total 21 315h<br />

Cálculo Integral e Diferencial I<br />

Física II<br />

Prática Pedagógica II: Pesquisa em Ensino de Ciências I<br />

Química Inorgânica I<br />

Estatística para Química<br />

Ciências I<br />

Total 20 300h<br />

Cálculo Integral e Diferencial II<br />

Ciências II<br />

04<br />

04<br />

04<br />

05<br />

04<br />

04<br />

04<br />

04<br />

04<br />

02<br />

02<br />

04<br />

04<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

15h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

75h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

30h<br />

30h<br />

60h<br />

60h<br />

140


4º<br />

5º<br />

6º<br />

7º<br />

Físico Química I<br />

Química Inorgânica II<br />

Pesquisa em Ensino de Ciências II<br />

Seminário II<br />

Pesquisa em Ensino de Química I<br />

Total 20 300<br />

Estr. e Func. Do Ensino Básico<br />

Físico química II<br />

Psicologia e Desenvolvimento Humano<br />

Química Analítica Qualitativa<br />

Química Inorgânica Experimental I<br />

Biologia Humana e Saúde<br />

Total 22 330h<br />

Teoria do Ensino de Ciências<br />

Físico Química III<br />

Química Orgânica I<br />

Química Analítica Quantitativa<br />

Pesquisa em Ensino de Química II<br />

Tecnologia e Meio Ambiente<br />

Total 22 330h<br />

Química Orgânica II<br />

Química Analítica Instrumental<br />

Química Biológica I<br />

Teorias e prop. do Ensino de Química<br />

Didática Geral<br />

Mineralogia<br />

Seminário III<br />

04<br />

04<br />

1<br />

1<br />

04<br />

04<br />

06<br />

04<br />

02<br />

03<br />

03<br />

04<br />

04<br />

02<br />

02<br />

01<br />

04<br />

02<br />

04<br />

03<br />

04<br />

03<br />

01<br />

60h<br />

75h<br />

15h<br />

15h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

30h<br />

30h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

30h<br />

30h<br />

90h<br />

60h<br />

30h<br />

60h<br />

60h<br />

75h<br />

30<br />

15<br />

141


8º<br />

9º<br />

Total 22 330h<br />

Química Orgânica Experiemental<br />

Est. Sup. No Ens. Fundamental<br />

Metodologia do Ensino de Química I<br />

Química Biológica II<br />

Seminário IV<br />

Microbiologia<br />

Formação Desenv. Brasileiro<br />

Pesquisa em Ensino de Química<br />

Total 20 300<br />

Análise Orgânica I<br />

Est. Sup. Química Ensino Médio<br />

Fundamentos de Biotecnologia<br />

Toxicologia I<br />

Química Ambiental<br />

Trabalho de Conclusão de curso<br />

Seminário V<br />

Metodologia do Ensino de Química II<br />

Total 20 330<br />

Total Cr. 188 2820h<br />

02<br />

04<br />

02<br />

04<br />

01<br />

03<br />

04<br />

04<br />

03<br />

02<br />

04<br />

04<br />

01<br />

60h<br />

60h<br />

30h<br />

60h<br />

15h<br />

45h<br />

60h<br />

60h<br />

45h<br />

30h<br />

60h<br />

60h<br />

15h<br />

142


ANEXO V<br />

1.4- ORGANIZAÇÃO GERAL DO CURRÍCULO E SEMESTRALIZAÇÃO DO<br />

CURSO (da turma acompanhada em sala de aula)<br />

Semestre Componentes Curriculares Cr. Carga<br />

1º<br />

2º<br />

3º<br />

Química em Situações Prática<br />

Fundamentos de Matemática<br />

Química Geral I<br />

Recursos de Informática na Formação Profissional<br />

Sociedade, Política e Cultura<br />

Seminário I<br />

04<br />

04<br />

04<br />

04<br />

04<br />

01<br />

Horária<br />

Total 21 315h<br />

Biologia<br />

Química Geral II<br />

Física I<br />

Prática Pedagógica I: Fund. Teóricos e Prat. Em Ciências<br />

Pesquisa e Formação<br />

Total 21 315h<br />

Cálculo Diferencial e Integral I<br />

Física II<br />

Prática Pedagógica II: Psicologia da Aprend. e Desenvolvimento<br />

Química Inorgânica I<br />

Estatística para Química<br />

Pesquisa em Ensino de Química I<br />

Total 20 300h<br />

Cálculo Diferencial e Integral II<br />

Prática Pedagógica III : Estrutura e Func. da Educação Básica<br />

04<br />

04<br />

04<br />

05<br />

04<br />

04<br />

04<br />

04<br />

04<br />

02<br />

02<br />

04<br />

04<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

15h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

75h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

30h<br />

30h<br />

60h<br />

60h<br />

143


4º<br />

5º<br />

6º<br />

7º<br />

Físico Química I<br />

Química Inorgânica II<br />

Seminário II<br />

Mineralogia<br />

Total 20 300<br />

Físico química II<br />

Química Analítica Qualitativa<br />

Estágio curricular supervisionado I: Ensino de Ciências I<br />

Prática Pedagógica IV : Didática Geral<br />

Prática Pedagógica V : Pesquisa em Ensino de Ciências I<br />

Biologia Humana e Saúde<br />

Total 22 330h<br />

Físico Química III<br />

Química Orgânica I<br />

Química Analítica Quantitativa<br />

Pesquisa em Ensino de Química II<br />

Prática Pedagógica V I : Pesquisa em Ensino de Ciências II<br />

Estágio curricular supervisionado II: Ensino de Ciências II<br />

Total 22 330h<br />

Química Orgânica II<br />

Química Analítica Instrumental<br />

Química Biológica I<br />

Tecnologia e Meio Ambiente<br />

Estágio curricular supervisionado III: Ensino de Ciências III<br />

Prática Pedagógica V II: Teorias do Ensino de Ciências<br />

Seminário III<br />

Total 22 330h<br />

04<br />

05<br />

01<br />

02<br />

04<br />

04<br />

06<br />

04<br />

02<br />

02<br />

04<br />

04<br />

04<br />

02<br />

02<br />

06<br />

04<br />

02<br />

04<br />

04<br />

05<br />

02<br />

01<br />

60h<br />

75h<br />

15h<br />

30h<br />

60h<br />

60h<br />

90h<br />

60h<br />

30h<br />

30h<br />

60h<br />

60h<br />

60h<br />

30h<br />

30h<br />

90h<br />

60h<br />

30h<br />

60h<br />

60h<br />

75h<br />

30h<br />

15h<br />

144


8º<br />

9º<br />

Estágio curricular supervisionado IV: Ensino de Química I<br />

Química Biológica II<br />

Seminário IV<br />

Formação e Desenvolvimento Brasileiro<br />

Pesquisa em Química III<br />

Microbiologia<br />

Total 20 300<br />

Análise Orgânica<br />

Estágio curricular supervisionado V : Ensino de Química II<br />

Fundamentos de Biotecnologia<br />

Toxicologia I<br />

Química Ambiental<br />

Prática Pedagógica VIII: Trabalho de sistematização do curso<br />

Seminário V<br />

Total 22 330<br />

Total Cr. 190 2850h<br />

06<br />

04<br />

01<br />

04<br />

02<br />

03<br />

04<br />

04<br />

03<br />

02<br />

04<br />

04<br />

01<br />

90h<br />

60h<br />

15h<br />

60h<br />

30h<br />

45h<br />

60h<br />

60h<br />

45h<br />

30h<br />

60h<br />

60h<br />

15h<br />

145


ANEXO VI<br />

146

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