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Pág. 14 Rev. Inst. Latic. "Cândido Tostes", Set/Out, na 310, 54: 13-21, 1999<br />

comerciais onde o oxigênio ou o ar passa entre<br />

dois eletrodos separados por um meio de cerâmica<br />

dielétrico (Wickranayabe, 1991).<br />

Em solução aquosa o ozônio pode atuar sobre<br />

vários compostos orgânicos, como demonstrado<br />

abaixo, através de duas vias (Hoigné, 1985):<br />

- por reação direta com as moléculas de<br />

ozônio e<br />

por reação indireta com as espécies<br />

radicálicas que são formadas quando o<br />

ozônio se decompõe na água.<br />

O ozônio, como outros oxidantes, pode ter<br />

sua atividade influenciada pela presença de<br />

materiais oxidáveis presentes no meio, de<br />

microrganismos e de radiação ultra-violeta, entre<br />

outros. Trata-se de um gás potente porém instável<br />

que deve ser produzido no local a ser utilizado<br />

(Boot, 1991, Hiddink, 1995; Torres, 1996) É mais<br />

estável na sua fase gasosa do que aquosa. Sua hemivida<br />

na fase gasosa à temperatura ambiente é de 12<br />

horas enquanto que em solução aquosa é menor que<br />

trinta minutos (Torres et al., 1996). A taxa de<br />

decomposição do ozônio em soluções aquosas<br />

aumenta também com a turbulência e em presença<br />

de pH alcalino (Block, 1994).<br />

Dissolvido em água, o ozônio gera reações<br />

radicálicas e iônicas menos arriscadas que as<br />

exclusivamente radicálicas produzidas pelo gás, que<br />

podem entrar em contato diretamente com o<br />

epitélio pulmonar, se inaladas (DalI' Aglio, 1998,<br />

comunicação pessoal). O ozônio porém, é um gás<br />

parcialmente solúvel em água e sua autodecomposição<br />

produz numerosos radicais livres<br />

sendo que o radical hidroxila (OH-) é o mais<br />

proeminente. À medida que o pH de soluções<br />

contendo ozônio dissolvido aumenta, a taxa de<br />

decomposição de ozônio produzindo radicais livres<br />

hidroxilas também aumenta tanto que a um pH de<br />

10 o ozônio se decompõe instantaneamente.<br />

Embora os radicais livres hidroxilas resultantes<br />

sejam os mais fortes oxidantes estes se decompõem<br />

em frações de segundos. Portanto para a produção<br />

de água ozonizada, a presença do ozônio molecular<br />

é necessária para garantir a desinfecção. A hemivida<br />

do ozônio em solução aquosa depende também<br />

da demanda de ozônio molecular presente na mesma<br />

(Gurley, 1985; Graham, 1997).<br />

-Embora o ozônio seja doze vezes mais solúvel<br />

em água que o oxigênio, sua baixa pressão parcial faz<br />

com que se torne difícil a obtenção de muitos<br />

miligramas/litro, sob condições normais de temperatura<br />

e pressão. O ozônio deve ser adequadamente<br />

distribuído para demonstrar seu efeito esterilizante.<br />

Para tanto faz-se necessária a formação de uma fina<br />

emulsão entre ozônio e a água. Essas emulsões podem<br />

ser criadas por difusão de bolhas finas; bombas<br />

injetoras e por turbinas emulsificantes. Recentemente<br />

o melhoramento nos designs modernos dos geradores,<br />

a diminuição de custos dos mesmos e os processos de<br />

remoção do oxigênio residual tem aumentado e<br />

renovado o interesse das indústrias farmacêutica e<br />

alimentícia pelo ozônio, como esterilizante (Gurley,<br />

1985, Torres et al. , 1996).<br />

Por ser um oxidante potente, os efeitos<br />

tóxicos do ozônio em meio aquoso têm sido<br />

estudados (Bourbigot et al., 1986, Chen et<br />

al.,1992, Filippi, 1997, Menzel, 1984). Alguns<br />

estudos evidenciaram que quando doses suficientes<br />

de ozônio são utilizadas no tratamento da água,<br />

este pode eliminar e evitar o aparecimento de<br />

produtos mutagênicos e outros estudos, que o<br />

mesmo não possui potencial carcinogênico forte.<br />

O efeito desinfetante ou esterilizante do<br />

ozônio, porém, está relacionado à demanda<br />

orgânica desta água. A quantidade de ozônio<br />

aplicada à água, segundo alguns autores, deve ser<br />

suficiente para oxidar ambos, ou seja, matéria<br />

orgânica e microrganismos presentes na mesma<br />

(resposta ou efeito total ou nulo) (Gurley, 1985).<br />

Já Katzenelson et ai (1974) e Kim et ai (1980)<br />

consideram que exista uma relação dose resposta<br />

para o ozônio. Tal fato foi observado também por<br />

Akey & Walton (1985 e 1980).<br />

As concentrações do ozônio em água são<br />

reduzidas mais rapidamente em altas temperaturas<br />

porém a eficiência bactericida do ozônio dissolvido<br />

em água é maior em temperaturas acima de 25°C,<br />

possivelmente devido ao sinergismo entre a oxidação<br />

e a destruição térmica. Apesar disso a variável mais<br />

importante para se garantir a efetividade do ozônio é<br />

a quantidade de ozônio transferida à água. Na prática,<br />

o ozônio é aplicado em altas doses (0,5 - 10mg/l)<br />

por longos períodos de contato (5 - 15min)_ Para a<br />

esterilização da água na indústria farmacêutica, por<br />

exemplo, utiliza-se de 2 - 5mg/1 por um período de<br />

no máximo 5 minutos (Gurley, 1985).<br />

Tendo em vista a importância da sanitização<br />

para a qualidade do leite e as vantagens que<br />

as propriedades desinfetantes do ozônio poderiam<br />

trazer para a indústria de laticínios, o presente<br />

trabalho teve como objetivo primordial avaliar<br />

microbiologicamente a eficiência do processo<br />

proposto.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

A pesquisa foi realizada nas dependências<br />

de uma estação de lavagem de latões de leite,<br />

implantada provisoriamente na Horta Comunitária<br />

do município de Divisa Nova - MG, onde<br />

foi instalado um protótipo para este fi m, e no<br />

laboratório de Pesquisas de Biologia e Fisiologia<br />

de Microrganismos da Universidade de Alfenas­<br />

M;G, onde as amostras foram processadas.<br />

O protótipo foi projet.ado pelo engenheiro<br />

químico José Wilson Brasil Gurjão, com tecnologia<br />

e equipamentos da empresa White Martins Gases<br />

Industriais S/A.<br />

Rev. Inst. Latic. "Cândido Tostes", Set/Out, na 310, 54: 13-21, 1999<br />

No Laboratório de Pesquisas foram analisadas<br />

112 amostras de latões de leite de plástico coletadas<br />

através de swabs, correspondentes a amostragem<br />

de 28 latões (2 amostra antes da sanitização e 2<br />

após) oriundos das fazendas da região de Divisa<br />

Nova -MG, escolhidos aleatoriamente. Usando a<br />

mesma metodologia foram analisados 11 latões<br />

submetidos a lavagem convencional no laticínio<br />

que recebe latões de leite da região.<br />

Sistema de higienização de latões de<br />

leite por meio de equipamentos com spray<br />

com ozônio dissolvido em água<br />

O sistema empregado era composto de um<br />

reservatório de PVC, um sistema de dissolução de<br />

ozônio, 2 bombas sendo 1 monofásica e uma<br />

bomba multi-estágio de alta pressão, um gerador<br />

de ozônio, um bico de pulverização de aço inox,<br />

além de uma fo nte de oxigênio puro (White<br />

Martins Gases Inds. S/A), de tubos e conexões.<br />

A água ozonizada utilizada na lavagem por<br />

pulverização era proveniente de um reservatório<br />

onde o ozônio havia sido introduzido e a<br />

concentração de ozônio dissolvido na mesma era<br />

mensurada no momento da desinfecção através<br />

de monitores do tipo residual ozone system (ROS)<br />

com instrumento indicador mo dei 26506 e sensor<br />

31.331.15 (Orbisphere Laboratories®). O sensor<br />

deste instrumento é composto por uma célula<br />

eletroquímica do tipo Clark onde o catodo de ouro, o<br />

anodo de prata e o eletrólito de brometo de potássio<br />

aquoso são isolados da amostra a ser medida por<br />

uma membrana impermeável à água porém permeável<br />

ao gás, que mede o resíduo de ozônio por<br />

diferença de condutividade.<br />

O sistema era acionado 20 minutos antes do<br />

início da lavagem dos latões a fim de se obter a<br />

saturação de ozônio dissolvido na água do reservatório<br />

e oscilou entre 3,0 e 4,0 mg/l, em função das<br />

características da água e da temperatura ambiente.<br />

Manipulação dos latões durante a<br />

experimentação e processo de lavagem.<br />

Antes da coleta das amostras, o latão era<br />

mantido na posição invertida durante dois minutos<br />

Pág. 15<br />

em um suporte (pingadeira) para a drenagem do<br />

excesso de líquido e, então, colocado em suporte<br />

adaptado para a coleta das amostras. Após a coleta<br />

da amostra este era transferido para o suporte<br />

para a lavagem por meio de equipamentos com<br />

"spray", também em posição invertida.<br />

O processo de lavagem era composto de<br />

duas fases. Durante a primeira, um jato de "spray"<br />

contendo uma solução de água e tensoativo nãoiônico<br />

(Liquid Force-Ecolab®) (0,2 ml/litro),<br />

trocada a cada de 3 lavagens, e que durava 2<br />

minutos, promovia-se a limpeza do latão. Durante<br />

a segunda fase, um jato de água com ozônio<br />

dissolvido, que durava 2 minutos também,<br />

promovia a o enxágue e a desinfecção.<br />

Procedimento de coleta das amostras<br />

dos latões<br />

As referidas amostras eram coletadas<br />

através de "swabs" de algodão esterilizados (APHA,<br />

1978) e a área testada era delimitada por um<br />

gabarito de aço inoxidável de 20 x 2,5 cm. Duas<br />

amostras eram coletadas antes da sanitização e<br />

duas após sendo uma composta de cinco pontos<br />

das paredes e a outra do hemi-círculo do ângulo<br />

("quina") do fundo do latão, de forma que de ambos<br />

os pontos fosse amostrada uma área de 250 cm2,<br />

como o preconizado pelo "Standard Methods for<br />

Examination of Dairy Products (1978).<br />

Análises microbiológicas<br />

As amostras foram avaliadas quanto ao<br />

número mais provável (N.M.P.) de coliformes<br />

totais e E. coli e microrganismos mesófilos segundo<br />

a metodologia do substrato cromatogênico definido,<br />

descrita no "Standard Methods for Examination<br />

of Water and Wastewater" (EATON et ai.,<br />

1995) e registrada no DOIlDIPOA no 013/97,<br />

através do teste comercial Colilert® e Simplate®<br />

(ldexx Laboratories Inc.).<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

As tabelas a seguir expressam os números<br />

de microrganismos por cm2•<br />

Tabela 4 - NMP de E. coli / cm2 da parede e do fundo de latões de leite, pré e pós-lavagem com ozônio.<br />

PAREDE<br />

FUNDO<br />

Pré-lavagem<br />

0,3 ± 0,1<br />

0,9xl 0-1 ± 0,3xl 0-1<br />

NMP de E.coli/cm2<br />

Pós-lavagem<br />

Os números expressos significam a média ± EPM de n=26 amostras.<br />

*p

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