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Pág. 34 Rev. Inst. Latic. "Cândido Tostes", Set/Out, n° 310, 54: 34-38, 1999<br />
ISOLAMENTO DE BACTÉRIAS NATURAIS PRODUTORAS DE GÁS<br />
EM REGIÕES DE MINAS GERAIS<br />
RESUMO<br />
Ana Cláudia Mochel de Souza Netto]<br />
Daise Ap arecida Rossi<br />
Múcio Mansur Furtado 3<br />
Celso José de Moura<br />
Com a finalidade de isolar bactérias produtoras de CO2, naturalmente presentes em leites da região do Sul de<br />
.<br />
Mmas, Campo das Vertentes e Zona da Mata, coletou-se queijos em fábricas onde ocorrem naturalmente a presença de<br />
olhaduras mesmo sem adição de culturas láticas. No isolamento dessas bactérias, empregou-se o meio agar lactato<br />
suple . me . ntado om c10xacilina o mei ? Pal- ropiobac. Apenas 6 cepas apresentaram comportamento típico de<br />
Prop/OmbacteT/llm. Todos os nucrorgamsmos Isolados e caracterizados como típicos da espécie Propionibacterillm<br />
foram capazes de produzir gás quando utilizados na fabricação de queijos.<br />
1. INTRODUÇ Ã O<br />
o queijo é um produto fresco ou maturado<br />
em diversos graus, preparado a partir da coagulação<br />
enzimática da caseína do leite. A preparação dos<br />
diferentes tipos é muito variada, havendo etapas<br />
comuns e procedimentos especiais (tempo de<br />
maturação e microrganismos inoculados), que<br />
dependem do tipo de queijo que se quer produzir.<br />
Os queijos finos, como Gorgonzola, Suíço,<br />
do Reino e Provolone representavam uma menor<br />
fatia no mercado brasileiro, entretanto, quase todas<br />
estas variedades têm tido sua produção aumentada<br />
a cada ano. Sob a denominação Suíço, incluem-se<br />
principalmente as variedades Emmenthal e<br />
Gruyere, fabricadas predominantemente na região<br />
do Sul de Minas Gerais (Furtado, 1991).<br />
No Brasil, conhecidos genericamente como<br />
queijos tipo Suiço, fabrica-se um queijo duro ou<br />
semi duro com olhaduras de número e tamanho<br />
variados. Não há ainda padronização dos queijos<br />
que se abrigam sob esta denominação e que são<br />
muitas vezes fabricados sem adição de culturas<br />
propiônicas, em regiões favorecidas por sua presença<br />
natural no ambiente e no leite. Há ainda<br />
variações na tecnologia de fabricação, utilizando-se<br />
desde temperaturas de aquecimento da massa de<br />
42-44°C a 5Ü"C, o que leva a produtos com textura,<br />
composição e consistência variadas. No mercado<br />
encontram-se queijos que apresentam como<br />
característica uma mistura de Gruyere (queijo de<br />
aproximadamente 45kg, com olhaduras menores<br />
e menos numerosas, sabor mais forte e casca mais<br />
escura e enrugada) com o Emmenthal (queijo de<br />
mais de 80kg, com olhaduras maiores e numerosas,<br />
casca amarelada e sabor mais suave, adocicado).<br />
Segundo Lourenço Neto (1984) as estirpes<br />
de maior importância industrial da flora propiônica<br />
e relacionadas com a fabricação dos queijos<br />
tipo Suíço pertencem à espécie Propionibacterium<br />
freull dell reichii (subespécies shermanii e freulldellreichii).<br />
As bactérias propiônicas transformam<br />
o lactato produzido pelas bactérias do ácido láctico<br />
envolvidas no processo de produção dos queijos<br />
(Lactobacillus sp, Lactococcus sp e Streptococcus<br />
sp) principalmente em propionato, acetato e CO,.<br />
Estes produtos metabólicos, aliados a outro - s<br />
resultantes de sua atividade proteolítica e biossintética,<br />
como por exemplo a prolina, são responsáveis<br />
pelas modificações físico-químicas e pelo<br />
"flavor" característico apresentado pelos queijos<br />
que envolvem esse tipo de fermentação (Ferreira,<br />
1987; Furtado, 199 1).<br />
Além disso, a capacidade de bactérias<br />
propiônicas sintetizarem vitamina B 12 a partir<br />
de C02 constitui um meio de enriquecimento<br />
biológico de produtos lácteos fermentados e<br />
outros alimentos (de Carvalho, 1994).<br />
No Brasil não há produção industrial de<br />
culturas propiônicas, sendo que as importadas<br />
muitas vezes não apresentam boa adaptação aos<br />
queijos resultando em defeitos como queijo "cego"<br />
ou sem sabor. As causas desses problemas não estão<br />
completamente elucidadas, podendo estar relacio-<br />
1 Mestre em Ciência dos Alimentos, Universidade Federal de Lavras.<br />
2 Doutorandos em Ciência dos Alimentos, Universidade Federal de Lavras.<br />
3 Diretor de Pesquisa Chr. Hansen Ind. e Com. Ltda.<br />
Rev. Inst. Latic. "Cândido Tostes", Set/Out, .n° 310, 54: 34-38, 1999 Pág. 35<br />
nadas ao processo de fabricação dos queijos, sua<br />
composição e talvez à própria cultura. Entretanto,<br />
em certas regiões de Minas Gerais (Barbacena,<br />
Carrancas, Caxambu, Lima Duarte, São Vicente,<br />
etc.) os queijos apresentam olhaduras mesmo sem<br />
adição de fermentos produtores de gás ; estas<br />
características nos queijos podem ser conseqüência<br />
da presença de culturas naturais encontradas no<br />
solo, pastagens, silagens, saliva e pele dos animais,<br />
que por diversas vias são incorporadas ao leite.<br />
Segundo Furtado (1993) alguns destes microrganismos<br />
sobrevivem à pasteurização do leite nas<br />
usinas e encontram ambiente favorável ao seu<br />
crescimento. O melhor desempenho dos microrganismos<br />
naturais em relação às culturas importadas<br />
é provavelmente, devido a estarem adaptadas ao<br />
leite e ao ambiente dessas regiões.<br />
O isolamento dessas culturas naturais para . a<br />
indústria, proporcionaria um grande beneficio<br />
econômico, podendo assim, evitar a importação ou<br />
mesmo uma opção que melhor se adapte às nossas<br />
condições. Assim sendo, esse trabalho tem como<br />
objetivo isolar bactérias produtoras de gás naturais<br />
para sua utilização na fabricação de queijos.<br />
2. MATERIAL E M É TODOS<br />
2.1. Obtenção das amostras<br />
Foram coletados queijos produzidos nas<br />
cidades de Lavras, Curral Novo, São Sebastião da<br />
Vitória, Lima Duarte, Juiz de Fora e Barbacena.<br />
Precauções foram tomadas para que os queijos<br />
selecionados tivessem sido fabricados com fermentos<br />
não produtores de gás (tipo "O") e sem<br />
nenhuma contaminação por fermentos produtores<br />
de gás utilizados para fabricação de outros tipos de<br />
queijos no mesmo local de trabalho. As variedades<br />
coletadas foram Prato, Reino e Parmesão.<br />
Como parâmetro de comparação para os<br />
isolados naturais, foi utilizada a cultura comercial<br />
liofilizada PSI da Chr. Hansen Ind. Com. Ltda.<br />
2.2. Reativação da cultura comercial<br />
O conteúdo de uma alça de platina da cultura<br />
comercial liofilizada foi adicionada a caldo lactato<br />
0,1% (extrato de levedura 5gll ; extrato de carne<br />
3,Og/l; peptona de caseÍna 5,0 g/l; lactato de sódio<br />
50% 16,8 mIlI; agar 1,5g/l; água mineral magnesiana<br />
gaseificada naturalmente 1000ml). O caldo<br />
fo i incubado a 30°C/3dias e após crescimento<br />
foram realizadas diluições seriadas (duplicata) e<br />
plaqueamento em superfície no meio agar lactato<br />
(mesma composição do caldo lactato 0,1% com<br />
15g/1 de agar). A incubação foi sempre realizada a<br />
30°C, sendo que, o período foi de 6 dias em anaerobiose<br />
seguido de 48 horas em aerobiose.<br />
digitalizado por<br />
2.3.Preparo da amostra de queijo e<br />
inoculação<br />
Amostras de queijos (50g) foram adicionadas<br />
a 450 ml de citrato de sódio a 2% e homogeneizadas<br />
em liquidificador estéril. As amostras<br />
foram então diluidas (102) em água peptonada a<br />
1 %; desta diluição, 0, 1 ml foram inoculadas em<br />
Lithium Glicerol Agar (LGA) suplementado com<br />
cloxacilina (peptona pancreática de caseína- 1 0g/L,<br />
extrato de levedura-l Og/L, lactato de lítio-l Og/L,<br />
leite em pó 19/L, monoidrogenofosfato de potássio<br />
triidratado a 328g/L- l mIlL, sulfato de manganês<br />
monoidratado a 56 g/L- l mI/L, glicerol-6mI/L,<br />
solução de púrpura de bromocresol 0,5 g/L-lOml,<br />
agar- 14g e água destilada-900ml, com pH aj ustado<br />
para 7,0 +/-0,2). As placas foram incubadas<br />
a 30°C/6 dias em anaerobiose (Madec et aI, 1994).<br />
As colônias que apresentaram características<br />
típicas foram inoculadas em agar lactato inclinado<br />
(sem suplementação) por 6 dias em anaerobiose e<br />
2 dias em aerobiose para purificação e realizados<br />
testes de de catalase e Gram.<br />
2.4. Caracterização dos isolados<br />
Foram selecionados bacilos ou cocos Gram<br />
e catalase positivos. A identificação foi realizada<br />
de acordo com a 9° edição do Bergey's Manual of<br />
Determinative Bacteriology (Holt et aI., 1994).<br />
As provas realizadas para caracterização foram<br />
sacarose, glicose, mal tose, hemólise, celobiose,<br />
gelatinase, redução de nitrato e indol.<br />
2.5. Fabricação dos queij os<br />
Os isolados que apresentaram características<br />
típicas foram utilizados para fabricação com o<br />
intuito de verificar seu comportamento em condições<br />
industriais. A técnica de fabricação utilizada<br />
foi a descrita por Furtado (1993) e Lourenço Neto<br />
(1984). Na fabricação foi utilizado 1,0% de<br />
fermento termofílico (Lactobacillus bulgaricus<br />
e Streptococcus thermophilus) e as culturas de<br />
microrganismos padronizados para concentração<br />
final no leite de 104 UFC/ml.<br />
Os queijos foram avaliados quanto a textura,<br />
"flavor" e presença de olhaduras típicas por<br />
professores da UFLA com experiência na área.<br />
3. RESULTADOS E DISCUSS Ã O<br />
3.1. Isolamento de bactérias do gênero<br />
Propionibacterium<br />
Das oito cidades selecionadas para coleta dos<br />
queijos, sete apresentaram amostras com crescimento<br />
de microrganismos com características de<br />
arvoredoleite.org