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Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual ...

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MINISTÉRIO DA SAÚDE<br />

Logo, esta Norma Técnica compreenderá as mulheres como<br />

principais destinatárias <strong>da</strong> <strong>violência</strong> <strong>sexual</strong>. Isto sem deixar de considerar<br />

que não raro homens, crianças, adultos ou adolescentes, nota<strong>da</strong>mente em<br />

situação de cárcere ou internação e, crianças, em especial, em ambiente<br />

intrafamiliar/doméstico, sofrem essa <strong>violência</strong>. Por outro lado, certo é que<br />

se encontram mais expostas a esta <strong>violência</strong> de gênero, crianças e adolescentes<br />

do sexo feminino 1 . As vulnerabili<strong>da</strong>des devem ser considera<strong>da</strong>s<br />

também nos casos de pessoas i<strong>dos</strong>as, com deficiência mental ou física,<br />

mulheres negras, indígenas, ciganas, mulheres do campo e <strong>da</strong> floresta, lésbicas,<br />

gays, bissexuais, mulheres e homens transexuais ou que vivenciam<br />

a tran<strong>sexual</strong>i<strong>da</strong>de, travestis, transgêneros, bem como pessoas que exercem<br />

a prostituição, pessoas em situação de tráfico ou exploração <strong>sexual</strong>,<br />

em território de conflito, situação de cárcere ou internação, em situação<br />

de rua, opressão e dependência econômica em geral, entre outros.<br />

A <strong>violência</strong> <strong>sexual</strong> não somente é reveladora <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de de<br />

gênero, mas também é emblemática desta. Por essa razão, já não se pode<br />

compreendê-la de forma individualiza<strong>da</strong> e descontextualiza<strong>da</strong>. Há uma<br />

estrutura comum, um arcabouço de status – que cria relações de poder assimétricas<br />

e hierarquicamente ordena<strong>da</strong>s - também conhecido como patriarcado.<br />

Este engendra uma verticalização <strong>dos</strong> gêneros não apenas real,<br />

ao atuar como um paradigma <strong>da</strong> força bruta, mas simbolicamente, nas<br />

representações sociais. Ao fazê-lo, provoca uma banalização e uma subordinação<br />

em massa que colocou e ain<strong>da</strong> coloca muitas mulheres em situação<br />

de sujeição e subserviência. A ordem patriarcal é de tal sorte violenta,<br />

que inverte responsabilizações e desloca, na maioria <strong>da</strong>s vezes, sensações<br />

de culpa e medo para as próprias mulheres, fazendo com que se sintam<br />

humilha<strong>da</strong>s, envergonha<strong>da</strong>s e desonra<strong>da</strong>s às vistas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e, muitas<br />

vezes, diante <strong>da</strong> própria família, multiplicando o trauma sofrido. Produzse,<br />

assim, um <strong>dos</strong> la<strong>dos</strong> mais perversos <strong>da</strong> <strong>violência</strong> de gênero, pois é justamente<br />

essa “mácula” 2 que provoca o silenciamento e a dificul<strong>da</strong>de de<br />

1 A Pesquisa “Caracterização <strong>da</strong>s vítimas de <strong>violência</strong>s doméstica, <strong>sexual</strong> e outras <strong>violência</strong>s interpessoais notifica<strong>dos</strong> no VIVA, Brasil,<br />

Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2006-2007”, de Aglaêr Alves <strong>da</strong> Nóbrega, mostra que 59% <strong>da</strong>s crianças vítimas de <strong>violência</strong> <strong>sexual</strong> eram mulheres,<br />

em contraste com 40% do sexo masculino.<br />

2 Na ver<strong>da</strong>de, a própria noção de mácula é patriarcal e sua atribuição exclusiva às mulheres (que serão imacula<strong>da</strong>s ou macula<strong>da</strong>s, santas<br />

ou prostitutas). Para o homem, não existe tal sentido. O papel <strong>da</strong> linguagem na construção do gênero não deve ser ignorado, pois continua<br />

a enraizar e perpetuar valores e senti<strong>dos</strong> sociais discursivos. Nesse sentido, ilustrativo é “o filho do pai”, cuja conotação é religiosa,<br />

em contraponto a “o filho <strong>da</strong> mãe”, de cunho depreciativo.<br />

. 12 .

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