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os monumentos<br />

Catedral<br />

Por Lúcia Leão<br />

Naquele 21 de abril em que<br />

Brasília foi inaugurada, a<br />

Catedral era apenas a estrutura<br />

hiperbólica de 16 pilares que pareciam<br />

só por milagre ficarem em pé. Depois<br />

de 50 anos, a vista se acostuma e a<br />

forma do grande templo parece até<br />

normal. Mas quando se descortinou<br />

pela primeira vez, foi absolutamente<br />

surpreendente ver o círculo de colunas<br />

de concreto cujas extremidades não<br />

convergiam na forma pontiaguda<br />

das catedrais góticas ou nas abóbodas<br />

redondas das igrejas barrocas.<br />

Ao contrário, se abriam num gesto<br />

expansivo de aclamação.<br />

Maior desafio estrutural entre<br />

os prédios-esculturas que compõem<br />

a chamada “escala monumental” da<br />

cidade, a construção da Catedral só foi<br />

possível graças a uma legião de anjos<br />

que baixaram em Brasília encarnados<br />

em arquitetos, engenheiros, calculistas,<br />

operários e artistas. Foi de um deles, o<br />

arquiteto Carlos Magalhães, a ideia de<br />

desenhar uma das colunas de estranha<br />

forma, em tamanho natural e a carvão,<br />

no chão do enorme galpão construído<br />

no canteiro de obras. Sobre o desenho<br />

os operários construíram a armação de<br />

madeira que receberia o cimento para<br />

moldar o concreto armado. “Só essa<br />

estrutura de madeira era uma obra<br />

de arte”, recordou-se Magalhães em<br />

depoimento para o Arquivo Público do<br />

Distrito Federal. O engenheiro Joaquim<br />

Cardozo assinou os cálculos estruturais<br />

dos 2.000 metros quadrados da obra.<br />

Entre centenas de anjos anônimos,<br />

muitos já reverenciados desceram<br />

ali no extremo da Esplanada dos<br />

Ministérios para contribuir no<br />

embelezamento do projeto. Di<br />

Cavalcanti desenhou os painéis<br />

representando a Via-Sacra. Athos<br />

Bulcão pintou a história de Nossa<br />

Senhora nos pilares da entrada do<br />

templo e o painel da parede da pia<br />

batismal, esta desenhada em forma<br />

oval por Alfredo Ceschiatti. O mesmo<br />

artista mineiro projetou e edificou em<br />

bronze, com ajuda do escultor Dante<br />

Croce, os gigantescos Evangelistas –<br />

Mateus, Lucas, Marcos e João, estátuas<br />

de três metros de altura – postados no<br />

passeio de acesso à Catedral e os três<br />

Anjos que voam presos a cabos de<br />

aço sobre o altar central. Mais de<br />

duas décadas depois da inauguração,<br />

Marianne Peratti pintou os vitrais<br />

em formas onduladas que até hoje<br />

incomodam os mais puristas, que<br />

preferiam o vidro branco e o concreto<br />

nu das pilastras do projeto original.<br />

Para colocar seus anjos a voar<br />

sobre o altar doado pelo Papa João VI,<br />

Ceschiatti trabalhou duro e realizou<br />

vários estudos, com esculturas em<br />

menores proporções. Uma delas está<br />

numa chácara do Lago Sul, onde a<br />

empresária Vera Brant – ela própria<br />

um dos anjos mais zelosos dessa legião<br />

obstinada evocada por JK – guarda um<br />

pouquinho da história de cada etapa<br />

e de cada personagem da construção.<br />

Rodrigo Oliveira<br />

Divulgação<br />

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