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os músicos<br />
Renato Russo<br />
Por Heitor Menezes<br />
“<br />
Mas esse cara canta<br />
igualzinho ao Jerry<br />
Adriani”. Todo mundo<br />
está careca de saber, mas esse era<br />
um dos comentários que se ouviam<br />
quando a Legião Urbana despontou<br />
para o grande público e Renato Russo<br />
começou a ser notado além da média<br />
do então novo rock brasileiro. Lá<br />
se vai um quarto de século daquele<br />
tempo e Renato Russo ficou na<br />
lembrança da cidade por tudo o<br />
que fez e aconteceu.<br />
Falando nessa matéria volátil que<br />
nos escapa chamada tempo, sabe-se<br />
lá como será o futuro. Pode ser que<br />
lá na frente Renato Russo, o rock<br />
de Brasília e aquela época nada mais<br />
signifiquem e as pessoas já estarão<br />
em outra, com novos personagens<br />
para ocupar o imaginário das<br />
gerações. Tudo bem, “temos o nosso<br />
próprio tempo”, não era isso que<br />
o Renato cantava na imortal Tempo<br />
perdido?<br />
Então chegamos na chave do<br />
problema. O que Renato Russo,<br />
Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá<br />
e o injustamente esquecido Negrete<br />
(numa certa época) fizeram tem<br />
todos os requisitos da imortalidade.<br />
Nunca antes neste país o rock foi<br />
tocado daquele jeito, com aquela<br />
carga única de emoção, mensagem<br />
e poesia. Foi um dos melhores<br />
retratos daquele tempo, daquele<br />
sonho de um país melhor, sem<br />
os desaparecidos, aquele lamaçal<br />
socioeconômico e os malucos<br />
fardados mandando a gente comer<br />
capim; o sonho de democracia<br />
tornada real, enfim. Olha que isso<br />
já nos foi muito caro.<br />
Engraçado é que, se aqui ainda<br />
estivesse, Renato Russo teria 50 anos<br />
e talvez estivesse bastante parecido<br />
com o Morrissey, aquele dos Smiths.<br />
Estaria maduro, certamente com a<br />
poesia ferina em dia, metralhando a<br />
mediocridade e a falta de escrúpulos,<br />
doenças seculares made in Brazil.<br />
Ou não, como dizia o Caetano.<br />
Renato Russo estaria preocupado<br />
com outras coisas, porque esse tal de<br />
roquenrol é de uma crueldade sem<br />
tamanho. O U2 e os Rolling Stones<br />
são o McDonalds do rock’n’roll. A<br />
gente faz de conta que não percebe.<br />
Responda rápido, qual roqueiro<br />
brasileiro, passados mais de 25<br />
anos, continua relevante, atual e<br />
imprescindível para os nossos dias?<br />
Raul? Renato? Caramba, nossos<br />
heróis foram embora. Ainda hoje<br />
estamos perplexos.<br />
Ivaldo Cavalcante<br />
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