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Terremoto faz vítimas e destrói patrimônio ... - Comunità italiana

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atualidade<br />

No alvo<br />

damáfia<br />

Há dez anos sob proteção<br />

policial, procurador anti-máfia<br />

conta muito do que sabe em livro<br />

que se torna best-seller, na Itália<br />

Ja n a í n a César<br />

Correspondente • Treviso<br />

Recentemente, o mundo inteiro tomou conhecimento do “sufoco” que<br />

é a vida do escritor Roberto Saviano, o autor do best-seller Gomorra.<br />

Por conta do seu livro, ele foi jurado de morte pela máfia <strong>italiana</strong> e<br />

vive sob proteção policial. Ele, porém, não é a única pessoa, na Itália,<br />

nessa situação. De uma maneira mais discreta, o procurador Raffaele Cantone,<br />

um napolitano de 46 anos, vive, há dez anos, também sob proteção<br />

policial. E não somente ele, mas sua mulher e os dois filhos também.<br />

Catone se tornou o inimigo número 1 do clã dos Casalesi, um dos<br />

braços fortes da Camorra, em consequência de suas investigações<br />

sobre ações mafiosas no país. Além de<br />

parecidas, as vidas do procurador e do escritor se<br />

cruzaram, há pouco tempo. Foi o próprio Cantone<br />

quem descobriu, no ano passado,<br />

o plano dos mesmos Casalesi<br />

para assassinar Saviano. A<br />

partir daí, nasceu uma grande amizade<br />

entre os dois.<br />

Antes, porém, outra semelhança. Em outubro do<br />

ano passado, Cantone lançou o livro Solo per giustizia, editado<br />

pela Mondadori. Nele, o procurador relata o confronto, dia após dia,<br />

com a Camorra; fala sobre as pessoas honestas e desonestas que conheceu; os<br />

riscos e o poder da máfia. Cantone desenhou um quadro muito particular da<br />

Campânia, definido por ele como “anômalo do ponto de vista da criminalidade<br />

organizada”. Na sua avaliação, a região até então, destinada a ser um lugar<br />

de reciclagem e refúgio dos clãs,<br />

se tornou uma nova colônia da<br />

Camorra casertana e napolitana,<br />

“fato comprovado pelo aumento<br />

do número de extorsões”, como<br />

Cantone diz.<br />

Seguindo os passos de Gomorra,<br />

Solo per giustizia já está<br />

entre os livros mais vendidos no<br />

país. O sucesso editorial colocou<br />

Cantone sob os holofotes e “lembrou”<br />

a todos a forma como vive<br />

há tanto tempo.<br />

Com o objetivo de se tornar<br />

um advogado penalista, Cantone<br />

se formou em Direito aos 22 anos.<br />

Com a prática da profissão, percebeu<br />

que a investigação o atraía.<br />

Assim, aos 24 anos, após ter prestado<br />

concurso público, começou a<br />

trabalhar na procuradoria distrital<br />

de Nápoles. Em 1999, aos 36 anos,<br />

entrou como procurador público<br />

na Direção Distritual Antimáfia<br />

(Dda), posto que ocupou por quase<br />

dez anos - até 16 de outubro de<br />

2007 - e que mudou drasticamente<br />

sua vida. Foi justamente no seu<br />

último dia na Dda que nasceu a<br />

idéia de escrever um livro.<br />

Spartacus<br />

Na Dda, não demorou muito para<br />

que Cantone se tornasse o inimigo<br />

número 1 da máfia. Já durante<br />

as primeiras investigações,<br />

descobre que se transformou em<br />

um incômodo personagem para<br />

a Camorra e recebe as primeiras<br />

ameaças de morte. Sua família<br />

e ele entram imediatamente no<br />

programa de proteção policial.<br />

Suas investigações permitem dar<br />

continuidade a Spartacus, famoso<br />

processo contra os Casalesi.<br />

Trata-se do resultado de uma investigação<br />

conduzida entre 1993<br />

e 1998, ano que a Corte d’Assise<br />

do Tribunal de Santa Maria Capua<br />

Vetere ouviu a primeira audiência.<br />

Em 2005, o resultado:<br />

95 condenados, sendo 21 a prisão<br />

perpétua. Em 19 de junho de<br />

2008, a Corte de Apelo confirma<br />

a condenação à prisão perpétua<br />

de 16 chefões da máfia, entre<br />

eles, Francesco Schiavone, Francesco<br />

Bidognetti, Michele Zagaria<br />

e Antonio Iovine.<br />

Atualmente, Cantone trabalha<br />

no Massimario della Cassazione,<br />

última instância de recursos judiciais<br />

na Itália, e continua recebendo<br />

ameaças. Ano passado, durante<br />

uma das últimas audiências<br />

de Spartacus, um dos advogados<br />

dos Casalesi leu uma carta em<br />

que o clã acusava – com evidente<br />

intenção de intimidar – o escritor<br />

Roberto Saviano, a jornalista<br />

Rosaria Capacchione e o próprio<br />

Cantone de terem “exercido uma<br />

pressão negativa nos jurados”.<br />

Após quase dez anos de luta<br />

contra as famílias mais potentes<br />

da Camorra casertana, Cantone<br />

diz não se arrepender de nada.<br />

Com uma voz calma e tranquila,<br />

concedeu uma entrevista exclusiva<br />

à Comunità, por telefone.<br />

ComunitàItaliana - Como chegou<br />

a procuradoria da Direção<br />

Distritual Antimáfia?<br />

Roberto Cantone - Um pouco por<br />

acaso. Após ter passado no exame<br />

público, pensei que a minha<br />

colocação ideal fosse a de procurador<br />

ministerial. Essa é uma<br />

função particularmente ativa e<br />

estimulante que te <strong>faz</strong> entender<br />

o que realmente está por trás do<br />

que foi encontrado.<br />

CI - Dr. Cantone, quem o detesta?<br />

RC - Essa é uma pergunta a qual<br />

não sei responder. Espero que ninguém<br />

me deteste. Na minha vida e<br />

no meu trabalho só fiz o dever de<br />

<strong>faz</strong>er respeitar as leis e as regras.<br />

CI - Quantas ameaças recebeu<br />

ao longo da sua carreira?<br />

RC - Em várias ocasiões durante<br />

as investigações, alguns sujeitos<br />

da Camorra casertana tiveram a<br />

intenção de atentar contra a minha<br />

vida. Graças ao conhecimento<br />

do território da parte das forças<br />

da ordem, essas ameaças não<br />

se concretizaram.<br />

CI - O senhor tem medo?<br />

RC - Não muito, mas também procuro<br />

não pensar no assunto.<br />

CI - Se sente de fato seguro com<br />

a escolta policial?<br />

RC - Os policiais da minha escolta<br />

são muito profissionais e me<br />

deixam seguro. Eles procuram invadir<br />

o menos possível a minha<br />

privacidade.<br />

CI - Porque optou por escrever<br />

um livro?<br />

RC - Porque acredito que seja útil<br />

conhecer a experiência de um<br />

procurador e a dificuldade de levar<br />

uma vida normal. O livro também<br />

foi escrito para mim mesmo.<br />

Foi uma excelente ocasião de reflexão<br />

sobre um período muito<br />

intenso da minha vida.<br />

CI - Solo per giustizia está entre<br />

os livros mais vendidos na Itália,<br />

como o de Roberto Saviano. Por<br />

que este interesse da sociedade<br />

em conhecer o mundo da criminalidade<br />

organizada?<br />

RC - O meu livro está longe do<br />

sucesso excepcional de Gomorra.<br />

Foi justamente o livro de Saviano<br />

que abriu a estrada para este interesse.<br />

Agora, é bem mais claro<br />

a todos que a Camorra é um perigo<br />

não só para a região da Campânia,<br />

mas para toda a Itália.<br />

CI - O que significou para o senhor<br />

<strong>faz</strong>er parte de Spartacus?<br />

RC - Spartacus é um processo que<br />

teve início ainda nos anos 80 contra<br />

os Casalesi. Participei da Spartacus<br />

2, sua continuação. Ambos<br />

foram estruturados antes que começasse<br />

a me ocupar da Camorra.<br />

Em Spartacus 2 trabalhei junto<br />

com o procurador Raffaello Falcone<br />

(apesar do nome, não é parente<br />

do promotor Giovanni Falcone,<br />

morto há dez anos pela Máfia)<br />

CI - O clã dos Casalesi estava envolvido<br />

na emergência do lixo?<br />

RC - Acredito que não seja exagerado<br />

dizer que os Casalesi, antes<br />

de todos, perceberam o lucro que<br />

dá o negócio do lixo. Eles estão<br />

envolvidos com o sistema de lixo<br />

ilegal e tóxico, mas algumas<br />

investigações apontam que tam-<br />

36 C o m u n i t à I t a l i a n a / Ab r i l 2009<br />

A b r i l 2009 / Co m u n i t à I t a l i a n a 37

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