Terremoto faz vÃtimas e destrói patrimônio ... - Comunità italiana
Terremoto faz vÃtimas e destrói patrimônio ... - Comunità italiana
Terremoto faz vÃtimas e destrói patrimônio ... - Comunità italiana
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
filosofia<br />
Antigos<br />
ideais<br />
Um dos principais pensadores políticos da Itália, Giuseppe Vacca lança<br />
livro no Brasil e afirma que a esquerda perdeu o trem da história<br />
momento, a<br />
Europa só tem um<br />
grande líder: o Papa<br />
“Nesse<br />
Bento 16”. A frase,<br />
dita sem exaltação, provocou um<br />
contido “zunzunzum” na platéia.<br />
Quem a proferiu foi o pensador<br />
italiano Giuseppe Vacca, “um velho<br />
comunista italiano” como ele<br />
mesmo se definira um pouco antes.<br />
Os ouvintes sabiam bem disso.<br />
Afinal, eles mesmos estavam<br />
ali para homenagear Vacca porque,<br />
de alguma forma, a ideologia<br />
comunista <strong>faz</strong>ia parte de suas<br />
vidas. Não foi, porém, contestado.<br />
O respeito calou a surpresa<br />
e a palestra prosseguiu, como<br />
se nada tivesse acontecido, na<br />
sala Itália do Instituto Italiano<br />
de Cultura do Rio de Janeiro, em<br />
uma chuvosa noite de março.<br />
O “velho comunista” veio ao<br />
Brasil para lançar seu livro Por<br />
um novo reformismo. Trata-se de<br />
uma publicação conjunta da Fundação<br />
Astrojildo Pereira e da Editora<br />
Contraponto. A apresentação<br />
é Armênio Guedes e Alfredo Reichlin,<br />
respectivamente, dirigentes<br />
históricos dos antigos Partido<br />
Comunista Brasileiro e Partido<br />
Comunista Italiano. O projeto<br />
contou com o apoio da Associação<br />
Anita e Giuseppe Garibaldi.<br />
Além do Rio, Vacca - que fundou<br />
em 1975 o Instituto Gramsci,<br />
em Roma, instituição que ainda<br />
preside - esteve em Campinas<br />
e em São Paulo, onde se encontrou<br />
com o ex-presidente Fernando<br />
Henrique Cardoso.<br />
Talvez o pensador italiano tivesse<br />
ficado ainda mais satisfeito<br />
se o atual presidente<br />
brasileiro, Luiz Inácio Lula<br />
por conta do seu recente processo<br />
político. Um panorama bem diferente<br />
do europeu e que, não por<br />
acaso, encontra-se sem líderes.<br />
Segundo Vacca, na Europa, a<br />
esquerda falhou, apesar de ter tida<br />
Silva, tivesse ido ao seu encontro.<br />
Em entrevista exclusiva à<br />
Comunità, ele não escondeu sua<br />
admiração por Lula. Uma admiração<br />
que data desde o primeiro<br />
momento em que se conheceram,<br />
em 1991, no Brasil e reforçada<br />
com um segundo encontro, na<br />
mesma época, na Itália.<br />
— É uma pena que Lula<br />
não possa se candidatar<br />
outras vezes à presidência<br />
porque a lei não permite.<br />
Eu o admiro muito. Ele<br />
tem grande capacidade<br />
de liderança e demonstrou<br />
isso na forma<br />
como vem guiando<br />
o Brasil, país que<br />
é um dos protagonistas<br />
na nova organização<br />
da economia<br />
mundial — diz Vacca.<br />
Aos 70 anos, ele<br />
percebe não apenas o<br />
Brasil, mas a América<br />
Latina como um todo,<br />
como um foco de novidades<br />
para ser analisada<br />
Sô n i a Apolinário<br />
do “a faca e o queijo na mão”<br />
de mostrar a que veio, durante o<br />
processo de unificação do continente.<br />
Vacca lembra que entre<br />
1990 e 1996, a social democracia<br />
tomou à frente desse processo. O<br />
auge se deu em 1998, quando 13<br />
dos 15 países europeus eram sociais<br />
democratas.<br />
— O grande problema aconteceu<br />
quando, ao formar o governo<br />
comunitário, decidiram que a<br />
política econômica seria nacional<br />
e foi perdida a chance de se <strong>faz</strong>er<br />
uma renacionalização. Explodiu o<br />
processo migratório e, com a crise<br />
da globalização, foi aberto o<br />
caminho para a direita de (George<br />
W. Bush) — explica Vacca, na<br />
sua entrevista. — Em oito anos,<br />
a direita americana fechou o processo<br />
europeu, dividiu a Europa<br />
e ainda criou a guerra do Iraque<br />
para bloquear o Mediterrâneo. A<br />
integração européia significava<br />
uma projeção em direção ao Mediterrâneo<br />
que tinha voltado a<br />
ser o centro comercial do mundo.<br />
Era o começo da “eurolândia”.<br />
Na sua avaliação, a Itália, junto<br />
com a Grécia, são os países<br />
mais frágeis da Europa. No caso<br />
italiano, isso vale tanto em termos<br />
econômicos quanto de estrutura<br />
política. Ele informa que seu país<br />
tem a “maior dívida do mundo”,<br />
que representa 112% do PIB. Para<br />
ele, é muito fácil entender o sucesso<br />
de Silvio Berlusconi, constantemente<br />
sendo eleito e reeleito para<br />
o cargo de primeiro-ministro:<br />
— Em 15 anos, a direita trabalhou<br />
para construir uma força<br />
política enraizada e unitária. A<br />
esquerda, não.<br />
Segundo Vacca, também é<br />
fácil entender porque os jovens,<br />
de uma maneira geral, e os europeus,<br />
em particular, estão apáticos<br />
e pouco participativos. Afinal,<br />
“o problema do jovem é das<br />
gerações antigas”, como diz. Segundo<br />
ele, a questão está justamente<br />
na falta de líderes.<br />
— Nenhuma geração é filha<br />
de si mesma. É preciso líderes em<br />
quem se espelhar. No momento, há<br />
falta de líderes intelectuais, morais<br />
e éticos — sentencia Vacca.<br />
O livro<br />
Por um novo reformismo é o primeiro<br />
título de uma série que pretende<br />
resgatar, no Brasil, idéias<br />
de pensadores políticos italianos.<br />
Quem informa é o ensaísta<br />
e tradutor Luiz Sérgio Henriques,<br />
organizador do livro de Vacca e<br />
da série. Editor do site Gramsci<br />
e o Brasil, ele também é um dos<br />
organizadores das obras de Antonio<br />
Gramsci em português, especialmente<br />
a nova edição das<br />
Cartas do Cárcere, sua obra mais<br />
ilustre. Gramsci foi o fundador<br />
do Partido Comunista da Itália e<br />
ainda é uma das maiores referências<br />
da esquerda mundial.<br />
— As idéias <strong>italiana</strong>s tiveram<br />
um grande impacto na cultura<br />
política brasileira. Entre as<br />
várias razões pelas quais não entrei<br />
para a luta armada estavam<br />
os escritos de Gramsci. Ele nos<br />
ajudou a apostar no reformismo.<br />
Com isso, nós, no Brasil, passamos<br />
a ser chamados de reformistas,<br />
mas com desdém, de forma<br />
pejorativa. Seja como for, Gramsci<br />
foi uma grande novidade para<br />
nós — afirma Henriques.<br />
O livro de Vacca é, na verdade,<br />
um “mix” de três livros do pensador<br />
italiano acrescido de dois<br />
Vacca debate suas idéias<br />
no Rio de Janeiro<br />
ensaios inéditos feitos para a publicação.<br />
Por um novo reformismo<br />
é formado por dez capítulos. Três<br />
deles (1, 6 e 7) foram extraídos<br />
de Riformismo vecchio e nuovo<br />
(Turim: Einaudi, 2001); Os de número<br />
2, 3, 4 e 5 vem de Vent’anni<br />
dopo. La sinistra fra mutamenti e<br />
revisioni (Turim: Einaudi, 1997); o<br />
capítulo 8 provém de Il riformismo<br />
italiano. Dalla fine della guerra<br />
fredda alle sfide future (Roma:<br />
Fazi, 2006); os capítulos 9 e 10<br />
são inéditos e foram redigidos em<br />
2008. Segundo Henriques, a seleção<br />
e a disposição dos textos foram<br />
aprovadas pelo autor.<br />
— A Fundação (Astrojildo Pereira)<br />
inventou um livro meu que<br />
eu não tinha pensado — brinca<br />
Vacca. — Se a escolha será útil,<br />
não sou eu quem deve dizer. É<br />
aqui no Brasil que o livro precisa<br />
ser útil. Pode ser um ponto de<br />
partida para repensar a historia e<br />
procurar inovações.<br />
Luiz Sérgio Henriques informa<br />
que as próximas publicações<br />
a serem lançadas no Brasil serão<br />
com textos de Massimo D’Alema e<br />
Enrico Berlinguer.<br />
— Queremos que as principais<br />
idéias do pensamento político<br />
italiano circulem no Brasil. São<br />
idéias que defendem que os socialistas<br />
jamais podem abandonar a<br />
democracia porque esse é o terreno<br />
mais adequado para a inclusão<br />
social — afirma Henriques.<br />
Nascido em Roma em 1949,<br />
Massimo D’Alema foi militante do<br />
PCI desde sua juventude e acompanhou<br />
esse partido em sua metamorfose<br />
social-democrata e<br />
neo-liberal. Foi primeiro-ministro<br />
da Itália de 1998 a 2000. Foi<br />
também ministro dos Negócios<br />
Estrangeiros do governo de Romano<br />
Prodi entre 2006 e 2008.<br />
Nascido na Sardenha, Enrico<br />
Berlinguer (1922 -1984) foi secretário-geral<br />
do PCI de 1972 a<br />
1984. Ele foi um dos principais<br />
líderes políticos da sua geração.<br />
Seu pai foi um senador socialista.<br />
Seu avô, também chamado<br />
Quem foi Gramsci<br />
Enrico Berlinguer, foi amigo pessoal<br />
de Giuseppe Garibaldi e Giuseppe<br />
Mazzini, notáveis figuras<br />
da unificação <strong>italiana</strong>. Também<br />
era primo de Francesco Cossiga<br />
e de Antonio Segni, ambos líderes<br />
da Democracia Cristã Italiana,<br />
que se tornaram presidentes da<br />
República do país.<br />
Nascido na Sardenha, Antonio Gramsci<br />
(1891-1937) trabalhava como jornalista<br />
quando fundou o Partido Comunista Italiano<br />
em 1921. Ele viria a ser um dos líderes do partido<br />
desde sua fundação. Em 1924, foi eleito<br />
deputado pelo Veneto. Nessa época, começa<br />
a organizar o lançamento do jornal oficial do<br />
PCI, denominado L’Unità. Em 8 de novembro<br />
de 1926, é preso pela polícia fascista, apesar<br />
de ter imunidade parlamentar. Foi condenado a vinte anos de prisão.<br />
Morreu aos 46 anos, pouco tempo depois de ter sido libertado. A influência<br />
póstuma de Gramsci encontra-se associada principalmente<br />
aos mais de trinta cadernos de análise histórica e filosófica que escreveu<br />
durante o período em que esteve na prisão. Estes trabalhos,<br />
conhecidos como Cadernos do Cárcere, contêm o pensamento maduro<br />
de Gramsci sobre a história da Itália e nacionalismo.<br />
Fotos: Bruno Lima<br />
44 C o m u n i t à I t a l i a n a / Ab r i l 2009<br />
A b r i l 2009 / Co m u n i t à I t a l i a n a 45