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<strong>Post</strong>-Milénio... Às Sextas-feiras, bem pertinho de si!<br />

31 de Outubro a 6 de Novembro de 2008<br />

35<br />

Os Pastores<br />

descem ao vale<br />

ILDA JANUÁRIO<br />

ilda.januario@gmail.com<br />

Em Fevereiro recebi<br />

o livro de Daniel de<br />

Sá, O PASTOR<br />

DAS CASAS MORTAS<br />

(2007). Domingo passado<br />

assisti ao filme de Jorge<br />

Pelicano, AINDA HÁ PAS-<br />

TORES? (2006), que fechou<br />

com chave de ouro o festival<br />

“Planet in Focus”. Ambos<br />

contam histórias de pastores,<br />

essa ocupação anacrónica que<br />

apenas sobrevive num<br />

Portugal do século XXI.<br />

Em 2001, diz-nos Jorge<br />

Pelicano, restavam dez pastores<br />

na Serra da Estrela.<br />

Ele apresenta-nos, entre<br />

outros, o Grazina, o pastor<br />

mais idoso, a Maria do<br />

Espírito Santo e o Hermínio<br />

(Carvalhinho), o mais novo,<br />

com 27 anos. Daniel de Sá,<br />

por seu lado, centra a sua<br />

bela e nostálgica novela no<br />

personagem de Manuel<br />

Cordovão, um pastor das<br />

Beiras. Além da diferença<br />

de gerações entre os dois<br />

homens, outras muito significativas<br />

é a maneira como<br />

se habituaram a passar o<br />

tempo, e o destino oposto<br />

que os parece conduzir.<br />

Enquanto o Manuel tem um<br />

falar doce e apanhou em<br />

jovem o vício da leitura,<br />

que lhe torna leve a passagem<br />

do tempo, Hermínio,<br />

que foi menino mal-amado,<br />

dedica-se a escutar cassetes<br />

e, mais tarde CDs, do Quim<br />

Barreiros; fuma e<br />

amaldiçoa, na sua voz rude,<br />

as ovelhas e a solidão que<br />

gostaria de quebrar, pelo<br />

menos com telemóvel. O<br />

nome Hermínio ressoa com<br />

qualquer português. Como<br />

Viriato, ele é pastor, “habituado<br />

desde criança a percorrer<br />

as altas montanhas<br />

dos Hermínios (actual Serra<br />

da Estrela), onde nasceu, e<br />

que conhecia como a palma<br />

das suas mãos”<br />

(http://www.loriga.de/antig<br />

a.htm).<br />

A montagem sonora de<br />

João Moreira soube combinar<br />

o som de Quim<br />

Barreiros, com que o pastor<br />

afoga o vazio da solidão,<br />

com um fundo instrumental<br />

belíssimo, de compositor<br />

não identificado (porquê?),<br />

que agudiza a beleza da<br />

paisagem e sublinha a<br />

eternidade que se desprende<br />

de cada trilho e de cada<br />

anoitecer.<br />

Manuel Cordovão<br />

acabou por ter de desistir do<br />

amor; Hermínio procura o<br />

amor pago na vila.<br />

Acompanhou Jorge<br />

Pelicano e sua equipa ao IX<br />

Festival Internacional de<br />

Cinema e Vídeo Ambiental<br />

(FICA), na Cidade de<br />

Goiás, Brasil, onde o documentário<br />

ganhou o primeiro<br />

prémio em 2007. Sentado<br />

ao lado do realizador, vestido<br />

com o seu belo casaco de<br />

pastor de apliques em feltro<br />

negro, acho que, desde<br />

então, não lhe devem faltar<br />

miúdas. Com o físico invejável<br />

de homem que,<br />

mesmo bebendo álcool e<br />

fumando, percorre a serra<br />

no seu passo cadenciado<br />

como um metrónomo, sete<br />

dias por semana, Hermínio<br />

já terá até encontrado o verdadeiro<br />

amor. A questão que<br />

pergunta o narrador e que<br />

nos perguntamos hoje é:<br />

será que ele ficará na Serra,<br />

como o Manuel?<br />

Dizer que Manuel não<br />

escolheu o seu destino não<br />

seria certo. Este pastorleitor,<br />

em vez de partir,<br />

tornou-se o guardador de<br />

todas as casas abandonadas,<br />

por morte ou migração. Um<br />

a um, todos lhes entregam<br />

as chaves ao partir para o<br />

vale. Tentamos adivinhar o<br />

fim desta história. Passará a<br />

aldeia a servir para o turismo-habitação?<br />

Daniel de Sá<br />

previne-nos que esta<br />

solução não a ressuscita<br />

“porque uma aldeia não são<br />

só as casas, mas sobretudo<br />

as pessoas. E essas não queriam<br />

ou não podiam voltar”.<br />

Por temperamento e por<br />

escolha dos passatempos<br />

dos tempos de ócios, os pastores,<br />

um ficcional, o outro<br />

real, debatem-se com a realidade<br />

do navio da pastorícia<br />

que se afunda. Ou se afundam<br />

com ele, ou fogem na<br />

primeira lancha salva-vidas<br />

que se lhes depara; ou<br />

ainda, transformam o navio,<br />

que por sorte encalha sem<br />

se esfacelar, num naviorestaurante.<br />

Ficamos a querer<br />

saber mais. O fim pior<br />

são as ruínas, esses esqueletos<br />

de pedra, que povoam as<br />

aldeias e cidades portuguesas<br />

como corpos descarnados<br />

esquecidos num campo<br />

de batalha, uma Guerra de<br />

Cem Anos que teima em<br />

atravessar os séculos. Todos<br />

passam ao lado e nem<br />

ligam, os olhos fechados<br />

com estão pelas escamas do<br />

hábito...<br />

Surpreende ainda que<br />

Daniel de Sá, depois de<br />

publicar a obra, viesse a<br />

saber que “o outro Manuel<br />

Cordovão”, o pastor<br />

brasileiro Manoel Cazuza,<br />

viveu a realidade de<br />

guardador de casas,<br />

estivesse para casar com a<br />

Candinha, a sua paixão de<br />

sempre, depois de ela enviuvar.<br />

Aguardo, futilmente,<br />

que o Daniel publique uma<br />

novela ou conto onde<br />

descreve que o seu Manuel<br />

foi visitado por um<br />

empresário sueco que lhe<br />

propôs a compra do aglomerado<br />

de casais de granito,<br />

ainda com a mobília e as<br />

lareiras intactas; e que a sua<br />

Graça, os netos entrados na<br />

escola, voltou à serra, curada<br />

da ideia que é tarde de<br />

mais para amar e seduzir o<br />

seu Manuel!<br />

Fico também a aguardar<br />

a notícia que o Hermínio<br />

encontrou uma brasileira,<br />

ou uma portuguesa, que se<br />

apaixonou por ele, tanto<br />

pelo granito do seu corpo<br />

como pelo da Serra, e concordou<br />

viver parte do seu<br />

tempo em Casais de<br />

Folgosinho, povoar, enfim,<br />

o descampado que reina na<br />

alma do pastor.<br />

Gosto de fins felizes e<br />

inspiradores, que quereis?<br />

De ruínas evitadas ou, pelo<br />

menos, reconstruídas e<br />

aproveitadas.<br />

OPORTUNIDADES DE APRENDIZAGEM ESSENCIAL<br />

NOS TEMPOS QUE CORREM<br />

Por: Rosario Marchese,<br />

MPP, Trinity-Spadina<br />

Oobjectivo deste artigo é explicar a<br />

“Resolution to Promote Workforce<br />

Training”, uma resolução que eu<br />

apresentei na semana passada na Assembleia<br />

Legislativa do Ontário e que tem como objectivo<br />

aumentar e melhorar as oportunidades de<br />

aprendizagem para trabalhadores nesta província.<br />

Com esta resolução, empresas que<br />

fazem pagamentos de salários («payroll»)<br />

no valor de 1 milhão ou mais de dólares<br />

terão de dedicar pelo menos 1% desse valor<br />

para a criação de programas e oportunidades<br />

de treino e de aprendizagem no sector<br />

onde estão inseridas. Se o valor destes<br />

programas não chega a 1% do valor total do<br />

payroll, a diferença será contribuída ao<br />

novo fundo Workforce Skills Development<br />

and Recognition Fund.<br />

Este fundo será administrado por um<br />

comité composto por representantes de<br />

sindicatos, de diversos níveis governamentais<br />

e empresários privados. As remessas a<br />

este fundo poderão ser utilizadas por este<br />

comité para apoiar e desenvolver iniciativas<br />

de aprendizagem em sectores laborais mais<br />

carenciados neste sentido.<br />

Este tipo de iniciativa já existe na<br />

Europa e na América Latina. Por exemplo;<br />

na França, qualquer empresa que tenha<br />

mais de 10 empregados tem a obrigação de<br />

investir pelo menos 1.5 por cento do «payroll»<br />

a programas de aprendizagem e de<br />

aperfeiçoamento profissional para os seus<br />

empregados, ou de contribuir esse montante<br />

para um fundo semelhante ao acima<br />

descrito.<br />

O Quebeque é a única província no<br />

Canadá que tem este tipo de programa: o<br />

acto legislativo de 1996 “Act to Foster<br />

Manpower Development” do governo de<br />

Quebeque exigia que empresas com payroll<br />

acima de um milhão de dólares investissem<br />

1 por cento no treino do seu próprio pessoal.<br />

As empresas que não o fizessem eram<br />

obrigadas a contribuir esse montante para<br />

um fundo central, tal com estamos a propor.<br />

Em 1997 esta lei foi modificada para exigir<br />

o mesmo de empresas com um payroll de<br />

$500,000 e em 1998 o limiar desceu para<br />

$250,000.<br />

O sucesso do modelo em Quebeque está<br />

comprovado: entre 1997 e 2002, a taxa de<br />

participação em sessões de treino no local<br />

de emprego aumentou de 21 por cento para<br />

33 por cento, o maior crescimento no país.<br />

A respectiva legislação levou também á criação<br />

de diversas entidades permanentes,<br />

lideradas e compostas por representantes do<br />

sector laboral, de empresas privadas e de<br />

estabelecimentos de ensino, cujos esforços<br />

garantem que o Quebec está na vanguarda<br />

de programas de aprendizagem no Canadá.<br />

Entre 1996 e 2003, mais de 75 por cento das<br />

empresas privadas no Quebec contribuem<br />

pelo menos 1 por cento para este objectivo.<br />

Durante este mesmo período, a taxa de participação<br />

da população adulta em qualquer<br />

tipo de curso e treino (incluindo «Adult<br />

Education») aumentou para 57 por cento.<br />

Na minha opinião, este tipo de cobrança<br />

é essencial para assegurar o investimento<br />

por parte de empresas em programas de<br />

treino. As empresas que já o fazem muitas<br />

vezes investem dinheiro e depois os trabalhadores<br />

acabam por trabalhar para outras<br />

empresas que não fizeram investimentos<br />

semelhantes. Não é justo para as empresas<br />

que já o fazem, nem é bom para a economia<br />

local se uns fazem e outros não. O ideal<br />

seria uma cobrança a nível nacional, igual<br />

para todas as empresas em todas as províncias.<br />

De todos os países que pertencem á<br />

OCDE, o Canadá é o que menos apoio<br />

financeiro dedica á criação de oportunidades<br />

para aprendizagem e é onde existe<br />

menos investimento por parte de empresas<br />

em programas de aprendizagem para os<br />

seus próprios empregados.<br />

O século XXI vai trazer-nos desafios<br />

laborais difíceis de prever. As nações que<br />

investem mais na aprendizagem são as que<br />

se mantêm na vanguarda. Na ausência de<br />

uma estratégia nacional cabe-nos a nós, no<br />

Ontário, criar um ambiente laboral em que<br />

todos os trabalhadores têm acesso a cursos<br />

e programas de apoio e de aprendizagem,<br />

de forma que manterem-se bem preparados<br />

para os desafios que já se conhecem

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