Claire T Lazaretti - Programa de Pós-Graduação em Sociologia ...
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Até 1930 12 a assistência social obteve este enfoque meramente assistencialista, sendo<br />
encarada como oferta <strong>de</strong> benesses, favores, doações caridosas, auxílio material ou financeiro,<br />
apoio e solidarieda<strong>de</strong> prestados por particulares, s<strong>em</strong> a intervenção do Estado, fazendo juz ao<br />
sentido originário do termo <strong>em</strong> latim adsistentia, traduzido como ato ou efeito <strong>de</strong> assistir,<br />
proteção, amparo, auxílio, ajuda.<br />
Conforme se po<strong>de</strong> perceber,<br />
<strong>em</strong> síntese, no Brasil, o enfrentamento do crescente processo <strong>de</strong> pauperização e espoliação dos<br />
trabalhadores se <strong>de</strong>u pelo uso convergente <strong>de</strong> duas estratégias básicas mantidas pelo Estado: o uso <strong>de</strong><br />
um regime autoritário e exclu<strong>de</strong>nte e a introdução <strong>de</strong> políticas sociais calcadas no mo<strong>de</strong>lo assistencial ...<br />
(que) consagram formas populistas <strong>de</strong> relação e a benevolência enquanto forma <strong>de</strong> atendimento às<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reprodução da sobrevivência das classes subalternizadas (SPOSATI, 1992, p. 29).<br />
Com a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1934, ainda que num governo populista, o Estado<br />
passa pelo menos a admitir a existência <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as sociais, lançando diretrizes no sentido<br />
<strong>de</strong> dar amparo aos <strong>de</strong>svalidos, à maternida<strong>de</strong> e à infância, através da <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> percentual<br />
<strong>de</strong> 1% das rendas tributáveis a esta área 13 .<br />
Através da legislação trabalhista e como tática para ocultar os conflitos sociais,<br />
extinguir a violência, promover a or<strong>de</strong>m pública e a paz social, o Estado populista da era<br />
Vargas 14 incorporou o sindicalismo ao Ministério do Trabalho e, mediante um discurso<br />
paternalista, implantou alguns direitos básicos à classe trabalhadora, como a lei <strong>de</strong> férias, <strong>de</strong><br />
menores e mulheres, da jornada <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> repouso r<strong>em</strong>unerado.<br />
Com a implantação do Estado Novo, a partir <strong>de</strong> 1937, agora sob o viés ditatorial,<br />
ocorreu a centralização política e administrativa do Estado, favorecendo o processo <strong>de</strong><br />
acumulação capitalista, que acabava por acirrar os conflitos sociais. Novamente, medidas<br />
paliativas e populistas tinham que ser adotadas <strong>de</strong> modo a atenuar os aspectos mais gritantes<br />
s<strong>em</strong>, contudo, alterar o modo <strong>de</strong> produção capitalista ora instituído. Assim, era essencial a<br />
busca <strong>de</strong> apoio das camadas populares e a utilização <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> propaganda para seu<br />
convencimento.<br />
12 “No caso brasileiro é possível afirmar, salvo exceções, que até 1930 a consciência heg<strong>em</strong>ônica <strong>em</strong> nosso país<br />
não apreendia a pobreza enquanto expressão da questão social. Quando esta se insinuava como questão para o<br />
Estado, era <strong>de</strong> imediata enquadrada como “caso <strong>de</strong> polícia” e tratada no interior <strong>de</strong> seus aparelhos repressivos.<br />
Os probl<strong>em</strong>as sociais eram mascarados e ocultados sob forma <strong>de</strong> fatos esporádicos e excepcionais. A pobreza era<br />
tratada como disfunção pessoal dos indivíduos” (SPOSATI, 1992, p. 41).<br />
13 Como <strong>de</strong>scrito no capítulo IV, a vinculação <strong>de</strong> receitas para a política <strong>de</strong> assistência social ainda não foi<br />
estipulada e continua se inscrevendo <strong>em</strong> um campo <strong>de</strong> disputas técnicas e políticas.<br />
14 Trata-se <strong>de</strong> uma li<strong>de</strong>rança carismática que busca estabelecer uma relação direta com a população, a qual<br />
ascen<strong>de</strong> nas preferências e aprovações com um discurso <strong>de</strong> “renovação”, com base nos anseios e expectativas <strong>de</strong><br />
“mudança” <strong>em</strong> momentos <strong>de</strong> crise do discurso i<strong>de</strong>ológico dominante (WEFFORT, 1989).