Claire T Lazaretti - Programa de Pós-Graduação em Sociologia ...
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benefícios”, tradição que se mantém até os dias <strong>de</strong> hoje. Este fato assinalou um registro <strong>de</strong><br />
atribuir a responsabilida<strong>de</strong> pela prestação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> assistência social às primeirasdamas,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua formação técnica ou vinculação com a área específica que<br />
perpassa a referida cultura <strong>em</strong> quase todos os entes da fe<strong>de</strong>ração. “Representa a simbiose<br />
entre a iniciativa privada e a pública, a presença da classe dominante enquanto po<strong>de</strong>r civil e a<br />
relação benefício/carida<strong>de</strong> x beneficiário/pedinte, conformando a relação básica entre Estado<br />
e classes subalternizadas” (SPOSATI, 1992, p. 46). Como assinalado acima, impera a visão<br />
patrimonial dos benfeitores (chefe do Po<strong>de</strong>r Executivo e sua esposa) na estruturação dos<br />
serviços públicos, muito <strong>em</strong>bora estejam assegurados como direitos.<br />
Reconhecidos como órgãos <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>áticos da assistência social, na década <strong>de</strong> 1940<br />
foram implantadas a Legião Brasileira <strong>de</strong> Assistência (LBA), <strong>de</strong>stinada ao “atendimento das<br />
crianças <strong>de</strong> 0-6 anos, das pessoas portadoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, do idoso e das famílias carentes”<br />
e a Fundação Nacional <strong>de</strong> B<strong>em</strong>-Estar do Menor (FUNABEM), voltada à “proteção dos<br />
menores órfãos, abandonados e infratores”. Por um longo período repetiu-se a clivag<strong>em</strong> dos<br />
programas calcados nas clientelas, distantes da perspectiva <strong>de</strong> políticas públicas setoriais e <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> direitos.<br />
No mesmo sentido estava estruturada a prestação dos serviços pelas entida<strong>de</strong>s não<br />
governamentais, cujo volume e abrangência se sobressaia <strong>em</strong> relação às ações estatais.<br />
Estima-se que <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 60% dos atendimentos prestados na área <strong>de</strong> assistência social são<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados por entida<strong>de</strong>s não governamentais 15 , <strong>em</strong> sua maioria <strong>de</strong> cunho religioso e sob<br />
o enfoque da solidarieda<strong>de</strong> social e da carida<strong>de</strong>. S<strong>em</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar a importância <strong>de</strong>stes<br />
princípios <strong>em</strong> uma socieda<strong>de</strong> com graves <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e cuja pirâmi<strong>de</strong> está<br />
estruturada <strong>em</strong> enormes abismos entre a divisão <strong>de</strong> classes, tais pressupostos não confer<strong>em</strong> a<br />
legitimida<strong>de</strong> exigida para a <strong>de</strong>limitação da assistência social como política pública<br />
afiançadora <strong>de</strong> direitos socioassistenciais.<br />
Em seguida, sob a forte influência das políticas do Welfare State no pós-guerra,<br />
ocorreu a inserção, ainda que <strong>em</strong>brionária, <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> segurida<strong>de</strong> social, apontando<br />
para uma intervenção cada vez maior do Estado. No final da década <strong>de</strong> 1950 há um aumento<br />
do seguro <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e a década posterior é registrada pelo acréscimo dos benefícios<br />
15 A título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo, no município <strong>de</strong> Curitiba, no Paraná, mesmo no ano <strong>de</strong> 2007, ou seja, após a<br />
impl<strong>em</strong>entação do SUAS e <strong>em</strong> habilitação no nível <strong>de</strong> gestão plena, a re<strong>de</strong> prestadora <strong>de</strong> serviços é organizada<br />
com forte presença das organizações não governamentais, tendo na proteção social básica 40% dos serviços<br />
executados por estas entida<strong>de</strong>s, enquanto que na proteção social especial estas comparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> 68% das ações,<br />
alguns com co-financiamento do Município, do Estado e da União.