Claire T Lazaretti - Programa de Pós-Graduação em Sociologia ...
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Mesmo consi<strong>de</strong>rando os múltiplos enfoques <strong>de</strong>correntes da leitura das causas da crise<br />
do Estado <strong>de</strong> B<strong>em</strong>-Estar Social, <strong>em</strong> suma, ela se caracteriza como o reflexo direto do<br />
recru<strong>de</strong>scimento do capitalismo, por um lado, por intermédio da crise fiscal e, por outro, da<br />
retração da social-<strong>de</strong>mocracia, que afeta as estruturas sociais e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e dificulta o<br />
tratamento das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e exclusões sociais. Enfim, resulta do <strong>de</strong>sconserto da<br />
conjugação da política econômica com a política social, na perspectiva <strong>de</strong> manutenção do<br />
mo<strong>de</strong>lo capitalista neoliberal.<br />
Por sua vez, os autores mais progressistas reconhec<strong>em</strong> que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong><br />
B<strong>em</strong>-Estar Social está proporcionalmente relacionado com o déficit público. Assim, a crise<br />
financeira-fiscal é conseqüência inerente ao processo e v<strong>em</strong> acompanhada da crise da<br />
socieda<strong>de</strong> do trabalho 31 , ao gerar a <strong>de</strong>smercantilização da força <strong>de</strong> trabalho. O capital,<br />
representado no salário direto se comprime, reduzindo a base social <strong>de</strong> exploração e,<br />
consequent<strong>em</strong>ente, a contribuição para o fundo público, que se vê esgotado <strong>em</strong> suas reservas.<br />
Santos aborda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reinvenção do Estado Social diante do contexto<br />
vigente, argumentando a existência <strong>de</strong> uma nítida crise no contrato social até então<br />
estabelecido.<br />
O contrato social é assim a expressão <strong>de</strong> uma tensão dialética entre regulação social e <strong>em</strong>ancipação<br />
social que se produz pela polarização constante entre vonta<strong>de</strong> individual e vonta<strong>de</strong> geral, entre o<br />
interesse particular e o b<strong>em</strong> comum. A crise da contratualização mo<strong>de</strong>rna consiste na predominância<br />
estrutural dos processos <strong>de</strong> exclusão sobre os processos <strong>de</strong> inclusão (SANTOS, 1999, p. 86-93).<br />
Este contexto é contraditório, com a vigência acirrada <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> exclusão,<br />
composto pelo pós-contratualismo, situação <strong>em</strong> que os indivíduos até hoje incluídos no<br />
contrato social são <strong>de</strong>le retirado, s<strong>em</strong> quaisquer perspectivas <strong>de</strong> regresso, e na outra ponta, <strong>em</strong><br />
condições mais aviltantes, pelo pré-contratualismo, consistente no bloqueamento do acesso à<br />
cidadania para aqueles indivíduos que um dia a ela almejavam ascen<strong>de</strong>r.<br />
Para o autor, diante <strong>de</strong>ste quadro, a viabilida<strong>de</strong> que sustenta a construção <strong>de</strong> um novo<br />
contrato social está inscrita na transformação do Estado, <strong>de</strong> modo a ampliar a participação<br />
social e, consequent<strong>em</strong>ente, o exercício da <strong>de</strong>mocracia, com resgate dos movimentos sociais.<br />
O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smantelamento do Estado nacional, por via do <strong>de</strong>clínio do seu po<strong>de</strong>r<br />
regulatório, da sua soberania, torna obsoletas as teorias do Estado, tanto liberais quanto<br />
marxistas.<br />
31 Para maior compreensão ver HABERMAS (1987); OFFE (1989); ANTUNES (1995); OLIVEIRA (1993).