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também possível que o Inspetor nem mesmo tivesse percebido o que acontecera, pois,<br />

tendo posto uma das mãos sobre a mesa, parecia achar-se muito ocupado na comparação<br />

da longitude de seus dedos. Os dois guardas estavam sentados sobre um baú coberto com<br />

um tapete e cocavam os joelhos. Quanto aos três jovens que mantinham suas mãos nas<br />

cadeiras, olhavam ao redor com ar despreocupado. Sobreviera um silêncio como aquele<br />

que reina num escritório esquecido.<br />

— Senhores — começou a dizer K., enquanto por um momento lhe pareceu que<br />

carregava sobre os seus ombros todos os presentes —, conforme pode inferir-se da atitude<br />

de vocês, meu assunto está terminado. Sou portanto de opinião de que o melhor é não<br />

pensar já mais a respeito do justificado ou injustificado, do procedimento de vocês, e<br />

terminar esta questão amistosamente estreitando-nos as mãos. Se estão de acordo com<br />

minha opinião, rogo-lhes então...<br />

K. aproximara-se da mesa do Inspetor, ao qual estendia a mão, mas o Inspetor olhou<br />

para cima, mordeu os lábios e contemplou a mão estendida de K., o qual continuava<br />

acreditando que o Inspetor a apertaria, mas este se pôs de pé, apanhou um chapéu duro e<br />

redondo que estava sobre a cama da senhorita Bürstner e colocou-o em si com precaução<br />

com ambas as mãos, como se estivesse experimentando um chapéu novo.<br />

— Tudo lhe parece muito simples — disse a K. — De maneira que acredita que<br />

deveríamos dar um final amistoso a esta questão? Não, não; verdadeiramente não pode ser,<br />

o que, de modo algum quer dizer, por outro lado, que você tenha de se desesperar. Não,<br />

isso não; por que havia de se desesperar? Você está apenas detido; nada mais do que isso.<br />

Minha missão era comunicar-lhe isso; já o fiz e vi de que modo você reagiu e como se<br />

comportou. Por hoje já é suficiente, de modo que poderíamos despedir-nos; somente que,<br />

certamente, de modo transitório. Suponho que quererá correr ao banco.<br />

— Ao banco? — perguntou K. — Julgava que estava detido.<br />

K. formulou esta pergunta com certa entonação e soberbia, pois embora não lhe<br />

tivessem aceitado o aperto de mãos, sentia-se, sobretudo a partir do momento em que o<br />

Inspetor se levantara da cadeira, cada vez mais independente de toda essa gente.<br />

Alimentava a intenção, no caso em que de fato se fossem, de acompanhá-lo até a porta da<br />

casa e de apresentar-se-lhes em sua condição de detido. Por isso repetiu:<br />

— Como posso ir ao banco se estou detido?<br />

— Ah! — exclamou o Inspetor, que já estava junto à porta. — Você não me<br />

compreendeu bem. É verdade que está detido, mas isso de nenhum modo lhe impede de<br />

cumprir as suas obrigações. Não deve modificar a sua vida habitual.<br />

— Assim sendo, essa detenção não é muito para se temer — disse K. aproximandose<br />

do Inspetor.<br />

— Nunca quis dizer outra coisa — replicou este.<br />

— Mas, então, nem mesmo parece necessário comunicar-me tal arresto — disse K.,<br />

aproximando-se ainda mais do Inspetor. Também os outros se tinham aproximado. Todos<br />

se encontravam nesse momento agrupados em um pequeno espaço junto à porta.<br />

— Era o meu dever — disse o Inspetor.<br />

— Um dever estúpido — replicou K., sem nenhuma consideração.<br />

— Pode ser — retrucou o Inspetor —, mas não vamos agora perder o tempo com<br />

semelhantes discussões. Supus que você quisesse ir ao banco. E já que presta tanta atenção<br />

a todas as palavras, apresso-me a acrescentar: não o obrigo a ir ao banco; apenas supus que<br />

você desejasse ir. E para tornar-lhe mais fácil a situação e para que no banco passasse o<br />

mais inadvertida possível a sua chegada, trouxe comigo estes três senhores que são seus<br />

colegas para que estivessem à sua disposição.<br />

— Como? — exclamou K., cheio de espanto, enquanto olhava os três personagens.<br />

Esses jovens anêmicos e tão faltos de caráter que K. somente representava para si<br />

agrupados junto às fotografias eram realmente empregados de seu banco, mas não colegas;

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