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não quis conceder-me a entrevista que eu lhe pedi.<br />
— É verdade — replicou a senhorita Montag —; ou melhor dizendo, de nenhum<br />
modo é isso verdade. Você se expressa de um modo esquisitamente forte. Em geral, nem<br />
se concedem entrevistas nem acontece o contrário; mas pode acontecer que se considere<br />
desnecessária uma entrevista, como acontece precisamente neste caso. Agora, depois da<br />
observação que acaba de fazer, posso falar abertamente. Por escrito ou verbalmente você<br />
pediu uma entrevista à minha amiga; pois bem, minha amiga conhece, pelo menos devo<br />
assim imaginar, o tema da conversação que você propõe e, por razões que desconheço, está<br />
persuadida de que não adviria qualquer utilidade para ninguém se efetivamente tal<br />
entrevista se verificasse. Além do mais, apenas me falou deste assunto ontem e muito<br />
rapidamente; fez-me saber que muito menos para você podia interessá-lo muito essa<br />
entrevista porque unicamente por acaso você chegou a conceber esse pensamento, e em<br />
conseqüência, ainda sem que haja qualquer explicação especial, você reconheceria muito<br />
depressa, se é que já não o fez, a falta de senso de todo este assunto. Eu respondi-lhe que<br />
era muito certo tudo quanto ela dizia, mas que também era vantajoso que fizesse chegar até<br />
você uma resposta categórica para o fim e que se explicasse perfeitamente a situação.<br />
Depois de algumas hesitações, minha amiga encarregou-me de cumprir tal comissão já que<br />
eu me oferecera para tanto. Espero ter agido exatamente nesse sentido pois a menor<br />
incerteza, mesmo no assunto mais insignificante, é sempre penosa; por isso, quando, como<br />
é este caso, se pode facilmente pôr-se de lado, quanto antes se fizer, melhor.<br />
— Agradeço-lhe muito — apressou-se a dizer K., enquanto se punha lentamente de<br />
pé e olhava a senhorita Montag, depois a mesa, depois para fora através da janela (a casa de<br />
frente estava toda iluminada pelos raios do sol) e terminava por dirigir-se para a porta.<br />
A senhorita Montag seguiu-o alguns passos como se não confiasse inteiramente nele.<br />
Mas ao chegar à porta ambos tiveram de retroceder, pois nesse momento abriu-se<br />
subitamente e entrou no refeitório o capitão Lanz. Era a primeira vez que K. o via de<br />
perto. Tratava-se de um homem alto, de cerca de quarenta anos, de rosto moreno e gordo.<br />
Ao entrar fez uma leve reverência que atingiu também K. e chegou-se depois até onde<br />
estava a senhorita Montag à qual beijou respeitosamente a mão. Todos seus movimentos<br />
mostravam grande desenvoltura; sua cortesia com a senhorita Montag contrastava<br />
agudamente com o trato que K. lhe havia dado. Não obstante isso, a senhorita Montag não<br />
parecia ressentida com K. porque, como este julgou perceber, até parecia querer apresentálo<br />
ao capitão. Mas K. não desejava que o apresentasse, visto que não se sentia capaz de<br />
mostrar-se em atitude amistosa nem com o capitão nem com a senhorita Montag; esse<br />
beijo que o capitão lhe dera na mão fez com que K. considerasse a senhorita Montag como<br />
membro de um grupo que, com aparência mais inofensiva e desinteressada, pretendia<br />
mantê-lo afastado da senhorita Bürstner. E K. acreditou reconhecer não somente tal coisa,<br />
mas também que a senhorita Montag havia escolhido um bom meio de levar ao termo seus<br />
propósitos, arma que, contudo, era de dois gumes. Exagerava a importância da relação que<br />
havia entre a senhorita Bürstner e K., e sobretudo exagerava a importância da entrevista<br />
que este solicitara, procurando, ao mesmo tempo, ao apresentar as coisas sob tal aspecto,<br />
que parecesse que era K. quem tudo exagerava. Mas ia já desiludir-se. K. não desejava<br />
exagerar nada; bem sabia que a senhorita Bürstner era uma insignificante datilografa que<br />
não podia resistir-lhe por muito tempo. Além disso, deliberadamente, não tomava<br />
absolutamente em consideração a este propósito o que a senhora Grubach lhe contara<br />
sobre a senhorita Bürstner. K. pensava nestas coisas quando, apenas saudando, deixou o<br />
refeitório. Pretendia dirigir-se diretamente ao seu quarto, mas um risinho que fez ouvir às<br />
suas costas no refeitório a senhorita Montag fê-lo conceber o pensamento de que talvez<br />
poderia dar uma surpresa a ambos, ao capitão e à senhorita Montag. Olhou em torno e<br />
ouviu para ver se de alguma daquelas moradias poderia sair alguém que o incomodasse em<br />
suas intenções, mas tudo estava em silêncio; apenas se ouvia a conversação que vinha do