COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ

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10 SUMÁRIO Introdução: ‘Quem sabe se é hoje o dia de desanuviar’ 11 1. ‘Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar’ 21 1.1 Poéticas tecnológicas 22 1.2 Sensus communis 28 1.3 A experiência 32 1.4 ‘Deixe-me ir, preciso andar’ 35 2. ‘De que adianta tanta beleza, se não se pode tocar’ 38 2.1 Experiência estética 40 ) 2.2 Pequenas crises 43 2.3 ‘Se a gente não mata as epifanias, elas nos matam’ 51 3. ‘Desse tear de entrexistências’ 55 3.1 Comunicação como experiência interior 57 3.2 Comunicação como abertura e acolhimento 68 3.3 Comunicação como palavra plural 81 4. Considerações finais: ‘One step inside doesn’t mean you understand’ 87 5. Referências Bibliográficas 91
11 INTRODUÇÃO “Quem sabe se é hoje o dia de desanuviar...” 3 “Je ne sais que devenir” 4 Maurice Blanchot O objetivo é tecer um caminho. Um caminhar, melhor seria dizer. Intuições cultivadas entre autores que perscrutam os limites do discurso. Um flerte com o fugidio. Impressões. Um jogo. Um sentir através de figurações, dissimulações, presenças. Veredas que se bifurcam. Caminhar a partir de rastros. Pegadas sutis na areia (o mar à espreita). A pergunta é sempre um movimento: então, como conceber uma comunicação estética? Duas palavras sedutoras. Difícil resistir a sua atração. Uma aproximação sinestésica que foge à dureza do genitivo: indicativo de pertença, vinculação, submissão. Contato sem preposição que sugere um estar-junto. Desejo de fusão: não para constituir uma unidade, mas para uma formação múltipla de singularidades. Arrebatamento que comove os limiares. Comunicação como intimamente associada a um evento estético. Esse é o pressuposto a ser desdobrado e redobrado ao longo desta dissertação. Experiência estética ) como a figuração da própria comunicação. À maneira de um duplo, essa conjectura deve refletir a primeira ao passo em que proporciona uma linha de fuga - nosso fio de Ariadne - em meio ao caos. Mas antes de prosseguirmos, talvez fosse melhor um contato sumário com algumas dessas palavras, porque no âmbito deste texto elas não compartilham com suas noções mais recorrentes. Em primeiro lugar, “estética” é assumida aqui em consonância com sua origem etimológica (do grego aisthesis), ou seja, como um sentir, como uma sensibilidade, como algo relacionado à forma de apreensão do mundo pelos sentidos, em contraste com a apreensão meramente conceitual. Por isso, uma sensação, algo pré-discursivo que não pode ser apreendido, conceituado, expresso: “toda sensação é uma questão, mesmo se só o silêncio responde a ela” (DELEUZE & GUATARRI, 1992, p.251). Como veremos no decorrer do texto, a experiência estética surge dessa tensão entre a sensação de presença das coisas no mundo e a necessidade de interpretação (GUMBRECHT, 2004). Tal noção de estética ainda afasta qualquer redução do termo apenas ao campo da arte, aproximando-a a 3 Trecho da música “Desanuviar”, de Sérgio Dias (Mutantes). 4 “Não sei o que serei” (entretanto, mais próximo de “só sei me transformar, não sei apenas em quê”, cf. a tradução de Aurélio Guerra Neto em BLANCHOT, 2001, p.15).
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