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COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ

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26<br />

singularidade na multiplicidade presente nas multidões contemporâneas 14 . Tudo isso talvez<br />

possa soar um tanto enigmático, mas espero que nos aproximemos dessas concepções no<br />

decorrer do trabalho. Por ora, voltemos a Mário Costa, antes de passarmos à outra esfera da<br />

estética da comunicação, reivindicada por Herman Parret.<br />

Durante a década de noventa, ao analisar as possibilidades abertas pelas tecnologias<br />

comunicacionais e a posição do sujeito contemporâneo, Mario Costa afirmou estarmos<br />

acedendo a um novo <strong>para</strong>digma estético, identificado pela volta do sublime, que ele<br />

chamou de sublime tecnológico. N<strong>uma</strong> leitura particular de Kant, Costa reafirma o sublime<br />

como algo “absolutamente grande”, como algo que remete ao infinito, que não pode ser<br />

descrito ou colocado-em-forma. Ele, portanto, pretendeu objetivar esse conceito nas artes,<br />

atualizando-o <strong>para</strong> <strong>uma</strong> nova configuração estética, ao afirmar que o sublime cessa de<br />

pertencer somente à natureza. “As possibilidades abertas pelas tecnologias comunicacionais<br />

estão, portanto, (...) muito além do campo artístico e nos fazem aceder, pela primeira vez na<br />

história do homem, ao novo universo estético do sublime tecnológico” (ibid., p.33). O<br />

problema da sua recategorização do sublime é apontado pelos próprios comentadores de<br />

Kant, que criticam a sua acepção do sublime como algo apenas ligado ao colossal e à<br />

magnitude. Herman Parret, que retoma a tradição kantiana <strong>para</strong> formular sua estética da<br />

漐 ϙ<br />

comunicação, afirma que o sublime seria, ao contrário, “a moldura, o enquadramento<br />

abrindo-se sobre o assombro e o vazio, que desencaminha a imaginação” (PARRET, 1997,<br />

p. 146).<br />

Mas <strong>para</strong> Costa, a técnica “captura” o “absolutamente grande” da natureza e o<br />

restitui ofertando-o como possibilidade de fruição socializada e controlada – não dando, por<br />

isso, brechas ao acaso, à incerteza, à instabilidade. É o caso do espaço e do tempo, que são<br />

substancialmente mesclados a partir das tecnologias comunicacionais e suas capacidades de<br />

telepresença, simulação e digitalização. Mário Costa também afirma que “as neotecnologias<br />

comunicacionais e as tecnologias de síntese talvez sejam a nova ‘morada do ser’ e talvez<br />

apenas delas possa ter origem aquela diversa e novamente epocal forma de ‘colocar em<br />

obra a verdade’” (COSTA, 1995, p. 16), que ele denomina de sublime tecnológico.<br />

Essa “fruição controlada” é o mesmo ponto de partida de <strong>uma</strong> crítica proposta por<br />

Lyotard (1999) num texto intitulado “Algo assim... comunicação sem comunicação”, no<br />

qual lança a seguinte questão: “o que ocorre com o sentimento estético quando situações<br />

calculadas são propostas como estéticas?” (LYOTARD, 1999, p. 258). Tal inquietação<br />

14 Essas questões são desenvolvidas no terceiro capítulo deste trabalho.

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